"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Jornal El País contra a Venezuela



Samuel H. Carvajal Ruiz
Fonte: Rebelião


O poder mediático nacional e internacional não assimilou muito bem a chegada do comandante Chávez à Presidência da República em 1998. Passou uma década e ainda não se recompuseram. Desde então, não desistem de suas tentativas de expulsar do governo, por qualquer via, o presidente venezuelano. Um dos maiores grupos mediáticos e que não consegue absorver o fato de que Chávez se mantenha à frente do executivo venezuelano, é o Grupo Promotora de Informação S.A., corporação espanhola mais conhecida como Grupo Prisa, fundado por um velho franquista, Jesus de Polanco, que foi convertido por essa "mágica" da política que foi a "transição espanhola para a democracia", em paladino e promotor de todos os progressistas desse país, ou seja, outro “ilustre democrata” espanhol, a tal ponto que o jornal El Pais veio a se tornar em referência (‘A Bíblia’) obrigatória de um sector majoritário da “esquerda” e porta-voz do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), liderado por Felipe González.

O Grupo Prisa é proprietário do jornal El Pais. Este jornal é, talvez, o de maior circulação e o mais influente da Espanha e é um dos instrumentos utilizados, sistematicamente, para atacar o presidente Chávez, a Revolução Bolivariana e/ou qualquer outro aspecto ou ação relacionada com a Venezuela nascida da Assembléia Nacional Constituinte de 1999, que resultou na nossa atual Constituição e nas instituições democráticas derivadas dela.

Desde os laboratórios de guerra suja espanhóis são concebidas e executadas, repetidamente, campanhas mediáticas contra a Venezuela, desacreditando suas lideranças, escondendo as indiscutíveis conquistas da revolução nos campos político, econômico, cultural e social, apresentando as piores imagens do país sem qualquer escrúpulo ou consideração ética no exercício do tão cacarejado “jornalismo”. Em fim, o jornal El País, desde que Chávez se transformou em presidente pela vontade da maioria dos venezuelanos, está em guerra aberta contra a nossa democracia, contra as nossas instituições e, o que é pior, contra o nosso povo.

O El País, com o inestimável apoio dos seus escribas crioulos, colocou em marcha uma agenda de agressão, que vai desde ligar o governo e seus dirigentes com o tráfico de drogas proveniente da Colômbia, passando por um suposto vinculo com o “terrorismo”, até desfigurar a realidade nacional aos olhos de seus leitores, apresentando-nos como um povo violento, caótico e desrespeitoso dos direitos mais básicos do ser humano.

Esta máquina, que aponta seus canhões contra qualquer coisa que cheire a Venezuela, à figura do presidente e a suas obras de governo, assim como aos milhões de seguidores (que são a maioria do povo venezuelano), emprega, com toda a sua fúria, os diversos e poderosos recursos de que dispõe, para desacreditar a nossa vontade democrática de decidir o caminho que agora leva-nos rumo ao socialismo, e isso lhes dá desgosto. Mas seus bolsos doem muito mais e não há dúvida de que, com a chegada de Chávez à Presidência da República, seus suculentos negócios mantidos com diferentes instâncias do poder político e econômico da Quarta República tenham, progressivamente, diminuído. Também ressentem que seus lobistas nos Ministérios da Educação e Cultura estejam fora de circulação e, portanto, parte do monopólio sobre as políticas de educação da IV dirigido à compra de textos escolares que mantinham, sendo que até davam uma de ‘assessores’ das autoridades da época.

Algumas destas ações por parte do governo Chávez são as razões que o “pessoal” da Prisa reconhecem nelas uma verdadeira afronta aos seus interesses, ferimentos graves, digamos, dos seus negócios e aspirações de expansão do monopólio na Venezuela. A postura venezuelana tem se traduzido, neste tempo, em uma posição firme do governo revolucionário de reconquistar o controle estatal sobre áreas tão sensíveis como a cultural e, especificamente, da educação; este esforço tem ajudado para que Chávez seja considerado a pedra no sapato para as aspirações do monopólio da imprensa espanhola.

Atualmente o Grupo Prisa é dirigido pelo herdeiro de Jesus de Polanco, Ignacio Polanco, um dos seus filhos, um homem de poucas luzes e muitas dívidas, que imitando o a Miguel Henrique Otero (principal acionista do jornal El Nacional), levou o grupo, em apenas quatro anos, à beira da falência, à perda de uma parte substancial do patrimônio herdado de seu pai (certamente obtido na base de favores dos ‘felipistas’ do PSOE). Essas deficiências na gestão dos negócios do Grupo, foram traduzidas em: endividamento progressivo (hoje essa dívida é superior a 4bilhões de euros); venda de ativos para enfrentar a tempestade de credores (no mês passado teve que lhes pedir mais tempo, solicitando um novo adiamento para os bancos que exigem o pagamento da dívida da Prisa), em suma, um desastre econômico e financeiro que reduz a participação da família Polanco a escassos 30% das ações.

A besta ferida de morte descreve ao comandante Chávez como um dos obstáculos à expansão na América Latina do discurso da "prosperidade" e do "progresso" segundo a versão do Grupo Prisa; em outras palavras, a prosperidade dos próprios negócios e o progresso dos da sua classe. O exemplo, liderança e prédica contra a ganância destes monopólios e a favor de uma integração contrária às concebidas pelo neoliberalismo, são justificativas suficientes para que o Grupo Prisa, através do El País, o tenha como objetivo de sua metralhadora mediática.

Essa tem sido a vontade política das FARC desde sua origem. Mas,....



Palavras do Presidente Lula:

"Se, num continente como o nosso, um índio e um metalúrgico podem chegar à Presidência, por que alguém das Farc, disputando eleições, não pode?"

Fonte: Jornal Estado de São Paulo, 24/08/2010

domingo, 29 de agosto de 2010

Ibope: "O Brasil já tem uma presidente. É Dilma Rousseff"

Há exatamente um ano, o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, declarou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não faria o sucessor, apesar da alta popularidade. Na ocasião, o responsável por um dos mais tradicionais institutos de pesquisas do País assegurava que o presidente não conseguiria transferir seu prestígio pessoal para um “poste”, como tratava a ex-ministra Dilma Rousseff.

Agora, a um mês das eleições e respaldado por números apresentados em pesquisas diárias, Montenegro faz um mea-culpa. “Errei e peço desculpas. Na vida, às vezes, você se engana”, afirmou, em entrevista aos repórteres Octávio Costa e Sérgio Pardellas, da IstoÉ. “O Brasil já tem uma presidente. É Dilma Rousseff.”

Segundo Montenegro, a ex-ministra da Casa Civil vem se conduzindo de forma convincente e confirma, na prática, o que o presidente disse sobre ela na entrevista concedida à IstoÉ na primeira semana de agosto: “Lula acertou. Dilma é um animal político. Está mostrando muito mais capacidade do que os adversários.”

O tucano José Serra, na opinião do presidente do Ibope, faz uma campanha sem novidade, velha e antiga. “O PSDB está perdido”, assegura. Neste fim de semana, o Ibope vai divulgar uma nova pesquisa, que confirmará a categórica vantagem da petista. “Fazemos pesquisas ­diárias. E Dilma não para de crescer. Abriu 20 pontos em Minas, onde Serra já esteve na frente. Empatou em São Paulo, mas ali também vai passar. Essa eleição acabou”, conclui Montenegro.

Confira trechos de sua entrevista.

IstoÉ: O sr. disse que o presidente Lula não conseguiria transferir seu prestígio para a ex-ministra Dilma Rousseff, mas as pesquisas mostram o contrário. O sr. ainda sustenta que o presidente não fará o sucessor?
Carlos Augusto Montenegro: Eu nunca vi, em quase 40 anos de Ibope, uma mudança na curva, como aconteceu nesta eleição, reverter de novo. Por mais que ainda faltem 30 e poucos dias para a eleição, o Brasil já tem uma presidente. É Dilma Rousseff. Ela tem 80% de chances de resolver a eleição no primeiro turno. Mas, se não for eleita agora, será no segundo turno.

IstoÉ: A que o sr. atribui essa virada?
Montenegro: Houve uma série de fatores. Primeiro a transferência do Lula, que realmente vai sair como o melhor presidente do Brasil. Um pouco acima até do patamar de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek. O segundo ponto é o preparo da candidata Dilma. Ela tem mostrado capacidade de gestão, equilíbrio, tranquilidade e firmeza.

A terceira razão é seu bom desempenho na televisão, inclusive nos debates e entrevistas. Lula acertou ao dizer, em entrevista à IstoÉ, que ela era um animal político. Está mostrando muito mais capacidade que os adversários e mostra que tem preparo para ser presidente.

IstoÉ: Mas há um ano o sr. declarou que Lula dificilmente faria o sucessor.
Montenegro: Errei. Eu dizia de uma forma clara que, apesar de o Lula estar bem, ele não elegeria um poste. Foi uma declaração extemporânea, descuidada e muito mais fundamentada num pensamento político do que com base em pesquisas. Foi um pensamento meu. Acho que eu tinha o direito de pensar daquela forma, mas não tinha o direito de tornar público. Peço desculpas. Na vida, às vezes, você se engana.

IstoÉ: O que mais o surpreendeu desde o momento do lançamento das candidaturas?
Montenegro: A oposição errou e essa é a quarta razão para o sucesso de Dilma. A campanha do Serra está velha e antiga. Não tem novidade. O PSDB repete 2002 e 2006. Está transmitindo para o eleitor uma coisa envelhecida. Vejo um despreparo total. O PSDB está perdido, da mesma forma que o Lula ficou nas eleições de 1994 e 1998 contra o Plano Real. Na ocasião, ele não sabia se criticava ou se apoiava e perdeu duas eleições.

IstoÉ: O bom momento da economia, a geração de empregos e o consumo em alta não fazem do governo Lula um cabo eleitoral imbatível?
Montenegro: Essa, para mim, é a razão principal. O Brasil nunca viveu um momento tão bom. E as pessoas estão com medo de perder esse momento. O Plano Real acabou derrotando o Lula duas vezes. Mas o Lula, com o governo dele, sem querer ou por querer, acabou criando um plano que eu chamo de imperial. É o império do bem, em que cerca de 80% a 90% das pessoas pelo menos subiram um degrau.

Quem não comia passou a comer uma refeição por dia, quem comia uma refeição passou a fazer duas, quem nunca teve crédito passou a ter crédito, quem andava a pé passou a andar de bicicleta ou moto, quem tinha carro comprou um mais novo e quem nunca viajou de avião passou a viajar. Os industriais também estão felizes, vendendo o que nunca venderam. Os banqueiros idem.

IstoÉ: Mas esse fator não pesou logo de início, quando os candidatos lançaram os seus nomes e Serra permaneceu vários meses na frente.
Montenegro: No início, houve transferência do Lula. Mas, de uns três meses para cá, o Lula está associando o êxito dele ao êxito do governo como um todo. E está mostrando que Dilma é a gestora desse governo. O braço direito dele. E as pessoas estão confiantes nisso e não estão querendo perder o que ganharam.

