"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Senadora Córdoba apresenta novas provas de vida de retidos pelas FARC


A fita traz as provas de vida do Srgto. Arbey Delgado, Major Enrique Murillo Sánchez, Ten. William Donato, Gral. Luis Herlindo Mendieta Ovalle, Cabo 1º Libio José Martinez, Intendente Álvaro Moreno, Srgto. Luiz Alberto Erazo Maya, Ten. Elkin Hernández e do Cpt. Edgar Yesid Duarte.

TeleSUR


A senadora colombiana Piedad Córdoba, apresentou nesta segunda-feira provas de vida de retidos pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) que foram entregues aos seus familiares.

O Srgto. Arbey Delgado, Mayor Enrique Murillo Sánchez, Ten. William Donato, Gral. Luis Herlindo Mendieta Ovalle, Cabo 1º Libio José Martínez, Intendente Álvaro Moreno, Srgto Luiz Alberto Erazo Maya, Ten. Elkin Hernández e o Cpt. Edgar Yesid Duarte, são os que apresentam seus testemunhos no vídeo difundido nesta segunda-feira.

Em comunicado de imprensa, desde Bogotá, a senadora da oposição enviou uma mensagem a todos os colombianos para que se “mobilizem a favor destas pessoas” e que se façam chegar as “vozes de paz” para conseguir novas libertações. Anunciou que nos próximos dias podem chegar às suas mãos novas provas de vida, que somadas as já apresentadas “seriam de 13 soldados e seis policiais”.

Desmentiu as versões que afirmam que os oficiais retidos estão acorrentados e em condições subumanas. “Não tem ninguém acorrentado, como podem ver”.

Em relação às condições de saúde dos retidos, respondeu aos jornalistas que ela não é a mais indicada para analisar isso, e sim os familiares que são os únicos que podem qualificar a situação das pessoas que falam nos vídeos.

No vídeo aparece a figura do cabo Libio José Martinez, que integraria um grupos de libertados unilateralmente pelas FARC junto de Pablo Emilio Moncayo, e cuja libertação não foi concretizada pelos obstáculos impostos pelo governo colombiano.

Na fita, o oficial cumprimentou seus familiares e assegurou “que se encontra bem”, e que em breve estará com eles.

“Conto-lhes que, graças a Deus, me encontro bem, e com o poder Dele, brevemente estaremos juntos”, testemunhou.

Também aparece o Srgto. Arbey Delgado, que está no cativeiro desde 1999 e que, após cumprimentar a sua família e agradecer a espera, pediu ao presidente Álvaro Uribe que facilite o intercâmbio humanitário tal como o anunciou antes da libertação da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt.

Em seu testemunho, Delgado reclama que logo após a chamada operação “Xeque”, “sobraram alguns servidores da Colômbia” que não receberam do Estado “a lealdade que uma vez” ele jurou.

“O que acontecerá se daqui a pouco as FARC cedem na petição de não-desocupação? Que acontecerá com nós? Será que não somos seres humanos? Será que somos animais? (...) Eu levo 23 anos a serviço do Estado e jurei lealdade ao Estado, mas para nós o Estado ainda não respondeu”, expressou Delgado que acrescentou que prefere ser libertado e estar com sua família a ser promovido em cativeiro pelo Governo.

Por sua vez o ten. William Donato, que foi aprisionado em 1998, expressou sentir-se com entusiasmo e firme para poder se encontrar com seus familiares em breve e saudou as gestões da senadora Piedade Córdoba e do grupo Colombianas e Colombianos pela Paz, pela luta que “tem empreendido pelo intercambio humanitário”.

“Tenham a certeza de que continuarei firme para poder me encontrar com vocês brevemente (...), estou bem, apesar do tempo que passou, continuo com o mesmo entusiasmo, continuo porque vocês são a razão da minha vida e porque meus pais me ensinaram que um homem de bem tem duas vidas, uma que sofre e outra que resiste”, disse Donato no seu testemunho.

Outra das provas apresentadas por Córdoba, é a do Gral. Luis Herlindo Mendieta Ovalle, aprisionado em 1998 durante a tomada de Mitú. No vídeo desmentiu as versões da imprensa que asseguram que o dito nos testemunhos tenha sido preparado pelas FARC.

“Quero também testemunhar que quando se tem divulgado provas ou quando prisioneiros foram libertados, imediatamente dizem que estão sendo pressionados. Não, neste momento estou em plena liberdade, estão me filmando, ninguém está me dizendo o que tenho que falar, ninguém está insinuando nada, ninguém está me dizendo coisas. A vigilância é a normal de um estabelecimento como este no meio da selva”, explicou o prisioneiro.

Também enviou felicitações à sua filha Jenny Mendieta pela sua graduação.
“Espero que já seja uma realidade e que prossiga com seus estudos”, disse.

Por outro lado, Enrique Molina Sánchez disse à sua família que não se preocupem porque sua vida depende “das FARC e não tanto do governo”.

“Eu sei que a situação tem sido dura, vocês continuem adiante e trabalhando, levando a vida em frente. Não se preocupem por mim, vocês sabem que a minha vida depende mais da guerrilha e não tanto do governo”, declarou.

Entretanto, o subintendente da Polícia, Álvaro Moreno, aprisionado desde 19 de dezembro de 1999 em Curillo (Caquetá, sul do país), manifestou à sua família que “muito em breve” estará junto deles para mostrar que isto (seu cativeiro) “foi um simples sonho”.

“Em pouco tempo, se Deus quiser, estaremos juntos e vamos desfrutar momentos muito agradáveis e ver que tudo isto foi simplesmente um sonho”, disse na sua declaração. Pediu a sua mãe “que continue em frente” pela sua doença. “É verdade que está muito doente, mas vamos em frente e quero que lembre deste lema: seja corajosa e esforçada, eu estou contigo”.

Outra prova mostra o Srgto. Luis Alberto Erazo, que também foi aprisionado em Curillo em 9 de dezembro de 1999. No vídeo ele cumprimenta toda a sua família e seus vizinhos, confirmou que recebeu todas as cartas e fotos enviadas por eles.

“Vi minha mãe numa foto que recebi há poucos dias com cartas que vocês me enviaram, estão muito bonitas, espero que continuem se conservando assim e não se preocupem por mim, estou bem”, assegurou o oficial.

Também o ten. Elkin Hernández Rivas, aprisionado desde 21 de dezembro de 1997 no ataque à Base Militar de Patascoy (oeste), aparece num vídeo agradecendo a seus familiares e amigos, pela luta com que “empreenderam para conseguir nossa liberdade”.

“Estou muito orgulhoso dessa luta que vocês empreenderam para conseguir nossa liberdade”, disse Hernández que aproveitou para pedir à sua mãe (Magdalena Rivas) “que se cuide das pernas, pela doença de que padece”.

Em outra prova de vida, o Cpt. Edagr Yesid Duarte, detido em 14 de novembro de 1998 em Paujil (sul), assegura estar fortalecido e com bom estado “físico e espiritual” no cativeiro.

“Como podem ver continuo forte do mesmo jeito de antes, meu ânimo não diminuiu e não acredito que vá diminuir”, declara Duarte na fita.

Expressou seu desejo de que estas provas de vida dêem forças à sua mãe que está doente.

“Para você mãezinha, vou pedir que fique muito forte porque meu pai disse que você está muito decaída. Tomara que esta prova de sobrevivência te sirva para que fiques mais forte e saiba que seu filho te ama muito e que tem aguentado tudo para voltar para você. Espero que você também tenha essa força para agüentar, enquanto Deus queira o meu regresso”, disse no seu testemunho.

Os nove prisioneiros formam parte de uma lista de 23 policiais e militares (o Governo e Córdoba trabalham com 24) que as FARC querem trocar por meio milhar de guerrilheiros presos. Mesmo tendo divulgado e executado liberações unilaterais.

Córdoba divulgou, no dia 17 de agosto passado, provas de vida do Major da Polícia Guillermo Javier Solórzano e do cabo do Exército Salín Antonio Sanmiguel Valderrama, que apareceram num vídeo com bom estado de saúde e ânimo.

Uma Unasul com bases firmes

Foram horas de discussão com tranmissão ao vivo do Hotel Llao Llao. Os presidentes da Unasul discutiram sobre a instalação de bases norte-americanas na Colômbia. O documento estabelece limites e inspeções.

A reportagem é de Daniel Miguez, publicada no jornal Página/12, 29-08-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

As bases já estão. E não há volta atrás. Isso ficou claro nas palavras do presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, já que os esforços para manter a Unasul de pé se concentraram, finalmente com sucesso, no consenso de um documento que indicou que "a presença de forças militares estrangeiras não podem ameaçar a soberania de qualquer país sul-americano" e habilitou ao Conselho de Defesa do organismo a inspecionar a atividade das tropas norte-americanas e seus radares, aviões e armamentos nas bases militares colombianas. O mínimo, mas suficiente para poder mostrar que a Unasul, mesmo com dificuldade, continua respirando. Foi ao cabo de uma tensa reunião de mais de sete horas sem recessos e bastante desvirtuada pela televisão ao vivo, à qual o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva se opôs sem êxito.

A tensão precedeu ao começo formal da cúpula. Ficou em evidência quando a presidenta Cristina Kirchner recebeu os presidentes na porta do Hotel Llao Llao, sob uma chuva que não cessou durante todo o dia. Não estavam nem Uribe, Lula nem o venezuelano Hugo Chávez, três dos atores principais. Lula e Chávez mantinham nesse momento uma reunião bilateral para aproximar posições, e Uribe, quando Cristina já falava na abertura da cúpula, foi à sala de imprensa denunciar que haveria censura, porque o debate não seria televisionado ao vivo.

Foi uma forma de pressionar, porque esse foi o primeiro ponto que os presidentes tiveram que decidir: finalmente, aceitaram a tranmissão ao vivo. Lula não disse nada, mas quando lhe coube a palavra queixou-se porque a modalidade fazia com que os presidentes falassem para seus eleitorados e não o faziam com franqueza.

Cristina começou pedindo que se abordasse a reunião "com muita responsabilidade histórica", cujo final estava previsto para as 13h30 e terminou quatro horas depois. "Não pode haver pior fotografia do que aquela de Quito (a cúpula do dia 10 de agosto), onde o presidente da Colômbia não esteve e houve algumas expressões ostentosas". Era um chamado para se evitar o fracasso da cúpula. Quando a presidenta saiu para falar com a imprensa, às 19h, ela considerou que o objetivo foi conquistado. A Unasul continuava viva.

Houve duas etapas na maratona de discursos. As primeiras quatro horas foram mais ou menos tranquilas. "Vejo avanços e frutos concretos na integração dos países da Unasul. Vejo também sinais de esperança, como esta reunião, onde estamos processando dúvidas e incertezas de forma diplomática e fraterna", disse Correa ao falar depois de Cristina como presidente pro tempore do órgão.

Depois, Correa convidou os presidentes para expor suas posições. O silêncio indicava que ninguém queria ser o primeiro. "Se ninguém quer falar, encerramos a sessão", brincou. Uribe aceitou o desafio, para afirmar que a ajuda militar norte-americana é "prática e eficaz" e que "essa eficácia é o que estamos dispostos a examinar com vocês nesta reunião de hoje da Unasul". "O acesso dos EUA para ajudar a Colômbia na luta contra o narcoterrorismo é um acesso sem renúncia da Colômbia à soberania sobre um milímetro do território", assegurou Uribe, enquanto um Lula modesto batia os dedos de sua mão direita contra a mesa.

Depois, pediu que a Unasul considerasse as FARC como um grupo terrorista. "Preocupa-nos muito que esses grupos sejam encontrados com armas provenientes de outros países. Pedimos que sejam responsabilizados e investigados nesses casos", completou, com um dardo que apontava para Chávez.

Uribe terminou sua exposição sem bombas, e o uruguaio Tabaré Vázquez seguiu-lhe no uso da palavra, dizendo que "o Uruguai advoga pela soberania, por isso rejeitamos a instalação de bases estrangeiras" e lembrou que recentemente seu país rejeitou que um avião britânico carregasse combustível em sua viagem às Ilhas Malvinas.

