"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 30 de setembro de 2009

“Povo hondurenho não está disposto a deixar-se vencer”, afirma Zelaya

Presidente hondurenho reafirma necessidade de luta, condena repressão e elogia postura do governo brasileiro

Dafne Melo

da Redação

Após pouco mais de uma semana na embaixada do Brasil, Manuel Zelaya, ainda não viu as negociações com o governo golpista avançarem como gostaria. Para vencer a situação, afirma a necessidade de paciência e continuar as mobilizações por todo país. Tossindo muito e com uma voz cansada, ele concedeu por telefone entrevista exclusiva ao Brasil de Fato da embaixada brasileira em Tegucigalpa.

Brasil de Fato – Existem negociações com os golpistas?

Manuel Zelaya – Há muitas aproximações, mas até o momento nenhuma deu fruto. Mas, sim, há negociações.

Como estão as mobilizações no país?

As mobilizações estão tendo bastante expressão, mas nossa comunicação está comprometida, nossos celulares foram cortados. Mas estamos resistindo com muito estoicismo, muita paciência, porque o bem supremo tem um custo e esperamos conseguir restituir o sistema democrático. As mobilizações continuam em todo país, mas estão sendo muito reprimidas pelas forças armadas e pela polícia. Há um estado de ingovernabilidade que creio que deve ser solucionado nas próximas horas. Creio que um país não pode viver em convulsão, a não ser que queiramos viver como no Afeganistão. A América Latina não merece isso, o povo hondurenho não merece.

Reverter o golpe de Estado em Honduras vai ser uma vacina contra os golpes de Estado em todos países da América, incluindo Brasil, reverter vai ser parte da história do Brasil e da América Latina por sociedades mais democráticas que respeitem a soberania popular. Estamos escrevendo história junto com o Brasil

Como avalia a postura do governo brasileiro?

O governo brasileiro e o presidente Lula têm demonstrado sua vocação democrática ao aceitar que seja feito um diálogo a partir da embaixada, e que quem deve fazer parte desse diálogo é o presidente que eles reconhecem, o governo eleito pelo povo. Isso fala muito da estatura moral e política continental que tem o presidente do Brasil. Nós queremos que esse processo dure o menor tempo possível para devolver à América Latina a certeza de que não serão permitidos golpes de Estado no século 21.

Quais são as alternativas, caso não se consiga uma saída diplomática?

A alternativa que temos é manter a luta. O povo hondurenho não está disposto a deixar-se vencer e ajoelhar-se diante de uma ditadura militar. Então, por agora, mantemos as mobilizações e também contamos com o apoio da comunidade internacional.

No Brasil existe uma especulação a respeito de se Lula participou de algum plano para sua volta. O governo nega e diz que foi avisado uma hora antes. O senhor confirma essa informação?

Nem o presidente Lula, nem Marco Aurélio [Garcia], nem o chanceler [Celso] Amorim sabiam da minha chegada a Tegucigalpa com antecedência. Quando cheguei tinha várias opções. Mas escolhi o Brasil. Falei com o Amorim, expliquei que queria tentar algum diálogo a partir daqui, também por motivos de segurança, por temor a represálias ou de ser sacrificado pelo regime. E me disseram que podia ir. Mas só souberam nesse momento

Fórum Social Mundial volta em 2010. em Porto Alegre

Ambientalistas e defensores da justiça social iniciaram ontem os preparativos da edição 2010 do Fórum Social Mundial.

A notícia é do jornal Zero Hora, 30-09-2009.

Em coletiva de imprensa promovida em São Paulo, os organizadores do encontro anunciaram que a edição que marcará os 10 anos do evento, criado em 2001, será realizada em Porto Alegre, que sediou o primeiro ano do maior fórum de discussões sociais da atualidade. O evento será chamado de Fórum Social 10 Anos Grande Porto Alegre.

No Rio Grande do Sul, as atividades ocorrerão em sete municípios da Grande Porto Alegre. Na Capital, serão promovidas 12 mesas de debates com nomes de grande expressão política.

O Fórum Social – que já foi chamado informalmente de Fórum de Porto Alegre – se autodenomina uma alternativa ao Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça, e que reúne representantes das maiores economias e entidades financeiras do mundo

O encontro será promovido de 25 a 29 de janeiro, paralelamente ao Fórum de Davos, e trará como tema central a crise ambiental e os riscos do aquecimento global – “problemas gerados pelo atual modelo de desenvolvimento econômico, defendido em Davos”, ressalta Oded Grajew, um dos idealizadores do Fórum Social.

Além da promoção de diálogos sobre temas sociais, o FSM abrirá em 2010 fóruns de discussão sobre a história do encontro. Os debates irão focar conquistas alcançadas nos 10 anos de evento e dos caminhos que o Fórum deve adotar em suas próximas edições.

– Será uma forma de discutir o significado do movimento e ressaltar a sua importância no contexto mundial – acredita Grajew.

Crises econômica e ambiental serão tema de discussão

O evento, que contou com a participação este ano dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez (Venezuela) e Rafael Correa (Equador), pode ser prestigiado em 2010 pelas presidentes do Chile e da Argentina, Michelle Bachelet e Cristina Kirchner. Lula e Chávez foram os únicos chefes de Estado a participar das edições porto-alegrenses do Fórum.

– Ambas foram convidadas para ministrar palestras no evento – antecipou Grajew.

Além de uma análise das últimas edições, o Fórum Social 10 Anos Grande Porto Alegre se dedicará a fazer uma reflexão dos desafios do evento em meio às crises econômica e ambiental.

– O Fórum mudou muito nesses últimos 10 anos, mas o mundo também mudou – disse ontem José Corrêa Leite, um dos organizadores, em São Paulo.

Eva Golinger denuncia plano de desestabilização paramilitar na Venezuela


Por: TeleSUR


A advogada e pesquisadora norteamericana, Eva Golinger, mostrou nesta terça-feira documentos desclassificados em que os EUA admitem ter conhecimento pleno dos grupos paramilitares colombianos de extrema direita que coordenam um plano de desestabilização contra o governo da Venezuela.

"Os EUA têm em suas mãos o conhecimento pleno dos grupos paramilitares que coordenam o plano terrorista na Venezuela (...) e isto é uma pequena amostra (...) de quem sabe o que mais tem pois os documentos desclassificados são poucos (...) Conhecimento completo do nome dos grupos, da localização dos grupos paramilitares que estão coordenando atividades terroristas aqui na Venezuela", afirmou Eva Golinger.

Em entrevista exclusiva concedida a TeleSUR, Golinger mostrou documentos desclassificados nos quais há parágrafos censurados que “desclassificam a informação para concluir que são atividades de grupos irregulares”.

Nestes documentos do Comando Sul, lê-se que as Autodefesas Unidas (da Venezuela) são definidas como “milícias bolivarianas” e assinala que este grupo “foi criado pelas Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC)”. Segundo o documento, este grupo armado foi criado em 01 de março de 2003.

“Jamais ouvimos do Pentágono o nome das AUC, como criação de paramilitares colombianos”, afirmou Golinger.

Não é a primeira vez que os paramilitares são utilizados para desestabilizar países “em Cuba também aconteceu”, e antecipou que haverá um incremento destes grupos.

Como prova da existência deste tipo de grupos armados na Venezuela, Golinger relembrou a prisão, em 2004, de quase cem paramilitares na fazenda Daktari, localizada no município de El Hatillio, no estado de Miranda (centro-norte)

Sobre o caso, Golinger destacou que estes homens foram processados na Colômbia graças ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, que os extraditou.

“O mais irônico é que foram processados e que foi Chávez quem os deportou à Colômbia”, explicou a jurista.

Assinalou que é muito interessante como as evidências sobre esta conspiração contra o governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, surgiram perante a opinião pública.

Explicou que a Venezuela não sofria deste flagelo e que, desde que apareceram estes grupos de extrema direita, registraram-se crimes não usuais nesse país sulamericano.

“Sequestros, crimes e pistolagem, ações típicas de grupos paramilitares que não são comuns aqui (na Venezuela)”, assinalou a advogada.

Golinger diz que isto tem muito a ver com os EUA que apóiam “uma guerra irregular (...) para promover e executar ações violentas”.

Nesse sentido, assinalou que esta situação deu inicio às libertações dos prisioneiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

Golinger relembrou que em TeleSUR já foram mostrados diversos vídeos, como o de Rafael García, ex-agente do Departamento Administrativo de Segurança (DAS – inteligência colombiana) que revelou os vínculos do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, com o paramilitarismo.

Expressou que nos estados fronteiriços, como Táchira, onde paramilitares colombianos se infiltraram, existem relatos de massacres de camponeses e que lutadores sociais “sofrem com o paramilitarismo”, e sublinhou que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, enviou grupos militares para atacar este problema.

A advogada qualificou o Plano Colômbia como um “Plano de Dominação” e denunciou que os problemas foram causados pelos mesmos países (Colômbia – EUA) “para justificar sua presença (...) São EUA que, junto com Uribe, têm combatido os problemas que casualmente vem proliferando na Venezuela”.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Quantas mortes precisará Obama em Honduras?

Por Atilio Borón.
Fonte: resistir.info

O Comitê pela Defesa dos Direitos Humanos de Honduras (CODEH) tornou público um relatório em que responsabiliza o presidente de fato desse país e líder dos golpistas, Roberto Micheletti, pelas mais de 101 mortes extra-legais e sumárias perpetradas desde 28 de Junho até à data.

A CODEH foi criada em 11 de Maio de 1981 por um grupo de cidadãos hondurenhos preocupados com as graves violações aos direitos humanos verificadas no país quando o governo de Ronald Reagan decidiu que Honduras seria a plataforma de operações a partir da qual a Casa Branca lançaria a sua ofensiva contra a Revolução Sandinista, que acabava de triunfar na Nicarágua, e a Frente Farabundo Martí, que em El Salvador estava progressivamente revertendo em seu favor a luta contra o exército salvadorenho e seus "assessores" estadunidenses.

Como se recorda, Reagan determinou que a frente dessa operação ficasse John Negroponte, um homem carente de escrúpulos morais e que não vacilou em organizar esquadrões da morte e envolver-se no tráfico de armas e drogas da Operação Contras dirigida pelo coronel Oliver North. A árdua luta da CODEH e a sua intransigente defesa dos direitos humanos fez que em Novembro de 1994 o governo de Honduras lhe concedesse um estatuto jurídico legal.

Esta instituição, que conta com numerosos homens e mulheres que pagaram com a vida a sua devoção à causa dos direitos humanos, acusa os golpistas hondurenhos de produzir um novo holocausto. Este massacre silencioso, do que apenas uns poucos casos ficaram registrados nos meios de comunicação devido à censura quase total à imprensa e ao sistemático bloqueio de toda informação relativa a esses fatos, teve lugar, segundo a CODEH, no âmbito dos sucessivos "toques de recolher" decretados pelos usurpadores.

As suas vítimas incluem menores e mulheres. Estes assassinatos tiveram lugar principalmente durante as horas em que a polícia e as forças armadas exerciam um controle absoluto das ruas e praças de Honduras.

Para além de qualquer polêmica sobre o número exato de pessoas que morreram neste triste episódio, o certo é que pela mão de Micheletti e dos seus cúmplices e mentores a violência e a morte assenhorearam desse país. E é certo também esta brutal escalada prossegue seu curso com a cumplicidade total do presidente Barack Obama, cuja defesa dos direitos humanos, da legalidade, democracia, liberdade e outros valores consagrados pela luta dos povos demonstrou ser, como prevíamos, uma retórica destinada a enganar os incautos e nada mais.

