"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 30 de setembro de 2008

Um sim categórico para seguir aprofundando o caminho para o socialismo

por Juan Francisco Torres


“Não basta uma constituição, por mais perfeita que seja, para que fiquem garantidos os direitos do povo. Esses direitos apenas estarão garantidos quando existirem por trás das formulações constitucionais uma força popular capaz de raspaldá-las, defendê-las e ampliá-las.”
- Pedro Saad


Desde as 7 horas da manhã de domingo, 28 de setembro, começou o Referendo equatoriano para aprovar ou rechaçar o novo projeto de constituição, o qual poossui 444 artigos e foi redigida por 130 membros da assembléia em Montecristi, cidade natal do maior revolucionário equatoriano, Eloy Alfaro. A nova constituição tentará reverter a injusta estrutura econômico-política do país e recuperar a soberania nacional. Mais de 9 milhões de eleitores compareceram às urnas.

Desde muito cedo os meios de comunicação, nacionais ou estrangeiros, captavam todos os movimentos que realizava o presidente Rafael Correa, que cumpriu com uma apertada agenda; começando com a inauguração do processo eleitoral nas instalações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acompanhado pelas máximas autoridades do Estado como dos representantes e observadores de organismos internacionais; durante seu discurso, Correa convocou a “todos, companheiros, companheiras, equatorianos, equatorianas, dentro e fora da pátria, todos, a votar com ilusão, com alegria, com esperança, com fé em nós mesmos”, além disso afirmou sobre os resultados que “serão respeitados com responsabilidade histórica, com todas as ferramentas da democracia e com infinito amor”.
Posteriormente participou de um café-da-manhã no Hotel Quito junto com o vice-presidente Lenin Moreno.

Correa exerceu seu voto, em meio à euforia popular, às 8:35 da manhã em um colégio ao norte de Quito. Correia, em sua pequena intervenção, chamou aos equatorianos para comparecerem às urnas e viverem plenamente esta festa democrática.

Talvez um dos acontecimentos mais comentados foi a visita que o Presidente da República fez ao ex-Presidente da Assembléia Constituinte, Alberto Acosta, que protagonizou anteriormente pequenas desavenças, comentou ter a segurança de ganhar, revelou também que os líderes renovaram seu “compromisso pelo país...sem dúvida, podemos dizer que este é um triunfo da Democracia, porque trata-se de aprovar uma Constituição importante para todos os equatorianos”.

Por outro lado, a operação que o TSE realizou, em parceria com a Polícia Nacional e o Exército, contou com a instalação de 38.901 Juntas Receptoras do Voto em todo o país, das quais 19.200 são para homens e 19.701 para mulheres, enquanto a Polícia mobilizou cerca de 30 mil agentes para vigiar as juntas eleitorais, enquanto as Forças Armadas mobilizaram 28 mil soldados para proteger as urnas e a contagem dos votos.

A cédula de votação continha apenas uma pergunta: Você aprova o texto da nova Constituição Política da República, elaborado pela Assembléia Constituinte? Sim – Não.

Apesar de todos os esforços realizados pelo governo, acompanhado das organizações progressistas e de esquerda sobra a difusão do conteúdo da Constituição, muitos eleitores encontravam-se indecisos e sem conhecimento profundo sobre o novo projeto.

Sobre os equatorianos habilitados para votar, 165 mil estão residindo no exterior, a maioria deles na Espanha e Estados Unidos, apesar disso, o processo eleitoral no exterior se desenvolveu sem nenhuma dificuldade, o que melhora a imagem do país no exterior, indicou a chaceler María Isabel Salvador.

O Presidente Correa, que havia sinalizado que receberia os resultados na cidade de Guayaquil, começou os preparativos desde as 16:40 no Governo do Guayas, seguido por uma grande quantidade de simpatizantes.

Os primeiros resultados sobre o Referendo foram outorgados pelo Exit Poll, e o TSE contou com uma base de informação, facilitando o processo final do referendo.

O processo eleitoral terminou às 17 horas, ganhando o SIM a nível nacional com um arrebatador 70%, contra 25% do NÃO, 1% branco e 4% nulos. O resultado mais esperado foi sobre o acontecimento na Província do Guayas e na cidade de Guayaquil, que se converteu no centro mais polarizado durante a campanha. Onde o Sim obteve cerca de 56,2%, contra 38,4% do Não. Enquanto, por regiões, o Sim ganhou na Costa por 67,7%, na Serra 72,9%, na Amazônia 65,4%.

Os festejos começaram na parte exterior do Governo de Guayas dirigidos pelo Presidente Correa, que qualificou o triunfo “como a consolidação da Revolução Cidadã, que sente a base de um novo país. O Sim ganhou cheio de alegria!”. Ele também fez um chamado à unidade contra quem nos enganou e pessoas que se deixaram levar pelo não, sem dar um passo atrás. “Juntar nossos braços, corações, mentes, por uma pátria altiva, soberana, equitativa”.

A atitude que marcou esta festa democrática foi por parte da oposição, desrespeitando a lei eleitoral, que impede de realizar campanha dias antes do referendo. Sua forma de campanha consistia em chamar aos lugares e promover o não. A violação desta lei já foi denunciada ao Tribunal Superior Eleitoral.

Enquanto isso os setores opositores já estão tomando ações como anunciar sua candidatura para as futuras campanhas e outros, como o prefeito separatista de Guayaquil, que segue tentando dizer que nessa cidade o Não ganhou, enquanto até a câmara, que participou ativamente contra o projeto constitucional, não se manifestou.

A notícia encontra-se em ABP Notícias.

Manifestação em Brasília: apoio à Bolívia e repúdio aos EUA

por Márcia Xavier


A Bolívia não está só, nós estamos com ela. A frase foi a tônica das palavras de ordem, dos discursos e da carta entregue ao embaixador da Bolívia no Brasil pelos manifestantes que fizeram ato de apoio ao País vizinho, na manhã desta sexta-feira (26), em Brasília. Na embaixada da Bolívia, eles entregaram ao embaixador René Ocampo uma carta de solidariedade e na Embaixada dos Estados Unidos fizeram manifestação contra a “ingerência” daquele País na tentativa de golpe contra o governo de Evo Morales.


Entre os dois prédios – no Setor de Embaixada – os manifestantes fizeram o percurso como em procissão, carregando cruzes que simbolizavam os camponeses mortos durante as disputas separatistas no território boliviano. 30 camponeses foram assassinados na noite do último dia 11 de setembro, por ordem de Leopoldo Fernández, governador de Pando, que faz oposição ao governo.

As cruzes foram fincadas nos jardins do prédio da Embaixada Americano, sob os olhares de dezenas de policiais que cercavam o prédio para evitar a aproximação dos manifestantes. Foi feito um minuto de silêncio em homenagem aos mortos. Eles vem se juntar aos milhares de latino-americanos que morreram lutando por um vida melhor, destacaram os oradores.
Do alto do carro de som, os líderes enviavam, por alto-falante, as palavras de protesto contra o governo estadunidense: “Bush, fascista”. Os manifestantes a pé, sem microfone, mas com a vantagem de estarem em grande número, respondiam, também em tom alto: “Você é terrorista”.

No começo da manhã, uma comissão de representante das entidades promotoras do evento, esteve em audiência com o embaixador boliviano, a quem entregou carta onde declara apoio as decisões do presidente Evo Morales. “Sabemos que a ação dos governadores e de seus apoiadores oposicionistas, em conluio com o imperialismo norte americano, é uma reação à decisão do Governo Morales de priorizar a defesa da soberania nacional, os direitos dos povos, a democracia e o combate à pobreza e à desigualdade”.

O embaixador agradeceu o apoio e disse que transmitira a mensagem ao presidente boliviano.

De olho nas riquezas

Em frente à Embaixada dos Estados Unidos, os manifestantes disseram que a política do Governo Bush é de tentar se apropriar das riquezas da América Latina para transformá-las em mercadoria e lucro. “Lutamos pela nossa água, nossa fauna e nossa flora, que é nossa por direito”, disse o representante da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), enfatizando que “querem os nossos recursos naturais para enfrentar suas crises”.
Para os manifestantes, não é somente a unidade da Bolívia que está em risco nesse disputa, mas a de toda América Latina. Amanhã, eles vão querer a nossa reserva de petróleo da camada de pré-sal, alertaram em suas falas.

Os manifestantes denunciaram a participação do Estados Unidos na tentativa de golpe, destacando que embaixador dos Estados Unidos em La Paz, Philip Goldberg, que foi expulso em meio à crise, se reuniu 15 dias antes dos ataques, a portas fechadas, com o governador Rúben Costas, de Santa Cruz, que faz oposição ao governo.

E, na carta endereçada ao embaixador, destacam que “sabemos que os EUA nunca hesitaram em utilizar a força para impor estados de terror com objetivo de impedir o avanço das lutas e reivindicações camponesas, indígenas e operárias”. E anunciaram a construção de uma frente única continental em defesa da soberania e da unidade da Bolívia.
A notícia encontra-se em Vermelho.org

10 razões para recusar o salvamento da Wall Street

por James Petras [*]

O secretário do Tesouro Paulson e o presidente Bush, apoiados pela liderança democrata, pediram ao Congresso US$700 mil milhões para salvar instituições financeiras da Wall Street.

Ao longo dos últimos anos estes bancos arrecadaram milhares de milhões de dólares tomando empréstimos e especulando com hipotecas, títulos e outros papeis financeiros, virtualmente sem qualquer capital a cobrir as suas apostas. Com a queda do mercado habitacional, as dívidas financeiras da Wall Street dispararam, o valor dos seus haveres evaporou-se e elas cravadas com milhões de milhões (trillions) de dólares de dívidas.

A liderança de Paulson, Bush e do Congresso quer que o contribuinte estado-unidense compre as dívidas privadas sem valor da Wall Street, comprometendo a actual e as futuras gerações de contribuintes com papeis desvalorizados.

Paulson/Bush e os líderes do Congresso afirmam falsamente que o fracasso em salvar os trapaceiros da Wall Street levará ao colapso do sistema financeiro. De facto, quase 200 dos nossos principais economistas das mais prestigiadas universidades rejeitam o salvamento de Paulson. A verdade neste assunto é que a retenção dos fundos para a Wall Street levará ao colapso deste sistema financeiro trapaceiro-especulador, o qual criou a actual derrocada económica.