IstoÉ: É possível dizer então que o programa de TV do PT é mais eficiente do que o da oposição?
Montenegro: A TV ajudou na consolidação. Mas a virada de Dilma Rousseff na corrida para presidente da República se deu antes da TV. Pelo menos antes do horário eleitoral gratuito.

IstoÉ: Isso derruba o mito de que o programa eleitoral é capaz de virar a eleição?
Montenegro: Quando a eleição é disputada por candidatos pouco conhecidos, ele pode ser decisivo, sim. Por exemplo, a televisão está ajudando a eleição de Minas Gerais a se tornar mais dura. O Aécio está entrando agora, o Anastasia é o governador e eles estão mostrando as realizações do governo. Por isso, o Anastasia está crescendo.

O Hélio Costa largou na frente porque já era uma pessoa muito mais conhecida do que o Anastasia. Mas, quando você pega uma eleição em que todos os candidatos são bem conhecidos, o uso da TV é muito mais de manutenção e preenchimento do que para proporcionar uma virada.

IstoÉ: E os debates? Eles podem mudar a eleição?
Montenegro: Só se houvesse um desastre. Cada eleitor acha que o seu candidato teve desempenho melhor. Vai ouvir o que está querendo ouvir. Já conhece as propostas anunciadas durante a propaganda eleitoral. Falando especificamente dessa eleição presidencial, repito que a população está de bem com a vida. Quer continuar esse bom momento. O Brasil quer Dilma presidente.

IstoÉ: A candidatura de Marina Silva não tem força para levar a eleição até o segundo turno?
Montenegro: Cada vez mais a vitória de Dilma no primeiro turno fica cristalizada. Temos pesquisas diárias que mostram que essa eleição presidencial acabou.

IstoÉ: O fato de Dilma nunca ter disputado uma eleição não deveria pesar a favor de José Serra?
Montenegro: No Chile, Michele Bachelet tinha 80% de aprovação, mas não conseguiu fazer o sucessor. Por quê? Porque ele tinha passado. Já tinha concorrido. Quando você concorre, você pega experiência por um lado, mas a pessoa deixa de ser virgem, politicamente falando. Sempre há brigas que você tem que comprar e vem a rejeição. No caso da Dilma, o fato de ela nunca ter concorrido, ter sido sempre uma gestora, uma técnica, precisando só exercitar o seu lado político, ajudou muito.

IstoÉ: Em que medida o fato de Dilma ser mulher a ajudou nessas eleições?
Montenegro: Acho que não ajudou muito. Mas é algo diferente. O Brasil já tem implementado coisas novas na política, como foi a eleição de um sindicalista. É um fato interessante, mas a competência do Lula e da Dilma ajudaram muito mais.

IstoÉ: O atabalhoado processo de escolha do vice na chapa do PSDB prejudicou a candidatura de José Serra?
Montenegro: Não. Nunca vi vice ganhar eleição. Nem perder.

IstoÉ: O sr. acredita que Lula possa puxar votos para candidatos do PT nos estados, como em São Paulo, por exemplo?
Montenegro: Acho muito difícil. O Lula tinha toda essa popularidade em 2008, apoiou a Marta e ela perdeu do Gilberto Kassab, que estava fazendo uma boa administração.

Fonte: IstoÉ

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O VICE-PRESIDENTE COLOMBIANO RECHAÇA A MEDIAÇÃO DA UNASUL PROPOSTA PELAS FARC-EP


Angelino Garzón denegou a vontade das FARC de apresentar sua visão do conflito armado perante a Unasul como uma ponte entre o grupo rebelde e Bogotá, visto que o Executivo colombiano mantém fechada a porta para o diálogo e anunciou que o Governo não tratará a questão até não demonstrarem que querem a paz.

Fonte: TeleSUR



O vice-presidente colombiano, Angelino Garzón, nesta segunda-feira rejeitou a iniciativa de líderes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) de apresentar o conflito bélico perante a União das Nações Sulamericanas (Unasul) e, em vez disso, salientou que o seu governo decide enfrentar esses temas sem intermediários.

Garzon pediu que as FARC libertem os prisioneiros sem colocar nenhum tipo de condições e exigiu o fim dos “sequestros” e a existência de minas terrestres antipessoal, em suas primeiras declarações como vice-presidente e após sofrer uma intervenção cirúrgica no coração, há duas semanas.

“O governo colombiano exige que à guerrilha que liberte os sequestrados incondicionalmente; que cessem a atividade de sequestro e as minas terrestres antipessoal; que cessem também a atividade de recrutamento de crianças, que é uma expressão moderna de escravidão, além que sejam capazes de dizer ao povo colombiano que a violência não faz sentido”, disse ele nesta segunda-feira.

Garzón disse que as FARC devem demonstrar que desejam alcançar a paz se quiserem alcançar um diálogo com o governo colombiano e acrescentou que essas questões são dirigidas pelo próprio presidente Juan Manuel Santos.

Na segunda-feira, os membros do grupo rebelde publicaram uma carta, através do site da Agência de Notícias Nova Colômbia (ANNCOL), na qual solicitam à União de Nações Sulamericanas (Unasul) que convoque uma assembléia para dar a conhecer a sua visão das décadas de conflito armado na Colômbia.

“Senhores Presidentes: quando acharem oportuno, estamos dispostos a expor a nossa visão sobre o conflito colombiano em uma assembléia da Unasul”, informa a carta aberta do Secretariado do Estado Maior Central das FARC.

Na mesma carta, as FARC reiteraram seu interesse de buscar uma “solução política para o conflito”, porque consideram que “a paz da Colômbia é a paz do continente”, embora o Governo mantenha fechada a possibilidade de diálogo.

A publicação dirigida ao governo colombiano e aos outros onze países que compõem o grupo regional, expressa críticas à presença estrangeira no país e destaca a possibilidade de uma crise humanitária devido à violência.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

As Nações Unidas e o próximo relatório do Banco Mundial dão a razão às FARC- EP


Fonte: ANNCOL


Desde as primeiras marchas camponesas, em meados dos anos sessenta, que deram origem à insurgência fariana, desde os primeiros comunicados públicos de que se tem conhecimento, enunciou-se, uma das que seria a reivindicação mais famosa da insurgência colombiana, criada pelos marquetalianos: a reforma agrária.

Desde aqueles tempos remotos, todo tipo de planos de guerra já foram implementados para destruir esta insurgência, desde o plano LASO, até chegar ao Plano Consolidação, continuação do Plano Colômbia. Especialistas em questões sociais sustentam que a melhor maneira de acabar com uma rebelião em uma nação qualquer, é lutar com decisão política para anular as reivindicações insurgentes, ou seja, fazer cumprir, desde o Estado ou do regime político, o princípio da recuperação do caráter público da ação do Estado, ou do benefício geral.

Na Colômbia, o princípio tem sido outro. Cinco por cento das famílias mais ricas do país governa em funçã dos seus interesses de classe, em detrimento dos interesses de 95% do povo trabalhador. Nestas condições, a privatização da riqueza e socialização da miséria, é difícil para um estado como o colombiano anular a presença da rebelião e da insurgência com tanta camarilha no território pátrio.

Todos esses planos de guerra fracassaram, mesmo com toda a tecnologia de ponta, com aviões e uma máquina de guerra de última geração, não puderam com os filhos e seguidores daqueles 64 homens e mulheres, que desde Marquetália apregoavam, com razão, que na Colômbia nunca haverá paz enquanto não houver reforma.

Muitos estudos sérios foram feitos sobre o assunto, a Universidade Nacional da Colômbia tem contribuído significativamente nesta área, nenhum desses estudos foi lido pela oligarquia colombiana, esperamos que o novo ministro da Agricultura, Juan Camilo Restrepo, tire um tempo para ler pelo menos um, ou algum dos volumes, do legado de homens que, como o sociólogo Orlando Fals Borda, em sua “história dupla da costa”, deixaram para a história da luta pela terra no país.

A luta pela terra é hoje, a disputa mais feroz. Digamos que o núcleo da luta de classes na atual crise do capitalismo e, em busca de novos mercados e novas metas para seus capitais. Não só na Colômbia, mas em todo o mundo, essa foi a sensação que ficou ao escutar o relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter, que sucede o sociólogo suíço Jean Ziegler.
O senhor Schutter, que teve o privilégio de ler o relatório do Banco Mundial sobre a terra antes de ser publicado, argumenta que a situação da terra é tão grave que o próprio Banco Mundial faz um ato de contrição em seu relatório sobre os conselhos dados aos investidores estrangeiros para investir nos país em vias de desenvolvimento. O continente Africano nos dá uma idéia da dimensão do problema, para não ir tão longe, no Sudão, onde o presidente precedeu a Uribe ao ser objeto de uma CPI, os investidores estrangeiros controlam quatro milhões de hectares, a maioria deles expropriados em áreas de controle paramilitar. O relator sobre o Direito à Alimentação, diz que das terras da África, 80% está em mãos de investidores estrangeiros (públicas, privadas, mistas, multinacionais), após a crise alimentar de 2008, muitos fundos de investimento foram implantados na África e em outros paises em desenvolvimento para se apoderar das terras.

O pior é que estes investimentos não criam um emprego sequer, como apregoam os traidores da pátria, que abriram as pernas para as multinacionais e às potências estrangeiras para entregar o território e a soberania nacional, sob o pretexto da confiança dos investidores e da criação de novos empregos.

Estas multinacionais e capitais que vão a busca da terra, os leitores de ANNCOL devem ter em mente, as multinacionais do óleo de palmeira, bananas, dos supostos agrocombustíveis, tem o mesmo modus operandi em todo o mundo. Primeiro, a ofensiva na guerra, a criação de grupos paramilitares, o deslocamento em massa, os massacres, a expropriação e a reforma agrária oligárquica, o que significa entregar as melhores terras para estrangeiros e nativos servis.

Na Colômbia, tivemos o exemplo do uribista Arias, o selvagem do Agro Ingresso Seguro dado aos paramilitares, mafiosos e a famílias ilustres que ajudaram a eleger Álvaro Uribe Vélez (vulgoAlias o Rábula, como agora é chamado em vista da enxurrada de processos contra seus inimigos políticos).

O prestigiado jornal de negócios Financial Times do mês de julho, e que nada tem de fariano, denuncia o mesmo que denunciaram na sua época os marquetalianos dos anos sessenta, que as terras mais férteis do mundo estão caindo nas mãos de investidores, em detrimento das populações locais que vivem em penúria de alimentos. A China, por exemplo, vê como os alimentos começam a escassear no seu território e, para remediar o problema, aluga ou compra terras, assim como acontece em Uganda, Camarões e Moçambique, onde o monstro asiático importou até seus próprios camponeses, isto é, não foi criado nenhum emprego .

A confiança dos investidores, da qual se regozijam os traidores da pátria, como Uribe Vélez e Cia, não outra coisa do que a flexibilização da legislação, impostos baixos para as multinacionais, em detrimento dos trabalhadores locais.