Há poucos dias o presidente Hugo Chávez perguntava perante a Assembleia Geral da ONU qual era o verdadeiro Obama: se aquele que dizia frases bonitas ou o que aceitava o golpe de estado em Honduras (ao qual teimosamente recusa-se a chamá-lo pelo seu nome), mantinha o bloqueio a Cuba e a injusta e ilegal prisão "dos 5", e semeava bases militares por toda a América Latina em nome da liberdade. Lamentavelmente, a resposta salta à vista e dispensa maiores argumentações.

A idêntica conclusão chegava há poucos dias Mark Weisbrot, distinto acadêmico estadunidense e presidente do Just Foreign Policy quando se perguntava quanta repressão Hillary Clinton apoiará em Honduras. Na sua nota, reproduzida em Rebelión Weisbrot assegura que "a 11 de Agosto, 16 membros do Congresso dos EUA enviaram uma carta ao presidente Obama instando-o a 'denunciar publicamente a utilização da violência e a repressão de manifestantes pacíficos, o assassinato de pacíficos organizadores políticos e todas as formas de censura e intimidação contra os meios de comunicação'. Ainda estão à espera de uma resposta".

Os gorilas hondurenhos não deixaram direito algum por violar: assassinatos, torturas, sequestros, repressão a manifestantes pacíficos e indefesos, desprezo pelo quadro jurídico nacional e a legalidade internacional, ataque à embaixada do Brasil, censura da imprensa; enfim, a lista seria interminável.

Fica de pé a pergunta: Quantas mortes mais precisará a Casa Branca para abandonar a sua inqualificável cumplicidade com um regime que regride a nossa região ao pior do século passado? Quantas precisará Obama para perceber que cada uma delas é também um golpe mais na sua já minguada credibilidade?

Os Estados Unidos são o único país com peso significativo na arena internacional que ainda mantém o seu embaixador em Tegucigalpa: O que espera para retirá-lo? Ou será que Honduras prefigura o futuro terrível da América Latina e do Caribe, Obama não sendo outra coisa senão o sorridente e simpático relações públicas, mas que nem por isso deixa de ser uma peça mais na engrenagem infernal do "pentagonismo", como o denominou Juan Bosch.

Para concluir: não é que agora os anti-imperialistas peçam a Washington que intervenha, como refinadamente argumentou nos últimos dias. Já está intervindo, e muito. E para perpetuar um regime violatório dos direitos humanos, não para promovê-los.

O silêncio de Obama perante tantos crimes nada tem a ver com a abstinência ou o não-intervencionismo. Calar é também uma forma – dissimulada, muitas vezes covarde – de intervir. Aquilo que se lhe perde é que, de uma vez por todas, os Estados Unidos deixe de fazê-lo e abstenha-se de apoiar os golpistas. Do resto se encarregará o povo hondurenho, que tem dado mostras da sua capacidade e valentia para sacar Micheletti de cima sem necessidade de ajuda alguma da Casa Branca.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Conselho de Segurança pede fim do asedio a embaixada brasileira em Honduras

Fonte: granma.cu

NAÇÕES UNIDAS (PL) .- O Conselho de Segurança da ONU exigiu o fim do cerco à Embaixada do Brasil em Honduras e convocou a continuação dos esforços internacionais para resolver a crise naquele país.

Órgão divulgou, na sexta-feira, um comunicado depois que o chanceler brasileiro, Celso Amorim, denunciou perante seus membros as ameaças que os golpistas exercem contra a missão diplomática do Brasil em Tegucigalpa.

Nessa embaixada está hospedado o presidente constitucional de Honduras, José Manuel Zelaya, que na segunda-feira passada regressou ao seu país depois de ser derrubado e expulso de Honduras em 28 de junho.

A resposta do Conselho para o governo brasileiro inclui um chamado para o regime de fato em Honduras para que permita o abastecimento de água, eletricidade e alimentos para os abrigados na embaixada, assim como o restabelecimento das comunicações telefônicas.

Os resultados das consultas realizadas entre os 15 membros dessa instância das Nações Unidas também reclamam o respeito do princípio da inviolabilidade das sedes diplomáticas.

A declaração do Conselho, lida pela sua atual presidenta, a embaixadora dos EUA, Susan Rice, instou todas as partes para que mantenham a calma e evitar um agravamento da situação.

Apela também para acelerar os esforços diplomáticos em andamento em nível regional, incluindo a ação mediadora encomendada pela Organização dos Estados Americanos ao presidente da Costa Rica, Oscar Arias.

Questionado por repórteres, o chefe do Conselho de Segurança considerou que este organismo não realizará mais reuniões sobre o assunto.

Por seu lado, os embaixadores do México e Costa Rica, membros não permanentes dessa instância da ONU, concordaram que a declaração feita por consenso, é uma mensagem clara de apoio aos esforços regionais para uma solução em Honduras.

Durante sua apresentação perante o Conselho, o chanceler do Brasil, assegurou que existe um perigo real para a vida do mandatário legítimo hondurenho, sua família e funcionários diplomáticos da embaixada do Brasil em Tegucigalpa.

Amorim deu detalhes da chegada pacífica e por seus próprios meios de Zelaya nas instalações brasileiras na segunda-feira e salientou que foi recebido na sua condição de presidente legitimo de Honduras.

Ele relatou que o presidente, em conversa telefônica, lhe garantiu que ele havia retornado para retomar a presidência de forma pacífica.

Honduras no Coração

VIVA O JORNALISMO LIBERTÁRIO

Por Raul Fitipaldi. Brasil
Fonte:desacato.org

(Nas duas principais línguas da minha Pátria Grande)

Sou jornalista, que bom! Sou jornalista comprometido, melhor ainda! Neste momento, 22:38 desta terça-feira, 22 de setembro, em lugar de me guardar na caminha, pensar no salarinho de merda que vou ganhar a fim de mês para narrar o que o patrão me ordena e segundo ele deseja; porque sou jornalista, porque estou comprometido, recebo no Skype o chamado do irmão Rony J. Martínez Chávez, guri de 25 anos e âncora da Rádio Globo Honduras, a rádio da Resistência, esta mensagem: [20:57:59] RONY JONATHAN MARTINEZ CHAVEZ diz: “TAMOS TRISTES, CONSIGUEME INFORMACON DE CABLES QUE INFORMEN, SOBRE LA CRISIS EN HONDURAS”. Não preciso traduzir, né? Janto alguma coisa e subo a meu Chão de Fábrica, onde descansa minha máquina de dizer, e fico a postos. Respondo: “[21:00:13] Raúl Fitipaldi diz: Rony, dejame que voy a comer rapidito, acabo de llegar de clase y todo lo que agarre te lo paso Hermano. En 10 minutos empiezo a trabajar con ustedes. NO SE ACHIQUEN, ESTO ES ASÍ!!!!” Que bom, que orgulho imerecido, vamos gente, devo ficar em vigília, Honduras está no Coração. Honduras é aqui, dentro de mim e em qualquer lugar onde se localize um latino-americano militante.

Para quê esta arrogância de falar em mim, da minha atividade militante como jornalista, quem sou eu? Ninguém, apenas um jornalista autônomo, velho, cansado do silêncio da imensa maioria dos colegas, da solidão à qual estamos submetidos os “malditos” no dizer da colega Elaine Tavares. Que virtude ou importância tem o que estou fazendo?, nenhuma. É o óbvio, estudei para isso, para servir à sociedade, de forma independente, livre, comprometida como homem do meu tempo. Como companheiro, como pai, como filho, como gente. Ou seja, cumpro o papel que me corresponde, nada há de extraordinário nisso.

Onde existe muito de extraordinário é no exercício miserável e descompromissado que fazem do jornalismo os burocratas de plantão que só falam o que o patrão lhes ordena. Os que confundem vocação com fama. Os que não se atrevem a criar uma mínima distância entre seus interesses e a notícia em si. Aqueles que se jactam de serem objetivos e manipulam a notícia só em favor dos poderosos. Aqueles que nos apedrejam por nós declarar PARCIAIS. PARCIAIS? SIM CLARO, SOMOS PARCIAIS, DO LADO DOS FERRADOS! Do lado que não paga prêmio. Porém, nos dá alegrias imensas de participar com dor, mas com firmeza, com atenção redobrada, com amor infinito, com fraternidade imensa, com instinto alerta, com amor pela PATRIA GRANDE, e ler os despachos noticiosos, urgentes como este:

TeleSUR _ Hace: 28 minutos

El presidente de Honduras, Manuel Zelaya, denunció este martes un plan del gobierno de facto para allanar esta misma noche la embajada de Brasil, donde se encuentra alojado desde el lunes, capturarlo y asesinarlo, y detalló que incluso ya cuentan con los médicos forenses que declararán que el mandatario se suicidó.

"Estamos siendo amenazados que hoy en la noche (martes) se van a tomar la embajada de Brasil (...) Supuestamente hay un plan sea de captura y asesinato, tienen los forenses para declarar que es un suicidio", aseguró en dignatario en entrevista exclusiva con teleSUR desde Tegucigalpa.

"Lo advierto a la comunidad internacional, yo Manuel Zelaya Rosales, hijo de Hortencia y José Manuel, no se suicida, está vivo, luchando por sus principios con firmeza y prefiero morir firme, que arrodillado ante esta dictadura y eso que quede muy claro ante estos tiranos que están queriendo gobernar al país con la fuerza de las armas", agregó.

Embora Rony Martínez e seus companheiros estão com a tela aberta em TeleSUR, a notícia passa batida por uns minutos. Lá vai nosso aviso pelo Skype, desde uma ilha longínqua no Atlântico Sul, a nossa, aquela que aloja a bela Florianópolis. Neste instante me doem nos ossos as balas que os paramilitares estão despejando nos corpos dos moradores de Tegucigalpa, e que unidos aos militares, procuram agredir às autodefesas espontâneas criadas pelo povo hondurenho. Os milicos se metem nas casas das pessoas, as crianças choram, as mães berram. Iraque é aqui. Don David lê a notícia de TeleSUR. Muitos estamos ligados desde diversas partes do mundo, nem todos os que seriam necessários. Os gritos do povo se arremessam nas caixinhas de som. Há silêncio e paz em Rio Vermelho, norte da Ilha. Todos, gente e bichinhos dormem. Os jornalistas da Radio Globo Honduras faz mais de 30 horas que não dormem. Ontem trabalharam à luz de velas durante horas. Homens e mulheres, alguns jovens demais como Rony e Ariella Cáceres. Um dono de rádio privada honesto: Alejandro Villatoro. Um jornalista experiente e responsável: Don David Romero Elner.

Estou com eles, estou no meu país, estou na minha amada América Latina, lutando com o pesar de não estar com o corpo e o sangue a serviço da trincheira física. No entanto, como posso, junto aos meus irmãos, disponho-me na briga da minha pátria, o faço como trabalhador, conheço meu dever de classe e não abdico dele. Estou aqui e ficarei a noite toda. Dormirei e acordarei muitas vezes. Não é uma viagem virtual até Honduras, Honduras está dentro de mim, como homem, como educador, como militante, como pequeno revolucionário, mas, sobretudo, como JORNALISTA LIVRE, CLASSISTA E LATINOAMERICANO.