"Que bom que estamos todos", exclamou Chávez quando começou. Em tom moderado disse que "seria necessário ter o texto do convênio" da Colômbia com os EUA para saber do que estava se falando, "já que o tema central é a instalação de sete bases militares norte-americanas na Colômbia". Depois leu parágrafos do "Livro Branco" do Comando de Mobilidade Aérea do Comando Sul dos Estados Unidos, nos quais, segundo sua interpretação, se detalha a estratégia norte-americana para a região, a qual considerou claramente ameaçadora.

Depois, falaram o peruano Alan García e o boliviano Evo Morales, que teve palavras duras para Uribe e os Estados Unidos. Seguiu-lhes a chilena Michelle Bachelet para solicitar "moderação e vocação integracionista", para poder obter "acordos que sejam cumpridos e não que, se alguém não gostar daquilo que se devide, vai embora". "O futuro da Unasul depende da nossa vontade política, e espero que possamos avançar e superar o ânimo de atrito que vimos nos últimos dias", indicou.

Lula se reservou para fechar a rodada. "Muitas vezes, pedimos muito a nós mesmos e isso não permite que vejamos a qualidade dos avanços políticos que já conseguimos na América do Sul", começou, e na mesma linha lembrou que "até pouco tempo, a doutrina estabelecida na América do Sul era a que nós éramos inimigos uns dos outros e que nossos aliados estavam nos EUA ou na Europa". "Eu não queria que se transmitisse o debate, porque estamos falando para o nosso público, e as diferenças profundas aparecem. Eu não queria parecer antidemocrático com a imprensa e agora estou aqui buscando as palavras mais adequadas", queixou-se.

Depois, subiu um degrau em suas críticas aos EUA e se dirigiu a Uribe. "O companheiro Uribe tenta mostrar que as bases norte-americanas já existem na Colômbia desde 1952. Eu gostaria de lhe dizer de maneira muito carinhosa que, se ainda não se solucionou o problema (a luta contra a guerrilha e o narcotráfico), devemos repensar quais outras coisas podemos fazer na Unasul para solucionar o problema".

"Os grandes consumidores de droga não estão no nosso continente. Seria bom que, em vez de combater o narcotráfico dentro de nossas fronteiras, o façam dentro de suas fronteiras, mas os consumidores são eleitores", continuou Lula. Finalmente, advertiu sobre o perigo do aumento da presença norte-americana na Colômbia. "Teríamos que ter as garantias de que é algo específico do território colombiano". Ele também repetiu sua proposta de pedir a Obama uma reunião para que esclareça as intenções dos EUA para com a região, algo que não chegou a um consenso e não ficou assentado no documento final.

Lula encerrou convidando outra vez à moderação ao dizer que "a única maneira de evitar conflitos entre nós é que nos contenhamos em nossas palavras. Na política, a palavra tem um poder impressionante".

Pareceu uma advertência sobre o que ia vir. Porque quando parecia que tudo havia acabado Correa pediu a palavra e, apoiado em um Power Point, fez o contrário do que Lula havia pedido. Com um tom muito duro, negou as acusações de que o Equador protege as FARC e os narcotraficantes. "O Equador é vítima porque o Estado colombiano não faz nada para solucionar o problema dentro do seu território". Depois, lançou frases como: "A Colômbia é o principal produtor de droga na região"; "Há plantações de coca ao lado da fronteira com o Equador e ao redor de uma base militar"; "Esses grupos (FARC e narcotraficantes) extorquem agricultores equatorianos".

O clima voltou a ficar pesado, e uma resposta forte de Uribe estava quase caindo de madura. O colombiano começou respondendo a Lula: "Não nos parece que tenhamos que chamar o presidente Obama para lhe pedir contas". Depois, defendeu as bases militares, ao dizer que só haverá 800 militares norte-americanos, e que eles atuarão exclusivamente em território colombiano. Também disse que estava disposto a deixar que o convênio com os EUA fosse "analisado" pelo Conselho de Defesa da Unasul, mas "sem prescindir da OEA", onde os EUA tem a voz principal. Enquanto isso, mostrava fotos de cadáveres, vítimas da FARC e dos narcotraficantes.

A essa altura, o almoço havia sido suspenso, e cada presidente comia em seu assento como podia. Chegava a vez de Chávez, que já estava explodindo. Cristina Kirchner talvez também notou isso, pedindo uma interrupção. E usou isso para colocar gelo sobre as palavras que vinham da boca de Chávez.

Ela disse que era preciso reencaminhar a conversa e falou da necessidade de recompor a confiança entre alguns presidentes e concluiu pedindo que se firmasse um documento. Então, Chávez, em uma mudança evidente, só disse que estava disposto a assinar o documento se se respeitasse "um princípio geral de que as forças extrarregionais não afetem a soberania de outros países". A Unasul, por enquanto, continua a salvo.

domingo, 30 de agosto de 2009

DIGNIDADE NO SUL


Até agora, o pretenso giro de Obama em matéria de política externa não passou de um conjunto de boas intenções. No que se refere à América Latina, acordos como o que se comenta revertem os avanços que poderiam ter sido dados. Seria por demais lamentável que o decoro e a dignidade expressos pelos governantes sulamericanos encontram como resposta a mesma arrogância imperial que ao seu momento demonstraram os antecessores de Obama.

Por: Editorial Jornada

Durante a reunião extraordinária da União de Nações Sulamericanas (Unasul) que aconteceu em Bariloche, Argentina, nesta última sexta-feira, a maioria dos governantes da região expressou o seu rechaço ao acordo assinado entre os regimes da Colômbia e dos EUA, encabeçados por Álvaro Uribe e Barack Obama, respectivamente, que permite a Washington operar sete bases militares em território colombiano.

Durante o encontro, a anfitriã Cristina Fernandez de Kirchner traçou um paralelo entre este fato e a terrível experiência que implicou da operação de bases britânicas nas ilhas Malvinas; o mandatário venezuelano, Hugo Chávez, afirmou que a assinatura do acordo entre a Casa Branca e o Palácio de Nariño forma parte da estratégia global de dominação dos EUA; o presidente da Bolívia, Evo Morales, assinalou que não se pode permitir a presença militar estrangeira em nossos territórios: é um mandato duplo dado pelos nossos povos, e o mandatário do Equador, Rafael Correa - que exerce a presidência pro tempore da Unasul - solicitou uma reunião urgente com Obama para tratar do assunto. O sentimento dos governantes se viu refletido num documento final no qual se afirma que a presença de forças militares estrangeiras não pode (...) ameaçara a soberania e integridade de qualquer nação sulamericana e, em conseqüência, a paz e a segurança na região.

Por sua vez, Álvaro Uribe insistiu em defender o acordo do seu governo com os EUA, assinalou que com a instalação das bases não há renuncia nem abdicação da soberania e, inclusive, as qualificou como uma ajuda prática e eficaz contra o narcotráfico e o terrorismo.

É saudável que exista na região um grupo de governos que, não obstante provir de expressões políticas e ideológicas diferentes, estejam dispostos a chamar as coisas pelo seu nome, a defender as respectivas soberanias nacionais e a rechaçar um acordo que implica, em última instância, numa profunda ameaça de desestabilização no subcontinente americano.

Contrariamente ao que Uribe afirma, não há elemento algum que justifique a instalação deste tipo de bases na Colômbia: como disse ontem mesmo a presidenta da Argentina, o narcotráfico e o terrorismo devem ser combatidos, entre outras coisas, com medidas de inteligência e contrainteligência e não com o estabelecimento de enclaves militares, e o próprio Uribe deveria saber, depois da experiência da aplicação do desastroso Plano Colômbia, que a estratégia antinarco oferecida desde Washington não mostra saldos particularmente positivos e sim potencializa o desenvolvimento de cenários bélicos e de violações sistemáticas dos direitos humanos.

Em compensação, existem razões de peso para sustentar o rechaço dos governos sulamericanos à presença militar da superpotência na Colômbia: historicamente, Washington sempre apoiou golpes de Estado que assolaram a região no último século e deram respaldo à imposição de governos marionetes, mantiveram constante ingerência econômica nestes países, empreenderam ofensivas sistemáticas contra a integridade territorial e o pleno usufruto dos recursos naturais das nações ao sul do rio Bravo. Por isso, seria pertinente que Bogotá prestasse atenção à fala de ontem do próprio Rafael Correa, quando, ao relembrar que os EUA ocuparam durante anos a base de Manta, em território equatoriano, concluiu: Não nós enganemos, não há como controlar o que os norteamericanos fazem nas bases que a Colômbia lhes cederá.

Até agora, a pretendida gira de Obama em matéria de política exterior não passou de um conjunto de boas intenções. No que se refere à América Latina, acordos como o que se comenta revertem os avanços que poderiam ter-se dado a nível discursivo, reafirmam o caráter imperial e colonialista de Washington e seus afãs hegemônicos na região, além de que permitem ponderar o peso específico que possuem o Pentágono e o complexo militar-industrial na política desse país.

Seria por demais lamentável que o decoro e a dignidade, expressos anteontem pelos governantes sulamericanos, encontrassem como resposta a mesma arrogância imperial que demonstraram os antecessores de Obama em outros momentos. Cabe esperar que este exiba sensatez e inteligência, compreenda que nem a Colômbia nem o seu país enfrentam ameaças que justifiquem o estabelecimento desses enclaves militares e atenda ao chamado que lhe foi feito pelos governos do sul do continente.

Uribe e as bases dos EUA isolados na cúpula da Unasul

Fonte: www.vermelho.org

"Se algo ficou claro na cúpula é que a presença de tropas norte-americanas em sete bases militares colombianas é um grave risco para a região e que conta apenas com o aval do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe", analisou neste sábado o diário peruano La Primera. A conclusão conflita com a opinião da mídia dominante brasileira, que viu a cúpula como um "fracasso".

Os títulos dos principais jornais evidenciam a unânime vontade de disfarçar o isolamento de Uribe: Reunião da Unasul só aprofunda impasse (Folha de S.Paulo); Cúpula da Unasul acentua divisão da região (O Estado de S. Paulo); Encontro escancara a divisão sul-americana (Zero Hora, RS); Cúpula da Unasul fracassa em aliviar tensão na região (O Globo, RJ).

Na verdade, a iniciativa militar do presidente colombiano mereceu críticas unânimes, apenas com diferenças de ênfase e estilo. Até o governante do Peru, Alan García, tido como próximo a Uribe, exigiu que este ponha "as cartas na mesa".

"Obviamente estou de acordo com Evo Morales [o presidente antiimperialista da Bolívia] quando ele diz que construir uma base para bombardeiros invisíveis e radares esféricos pode ameaçar a integridade da América Latina. Eu estaria tentado a subscrever minha rejeição", disse García.

O governante do Peru apontou falta de transparência no projeto de Uribe. "Esta é uma excelente oportunidade para [Uribe] pôr as cartas na mesa. Esclarecer se vai haver caminhões, tratores, bombardeiros e satélites", comentou.

Se esta é a posição do seu mais íntimo aliado (o Peru foi o primeiro país visitado por Uribe em sua turnê por sete capitais da região, tentando explicar o projeto das bases), pode-se imaginar a posição dos demais líderes sul-americanos. Todos coincidiram que o acordo Bogotá-Washington é uma ameaça para a paz no continente.

Uribe isolou-se, mas não entregou-se. Nem apresentou as garantias jurídicas exigidas por seus vizinhos para afastar pelo menos no plano formal o perigo representado pela presença do mais poderoso exército do mundo na América do Sul.

Deste ponto de vista, o continente mostrou-se dividido. Já estava antes. O que é novo é o isolamento das forças mais reacionárias e pró-EUA, reduzidas, no fundo, ao seu bunker colombiano.