As multinacionais, segundo a denúncia do Financial Time e do próximo relatório do Banco Mundial, alertam sobre a condenação à penúria e à fome que esta dinâmica leva para os camponeses dos países pobres.

Na Colômbia ocorre a mesma coisa que na África. As multinacionais, os paramilitares e os amigos do governo estão ficando com as melhores terras. Às populações ancestrais, que têm a propriedade da terra, se lhes está exigindo documentos que demonstrem a propriedade sobre a terra, quando é sabido que estas comunidades preexistem aos cartórios.

Se lermos o programa agrário das FARC-EP, a Agenda para a Nova Colômbia e os relatórios de El Caguán, além de ler e ouvir especialistas sobre o assunto, percebe-se toda a razão da insurgência colombiana em sua principal reivindicação sobre a reforma agrária.

O regime colombiano tem a palavra, ou continuamos com esta maldita guerra fratricida ou colocam-se sobre a mesa os problemas cruciais que, desde os anos sessenta, foram descritos pela insurgência, pelo movimento popular ou pelo movimento camponês indígena colombiano.

O novo ministro da Agricultura deve tomar nota, a terra é para quem trabalha.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

FARC PRONTA PARA FALAR NA ASSEMBLÉIA DE UNASUL




Fonte: ANNCOL


A ofensiva diplomática das FARC a toda velocidade. Enquanto por um lado o governo colombiano fecha as portas para as conversações sobre o conflito social e armado, as FARC batem em outra porta.
Infelizmente, a OEA e a ONU continuam sob as orientações do capitalismo selvagem. Há pouco ou nada a fazer nestes espaços supostamente "democráticos". Anteriormente as FARC enviaram cartas à ONU, sem respostas até agora .

Leiamos:


Carta aberta das FARC-EP à UNASUL


Embora o governo da Colômbia mantenha fechada a porta ao diálogo com a insurgência estimulado pela miragem de uma vitória militar e a ingerência de Washington, queremos reiterar à União das Nações do Sul, UNASUL, a nossa firme determinação na busca de uma solução política para o conflito.

É um facto que o conflito se expandiu, há anos, para além das fronteiras da nossa pátria, como resultado das estratégias “preventivas” impostas a Bogotá pelo governo dos EUA. Se hoje a Colômbia está ocupada militarmente por uma potência estrangeira, é pelo desenvolvimento de interesses geoestratégicos, de predominancia continental, e não por causa de uma guerra local contrainsurgênte. Ninguém discute que a Casa Branca assume com preocupação a presença política, cada vez maior neste hemisfério, de governos optam pelo decoro pátrio e pela soberania.

Em nosso país, o Plano Colômbia, a estratégia neoliberal, a violência institucional e párainstitucional, agravaram o conflito a níveis inimagináveis, o que torna muito difícil superar esta fase de confronto fratricida sem a ajuda dos países irmãos.

O drama humanitário da Colômbia clama pela mobilização e solidariedade continental. A obsessão oligárquica de submeter militarmente à guerrilha, por mais de 46 anos, e a implementação de políticas belicossas e repressivas de Washington tem custado inúmeros massacres, valas comuns como a de La Macarena, que esconde mais de 2.000 cadáveres: a maior da América Latina. Crimes de lesa humanidade, eufemisticamente chamados de "falsos positivos"; o deslocamento forçado de cinco milhões de camponeses; desaparecimentos de cidadãos por razões políticas; prisões arbitrárias e 30 milhões de pobres em um país com 44 milhões de habitantes...

Alguns se referem frequentemente à obsolescência da luta armada revolucionária, mas não dizem nada sobre as condições e garantias para a luta política na Colômbia. Outros apontam a ameaça na insurgência e não na estratégia neocolonial do governo dos EUA, parecendo ignorar que, com a guerrilha ou sem ela, o Império continuaria com a sua agenda de predomínio. E há também há os favoráveis a pressionar só uma das partes litigantes, quase sempre a insurgência.

A paz com justiça social e não a guerra pela guerra, tem sido o objetivo estratégico das FARC desde a sua criação em 1964, em Marquetalia. Se as conversações de paz em Casa Verde, Caracas, Tlaxcala e El Caguán não chegaram a um final feliz, foi porque a oligarquia não quis considerar nenhuma mudança nas injustas estruturas políticas, economicas e sociais que motivaram o levantamento. Hoje enfrentamos, levantando bandeiras políticas inquestionáveis, a maior máquina bélica que jamais nenhuma guerrilha enfrentou, mas sempre lutando a possibilidade de uma solução política.

Senhores Presidentes, quando acharem oportuno, estamos dispostos a expor nossa visão sobre o conflito colombiano em uma assembléia da UNASUL.

A paz na Colômbia é a paz no continente.

Recebam nossas saudações

Atenciosamente,

Compatriotas

Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP


Montanhas da Colômbia, Agosto de 2010,

Ano bicentenario do grito de independência.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Colômbia: acordo militar com os EUA é inconstitucional

Corte Constitucional colombiana divulgou esta semana o resultado da sentença sobre a inconstitucionalidade do acordo militar que permitia aos Estados Unidos operar em sete bases colombianas, desde 30 de outubro de 2009. O acordo, que já se encontra sem efeito desde o dia 17 de agosto, precisará ser aprovado pelo Congresso Nacional para que seja afirmada ou negada sua validade. Na avaliação da Corte, acordo "afeta de maneira evidente a soberania nacional".

Natasha Pitts

Conforme previsto, a Corte Constitucional colombiana divulgou terça-feira (17) o resultado da sentença sobre a inconstitucionalidade do acordo militar que permitia aos Estados Unidos operar em sete bases colombianas, desde 30 de outubro de 2009. O acordo, que já se encontra sem efeito deste ontem, precisará ser aprovado pelo Congresso Nacional para que seja afirmada ou negada sua validade.

No início de outubro de 2009, o Conselho de Estado já havia alertado o governo colombiano para a necessidade de que o ‘Acordo Complementar para a Cooperação e Assistência Técnica em Defesa e Segurança’ fosse renegociado, já que afetava de maneira evidente a soberania nacional. Além disso, emitiu um conceito em que recomendou que os trâmites fossem resolvidos junto ao Congresso da República.

Mesmo com todas as orientações e recomendações e ignorando o Conselho de Estado, o governo de Álvaro Uribe passou por cima da Constituição colombiana e firmou o contrato com o governo estadunidense, dando o aval para a entrada de cerca de 800 militares, 600 civis, além de navios e aviões do exército dos EUA.

"Desta forma se comprova que sim, tinham fundamento os questionamentos que amplos setores democráticos da população colombiana e estadunidense vinham fazendo sobre o acordo militar e sobre a forma mansa com que o governo de Uribe, com seu então ministro de Defesa hoje presidente, Juan Manuel Santos, pretendia renunciar à soberania nacional", reflete a Coalizão Colômbia Não Bases, que nasceu para combater a instalação de bases militares no território colombiano.

Pela junção de todas as ilegalidades, a presidente da Corte Constitucional, Mauricio González, declarou que o acordo é contrário às praxes constitucionais e por não ter sido avalizado pelo Congresso não pode surtir efeitos na ordem jurídica interna do país até que seja sanada a exigência. Conforme acrescentou a Coalizão Colômbia Não Bases em notícia publicada ontem, como o acordo já vinha sendo executado "deverão ser retiradas as tropas e equipes estrangeiras das bases militares colombianas".

O acordo foi devolvido ao presidente Juan Manuel Santos e a partir da data da liberação da sentença o governo terá um ano para retificá-lo e para que o mesmo tramite junto ao Congresso. No caso de ser enviado e aprovado pelo Congresso, de maioria oficialista, deverá ser submetido a um novo exame do tribunal.

Ciente do resultado da sentença, o governo nacional, por meio do ministro de Defesa, Rodrigo Rivera, anunciou que acata a sentença e "estudará detalhadamente dita decisão à luz das normas do direito internacional, dos acordos vigentes e das demais normas aplicáveis".

Segundo informações da agência AFP, durante pronunciamento, o governo nacional deixou claro que a decisão da Corte "não afeta os acordos previamente subscritos e vigentes com os Estados Unidos", os quais "se vêm cumprindo e seguirão sendo cumpridos de boa fé".

Após a liberação da sentença, o advogado Luis Guillermo Pérez, do Coletivo jurídico José Alvear Restrepo Cajar, ONG que havia pedido por própria conta a declaração de inconstitucionalidade, reforçou a postura de que os colombianos precisam "resolver o conflito por seus próprios meios". O advogado também relembrou que a ocupação estadunidense no país nunca havia sido analisada de modo adequado e criticou o fato de a população ignorar o que os militares faziam na região.

(*) Jornalista da Adital

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

"Reforma Agrária Popular exige novo modelo de desenvolvimento"

Em entrevista ao jornal Brasil de Fato, o dirigente nacional do MST e da Via Campesina analisa o atual cenário eleitoral e aponta os interesses em disputa. “Como militantes sociais, e como movimentos sociais, temos a obrigação política de derrotar a candidatura Serra”, diz Stédile. A vitória da Dilma, acrescenta, permitirá um cenário mais favorável para o país avançar em conquistas sociais, inclusive em mudanças na política agrícola e agrária. Uma reforma agrária popular, diz ainda, "depende de um novo modelo de desenvolvimento, que tenha distribuição de renda, soberania nacional, rompimento com o domínio do capital estrangeiro sobre a agricultura e a natureza".

Nilton Viana - Brasil de Fato

A candidatura de José Serra (PSDB) representa o núcleo central dos interesses da burguesia e a volta do neoliberalismo. Esta é a avaliação João Pedro Stedile. Em sua primeira entrevista ao Brasil de Fato, o dirigente nacional do MST e da Via Campesina constata que, no atual cenário eleitoral, as candidaturas não estão debatendo programas, projetos para a sociedade.

Mas, segundo ele, elas representam claramente interesses diversos de forças sociais organizadas. Nesse sentido, Stedile afirma que Serra representa os interesses da burguesia internacional, da burguesia financeira, dos industriais de São Paulo, do latifúndio atrasado, com Katia Abreu de coordenadora de finanças e setores do agronegócio do etanol. E, frente a esse cenário, defende que, “como militantes sociais, e como movimentos sociais, temos a obrigação política de derrotar a candidatura Serra”.

Com a implementação do modelo neoliberal, os bancos e o capital financeiro aumentaram seus lucros e passaram a dirigir a economia do Brasil, que se sustenta na política de juros altos, meta de inflação, arrocho fiscal e política de exportações. Quais as consequências desse modelo?

Estamos vivendo a etapa do capitalismo que se internacionalizou, dominou toda a economia mundial sob a hegemonia do capital financeiro e das grandes corporações que atuam em nível internacional. O mundo é dominado por 500 grandes empresas internacionalizadas, que controlam 52% do PIB mundial e dão emprego para apenas 8% da classe trabalhadora. As consequências em nível mundial são um desastre, pois toda população e os governos nacionais precisam estar subordinados a esses interesses. E eles não respeitam mais nada, para poder aumentar e manter suas taxas de lucro.