Precisava partilhar isto, que os leitores me compreendam.

MORRAM GOLPISTAS CARALHO!

HONDURAS RESISTE E ENSINA!

domingo, 27 de setembro de 2009

As FARC confirmam decisão de libertar Moncayo e pedem garantias "claras e públicas" a Uribe


Com este gesto de libertação unilateral as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), pretendem reafirmar o seu compromisso de fazer avançar o processo de troca para facilitar a libertação de todos os prisioneiros de guerra, tanto da guerrilha com do Estado.

Fonte: TeleSur



As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) confirmaram a sua decisão de libertar unilateralmente o cabo Pablo Emilio Moncayo e o soldado profissional José Daniel Calvo e pediram ao governo de Álvaro Uribe garantias “claras e públicas" para a entrega dos prisioneiros.

Em comunicado, o grupo rebelde exige que a senadora Piedad Córdoba seja a responsável pelo recebimento dos oficiais, bem como dos restos mortais do Major Guevara, morto em combate.

"Os militares serão entregues pessoalmente referida senadora Piedad Córdoba como representante da Colômbia pela Paz, garantia de transparência nestas libertações e na entrega dos restos mortais do major Guevara", extraí-se do texto.

As FARC saudaram “a participação da Conferência Episcopal, o CICV, o professor Moncayo e a Sra. Emperatriz de Guevara, nesta missão humanitária", e lamentou o tempo que levou o Poder Executivo para autorizar e consumar as libertações.

"Com este gesto de libertação unilateral reafirmamos a nossa vontade de fazer avançar o processo de troca para facilitar a libertação de todos os prisioneiros de guerra, tanto da guerrilha como do Estado", diz o comunicado.

Segue o comunicado das FARCI


IMPRENSA:

Restituída a Senadora Piedad Córdoba às suas funções humanitárias, reiteramos:

1. Que o cabo Pablo Emilio Moncayo e o soldado profissional José Daniel Calvo, prisioneiros de guerra, serão libertados unilateralmente pelas FARC, tal como foi anunciado no início deste ano. Os militares acima mencionados serão entregues pessoalmente à senadora Piedad Córdoba como representante de Colombianos pela Paz, o que garante transparência nestas libertações e na entrega dos restos mortais do major Guevara. Congratulamo-nos com a participação da Conferência Episcopal, o CICV, o professor Moncayo e Sra. Emperatriz de Guevara, para esta missão humanitária.

2. Nós lamentamos a indolência desnecessária e a crueldade presidencial que prolongou por cinco meses de cativeiro a mais dos militares mencionados, bem como a sua precária sensibilidade diante do drama que enfrentam os prisioneiros de ambas as partes. Empecilhos, ingratidão e esquecimento governamental, como diz Moncayo, é o que tem prevalecido.

3. Com este gesto de libertação unilateral reafirmamos a nossa vontade de fazer avançar o processo de troca para facilitar a libertação de todos os prisioneiros de guerra, tanto da guerrilha como do Estado. Temos a certeza de que um acordo de intercâmbio geraria condições favoráveis para abordar a solução política que as maiorias nacionais clamam.
4. Diante das vicissitudes que cercavam a última libertação de militares e policiais no departamento de Caquetá, em cujo desenvolvimento o exército assassinou um guerrilheiro e outro se encontra desaparecido, é imperativo dar as garantias oficiais e protocolos para esta nova libertação, os quais devem ser claros e públicos.


Secretariado do Estado-Maior das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 22 de Setembro de 2009.

Honduras: uma tripla luta de alcance mundial

O retorno do presidente Manuel Zelaya a Honduras e o apoio que recebeu do governo brasileiro colocam vários cenários em movimento na região. Além de elevar a tensão do conflito interno hondurenho, a iniciativa expõe a disputa entre o Brasil e a maioria dos governos latinoamericanos, por um lado, e o Departamento de Estado dos EUA e o Pentágono, por outro. E a terceira frente de conflito se dá entre a extrema direita norte-americana e o governo do presidente Barack Obama. A análise é de Guillermo Almeyra.

Guillermo Almeyra

O retorno a Tegucigalgpa do presidente Manuel Zelaya eleva, com um único golpe, o conflito entre a maioria do povo hondurenho e a oligarquia golpista desse país e, além disso, a disputa entre o Brasil e a maioria dos governos latinoamericanos, por um lado, e o Departamento de Estado e o Pentágono (que apóiam os golpistas), por outro, assim como entre esse governo paralelo do establishment estadunidense (formado por essas duas instituições e apoiado por todos os ultradiretistas, sejam estes do Partido Democrata ou do Republicano) e o presidente Barack Obama.

É obvio que Zelaya não poderia ter cruzado a fronteira (supostamente da Nicarágua, mas poderia ter sido também da Guatemala) sem a proteção dos governos desses países (e a conivência ou a cegueira voluntária) de elementos das forças de segurança hondurenhas.

É também igualmente evidente que o Brasil deu seu consentimento prévio ao ingresso de Zelaya na sua embaixada em Tegucigalpa e que o governo de Lula deu instruções nesse sentido a seu embaixador na OEA e a seu representante na capital hondurenha.

O silêncio desconcertado de Hillary Clinton indica também que o Departamento de Estado não esperava essa medida, que o obrigará a tomar posição na OEA diante dos golpistas, enquanto a ultradireita estadunidense responde com fúria. O Washington Post publica na primeira página nada menos que uma foto de Micheletti, o chefe dos golpistas hondurenhos, apoiando assim abertamente os ditadores encurralados.

Todo o panorama na região se moveu graças a esta decisão do presidente legítimo de Honduras e as coisas se colocaram em movimento…

Em primeiro lugar, a ditadura de Micheletti e Cia. enfrentará agora um recrudescimento do protesto e da mobilização popular que repudiam e desafiam o toque de recolher dos gorilas e podem levar inclusive a explosões insurrecionais isoladas.

É previsível que as instituições se dividam.

A hierarquia da Igreja Católica, que apóia Micheletti e o golpe militar, enfrenta-se já com padres com forte respaldo popular que apóiam a democracia e exigem o retorno de Zelaya.

Na polícia se comprovou que existem setores que não estão dispostos a seguir o Alto Comando militar em sua aventura golpista e o mesmo acontece entre os soldados, enquanto em ambas forças, como o demonstra a selvageria da repressão, há os que são partidários de liquidar de forma sangrenta o protesto seminsurrecional do povo hondurenho, mas temem o isolamento internacional (e que Obama possa dobrar a resistência dos grandes protetores estadunidenses não suficientemente mascarados dos golpistas de Tegucigalpa) .

Se, sob a pressão popular, um setor grande da política ou do exército, para evitar a guerra civil, rechaçasse a escalada da repressão e aceitasse a idéia de um governo de transição, conservador, que encerrasse o mandato de Zelaya limitando totalmente a intervenção presidencial até a realização de eleições presidenciais, o Alto Comando e o governo golpista acabaria na prisão ou no exílio.

Um parte importante da burguesia comercial hondurenha, com o apoio da OEA e até, eventualmente, de um Departamento de Estado obrigado a mudar de política sacrificando os militares, poderia apoiar essa saída para evitar a guerra civil e para romper o isolamento e o bloqueio internacionais que afetam duramente a sua economia.

O próprio Zelaya, com o apoio da maioria conservadora da OEA, poderia aceitar essa solução porque ele também teme a insurreição popular, que colocaria em perigo, pelo menos, as propriedades dos latifundiários (ele é um deles). Sobretudo porque tem consciência de que mesmo se fosse presidente sem margem de manobra em um governo de transição, seria a primeira figura desse governo, aparecera como vitorioso e reforçaria seu apoio popular, para encarar qualquer outra perspectiva imediata.

É preciso considerar, no entanto, qual seria a reação popular diante da queda dos golpistas gorilas e sua substituição por chimpanzés e diante da condição de presidente amordaçado que seria imposta a Zelaya. Possivelmente um setor poderia aceitar essa situação, mas outro, importante, buscaria seguir para frente com sua luta, aproveitando o que veriam, como um triunfo deles.
O apoio do governo brasileiro e da OEA a Zelaya tem o objetivo de levar ao governo o presidente legítimo, evitando a guerra civil.

Mas o Brasil responde, com este apoio ao presidente legítimo, que é membro da ALBA, à instalação de bases dos EUA na Colômbia (que ameaçam, em primeiro lugar, ao governo de Hugo Chávez e ao petróleo venezuelano, vital para Washington), mas tambem a riqueza petrolífera e as águas brasileiras.

É preciso não esquecer que o Brasil repudia a existência da IV Frota dos EUA que ameaça seu petróleo submarino e planeja se rearmar com tecnologia avançada francesa (abandonando a estadunidense) .

Ao Departamento de Estado fica aberta uma frente muito ativa na América Central, que é vital para afirmar tanto o Plano Mérida, como o Plano Colômbia, e não pode aparecer diante do mundo – menos ainda, diante da Rússia, à que acaba de sacrificar seu escudo espacial – apoiando abertamente uma ditadura militar dirigida, por exemplo, contra a Venezuela (que tem um pacto com a Rússia e se rearmou com armas russas).

Finalmente, Obama, que vê agravar-se a situação no Afeganistão, onde o alto comando militar lhe pede reforços para que não aconteça com os EUA o que aconteceu no Iraque, não está em condições de impor ditaduras na América Central (e menos ainda de legitimiar a extrema direita estadunidense e a seus inimigos no Pentágono e no Departamento de Estado e a alguns gorilas que todos os dias lhe dizem que é um ”negrinho ignorante”).

Tudo depende, por tanto, do que acontecerá nas forças armadas e nas classes dominantes hondurenhas e de que reações terão os EUA (ou seja, de como se resolverá a luta interna no establishment desse país). A crescente onda de mobilizações populares em Honduras pode resultar muito importante para precipitar grandes mudanças.

Tradução: Emir Sader

Honduras: O começo do fim?

Por Tatilio A. Borón
Fonte: www.correiocidadania.com.br

Zelaya já está em Tegucigalpa e seu ingresso em Honduras, burlando as ‘medidas de segurança’ tomadas ao longo da fronteira, deveria marcar o começo do fim do regime golpista. São várias as razões que fundamentam esta esperança, que, sucintamente, são expostas a seguir.

Primeiro, porque os ‘gorilas’ hondurenhos, bem como seus instigadores e protetores nos Estados Unidos (principalmente no Comando Sul e no Departamento de Estado), subestimaram a massividade, intensidade e perseverança da resistência popular que, dia após dia, sem trégua, manifestou sua oposição ao golpe de Estado. Na verdade, ninguém esperava tamanha resistência, se nos ativermos à história recente de Honduras. Mas o novo rumo tomado por Zelaya – sua resposta positiva diante das significativas manifestações populares e a reorientação de sua inserção internacional nos marcos da ALBA – teve um efeito pedagógico impressionante, e desencadearam uma reação popular inesperada.

Segundo: o regime golpista demonstrou ser incapaz de romper um isolamento duplo. Internamente, evidenciando que sua base social de sustentação se reduz à oligarquia e alguns grupos subordinados à sua hegemonia, incluindo os meios de comunicação, dominados sem contestação pelo poder do capital.