Da redação, com agências

Povo Indígena Awá, na Colômbia, é novamente vítima de massacre

Indígenas colombianos são constantemente alvos de massacres e genocídios. Ontem (26), mais uma vez, o Povo Awá foi vítima de assassinato coletivo. Segundo informações de líderes indígenas da região, "entre oito e dez pessoas foram assassinadas por um grupo armado encapuzado que vestia uniforme militar".

A notícia é do Conselho Indigenista Missionário - CIMI - 27-08-2009.

De acordo com comunicado da Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (CAOI) e da Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC), o massacre ocorreu na manhã de ontem, na Defesa Indígena Gran Rosario, no município de Tumaco. Líderes indígenas já começam a se articular para visitar o local dos acontecimentos com o objetivo de "verificar, investigar e oferecer acompanhamento humanitário aos familiares e membros da comunidade".

Conforme informações, homens com vestes militares, sem distintivos e encapuzados dispararam contra uma família Awa. Por ocasião dos tiros, cerca de oito pessoas morreram, dentre elas três crianças de um, oito e dez anos. Também foram mortos Tulia García e seus dois filhos. Segundo a Coordenadora Andina, García foi testemunha da morte de Gonzalo Rodríguez (esposo dela), assassinado em maio deste ano por membros do exército.

Além dessas pessoas, acredita-se ainda que outros membros da comunidade indígena estejam feridos. "Tem-se conhecimento que algumas pessoas estão feridas, dentre eles um menino que tem uma ferida no braço", comenta o comunicado.

Por conta disso, na nota, CAOI e ONIC exigem que se adotem as medidas necessárias para a garantia da vida e da integridade física e cultural do povo indígena e demandam a investigação "de maneira urgente, séria e imparcial" dos casos ocorridos hoje.

sábado, 29 de agosto de 2009

Unasul e o espelho de Uribe



Essas bases são a vanguarda de uma agressão militar, que pode não se consumar hoje ou amanhã, mas que com certeza terá lugar quando o imperialismo o considerar conveniente. Por isso a Unasul deve rechaçar energicamente sua presença e exigir a suspensão do processo de instalação das bases.

Por: Atilio A. Boron
Fonte: TeleSur


A reunião da Unasul em Bariloche terá que enfrentar dois gravíssimos problemas que rondam a América Latina: o golpe militar em Honduras e a militarização da região como resultado da instalação de sete bases militares norteamericanas na Colômbia.

Em relação ao primeiro ponto a UNASUL deverá exigir de Barack Obama coerência com suas próprias declarações a favor de uma nova era nas relações interamericanas. Como já foi dito em numerosas oportunidades este golpe é um balão de ensaio para testar as respostas dos povos e governos da região. E se aconteceu em Honduras foi justamente porque esse país foi meticulosamente submetido à influência ideológica e à dominação política de Washington.

Fracassada a negociação da OEA, Washington procedeu a suspender a emissão de vistos para os cidadãos de Honduras. Medida morna, muito morna, mas sintoma de que se está testando o clima político imperante na região. Mas Obama deve fazer muito mais, e deixar de lado o argumento que expressou há alguns dias quando se referiu à contradição que cometiam os críticos do imperialismo ao lhe exigir agora que intervenha em Honduras. É “irônico” - disse na ocasião – “que alguns dos que criticam a ingerência dos EUA na América Latina se queixem agora de que não estamos interferindo o suficiente”.

Sabemos que Obama não está completamente informado do que fazem seus subordinados civis ou militares, para não falar dos serviços de inteligência. Mas deveria saber, por ser tão elementar, que os EUA têm intervindo em Honduras desde 1903, quando pela primeira vez os marines desembarcaram nesse país para proteger os interesses norteamericanos num momento de crise política.

Em 1907, por ocasião da guerra entre Honduras e Nicarágua, tropas norteamericanas se estacionaram durante uns três meses nas cidades de Trujillo, Ceiba, Puerto Cortés, San Pedro Sula, Laguna e Choloma. Em 1911 e 1912 as invasões se repetiriam, neste caso para impedir a expropriação de uma ferrovia em Puerto Cortés.

Em 1919, 1924 e 1925, forças expedicionárias do império voltariam a invadir Honduras, sempre com o mesmo pretexto: salvaguardar a vida e a propriedade dos cidadãos norteamericanos radicados neste país. Mas a grande invasão ocorreria em 1983, quando sob a direção de uma personagem sinistra, o embaixador John Negroponte, se instalaria a grande base de operações desde a qual se lançou o ofensiva reacionária contra o Sandinismo governante e a guerrilha salvadorenha da Frente Farabundo Martí.

Obama não pode ignorar estes nefastos antecedentes e, por tanto, deve saber que o golpe contra Zelaya só foi possível com a permissão dada por seu governo. Está se pedindo é que os EUA deixem de intervir, retirem seu apoio aos golpistas, único sustento que os mantêm no poder, e que dessa forma se facilite o retorno de Zelaya a Tegucigalpa. A Casa Branca dispõe de muitos instrumentos econômicos e financeiros para disciplinar seus cúmplices. Se não o fazem é porque não querem, e os governos e povos da América Latina deveriam tirar suas conclusões do caso.

Com relação ao segundo problema, as bases norteamericanas na Colômbia, deve-se dizer o seguinte: Primeiro, que o império não tem espalhadas 872 bases e missões militares por todo o planeta para que suas tropas experimentem as delicias das diversas culturas ou da vida ao ar livre. Se as tem, com custos gigantescos, é porque tal como o disse Noam Chomsky em diversas oportunidades, são o principal instrumento de um plano de dominação mundial comparável somente com o que alucinava a Adolf Hitler nos anos trinta.

Pensar que essas tropas e esses armamentos serão utilizados na América Latina para outra coisa que não seja assegurar o controle territorial e político de uma região que os especialistas consideram como a mais rica do planeta por seus recursos naturais – aquíferos, energéticos, de biodiversidade, minerais, agrícolas – constitui uma estupidez imperdoável. Essas bases são a vanguarda de uma agressão militar, que pode não se consumar hoje ou amanhã, mas que com certeza terá lugar quando o imperialismo o considere conveniente. Por isso, a UNASUL deve rechaçar energicamente sua presença e exigir a suspensão do processo de instalação das bases. E, além disso, esclarecer que este não é um “assunto interno” da Colômbia: ninguém em sã consciência pode invocar os direitos soberanos de um país para justificar a instalação em seu território de forças e equipamentos militares que só podem trazer destruição e morte aos seus vizinhos. Quando, nos anos trinta, Hitler rearmou a Alemanha, os EUA e seus aliados gritaram com toda força, sabendo que o passo seguinte seria a guerra, e não se equivocaram. Porque agora seria diferente?

Segundo: enquanto Uribe seja presidente da Colômbia não haverá solução para este problema. Ele sabe, como todo o mundo, que os EUA vêm confeccionando um prontuário que não para de crescer, onde é qualificado de narcotraficante e de cúmplice dos crimes dos paramilitares. Em 2004, o Arquivo Federal de Segurança dos EUA divulgou um documento produzido em 1991 em que se acusa o então senador Álvaro Uribe Vélez de ser um dos principais narcotraficantes da Colômbia, referenciado como o 82º homem de uma lista cujo 79º lugar era de Pablo Escobar Gaviria, chefão do cartel de Medellín. O relatório pode ser lido em
http://www.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB131/dia910923.pdf

O site assegura que o atual presidente colombiano “dedicou-se a colaborar com o cartel de Medellín nos mais altos níveis do governo”. Uribe estava vinculado a um negocio envolvido no tráfico de narcóticos nos EUA. Seu pai foi assassinado na Colômbia por suas conexões com os narcotraficantes. Uribe trabalhou para o cartel de Medellín e era um grande amigo pessoal de Pablo Escobar Gaviria... Foi um dos políticos que desde o Senado atacou toda tentativa de extraditar a Escobar.

Portanto, Uribe não tem nenhuma margem de autonomia para se opor a qualquer pedido de Washington. Sua missão é ser o Cavalo de Tróia do império e sabe que se resiste a tão ignominiosa tarefa sua sorte não será diferente da que teve outra personagem da política latinoamericana, também presidente como Uribe: Manuel Antonio Noriega, que uma vez cumprida a missão que a Casa Branca lhe designara, foi aprisionado em 1989 depois de uma sangrenta invasão norteamericana ao Panamá e condenado a 40 anos de cadeia por seus vínculos com o cartel de Medellín. Quando Noriega deixou de ser funcional aos interesses do império passou rapidamente e sem escalas, de presidente do Panamá a prisioneiro numa cela de segurança máxima nos EUA.

Esse é o espelho em que, dia e noite, Uribe se vê, e isso explica seu permanente mau humor, suas mentiras e o seu desespero para ser, novamente, reeleito presidente da Colômbia, transformando a Colômbia num protetorado norteamericano, e a ele mesmo num tipo de governador vitalício do império, disposto a enlutar todo o continente para não ter a mesma sorte de seu colega panamenho.

Carta para minha mãe desde o autoexílio em Miami

Por: Alfredo Correa
Data da publicação: 23/08/09


Querida mamãe.

Mãe, você não sabe a vontade que tenho de estar contigo, de te abraçar e receber tua benção. Mas aqui estou, em Miami, vivendo como um prisioneiro. Não sei por que fui ouvir o tio Carlos. Ele me falou que quando chegasse a Miami pedisse status de refugiado político para conseguir o green card, os funcionários acreditaram e me deram o asilo, mas o pior é que não posso voltar para a minha amada Venezuela enquanto Chávez esteja na presidência e, pelos ventos que assopram, Chávez deve ficar até o ano 2021.

Mãe, você sabe que eu nunca tive interesse em política, nunca andei em nenhuma passeata, nem participei de nenhum ato violento como as bagunças que meus amigos participaram. Com o teu grande esforço me formei engenheiro e desde que cheguei nesta maldita cidade só tenho trabalhado de jardineiro, motorista, guardador de carros, lavador de tapetes e outras coisas que não quero te contar. Às vezes, trabalhando em dois empregos ao mesmo tempo, para poder pagar as contas, de tudo menos da minha profissão de engenheiro.

Mamãe, essa coisa de sonho americano é a maior mentira que existe, esse sonho somente se realiza se for se trabalhar com coisas esquisitas, do tipo tráfico de drogas, gigolô, alistar-se em empresas que contratam mercenários ou trabalhar arrebentando a alma por 30 anos, isto com um pouco de sorte e trabalhando como condenado. Somente assim se pode comprar de tudo e se você puder pagar 10% e ainda tem que se ter um avalista, mesmo assim se fica com dividas por 30 anos.

Lembra-se que você me dizia que quando a gente deve se converte em escravo do agiota, assim é a sociedade, todo mundo deve, todo mundo tem que administrar sua divida e tentar evitar o atraso dos pagamentos.

A maioria dos latinos com dinheiro o conseguiram exportando capitais, enxugando as economias dos seus próprios países, corrupção, desfalques aos correntistas dos seus bancos, lavagem de dinheiro, testas-de-ferro e outros obscuros ofícios. Por outro lado, a grande maioria de nós, mão de obra barata, empregados de última categoria, para servir de bucha de canhão nas suas guerras imperiais e trabalhar a serviço do narcotráfico, que é o primeiro negocio deste Estado, e que acredito, mantêm as intervenções em outros países e agora preparam a subversão contra a Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua, El Salvador, de forma parecida com o que fizeram em Honduras.

Mãezinha, aqui em Miami o ódio que existe contra Chávez e Fidel e contra outros presidentes que se dizem comunistas é incrível. Qualquer coisa que signifique mudanças, fora do que chamam “esquema capitalista”, como socialismo, é manipulado para o mal e inoculado por forças perversas, nunca tinha visto tanto descaramento, é visceral, sobretudo entre os mesmos latinos. Frequentemente a gente é convocado para se alistar no exército e libertar a Venezuela e outros países que saíram do esquema capitalista, e se não se comparece você é colocado em dificuldades com o serviço de imigração e alfândegas.

Agora que estou nesta situação comecei a refletir, a ler e a me informar do porque a classe média é como é, “porque sou como sou”. Conhecer a minha própria história me deixa triste.