O governo federal poderia e deveria utilizar as centenas de milhares de milhões do dinheiro público para estabelecer um sistema bancário e de investimentos a nível nacional controlado publicamente e sujeito à supervisão de representantes eleitos. O colapso do actual sistema financeiro em bancarrota é tanto uma ameaça como uma oportunidade. O colapso deste sistema corrupto levou à perda de empregos e congelamento do crédito e da concessão de empréstimos. O estabelecimento de um novo sistema bancário de propriedade pública proporciona uma oportunidade para financiar as prioridade das vasta maioria do povo americano: a re-industrialização da nossa economia, um programa de saúde para todos a nível nacional, garantia e estender a Segurança Social no próximo século, reconstruir nossa infraestrutura decadente e muitos outros programas essenciais para o modo de vida americano.
O problema não é a falsa alternativa de salvar a Wall Street ou o caos e colapso financeiro. A escolha real é entre subsidiar trapaceiros ou estabelecer um sistema responsável, reactivo e justo administrado publicamente.

Dez razões para recusar o salvamento da Wall Street

1- Numa economia de mercado os capitalistas justificam os seus lucros com o risco de perdas que assumem. Os jogadores não podem guardar os seus lucros e passar as suas perdas para os contribuintes. Eles têm de assumir a responsabilidade das suas decisões más.

2- Grande parte das dívidas tóxicas (lixo) foi baseada em práticas fraudulentas – instrumentos financeiros opacos não relacionados com activos reais (mas que geravam enormes comissões). O salvamento de vigaristas só encoraja mais vigarice.

3- O Tesouro dos EUA comprará papeis sem valor, os bancos privados reterão quaisquer activos com valor. Nós compramos os limões, eles conduzem os Cadillacs.

4- A probabilidade de o Tesouro recuperar qualquer valor das suas compras da dívida podre é quase zero. Os contribuintes serão fincados em papeis sem compradores.

5- O efeito a longo prazo de um salvamento será duplicar a dívida pública e minar o financiamento para a Segurança Social, Medicare, Medicaid, educação e programas de saúde pública, e ao mesmo tempo aumentar o fardo fiscal das gerações futuras.

6- O dólar desvalorizará quando o poder de atracção da dívida governamental diminuir no estrangeiro, aumentando o custo das importações e resultando numa espiral inflacionária que mais uma vez minará os padrões de vida dos trabalhadores.

7- A canalização de fundos para a Wall Street desviará os fundos necessários para retirar-nos desta recessão profunda.

8- O salvamento aprofundará a crise financeira porque, segundo do director do Gabinete de Orçamento do Congresso, revelará o facto de que muitas instituições podem estar carregadas com muito mais "activos tóxicos" e revelará que aquelas instituições não são solventes. Por outras palavras, o Tesouro e o Congresso estão a resgatar dívidas podres a instituições insolventes.

9- O salvamento é destinado a facilitar a concessão de empréstimos. Mas e o problema não é de crédito e sim (como mostrou o Gabinete do Orçamento do Congresso) de insolvência das instituições financeiras, a solução é criar instituições financeiras solventes.

10- O salvamento ignora totalmente as necessidades financeiras de 10 milhões de proprietários de casas que estão a enfrentar arrestos, bem como a bancarrota de pequenas empresas confrontadas com um esmagamento do crédito e as perdas de empregos dos trabalhadores e dos planos de saúde para as suas famílias devido à recessão.

Alternativas ao salvamento da Wall Street

A velocidade com que esta gigantesca quantia de fundos públicos foi disponibilizada pelo Tesouro e pelo Congresso mostra a mentira da sua argumentação de que programas populares não podem ser financiados ou precisam ser cortados. De facto, investir US$700 mil milhões na saúde e na educação dos trabalhadores americanos aumentará a produtividade, abrirá mercados e expandirá o poder do consumidor conduzindo a um círculo virtuoso de aumento dos rendimentos públicos e de eliminação de défices orçamentais e comerciais.

Fundos públicos investidos na manufactura, construção, educação e cuidados de saúde conduzem a produtos com valor de uso real e têm um efeito multiplicador sobre o resto da economia ao invés de terminarem nos bolsos de multimilionários que especularam e investiram em fusões e aquisições no estrangeiro.

O Tesouro e o Congresso inadvertidamente revelaram que o financiamento federal está prontamente disponível para reconstruir a economia dos EUA, garantir salários vitais decentes e proporcionar cuidados de saúde para todos se escolhermos responsáveis eleitos que estejam comprometidos com as necessidades dos trabalhadores e não com os multimilionários da Wall Street.


Leia mais a respeito em:
A pensar o impensável: Um cancelamento da dívida e um ano jubileu com uma reabilitação, por Michael Hudson

Crise capitalista, a sombra de Marx, por Rick Wolff

[*] Professor emérito de sociologia na Binghamton University, New York. É autor de 63 livros publicados em 29 línguas, e mais de 560 artigos em publicações profissionais, incluindo American Sociological Review, British Journal of Sociology, Social Research, Journal of Contemporary Asia e Journal of Peasant Studies. Publicou mais de 2000 artigos e publicações não profissionais tais como New York Times, the Guardian, the Nation, Christian Science Monitor, Foreign Policy, New Left Review, Partisan Review, Temps Modernes, Le Monde Diplomatique. Seus comentários são amplamente difundidos na Internet. Dentre as editoras que publicaram seus livros incluem-se a Random House, John Wiley, Westview, Routledge, Macmillan, Verso, Zed Books e Pluto Books. Ganhou os prémios Life Time Career, Marxist Section, da American Sociology Association, o Robert Kenny Award for Best Book, 2002, e a Best Dissertation, Western Political Science Association in 1968. Seus livros mais recentes são: Zionism, Militarism and the Decline of US Power e Rulers and Ruled in the US Empire .

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=10362

Este artigo encontra-se em Resistir.Info

domingo, 28 de setembro de 2008

Alfonso Cano: Manuel Marulanda Vélez, que sempre uniu

Homenagem ao comandante Manuel Marulanda Vélez

ALFONSO CANO/ Comandante das FARC


Agradeço em nome dos guerrilheiros que formamos as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo, dos milicianos bolivarianos, dos militantes do Partido Comunista Clandestino e dos integrantes do Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia, esta significativa homenagem no túmulo do Libertador Simón Bolívar, ao comandante Manuel Marulanda Vélez, 6 meses depois de sua morte física nas montanhas de nosso país.

Merecido tributo a um verdadeiro mentor da guerra de guerrilhas revolucionárias e da liberdade, nascido no dia 13 de maio de 1930 em Gênova, povoado situado na Cordilheira Central, que, obrigado pelas circunstâncias a alçar-se em armas diante da agressão innstitucional que assolou os campos e as cidades colombianas, liderou passo a passo e sem interrupção durante 60 anos a construção de um exército de revolucionários, de sólidos princípios comunistas e ideais bolivarianos em luta pelo poder do Estado, armado com uma proposta de governo unitário e popular, de democracia avançada e de integração latino-americana, excepcional sintetizador da experiência individual e coletiva, desse que, como dizia Jacobo Arenas, “em sua prática diária lhe arrancava as verdades da vida”, entendeu que só sobreviveria à agressão caso se organizasse e enfrentasse a luta contra o terror oficial e o despojo de terras encabeçado pelos donos das grandes fazendas, opostos à lei de terra de 1936, que passavam as cercas de suas propriedades por cima dos cadáveres e as desgraças do campesinato, seu legítimo dono, em uma orgia criminal patrocinada e instigada a partir das grandes cidades e que, escondida atrás da cortina de uma confrontação entre os partidos liberal e conservador, respondia realmente à filosofia do despojo, à agressão dos ricos contra os explorados, dos grandes fazendeiros contra os camponeses pobres.

Toda essa voracidade social e política dos anos cinqüenta, cimentou em Pedro Antonio Marín a consciência de trabalhador agredido pelo Estado e pelos poderosos, assim como a confiança na eficácia de uma resistência organizada e gerou nele elementos primários, porém sólidos, sobre o coletivismo e a solidariedade como referências fundamentais para os que seriam seus projetos definitivos. Essa mesma dinâmica o levou a compreender que a superação da violência que afetava o país, radicava nas definições do governo central e portanto, eram basicamente políticas.

E assim, ao calor de longos anos de combates, de organizar militar e socialmente a população, em meio ao atropleo criminal da oligárquica estratégia de ‘sangue e fogo’, da enganosa pacificação promovida pela ditadura militar, da mobilização operária contra a presença colombiana na guerra da Coréia, do pujante desenvolvimento desses movimentos revolucionários e de libertação nacional no mundo e da revolução cubana em particular, definiu sua condição de militante comunista: seu compromisso de vida estaria do lado dos explorados, e sua existência seria uma luta intensa, organizada até o fim pela defesa dos interesses dos trabalhadores do campo e da cidade, pela conquista do poder político que instaure um regime de democracia avançada com justiça social como passo e parte inicial da revolução socialista.

Ele entendia, por experiência própria, que os caminhos escolhidos por cada povo para alcançar esses objetivos não dependem da vontade de ninguém em particular e sim das opções e espaços que o Estado permita. Entendia também, que não existem receitas nem fórmulas universais para avançar nos processos revolucionários pelo poder e sim que cada povo, de acordo com sua história e particularidades, vá traçandoseu próprio caminho. Por isso o surgimento das FARC na década de sessenta foi alheio à concepção foquista irrigada então pela América Latina como conseqüência do triunfo do exército rebelde de Fidel, a quem admirou especialmente.

E assim, sob a liderança do comandante Manuel Marulanda Vélez, que sempre uniu, convocou, coletivizou, fraternizou, comprometeu muitos na elaboração dos planos e em seu cumprimento, avançou do elementar ao complexo. A partir do pequeno núcleo de 42 camponeses em Marquetalia se instrumenta o processo revolucionário colombiano com um verdadeiro exército e, passo a passo, com o passar do tempo e o acionar permanente, se recolhem as experiências e aperfeiçoam os elementos que dão corpo, estatura, coesão e projeção à nossa estrutura político-militar como uma alternativa de poder.