Ademais, o passar do tempo, ao invés de debilitar a resistência popular, reduziu ainda mais o apoio ao regime. No âmbito internacional, o isolamento de Micheletti e seu bando é quase absoluto. Salvo pouquíssimas exceções, toda a América Latina e o Caribe retiraram seus embaixadores, e o mesmo fizeram diversos países europeus.

A mesma OEA adotou uma linha dura contra o regime e, aos poucos, os Estados Unidos passaram a ser o único apoio externo com que contava o regime. Este, no entanto, seguiu uma trajetória de maneira cada vez mais nítida: começou com a negação de vistos ao corpo diplomático, chegando a medidas cada vez mais severas contra Micheletti e seus colaboradores.

Terceiro, porque as políticas ambíguas do governo dos Estados Unidos – produto das disputas internas à administração – que facilitaram a perpetração do golpe de Estado foram lentamente definindo-se em uma direção contrária aos interesses dos usurpadores.

Se o repúdio ao golpe, inicialmente manifestado por Obama, foi em seguida atenuado por sua antiga (e atual?) rival, a Secretária de Estado Hillary Clinton, o caráter inegavelmente retrógrado de Micheletti e dos que estão à sua volta e a sucessão interminável de insultos dirigidos a Obama toda vez que a Casa Branca expressava alguma crítica a Tegucigalpa, além de sua notória incapacidade de construir uma base social, foram lentamente inclinando o fiel da balança na direção contrária à das posturas patrocinadas pela Secretaria de Estado, criando uma atmosfera cada vez mais contrária em relação aos golpistas.

Quarto e último: o regime instaurado em 28 de junho é uma séria dor de cabeça para Obama.

Primeiro porque contradiz de maneira enfática suas promessas de fundar uma nova relação entre os Estados Unidos e os demais países do hemisfério. O apoio inicial ao golpe, demonstrado na resistência obstinada de Washington em caracterizá-lo como "golpe de Estado", a moderação da resposta diplomática e a indiferença frente às gravíssimas acusações de violação dos direitos humanos cometidas por Tegucigalpa produziram sérios danos à imagem que Obama queria estabelecer na América Latina e no Caribe.



A continuidade do regime golpista faria Obama parecer um político irresponsável e demagogo e, pior ainda, como incapaz de controlar o que fazem e dizem seus subordinados no Pentágono, no Comando Sul e o Departamento de Estado. E isto tem a ver com outro assunto, extremamente importante e que supera os marcos da política hemisférica: sua credibilidade no âmbito internacional. Ao demonstrar sua impotência em controlar o que se passa em seu "próprio quintal", governos de outros países – em especial China, Rússia e Índia – têm razões para suspeitar que também não será capaz de controlar os setores mais belicistas e reacionários dos Estados Unidos, para quem suas promessas de estimular o multilateralismo equivalem a uma capitulação incondicional frente a seus odiados inimigos.

Isso é particularmente grave no momento que Obama negocia com a Rússia um novo acordo de redução do arsenal nuclear dos dois países, algo tão ou mais necessário para Washington que para Moscou, por conta da hemorragia econômica produzida pelas guerras no Iraque e no Afeganistão e do incontrolável déficit fiscal norte-americano. O fracasso deste acordo teria um custo enorme sobre o orçamento público, em um momento em que esse dinheiro é necessário para afugentar os riscos de um aprofundamento da crise econômica iniciada em 2008.

Mas para convencer os russos de que seus planos de redução armamentista são viáveis, Obama tem primeiro de demonstrar que tem controle da situação e que seus falcões dentro do Pentágono não o deixarão de mãos atadas. Cada dia que Micheletti permanece no poder equivale a um mês de conversas difíceis com Medvedev e Putin, convencendo-os de que suas promessas resultarão em feitos. Pois, se não consegue controlar seu próprio pessoal em Honduras, será Obama capaz de fazê-lo quando se tratar de uma questão estratégica, vital para a segurança nacional dos Estados Unidos?


Atilio A. Boron é diretor do PLED, Programa Latinoamericano de Educación a Distancia em Ciências Sociais, Buenos Aires, Argentina.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Presidente Lula entrevistado por Newsweek.

Julgue as perguntas e confira como foi que Lula se saiu.

Newsweek:Quando o senhor tomou posse, o Brasil era enxergado como uma promessa não realizada, e a última das nações do Bric. Agora o Brasil é considerado uma estrela entre os mercados emergentes. O que aconteceu?

Luiz Inácio Lula da Silva: Ninguém respeita ninguém que não respeita a si mesmo. E o Brasil sempre se comportou como um país de segunda classe. Nós sempre dissemos a nós mesmos que éramos o país do futuro e o celeiro do mundo. Mas nós nunca transformamos essas qualidades em algo concreto. Em um mundo globalizado você não pode ficar parado. Tem que pegar a estrada e vender o seu país.

Então nós decidimos fazer do fortalecimento do Mercosul (o bloco comercial sul-americano) uma prioridade, e aprofundamos nossas relações com a América Latina em geral. Priorizamos o comércio com a África e entramos agressivamente no Oriente Médio. Hoje nossa balança comercial é altamente diversificada.

Isso nos ajudou a amortecer o impacto da crise econômica. Sofremos bem menos que todos esses países que concentraram todo o seu comércio em um ou outro bloco econômico. Tudo isso criou um laço entre o Brasil e outros países e hoje estamos em pé de iigualdade nas relações internacionais. Ao mesmo tempo eu acredito que as nações desenvolvidas começaram a entender que a situação mundial era tão séria que elas não seriam capazes de resolver todos os problemas sozinhas. O Brasil foi convidado pela primeira vez para o G8 (o grupo dos países ricos) em 2003. Agora estas são relações instituídas. Estamos pedindo uma reforma do Conselho de Segurança da ONU. Isto nós ainda não conseguimos, mas vamos conseguir.

Newsweek:O sucesso do Brasil em pilotar a crise econômica mudou o enfoque dos investidores?

Lula: Eu vou lhe dar um exemplo. No início da crise, as matrizes da indústria automobilística mandaram todo mundo reduzir a produção, reduzir os estoques e remeter recursos. Mais tarde eles chamaram os brasileiros para que explicassem que milagre eles haviam realizado, ao recuperar tão depressa os seus mercados.

Não houve milagre. Tínhamos um mercado interno forte. Tínhamos consumidores que queriam comprar carros. Reduzimos parte dos impostos sobre as vendas e pedimos Pas empresas que oferecessem crédito em condições favoráveis. O resultado é que estamos batendo recorde atrás de recorde em vendas de carros no Brasil.

O mesmo acontece com geladeiras, fogões, máquinas de lavar, e com computadores e a construção de moradia. Se todos os países tivessem feito isso tão rápido como o Brasil e a China fizeram, certamente o mundo poderia emergir da crise mais depressa. Já estamos começando a ver sinais de recuperação. Se eu lhe disser que este ano vamos gerar um milhão de empregos você provavelmente não vai acreditar. Mas espere só os números em dezembro sobre quantos empregos vamos criar no setor formal.

Newsweek:Quais são as lições para outros países?

Lula: A grande lição para todos é que o Estado tem um importante papel a jogar, e tem grande responsabilidade. Não queremos o Estado para gerir negócios. Mas ele pode ser um indutor do crescimento e pode trabalhar em harmonia com a sociedade. No Brasil, graças a Deus, temos um sistema financeiro sólido e bancos públicos com um importante papel na oferta de crédito. Estes foram os bancos que garantiram que a crise não fosse tão ruim quanto foi em outros países.

Newsweek:Não foi também porque o mercado brasileiro era forte?

Lula: Foi um mérito do trabalho duro, por parte do setor privado e do governo. Eu não aceito a ideia de que quando as coisas vão bem o mérito vai para o setor privado e quando as coisas vão mal a culpa é do governo. Ninguém neste país teve um papel mais ativo que eu tive em vender produtos prasileiros. Ninguém impulsionou as empresas brasileiras mais do que eu impulsionei. É assim que construimos uma grande nação.

Newsweek:O senhor frequentemente critica o processo de privatização. Porém graças à venda das empresas estatais até os brasileiros mais pobres têm celulares, e as ex-estatais como a Vale se tornaram vencedoras sob propriedade privada.

Lula: Mas o Estado poderia ter feito a mesma coisa.

Newsweek: Só que não fez.

Lula: Não fez porque a elite brasileira usava as empresas públicas para seus próprios fins. Quando você faz assim, qualquer companhia quebra, em qualquer lugar do mundo. Eu penso que as privatizações foram um erro. Antes de eu tomar posse, a Petrobras estava investindo R$ 250 milhões (US$ 139 milhões) em prospecção. Hoje estamos investindo cerca de US$ 560 bilhões. A descoberta de petróleo na camada do pré-sal , nas águas profundas do oceano, não foi um golpe de sorte. Foi o resultado de investimento. Só foi preciso investir corretamente.

Mas eu não sou de ficar remoendo o passado. Você nunca vai me ouvir falar em reestatizar uma empresa. O que está feito está feito e vamos seguir adiante.

Newsweek:O Brasil consegue manter seu compromisso com uma energia limpa, com todos os pesados investimentos necessários para extrair o petróleo do pré-sal?

Lula: Iremos usar o dinheiro do petróleo para ajudar a explorar energia limpa. As duas (a petrolífera e a renovável) não são incompatíveis.

O Brasil é um dos poucos países com um enorme potencial de energia limpa, renovável. A Petrobras no ano passado criou uma empresa de biodiesel. Estamos trabalhando no desenvolvimento de plataformas hidreléticas que irão simplesmente usar o fluxo do rio para gerar energia. Os trabalhadores irão de helicóptero para a estação geradora, como vão para uma plataforma petrolífera no mar. As plataformas serão rodeadas pela floresta, para reduzir o impacto ambiental. O Brasil tem a responsabilidade de mostrar ao mundo que é cada vez mais viável usar uma energia que não polui o mundo. Nossa matriz energética vai se tornar firmemente mais limpa.

Newsweek:O Brasil concorda com reduções na emissão de gases do efeito estufa na próxima rodada da mudança climática, em Copenhague?

Lula: Queremos construir com outros países uma proposta que seja compatível com a capacidade de cada um, encontrar compromissos apropriados a cada país. O Brasil apoiará a criação de um fundo para estimular o sequestro de carbono pelas nações mais pobres, mas o Brasil também vai querer que o mundo rico reduza suas emissões de gases do feito estufa. Precisamos medir as emissões históricas de cada nação, para que cada um de nós pague de acordo com sua própria responsabilidade.

Newsweek:Mas o Brasil vai se comprometer com metas de redução?

Lula: O Brasil vai se comprometer a alcançar um amplo acordo, e se esse acordo contiver metas de emissão o Brasil deseja cumprir. Mas quer ver se as outras nações vão também encontrar as suas metas de redução.

Newsweek:Por que o senhor deseja aumentar o controle estatal na indústria petrolífera, quando o atual sistema de concessões ao setor privado está funcionando?

Lula: Este novo modelo de partilha de produção que estamos propondo ao Congresso é o sistema dominante no mundo de hoje. A única razão para manter o sistema de concessões, que é um tipo de contrato de risco, é quando um país não tem certeza de que vai se achar petróleo e quer partilhar o risco (da prospecção). Mas quando sabemos que o petróleo está ali, e esse óleo é um recurso estatal, por que iríamos entregar concessões (às empresas estrangeiras)? Mas pode apostar que as maiores empresas petrolíferas do mundo vão se interessar em investir nos projetos do pré-sal no Brasil, sob estas novas normas.