Antes de qualquer coisa preparei-me para ganhar dinheiro, não para ajudar no desenvolvimento do meu país. Sempre pensei em mim mesmo, nunca nos demais, ainda que reconheça a sua preocupação pelo próximo, mas a importação da cultura do mercado foi maior do que as suas reflexões diárias. Mais uma coisa querida mãezinha, na minha educação nunca se deu ênfase à minha Pátria, à nossa história, costumes, à nossa idiossincrasia, no que realmente somos, no amor ao nosso país e o uso dos nossos recursos para tirar-nos da pobreza, só se deu ênfase ao que deveríamos “ter”. Ser explorado e depois converter-nos em exploradores, para assim conseguir a meta suprema de “ser rico” sem se importar como. A desgraça é que fomos formados para ser consumidores e não cidadãos.

A classe média tem a mente do dominador sendo dominado. “O rei me tortura, mas eu planto suas sementes” acho que foi um artigo do Professor Hernández Montoya em que explica esta relação: dominador - dominado. Imagine a senhora que chegamos a dizer frases como esta: “os venezuelanos não servimos para nada”, “Tomara que os marines invadam a Venezuela”, “Sem mim o país não funciona” e outras imbecilidades.

Mamãe, cheguei à conclusão de quem dividiu a Venezuela, que esteve sempre dividida, fomos nós mesmos, com nosso racismo e prepotência. Lembra-se do ódio e pavor que sentíamos quando do levantamento popular, “o Caracaço”? Queríamos desde nossos condomínios que o Exército matasse toda a plebe que se atreveu a protestar, depois disso enchemos as entradas dos condomínios com guaritas, guardas e cercas elétricas. Construímos o nosso próprio gueto.

Mãe, eu vim para Miami acreditando nos meios de comunicação privados. Mas aquele refrão nosso “quanto se tem, tanto se vale; aqui é uma realidade a cada dia. O sonho americano é uma mentira, aqui não existe amor, nem bondade, somente ódio. A juventude apodrecendo com a droga e a alienação mental consumindo os que não querem se alistar no exército, ao não encontrar por onde canalizar suas desavenças, aqui a lei não manda, quem manda é o dinheiro.

Note como nós, venezuelanos, fomos influenciados: nesse momento grande parte da nossa desvalorizada classe média já esta psicologicamente dissociada, nos enchem de medo com o comunismo; que vão-nós tirar os quatro cacarecos que possuímos. Mas, sabe mãe, não dizem que podem nos tirar é a ética, a decência, a cultura e a sabedoria, porque não existem em muitos de nós, e isso me faz lembrar aquele refrão muito utilizado quando se referiam as pessoas com muito dinheiro, mas que cumprimentavam somente aos que também tinham dinheiro: “Esse é um burro carregado de potes”.

Meus amigos que estavam quebrados pelos mesmos que pagam aos donos dos meios, se recuperaram e me contam que a prosperidade social e econômica corre por todo o país, que o desemprego diminuiu. Que na Venezuela ocorrem mudanças profundas, mesmo quando adaptar-se a uma justiça para todos não tem sido fácil, porque até nas nossas universidades fomos envenenados com o consumismo de produtos importados, a moda, a cultura e outros, fazendo desaparecer os nossos próprios valores, realmente nós faziam lavagem cerebral e agora, quando estamos sendo desintoxicados, não queremos aceitar, nem entender.

Mãe, tenho minhas próprias reflexões, mas sou também testemunha, de como o governo do psicopata Bush e os falcões, continuam conspirando contra o meu país, financiando atividades para recrutar venezuelanos ou quem quer que seja porque querem derrubar a Chávez para apropriar-se dos nossos recursos energéticos, aqui o uso dos combustíveis é um grade desperdício. Imagina mãezinha que não se importam em assassinar populações inteiras para que esta sociedade americana e quem se ache parecido, possam andar de carro... “Pura loucura”.

Mãe, quero lhe pedir que não se preocupe, tomei consciência, me formei ideologicamente aqui mesmo, no centro do Império, tenho muitos amigos norteamericanos que tem clareza política, junto com eles e alguns compatriotas latinoamericanos, estamos com a Venezuela, vamos a fundar um novo Circulo Bolivariano em Miami, já existem alguns como a Negra Hipólita, dessa plataforma informaremos os cidadãos deste país o que realmente esta acontecendo na nossa bela pátria, do que se trata a Revolução Bolivariana liderada pelo Comandante Hugo Chávez junto com seu povo, também da necessidade de unir toda a América Latina.

Mamãe perdoe-me por ter-la abandonado, a queda que tive me fez ficar de pé com a ajuda da verdade. Mãe, agora me sinto um cidadão consciente ainda que esteja longe da minha Caracas querida, quando estava lá o meu coração estava cego e tomado por outra cultura.

Responda-me logo.
Com profunda lembrança e o amor de sempre.

Alberto, teu filho que te ama!

Mande lembranças àqueles que perguntarem por mim.


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Numa nota do jornal Miami Herald, foi divulgado que uma pessoa de nacionalidade venezuelana de nome Alberto Petit, de 26 anos, foi presa. As acusações são as de sempre: terrorismo, ingresso ilegal ao país e espionagem para o regime “comunista do ditador Chávez”. Fontes não oficiais informaram que, na moradia do extremista, foi encontrada uma carta dirigida a sua mãe e que compromete a ambos em futuros atos subversivos contra a democracia e a liberdade. Os advogados não conseguem falar com o fanático terrorista porque foi acusado baseado na lei patriótica. Espera-se a qualquer momento a sua transferência para a prisão em Guantanamo, Cuba.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Saudação de aniversário

Comandante Fidel Castro

Neste aniversário de sua fecunda existência, semeando perseverante luta, audácia, convencimento na causa da emancipação dos oprimidos, receba nossas felicitações.

Nenhum significado teria um aniversário, se nada se houvesse feito pela vida e pela Humanidade. Porém, no caso de Fidel, a vida tem sido criatividade e ação permanente construindo a fé na causa dos explorados. Por tudo isso, com a emoção constante com que tem brindado cada gesta da revolução, celebramos a bondade e a entrega do valoroso filho de Mayarí e de seu povo, que tanta esperança tem dado com seu exemplo àqueles que lutam pelo decoro da América Nossa.

Celebrar o aniversário do Camarada é sublinhar a permanência da liberdade e honra que resplandece na maior das Antilhas; é festejar suas conquistas sociais, os ideais que sustentam milhões de almas que marcham pela senda da construção comunista. E fazemos essa comemoração com um canto de esperança na paz, desde a esquecida terra comunera que hoje se encontra manchada por um governo narco-paramilitar, o de Álvaro Uribe Vélez, o presidente mafioso que tem ensangüentado a Pátria, aberto em seu sagrado solo milhares de covas comuns para enterrar cadáveres de inocentes e, entregando-o agora ao império ianque, para que nele se instalem bases militares para a re-colonização do Continente e a agressão ao projeto bolivariano de emancipação.

As FARC – EP rendem homenagem a uma história de luta inclaudicável com compromisso de manter o combate pela justiça social, com absoluta determinação de dedicar-se totalmente até a vitória ou até a morte.

Como diz a velha dica do Livro de Las Odas, “A ave canta buscando o eco de seus amigos”. E assim estamos, com o exemplo do Comandante, ativando com os melhores sentimentos de seu coração novas explosões para derrocar Moncadas e tiranias..., e todas as infâmias dos que cravam punhais ao nosso destino, convencidos de que a ilha de Martí será sempre baluarte da solidariedade com os povos que lutam por sua liberdade.

Damos-lhe forte abraço com a certeza de que “os povos podem resistir e serem portadores dos princípios mais sagrados da sociedade humana”. Com o fogo de nossa admiração, com o sangue e amor de nossos combatentes, brindamos pela definitiva independência, pela Pátria Grande e o Socialismo, e pelos sagrados sonhos de Bolívar, Martí e Marulanda.

Compatriotas

Comissão Internacional das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, Agosto de 2009

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Partido Comunista Colombiano rechaça a presença militar estadunidense na Colômbia

A entrega de várias bases militares colombianas, por meio do tratado que o governo de Álvaro Uribe negocia com os Estados Unidos, implica o uso indiscriminado por parte de tropas, aviões e navios de guerra estadunidenses do território, do espaço aéreo e marítimo, em um ato de extrema gravidade que põe a Colômbia no lugar de peão principal do imperialismo no continente.

A entrega destas cinco bases militares é um ato deliberado e intencional que rompe a soberania nacional nos seus quatro pontos cardeais em benefício de propósitos e estratégias alheias aos direitos dos povos. É ademais um ato ilegal porque vai contra princípios constitucionais e não consulta o interesse nacional através dos órgãos do poder público e das instâncias sociais e políticas, que deviam discutir esta flagrante violação à dignidade do povo colombiano.

Por que o máximo segredo em torno desta tenebrosa negociação? Que mais escondem os militares estadunidenses e seus congêneres colombianos? É este o novo trato do governo estadunidense para o continente? O sigilo é mostra clara do nefasto conteúdo do acordo. Washington pretende converter a Colômbia em plataforma de ameaça e agressão contra os governos democráticos de esquerda, que têm obtido vitórias eleitorais e populares em todo o continente, com a vergonhosa cumplicidade de Uribe Vélez, empenhado em ganhar méritos diante de seus amos para legitimar sua segunda reeleição, à custa da prolongação indefinida do conflito contra insurgente.

O Partido Comunista Colombiano se pronuncia contra semelhante decisão, que comporta uma clara traição ao legado bolivariano, em plena comemoração dos duzentos anos do fim da submissão à Espanha. Ao mesmo tempo, chama ao conjunto do povo colombiano, sem distinções de nenhum tipo, a levantar-se com orgulho, dignidade patriótica e latinoamericanidade em rechaço ao golpe militar em Honduras, pela restituição do presidente Zelaya a seu cargo; em exigência de que o Estado colombiano renuncie a toda pretensão agressiva frente a outros Estados irmãos e à política de estender o conflito interno aos países vizinhos.

O Partido Comunista Colombiano apoia os protestos convocados para o dia 28 de julho em Bogotá. Exorta às forças sociais progressistas a levantarem a bandeira da unidade latinoamericana e a irmandade bolivariana como estandarte de uma nova política libertadora e democrática. Chama à maior convergência de forças em torno da busca da paz com justiça social, soberania, diálogo e acordos humanitários.

PARTIDO COMUNISTA COLOMBIANO

Postado por PCB - Juiz de Fora

Lendário general Giap comemora seu 99° aniversário



Por: Susana Ugarte Soler

Hanoi, 25 de agosto.

O general vietnamita Vo Nguyen Giap, heroi da campanha da Indochina contra o colonialismo francês e estrategista da guerra diante dos EUA, comemorou seu 99° aniversário com merecido reconhecimento.

Dirigentes do Partido Comunista (PCV), o governo, o Estado e o Exército Popular do Vietnã visitaram o heróico lutador pela libertação nacional desde a segunda década do século passado.

O Secretário Geral do PCV, Nong Duc Manh, desejou a Giap longa vida e a lucidez de sempre, ao mesmo tempo destacou sua continua contribuição com valiosas opiniões sobre a construção e renovação nacional.

Oriundo da província central de Quang Binh, e inseparável companheiro do presidente Ho Chi Minh, desde a adolescência Giap se incorporou às lutas estudantis e em 1929 fundou a Federação Comunista da Indochina, foi preso e sofreu a perda dos seus próximos nas mãos dos colonialistas franceses.

No inicio da década dos 40, seu encontro com o líder histórico do Vietnã, o tio Ho, marcou a longa luta que seguiu até a libertação definitiva em 1975, e no ano seguinte a reunificação desta nação do sudeste asiático.

Basta mencionar dois marcantes momentos da história nacional ligados ao general Giap: Diem Bien Phu, em 1954, em que se dá a derrota da França colonial na região, e a ofensiva do Tet, em 1968, que detonou o revês do poderoso exército norteamericano pouco tempo depois.