Seus métodos vão desde a apropriação das riquezas naturais, deflagração de conflitos bélicos para manter as fontes de energias e controle do Estado, para se apropriarem da mais-valia social ou poupança coletiva através dos juros que os estados pagam aos bancos. No Brasil, a lógica é a mesma.

Com um agravante, sendo uma economia muito grande e dependente do capital estrangeiro, aqui o processo de concentração de capital e de riqueza é ainda maior. Esta é a razão estrutural do porquê – apesar de sermos a oitava economia mundial em volume de riquezas – estamos em 72º lugar nas condições médias de vida da população e somos a quarta pior sociedade do mundo em desigualdade social. Portanto, essa fase do capitalismo, em vez de desempenhar um papel progressista no desenvolvimento das forças produtivas e sociais, como foi a etapa do capitalismo industrial; agora, os níveis de concentração e desigualdade só agravam os problemas sociais.

Mesmo com a eleição de governos mais progressistas, o Estado brasileiro mantém seu caráter antipopular, sem a realização de mudanças mais profundas que resolvam os problemas estruturais do país. Como você avalia a democracia e o Estado no Brasil?

Primeiro, há uma lógica natural do funcionamento da acumulação e da exploração do capital que sobrepõe os governos e as leis. Segundo, no período neoliberal, o que o capital fez foi justamente isso, privatizar o Estado. Ou seja, a burguesia transformou o Estado em seu refém, para que ele funcione apenas em função dos interesses econômicos. E sucateou o Estado nas áreas de políticas públicas de serviços que servem a toda população, como educação, saúde, transporte público, moradia etc. Por exemplo, temos 16 milhões de analfabetos. Para alfabetizá-los, custaria, no máximo, uns R$ 10 bilhões. Parece muito – o Estado, com todo seu aparato jurídico impede de aplicar esse dinheiro –, mas isso representa duas semanas do pagamento de juros que o Estado faz aos bancos. Construímos viadutos e estradas em semanas, mas para resolver o deficit de moradias populares é impossível? Temos ainda 10 milhões de moradias faltando para o povo.

Por último, a sociedade brasileira não é democrática. Nós nos iludimos com as liberdades democráticas de manifestação, que conquistamos contra a ditadura, que foram importantes. Mas a verdadeira democracia é garantir a cada e a todos cidadãos direitos e oportunidades iguais, de trabalho, renda, terra, educação, moradia e cultura. Por isso, mesmo quando elegemos governos com propostas progressistas, eles não têm força sufi ciente para alterar as leis do mercado e a natureza do Estado burguês.

Na política internacional, o governo Lula investiu na relação com países do hemisfério Sul, com o fortalecimento do Mercosul e da Unasul, por exemplo. Qual a sua avaliação dessa política e quais os seus limites?

O governo Lula fez uma política externa progressista no âmbito das relações políticas de Estado. E uma política dos interesses das empresas brasileiras, nos seus aspectos econômicos. Comparado às políticas neoliberais de FHC, que eram totalmente subservientes aos interesses do imperialismo, isso é um avanço enorme, pois tivemos uma política soberana, decidida por nós.

Na política, se fortaleceram os laços com governos latinos e daí nasceu a Unasul para a América do Sul, e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) para todo o continente, excluindo-se os Estados Unidos e o Canadá. Esses dois organismo representam o fim da OEA. Aliás, já tarde. Na economia se fortaleceram laços econômicos com países do Sul. Mas ainda precisamos avançar mais na construção de uma integração continental que seja de interesse dos povos, e não apenas das empresas brasileiras, ou mexicanas e argentinas.

Uma integração popular latino-americana no âmbito da economia será o fortalecimento do Banco do Sul, para substituir o FMI. O banco da Alba, para substituir o Banco Mundial. E a construção de uma moeda única latino-americana, como é proposto pela Alba, através do sucre, para sair da dependência do dólar. Se queremos independência e soberania econômica nas relações internacionais e latino-americanas, é fundamental colocarmos energias para derrotar o dólar.

O dólar foi fruto da vitória estadunidense na segunda guerra mundial e tem sido, nessas décadas todas, o principal mecanismo de espoliação de todos os povos do mundo. Num aspecto mais amplo, o presidente Lula tem razão: as Nações Unidas não representam os interesses dos povos, e por isso é besteira o Brasil sonhar em ter a presidência. Precisamos é construir novos e mais representativos organismos internacionais. Mas isso não depende de propostas ou vontade política. Depende de uma nova correlação de forças mundial, em que governos progressistas sejam maioria. E hoje não são.

O sistema de televisão e rádio é extremamente concentrado no Brasil, em comparação até com os outros países da América Latina. Quais as consequências disso para a luta política?

Durante o século 20, hegemonizado pela democracia republicana e pelo capitalismo industrial que produziu uma sociedade de classes bem definida, a reprodução ideológica da burguesia se dava pelos partidos políticos, pelas igrejas e pelos sindicatos e associações de classe. Agora, na fase do capitalismo internacionalizado e financeiro, a reprodução da ideologia dominante se dá pelos meios de comunicação, em especial redes de televisão e as agências internacionais de noticias.

A burguesia descartou os outros instrumentos e prioriza estes, os quais tem controle total. Por isso, no Brasil, na América Latina e em todo o mundo, os meios de comunicação estão sob controle absoluto das burguesias. E eles usam como reprodução ideológica, como fonte de ganhar dinheiro e como manipulação política. E como seus patrões estão internacionalizados, suas pautas e agendas estão também centralizadas.

Por isso, a construção de um regime político mais democrático, mesmo nos marcos do capitalismo, depende fundamentalmente da democratização dos meios de comunicação. Isso é fundamental para garantir o direito ao acesso à informação honesta e impedir a manipulação das massas. E os governos deveriam começar eliminando a publicidade estatal, em qualquer nível, em qualquer meio de comunicação. É uma vergonha o que se gasta em publicidade oficial. No Paraná, para se ter uma ideia, em oito anos de governo Lerner [1995-2002], o Estado pagou mais de R$ 1 bilhão em publicidade para dois ou três grupos de comunicação.

As grandes cidades brasileiras enfrentam problemas como falta de habitação, saneamento básico, escolas, hospitais, além de trânsito e violência. Como você analisa a questão urbana?

A maior parte da população se concentra nas grandes cidades, e aí estão concentrados também os pobres e os maiores problemas resultantes desse modelo capitalista, e de um Estado que atua somente em favor dos ricos. Os pobres das grandes cidades se amontoam nas periferias, não têm direito a moradia, escola, transporte público decente, trabalho, renda. Nem a lazer. Sobram os programas de baixaria da televisão como lazer. Nesse contexto é evidente que o sistema gera um ambiente propício para o narcotráfico, para a violência social.

E o Estado, o que tem feito através dos mais diferentes governos?

A única resposta tem sido a repressão. Mais polícia, mais violência oficial, mas cadeia. As cadeias estão cheias de pobres, jovens, mulatos ou negros. Há uma situação insustentável de tragédia social. Todos os dias assistimos os absurdos da desigualdade social, do descaso do Estado e da truculência do capital.

As estatísticas são aterrorizantes: 40 mil assassinatos por ano nas grandes cidades, a maioria pela polícia. Por isso os movimentos sociais apoiaram a campanha pelo desarmamento. Mas a força das empresas bélicas financiou deputados, campanhas etc., e o povo caiu na ilusão de que o problema da violência urbana se resolveria tendo o direito de ter arma.

Acredito que a pobreza e a desigualdade nas grandes cidades brasileiras é o problema social mais grave que temos. Infelizmente nenhum candidato está debatendo o tema, nem quando o debate é para prometer segurança! Segurança para quem? As famílias precisam de segurança de trabalho, renda, escola para os filhos.

Nas eleições presidenciais, o quadro apresenta duas candidaturas que polarizam a disputa, enquanto as outras não demonstram força para mudar essa situação. Nessa conjuntura, quem abre melhores perspetivas para a classe trabalhadora e para a reforma agrária?

As candidaturas não estão debatendo programas, projetos para a sociedade. Mas as candidaturas representam claramente interesses diversos de forças sociais organizadas. Serra representa os interesses da burguesia internacional, da burguesia financeira, dos industriais de São Paulo, do latifúndio atrasado, com sua Katia Abreu de coordenadora de finanças, e setores do agronegócio do etanol.

Dilma representa setores da burguesia brasileira que resolveram se aliar com Lula, setores mais arejados do agronegócio, a classe média mais consciente, e praticamente todas as forças da classe trabalhadora organizada. Vejam, apesar de toda popularidade do Lula, nessa campanha, a Dilma reuniu mais forças da classe trabalhadora do que na eleição de 2006.

A candidatura da Marina representa apenas setores ambientalistas e da classe média dos grandes centros, e por isso seu potencial eleitoral não decola. E temos três candidaturas de partidos de esquerda, com companheiros de biografia respeitada de compromisso com o povo, mas que não conseguiram aglutinar forças sociais ao seu redor, e por isso, o peso eleitoral será pequeno.

Nesse cenário, nós achamos que a vitória da Dilma permitirá um cenário e correlação de forças mais favoráveis a avançarmos em conquistas sociais, inclusive em mudanças na política agrícola e agrária. E evidentemente que nesse cenário incluímos a possibilidade de um ambiente propício para maior mobilização social da classe trabalhadora como um todo, para a obtenção de conquistas. Como militantes sociais, e como movimentos sociais, temos a obrigação política de derrotar a candidatura Serra, que representa o núcleo central dos interesses da burguesia e a volta do neoliberalismo.

O MST apresentou uma avaliação de que a luta eleitoral não é sufi ciente para a realização das mudanças sociais. Por outro lado, analisa que é um momento importante no debate político. Como o MST vai se envolver nessas eleições?

A esquerda brasileira, os movimentos sociais e políticos ainda estão aturdidos com a derrota político-ideológica-eleitoral que sofremos em 1989. Isso levou a muitas confusões, e também a alguns desvios de setores da classe. Vivemos um período da história da luta de classes de nosso país – e poderíamos dizer em nível internacional, na maioria dos países – em que a estratégia para conseguir acumular forças para mudanças sociais é a combinação da luta institucional com a luta social.

Na luta institucional, compreendemos a visão gramsciana na qual os interesses da classe trabalhadora precisam disputar e ter hegemonia na disputa de governos nos três níveis: municipal, estadual e federal. Nos espaços do conhecimento, universidade, meios de comunicação. Nos sindicatos, igrejas e outras instituições da sociedade de classes. E a luta social são todas as formas de mobilização de massa, que possibilitam o desenvolvimento da consciência de classe e a conquista de melhores condições de vida – sabendo que elas dependem de derrotar os interesses do capital.