-Umas normas de comando, uns estatutos e um regulamento de regime disciplinar.

-Um programa de governo sintetizado na Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia como proposta ao povo colombiano que materializa reivindicações sociais, econômicas e políticas fundamentais para sair do estado de terror, da injustiça social e da submissão frente ao império em que tenha sumido a oligarquia colombiana e que nos leva rumo à Pátria Grande e o Socialismo.

-A Campanha Bolivariana pela Nova Colômbia, que assinala tarefas políticas e militares a desenvolver para conseguir a confluência do Movimento de Massas com a ação guerrilheira que leve à conquista do poder de Estado.

-O Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia, de caráter eminentemente político, de grande amplitude para promover a Plataforma e organizar a luta de massas em todos os setores da sociedade.

Converteu as FARC-EP em uma verdadeira e real alternativa política, baseada no cotidiano de centenas de combates militares e confrontações políticas, é uma vitória do esforço de muitos, mas é resultado direto e indiscutível da condução do comandante Manuel Marulanda Vélez, que resume assim sua multifacetada qualidade como revolucionários, guerreiro, estrategista militar, organizador, político audaz e estadista, síntese difícil de encontrar em apenas um indivíduo e que o eleva ao pedestal dos grandes revolucionários da nossa América em todos os tempos.

Sua decisão de alcançar as transformações sociais e políticas pelas vias menos dolorosas foi permanente. Consciente que nas guerras os mais afetados são os setores populares, buscou sem descanso os caminhos de reconciliação da família colombiana através de acordos e propiciou persistentemente o diálogo com os distintos governos que, sem exceção, tentaram por essa via, submeter sua vontade de luta a troco de migalhas, ou, como nas conversas de Caguán, apenas ganhar tempo para fortalecer seus corruptos aparatos de guerra sob as humilhantes condições impostas pelo governo de Washington.

O comandante Manuel Marulanda explicava que uma solução diplomática do conflito apenas seria possível com uma luta de massas muito combativa, dada a essência extremamente violenta da oligarquia colombiana.

Viveu à plenitude seus últimos 6 anos, enfrentando a maior ofensiva militar contra-insurgente realizada na América Latina: cerca de 400.000 efetivos da força pública, com um plano elaborado nos Estados Unidos, financiado, dotado e controlado por Washington e dirigido sobre o terreno por oficiais gringos pretendendo a impossível missão de remover a decisão de luta de um povo.

Morreu invicto nosso comandante aos quase 78 anos, em meio às selvas e com o tranqüilo acompanhamento dos seus.

Inimigo absoluto das tentativas de culto à sua personalidade, nos inculcou em suas cátedras e com seu exemplo a transcendência de colocar sempre à frente os interesses coletivos aos individuais, o desprendimento pessoal em benefício dos mais simples interesses do povo, a defesa intransigente dos princípios e das definições da prática de uma direção coletiva que garanta certezas na condução do movimento.

Todos esses ensinamentos nos permitiram ir assimilando sua ausência física e prosseguir a materialização de nossos planos de curto, médio e longo prazo, nos marcos da estratégia das FARC-EP e de nossos postulados programas aprovados pelas Conferências Nacionais e os plenos do Estado-Maior Central. Nossa consígnia é “A tarefa de Bolívar e Manuel está por fazer e devemos cumprí-la”. Juramos vencer e venceremos!

A obra de Manuel Marulanda transcenderá esta horrível noite de terror paramilitar que assola a Colômbia, da guerra suja, a corrupção administrativa, a injustiça social e a submissão oficial do governo perante a Casa Branca. A grandeza incomensurável do comandante, como a do libertador Simón Bolívar, terminará derrotando a mesquinha criminalidade de todos os Santanders de ontem e de hoje.

Com Jorgen, Timo, Joaquín, Mauricio, Pablo e todos os comandos combatentes das FARC-EP, agradecemos às organizações políticas e sociais, à Coordenadoria Continental Bolivariana e ao povo irmão venezuelano, este enorme gesto. Fazemos homenagem póstuma ao nosso inesquecível comandante-em-chefe e também a Jacobo, Nariño, Raúl, Iván Ríos e a todos aqueles heróis que hoje e ontem ofereceram sua vida pela bela causa da Grande Colômbia, da independência e da liberdade.

Seremos fiéis à frase final da última mensagem de Manuel ao Secretariado, datada de 21 de março, que compartilhamos com todos: “Não sendo outro o motivo da presente, me despeço de vocês com um forte abraço revolucionário e Bolivariano, à espera de que possamos responder com êxito ao clamor nacional em campos e centros urbanos na luta pela paz com Justiça Social e Soberania, utilizando a ação de massas em suas diversas modalidades”.

Pela Nova Colômbia, a Pátria Grande e o Socialismo: venceremos!

Pelo Secretariado das FARC-EP.

ALFONSO CANO






Montanhas da Colômbia, 26 de Setembro de 2008






O original encontra-se em ABP Notícias.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

É inaugurada na Venezuela a Praça Manuel Marulanda


Hoje inagurou-se a primeira praça e monumento no continente em homenagem ao Comandante Guerrilheiro Manuel Marulanda Vélez.


As organizações que integram a Coordenadoria Continental Bolivariana na Venezuela realizaram uma homenagem póstuma ao Comandante Guerrilheiro recentemente falecido, Manuel Marulanda Vélez.

A homenagem constitui uma amostra de solidariedade do povo venezuelano ao povo colombiano, que está sendo obrigado, devido à aplicação sistemática do terrorismo de Estado, a tomar as armas para defender as causas populares, asseguraram representantes da Coordenadoria Simón Bolívar, o Partido Comunista de Venezuela, a Corrente Comunista Gustavo Machado e o Movimento 28 de Março.

Frank León, vice-presidente da Coordenadoria Simón Bolívar, expressou que é um orgulho para sua organização convocar, junto a outras organizações da região, uma homenagem a Manuel Marulanda, a quem qualificou como uma referência revolucionária.

Precisamente na sede dessa organização, o emblemático 23 de Janeiro, albergará a praça Marulanda que inaugurou-se hoje, 26, e que foi construída em largas jornadas de trabalho comunitário. O busto que encabeçará a praça já está terminado, segundo Carlos Casanueva Troncoso, Secretário Geral da CCB e será colocado ainda hoje, quando será revelado também o nome do artista que o elaborou.

Como parte da homenagem, foi lançado um livro sobre a vida e obra de Marulanda e se realizará um seminário internacional sobre o Direito dos Povos à Resistência Armada.

Roso Grimau e Santiago Palacios do Comitê Central do Partido Comunista da Venezuela manifestaram que a iniciativa da homenagem surgiu na Venezuela. Por sua parte, Palacios qualificou as FARC-EP como uma organização irmã do PCV e chamou à participação das organizações populares nas jornadas de trabalho de construção da Praça e à defesa do processo revolucionário da Venezuela.

O M-28, representado por Zenaida Tahan, afirmou que a Praça Marulanda é uma legitimização dos lutadores na Colômbia e que deve ser considerada não só como uma homenagem ao chefe insurgente, mas a todos os que na Colômbia padecem por conta do regime. Para Tahan, a luta armada na Colômbia constitui uma necessidade, enquanto na Venezuela não é necessária, por encontrar-se em meio a um processo inteiramente democrático, porque nele pode dar-se livremente o “debate necessário” sobre as formas de luta.

Sergio Jiménez, da Corrente Comunista Gustavo Machado, reiterou a necessidade das organizações revolucionárias da Venezuela a extenderem sua solidariedade à República irmã e somar-se à homenagem; denunciou a violação sistemática dos direitos humanos no país granadino, não sem antes rechaçar a política guerreirista do governo paramilitar de Álvaro Uribe Vélez.

O Secretário Geral da CCB, Carlos Casanueva Troncoso, afirmou que a criação do monumento para Marulanda na Venezuela é emblemática, por acontecer em meio aos ataques do império assim como na Bolívia.


Casanueva assegurou que a CCB apóia todas as formas de luta que os povos tenham para resistir e afirmou enfaticamente que “por trás de cada membro da CCB haverá um soldado a mais para defender as causas do povo” da Bolívia, Venezuela, Colômbia e assim evitar catástrofes como a que aconteceu no Chile com o golpe de Estado ao presidente Allende.


Livro sobre Manuel Marulanda Vélez é batizado em ato muito emotivo


por ABP Venezuela


A sala do Quartel São Carlos, próximo ao Panteão Nacional, onde descansam os restos do Libertador, estava lotada de bandeiras, cantos e consígnias em homenagem a Manuel Marulanda Vélez. Jornalista de meios alternativos tomavam nota de cada uma das palavras dos convidados enquanto os meios tradicionais giravam câmeras a torto e à direita em uma amostra de destreza mais militar que informativa.

Casanueva de Chile, Paul Del Río de Venezuela e Salvador Tio de Porto Rico presidiram o ato e chamaram Salvador, um pequeno chileno que escreveu um poema ao guerrilheiro legendário:

Companheiro Manuel
Está vivo em nossos corações
E em cada guerrilheiro com seu fuzil em mãos
Lutando pela liberdade
Vocês nunca cairão
O companheiro Manuel segue combatendo
Do alto das montanhas
Em todas as nossas almas
Segue combatendo
Pelo sonho de Bolívar
Pela paz e a justiça
Para deixar de viver sob a bota imperial
Para que nossos sonhos se tornem realidade
Sigam combatendo amigos
Algum dia eu irei
À montanha
Tomar o meu lugar


Com a vibrante voz da cantora popular venezuelana Chiche Manaure e as tradicionais pétalas de rosas, batizou-se o livro Manuel Marulanda Vélez, o herói insurgente da Colômbia de Bolívar e começou-se o seminário internacional.