Newsweek:O bloco comercial do Mercosul, que o Brasil lidera, só admite como membros democracias plenas, que respeitem os desejos humanos. A Venezuela está qualificada?

Lula: Dê-me um exemplo em que a Venezuela seja antidemocrática.

Newsweek:Trinta e quatro estações de rádio fechadas pelo governo em um fim de semana. Repressão a sindicatos independentes e perseguição do governo a rivais políticos. Gangs ligadas ao governo de Hugo Chávez vandalizando a única rede de TV independente.

Lula: Esta não é a versão do governo.

Newsweek: Existe alguma dúvida?

Lula:Vamos ser francos sobre uma questão. Primeiro, cada país estabelece o regime democrático que convém a seu povo. Isto é uma decisão soberana de qualquer nação. Eu nunca questionei o fato de que, num sistema parlamentarista, o primeiro ministro pode ficar no poder por 15 ou 18 anos. Agora [Álvaro] Uribe está apoiando [uma emenda constitucional para permitir] um terceiro mandato. Eu não ouvi ninguém criticar a Colômbia por isso.

Por que eu não quero um terceiro mandato? Porque o que vale para mim vale para meus opositores. Se agora eu quero três mandatos, amanhã eles vão querer quatro. Por isso eu digo que você não pode brincar com a democracia. Dois mandatos e oito anos é um tempo razoável para se governar um país.

E vamos ser honestos: a elite venezuelana não era exatamente um jardim de flores. Lembre que Chávez foi vítima de um golpe. Você não pode esperar que ele esqueça disso tão cedo. Eles sequestraram o homem exatamente como sequestraram [o presidente hondurenho, Manuel] Zelaya. Não podemos deixar que isso continue a acontecer na América Latina. Chávez terá de se submeter às regras do Mercosul. O Mercosul tem normas definidas.

Newsweek: Sim, mas as normas do Mercosul dizem que para um país ingressar no mercado comum precisa respeitar as regras da democracia e dos direitos humanos.

Lula: Chávez foi testado em quatro eleições nos dez últimos anos, e o povo venezuelano está aprendendo. Nós somos um continente colonizado. A maioria dos países da região passaram o século 20 na pobreza. O petróleo da Venezuela enriqueceu meia dúzia de pessoas enquanto o resto do povo continuava pobre. Esta é a primeira vez que este [dinheiro do] petróleo está sendo usado para aumentar a participação do povo. Se está certo ou errado, o povo venezuelano vai julgar.

Newsweek: A democracia é só eleições?

Lula: Eleições são um grande indicativo de democracia. A democracia na prática significa instituições que funcionam devidamente, e estou trabalhando para defender a democracia brasileira. Cada país tem de construir a democracia que quer. Eu não tenho dúvida de que os latino-americanos estão em um dos mais ricos momentos da gestão democrática em nossa história.

Newsweek: Com o Brasil assumindo um maior papel internacional, muita gente se pergunta por que o país permanece tão silencioso em relação a países cujos regimes não são democráticos...

Lula: Se oilharmos para os direitos humanos literalmente, então todas as nações cometem erros, inclusive os Estados Unidos. Onde estão os direitos humanos em Guantânamo? Todos os países têm problemas. Só a paz e a democracia serão capazes de garantir o crescimento econômico necessário a uma vida melhor para a maioria.

De vez em quando as pessoas me perguntam: Lula, você é o líder da América Latina? Eu digo que não. Ninguém me escolheu para ser líder. Mas estou absolutamente convencido de que as relações do Brasil com a América Latina nunca foram tão claras, transparentes e honestas como hoje. Quando o Paraguai fica nervoso com o Brasil, eu tenho que compreender o Paraguai. Não posso ser agressivo se o Paraguai grita comigo. O Brasil tem muito mais poder e recursos. É como a relação entre pai e filho. Um pai não bate no seu filho toda vez que o menino grita. Ele tenta argumentar. É assim que os países grandes devem agir.

Fonte: vermelho.org

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Falar de soberania colombiana é uma piada

Por Eva Golinger
Fonte: www.abn.info.ve


A visita de Noam Chomski a Venezuela se realizou num momento histórico em que ocorrem muitas mudanças na América Latina, potenciais mudanças na relação dos EUA com nações latino-americanas, e atualmente existem importantes tensões e conflitos que causam grandes preocupações aos latino-americanos.

Neste contexto, e com o recrudecimento das agressões nos últimos meses, com o golpe de Estado em Honduras, o aumento da presença militar na Colômbia, com a ocupação de mais de sete bases militares, além de um controle territorial em nível militar na Colômbia, temos também a reativação da quarta frota da armada que ocorreu no ano passado mas está sendo usado agora neste contexto.

Também o tom do discurso para a Venezuela tem sido mais forte, acusando a Venezuela de permitir o narcotráfico, terrorismo, e tem havido um aumento do pressuposto militar do Pentágono, para o Comando Sul nesta região.

Eva Golinger (EG): Isto é algum tipo de fenômeno? Agora com um presidente supostamente progressista na Casa Branca vemos mais ataques contra movimentos progressitas na América Latina...

Noam Chomsky (NC): E no resto do mundo. Mas o que acontece na América Latina tem ocorrido há mais tempo. EUA por muito tempo deu por certo que podia controlar a América Latina, e de fato este foi um princípio básico de sua política exterior desde suas origens como república, como uma aspiração, que conseguiram concretizar no século XX. O Conselho de Segurança Nacional, a maior entidade de planejamento, disse que se não podemos controlar a América Latina, como podemos com o resto do mundo?

Henry Kissinger, quando houve o golpe de Pinochet, disse: “temos que desprender-nos de Allende ou não termos credibilidade no resto do mundo”. Esta é a chave para controlar o mundo, e certamente grande parte da economia estadunidense estava baseada em inversões, que eram uma espécie de saqueio, desde o século XIX. Tudo isso ocorreu por muito tempo e de diversas maneiras, intervenção militar, golpes de Estado, agressões, durante o governo de Kennedy, com agressão do Estado, o exército instaurando Estados de segurança no estilo neo-nazista.
Logo chegou o período neoliberal, o controle dos países por meios econômicos, mas no final dos 1990 já não eram tão frequentes, Venezuela é um exemplo, mas ocorria em muitos outros países. Lentamente os países latino-americanos começaram escapar do longo período, desde a época dos conquistadores espanhóis e portugueses, de uma ou outra forma de colonização.
Começaram a liberar-se do FMI, pagar e reestruturar suas dívidas, focarem-se em seus problemas internos, e os EUA começavam a perder o controle, e teria que haver uma resposta, que se espalhou desde o final dos anos 1990, e que tem duas frentes, uma militar, e o outro que denominam promoção da democracia, que é um eufemismo de dominação. Uma frente é militar e a outra é a dominação, e Obama simplesmente está dando continuidade. Não está fazendo nada novo.
Parece diferente de Bush, mas a razão é, se vemos a opinião pública, porta-vozes do governo, eles criticam Bush por não haver prestado atenção à América Latina, e que a região sofreu por isto. De fato é o melhor que já passou para a América Latina, que os EUA dirija sua atenção a outras regiões. Mas Obama quer remediar esta situação a partir de uma perspectiva progressista liberal, prestando mais atenção à América Latina, o que implica um retorno a políticas mais tradicionais, a militarização e a dominação.

O que você menciona como um exemplo, mas vem de antes, e faz muitos anos, por exemplo, o treinamento de militares latino-americanos pelos últimos dez ou quinze anos tem aumentado em grande medida, talvez 50% mais do que era nos anos 1990. E agora a posição militar dos EUA na América Latina é relativamente maior que durante a Guerra Fria. Pela primeira vez, há mais oficiais de treinamento militar que acessores econômicos. A estratégia tem mudado a partir de um esforço para reconstruir uma estrutura de intervenção potencial, e também para a chamada promoção da democracia.

EG: Que temos experimentado em grande medida aqui na Venezuela, através da USAID, a National Endowment for Democracy com financiamento a grupos opositores e agora com participação em uma campanha de contrainsurgência no interior das forças revolucionárias que apóiam o governo, que tentam neutralizar.

NC: Mas estas são políticas de longa data. Os E.U.A. de fato iniciaram uma nova fase do imperialismo faz um século, ao converter-se numa potência mundial, já havia sido uma potência regional, mas com a conquista das Filipinas, esse foi um aumento crucial, pelos anos 1900, matou a centenas de milhares de pessoas, estabeleceu um controle militar parcial, mas tinham que governar o país. Como governar o país? Bem, desenvolveram uma nova forma de colonialismo, com um Estado de vigilância muito complexo, usando a última tecnologia da época para enfraquecer movimentos políticos, para desintegrá-los, promover o fraccionalismo.

Criaram uma força militar-policial paralela que podia usar a força quando fosse necessário. Era muito minucioso e complexo, e de fato tem voltado aos países de origem, os Estados de vigilância no Ocidente: EUA, Inglaterra, desde a Primeira Guerra Mundial, baseados no modelo filipino. E segue até hoje. Filipinas é o único país no leste asiático que não tem participado no rápido crescimento econômico das últimas décadas, e ainda tem uma força militar terrorista, violações aos direitos humanos etc.

As técnicas são: primeiro, uma força militar internamente, se é necessária, e segundo a colaboração dos líderes do Estado, por isso querem infiltrar os movimentos revolucionários, incitar a separação, enfraquecer o poder de outros grupos e obter benefícios de seus contatos com o poder imperial. Os britânicos e os franceses fizeram coisas parecidas, mas desta vez se fez com grande detalhe, algo novo na história do imperialismo, e por conseqüência se estendeu à América Latina.

Por isso é que depois de cada intervenção, por exemplo Haiti, República Dominicana, Nicarágua, onde seja, deixam o país nas mãos da Guarda Nacional e em colaboração com líderes do Estado. E a Guarda Nacional é uma força de terrorismo de Estado. A Guarda Nacional haitiana nunca lutou contra outro país. Seu exército luta contra a população, o mesmo com Somoza.

Esta capacidade se perdeu em parte nos anos 1990 e agora se reconstrói de outra maneira. Mas é uma tradição antiga. De fato data de muito antes. Vale recordar que os EUA é o único país do mundo que foi fundado como um império. George Washington o descreveu como um império infante e por conseqüência tiveram que conquistar o território nacional, isso é imperialismo, não cruzaram mares, mas diferente disso, é imperialismo padrão. Praticamente exterminaram a população, tomaram a metade do território do México e em 1898 começaram a expandir-se a outras regiões, mas o processo é o mesmo.

E é importante saber que o fazem com toda franqueza e com uma crença no caráter divino de sua missão. É um país religioso e sempre tem atuado para cumprir a missão da Divina Providência. George Bush falava nesses termos. Obama não precisa usar as mesmas palavras. É sofisticado. O melhor exemplo, como todos sabem, é a primeira colônia nos EUA: Massachussets. Sua carta de fundação é de 1629, estabeleceram seu escudo em que aparecia um índio apontando sua lança para baixo e um pergaminho saindo de sua boca que dizia “venha ajudar-nos”, assim que os colonos que iam para tomar suas terras e exterminá-los estavam convencidos de que estavam respondendo a esse chamado de auxílio, e essa atitude continua atualmente. Cada agressão, tentativa de XXXX sometimento tem a mesma inspiração. Outros países imperialistas como a França têm atitudes similares, mas está muito mais arraigada na cultura e crença estadunidense. Há um importante XXXX trasfondo religioso, tudo se justifica. O máximo que pode acontecer é que se cometam erros.