Pois bem, o que aconteceu no último período? Parte da esquerda e da classe trabalhadora priorizou a luta institucional da disputa apenas de governos e menosprezou, desdenhou a luta social. E parte dos movimentos sociais, desencantado com a crise ideológica, desdenhou a luta institucional, como se a luta direta, de massas, fosse suficiente. Luta social apenas, sem disputar projeto político na sociedade e sem disputar os rumos institucionais do Estado, não consegue acumular para a classe. Podem até eventualmente resolver problemas pontuais da classe, mas não mudam a natureza estrutural da sociedade.

O MST compreende que devemos aglutinar, combinar, estimular as duas formas de luta, de forma permanente. Para que com isso possamos acumular forças, organizadas, de massa, de forma orgânica, que construa um projeto político da classe e ao mesmo tempo crie condições para o reascenso do movimento de massas, pois este é o período histórico em que a classe tem condições de ir para a ofensiva, de tomar inciativa política, de pautar seus temas para todo o povo. Por isso, claro que todo militante do MST, como cidadão consciente, deve arregaçar as mangas e ajudar a eleger os candidatos mais progressistas em todos os níveis. Isso é uma obrigação de nosso compromisso com a classe.

Desde os tempos do governo FHC, José Serra fez declarações contra a reforma agrária e o MST. No entanto, nas últimas semanas, vem intensificando os ataques. Na sua visão, por que ele vem agindo dessa forma?

Por dois motivos. Primeiro, porque as forças sociais que ele representa agora, como porta-voz maior, são as forças da classe dominante do campo e da cidade, que são contra os interesses dos camponeses, da classe trabalhadora em geral e do povo brasileiro. Portanto, ele é contra a reforma agrária não porque não goste do MST, mas por uma questão de interesse de classe. Segundo, na minha avaliação, é que a coordenação tucana acha que a única chance do Serra crescer eleitoralmente é adotar um discurso de direita, para polarizar e, então, se mostrar mais de confiança do que a Dilma.

Por isso adotou todos os ícones da esquerda para bater. Bate em nós, em Fidel, em Cuba, Chávez, Evo Morales, até no bispo Lugo ele bateu. Achou uma conexão das Farc com o PT absurda. Ele sabe que o partido está mais próximo da social-democracia. Não é por ignorância, é por tática eleitoral. Acho que ele errou também na tática. E vai ficar refém de seu discurso de direita sem ampliar os votos. Eu acho ótimo que ele se revele como direitista mesmo. Ajuda a clarear os interesses de classe das candidaturas. E por isso mesmo vai perder de maior diferença do que o Alckmin perdeu do Lula em 2006.

Atualmente, o movimento sindical vem fazendo a luta pela redução da jornada, mas está fragmentado em uma série de centrais sindicais. Quais os problemas e desafios da luta sindical atualmente?

Não tenho a pretensão de dar lições a ninguém. Há valorosos companheiros que atuam na luta sindical que têm muitos elementos para analisar a situação da organização de classe. Os problemas e desafios da organização sindical são evidentes. Mas não estão no número de sindicatos ou de centrais. Isto, ao contrário, até poderia ser visto como vitalidade, já que as correntes sindicais sempre existiram, são importantes e aglutinam por vertentes ideológicas.

Os desafios da unidade da classe nos sindicatos passam pela necessidade de recuperarmos o trabalho de base, a organização, de toda a classe, lá no local de trabalho e no de moradia. Ninguém mais quer fazer reunião na porta de fábrica, na fábrica (mesmo que de forma clandestina, como era nos tempos do Lula). Precisamos recuperar o sentido da luta de massas como a única expressão da força da classe. Precisamos recuperar o debate de temas políticos, relacionados com um programa para a sociedade que extrapole as demandas salariais e corporativas.

Precisamos recuperar a importância de o movimento sindical ter seus próprios meios de comunicação de massa. Saúdo a chegada da televisão dos trabalhadores no ABC. Mas precisaríamos ter antes, e em todas regiões metropolitanas. Precisamos recuperar a formação de militantes da classe trabalhadora, em todos os níveis. Sem conhecimento, sem teoria, não haverá mudanças. E, com essas iniciativas, certamente poderemos construir um processo de maior unidade, já que os interesses da classe como um todo serão o denominador comum, e de construção do reascenso do movimento de massas.

Um grupo de dirigentes e estudiosos avalia que a sociedade brasileira passou por uma transformação, e sindicatos e partidos políticos não são suficientes para organizar o povo brasileiro, especialmente com o aumento da informalidade. Com isso, seria necessário construir novos instrumentos para a luta política. Como você avalia os desafios organizativos da classe trabalhadora?

As formas de organização da classe em partidos, sindicatos e associações de bairro foram desenvolvidas pela classe, como respostas ao desenvolvimento da exploração pelo capitalismo industrial, desde os tempos de Marx até os dias atuais. Acho que o problema não é ficar analisando se serve ou não, jogar tudo fora e pensar novos instrumentos. Cada tempo histórico tem suas formas de organização, suas formas de luta de massa e produz suas próprias lideranças.

Estamos vivendo um período de derrota político-ideológica que gerou crise ideológica e organizativa na classe. Um período de refluxo do movimento de massas. Mas isso faz parte de um período, de uma onda. Logo ingressaremos em novos períodos.

Acho que o principal não é discutir a forma, mas tratar de organizar de todas as maneiras possíveis todos os setores da classe trabalhadora. E evidentemente que a forma sindical ou partidária não está conseguindo chegar na juventude pobre, da classe trabalhadora das periferias. E precisamos descobrir novos métodos e novas formas.

As formas podem ter outros rótulos, outros apelidos, mas o principal é que a classe precisa se organizar do ponto de vista econômico, corporativo, para resolver suas necessidades e problemas imediatos; e precisa ter organização política, para disputar projetos para a sociedade. E só vamos resolver os problemas de organização organizando. A prática é a melhor conselheira, do que grandes teses, nesse caso.

Dentro de um modelo que tem hegemonia de bancos e do capital financeiro, com o enfraquecimento da indústria, baseado no consumo de massa, quais as perspectivas de futuro para a juventude?

A juventude pobre, da classe trabalhadora urbana, não tem espaço nesse modelo de dominação do capital financeiro e internacionalizado. Nem nos países chamados ricos, como na Europa, onde o desemprego atinge até 40% da juventude. O futuro da juventude está justamente em desenvolver uma consciência como classe trabalhadora. Se apenas ficar se olhando como jovem e sem oportunidades, não vai encontrar as respostas, vai ficar velho sem as respostas.

Precisamos desenvolver consciência de classe, e motivá-los para que se mobilizem, lutem. E como estão fora das fábricas, da escola, temos que desenvolver novas formas de trabalho político com a juventude, que a ajude a debater, a se aglutinar, para que descubra que o futuro é agora. Tenho esperanças, há uma massa enorme da juventude trabalhadora urbana que está em silêncio. Ou ainda alienada, iludida. Alguns tentando entrar no mercado consumidor, como se fosse a felicidade geral. Logo perceberão que precisam ter uma atitude, uma participação ativa na sociedade.

O MST vem fazendo a avaliação de que a reforma agrária não avançou durante o governo Lula. Por quê?

É preciso ter claro os conceitos e o significado da reforma agrária. Reforma agrária é uma política pública, desenvolvida pelo Estado, para democratizar a propriedade da terra e garantir o acesso a todos os camponeses que queiram trabalhar na terra.

Do ponto de vista histórico, ela surgiu numa aliança da burguesia industrial no poder com os camponeses que precisavam terra, para sair da exploração dos latifundiários. E, assim, a maioria das sociedades modernas fez reforma agrária a partir do século 19 e ao longo do século 20. Depois tivemos as reformas agrárias populares e socialistas, que foram feitas por governos populares ou revolucionários, no bojo de outras mudanças sociais.

Aqui no Brasil nunca tivemos reforma agrária. A burguesia brasileira nunca quis democratizar a propriedade da terra. Ela preferiu manter aliança com os latifundiários para que continuassem exportando matérias-primas (e aí ela usaria os dólares da exportação para bancar a importação de máquinas) e sobretudo preferiu expulsar os camponeses para a cidade, para criar um amplo exército industrial de reserva, que manteve ao longo do século 20 os salários industriais mais baixos de todas as economias industriais do mundo. E os camponeses brasileiros nunca tiveram forças, sozinhos nem em aliança com os trabalhadores da cidade, para impor uma reforma agrária aos latifundiários.

Chegamos mais perto disso em 1964. E tivemos um baita programa de reforma agrária, em aliança com o governo Goulart. A resposta da burguesia foi se aliar com Império e impor a ditadura militar de classe. As políticas dos governos no Brasil e do governo Lula são de assentamentos rurais. Ou seja, aqui e acolá, pela força da pressão camponesa, desapropria algumas fazendas para aliviar os problemas sociais. Mas isso não é reforma agrária.

Tanto que o censo do IBGE de 2006 revelou que agora a concentração da propriedade da terra é maior do que no censo de 1920, quando recém saímos da escravidão. E no governo Lula não tivemos espaço para debater um processo de reforma agrária verdadeiro, e nem tivemos força de massas para pressionar o governo e a sociedade. Por isso, a atual política de assentamentos é insuficiente por um lado, mas reflete a correlação de forças políticas que há na sociedade. Lamentamos apenas que algumas forças dentro do governo se iludam a si mesmas, fazendo propaganda ou achando que essa política de assentamentos – insuficiente – fosse reforma agrária.

Alguns estudiosos e setores sociais, até mesmo na esquerda, avaliam que passou o tempo da reforma agrária no Brasil. Qual o papel da reforma agrária dentro do atual estágio de desenvolvimento?

É verdade, nós também dizemos isso. Não há mais espaço para uma reforma agrária clássica, que visava apenas distribuir terra aos camponeses e eles produziriam com suas próprias forças e família para o mercado interno. Esse modelo era viável no auge e para o desenvolvimento nacional e do capitalismo industrial. Mas ele é inviável não porque o MST desdenha, e sim porque as forças políticas e sociais que poderiam ter interesse não têm mais.

Se houvesse uma reviravolta nas classes que dominam o Brasil, e um novo projeto de desenvolvimento nacional e industrial entrasse na pauta política, aí a reforma agrária clássica teria lugar. Mas não é isso que se desenha. Então, qual a alternativa agora? É lutar por um novo tipo de reforma agrária. Uma reforma agrária que nós chamamos de popular. Que o movimento de pequenos agricultores chama de Plano Camponês, que a própria Contag e Fetraf chamam de agricultura familiar. São rótulos diferentes para um conteúdo semelhante.

Ou seja, nós precisamos reorganizar o modelo de produção agrícola do país. Nós queremos usar nossa natureza para uma agricultura diversificada, fixando as pessoas no meio rural com melhoria das condições de vida, eliminando o latifúndio (não precisa ser muitos, apenas os acima de 1.500 hectares), adotando técnicas de produção de agroecologia, respeitosas ao meio ambiente e, sobretudo, produzindo alimentos sadios para o mercado interno. Nossa proposta de reforma agrária popular, no entanto, depende de um novo modelo de desenvolvimento, que tenha distribuição de renda, soberania nacional, rompimento com o domínio do capital estrangeiro sobre a agricultura e a natureza.