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Colômbia: A América de Bolivar não é chantageável

Por Iván Márquez - FARC-EP


Sem nenhuma ou com pouca reação dos governos, pouco a pouco a política fascista do regime da Colômbia, descarado peão da geopolítica de Washington, vem se trasnacionalizando em detrimento das soberanias nacionais.
O primeiro passo para essa abusiva pretensão foi a invasão militar ao Equador com apoio tecnológico do governo dos Estados Unidos, alegando ser um ataque a um acampamento transitório da guerrilha das FARC nesse país. A delirante defesa deste ato de pirataria e violação à lei internacional foi sustentada pela doutrina da "soberania territorial condicionada aos problemas de segurança", pela qual o governo colombiano se atribui o direito de atuar extra-territorialmente em prol de sua particular visão e de sua estratégia contra-insurgente, passando por cima dos povos e de seus governantes.
Em consonância com esta ofensa ao direito internacional, haviam sequestrado Rodrigo Granda, na cidade de Caracas, e capturado Simón Trinidad, no Equador de Lucio Gutiérrez. Os Presidentes que não se submetem a estes critérios nocivos à soberania, são colocados em sua mira e sob a suspeita de serem governantes aliados do narcotráfico, da guerrilha e do terrorismo. Todas as embaixadas colombianas atuam com essa instrução da chancelaria do terrorismo de Estado, que é como se deve chamar este podre regime de Bogotá, que chama de "terrorismo" a resistência dos oprimidos frente aos desmandos do poder, e de "guerra" ao brutal terrorismo de Estado que pratica o governo da Colômbia contra os cidadãos.
A soberania pátria não pode ceder nem um pouco perante o governo mafioso e terrorista do senhor Uribe. O governo de Bogotá atua e se move sob a inspiração da política de Segurança Democrática, novo rótulo da velha Doutrina de Segurança Nacional, desenhada pelos estrategistas do Comando Sul do exército dos Estados Unidos, empenhados no sonho monroista de "América para os americanos" e dos falcões de Washington, que não renunciam à idéia de considerar a Nossa América como seu quintal.
O que está em jogo é a recolonização neoliberal da América Latina e do Caribe, e a utilização da Colômbia como cabeça de ponte para o assalto usurpador de nossas riquezas e a submissão política de todas as nações do hemisfério. O que busca a política de Segurança Democrática é a segurança investidora, pela qual contempla, por uma parte, a implementação de leis draconianas para, através delas, dissuadir a crescente inconformidade social e, por outro lado, as ações militares contra a resistência armada para garantir a exploração sem sobressaltos do petróleo, do gás, da biodiversidade, do trabalho e de todas as riquezas da nossa América.
Neste contexto, o governo de Uribe constituiu-se como a principal ameaça regional e um gerador perigoso da desestabilização dos governos patrióticos e progressistas, e dos movimentos sociais da Nossa América. Para isso, o sub-secretário de Estado John Negroponte orientou que se utilizassem, apesar de não terem nenhuma validez jurídica, os dados de um computador fraudulento, que mesmo a Interpol reconhece haver sido manipulado sem que se observassem os princípios reconhecidos internacionalmente para o tratamento de provas eletrônicas. Em um e-mail do dia 28 de maio, o professor universitário e cientista político colombiano Alfredo Rangel, agente da CIA, ou pelo menos assalariado dos gringos, disse ao ministro de defesa Juan Manuel Santos que "o Departamento de Estado havia acordado conosco manter a ofensiva contra Chávez e seus aliados, e reconhece como positivo haver intoxicado os computadores".
Apoiada nesses dados falsificados, a chancelaria terrorista de Uribe se incubiu a tarefa de visitar países com a insolente exigência aos respectivos governos de entregar ao regime de Bogotá, ou na sua falta, abrir ações judiciais contra os civis cujos nomes apareçam nos dados eletrônicos inventados por sua perversidade. Esta gestão inclui a chantagem de que se os governos não atenderem a seus despropósitos, filtrarão na imprensa de direita os supostos dados.
Simultaneamente, com ou sem o consentimento dos governos, estão organizando com a CIA, o Mossad e algumas agências locais, grupos de assassinos para exterminar opositores, como ocorre por exemplo com o proeminente líder de esquerda dominicano Narciso Isa Conde, presidente da Coordenadora Continental Bolivariana. Acompanham a estratégia criminosa de Bogotá e Washington, a Dincote do Peru e a Interpol. O propósito desta direita neoliberal violenta e terrorista é criminalizar o pensamento, reviver planos como o Condor para eliminar fisicamente as novas gerações de dirigentes revolucionários que em torno de Bolívar e de nossos heróis libertários deste século, lutam por uma ordem social mais justa na Nossa América. Um governo narco-paramilitar e terrorista como o de Bogotá não pode encurralar todo um continente. Esse governo ilegítimo e ilegal se sustenta pelo criminoso apoio que recebe da Casa Branca e pelos recursos das campanhas manipuladoras de opinião ou como o que hoje se costuma chamar, o terrorismo midiático. O governo de Uribe sobrevive em meio à mais pavorosa ilegitimidade, o terrorismo de Estado paramilitar que têm provocado centenas de massacres de cidadãos indefesos, milhares de desaparecidos em fossas sem serem desenterrados, milhões de deslocados e terras roubadas.
Um governo sustentado em fraudes eleitorais, truculências para acomodar a Constituição a suas ambições de poder político, e por conspirações criminosas para conciliar os interesses de militares, fiscais, congressistas, empresários e proprietários de terras que têm banhado o solo colombiano de sangue através de seus paramilitares. Os governos e povos do continente devem declarar-se em alerta permanente mediante os planos desestabilizadores forjados por Washington e Bogotá contra a independência e os interesses comuns da região. A América de Bolívar não é chantageável.
Iván Márquez é integrante da Comissão Internacional das FARC

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Jornada de Solidariedade ao Povo Boliviano



A América Latina mostra-se solidária com o povo e o processo boliviano.






Começou em Caracas, depois Buenos Aires, depois Lima, Quito, Rio de Janeiro, São Paulo, e agora é a vez de Brasília. A capital do Brasil está se mobilizando para dizer não ao imperialismo estadunidense e dar todo o apoio à luta boliviana pela libertação e emancipação dos povos do continente latino-americano.






Segue abaixo a convocatória:






"Não ao golpe separatista na Bolívia!



Abaixo a direita fascista ianque na América Latina!






Nas últimas semanas, uma escalada de violência tomou o leste da Bolívia. Como não puderam eleger um representante direto das classes dominantes para o governo central, grupos civis da direita fascista tentam impor um golpe separatista ao país, com vistas à derrubada do governo de Evo Morales e a retomada do controle absoluto sobre o país vizinho e, em especial, sobre o gás e os demais hidrocarbonetos.






Tais grupos, liderados pelos auto-intitulados "comitês cívicos" e pelos governadores oposicionistas de cinco departamentos (estados), em coordenação com a Embaixada estadunidense, implementaram um verdadeiro estado de terror em muitas cidades do oriente boliviano.






O caráter racista destas manifestações - que chamam de “invasor” o indígena do altiplano que migra para as terras baixas - é evidente não somente no discurso. Muitas das ações violentas da semana passada se deram justamente nos locais de trabalho e de moradia desta população migrante - como no mercado camponês em Tarija e no bairro popular Plan 3000, em Santa Cruz. Porém, a gota d’água ocorreu na no dia 11/08, quando pelo menos 30 trabalhadores camponeses foram massacrados por funcionários e grupos paramilitares ligados ao governo oposicionista do departamento de Pando.






Frente a esta situação, chamamos a todos para um ato de repúdio veemente à iniciativa de golpe separatista na Bolívia. Os EUA nunca hesitaram em utilizar a força para impor estados de terror com o objetivo de impedir o avanço das lutas e reivindicações camponesas, indígenas e operárias. Mas a ditadura e o fascismo não voltarão! Abaixo a direita fascista ianque na América Latina!







CONVOCAMOS A TODOS E TODAS PARA A MOBILIZAÇÃO!







Sexta-feira, 26/09, às 10hEm frente à Embaixada dos EUA – SES - Avenida das Nações Quadra 801 Lote 3 Concentração em frente à Catedral







Assinam:



Via Campesina, MST, MAB, MPA, MMC, Intersindical, Conlutas, SINDPREV-DF, SINPAF, CELA, CÁRITAS, CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais), CUT, Consulta Popular, MDD, Grito dos Excluídos Continental, PSOL, PC do B, PCB, UJS, ASSERA-DF, DCE-UNB, MTL, Assembléia Popular DF, Movimento Olho na Justiça"

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O Estado Fascista Espanhol ilegaliza o Partido Político ANB (Ação Nacionalista Basca)


por Askapena/CCB Euskal Herria

Com a colaboração prática dos representantes políticos do neoliberalismo nacionalista e a social-democracia basca, no dia 16 de setembro de 2008, os tribunais de justiça do estado neo-franquista espanhol novamente tornaram ilegal uma organização política de esquerda e independentista basca: Ação Nacionalista Basca/Eusko Abertzale Ekintza

Ação Nacionalista Basca, uma organização socialista e independentista criada em 1930, lutou criando batalhões de milicianos próprios contra o levantamento fascista espanhol em 1936, e naquelas trincheiras 550 gudaris deixaram suas vidas.

Compartilhou trincheira e governo com o próprio PSOE, e hoje paga seu esforço no sangue e prisão COM A ILEGALIZAÇÃO, e com o PNV que também teve usurpados seus assentos na câmara que o povo, votando nas urnas, os concedeu à ANB.

ANB, organização que acompanhou o projeto de uma Euskal Herria independente e socialista praticamente desde o começo, e legalmente até hoje.

ANB, organização da qual foram militantes aqueles combatentes anti-fascistas e internacionalistas do Batalhão Germika, um dos primeiros a entrar naquela Paris libertada do nazismo, depois de fortes combates. Sabemos que o Governo atual de Paris se mostrará agradecido, aumentando a colaboração repressiva com o estado neo-fraquista espanhol.

De todas as forças do neoliberalismo, não esperamos mais que repressão e exploração. E as forças anti-globalização, o que dizem?

Que fiquem sabendo aquelas forças européias que, por diferentes caminhos, tentam promover de uma maneira sincera, um NOVO MUNDO sem exploração.

Em 1936, (data longínqua no calendário, mas cada vez mais próxima em semelhança dos ensinamentos para a classe trabalhadora e os povos em luta) o capital europeu ensaiava no estado espanhol, uma saída para sua crise de forma fascista, que teve entre seus aliados posteriores, a falta de uma verdadeira e eficaz solidariedade internacionalista da maioria da esquerda européia. Aquele fascismo triunfante correu depois toda a Europa.