EG: Isso é também como uma guerra psicológica, uma manipulação da realidade, para dar essa impressão.

NC: É importante entender que é aceito internamente. Por exemplo, não se pode fazer um comentário crítico sobre qualquer ação dos E.U.A. Obama, por exemplo, é muito elogiado por ser um dos principais críticos da guerra no Iraque. Qual foi sua crítica? Disse que era um grave erro estratégico. Assumiu a mesma posição que assumiu o estado maior alemão depois de Stalingrado. Ou a posição dos russos sobre Afeganistão no início dos 1980. E não chamamos crítica quando é dos nossos inimigos, o chamamos servilismo ao poder. Mas em nosso caso, os liberais, progressistas o chamam oposição principal. E se pode ir mais além e estar ainda dentro do marco doutrinal básico, e vem dessa autopercepção de nobreza, da missão divina de civilizar o mundo, elevá-lo a um nível mais alto, então a dominação e a militarização são considerados primordiais, e de fato no caso da América Latina a esquerda condena Bush por não se focar na América Latina, por não cumprir com a missão civilizadora. Não é surpresa então as ações de Obama.

EG: E é um processo cujo ritmo está aumentando rapidamente.

NC: Em parte por estas razões e em parte porque os problemas são mais urgentes. A chamada “maré rosa” é considerada um verdadeiro perigo. De fato o governo dos E.U.A. está apoiando governos que há quarenta anos havia derrocado. O governo do Brasil, por exemplo. As políticas de Lula não são tão diferentes das políticas de Goulart no início dos anos 1970, quando o governo de Kennedy iniciou um golpe militar e instalou o primeiro Estado de seguridade nacional estilo neonazista, e agora é um país amigo, porque todo o fantasma foi apagado, tanto que agora os E.U.A deve apoiar o tipo de governo que antes havia derrocado e certamente tratar de dominar os outros.

EG: Falemos disso especificamente, porque há o tema do aumento da presença militar estadunidense na Colômbia, que tem causado tensão na região. O governo da Colômbia e o governo dos E.U.A., Obama, defendem que isso é um assunto bilateral, que isto não é uma ocupação ou o estabelecimento de novas bases militares; é um acordo de cooperação em segurança. Mas alguns dos detalhes que sabemos, diferente das três bases, já tem ocupado sob o Plano Colômbia, e mais de uma dúzia de estações de radares, que definitivamente terão acesso a sete bases, uma das quais, em Palanquero, lhes dará acesso aéreo a todo o hemisfério, que não tinham anteriormente, com gigantescos aviões militares de carga tipo C17, e além disso, está o tema de que os E.U.A chama defesa interna em um país estrangeiro, com que treinam forças armadas colombianas, equipes comando especiais, forças especiais, a Polícia Nacional colombiana, os treinam, os comandam e os controlam, e agora existe a possibilidade de uma nova sede para a Escuela de las Américas, agora chamada WHINSEC, na Colômbia, para iniciar o treinamento em outros países da região. Nesta quinta-feira, 28, houve uma reunião de presidentes da Unasur na Argentina para tratar deste tema, que muitos dizem que é uma ameaça para a estabilidade regional. Mas há nações que mantém a posição de que há que respeitar a soberania colombiana. Com governos apoiados por Washington como Brasil, e com o golpe em Honduras que tem sido visto como um ataque contra os países da ALBA. Esta ocupação e ampliação da presença militar na Colômbia é uma tentativa de dividir e impedir um maior progresso da integração latino-americana, primeiro mediante a promoção destes conflitos entre nações, diferente do conflito entre Colômbia como governos de direita e Venezuela como governo de esquerda, com países como Brasil ou Chile, que podem assumir uma posição mais ambígua ou neutra enquanto a respeito da soberania colombiana, que se opõem à expansão militar estadunidense mas sem chegar a condená-la.

NC: Falar de soberania colombiana é uma piada. O Plano Colômbia, criado por Clinton, é uma intervenção agressiva nos assuntos internos da Colômbia, que vem tendo conseqüências. Há um pretexto, e o pretexto é a guerra contra o narcotráfico, mas é só um pretexto e não se pode levar a sério. O estabelecimento das bases militares na Colômbia é uma reação ao fato dos E.U.A ter perdido sua posição militar noutros países. Equador desativou a base em Manta, que dava aos E.U.A grande capacidade de vigilância aérea na região. Paraguai era uma espécie de base militar estadunidense, e isso já acabou. Tinham de reconstruí-la em outro lugar e Colômbia é o único país onde podiam fazê-lo. O golpe em Honduras é parte de outro processo. A América Central havia sido tão devastada pelas guerras contra o terrorismo de Reagan que não eram parte da tendência da chamada “maré rosa”, fazia a integração latino-americana. Honduras estava no caminho da integração, e ainda bem que agora já não, eles acreditam, e na realidade tem se expandido na América Central. Nicarágua é outro caso. Tudo isto me parece que é uma tentativa de recuperar a posição tradicional referida antes, há 10 ou 15 anos o treinamento de oficiais tem aumentado rapidamente, e tem mudado, agora o treinamento é em táticas de infantaria. A idéia é criar forças paramilitares. Não estão treinando policiais de trânsito. O controle da “ajuda” oficial tem mudado do Departamento de Estado, agora está nas mãos do Pentágono, que é uma mudança relevante. Quando estava sob o Departamento de Estado tinha, pelo menos teoricamente, supervisão do Congresso, que quer dizer que havia condições que teria que cumprir, sobre direitos humanos por exemplo, que não se implementavam muito, mas eram uma limitação a possíveis abusos, mas sob o controle do Pentágono, não há regras, tudo é válido.

"Quem é autoritário?"

Professor Venício Lima desnuda a manipulação da SIP e dos donos da mídia


Os donos da mídia e seus aliados nas Américas já definiram que os atuais governos de nossos vizinhos Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela são regimes "autoritários populistas" onde se tenta implantar "legislações autoritárias e anti-democráticas" (que tramitam regularmente nos respectivos Congressos).

Artigo do professor Venício Lima, pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília - NEMP - UNB, publicado originalmente no site da Carta Maior.

Quem é autoritário?

Na tipologia dos sistemas políticos - diz o clássico "Dicionário de Política" organizado por Bobbio, Matteucci e Pasquino - o adjetivo autoritário refere-se aos "regimes que privilegiam a autoridade governamental e diminuem de forma mais ou menos radical o consenso, concentrando o poder político nas mãos de uma só pessoa ou de um só órgão e colocando em posição secundária as instituições representativas" (EdUnB, 1986, p. 95).

E prossegue: "Os regimes autoritários se caracterizam pela ausência de Parlamento e de eleições populares ou quando tais instituições existem pelo seu caráter meramente cerimonial e ainda pelo indiscutível predomínio do Executivo. (...) A oposição política é suprimida ou obstruída. O pluralismo partidário é proibido ou reduzido a um simulacro" (p. 100).

Pergunto ao leitor(a) se caberiam na definição de sistema político autoritário os atuais regimes da Argentina, da Bolívia, do Equador e da Venezuela onde os Parlamentos funcionam, a Oposição política está ativa, existe pluralismo partidário e realizam-se eleições democráticas periódicas, inclusive, com fiscalização de organismos multilaterais.

Independente de sua reposta, leitor(a), os donos da mídia e seus aliados nas Américas já definiram que os atuais governos de nossos vizinhos Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela são regimes "autoritários populistas" onde se tenta implantar "legislações autoritárias e anti-democráticas" (mesmo que através de projetos de lei que tramitam regularmente nos respectivos Congressos Nacionais).

Autoritário, portanto, já há algum tempo, passou a ser o adjetivo utilizado uniformemente pela grande mídia, em toda a região, quando se refere aos governos democráticos de Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela.

Liberalismo antidemocrático

Na melhor tradição da história política latinoamericana, o "liberalismo" praticado pelos donos de jornal do Continente, está a redefinir o adjetivo autoritário para rotular qualquer regime ou governo ou decisão judicial que contrarie seus interesses econômicos e/ou ideológicos. E ainda mais, busque estabelecer regras de funcionamento que garantam a competição em nome da pluralidade e da diversidade democrática, como acontece para qualquer outra atividade nas economias de mercado.

Esta tem sido a posição histórica da SIP, Sociedade Interamericana de Imprensa (as iniciais são em espanhol), reiterada no "Fórum de Emergência sobre Liberdade de Expressão" realizado no dia 18 pp., em Caracas, precisamente a capital do país considerada (pela SIP) a "fonte de irradiação de perseguição à mídia na região".

O representante brasileiro no Fórum da SIP foi o diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira que, segundo noticiou a Folha de São Paulo disse que "o país está em melhor situação que os seus vizinhos, mas expressou preocupação com decisões judiciais que exercem "censura prévia".

Omissão parcial

A repercussão das posições do Fórum da SIP na mídia brasileira foi, por óbvio, grande. Editorias e artigos de conhecidos colunistas reforçam as acusações de autoritarismo e, até mesmo, de totalitarismo. Mas, como se fosse ainda necessário exemplificar o tipo de pluralismo e diversidade que praticam nossos jornalões, nem todos deram a devida dimensão ou simplesmente omitiram o discurso relativamente destoante de um dos convidados da SIP, o ex-presidente boliviano, Carlos Mesa.

A curiosidade aqui é que Carlos Mesa, como José Sarney no Brasil, é ex-presidente, concessionário de radiodifusão e, antes de ser presidente da Bolívia, era historiador e membro da Academia Boliviana de História.

José Sarney, afirmou no último dia 15/09, em discurso pronunciado no Senado Federal:

"quem representa o povo? Diz a mídia: somos nós; e dizemos nós, representantes do povo: somos nós. É por essa contradição que existe hoje, um contra o outro, que, de certo modo, a mídia passou a ser uma inimiga das instituições representativas".

Carlos Mesa, convidado dos donos de jornal, não concordou integralmente com a surrada posição da SIP e disse:

"Quando um meio, diante da falta de partidos políticos, tem de fazer o que os partidos não podem fazer, perde o equilíbrio e a objetividade. (...) O problema dos políticos e dos meios de comunicação que estão em confronto com esses governos autoritários é que seguem pensando com a mentalidade preexistente, partindo do pressuposto de que estão contra ditaduras quando se trata de ditaduras eleitas e, portanto, não são ditaduras. Têm tendências autoritárias? Sim. Mas não serão derrotados como ditaduras militares porque o fenômeno é diferente. É preciso reconquistar o eleitor. Senão, não haverá vitória. (...) A realidade é que os meios defendem interesses que vão além do interesse coletivo. Se não se reconhecer isso, estaremos enganando a nós mesmos"

(cf. Folha de São Paulo, 19/9/2009; "Perseguição à mídia pauta fórum em Caracas" e " "Lógica não é a mesma de luta antiditaduras".

O velho ainda resiste

Não há dúvida que estamos atravessando um momento de transição dos modelos tradicionais de mídia (unidirecionais e oligopolistas) que deverão dar lugar às novas realidades geradas pela revolução digital e pela interatividade potencial da internet. Os tempos de alinhamento automático entre as velhas oligarquias políticas da América Latina e os donos da mídia - muitas vezes, os mesmos grupos familiares - estão chegando ao fim. E as contradições afloram onde menos se espera.