Como a reforma agrária pode beneficiar o conjunto da sociedade, especialmente a população das cidades?

A reforma agrária e a fixação do homem no campo são fundamentais para reduzir o desemprego na cidade e elevar os patamares do salário mínimo e a média salarial. A burguesia só paga baixos salários e aumenta o número de empregados domésticos porque todos os dias chegam milhares de novos trabalhadores se oferecendo para serem explorados. A reforma agrária é a única que pode produzir sem venenos.

A grande propriedade do agronegócio só consegue produzir com veneno, porque não quer mão de obra, e esse veneno vai para o estômago de todos nós. Na última safra foram um bilhão de litros de venenos, 6 litros por pessoa, 150 litros por hectares. Uma vergonha. Um atentado. A reforma agrária ajuda a resolver o problema de moradia e do inchaço das cidades. Também vai reequilibrar o meio ambiente e com isso teremos menos mudanças climáticas que estão afetando agora, com mais força, as cidades. Vejam o que aconteceu no Nordeste.

Num dia, 13 cidades foram varridas do mapa pelas chuvas torrenciais. Não foi a chuva a culpada, e sim o monocultivo da cana que alterou o equilíbrio e empurrou o povo para a beira do rio. Mas isso só o general Nelson Jobim viu e teve coragem de dizer. A Globo ficou quietinha procurando acobertar. Nenhuma área de reforma agrária de Pernambuco e Alagoas foi atingida, por que será? E nossos assentamentos foram os primeiros, antes do governo, a dar guarida aos desabrigados.

Por que a Via Campesina e o MST vêm realizando protestos contra as grandes empresas do agronegócio? As ocupações de terras não são suficientes ou não servem mais para a luta pela reforma agrária?

Agora a disputa não é mais apenas entre os pobres sem-terra e os latifundiários. Agora é uma disputa de modelo para produção e uso dos bens da natureza. De um lado temos o agronegócio, que é a aliança entre os grandes proprietários, o capital financeiro, que os financia – veja que, de uma produção de R$ 112 bilhões, os bancos adiantam R$ 100 bi para eles poderem produzir –, as empresas transnacionais que controlam a produção de insumos, sementes, o mercado nacional e internacional e as empresas de mídia. E, de outro lado, os sem-terra, os camponeses com pouca terra e a agricultura familiar em geral. E nesse marco de disputa, nosso inimigo principal são os bancos e as empresas transnacionais.

Então, fazemos a luta de classes contra nossos inimigos principais e ao mesmo tempo devemos seguir lutando para melhorar as condições de vida, com novos assentamentos, moradia rural, luz para todos, programa de compra de alimentos pela Conab, um novo crédito rural etc. Essas medidas, embora setoriais, também ajudam a acumular força como classe.

Nos próximos dias, o MST vai realizar atividades pela reforma agrária. Como serão essas mobilizações e quais seus objetivos? Elas têm alguma relação com o período eleitoral?

A coordenação nacional do MST escolheu há tempos essa semana de meados de agosto para realizar uma campanha nacional de debates em torno da reforma agrária. É uma forma concentrada de esforços para desenvolver diferentes maneiras de agitação e propaganda; para levar nossas ideias à classe trabalhadora urbana; para denunciar os problemas e malefícios que o agronegócio, com seus venenos e sua sanha concentradora, causa para toda a sociedade; e, ao mesmo tempo, mostrar justamente os benefícios de uma reforma agrária popular. Esperamos que nossa militância se engaje em todo país, para essa jornada de conscientização de massas.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Nas montanhas da Colômbia: pela paz democrática com justiça social

Por Ivan Pinheiro, 10-Ago-2010

Nos últimos anos, venho cumprindo tarefa partidária no sentido de restabelecer e estreitar as relações do PCB com organizações e partidos revolucionários, com destaque para a América Latina. Este trabalho político tem como objetivo principal o reforço do internacionalismo proletário, na luta antiimperialista e pelo socialismo.

A América Latina é palco de uma intensa luta de classes, antagonizando forças populares dispostas a aprofundar mudanças sociais e as oligarquias associadas ao imperialismo, sobretudo o norte-americano.

Ao XIV Congresso Nacional do PCB, realizado em outubro do ano passado, compareceu a grande maioria dos Partidos Comunistas da região. Além de viagens recentes de camaradas da direção do PCB e da UJC (União da Juventude Comunista) à Argentina, Chile e Uruguai e outros países, pessoalmente estive na Bolívia, Cuba, Colômbia, Equador, Honduras, Paraguai, Peru e Venezuela. Nestas viagens, tive contatos com camaradas de Costa Rica, El Salvador, Haiti, Nicarágua, Panamá, Porto Rico e República Dominicana.

Numa dessas viagens, fui convidado a conhecer presencialmente a mais antiga e importante organização insurgente do continente: as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP), que há 46 anos lutam nas montanhas pela libertação nacional e pelo socialismo na Colômbia. A organização foi criada em função de uma necessidade objetiva de os camponeses colombianos defenderem seus pedaços de terra, suas casas e suas famílias da violência do Estado e de milícias a serviço do latifúndio.

Tive que tomar solitariamente a decisão de aceitar o convite e viajar no dia seguinte para as montanhas andinas, já que era o único membro do PCB naquela viagem e, por razões óbvias, não poderia consultar meus camaradas da direção do Partido no Brasil. Portanto, resolvi passar alguns dias num acampamento das FARC na Colômbia por iniciativa própria, sob minha exclusiva responsabilidade, e não por decisão partidária. Mas estava convicto de que minha atitude era compatível com a linha política do Partido.

Valeram a pena as duras viagens, de ida e volta, por regiões e países dos quais não me recordo, até porque toda aquela região é habitada pelo mesmo povo, dividido artificialmente em vários países, pelos interesses do capital. Passei por belas paisagens, conheci uma fauna e uma flora exuberantes, alternando meios de transporte os mais variados, como automóveis, canoas e mulas, além de saudáveis mas cansativas caminhadas.

Ficarão para sempre em minha memória os diálogos que mantive com os jovens guerrilheiros e guerrilheiras que conheci e as fotografias que não pude tirar do trabalho dos camponeses, das creches, escolas e postos de saúde criados e mantidos pelo "Estado" guerrilheiro em seu território, do cotidiano do acampamento.

Foram momentos que me marcaram, reforçando valores como a disciplina partidária, o trabalho coletivo, a camaradagem. O aprendizado nas reuniões diárias do coletivo, ao anoitecer, para repercutir documentos políticos e notícias atualizadas, da Colômbia e do mundo todo, ouvidas nos rádios que fazem parte do enxoval dos militantes. As bibliotecas volantes, onde não faltam clássicos do marxismo e da literatura.

Impossível esquecer a entrevista que fiz em "portunhol" para todo o contingente guerrilheiro, através da Rádio Rebelde.

Como não guardar com carinho o único objeto físico que pude trazer da viagem, um caracol que ganhei do jovem guerrilheiro que me serviu de guia e apoio durante a estadia, no dia em que nos despedimos sem que pudéssemos conter as lágrimas que misturavam sentimentos de fraternidade e paternidade.

Muito mais do que a curiosidade, o espírito de aventura e a simpatia pelas FARC, falou mais alto em minha decisão o dever revolucionário de contribuir, de alguma forma, para os esforços para uma solução política da complexa questão colombiana. Muito antes da viagem e da instalação de mais sete bases militares norte-americanas na Colômbia, eu já tinha consciência de que esse país vinha se transformando numa cabeça de ponte do imperialismo na América Latina, onde cumpre o papel que Israel exerce no Oriente Médio.

Num artigo que publiquei há alguns anos ("Impedir a guerra imperialista na América Latina"), já dizia textualmente:

"... para dar solidariedade aos povos venezuelano, boliviano, equatoriano; para lutar para que possam avançar as mudanças e a luta de classes na América Latina, mesmo em processos mais mediados e contraditórios; para evitar que haja guerra e retrocesso em nosso continente; para tudo isso, há um pré-requisito: derrotar o verdadeiro eixo do mal, os braços do imperialismo norte-americano em nosso continente: o governo fascista e o Estado terrorista da Colômbia!".

Já tinha claro, quando resolvi aceitar o convite, que não interessa à oligarquia colombiana, tampouco ao imperialismo, reconhecer o caráter político da guerrilha e, muito menos – para não lhe dar protagonismo -, estabelecer com ela um processo de diálogo que possa pôr fim ao conflito armado na Colômbia, que dificilmente será solucionado pela via militar.

Estamos diante de uma espécie de empate, em que nem as guerrilhas (FARC e também a ELN, que segue lutando) têm muitas possibilidades para expandir o território sob seu controle (quase um terço do país), nem as forças militares e paramilitares conseguem derrotá-las.

À oligarquia colombiana interessa a manutenção do conflito, para se locupletar dos bilhões de dólares dos programas militares bancados pelos EUA e atribuir cinicamente aos insurgentes a mais rendosa atividade do grupo que detém o poder no país: exatamente o narcotráfico.

Aos EUA, não interessa a solução do conflito, para poder justificar a "guerra contra o narcoterrorismo", que lhe permite manipular a opinião pública para reinstalar a Quarta Frota, criar mais sete bases militares na Colômbia, dar um golpe em Honduras, botar milhares de soldados no Haiti e agora na Costa Rica e firmar acordos militares com vários países na região, lamentavelmente inclusive com o Brasil, assinado recentemente.

O objetivo do imperialismo é reforçar sua presença militar para tentar desestabilizar e derrubar governos progressistas, em especial o da Venezuela, apertar o cerco a Cuba, evitar o fortalecimento da ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas), frear o processo de mudanças na Bolívia e outros países, tudo isso de olho grande nas extraordinárias riquezas naturais do continente, como petróleo e gás, água e minerais.

Nos anos 90, houve na América Latina um processo negociado de desmilitarização de grupos guerrilheiros. Na América Central, todos esses entendimentos resultaram em acordos, com a transformação das guerrilhas em organizações políticas legais. Duas delas, aliás, estão hoje no governo de seus países: a FMLN (El Salvador) e a FSLN (Nicarágua). Na Colômbia, entretanto, este processo terminou com o cruel assassinato de mais de 4.000 membros da União Patriótica, partido político então legal, que incorporava parte dos militantes das FARC que desceram das montanhas, do Partido Comunista Colombiano e de outras organizações de esquerda.
Portanto, as FARC não podem promover uma rendição unilateral, incondicional, uma paz de cemitérios, jogando fora um patrimônio de décadas de luta e submetendo seus militantes a um genocídio. O que pretendem é um diálogo que torne possível uma paz democrática, que ponha fim não só ao conflito, mas ao terrorismo de Estado, à expulsão de camponeses de suas terras, às milícias paramilitares, ao assassinato e à prisão de milhares de militantes e que assegure liberdades democráticas e verdadeiras mudanças econômicas e sociais.