Quando hoje, 2008, voltam a ILEGALIZAR, PROIBIR, REPRIMIR, E PRENDER AS IDÉIAS a favor dos direitos sociais e da auto-determinação do Povo Basco pelo Reino Neo-Franquista da Espanha, pode ser verdadeiramente perigoso para a esquerda transformadora européia, nestes tempos de globalização, voltar a pensar que o que vale para o capital no contexto do Estado Espanhol, não vale para o resto dos estados europeus.

FASCISMO E NEO-FRANQUISMO. São os únicos conceitos que cabem nessa situação.

Para definir o regime do Reino Espanhol, governado agora pelo PSOE, agora pelo PP.

Chamamos a todas as forças amigas e solidárias com a luta de Euskal Herria a demonstrar, onde quer que estejam, a verdadeira cara fascista do Reino da Espanha, onde já ESTÁ PROIBIDO articular partidos políticos que defendam a independência e o direito à auto-determinação para Euskal Herria, onde ESTÁ PROIBIDA a liberdade de voto, PROIBIDO O DIREITO À MANIFESTAÇÃO por estas reivindicações democráticas, quando as prisões estão se enchendo de MILITANTES SOCIAIS independentistas bascos, pegando de 10 anos a ATÉ 40 anos de permanência física na prisão, e a possibilidade de continuar a repressão telemática durante mais 20 anos, uma vez acabada a condenação total e na rua.

A única certeza: a esquerda independentista basca, mesmo sob este neo-franquismo asfixiante do PSOE, seguirá lutando para tornar realidade na nossa terra, este direito democrático irrenunciável de todas as nações sem estado européias, poder construir de maneira democrática um estado próprio e socialista.

A solidariedade entre os povos, esta ternura tão necessária!!!

Gora Euskal Herri askatua eta sozialista!!!


AURRERA ANB!!!
A notícia encontra-se em ABP Notícias

Uma nova Guerra-Fria

por Juan Diego García

A dissolução do Campo Socialista pôs fim à Guerra Fria entre Oriente e Ocidente. No entanto, o que parecia ser o início do reinado hegemônico das potências capitalistas (em particular dos Estados Unidos) durou pouco e no atual panorama mundial surge uma nova correlação de forças que de certa forma reproduz a antiga disputa.

O motivo é simples: antes e hoje não se trata apenas da luta entre dois sistemas de pensamento, mas também (e muito particularmente) dos interesses estratégicos das potências mundiais envolvidas. Nem a política da URSS se limitou a praticar o Internacionalismo Proletário, nem – menos ainda – o Ocidente pode alegar que se dedicava tão somente à promoção da democracia e do bem-estar dos povos pobres do planeta.

A nova Guerra Fria reproduz a anterior entre as tradicionais potências de Ocidente e as antigas potências comunistas, a Rússia e a China, agora transformadas em grandes sociedades capitalistas, apesar da relativa lentidão do gigante asiático e das dificuldades temporárias de Moscou. Os estrategistas do Ocidente o sabem e não cessam de indicar o “perigo” que representam tanto esses dois países como a pujança dos países emergentes (a Índia, o Brasil, a África do Sul) e outros de menores dimensões, mas igualmente desafiantes, como o Irã. Um perigo em termos econômicos, isto é, de concorrência por recursos, feiras livres, territórios e zonas de influência, e também um risco em termos militares. É que, se as guerras locais na Ásia esgotaram perigosamente o potencial bélico de Ocidente (começando pelos Estados Unidos), a única alternativa que resta é a chantagem atômica, impossível de se exercer contra a Rússia e a China, mas ainda possível contra os demais - se é que se consegue impedir que eles também acessem esse tipo de armamento. Nada mais assusta tanto os ocidentais quanto a proliferação nuclear que eles simplesmente não podem controlar.

Como na Guerra Fria, as armas atômicas de Ocidente foram ultrapassadas não só pelo poder efetivo de russos e chineses, mas pela tecnologia bélica desenvolvida em países aliados como a Coréia do Norte, Irã, Síria e outros, criticados - ou temidos - por Washington e seus aliados.

A América Latina não está alheia a essa dinâmica, e, assim como nos melhores momentos da Guerra Fria, quem desejar fazer reformas no seu país, submetê-lo às oligarquias locais e sobretudo pôr limites aos saques das multinacionais, deve contar de antemão com a hostilidade aberta dos Estados Unidos e a Europa que não economizarão meios para impedir que estes governos se firmem institucionalmente, como comprovam os recentes eventos na Venezuela, no Equador e na Bolívia (e ainda, talvez, a espionagem contra o presidente Colom, da Guatemala?) e toda a polêmica da IV Frota no litoral brasileiro. Da mesma forma, parece óbvio que a maneira mais prática de fazer frente a tais ameaças está na força de uma unidade regional e na abertura paralela da maior quantidade de aliados e contatos externos a essa mesma área. Isso permitirá alcançar equilíbrios razoáveis e contrapesos diplomáticos para um exercício efetivo das soberanias nacionais.

Desse ângulo, é fácil entender por que o Brasil deu impulso à criação de um Conselho de Segurança Regional - sem a participação dos Estados Unidos - com a finalidade de coordenar as políticas de defesa como resposta a uma renovada concorrência mundial que afeta em cheio a região. O Brasil, uma potência em ascensão com claros interesses de expansão e necessidades de defesa, jamais esqueceria essa questão. Aliás, não é por acaso que o presidente Lula (nada propício ao radicalismo) vincule a renovação da IV Frota gringa na área com o descobrimento de imensas jazidas de petróleo no país, multiplicando muitas vezes sua importância estratégica. Também não parece um dado menor que tanto o Brasil como a Argentina tenham declarado abertamente a sua decisão de continuar a produção de energia atômica. A solene promessa de utilização para fins pacíficos não tranqüiliza Washington. Menos ainda os rumores que evidenciam a intenção dos militares de Brasil de apoderar-se de armamento nuclear.

Entretanto, o novo Conselho de Defesa Regional só poderá ser crível se tiver força intimidatória suficiente. Assim parecem entender não só Lula e os argentinos, mas o próprio Hugo Chávez, que assinou acordos de assistência militar com Moscou e preparou agora manobras conjuntas no Caribe para testar a capacidade defensiva do armamento adquirido (o mesmo que os gringos se negaram a lhe vender). Hoje a imprensa informa a aterrissagem de aviões militares russos em solo venezuelano. Como ocorreu na Geórgia, os gringos e seus aliados terão que pensar duas vezes antes de começar qualquer aventura contra Caracas.

O mecanismo militar por meio do qual Washington controlava os governos latino-americanos na área da defesa esfacelou-se. O Tratado Interamericano de Assistência Recíproca morreu na Guerra das Malvinas. Da mesma forma, debilita-se a penetração do Pentágono nas Forças Armadas de muitos desses países, que haviam sido transformadas em exércitos de ocupação dos seus próprios povos. E se os Estados Unidos ou a Europa se negam a vender armas aos governos que não gozam de suas simpatias ao mesmo tempo em que armam até os dentes àqueles que consideram seus aliados (a Colômbia, por exemplo) é natural que os atingidos busquem apoios em outras latitudes, agradando ou não às potências ocidentais. Por isso, da mesma forma que durante a Guerra Fria, no novo confronto mundial seria ingenuidade negar-se a buscar sócios como a Rússia ou a China; não por identificação ideológica, mas pela razão fundamental de formar aliados objetivos e compartilhar interesses mais imediatos. Como nos velhos tempos da Guerra Fria, os países débeis buscam apoiar-se no maior oponente do seu inimigo imediato. E os latino-americanos sabem muito bem quem conspira contra seus interesses, quem está por trás das oligarquias que lhes oprimem e contra qual frota devem preparar os seus zagueiros. Também sabem que, se o Ocidente impor-lhes um bloqueio como o existente em Cuba, a nova correlação mundial de forças permitirá encontrar outros aliados, e, sobretudo, fortalecer-se mediante a formação de um bloco regional.

A Guerra Fria entre o comunismo e o capitalismo terminou com o colapso da URSS, mas a luta pela hegemonia mundial persiste, incluindo a ameaça atômica. A nova Guerra Fria promete momentos tão ou mais dramáticos que aqueles. Que o digam os iranianos, que vêem o sionismo preparando o bombardeio atômico de seu país; também o sabe Morales, que acaba de expulsar o embaixador gringo por conspirar aberta e descaradamente contra o seu país; o sabe Correia, que decidiu tirar as tropas norte-americanas da base militar de Manta; o sabe Chávez, que não deseja ver-se surpreendido pela soldadesca gringa e se prepara ao combate. O sabe Lula, cujo país, por suas enormes dimensões e possibilidades, é a maior pedra no sapato das ambições expansivas dos Estados Unidos na região.


A propósito: Como reagiriam as autoridades norte-americanas se, por exemplo, os embaixadores da Bolívia ou da Venezuela em Washington tivessem organizado uma conspiração contra o presidente Bush, com o assassinato deste incluído?