Uribe tolera o auge dos paramilitares na Colômbia


Uns 10.000 homens armados aterrorizam os camponeses colombianos com total impunidade. O presidente concentra-se em vencer a guerrilha e faz vista grossa para milhares de assassinatos.

Por: Antonio Albañana
Fonte: www.publico.es

Com diferentes denominações sendo a mais genérica “bandos emergentes”, observa-se na maior parte do território colombiano a uma recomposição do fenômeno paramilitar com os mesmos elementos presentes no inicio dos anos noventa: narcotráfico, extorsão, apropriação de terras com deslocamento forçado e intervenção na política. A insegurança e o crime se espalham na Colômbia como evidente fracasso da bandeira com a que o presidente Uribe tenta se reeleger: a “segurança democrática”.

Para a analista política Claudia López, que divulgou o escândalo da parapolítica, “os fatos demonstram que se as FARC desaparecessem hoje, os números da violência, exceto os mortos por atentados e minas, permaneceriam praticamente iguais”. O Governo de Uribe centrou sua política de segurança na derrota da guerrilha, enquanto o fenômeno mais estendido por todo o país é o ressurgimento do paramilitarismo. Segundo a Polícia Nacional, o problema inclui a oito grupos com 4.500 integrantes. Mas diversas ONGs e a própria Defensoria do Povo registram mais de 82 grupos que operam em 273 municípios, com não menos de 10.000 homens bem armados, a metade deles procedentes do velho paramilitarismo, supostamente desmobilizados.

Desde o inicio do seu segundo mandato em 2006, Uribe empreendeu um processo de desmobilização pactuado com os paramilitares, agrupados na sua maior parte nas AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia). Produziram-se desarmamentos públicos, participação de órgãos internacionais e até a intervenção dos seus dirigentes máximos, como Salvatore Mancuso, na tribuna do Parlamento para explicar os “serviços” prestados à Colômbia na sua luta contra as guerrilhas. Na realidade, como rapidamente denunciou a missão de acompanhamento da OEA, as armas não eram entregues na sua totalidade, nem as mais modernas, e o paramilitarismo ia-se reorganizando em regiões como Nariño, Córdoba, La Guajira ou Bolívar. No norte de Santander, o próprio Mancuso reconstruiu, através dos seus subalternos médios, o temido Bloque Catatumbo, responsável por mais de 2.000 assassinatos.

Em Sucre, os homens de Jorge 40, que atualmente encontra-se extraditado nos EUA bem como Mancuso, por narcotráfico (e não por crimes do paramilitarismo), reconheceram pelo menos 1.500 mortes, não receberam nenhum castigo e continuam operando, combinando o deslocamento forçado de camponeses com a atividade legal através de políticos, empresários e funcionários. Na realidade, o paramilitarismo nunca foi castigado pelos massacres e negócios ilícitos.

Os grupos emergentes mais importantes espalhados pelo país são: Águias Negras, que já atuam em Córdoba, Santander, Magdalena Médio, Antioquia e, inclusive em bairros populares de Bogotá como San Cristóbal; Los Rastrojos, herdeiros do cartel do norte do Valle del Cauca e já espalhados por grande parte do país e Los Paisas. Praticam suas atividades de sempre (narcotráfico, extorsão, usurpação de terras e deslocamento forçado de camponeses e estupro) como armas de pressão e atuam em 25 dos 32 departamentos (Estados) da Colômbia.

Também interferem na política perseguindo lideres comunitários, organizações de direitos humanos e vitimas. Além de estar infiltrados nas estruturas do Estado. O escândalo mais recente foi o do Chefe de Procuradorias de Medellín, Valencia Cossio, irmão do ministro da Justiça, cuja atividade estava supostamente vinculada aos mais terríveis paramilitares da região e que hoje se encontra à espera de sentença.

A própria Defensoria do Povo tem sido objeto das ações do novo paramilitarismo. Na realidade, o mesmo de sempre porque, como assinalam fontes dessa instituição: “Trata-se do reagrupamento de paramilitares que tinham sido desmobilizados e que continuam recrutando menores de idade”. No passado dia 11, o prédio da Defensoria em Córdoba foi invadido e foi roubado somente um computador que continha informações sobre a violação dos direitos humanos por parte dos paramilitares e das forças de segurança. O mesmo aconteceu nas sedes da Defensoria em Barrancabermeja e Cartagena.

Segundo o Defensor do Povo, as ameaças a ONGs e a defensores dos direitos humanos são uma constante em Bogotá, César, Magdalena e Bolívar. Assim também os crimes e ameaças para obter o deslocamento violento de camponeses. Hoje, na Colômbia, há mais de três milhões e meio de deslocados do campo e esse número continua crescendo.

Entretanto, o Governo de Uribe não dá resposta ao fenômeno, atuando de forma débil e tratando a ação paramilitar (assassinatos, extorsões, expulsões...) como atos isolados de “delinquência comum”. E, frequentemente, se produz uma conivência com as forças da ordem e os grupos paramilitares, com os fabulosos benefícios do narcotráfico lubrificando tudo.

A analista supracitada escreveu nesta semana no jornal El Tiempo: “O narcotráfico se limpa e legitima através de políticos e funcionários que possam de governadores, prefeitos, coronéis e toda uma gama de funcionários públicos e empresários legais à custa de dezenas de milhares de mortos”. Com dezenas de parlamentares, que serviram de apoio a Uribe na sua primeira reeleição, presos por suas ligações com o paramilitarismo, a política colombiana, segundo López, “está mais tomada pela máfia e a corrupção do que nunca”.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Chávez adverte que os EUA querem as reservas naturais da América Latina


“A Colômbia vai se converter no último reduto das forças imperiais no continente”, e o Governo desse país “se presta para que os ianques instalem seu poderio tecnológico”, denunciou o presidente, com relação ao acordo militar colombo-norteamericano.


Fonte: TeleSUR

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, advertiu neste domingo que as bases norteamericanas na Colômbia pretendem dominar toda a América do Sul, para tomar posse das suas reservas naturais de gás e petróleo, vegetação e água doce, localizadas na faixa do rio Orenoco, na Venezuela, a Amazônia e o aquífero Guarani, na bacia do rio Paraná, no Cone Sul.

No dia 14 de agosto passado, o governo da Colômbia informou o fim das negociações para o uso de sete bases de militares dos EUA naquele país, enquadradas num Acordo de cooperação supostamente destinado a lutar “contra o narcotráfico e o terrorismo”.
Ao respeito, o presidente Chávez, durante seu costumeiro programa dominical “Alô, Presidente”, colocou que “dizem que não são bases, mas estão convertendo a Colômbia toda numa única base, porque já começaram a surgir detalhes do acordo”.

Recentemente, um dos subsecretários do Departamento de Defesa dos EUA anunciou que o acordo militar colombo-norteamericano contempla “um investimento de 46 milhões de dólares aprovados pelo Congresso para reformar a base colombiana de Palanquero”.

“O governo da Colômbia mais uma vez atraiçoou a confiança (latinoamericana), ao permitir a instalação de forças militares imperialistas”, sentenciou o mandatário.

“O acordo é aberrante (...), as tropas terão imunidade (...), podem fazer o que quiserem, pois a justiça colombiana não poderá tocá-los”, advertiu Chávez.

Denunciou que tal prática viola a carta da Organização dos Estados Americanos (OEA), viola a soberania da Colômbia e “também viola e ameaça a nossa soberania”.

Reiterou que, desde a Colômbia, os soldados norteamericanos “podem fazer qualquer coisa”, porque no convênio “o império reclama imunidade para suas tropas que estão cheias de drogados e estupradores”.

Segundo indicou o mandatário, a Colômbia se converterá num “centro operacional (norteamericano) que lhes permitirá cobrir toda a América do Sul com seus aviões, espiões, satélites espiões, seus órgãos de inteligência e contra-inteligência”.

Deu detalhes de um documento que está em seu poder do “Comando de mobilidade aérea dos EUA”, do qual leu alguns fragmentos, para explicar as intenções norteamericanas do acordo com Bogotá.

Citou que se pretende implementar “localidades expedicionárias (...) como assim eles chamam as bases”, sob uma estratégia denominada “sistema de apoio em trânsito para 2025”.
Informou que, segundo o relatório, “das sete bases (colombianas), a jóia da coroa é Palanquero, uma base expedicionária”.

O documento diz que o “sistema de deslocamento” norteamericano em outros territórios, deve contemplar um critério que permita “determinar se uma localidade pode ser considerada como apta de deslocamento estratégico”.

Tal critério estabelece como necessário que “o secretário de Defesa (da na nação onde se estabelecerá a base) deve estar disposto a comprometer fundos em infraestrutura de mobilidade (...) o que indicaria seu compromisso a longo prazo com a missão de mobilidade”.

”Os EUA exigem liberdade de ação nas zonas comuns globais e acesso estratégico para satisfazer nossas necessidades”, assinala o texto lido pelo Presidente.

Sobre isso explicou que essas necessidades são o gás, petróleo, vegetação e água, que correspondem às grandes e valiosas reservas da América Latina.

“Eles sabem que para tomar a Faixa do Orenoco devem fazer muitas coisas, dentre elas, derrubar este governo”, porque sabem que com a Revolução Bolivariana “jamais terão acesso às grandes reservas de petróleo e gás natural do país”, advertiu.

Assegurou que as forças norteamericanas também cobiçam o “Aquifero do Paraná e o do Rio de La Plata, a maior reserva de água doce do planeta e a biodiversidade da Amazônia”.
Expressou que os EUA “já não podem atuar livremente no Cone Sul”, como o faziam antes, por isso “necessitam de bases”.

Disse que levará o relatório à reunião da União de Nações Sulamericanas (Unasul), que na próxima semana debaterá em Bariloche, sul da Argentina, o tema das bases norteamericanas, e com isso desmontará as mentira que o governo colombiano pretende dizer no foro.

“Vou levar isto para a reunião em Bariloche. Vou levar para ouvir as mentiras que o governo da Colômbia vai dizer: que não são bases e que sim são localidades expedicionárias, igual que no Iraque”, expressou o governante.

Motores para a Revolução

Diante dos “tempos difíceis para a América Latina”, que vaticinou Chávez pela presença de militares norteamericanos na Colômbia, o mandatário instou a “acelerar a Revolução Bolivariana e para isso é necessário maior força a cada dia. E para ter mais força se requer maior força espiritual, moral, física, política, maior força para a defesa, o ataque, maior força social, econômica, política e militar”.

“Está tudo coordenado (...), a oligarquia colonial está alvoroçada”, expressou ao se referir à marcha opositora realizada no sábado na Venezuela contra a nova Lei Orgânica de Educação (LOE), e que culminou em acontecimentos violentos.

União com o povo colombiano

O presidente Chávez, no seu programa dominical deu especial ênfase ao expressar ao povo venezuelano que não se pode permitir “um sentimento ultranacionalista”, nem muito menos “anticolombiano”, porque tê-lo “seria antivenezuelano”

“Se há alguma coisa que a burguesia ianque tem medo é à união da Colômbia com a Venezuela”, disse o presidente venezuelano. “Eles têm medo da união dos nossos povos”, acrescentou.
Indicou que uma das tarefas das forças imperialistas é “impedir que o chavismo (como eles chamam) chegue à Colômbia”, e não é o chavismo, “é o fogo bolivariano”, explicou o mandatário.

“Tentam nos endemoninhar para que o povo colombiano se afaste”, disse e pelo que aclarou que o governo venezuelano não tem “nenhum acordo com a guerrilha e muito menos com o narcotráfico. Combatemos tudo isso, queremos a paz”.

“Eu respeito a soberania da Colômbia mas estou no meu direito de falar ao povo colombiano, tenho o direito de defender a Venezuela com a palavra”, insistiu.

Investigação de capitais

O presidente venezuelano alertou aos governantes regionais que vigiem os investimentos de empresas colombianas na Venezuela para que estas não acobertem capital proveniente do narcotráfico.