Mas o início de um diálogo de paz na Colômbia – que interessa a todas as forças e personalidades democráticas, pacifistas e antiimperialistas e não apenas aos comunistas – só será possível através de uma ampla campanha internacional pela paz com justiça social e econômica na Colômbia, cujo êxito tem como pré-requisito o reconhecimento das FARC e do ELN como são em verdade: organizações políticas beligerantes.

Foi para contribuir para essa necessária e urgente campanha – conhecendo e divulgando um pouco mais a história, a realidade, os pontos de vista e as perspectivas das FARC – que resolvi conviver alguns dias com os guerrilheiros e conversar, sem preocupação com o relógio e o celular, com alguns de seus comandantes, em especial Iván Marquez e Jésus Santrich, que me visitaram no acampamento em que me hospedei.

Não voltei ao Brasil para fazer proselitismo sobre uma forma de luta que considero incompatível com a atualidade brasileira, mas que respeito como legítimo direito dos povos na luta contra a opressão. Voltei determinado a contribuir para a abertura de um diálogo político na Colômbia.

O PCB e outras organizações e personalidades entendem a importância desse diálogo para o avanço dos processos de mudança na América Latina, que depende da neutralização da agressividade do imperialismo em nosso continente, cujo centro de gravidade é o terrorismo de Estado colombiano.

A Colômbia é o segundo destino mundial de ajuda financeira para fins militares e de material bélico dos EUA, após Israel; tem as Forças Armadas mais numerosas, armadas e treinadas da América do Sul. Um dos objetivos principais do imperialismo, diante da crise sistêmica do capitalismo, é fomentar guerras localizadas, sobretudo contra países fora de sua esfera de dominação e, preferencialmente, possuidores de riquezas naturais.

O Estado narcoterrorista colombiano é o instrumento para provocar conflitos militares na região, como foi o caso da invasão do espaço aéreo equatoriano para o ataque ao acampamento do comandante Raul Reyes, o Secretário de Relações Internacionais das FARC, que tinha como tarefa exatamente promover trocas humanitárias de prisioneiros e abrir espaço para uma solução negociada do conflito militar.

No caso da Venezuela - onde o processo de mudanças na região mais avança –, as provocações são mais ousadas, constantes e perigosas. A Colômbia, que já infiltrou milhares de paramilitares no território venezuelano, para preparar um golpe contra Chávez, agora acusa a Venezuela de abrigar guerrilheiros das FARC, utilizando-se de manipulações tecnológicas, como as que vêm fazendo até hoje com o inacreditável computador pessoal de Raul Reyes, que resistiu incólume a um bombardeio aéreo intenso, em que todo o acampamento foi destruído e morreram 26 pessoas.

Os EUA já se associaram a estas "denúncias" do governo colombiano e já agitam propostas de levar o caso para organismos multilaterais que hegemonizam. As relações diplomáticas entre a Colômbia e a Venezuela estão cada vez mais tensas. É necessária uma urgente ação política para evitar o agravamento do conflito, que só interessa ao imperialismo e à direita, não só colombiana, mas de todos os países da América Latina, que fazem de tudo para ajudar a derrubar o governo venezuelano, através de sua satanização e manipulação.

Aqui no Brasil não é diferente. Toda a mídia burguesa se associa às denúncias do governo colombiano e a direita aproveita o momento eleitoral para criticar o governo brasileiro exatamente em relação a um dos poucos aspectos que os internacionalistas nele valorizamos. Apesar da vacilação, da dubiedade e das contradições - em face do objetivo principal da política externa brasileira de transformar o país numa grande potência mundial -, ao Estado brasileiro não interessa a guerra imperialista, mas sim a expansão do capitalismo brasileiro.

A direita, para instigar a guerra entre a Colômbia e a Venezuela, tenta desqualificar o Brasil como mediador da crise. Para isso, acusa o partido do presidente da República de relações e atitudes que infelizmente não são verdadeiras, pois poderiam ter ajudado a solucionar o conflito colombiano.

Na Colômbia, é expressivo o movimento conhecido como "Colombianos pela Paz" – que estimula a troca de prisioneiros e tenta criar um ambiente favorável ao diálogo –, liderado pela Senadora Piedad Córdoba, com quem participei, em outra ocasião, de reunião em Bogotá para tratar do tema da paz naquele país, juntamente com outros militantes latino-americanos, dentre os quais Carlos Lozano, do Burô Político do Partido Comunista Colombiano, um dos dirigentes internacionalistas mais dedicados à solução do impasse em seu país.

Mas essa campanha não será exitosa se não contar com a ampla participação de governos, instituições e personalidades democráticas e progressistas de vários países, sobretudo da América Latina.

E, na América Latina, o Brasil – em função de sua importância e sua liderança - é o país que reúne as melhores condições para viabilizar o diálogo colombiano, como fiador político, liderando um conjunto de países e organizações multilaterais da região, de preferência a UNASUL (União das Nações Sul-Americanas), que não conta com a presença indesejável dos Estados Unidos.

É correta a iniciativa da diplomacia brasileira de levar a discussão do novo conflito para o espaço da UNASUL e tentar ajudar a mediá-lo. Mas não se pode ter ilusão de que o novo presidente colombiano recuará nos projetos belicistas do consórcio EUA/Colômbia. Este não é o último gesto raivoso de Uribe, como muitos imaginam. Este é o primeiro gesto de Santos antes da posse, combinado com Uribe, para iniciar seu governo com voz grossa, mas com pouco desgaste. Santos não foi só o candidato de Uribe. Foi seu ministro da Defesa, responsável pela aplicação do famigerado "Plano Colômbia". É o uribismo sem Uribe. Não nos esqueçamos da invasão de Israel à Faixa de Gaza, antes da posse de Obama, para preparar a transição para o imperialismo sem Bush.

Por isso, será importante, mas insuficiente, a distensão do atual conflito entre Colômbia e Venezuela. Isto resolve uma parte da questão no curto prazo, mas não resolve a causa do problema. O Brasil deve ir além dessa iniciativa e se empenhar numa solução negociada do conflito interno colombiano. E isto só será possível se sentarem à mesa, com observadores internacionais credenciados pelas partes, os verdadeiros atores em conflito: as organizações políticas insurgentes e, mais do que o governo, o Estado colombiano.

Para ser conseqüente com o objetivo do Estado brasileiro de transformar o nosso país em uma referência no âmbito mundial, seria muito mais eficiente patrocinar um diálogo que pode distensionar o pesado ambiente interno colombiano, que paira sobre a América Latina, do que liderar tropas de ocupação no Haiti.

Além do mais, desmontar o "Cavalo de Tróia" montado pelo imperialismo na Colômbia não serve apenas para evitar uma guerra com a Venezuela ou a derrubada de seu governo. Como disse Fidel Castro, as bases militares ianques na Colômbia são punhais no coração de toda a América Latina, inclusive, não nos iludamos, sobre o Brasil, cujas extraordinárias riquezas naturais - entre elas a biodiversidade da Amazônia, as imensas reservas de água doce e o pré-sal - são os principais objetos da cobiça dos Estados Unidos em todo o continente.

Ivan Pinheiro é Secretário Geral do PCB.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sobre o ataque com carro-bomba em Bogotá



Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos


Fonte: Rebelion.org

O Comitê Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos condena o traiçoeiro atentado com carro-bomba na manhã do dia 14, na 7ª Avenida com a rua 67, que afetou a população do setor, o comércio e a Rede Caracol de Radio, entre outros.

Chama a nossa atenção que este atentado ocorra justamente no início do governo de Juan Manuel Santos, quando começam a se normalizar as relações com a Venezuela, quando a Corte Constitucional analisa a inconstitucionalidade das bases militares norteamericanas, os anúncios da oposição para debater a existência de valas comuns de dimensões catastróficas e, especialmente, quando determinados sectores da opinião pública sugerem a possibilidade de aproximação para o diálogo e de novos esforços para uma solução para o conflito. Devemos observar a quem interessa um atentado desta natureza.

Recordamos que, em 19 de outubro de 2006, quando se vislumbrava um encontro entre o governo e as FARC para encontrar saídas para a questão do intercâmbio humanitário, um carro-bomba explodiu nada mais e nada menos do que o interior da Escola Superior de Guerra. Assim se frustrou um esforço para o diálogo e, após as anunciadas investigações, o tema foi silenciado.

Este atentado tem um cheiro suspeito de provocação dos setores mais à direita, nada de estranho em um país de autoatentados, de um intenso labor das agências de segurança e inteligência militar para produzir falsos positivos, como os que têm sido denunciados nas Audiências judiciais sobre os escândalos do DAS.

Exigimos que se faça uma investigação de verdade, que vá ao mais profundo dos fatos e que desvele os verdadeiros beneficiários de tais atos. Somos solidários com as vítimas e feridos.

A guerra no Afeganistão: ecos do Vietnã

Os fuzileiros estão enfrentando um problema que sempre espreitou os conquistadores, e que é muito familiar para os Estados Unidos, desde o Vietnã. Em 1969, Douglas Pike, o mais importante acadêmico governamental nos assuntos do Vietnã lamentou que o inimigo – a Frente de Libertação Nacional (FLN) – era o único partido político verdadeiramente baseado nas massas no Vietnã do Sul”. Qualquer esforço para competir politicamente com esse inimigo seria como um conflito entre uma sardinha e uma baleia, reconheceu Pike. O artigo é de Noam Chomsky.

Noam Chomsky - La Jornada

O War Logs (bússolas da guerra), um arquivo de documentos militares confidenciais que abarcam seis anos da guerra do Afeganistão, publicados na internet pela organização Wikileaks relatam uma luta inflamada e cada dia mais encarniçada, na perspectiva dos Estados Unidos. E, para todos os afegãos, um horror crescente.

Os War Logs, por mais valiosos que sejam, podem contribuir para a doutrina prevalente de que as guerras são algo mau só se não são exitosas – algo assim como o que os nazis sentiram depois de Stalingrado.

No mês passado ocorreu o fiasco do general Stanley A. McChrystal, obrigado a se retirar do comando das forças dos Estados Unidos no Afeganistão e substituído por seu superior, o general David H. Petraeus. Uma provável consequência é um relaxamento das normas de combate, de forma que se torne mais fácil matar civis, e uma prolongamento da guerra à medida que Petraeus use sua influência para conseguir este resultado no Congresso.

O Afeganistão é a principal guerra em curso do presidente Obama. A meta oficial é nos proteger da AlQaeda, uma organização virtual, sem base específica – uma rede de redes e uma resistência sem líderes, como foi chamada na literatura profissional. Agora, ainda mais do que antes, a AlQaeda consiste em facções relativamente independentes, associadas frouxamente ao redor do mundo.

A CIA calcula que entre 50 e 100 ativistas da AlQaeda talvez estejam no Afeganistão, e nada indica que os talibãs desejem repetir o erro de dar refúgio a AlQaeda. Por outro lado, o talibã parece estar bem estabelecido em seu vasto e árduo território, uma grande parte dos territórios pashtun.