Alguns parecem constatar que o velho discurso da liberdade de imprensa ameaçada tornou-se insustentável diante de uma cidadania cada vez melhor informada. Outros resistem com as poderosas armas que ainda controlam e ameaçam até mesmo o próprio processo democrático para garantir a sobrevivência de seus velhos interesses.

Nunca será demais lembrar as palavras célebres do Juiz Byron White da Suprema Corte dos Estados Unidos, em sentença proferida há 40 anos:

"É o direito dos espectadores e ouvintes, não o direito dos controladores da radiodifusão, que é soberano".

Ao que parece a SIP e seus aliados, inclusive no Brasil, ainda não se deram conta de que os novos tempos serão do cidadão, sujeito exclusivo do direito à comunicação.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Presidente Zelaya está na Embaixada Brasileira em Tegucigalpa

O presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya, anunciou que o Secretário Geral da Organização de Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, arribará esta Terça feira a Tegucigalpa para apoiá-lo em seu regresso ao poder e chamou o povo hondurenho a se reunir para acompanhar-lo a recuperar o fio constitucional na Nação.

O mandatário disse que Insulza tem-lhe expressado que quer ingressar hoje mesmo, a fim de iniciar o diálogo que leve à recuperação da democracia.

"Amanhã estará aqui o Secretário Insulza (...) tem anunciado que quer vir hoje mesmo" manifestou Zelaya desde a embaixada de Brasil em Tegucigalpa.

Zelaya confirmou que se encontra na Embaixada de Brasil, e agradeceu a seu homólogo Luiz Inácio Lula Da Silva pelo gesto diplomático.

Detalhou o que teve que passar para chegar à Capital Hondurenha.

"Quase meia Honduras, meia Centroamérica (...) 15 horas em diferentes transportes (...) teve colaboração não posso dizer nada com o fim de que não incomedem a ninguém...às Forças Armadas de Honduras (...) peço que tenham calma, o povo est[a desarmado gritando palavras de ordem com alegria", explicou

Por sua parte, a primeira dama hondurenha, Xiomara Castro de Zelaya, expressou sua felicidade pelo regresso de seu esposo e disse que os meios de comunicação social que negaram a presença de Zelaya no país deverão retificar e dizer a verdade..

"Hoje tem ficado ao descoberto a mentira mais uma vez...vão a ter que retificar...o Presidente Zelaya está em Honduras", insistiu.

"Estou muito contente porque o Presidente da República, o Presidente eleito por todos os hondurenhos se encontra em Tegucigalpa", acrescentou.

Garantiu que Zelaya regressa para buscar a paz e a concertação.

"O Presidente está aqui, vem buscar a paz de meu país, de nosso país (...) de chegar a um grande diálogo, uma concertação (...) hoje estamos unidos por uma Honduras nova, por uma nova República", indicou.

Esta Segunda feira, a embaixada brasileira em Honduras confirmou que o Presidente constitucional, se encontra em essa sede diplomática, logo que sua esposa desse a informação a milhares de ciudadaõs que esperam ver-lo na sede das Nações Unidas (ONU) da capital hondurenha.

A correspondente de teleSUR, Adriana Sívori, pode constatar a presença do presidente derrocado e ademais informou que continuam chegando pessoas aos redores da instalação e que se sente grande jubilo pela presença do mandatário.

Disse que junto a ele e a delegação brasileira, se encontra sua esposa e várias personalidades para saudá-lo.

Xiomara Castro, anunciou o lugar onde estava seu esposo a milhares de cidadãos que o esperavam na sede da Organização de Nações Unidas (ONU) a capital hondurenha.

"Ele está muito bem, se encontra em perfeitas condições e está disposto a iniciar o diálogo" para resolver a crise política causada por seu derrocamento em 28 de junho passado.

Agradeceu "ao presidente (brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva) Lula por permitir que o presidente Zelaya se encontre nessa embaixada", em cujo entorno se concentrava uma multitude de seguidores do mandatário.

Castro sublinhou que viu muito bem seu esposo e expressou "alegria" por seu retorno ao país, porém, também, preocupação, porque manifestou: tememos um pouco quando foi o momento de sua chegada".

Sívori, reportou que Zelaya se está reunindo com os líderes das organizações sociais e representantes do magistério.

"Zelaya está em Honduras", diz Chávez

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, se encontra em Tegucigalpa, capital do país, informou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. A notícia está na estatal Agência Bolivariana de Notícias. "Regressou a Tegucigalpa o presidente Zelaya", disse Chévez, afirmando ter falado com Zelaya pelo telefone.
Segundo a agência de notícias, o presidente deposto estaria na sede das Organização das Nações Unidas na capital hondurenha. "Depois de vários dias pelas montanhas, o presidente Zelaya, acompanhado de mais quatro pessoas, conseguiu chegar à capital", descreveu Chávez. Ele assinalou, após conversar com Xiomara Zelaya, esposa do presidente deposto: "exigimos que entreguem o poder a Zelaya, que lhe respeitem a vida".

A vice-chanceler do governo que foi derrubado por um golpe em 28 de junho, Beatriz del Valle, disse ter recebido a confirmação de que Zelaya está realmente no país. Segundo ela, o presidente lhe enviou uma mensagem de SMS.

De acordo com a Telesur, manifestações pedem o retorno de Zelaya ao governo e uma vários integrantes do movimento de resistência ao golpe de Estado estão se dirigindo à sede da ONU para constatar a presença de Zelaya.

Eduardo Reyna, assesor legítimo do presidente constitucional hondurenho, disse à Telesur que “podemos confirmar que o presidente está na cidade. O povo está extravasando e chega até as Nações Unidas para dar as boas vindas a seu presidente”, ratificou.

Desde que foi retirado do poder pelas Forças Armadas, Zelaya tentou retornar a Honduras em duas oportunidades. Na primeira, em 5 de julho, a bordo de um avião venezuelano, foi impedido de pousar no aeroporto internacional de Tegucigalpa por militares que bloquearam a pista de aterrissagem.

No final de julho, ele chegou a cruzar a fronteira entre Nicarágua e Honduras andando pela cidade de Las Manos, mas recuou depois que oficiais ameaçaram prendê-lo.

Fonte: vermelho.org

Do homem que mandou Hildrando pra cadeia: "Espero que ele leia a Bíblia na prisão"

Na segunda-feira, 21, quando sentar no banco dos réus para ser julgado pelo “crime da motosserra”, o ex-deputado Hildebrando Pascoal haverá de ser atormentado pela lembrança do procurador da República Luiz Francisco Fernandes de Souza, 47 anos, principal responsável por desarticular a organização criminosa da qual era o líder e que submeteu o Acre ao terror e barbárie nas décadas dos 1980 e 1990.

Luiz Francisco estava com 33 anos quando desembarcou em Rio Branco para chefiar o Ministério Público Federal no Acre. Obcecado por deter as ofensivas de Pascoal e seu bando, chegava a passar dias e noites sem tomar banho, alimentando-se precariamente. Exausto, se recolhia por no máximo três horas num quarto que se limitava a precário banheiro, minúsculo guarda-roupa, rádio de pilha e colchão no chão.

CNJ limita participação da imprensa no júri do “crime da motosserra”

O procurador nasceu em Brasília, é ex-seminarista da Ordem dos Jesuítas, ex-bancário e ex-sindicalista. Dias antes de ingressar no Ministério Público Federal, em 1995, cancelou a filiação ao PT, fez as malas e veio para o Acre para a sua primeira e mais espetacular ação como símbolo de uma geração de procuradores destemidos que despontava no país.

Luiz Francisco, como é mais conhecido, continua o mesmo: solteiro, mas há dois anos deixou a casa dos pais, financiou a compra de uma casa e pilota o terceiro fusca (dois foram roubados) de sua vida. Continua desengonçado, não suporta gravata e seus ternos pedem socorro.

Na segunda-feira, a partir de seu escritório em Brasília, o procurador regional do Distrito Federal estará antenado no andamento do julgamento do ex-deputado que mandou para a cadeia.

Diz que não guarda rancor de Hidebrando Pascoal e espera que seja condenado mais uma vez.

- Espero também que ele, na prisão, pegue a Bíblia, leia, se acerte com Deus direitinho e possa até cuidar melhor da esposa e dos filhos dele. Ele e eu, quando morrermos, vamos nos encontrar com Deus. É bom que a gente tenha coisas boas para poder mostrar a Deus. O “diacho” é que foram muitos crimes que ele praticou. Claro que não tenho a menor raiva de ninguém, graças a Deus, e torço para que não aconteça nada de mal com ele. Eu só não gosto da impunidade. Quando uma pessoa é serrada viva, neste caso não pode ter impunidade.

O procurador sempre esteve envolvido em diversas polêmicas, mas registra em sua carreira um fracasso nas denúncias que lançou contra Eduardo Jorge Caldas Pereira, secretário-geral da Presidência da República no governo Fernando Henrique.

Eduardo Jorge foi absolvido das denúncias e o Conselho Nacional do Ministério Público reconheceu que ele fora alvo de perseguição política. Condenado a 45 dias de suspensão, Luiz Francisco recorreu, alega que o caso está prescrito, mas não se dá por vencido.

- Na verdade Eduardo Jorge não foi inocentado porque ele nem chegou a ser investigado. Quebrei o sigilo dele três vezes. A investigação dependia disso, mas todas às vezes ele conseguiu suspender a quebra do sigilo.

Leia os principais trechos da entrevista:

BLOG DA AMAZÔNIA - Você chegou ao Acre no dia 27 de junho de 1995 e retornou para Brasília no dia 12 de julho de 1996. Em um ano você desmobilizou e fez as denúncias que culminaram por levar Hildebrando Pascoal à prisão. Como se sente?

LUIZ FRANCISCO FERNANDES DE SOUZA - Foi um trabalho de equipe do qual participaram pelos menos 15 procuradores da República. Mas foi, acima de tudo, um trabalho em parceria com a sociedade organizada acreana, inclusive contigo, Altino. Também colaboraram outros jornalistas e pessoas como o bispo dom Moacir Grechi ou pessoas que romperam após trabalhar para Hildebrando Pascoal. Trabalhamos até com pistoleiros dele, que nos passavam informações. Pessoas bem próximas do Hildebrando, não suportaram as barbaridades que ele cometia e o entregaram. Foi um trabalho coletivo, não foi um trabalho meu. Até delegados, como o Carlos Bayma, nos ajudaram. Além disso, foi o trabalho dos jornalistas acreanos que levantaram tudo, o que inclui o pessoal da Gazeta, você, Página 20, todo mundo.

B.A: Você estava com apenas 33 anos. Foi a impetuosidade da idade que o fez se expor tanto contra uma organização criminosa?

L.F.: Eu estava cercado de pessoas muito boas para fazer o trabalho, como Henrique Corinto, você, além de jornalistas como Charlene Carvalho e Angélica Paiva. Havia também o pessoal do Comitê Chico Mendes, a então deputada Naluh Gouveia. Eram vocês que faziam a minha linha de proteção. Eu não me expus tanto. Você se expôs bem mais porque esteve na toca da onça quando foi realizar aquela entrevista na casa dele. Por uma palavra ou outra, naquela ocasião ele poderia ter matado você, dar um tiro brincando porque é desequilibrado. Foi o mesmo risco ao qual se expôs o desembargador Gercino José da Silva, que presidia o Tribunal de Justiça. Foi um bom trabalho acreano.