“Impuseram na Colômbia uma narcoeconomia e enviam o capital à Venezuela para ser lavado e para comprar ativos”, advertiu Chávez. “Tenho mandado investigar todas as empresas colombianas na Venezuela, para ver de onde vem esses capitais, para ver se acobertam capitais de procedência duvidosa. Não é que todos sejam maus, mas boa parte desses capitais estão contaminados”, argumentou Chávez.

O presidente explicou que a Venezuela é vitima do negócio do narcotráfico que tem como eixo os EUA e a Colômbia.

“Nós somos vitima desses dois sistemas: dos EUA, onde está o maior consumo de drogas do mundo; e da Colômbia, onde está a maior produção de drogas do mundo. Mesmo assim atacam-nós, acusam-nós e dizem que a culpa é nossa”, explicou o governante.

Dez Dias em Moscou – Um Reencontro Doloroso

Por Miguel Urbano Rodrigues.
Portugal
Fonte: www.desacarto.info

O que sentirei no reencontro?

A pergunta, enquanto o avião corria pela pista do aeroporto Domodedevo, em Moscou, incomodou-me por repetida. Desembocava no vazio.

Voltava a Moscou 15 anos após a última visita realizada como membro de uma delegação da Assembléia Parlamentar do Conselho da Europa. Nessa época a Rússia, em transição para o capitalismo, vivia dias caóticos.

Agora, transcorridas 24 horas, ainda tenho dificuldade em arrumar idéias e interpretar emoções, em inserir numa reflexão coerente o que vejo e sinto.

Estou numa esplanada do Gum, na Praça Vermelha, em frente do Mausoléu de Lenin. Sobre o Grande Palácio ondeia a bandeira atual da Rússia. Nela figura, por decisão recente, a águia bicéfala dos Romanov. A guarda de honra, que antes era permanente, foi retirada.

Nada corresponde ao esperado, embora tudo na expectativa fosse vago, indefinível. As surpresas encadeiam-se numa cadeia desordenada.

Na memória o que ficou gravado não foram imagens e sentimentos de passagens pela cidade na agonia da perestroika e no início do consulado de Ieltsin. O que permanece como referência, como termo de comparação, é a lembrança da Moscou que visitei mais de uma dúzia de vezes quando era a capital da URSS, um pais que desapareceu.

O dia está luminoso, quase não há nuvens num céu muito azul, e o sol quente da manhã incide sobre o zimbório da catedral de São Basílio.

Há pouca gente ainda a circular pela Praça e na lonjura adivinho as cúpulas douradas de algumas das brancas catedrais do Kremlin.

Pagamos, minha companheira e eu, 2500 rublos, o equivalente a 56 euros, por duas saladas, uma cerveja – estrangeira porque não serviam russa - uma água mineral e dois cafés.

Foi o primeiro alerta, para não esquecer que Moscou é hoje a cidade mais cara da Europa.

O Gum, que conhecera como gigantesco centro comercial onde tudo era barato, assumiu a fisionomia de um shopping onde transnacionais da União Europeia e dos EUA vendem produtos de luxo.



Na Arbat e na Nova Arbat



Voltei à Arbat num domingo frio e ventoso. Ao entrar na rua que aparecia aos forasteiros como um ex libris da velha Moscou tive inicialmente a sensação de que o tempo havia parado ao avistar, vindo do metro da Smolenskaya, o palacete verde onde Puskin viveu tempos de felicidade com a mulher, Natalia Goncharova.

A ilusão logo se desfez.

Alguns artistas expunham, como antes, os seus quadros no meio da rua e pintavam retratos de turistas.

Mas a atmosfera da Arbat transmutara-se. A modernidade transformadora exibia-se nas terrasses de estilo francês dos cafés, dos restaurantes de cozinha italiana, asiática, até americana, na decoração dos estabelecimentos de souvenirs, mas também na secura dos vendedores, na frieza das empregadas de todas as lojas.

Choque maior foi o sentido depois, ao descer a antiga avenida Kalinin. Mudou de nome como muitas ruas e cidades. Trocaram-no para Nova Arbat. Reconheci, imutáveis, os enormes edifícios da época soviética. Mas, caminhando pelos passeios – talvez os mais largos do mundo – a sensação de que pisava terreno desconhecido foi imediata. A publicidade, antes inexistente, agride hoje o forasteiro.

Os casinos da avenida foram fechados recentemente por decisão de Medvedev no cumprimento de uma lei que era desrespeitada. O jogo passou a ser permitido somente em quatro cidades do país. Mas as fachadas berrantes dos casinos ainda não foram alteradas. Ali perdiam-se e ganhavam-se milhões na roleta e no poker e as slot machines eram um sorvedouro de dinheiro.

Entrei em dois centros comerciais super luxuosos onde as lojas de grandes costureiros de Paris e Roma e de perfumes famosos chamam a atenção. Os preços são astronómicos. Vi expostos casacos de peles cujo custo excedia 500 000 rublos (11.200 euros). Numa loja de vinhos – há hoje dezenas em Moscou - uma garrafa de Bordeaux de nome para mim desconhecido era oferecida pela bagatela de 45 000 rublos ( 1000 euros). Outras custam mais de 20 000 rublos (445 euros).

Num parque de estacionamento da Nova Arbat os carros top gama eram mais numerosos do que os comuns. Vi ali Bentleys, Porsches, Mercedes, Jaguares, Ferraris, Volvos, BMW, Mercedes, Lexus e Infinitis japoneses, alguns de modelos inexistentes em Portugal. Disseram-me que em Moscou há mais Rolls Royce do que na Inglaterra.

Para surpresa minha há hoje em circulação mais carros importados do que russos. Das marcas tradicionais, segundo me informaram, somente continuam em produção o Volga e o Lada.

Mas as contradições na capital são tamanhas que na Sadovaya, a primeira circular, muito perto da Nova Arbat, um outro supermercado vendia cerveja russa barata, excelentes vinhos chilenos a 200 rublos (4,4 euros) e legumes e frutas a preços comparáveis aos portugueses.



Como foi possível?



Não ocorreu na história contemporânea acontecimento comparável ao terremoto social que assinalou o desaparecimento da União Soviética.

A transição do capitalismo para o socialismo, difícil e imperfeita, caracterizara-se por uma exacerbada e prolongada luta de classes.

A transição do socialismo para o capitalismo, essa foi rápida, caótica, selvagem.

Li milhares de páginas sobre esse período de barbárie. Em duas visitas breves, em 1993 e 1994, testemunhei o início da transformação da sociedade.

Conhecia os fatos, mas não a herança.

Com frequência, veteranos comunistas perguntam em Portugal:

«Como foi possível?»

No reencontro com amigos russos – jornalistas, ex-diplomatas, tradutores – escutei, nas respostas a uma infinidade de perguntas, versões do sismo social nem sempre coincidentes nos pormenores mas que não diferiam muito no tocante aos efeitos do vendaval contra-revolucionário e ao quadro em que se desenvolveu o capitalismo selvagem.

Na destruição das estruturas económicas do Estado Soviético foi tudo tão rápido, absurdo e violento que a imaginação tem dificuldade em acompanhar o processo.

A Moscou dos bilionários e dos pobres, separados por uma classe média anémica que sobrevive recorrendo ao duplo e triplo emprego, nasceu na atmosfera caótica da barbárie social incentivada e tutelada por Ieltsin após o fim da URSS.

A destruição da propriedade social, empreendida sob a direcção de uma burocracia que havia renunciado há muito aos princípios e valores do socialismo, concretizou-se através de mecanismos criminosos concebidos para permitir a acumulação em tempo brevíssimo de fortunas colossais.

O sistema dos vouchers foi apresentado ao Ocidente como uma opção democrática destinada a transformar os trabalhadores em proprietários das suas empresas. Na prática funcionou como instrumento de concentração de riqueza e poder nas mãos de uma classe dominante de tipo mafioso.

A desordem imperante, o desabar da Segurança Social, o desaparecimento de direitos e garantias, o desemprego galopante, o desabastecimento, carências generalizadas contribuíram para que em tempo mínimo os trabalhadores vendessem por preço vil os vouchers recebidos, para eles papéis sem valor.

Ex - directores das empresas e ex altos funcionários do Estado foram os principais beneficiários do processo de espoliação dos trabalhadores. A venda de fábricas inteiras ao estrangeiro – muitas vezes por menos de um décimo do seu valor – em negociatas escandalosas, apadrinhadas pelo Governo, facilitou também o aparecimento de uma geração de milionários. Os anos 90 ficarão na Historia como a década das máfias, um período de caos social, durante o qual a criminalidade atingiu o auge com os grupos mafiosos a controlar o Poder Central enquanto se digladiavam no contexto do capitalismo selvagem. Quase tudo no fluir da vida económica era ilegal. Mas a ilegalidade torrencial, por rotineira e abrangente, era tolerada, aceita como fenómeno quase natural.

Homens e mulheres – Berezovsky, Abramovitch, a filha de Ieltsine Tatianja Diatchenko, entre muitos outros - que anos antes viviam de modestos salários tiveram, de repente, os seus nomes inscritos na lista das grandes fortunas do mundo.

A nova economia russa assentava, entretanto, em bases virtuais, tão desligadas da produção que ruiu instantaneamente.

Na crise do ano 98 veio tudo abaixo. O rublo tornou-se de um dia para outro um papel sem valor e a pobreza generalizada agravou-se em todo o pais, assumindo proporções alarmantes.

A ascensão de Putin à Presidência ficou a assinalar o início da transformação do sistema. O sucessor de Ieltsin percebeu que era urgente por termo à fase do capitalismo selvagem, tutelado pelas máfias, e instaurar no país um capitalismo com regras e outro rosto, inspirado no modelo neoliberal ocidental.

E o que ocorreu?
A continuidade de uma política anti-social, com a peculiaridade de ser aprovada e elogiada pelos EUA e pelos governos da União Europeia.

Assistiu-se, a partir do ano 2001, à legalização daquilo que fora roubado.

A corrupção em larga escala não desapareceu. Assumiu novas formas. O Governo Putin ganhou a respeitabilidade de que carecia o de Ieltsin.



Moscou, Outro País



Moscou tem oficialmente 10 milhões e meio de habitantes. É a mais populosa cidade da Europa depois da turca Istambul. Mas as estatísticas mascaram a realidade. Poucos arriscam números, mas admite-se que na capital vivam actualmente 13 milhões de pessoas. Por quê a diferença?

Ninguém pode morar na cidade sem autorização de residência e os ilegais não constam obviamente do censo.

Ouvi repetidamente que Moscou é actualmente um país dentro de outro, diferente, que é a Rússia.

O comentário facilita o entendimento da contradição: uma prodigiosa concentração de riqueza na capital de um país empobrecido, terceirizado.

Moscou é um polvo monstruoso que atrai e digere a riqueza produzida na vastidão do maior pais do mundo. Ali se concentram nas mãos de uma classe de inimigos do povo os lucros do gás, do petróleo, dos diamantes, do ouro, de grande parte da mais valia que o jovem capitalismo russo consegue acumular à custa do suor e do sofrimento dos povos do território do planeta mais rico em recursos naturais.

Mas Moscou é uma cidade de desigualdades chocantes. A prosperidade arrogante da urbe de novos-ricos, que se exibe como vitrina do século XXI, é privilégio de uma pequena minoria. Na megalópolis, a pobreza e mesmo a miséria coexistem com o mundo fechado da classe bilionária de raízes mafiosas.

Nos estamentos mais baixos de uma classe media pauperizada são raros os que para sobreviver não têm de recorrer ao duplo emprego ou a biscates.

Quase tudo o que antes nos serviços públicos era gratuito ou tinha um preço simbólico é agora pago.

O ensino nas Universidades do Estado – as privadas são por ora inexpressivas - continua a ser teoricamente gratuito. Mas o custo das propinas atinge níveis elevadíssimos. Na Lomonossov, de Moscou, uma escola que gozava de prestígio mundial, a anuidade em algumas Faculdades anda pelos 225 000 rublos (5 000 euros).