O colapso capitalista

–Trabalhadores e oprimidos pagam bilhões para salvar a Wall Street


por Fred Goldstein
[*]

Com o salvamento governamental de US$85 bilhões da AIG, a gigante dos seguros, a Reserva Federal e o Departamento do Tesouro fizeram outra tentativa desesperada para sustentar uma estrutura financeira global em processo de colapso.
Esta última tentativa de resgatar uma enorme firma financeira vem a seguir ao salvamento de US$200 mil milhões dos dois maiores bancos hipotecários do mundo, a Fannie Mae e o Freddie Mac, há apenas 10 dias.
Acordos secretos enviam a conta para os trabalhadores
O presidente do Federal Reserve Bank of New York, Timothy Geithner e o secretário do Tesouro Henry Paulson têm estado assoberbados em reuniões ininterruptas, carpinteirando acordos. Isto tem sido efectuado em segredo, por trás das costas dos trabalhadores e das camadas médias, as quais será remetida a conta. Eles têm estado a desenvolver estes acordos com os mesmos tubarões dos empréstimos da alta finança cujas orgias de especulação, jogo e fraude na busca do lucro levaram à crise.
A farra especulativa da Wall Street levou a uma crise mundial realmente formidável.
Ao longo dos últimos três dias, a AIG, a maior companhia seguradora do mundo com UM TRILHÃO de dólares em ativos, esteve a poucos horas da bancarrota.
A Lehman Brothers, um prestigiado banco de investimento com 158 anos de idade, com US$639 bilhões em ativos e US$613 bilhões em dívidas, caiu na maior bancarrota da história dos Estados Unidos.
A Merrill Lynch, outro pilar dos bancos de investimento com mais UM TRILHÃO de dólares em ativos, conseguiu evitar a bancarrota só depois de ser engolida pelo Bank of America.
O Washington Mutual, a maior caixa económica dos EUA, teve a classificação dos seus títulos reduzida a lixo e está encostada às cordas.
Quando a crise da bancarrota estava em desenvolvimento, na quinta-feira 11 de Setembro, Paulson disse aos banqueiros que o governo estava a acabar de intervir e que eles teriam de resolver o problema entre si próprios. Isso foi na semana passada. Agora o governo dos EUA providenciou mais US$85 mil milhões para salvamento dos bancos. É um sinal de crise e de fraqueza.
Se bem que o salvamento da Fannie Mae e do Freddie Mac tivessem dado alívio aos possuidores de milhões de milhões de dólares de dívidas que possuíam junto aos dois bancos hipotecários, isto também colocou uma enorme tensão sobre o sistema financeiro e foi mais um sinal de fraqueza e fragiliza profunda. Novos salvamentos foram excluídos, disse o governo. Este limite foi como traçar uma linha na areia.
Mas as declarações de Paulson e Geithner não tiveram impacto sobre os banqueiros. Eles buscavam os seus próprios interesse imediatos e jogaram à defesa frente ao seu próprio governo. No fim, se bem que Washington deixasse a Lehman Brothers fracassar, a AIG era uma outra história. O Federal Reserve Board e o Tesouro fizeram uma meia volta humilhante e intervieram no último minuto, "temendo uma crise financeira à escala mundial". ( New York Times, Sept. 17)
O salvamento da AIG pelo Fed é instrutivo quanto à profundidade da crise. A AIG nem sequer é um banco. Ela não é regulamentada pelo governo federal. O Fed teve de utilizar poderes de emergência para intervir, os quais são considerados necessários não só porque a AIG emite apólices de seguros para milhões de indivíduos e empresas comerciais como também porque ela segurou mais de US$400 mil milhões em títulos apoiados por hipotecas e outros investimentos de risco de jogadores e especuladores por todo o globo.
A AIG tomou dinheiro emprestado de muitos dos grandes bancos e jogou seus activos a fim de fazer maiores lucros. Quando as hipotecas começavam a cair e os possuidores dos títulos apoiados por hipotecas começavam a pedir seus pagamentos dos seguros, a posição financeira da AIG estava a deteriorar-se numa base diárias e até horária.
A imprudência financeira do sistema pode ser medida pelo facto de uma companhia de seguros, que é suposta ser regulamentada a fim de se manter conservadora, precisamente porque é a guardiã de fundos que devem estar disponíveis para cumprir as necessidades de emergência dos segurados, fosse livre para participar no casino global.
A AIG opera em mais de 100 países, tem 116 mil empregados — 62 mil na Ásia — e tem instalações bancárias privadas para gente rica. Ela faz corretagem de negócios em acções, administra fundos mútuos, possui 900 aviões no seu negócio de leasing e em geral alavancou seu negócio de seguros numa operação especulativa globalizada.
Crise dos trabalhadores e oprimidos é ignorada
A crise dos banqueiros produziu manchetes sensacionais, com relatos hora a hora da agonia de um punhado de milionários e bilionários na Wall Street. Mas os media capitalistas deixaram de lado o drama real da massa de arrestos e despedimentos que afectam as vidas de milhões de trabalhadores.
Centenas de bilhões de dólares foram repartidos entre banqueiros que caíram numa crise em grande parte devido a empréstimos hipotecários predatórios e à revenda daquelas hipotecas no mercado capitalista global. Nenhum alívio está previsto para as vítimas da indústria hipotecária da banca.
Foi dada pouca atenção à notícia de que em Agosto houve 303.879 pedidos de arrestos — um aumento de 12 por cento em relação ao mês anterior e um acréscimo de 27 por cento em relação ao ano passado. Uma em cada 416 famílias nos EUA recebeu um aviso de arresto no mês de Agosto. Só na Califórnia houve 101.714, mais de 40 por cento em relação ao mês anterior e 75 por cento mais do que um ano atrás.
Enquanto derrama lágrimas sobre as agruras dos banqueiros, a imprensa capitalista não apresenta manchetes acerca de um estudo recente intitulado "Estado do sonho: arrestado" ("State of the Dream: Foreclosed"), o qual mostrava que a crise dos arrestos resultara na maior destruição de riqueza pessoal na história das comunidades afro-americanas e latinas.
Segundo o estudo, mutuários afro-americanos perderam entre US$71 e US$92 mil milhões devido aos empréstimos contraídos ao longo dos últimos oito anos. O número para a população latina, o qual é ainda mais elevado do que para a população afro-americana, mostra perdas dentre os US$75 e os US$98 mil milhões.
Juntamente com a crise financeira está a crise crescente da economia capitalista geral, pois a super-produção resulta em subida do desemprego. Mais de 84 mil trabalhadores perderam o emprego em Agosto, elevando o total anual a mais de 605 mil. Mais de dois milhões de pessoas foram acrescentadas ao desemprego nos últimos 12 meses, elevando o total oficial a 9,4 milhões. O desemprego a longo prazo também está a aumentar.
O desemprego dos trabalhadores negros atingiu 10,6 por cento, devido principalmente a perdas de emprego entre mulheres negras. O desemprego entre mães solteiras e juventude também está a crescer. E estes números governamentais não incluem milhões de trabalhadores desencorajados que desistiram de procurar emprego.
Em meio à crise do crédito, foi anunciado que a produção industrial – a base do emprego e do rendimento – em Agosto caiu no máximo de três anos. Houve uma diminuição de 1,1 por cento na produção das fábricas, minas e serviços públicos. A produção automóvel caiu 12 por cento, a maior queda numa década.
Uma coisa está clara com a presente crise: Nem a classe capitalista , que possui toda a riqueza produtiva, nem o governo capitalista, que supervisiona o sistema, tem o controle da situação económica ou financeira.
Cada medida que eles tomam para deter a crise do crédito é seguida por outra erupção de pânico. Cada vez que o mercado de acções sobe, ele rapidamente perde todos os seus ganhos e ainda mais. E por muito que os sábios declarem não haver recessão, o crescimento firme do desemprego e o declínio da produção continua, sem consideração por quaisquer dos chamados "estímulos económicos".
Mudança na psicologia da classe dominante
A intervenção do governo capitalista na crise bancária provocou uma mudança súbita na psicologia da classe dominante pois esta observa o seu sistema a girar descontroladamente. Depois de o sistema capitalista ter ultrapassado a crise da década de 1930, os patrões nos EUA começaram a esquecer-se das razões porque o presidente Roosevelt havia tomado medidas sem precedentes para resgatar a economia. Eles começaram a desdenhar qualquer intervenção do governo nos seus assuntos.
Naturalmente, eles sempre estiveram prontos para receber esmolas sob muitas formas — subsídios, gastos militares, legislação especial, isenções fiscais, etc. Mas sentiam-se os altos e poderosos dominadores corporativos do mundo.
Intervenção do governo, dizem eles, era para a Europa e social-democratas. As classes dominantes europeias haviam sido sacudidas pelos trabalhadores e pela luta de classe, pela divisão e pela guerra. Porque os dominadores europeus eram fracos e precisavam ser apoiados pelos governos capitalistas, tinham de submeter-se ao monitoramento estatal dos seus assuntos. Tal caminho, entretanto, era fortemente rejeitada pela Wall Street e os gigantes da indústria.
Esta crise de agora é uma enorme degradação para o capital financeiro estado-unidense, o qual costumava dar lições a outros governos capitalista sobre os males da intervenção governamental. Subitamente, contudo, os banqueiros e os patrões estão todos unidos, desde a extrema direita até os moderados e os liberais, no aplauso ao Tesouro e ao Federal Reserve Board pela sua "oportuna" intervenção. Eles estão a submeter-se, em meio a resmungos mas com clareza, à supervisão e monitoramento do governo a fim de salvar o seu sistema do colapso.
Com esta crise, a estrutura do capitalismo estadunidense está a entrar numa nova etapa. O governo capitalista começou, numa base gradual a princípio mas talvez mais sistematicamente no futuro, a absorver os passivos e as dívidas podres dos jogadores e da oligarquia da especulação financeira. Isto pode apenas aprofundar a crise a longo prazo, tornando-a mais profunda no organismo do capitalismo dos EUA.
Isto determina que haja não só repercussões económicas como também políticas por todo o mundo quando imperialistas rivais virem a vulnerabilidade dos dominadores nos EUA. Isto determina o enfraquecimento do imperialismo estado-unidense e ao mesmo tempo torna-o mais perigoso quando ele procura sair da sua crise.
Não é casual que o Wall Street Journal de 16 de Setembro, em meio a um relato em profundidade da crise financeira, publicou um artigo intitulado "Manter a sua pólvora seca: conscrição militar continua, por precaução". O jornal não fala necessariamente por toda a classe dominante, nem pelo Pentágono por enquanto. Mas o reflexo que emerge em meio à crise de algumas secções da classe dominante é que se começa a pensar num impulso guerreiro como solução.
Com a "Nova ordem mundial" a alimentar o conflito com a Rússia na Geórgia, a invasão do Paquistão e a escalada da guerra contra o Afeganistão, a possibilidade de uma nova aventura nunca deveria ser excluída.
A contradição básica do capitalismo
Os democratas querem lançar culpas sobre Bush e pedem por mais regulamentação. Naturalmente os financeiros pediram ao governo para eliminar a maior parte das regulamentações, as quais datavam da Depressão, que estabeleciam restrições às suas operações de jogo. Esta desregulamentação começou com a administração Reagan e atingiu um ponto alto na administração Clinton. Por instigação do Citicorp e de Robert Rubin, que deixou o Goldman Sachs para se tornar secretário do Tesouro, o Glass-Steagall Act foi revogado em 1998, sob o patrocínio do actual conselheiro económico de McCain, Phil Gramm. A lei proíbe aos bancos comerciais que se envolvam na banca de investimentos, subscrevam acções e operações em bolsa de valores, subscrições e outras actividades que facilitam a hiper-especulação generalizada do tipo que antecedeu a Depressão.
E naturalmente a administração Bush minou todas as tentativas de inibir a concessão de empréstimos hipotecários predatórios e deu liberdade de acção total a toda espécie de especulação não regulamentada de milhões de milhões de dólares de jogo especulativo, a qual aumentou o risco geral no sistema financeiro global. Mas, apesar da demagogia do Partido Democrata, a administração Bush não é a causa da crise.
A intervenção do governo, a regulamentação mais forte dos monopólios e as práticas mais "prudentes" não podem ultrapassar a contradição fundamental do capitalismo: a propriedade privada dos meios de produção sociais, globalizados.
É uma contradição irreconciliável que uma minúscula minoria controle a produção da riqueza do mundo para seu próprio proveito. É uma contradição irreconciliável que este aparelho global pare de funcionar quando há uma crise de lucratividade para os patrões. E tais crises ocorrem sempre, mais cedo ou mais tarde, devido à anarquia da produção capitalista.
Nenhum capitalista sabe onde aquilo que é produzido poderá ser vendido. Mas na corrida por "fatia de mercado" para o lucro máximo, cada agrupamento capitalista é obrigado a expandir a produção.
Em simultâneo, as leis do capitalismo obrigam cada capitalista a reduzir os salários dos trabalhadores tanto quanto possível. Nas últimas três décadas, a classe capitalista criou um sistema de baixos salários que contrapõe trabalhadores uns contra outras numa base global. Isto apenas agrava e acelera a contradição do sistema do lucro.
Sob o capitalismo a produção é anárquica e finalmente expande-se a um ponto em que os trabalhadores não podem comprar o que foi produzido a um preço que dê lucro aos patrões. Esta anarquia da produção está a ser reflectida na anarquia do sistema financeira na crise actual.
Na crise actual, multi-milionários no topo da sociedade capitalista pode estar a perder parte da sua riqueza, a qual realmente existia apenas no papel, mas eles mantêm suas mansões, serviçais, limousines e Lear jets. São os trabalhadores que estão a suportar a crise económica.
A única saída é o caminho da resistência — como o movimento para travar arrestos, o qual está a ganhar força por todo o país.
O original encontra-se em Workers World