B.A.: De todas aquelas histórias envolvendo o crime organizado, qual o episódio que mais chocou a você?

L.F.: Foi o seqüestro da Clerisnar, mulher do José Hugo, assassino de um irmão de Hildebrando. Ela foi seqüestrada com seus filhos e aquilo foi o que me fez mexer. Ela ficou nas mãos de seus algozes e foi levada para São Paulo. Chocou-me por pensar no sofrimento e agonia da mulher com os filhos.

B.A.: Fiquei chocado mesmo quando você me chamou ao seu gabinete para mostrar as fotos do “Baiano” com os braços e pernas serrados, emasculado, com um prego na testa e crivado de balas.

L.F.: Aquilo também me chocou. Para tirar aquelas fotos teve gente que arriscou a vida no Instituto Médico Legal. As fotos são decisivas. Qualquer pessoa com a mínima consciência passava a querer fazer alguma coisa.

B.A. : Acredita que Hildebrando Pascoal possa ser absolvido pelo júri por causa do “crime da motosserra”?

L.F.: Espero que não. Espero também que ele, na prisão, pegue a Bíblia, leia, se acerte com Deus direitinho e possa até cuidar melhor da esposa e dos filhos dele. Ele e eu, quando morrermos, vamos nos encontrar com Deus. É bom que a gente tenha coisas boas para poder mostrar a Deus. O “diacho” é que foram muitos crimes que ele praticou. Claro que não tenho a menor raiva de ninguém, graças a Deus, e torço para que não aconteça nada de mal com ele. Eu só não gosto da impunidade. Quando uma pessoa é serrada viva, neste caso não pode ter impunidade.

B. A. : A defesa vai argumentar de que não existem provas de que foi Hildebrando Pascoal quem serrou o “Baiano” e que o ex-deputado é um preso político.

L.F.: Existe um caminhão de provas, que mostram que ele estava envolvido e coordenou muito mais coisas. Acredito que o júri vai decidir de outra forma. Ele não tem nada de preso político. Os fatos que envolvem a família do Hildebrando, desde a morte da mãe dele, quando mataram um médico, capitão do Exército, porque julgaram que ele havia sido negligente no atendimento da mulher, é mais uma evidência de que cometiam crimes comuns. Não tem nada de crime político. Foram grandes crimes que foram cometidos e que a sociedade acreana se movimentou para livrar o Acre da barbárie. Eu ocupava um cargo que me permitia ser como um catalizador, alguém que estava na foz, onde desaguam as águas. Mas a reação contra ele veio da sociedade, de coronéis da PM que o denunciaram, de delegados antigos que depuseram contra ele, de pessoas que trabalhavam com ele dentro da casa dele e até de pistoleiros e traficantes.

B.A.: Hildebrando já tem 88 anos de condenação. Vai morrer na prisão?

L.F.: Ninguém pode ficar mais de 30 ano na cadeia. Mesmo que tenha mil anos de condenação, o teto é 30 anos. Alguns acham que isso é uma benesse, mas não é favor para os criminosos. Na Europa, em geral, as penas são de 10 a 20 anos. É irrisória a quantidade de pessoas que sobrevive a 30 anos de cadeia. Quase todos morrem após 20 anos de prisão. Quase ninguém consegue permanecer 30 anos preso.

B.A.: Um médico que já atendeu várias vezes Hildebrando nos últimos anos, disse que ele está destruído. Segundo o médico, ele é uma flor murcha, com problemas graves de diabetes, hiperpetensão, cardíaco, além de uma profunda depressão que o leva ao choro todos às vezes que é chamado de coronel.

L.F. : A pessoa, assim como um bicho, não foi feita para estar presa. A tendência é definhar, enfraquecer, enlouquecer. Por isso que o Hildebrando tem que encontrar a paz dentro do presídio. É muito importante que as pessoas que amam ele, o visitem, levem livros, para que ele possa resistir sem ficar doido. Após os 30 anos, ele tem o direito de sair, como todo preso brasileiro.

B. A. : Algum temor por causa da atuação mais destacada para desmobilizar o crime organizado no Acre e mandar Hildebrando Pascoal para a prisão?

L.F.: Eu nunca tive nenhum temor. A única vez que fui ameaçado no Acre aceitei como segurança apenas um rádio para comunicação direta com a Policia Federal. Durante a CPI do Narcotráfico, em 1999, fiquei 20 dias no Acre sob proteção da Polícia Federal. Quando voltei para Brasília, jamais pedi proteção. Continuo caminhando na rua normal. Se acontecer alguma coisa comigo, terei uma morte muito bonita, sem o menor problema. Caso Hildebrando ou qualquer outro queira me matar, é muito simples: contrata um pistoleiro e manda para cá porque a coisa mais fácil do mundo é me matar. Não tenho nenhuma segurança e sequer ando armado.

B.A.: O Acre mudou após a prisão de Hildebrando?

L.F.: Sim. Acho que o governo Lula mudou o país. Claro que poderia ter sido muito melhor. Poderia ter rompido não pagando a dívida pública externa, não aderindo à política financeira do PSDB, acabando com o latifúndio, erradicando o analfabetismo. Acho que o governo Lula poderia ter feito coisas que o presidente Hugo Chávez está fazendo na Venezuela. Pelo menos não está tendo entrega do patrimônio público no Brasil. Os projetos do Pré-sal, por exemplo, são todos eles para deixar que o Estado, a Petrobras e o povo brasileiro controlem a massa imensa de petróleo, onde a gente tinha reserva de 14 bilhões e vai ter agora de 114 bilhões. É uma riqueza gigantesca sob controle do povo brasileiro, enquanto o governo anterior pegou a Vale do Rio Doce, praticamente do mesmo tamanho da Petrobras, e entregou de graça por 3 bilhões. A Vale, que detém as maiores jazidas de ferro do Planeta.

B. A. : Seus críticos dizem que você anda sumido do noticiário político-policial, que não atua contra a gestão do presidente Lula da mesma forma que atuava contra a gestão do então Fernando Henrique Cardoso. Como avalia?

L.F. : Avalio muito bem. Minha pressão arterial caiu de 16 para 11. Eu nunca gostei de ficar no foco. O que sempre gostei foi de processar quem eu bem entendia. Lido com mais de 40 tipos de recursos de 14 estados com 62 milhões de pessoas - toda as regiões Norte, Centro-Oeste, mais Minas, Bahia, Maranhão e Piauí. É uma massa de trabalho enorme. Os últimos trabalhos que fiz foram a abertura da CPi do Banestado e de procedimento contra Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. Tenho muito orgulho disso, assim como tenho muito orgulho de ter feito o senador ACM renunciar. Aqui em Brasília eu levei três senadores à renúnica: Luiz Estevão, Joaquim Roriz e José Roberto Arruda. Me sinto muito bem por ter brigado contra essa gente. Sinto alegria de ter brigado contra Jorge Bornhausen e Fernando Henrique. É mentira quando dizem que não agi contra o governo Lula. É verdade que agi menos contra o governo Lula, mas porque o governo dele deu muito menos razão para a gente agir. Não foi apenas eu, mas o Ministério Público, de modo geral, processou bem menos o governo Lula do que o governo FHC. Mas isso é porque tem bem menos ilicitudes no atual governo.

domingo, 20 de setembro de 2009

O financiamento das FARC, outra cortina de fumaça golpista feita no The Wall Street Journal?


Por: Juan Carlos Rivera, (www.librered.net /wordpress/?p=7517)


Em 11 de agosto último, o The Wall Street Journal, jornal norteamericano defensor da ditadura em Honduras, informou que o Partido de Unificação Democrática (UD) constava de uma lista de organizações financiadas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Três dias depois, Roberto Micheletti, prometeu as provas contra essa instituição política.

Já estamos em setembro. Passaram mais de vinte dias e os acusadores não apresentaram as provas perante os tribunais ou à luz da opinião pública para submeter o caso ao grande juízo das massas. Micheletti, o primeiro ditador do século XXI, ficou calado. O jornal norteamericano igualmente se esconde nas sombras do silêncio.

O jornal do magnata Rupert Murdoch (inimigo visceral do presidente Hugo Chávez e tudo o que cheira a Venezuela) difundiu a coluna intitulada "Os amigos hondurenhos das FARC", escrita por Mary Anastasia O'Grady, exatamente no dia em que os presidentes dos EUA, Barack Obama, do México, Felipe Calderón e o primeiro-ministro do Canadá Stephen Harper, celebrariam um encontro no qual abordariam a questão do narcotráfico e condenariam a Micheletti por dar um golpe de Estado.

"É lamentável que o Ministério da Defesa da Colômbia não participe, já que poderia mostrar as evidências da conexão entre os partidários do deposto presidente de Honduras, Manuel Zelaya e o maior fornecedor sulamericano de drogas ilícitas para a América do Norte: as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Eu sei por que as provas disso chegaram à minha mesa na semana passada", escreveu O'Grady.

Na sua coluna semanal, a "analista" arriscou a dizer que "o Partido de Unificação Democrática (UD) de Honduras é uma das organizações da tal lista. A UD tem representação limitada no Congresso, mas é o único partido que apóia o regresso de Zelaya. Onde quer que ocorram manifestações violentas e bloqueios de estradas em apoio a Zelaya, é a UD”.

Então, Micheletti (a quem o jornal publicou uma coluna) disse a jornalistas em Tegucigalpa, durante uma entrevista dada aos meios, que "há um reconhecido partido político e uma organização sindical de trabalhadores que recebem apoio financeiro das FARC; temos as provas, que foram enviadas da Colômbia e, no devido momento, nós publicaremos”.

Após ter conhecido essa informação, os dirigentes da UD, que eu entrevistei, anunciaram que, com o apoio de amigos norteamericanos, procederão judicialmente, dentro e fora de Honduras, contra a mídia e as pessoas que acusam a instituição de receber dinheiro para financiar campanhas políticas.

Para aqueles que se dedicam ao jornalismo, é inédito e suspeito o fato de que um meio de comunicação se limite em anunciar provas e não as mostre aos seus leitores (O'Grady afirma que chegaram até sua mesa). Quando observamos estes comportamentos, podemos deduzir que é uma campanha detratora (quase sempre paga, naturalmente perversa e antitética) contra uma pessoa ou instituição, neste caso os alvos são a UD e Zelaya Rosales.

Lembro os leitores do The Wall Street Journal que os jornalistas do Terceiro Mundo não estão sentados atrás de uma mesa e levamos a vida em meio a cartéis das drogas, traficantes de seres humanos, ditadores como Micheletti que dão carta branca à polícia e aos militares para atacar às pessoas que exercem esta profissão.

Aqui na América Latina, os jornais que são sérios, apesar de não tão poderosos como os dos EUA, não anunciam listas e sim as publicam.

Por exemplo, muito antes que o The Wall Street Journal e o chefe do regime de Honduras anunciassem os alegados vínculos entre o Partido de Unificação Democrática e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, alguns meios de comunicação, dentre eles os blogs, divulgaram uma lista confidencial de Ministério da Defesa de Honduras, que contém o nome de Roberto Micheletti Bahinas por manter laços com o Cartel de Cali.

Micheletti, que tem o direito de defesa, ainda não expressou seu ponto de vista sobre a lista do Ministério da Defesa de Honduras.