A situação criada pela corrupção no Ensino suscita tantas críticas que Medvedev numa reunião com os lideres dos grupos parlamentares representados na Duma sugeriu há dias a constituição de uma Comissão Especial incumbida de estudar o problema e propor medidas que permitam o acesso à universidade aos filhos dos trabalhadores que hoje nelas não podem ingressar por falta de recursos. O ensino superior voltou a ser, como na época imperial, privilégio de uma elite.

Na Saúde o panorama não é muito diferente.

O antigo sistema ruiu. Pela lei os cuidados de saúde são ainda gratuitos. Mas os hospitais não a cumprem. Fora das urgências quase tudo é pago. A corrupção envolve funcionários administrativos, médicos, enfermeiros, a totalidade dos serviços.

Os medicamentos são caríssimos.



Para Que Serve a Lei?



Uma legislação abundantíssima ficou a assinalar na Rússia a transição para o capitalismo. Foram redigidas, aprovadas e promulgadas milhares de leis.

A maioria não é cumprida.

No que se refere aos salários, os trabalhadores encontram-se na prática desarmados perante o patronato. Não existe um mínimo nacional. Em seu lugar o Poder Local, estabelece em cada região um mínimo de sobrevivência que na maioria das cidades é inferior a 3000 rublos mensais (67 euros). Essa quantia, não chega para uma má alimentação.

A lei estabelece o 13º salário. Mas em milhares de empresas os trabalhadores não o recebem. Os lay off são frequentes e muitos empresários não pagam sequer o salário do mês a trabalhadores que tomam férias.

As demissões, coletivas ou individuais, não são dificultadas por mecanismos minimamente eficazes. Os sindicatos são incapazes de defender os direitos dos trabalhadores. Foram reduzidos à condição de organizações de fachada que não cumprem a sua função social.

Tentei informar-me com amigos sobre a escala dos salários em diferentes actividades profissionais. Mas não consegui ir longe. Em primeiro lugar os salários em Moscou são muito mais elevados do que em qualquer outra das grandes cidades, incluindo Petersburgo, a antiga Leningrado.

Soube que a maioria das empresas, para evitar impostos, paga uma parte do vencimento por fora. Muitos patrões retêm porcentagens do salário estipulado com os trabalhadores.

As disparidades, entretanto, são enormes tanto no setor público, como no privado.

Um general de quatro estrelas ou um magistrado no topo da carreira poderá atingir uns 80 000 rublos (um pouco menos de 1800 euros). Um médico, um engenheiro ou um professor universitário ganham metade disso.

Daí o alastramento da corrupção, uma lava que escorre pelo conjunto da sociedade.

Há controle de preços em alguns produtos. Mas é ficcional. Verifiquei que o mesmo produto é vendido ao público em cada supermercado por preços muito diferentes, em alguns casos por quase o dobro ou metade do afixado numa loja próxima.

Um amigo de Orel, cidade a uns 360 quilómetros a sudoeste de Moscou, mostrou-me a folha dos salários pagos no complexo açucareiro local que emprega cerca de 800 trabalhadores. Ali o diretor tem um salário de 35 000 rublos (780 euros); os carregadores de sacos de 50 quilos, em turnos de 12 horas, trabalho devastador para a saúde recebem 30 000 (uns 670 euros); o engenheiro-chefe ganha 25 000 (550 euros) ; os economistas 17 000( 380 euros) ; os operários da refinaria 8 000 (180 euros); os capatazes e os serralheiros também 8 000, o mínimo é de 4 000 (90 euros).

A disparidade com Moscou é considerável.

Perguntei-lhe como conseguem sobreviver com salários tão baixos, sendo tão alto o custo de vida.

«Os que podem – esclareceu - têm outro emprego. Quase todos possuem ali casa própria. O meu irmão não tem grandes problemas com a alimentação porque cria galinhas e cultiva legumes e frutas num terreno que recebeu quando destruíram o Sovkhoses local. Mas é quase unânime a convicção de que se vivia muito melhor na época da União Sovietica.Veja o meu caso, tive de emigrar para não cair na miséria...»



A Esperança Ausente num Presente Sombrio



Nos meus dez intensos dias moscovitas muitas horas foram ocupadas por longos passeios por ruas, praças e lugares da cidade que eu conhecera e tinha amado quando era a capital da União Soviética.

Que procurava ao revisitar pela imaginação o passado?

É difícil responder. Tentava talvez compreender a Rússia atual, uma sociedade atormentada, desconhecida, resultante daquilo que me aparecia como uma tragédia para a Humanidade.

Caminhei muito pela Praça Vermelha, desci e subi diariamente a Teverskaya, a grande rua que foi durante dois séculos para Moscou o que os Champs Elisées representam para Paris e a Avenida da Liberdade para Lisboa.

Eu a descobri quando se chamava Gorky em homenagem ao autor de A Mãe. Fisicamente pouco nela mudou. São raros os novos edifícios que substituíram os derrubados. Mas o rosto da Tervskaya moldada pelo capitalismo não lembra o da Gorky.

Antes o ritmo da vida era lento. Ninguém parecia ter pressa. Agora, a multidão que a percorre, de manhã ao entardecer, neste Agosto azul pouco difere, ate no vestuário, daquelas que num fluxo de contornos kafkianos se movimentam nas grandes capitais do Ocidente com medo de perder cada minuto.

Entrei em muitas lojas. Impressionou-me especialmente um supermercado que há trinta anos me chamou a atenção por estar instalado no piso térreo de um antigo palácio. A decoração das paredes e tetos, belíssima, foi mantida. Mas hoje somente ali são oferecidos ao público produtos de grande qualidade, a preços proibitivos. O estabelecimento adquiriu uma marca de classe.

Consagrei uma tarde a revisitar hotéis onde me hospedara nas minhas frequentes visitas a Moscou.

O velho Minsk, na Teverskaya, já não existe. O Ucrânia e o Leninegrado, remodelados, continuam, a ser inflorescencias na cidade, por terem surgido em torres da época staliniana. O Moskva, no Okhotnyi Ryad, foi demolido para ser edificado um igual no antigo espaço. O Metropol e o Nacional, construídos no início do século XX, que conheci como confortáveis mas muito modestos, são hoje cinco estrelas muito procurados pelas personalidades do jet set internacional. O Oktiabrskaya II, que era o maior dos hotéis do Comité Central, chama-se hoje President e é um 4 estrelas muito procurado pelos homens de negócios.

Revisitei, naturalmente, alguns museus.

No da História da Rússia, instalado no gigantesco palácio vermelho de estilo gótico revivalista que fecha a Praça Vermelha do lado oposto à Catedral de São Basílio, nada mudou na aparência. É um museu que sempre me encantou. Cada salão é nele uma obra de arte, o que envolve os visitantes numa atmosfera mágica no passeio pela Historia da Rússia, desde o neolítico ao fim da autocracia czarista.

Dediquei também horas a percorrer o Museu da História Contemporânea da Rússia. Antes chamava-se Museu da Revolução, mas um bom senso elementar, excepcionalmente, impediu que os novos governantes, ousassem reescrever a História das Revoluções de 1905 e de 1917.

A tentativa de manipulação limitou-se a alguns parágrafos de pequenos textos em inglês colocados à entrada nas salas.

No Museu Pushkin tive também a sensação de que o tempo havia parado. À museologia soviética falta a tecnologia e a sofisticação da francesa e da britânica. Mas aquele maravilhoso museu, nas salas dedicadas às antigas civilizações, faz recordar o Louvre e o British Museum, empurra os visitantes em cavalgada pelo tempo para a Grécia, Roma, o Egito, a Assíria, a Pérsia dos Aqueménidas. A pinacoteca é deslumbrante.

Estive pela primeira vez na Catedral do Salvador, um templo enorme, o maior da Rússia. Foi ressuscitado em circunstâncias que fazem dele uma aberração. O czar Alexandre I, para comemorar a vitória sobre Napoleão, decidiu em 1814 edificar em Moscou uma catedral gigantesca. Interrompida várias vezes a sua construção foi inaugurada em 1883. Em 1931 foi demolida por decreto. No lugar foi então instalada a céu aberto uma piscina de água quente na qual se nadava em pleno Inverno. O último absurdo consumou-se quando Ieltsin decidiu que a Catedral fosse reconstruída de acordo com o projecto original. A Rússia vivia então a fase do capitalismo selvagem com o povo a sofrer tremendas privações. A obra foi um sorvedouro de dinheiro. Mármores caríssimos foram importados de Itália e outros países; no interior, um autêntico museu com ícones antiquíssimos, o ouro dos altares e capelas é tanto que fere o olhar dos visitantes.

Na manhã que por ali passei eram escassos os fieis.

Para quê reinventar uma Catedral como aquela, aliás sem tradições? Para quê se esbanjaram naquele capricho de Ieltsin milhões numa época de miséria?

Todas as pessoas com quem abordei a questão coincidiram na conclusão de que a iniciativa confirma a irresponsabilidade que ficou a assinalar a passagem pelo Poder do homem que destruiu não apenas a URSS, mas a Rússia, motor do Estado desaparecido.



Meditação no Kremlin



Vinte anos transcorreram desde a última visita que fizera ao Mausoléu de Lenin, quando a URSS estava prestes a desagregar- se.

Senti o desejo de voltar ali com a minha companheira. A fila era enorme. Enquanto esperávamos, apareceu uma senhora que se nos dirigiu e os outros estrangeiros para garantir acesso imediato desde que lhe pagássemos cada um 10 euros. Alguns aceitaram.

Num cálculo sumário, avaliei num mínimo de 4000 euros mensais o que a sua actividade ilegal lhe pode proporcionar, quantia colossal num pais de salários muito baixos.

Cito o caso porque ilumina bem o funcionamento da máquina da corrupção na Rússia contemporânea. A economia paralela garante hoje a sobrevivência a muitos milhões de pessoas. Sem ela, no actual contexto, a maioria da população vegetaria na miséria. Mas o preço social desse cancro que corrói a nação é assustador.

Caminhei durante uma hora pelo recinto do Kremlin, entre as velhas catedrais, o Grande Palácio, o Palácio dos Congressos e outros edifícios. Senti, mais uma vez que naquele espaço, fechado pelas muralhas de tijolo vermelho da fortaleza medieval, o visitante atravessa as paredes do tempo numa viagem pela história profunda dos povos da Rússia.

No meu caso, cada sector da fortificação, cada torre, cada igreja, cada palácio me confronta com épocas e pessoas cuja passagem por ali deixou marcas na Historia da Rússia e da Humanidade. Penso em Ivan III, no rei polaco invasor, em Pedro o Grande, em Catarina II, em Napoleão, no último czar, em Kerenski, Lenin e Stalin. Contemplando o relógio da Torre do Salvador, tomo consciência de que não voltarei a Moscou, que me despeço nesta visita da cidade e da Rússia.

Foram dias intensos, num reencontro doloroso. Insuficientes para compreender a complexidade da nova vida num país com uma cultura sem similar no mundo, muito diferente de qualquer das culturas da Europa Ocidental.

Para sintetizar num mínimo de palavras o sentimento - balanço destes dias moscovitas direi que regressei a Portugal com a convicção de que o povo da grande cidade perdeu muito da sua antiga alegria de viver. É uma impressão na aparência absurda, mas muito forte.

Falei com gente amiga e outra que conheci agora. Essas conversas e o que vi empurram-me para a conclusão de que, excetuada, no vértice, a nova classe de multimilionários e os estamentos sociais de uma burguesia em formação que leva uma existência folgada, a esmagadora maioria dos moscovitas com mais de 45 anos sente já a nostalgia da vida antiga.

A grande cidade modernizou-se, adquiriu a fisionomia de uma megalópolis europeia cosmopolita onde ao longo do dia, a circulação de carros e pessoas é permanente, alucinatória a certas horas.

O metro, que se degradara nos anos de Ieltsin, recuperou a beleza e o asseio. Moscou voltou a ser uma capital muito mais limpa do que Paris ou Roma.

Mas sobre ela, invisível, paira um manto de tristeza.