Partido Comunista dos Estados Unidos denuncia ingerência de Bush na Bolívia

O Partido Comunista dos Estados Unidos condena a atitude agressiva do governo Bush frente à Bolívia e a seus vizinhos. O presidente boliviano Evo Morales busca resolver as enormes injustiças históricas de seu país, por meio de uma distribuição mais justa da terra e dos lucros do gás natural e de outras exportações bolivianas.

Em resposta a isto, as elites que controlam os governos estaduais ricos sabotam instalações de gás natural, destróem registros de terra, massacram camponeses e indígenas e chamam abertamente organizações armadas para derrubar Morales, que recentemente venceu a reeleição eleição com 67% dos votos.


O atual governo dos EUA, que gosta de pregar a outros países temas como a democracia e o Estado de Direito, está evidentemente apoiando as forças separatistas antidemocráticas. O governo Bush tem enviado verbas a organizações da sociedade civil na Bolívia, e se recusa a revelar para quais organizações e com que objetivos têm enviado tais verbas. Não é de se admirar que Morales suspeite que Bush financie a oposição reacionária e assim tenha expulsado o embaixador norte-americano. Infelizmente, a expulsão do embaixador tem recebido fortes ameaças do governo dos EUA. Há um enorme receio de que o governo Bush tentará um golpe militar para tirar da Bolívia um governo legalmente eleito e extremamente popular.


Esta atitude é uma entre outras ações de Bush que ataca outros países que rejeitam o domínio imperialista, como a Venezuela, Paraguai, Equador, Nicarágua, e claro, Cuba. É gratificante observar a maioria dos governos regionais apoiando a Bolívia, como vimos na recente conferência no Palácio La Moneda, em Santiago (Chile).


O Partido Comunista dos E.U.A. convoca todos os cidadãos norte-americanos a rejeitar as ações do governo Bush e a lutar para pôr um fim à intervenção dos E.U.A. na Bolívia e em todos os países do continente.

Na Bolívia, a morte de um único índio vale mais que a de dezenas de oligarcas

por: Radio Centenario Uruguay/Colaborador ABP Uruguay

Na Bolívia, a morte de um único índio vale mais que a de uma dúzia de oligarcas que algum dia deverão verter seu sangue.

Entrevista com o sociólogo norte-americano, James Petras, para refletir sobre os fatos na Bolívia e a Venezuela. “Estou muito preocupado com os eventos que se sucedem tanto na Bolívia como na Venezuela, assim como outros indicadores do que se está sendo preparado para o Paraguai, nesse novo avanço, nessa agressão do governo de Bush que nos últimos tempos lançou uma nova ofensiva nos conflitos dos lugares onde sofreu as piores derrotas”.

Chury [Apresentador]: Audiência de Radio Centenario, hoje vamos mudar a ordem da informação em Puesta al Día para falar da situação que vive o povo irmão boliviano e também da firme atitude do presidente venezuelano Hugo Chávez.

A ingerência norte-americana atinge toda a América do Sul e é por isso que hoje entramos em contato com alguém que a cada segunda-feira, direto dos Estados Unidos, analisa a realidade internacional.

Bem-vindo James Petras. Como você está?

Estou bem, mesmo que muito preocupado pelos eventos que se sucedem tanto na Bolívia como na Venezuela, assim como outros indicadores do que se está preparando para o Paraguai, neste novo avanço, esta agressão do governo de Bush, que nos últimos tempos largou uma nova ofensiva nos conflitos nos lugares onde sofreu as piores derrotas.

O que você acha da situação na Bolívia, com essa expulsão do embaixador norte-americano, o apoio do Itamaraty - que ocorreu horas depois - e a expulsão do embaixador em Caracas por Hugo Chávez?

Bom, em primeiro lugar é preciso ter claro que o embaixador norte-americano, o senhor Philip Goldberg, é um golpista. É um homem que trabalha mais como agente de Inteligência que como diplomata. Tem uma longa história de intervenção, particularmente na Iugoslávia, onde foi o principal agente do separatismo de Kosovo. E com a experiência que teve em outros lugares se mostra como um expert em atividades clandestinas vinculadas com grupos da ultra-direita, isto é, os separatistas.


Agora, há quase três anos (trinta e três meses) a Embaixada norte-americana – tanto com o embaixador anterior como com Goldberg - gastaram mais de 120 milhões de dólares anuais para financiar grupos opositores que se apresentam na Bolívia como ONG's, Cívicos e outros grupos neofascistas.


Ultimamente o fato é que ele atua publicamente consultando e canalizando os aportes financeiros tão deliberadamente que inclusive o governo de Evo Morales, que é bastante prudente, e se pretende conciliador, não teve mais opção que expulsá-lo, mas sem romper relações com os Estados Unidos. Ou seja, o governo dos Estados Unidos vai substitui-lo com outro operador de confiança.


Enfim, o fato é que já há uma guerra civil na Bolívia, com a presença ativa dos Estados Unidos como principal agenciador externo e internamente com aportes financeiros e a assessoria de Goldberg.


Esta guerra civil deixou quase a metade do país nas mãos dos fascistas, e digo fascistas porque operam com o uso de força, de violência, com grupos extra-parlamentares típico de fascistas, com o apoio de uma classe média acomodada, ações de tomada de edifícios públicos de todo tipo, de paralisação de gasodutos, violando inclusive esses gasodutos, tomando o controle de escritórios policiais, de alfândegas etc. É um golpe. Por isso, falar que se aproxima uma guerra civil ou um golpe é falso porque já há uma guerra civil, há uma tomada de poder nas províncias dos que chamam a Media Luna (Santa Cruz, Tarija, Pando, Beni) onde a direita fascista já manda, apesar de que há oposição interna de camponeses etc.


O que resta é o Planalto onde fica Evo Morales, enclausurado, impotente, incapaz de manter a ordem constitucional e a integridade do país. Enquanto isso as massas populares começam a organizar sua própria ação, independente do Presidente que até agora segue defendendo o diálogo. Mas enquanto isso os fascistas assassinam dúzias de camponeses a sangue frio e desaparecem com outras dúzias, ao que se somam mais de 200 feridos de bala que estão nos hospitais.


Esse é o cretinismo do Presidente diante da clara intervenção norte-americana, do golpe de Estado que já está ocorrendo e da tomada de poder pela ultra-direita.


O resultado é que isso é a ponta-de-lança da ofensiva contra o presidente Hugo Chávez, na qual, com almirantes da reserva e coronéis e generais em serviço já planejam o assassinato do presidente e a tomada de poder.


Graças à Inteligência da Venezuela alguns conspiradores já foram presos, mas as ações não podem se restringir apenas à cúpula. Há conspirações em tropas nas forças Armadas. Na Guarda Nacional e particularmente em alguns setores da Força Aérea os vínculos com os conspiradores seguem sendo um perigo real.


O lançamento de um blog no Paraguai que denunciou o próprio presidente Fernando Lugo é outra indicação que para Washington é intolerável não só os nacionalistas revolucionários, como Chávez, mas também moderados progressistas liberais como Lugo e Evo.


O governo de Bush quer sair da Presidência com pelo menos uma vitória político-militar. Por isso lançou essa ofensiva de última hora. É um ato de desespero, estão dispostos a fazer tudo: a violência, um golpe, a tomada de poder massacrando povoações, inclusive aliando-se com os piores racistas e fascistas desde a época do nazismo.


Falar de Santa Cruz e das principais cúpulas é falar de um movimento nazista, com ideologia racista, com um movimento extra-parlamentar com organizações cívicas cuja base é uma classe média enfurecida.

Quase no final, surgem duas ou três questões. O que você acha do Mercosul e da OEA?