A falta de perspectivas é real e transparente. Mesmo aqueles – e são, repito, a maioria- que no paralelo entre o presente o e passado esboçam um quadro sombrio da vida atual não acreditam numa mudança em tempo previsível. Recordam com saudade os anos da segurança no trabalho, da ausência do desemprego, das pensões, saúde e ensino garantidos, das férias pagas. Mas não vislumbram sequer a possibilidade de uma humanização do capitalismo implantado no país.

O deslumbramento com o estilo americano de vida, que nos anos posteriores ao fim da URSS envolveu amplas camadas da juventude, cedeu o lugar a uma visão realista da cultura exportada pelos EUA. Os seus efeitos negativos continuam a pesar muito no cotidiano moscovita, mas a própria imagem do presidente Barack Obama, recebido com entusiasmo, perdeu já o poder de atracção inicial. As guerras imperiais dos EUA inspiram hoje um repúdio cada vez mais generalizado.

Nesse sentido, a politica de recuperação da dignidade nacional, transparente no novo tipo de diálogo com Washington, contribuiu para o prestígio de Putin e Medvedev.

Não falei, em contrapartida, com uma só pessoa que não manifestasse desprezo e aversão por Ieltsin. Identificam nele não apenas o coveiro da União Soviética, mas um politico corrupto, submisso perante os EUA, um aventureiro ambicioso, um alcoólatra degradado.

Com alguma surpresa minha, pouco se fala já de Gorbatchov e Kruschev. Foram quase esquecidos, ao contrário de Brejnev recordado com saudade por muita gente.

Apagou-se totalmente a esperança no povo russo?

Não é essa a minha convicção.

Mais de uma vez a velhos amigos e a gente moça ouvi, ao comentarem os males do presente, a afirmação de que a caminhada do povo russo pela Historia tem sido trágica, mas que sempre, após sofrimentos inenarráveis, ele encontrou maneira de sair da escuridão para a luz.

Pensei na misérrima, famélica e atrasada Rússia medieval, indefesa perante as ininterruptas invasões de nómades asiáticos, no flagelo que foram os três séculos da ocupação de parte do país pelas hordas mongois, nas invasões de polacos e suecos, na entrada de Napoleão em Moscou e na sua posterior derrota, nos monstruosos crimes cometidos pelos alemães nas duas guerras mundiais. Recordei os séculos da servidão. Mas quando ninguém esperava, foi também na Rússia que surgiu e venceu a primeira revolução socialista da História.

Admito que o renascimento da nação russa, inevitável, será dialeticamente facilitado pela decadência do poder imperial dos EUA. A actual crise do capitalismo é estrutural e não cíclica como as anteriores. Tende a agravar se ao contrario do que afirmam Obama e os banqueiros de Wall Street.

Esse naufrágio, sem data no calendário, criará condições favoráveis à emergência de um mundo multipolar. E nele o povo russo terá um papel insubstituível a desempenhar.

Sou otimista. Ao sair do túnel, a Rússia, acredito, reencontrará a luz e o calor do sol.

Moscou e Serpa, Agosto de 2009

sábado, 22 de agosto de 2009

Por que Álvaro Uribe Vélez deve ser julgado pela Corte Penal Internacional


Por: Johnson Bastidas Data da publicação: 22/08/09

Fonte:Aporrea.org


Dois fatos internacionais de justiça foram produzidos ultimamente no mundo que enviam mensagens claras contra a impunidade. Nessa perspectiva, a situação da Colômbia, ao nível dos DDHH não pode passar despercebida. A impunidade reinante no país, a ausência de divisão dos poderes e a configuração de um aparato político-jurídico personalista em torno do presidente e ao seu projeto excludente de sociedade fazem que somente a justiça internacional possa garantir uma verdadeira justiça diante dessa orgia de sangue que reina neste regime colombiano.

O sinal mais claro e importante é que os autores, dois chefes de Estado, um em exercício (O presidente de Darfur, Al Bashir) e outro ex-presidente (Alberto Fujimori), não podem se esconder na imunidade própria dos seus cargos, esta não garante a impunidade a nenhum chefe de Estado em exercício, para o caso de Darfur, ou a imunidade que pode dar garantias a um ex-presidente, que como no caso de Fujimori controlou, em seu momento, todas as instâncias dos três poderes públicos peruanos. Os delitos cometidos por Fujimori e por Al Bashir são uma gota d’água comparado com o mar de atrocidades e impunidade que tem reinado na Colômbia durante os dois mandatos de Álvaro Uribe Vélez, AUV (2002-2006/2006 -2009). Sem querer dizer com isto que os laços paramilitares e mafiosos de AUV se reduzem aos seus períodos na presidência.

Se bem que o mandato da Corte Penal Internacional (CPI) limita-se a crimes cometidos depois de 1 de julho de 2202, data da entrada em vigor do tratado assinado por mais de cem estados, incluindo a Colômbia. Apesar da clausula de moratória de 7 anos que a Colômbia interpôs no momento de assinar o Estatuto de Roma acolhendo-se ao artigo 124 do Estatuto, a CPI tem uma situação dramática em matéria de direitos humanos nesse país, situação agravada com o rol estimulante ao delito que tem uma impunidade de 97% dos casos.

Acrescenta-se a isto que, através de pronunciamentos públicos das mais altas personalidades do Estado, começando pelo próprio presidente da república que, em muitas intervenções resenhadas pelos meios de comunicação, tem incitado à eliminação física de organizações/e ou pessoas que ousaram emitir uma critica contra o regime acusando-as sistematicamente de ser insurgentes, “guerrilheiros civis ou simplesmente terroristas”. Isto tem sido interpretado como autorização para que os paramilitares atuem e executem os opositores políticos, sindicalistas, defensores dos DDHH, e cidadãos em geral.

E o que é pior, jamais se emitiu um pronunciamento público por parte do chefe de Estado – e outras figuras do regime - que condenasse os crimes cometidos pelo concubinato forças militares-paramilitares, como está demonstrado em diferentes casos onde a comprovação rigorosa deixou claro que a política estatal consiste na unidade de ação entre essas forças.

Lembremos que a responsabilidade não se pode perder na cadeia de mando. Que o presidente da república é o comandante em chefe das Forças Armadas, e que um funcionário público é culpado por ação ou omissão das funções próprias de seu cargo.

Somente três casos, dentre tantos na história recente da Colômbia, onde AUV tem sido o protagonista de primeira ordem em delitos que ofendem a humanidade:

A) Pelos delitos cometidos contra a comunidade de San José de Apartadó por parte das forças militares colombianas em ação conjunta com paramilitares. A Comunidade sofreu vários massacres [Dentre eles os massacres de Mulatos e o da Resbalosa, onde morreram crianças indefesas] sem que tenha havido justiça judicial efetiva, que garanta aos seus membros o direito de saber a verdade para preservar a sua memória coletiva, o castigo dos responsáveis e a reparação por parte do Estado. O presidente, publicamente, apontou a comunidade como colaboradora de organizações insurgentes.

B) Pelos delitos resultantes da entrega ao serviço dos paramilitares da Procuradoria Geral da Nação, sob a administração do Procurador Luis Camilo Osório. A nomeação de Osório na Procuradoria garantiu a impunidade de muitos delitos [massacres, desaparecimentos forçados, deslocamento de pessoas, morte de testemunhas, etc.] contra opositores do regime de AUV. Osório não investigou diferentes delitos, e não só não investigou como atrapalhou o trabalho da justiça. Mediante práticas corruptas e intimadoras o Procurador Osório transferiu funcionários honestos para outros lugares e designou casos sensíveis a funcionários corruptos, além de demitir funcionários que acompanhavam os casos cuja responsabilidade militar era evidente.

C) Os delitos cometidos e originados por permitir a infiltração e o uso em serviço de paramilitares no DAS (o mais importante órgão de segurança do Estado). Lembremos que o diretor do DAS é nomeado diretamente pelo presidente da república, que é o comandante constitucional das forças militares, e a ele deve responder. O presidente defendeu publicamente a nomeação e a obra de Jorge Noguera, que na sua administração no DAS facilitou a elaboração de listas de pessoas que deveriam ser assassinadas pelos paramilitares.

A impunidade é uma política de Estado no regime colombiano, num massacre a justiça não se garante condenando a um soldado ou a um suboficial do exército – como mostram os funcionários do Estado colombiano nos foros internacionais. Os Oficiais Superiores, o Ministro da Defesa e o Comandante em Chefe das Forças Armadas devem responder por delitos cometidos pelas forças militares sob o seu comando. Nos poucos casos onde houve condenação de algum delito (3%), seu principal culpado fica à sombra da impunidade. Na Colômbia, 97% das violações dos DDHH ficam na mais completa impunidade. A impunidade demonstra o compromisso institucional nos diferentes crimes cometidos pelas FFAA em conjunto com paramilitares, o que nos permite falar em política de Estado.

Um exemplo de que a impunidade é uma política estatal se mostra numa revisão superficial da famosa lei de justiça e paz. Recordemos que esta lei é o resultado de acordos secretos entre o regime de AUV e os paramilitares. Como explicar que o criminoso de guerra Ernesto Báez [Ivan Roberto Duque], com mais de 25 anos como paramilitar, não tenha confessado sequer um massacre.

A lei de JUSTIÇA E PAZ é o ponto de chegada dos longínquos laços paramilitares do, por hora, chefe do Estado, desde a sua permanência na administração departamental de Antioquia até a sua posterior chegada à presidência. Como é de conhecimento público, durante as duas últimas eleições presidenciais em que AUV foi eleito, na segunda se apresentaram votações atípicas em regiões sob controle paramilitar, onde o vencedor absoluto foi, por razões obvias, ÁLVARO URIBE VÉLEZ.

Numa analise pormenorizada da lei de justiça e paz, o padre Javier Giraldo (http://www.javiergiraldo.org/spip.php?article114) ilustra muito bem porque a famosa lei tem sido uma falácia apresentada como resultado de uma: a) negociação política, b) como uma negociação de paz, c) como um processo de desmobilização, d) como o desmonte definitivo dos paramilitares, e) como a superação da impunidade.

Nem um nem outro. Uma negociação política se faz entre contraditores políticos (entre o Estado e a insurgência, por exemplo), mas não entre duas instâncias que compartiram os mesmos objetivos e que trabalharam juntas numa divisão de trabalho macabra. Os paramilitares e as forças da ordem não tiveram nenhum conflito, ao contrário, muitas coincidências na sua visão de sociedade, nos métodos utilizados e nos objetivos perseguidos. Os paramilitares continuam operando, nunca foram desmobilizados, não há a primeira ou segunda geração, são o resultado de uma mesma política de extermínio a tudo que seja ou cheire a oposição dos interesses vigentes. O presidente, depois de ter dado carta branca ao paramilitarismo, agora o institucionaliza com seus programas de soldados camponeses, de guardas florestais, de um milhão de informantes, etc.

Com a entrega da Procuradoria e do DAS ao serviço da causa comum contrainsurgente e contra tudo o que pense em ser oposição política, o governo nega seu compromisso com a paz, contra todo vestígio de reparo para as vitimas, mas sobre tudo, seu compromisso com a justiça.

Contrário a isso, o objetivo central do regime centra-se em garantir sua permanência no poder, garantir a impunidade mediante as seguintes ações:

1. Colocar toda a institucionalidade ao serviço da reeleição presidencial.
2. Permitir a infiltração do programa de testemunhas da Procuradoria, para eliminar sistematicamente toda potencial testemunha contra os crimes de Estado.
3. Perseguição sistemática das ONGs e defensores dos DDHH para silenciar vozes.
4. Processar os defensores dos DDHH, como se pretende fazer contra o Padre J. Giraldo.
5. Invadir as ONGs para apoderar-se dos arquivos e bancos de dados que sistematizem as violações do regime.
6. Desprestigiar toda e qualquer denúncia apresentando-a como próxima ao terrorismo e contrária à democracia, etc.

Por todas estas razões, a justiça internacional tem a palavra.