Bem, todo o Mercosul aprova as resoluções de apoio a Evo Morales contra a violência, mas é justamente essa política interna que quebra o diálogo e a pacificação. Por por um lado apóiam a Evo Morales, mas por outro a saída que sugerem é desastrosa. O que é necessário, de fato, é a aplicação máxima da força, a violência legítima do povo, a mobilização, armar as milícias para enfrentar a ameaça ao lado dos setores constitucionalistas do Exército, achatar aos fascistas que estão tomando o controle do país e querem impor uma ditadura racista e fascista.


No Mercosul, particularmente o senhor Lula está muito incomodado depois que eliminaram 10% do gás que a Bolívia passa a Brasil. Não sei se Lula oferecerá a Evo tropas brasileiras para proteger e reconstruir o gasoduto. Lula está muito zangado com os fascistas que violaram o gasoduto, porque prejudica o gás que é muito necessário para as indústrias de São Paulo.


O único presidente que ofereceu uma ajuda concreta foi Hugo Chávez, que já expulsou o embaixador dos EUA e ofereceu apoio militar e auxílio à luta armada das massas populares da Venezuela.


É preciso lembrar que há três meses o próprio Hugo Chávez dizia que não era necessária a luta armada e hoje deve reconhecer que, frente a esta ameaça fascista, a única opção é o povo em armas ao lado dos soldados constitucionalistas.


É o único Presidente latino-americano que ofereceu algo além de resoluções de apoio diplomático. E por isso devemos tomá-lo como aliado estratégico. O apoio concreto de Chávez merece nosso apoio e devemos pressionar os governos da região para que ofereçam algo além de apoio diplomático. É preciso apoio financeiro e armas para que o governo de Evo Morales deixe de tocar o violão de conciliação e atue como um verdadeiro governo à altura dos povos para esmagar esse levante fascista.


Evo Morales deve reconhecer que o povo reclama armas. Eu recebi comunicações de setores fabris dizendo que a COB está farta com a conciliação de Evo e já está organizando suas próprias milícias, sítios, bloqueios, contra a direita e o fascismo; pela sua própria iniciativa frente à impotência do governo central.


Ou seja, o movimento de vanguarda se está levantando para encabeçar a resistência.



Muito obrigado James Petras.


Obrigado a vocês. Para encerrar, desejo que o governo boliviano tome alguma medida para evitar mais massacres dos camponeses indígenas, pois a vida de um indígena vale mais que uma dúzia de latifundiários.

domingo, 21 de setembro de 2008

Carolus Wimmer: UNASUL marca pauta independentista

por Claudia Milet/ Para ABP Noticias

- “Como que eu não vou rir da OEA se ela é uma coisa tão feia, mas tão feia, que me causa risadas?” (Carlos Prueba, cantor cubano). “Acabou-se a ingerência da OEA, acabou-se a doutrina Monroe”, declarou o vice-presidente do Parlamento Latino-americano, o deputado Carolus Wimmer (PCV), “No final das contas os sul-americanos resolvemos nossos próprios conflitos sem a intervenção de políticas imperialistas”.

Expressando seu enérgico repúdio diante de qualquer situação que implique em uma ruptura da ordem constitucional na Bolívia, ou que altere sua integridade territorial, finalizou-se em Santiago (Chile), o encontro extraordinário da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL).

Durante a reunião, convocada pela presidente pró-tempore do organismo Michelle Bachelet, decidiu-se pela formação de três comissões para apoiar a nação boliviana, consolidando seu princípio constituinte: a ação conjunta e oportuna em benefício dos interesses dos países da região.
“Venezuela, Bolívia, Paraguai, três países pioneiros na restauração da democracia popular participativa na América do Sul –ressaltou Wimmer-, estão sendo, de uma maneira constante, vítimas de desestabilizações sociais provocadas por grupos reacionários”.

Não é por acaso –acrescentou-, que este modelo desestabilizador, copia fielmente o esquema, tristemente exitoso, que destruiu os nascentes processos socialistas da América Latina nos anos 70, se repita hoje em dia. Prova disso são os sangrentos acontecimentos na Bolívia”.

A prisão do Prefeito de Pando, assim como a recente detenção de militares golpistas na Venezuela, segundo o expressado pelo parlamentar, demonstram que, “apesar dos esforços para apagar a história recente, desde os planos educacionais, até a ideologização midiática, a América do Sul não esqueceu seu passado ditatorial”.

O julgamento do vice-presidente Wimmer, também responsável internacional do Partido Comunista da Venezuela, ambas medidas presidenciais, “em um marco constitucional democrático, são a expressão de uma lição duramente aprendida, que no caso de Augusto Pinochet, que foi comandante em chefe do Exército do Chile duranto o Governo de Salvador Allende em 1973, não oi aprendida a tempo”.

UNASUL, cujo trabalho constituinte reivindica a soberania integral de cada país, tanto em sua autonomia territorial como na ingerência em seus assuntos internos, enfatizou o Deputado, reuniu-se a tempo e tomou decisões práticas. “Revalidando as instituições democráticas, deixou em evidência diante do mundo que nenhum país da América Latina permitirá novamente a violação de seus direitos fundamentais”.

Finalmente, o vice-presidente do Grupo Parlamentar Venezuelano destacou a importância da autonomia política demonstrada durante este encontro, onde a representação –nominal apenas-, da OEA, assim como a ausência da América do Norte, diferentemente dos outros acontecimentos, manifesta que “amadurecemos como continente, compreendemos que na união de nossos países reside a fortaleza que, no futuro, pode mudar a realidade política, econômica e social da América do Sul”.
O original encontra-se em ABP Notícias.

sábado, 20 de setembro de 2008

A admirável adesão do Dow Jones à má qualidade

por Michael Hudson

O salvamento da AIG a fim de permitir aos comerciantes de derivativos e outros jogadores arrecadarem as suas apostas conduzidas pelo computador é tão enorme que será preciso um outro artigo para descrever isso. Mas nesse meio tempo há um desenvolvimento tão admiravelmente apropriado, quase tão poético quanto uma metáfora, que não pode deixar de ser noticiado. em 18 de Setembro a companhia Dow Jones anunciou que a partir desta segunda-feira 22 de Setembro de 2008 substituirá no índice Dow Industrial Average a combalida AIG pela Kraft Foods. A companhia fabrica produtos industriais processados tais como Cheez'it, Cheez Whiz e chouriços Oscar Meyer, mas é mais conhecida pelo Macaroni and Cheese que Sam Kraft introduziu durante a Depressão, em 1937. Quando o leite e os lacticínios eram produtos racionados durante a II Guerra Mundial, estes alimentos empacotados eram tudo o que havia disponível. Juntamente com o Hamburger Helper da companhia, grande parte do público agora pode ser obrigada a comer mais disto no momento em que a transição desta semana do Capitalismo Industrial para o Capitalismo Hedge Fund segue o seu curso.
Quão ajustada é esta metáfora. Não só por ser a notória Dieta da Depressão como pelo facto de que o processo Kraft é queijo falso. Tão real quanto as garantias falhas que a AIG "segurava". O Velveeta e os chamados "produtos de queijo" assemelhados são feitos de Concentrado da Proteína do Leite (Milk Protein Concentrate, MPC). "A definição geral de MPC é uma mistura de ingredientes lácteos secos a partir de 42% a 90% de caseína (proteína láctea pura) fabricada por ultra filtragem de leite desnatado, retendo qualquer coisa da dimensão de uma proteína ou maior (bactéria, célula somática, etc) e a seguir secando isso para formar um pó", descreve o Agribusiness Examiner. [1] "Não fabricados nos EUA, os MPCs são acrescentados a contentores de queijo – por ser barato rende mais produtos finais, com 'poupanças' apropriadas pelo fabricante".
Os produtos resultantes não são considerados leite pelas definições da Food and Drug Administration's (FDA). Este facto obriga legalmente a Kraft a grafar muitos dos seus produtos de consumo como "Cheez" (ao invés de "cheese", queijo) de acordo com a lei da "verdade em etiquetagem". A intenção é que as crianças, às quais é destinada grande parte da publicidade da Kraft, pensem que esta palavra é um diminutivo carinhoso para os produtos químicos ordinários fabricados pela companhia, confundindo-os com queijo real. Grande parte dos produtos da Kraft são destinados principalmente a crianças, assim como cerca de três quartos das garantias de seguros derivativas da AIG, no valor de milhões de milhões de dólares de transacções decididas por computador, foram despejadas sobre crédulas instituições financeiras européias.
Muito de acordo com o gracejo de Thomas Gresham de que "A moeda má expulsa a boa da circulação", assim a Kraft agora representa não menos de 57 por cento do mercado estado-unidense do "queijo". E na esfera do capital financeiro, o maciço comércio computorizado de derivativos segurado pela AIG desviou poupanças de fundos de pensão e crédito bancário para longe do investimento tangível, para algo quase etéreo, nem capital tangível nem mesmo capital financeiro, mas apostas e straddles [2] sobre transacções cruzadas.
DE SALSICHAS & CDOs
A Kraft também fabrica as carnes processadas Oscar Mayer, principalmente salsichas, proporcionando um modelo para que a indústria dos bancos de investimento possam emulá-la com as suas hipotecas empacotadas (tóxicos CDOs, collateralized debt obligations ), o equivalente financeiro de varreduras do chão. Quem sabe o que está dentro das salsichas ou das CDOs dificilmente quer comprá-las. Mas tem sido feito um bocado de dinheiro com a venda das mesmas. E agora o governo está a dar a benção. Não há plano de saúde para americanos reduzidos a dietas Kraft Cheez, mas na verdade já há um plano de saúde financeira para todos os traders que se engasgaram com os US$450 mil milhões de impagáveis negócios derivativos que terão sido segurados pela AIG.
A moral parece ser saúde e salvamentos para os ricos; deixem o restantes comer Cheese and Macaroni.

19/Setembro/2008

[1] Kraft "Cheese?”: Adulterated Food? FDA: Don't Ask! Don't Tell! , The Agribusiness Examiner, May 7, 2001.
[2] Straddles: Combinação de uma opção de compra (call) com uma opção de venda (put) com o mesmo preço de exercício.
O original (em inglês) encontra-se em Counter Punch
A tradução original encontra-se em Resistir.info