Em fevereiro, no primeiro exercício da nova estratégia de Obama, os fuzileiros estadunidenses conquistaram Marja, um distrito menor na província de Helmand, principal centro da insurgência.

Uma vez ali, informa Richard A. Oppel Jr., do The New York Times, “os fuzileiros se chocaram com uma identidade talibã tão dominante que o movimento se assemelha mais a uma organização política numa região de um só partido, com uma influência que abarca a todos...”.

“Temos que reavaliar nossa definição da palavra 'inimigo', disse o general de brigada Larry Nicholson, comandante da brigada expedicionária de fuzileiros na província Helmand. A maioria das pessoas aqui identifica a si mesmas como talibã... Temos que reajustar nossa forma de pensar, de forma que não pareça que estamos expulsando os talibãs de Marja, mas que estejamos tratando de expulsar o inimigo.

Os fuzileiros estão enfrentando um problema que sempre espreitou os conquistadores, e que é muito familiar para os Estados Unidos, desde o Vietnã. Em 1969, Douglas Pike, o mais importante acadêmico governamental nos assuntos do Vietnã lamentou que o inimigo – a Frente de Libertação Nacional (FLN) – era o único partido político verdadeiramente baseado nas massas no Vietnã do Sul”.

Qualquer esforço para competir politicamente com esse inimigo seria como um conflito entre uma sardinha e uma baleia, reconheceu Pike. Em consequência, devíamos superar a força política do FLN recorrendo a nossa vantagem comparativa, a violência – com resultados horrendos.

Outros enfrentaram problemas similares: os russos, por exemplo, no Afeganistão, durante os anos 80, quando ganharam todas as batalhas mas perderam a guerra.

Escrevendo a respeito de outra invasão estadunidense – a das Filipinas em 1989 -, Bruce Cumings, historiador especialista em Ásia na Universidade de Chicago fez uma observação hoje aplicável ao Afeganistão: “quando um fuzileiro vê que sua rota é desastrosa, muda de curso, mas os exércitos imperiais afundam suas botas em areias movediças e seguem marchando, ainda que seja em círculos, enquanto os políticos enfeitam o livro de frases dos ideais estadunidenses”.

Depois do triunfo de Marja, esperava-se que as forças lideradas pelos Estados Unidos atacariam a importante cidade de Kandahar, onde, segundo uma pesquisa do exército estadunidense, a operação militar é rechaçada por 95% da população e onde 5 em cada 6 consideram os talibãs como nossos irmãos afegãos – mais uma vez, ecos de conquistas prévias. Os planos sobre Kandahar foram postergados, e isso foi parte dos antecedentes para a saída de McChrystal.

Dadas essas circunstâncias não é de se estranhar que as autoridades dos Estados Unidos estejam preocupadas com que o apoio popular à guerra no Afeganistão seja ainda mais erodido. Em maio passado a Wikileaks publicou um memorando da CIA acerca de como manter o apoio da Europa à guerra: o subtítulo do memorando era: porque contar com a apatia talvez não seja suficiente.

O perfil discreto da missão no Afeganistão permitiu aos líderes franceses e alemães desprezarem a oposição popular e aumentarem gradualmente suas contribuições às tropas da Força de Assistência à Segurança Nacional (ISAF), assinala o memorando. Berlim e Paris mantêm o terceiro e quarto níveis mais altos de tropas na ISAF, em que pese a oposição de 80% dos pesquisados alemães e franceses a maiores envios de forças. É necessário, em consequência, dissimular as mensagens para impedir ou ao menos conter uma reação negativa.

O memorando da CIA deve nos fazer recordar que os Estados têm um inimigo interno: sua própria população, que deve ser controlada quando a política do Estado tem oposição no povo. As sociedades democráticas dependem não da força, mas da propaganda, manipulando o consenso mediante uma ilusão necessária e uma super-simplificação emocionalmente poderosa, para citar o filósofo favorito de Obama, Reinhold Niebuhr.

A batalha para controlar o inimigo interno, então, segue sendo altamente pertinente – de fato, o futuro da guerra no Afeganistão pode depender dela.

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: Carta Maior

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Fidel Castro se reúne com senadora colombiana Piedad Córdoba

O líder da Revolução cubana, Fidel Castro, se reuniu com a senadora Piedad Córdoba, dirigente do Movimento Colombianos e Colombianas pela Paz
Foi uma reunião fraterna na qual foram intercambiadas opiniões sobre os processos de paz na Colômbia, a situação na região e os perigos de guerra no mundo.

As duas personalidades concordaram em expressar seu otimismo no triunfo da paz e na construção de um mundo novo onde a humanidade aproveite sua inteligência e os conhecimentos acumulados.

A senadora colombiana solicitou a Fidel Castro que volte a reunir-se no próximo domingo com um grupo de vários dos principais dirigentes que lutam pela paz na Colômbia.

O líder revolucionário cubano concordou, já que considera que a união desse povo sul-americano é um fator de grande importância na luta para evitar que a humanidade entre em colapso numa explosão nuclear.

A senadora colombiana felicitou o primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba pelo seu aniversário, que transcorre nesta sexta-feira, 13 de agosto, e o presenteou com diversos livros sobre a história e a realidade atual de seu país.

Fidel Castro deu à senadora e a seu ajudante, Danilo Ruedas, exemplares autografados de seu livro A Vitória Estratégica.

Fonte: Prensa Latina

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Tribunal colombiano deve declarar inconstitucional acordo militar com os EUA


Fonte: TeleSUR


"Tenho sérias reservas e tenho dito repetidamente que a Constituição da Colômbia foi violada", com o acordo militar entre Washington e Bogotá, disse o ex-magistrado da Corte Constitucional, José Gregorio Hernández, em entrevista exclusiva à TeleSUR.



O ex-juiz da Corte Constitucional da Colômbia, José Gregorio Hernández, disse nesta quarta-feira que o organismo deve declarar inconstitucional o acordo militar que autorizou a instalação de sete bases militares dos EUA em seu país.

“Entendo que a Corte Constitucional, pelo menos é o que o juiz relator do processo propõe, irá declarar que tudo o que foi feito violou a Constituição, ou seja, que as bases militares, e o acordo correspondente seriam inconstitucionais”, disse o ex-juiz em entrevista exclusiva a Telesur.

“Justamente hoje o plenário da Corte Constitucional está trabalhando na verificação da constitucionalidade do acordo celebrado entre a Colômbia e os Estados Unidos”, disse ele .

“Entendo que na própria Corte está se pensando que essas bases ainda permaneçam por mais um ano enquanto o Congresso conforme estipulado pela Constituição”, disse ele.

O debate no plenário da Corte tem-se focado em determinar se o acordo militar deriva de um outro já assinado anteriormente, ou se trata-se de outro totalmente novo, porque se assim for, deveria ter sido enviado ao Congresso para aprovação, etapa que não foi obedecida.

O acordo militar entre Washington e Bogotá foi assinado em 30 de outubro de 2009 e contempla a instalação de sete bases militares estadunidenses no território colombiano.

A Corte Constitucional deverá emitir uma sentença no próximo 17 de agosto sobre as denuncias de inconstitucionalidade do pacto militar.

O juiz da Corte Constitucional da Colômbia , Jorge Palacios, encarregado de estudar o convênio, manifestou que este deveria ter sido aprovado ou reprovado pelo Congresso, por isso solicitou um prazo de um ano para o cumprimento dos procedimentos ditados pela Carta Magna.

Nesta terça-feira, após várias horas de debate, A Corte Constitucional concluiu a sessão sem chegar a uma decisão sobre o acordo militar.

Foi noticiado na mídia local que a maioria dos magistrados tendem a apoiar a representação de Palacios, de declarar inconstitucional o acordo. Palacios tem insistido que o acordo assinado entre os dois países carece de detalhes e é bastante elástico.

“Sobre a questão das bases militares deve ser dito que na Colômbia nem todos nós concordamos com a sua existência”, disse o ex-magistrado José Gregorio Hernández durante a entrevista.

“Eu, por exemplo, tenho sérias reservas e já o disse em repetidas ocasiões, que a Constituição da Colômbia foi violada”, disse ele.

“Ainda sobre a questão das bases militares, tem que ser dito que a Colômbia exerce uma atividade que deve se enquadrar, necessariamente, dentro de um contexto de respeito pelos outros Estados”, acrescentou Hernández.

Em 03 de novembro de 2009 , um documento da Força Aérea dos EUA revelou que o pacto militar que esse pais estabeleceu com a Colômbia, em particular no que se refere à preparação da base de Palanquero (centro do país), tem por objetivo preparar ações de Inteligência, Espionagem e Reconhecimento (IER) contra outros países do continente.

O governo da Colômbia argumenta que o acordo de cooperação militar está destinado, supostamente, a lutar “contra o narcotráfico e o terrorismo”, no entanto, tem gerado grande preocupação nos países da região.

“Ontem (terça-feira) ouvimos o presidente Chávez em Santa Marta (Colômbia - norte), quando afirmou que estava certa uma decisão da Colômbia, enquanto não prejudique nem ataque os países vizinhos”, disse Hernández.

O legado de Álvaro Uribe: O reino da impunidade

Por Ernesto Tamara.

Santos recebeu uma situação complicada com ruptura de relações diplomáticas junto à Venezuela, disputa entre o Executivo e o Poder Judiciário, e por ora um parlamento que controla, ainda que nele estejam forças de direita vinculadas ao paramilitarismo e que representam uma nova oligarquia das fortunas adquiridas com o narcotráfico e a aquisição de terra pela força.

Os analistas e os meios de comunicação colombianos insistem em destacar a mudança de política exterior que se aproxima. Mesmo mantendo vínculos estreitos com os Estados Unidos, o novo governo buscaria melhorar as relações diplomáticas e comerciais com seus vizinhos. Contudo, esta análise carece de um elemento central: a atitude dos Estados Unidos e seu papel neste período.

Há mais de 100 anos o líder independentista e poeta cubano, José Martí, explicou em uma conferência econômica internacional em Nova York, que o país que compra, manda. E em contrapartida, aquele que só vende a um país, depende de seu comprador.

Os Estados Unidos é o maior sócio comercial da Colômbia, e não somente em suas exportações legais, mas também, e muito especialmente, da droga. Bilhões de dólares do comércio ilegal unem os dois países que, a julgar por suas ações, tem dado por perdida a guerra contra o narcotráfico e se aliaram aos cartéis mais poderosos que ocupam ou controlam o aparato do Estado colombiano.

Karl Marx adiantou a teoria em sua obra "O 18 de Brumário de Luis Bonaparte", em que a burguesia, em certas condições, cede o poder às forças armadas para que restabeleçam a ordem ou eliminem as ameaças ao sistema, mas depois ela sempre volta a tomar o controle.

A Colômbia parece repetir, sinteticamente, esse esquema. Uribe, praticamente o fundador dos grupos para militares, conseguiu criar a sensação de aumento da segurança, recuperou para o Estado o controle de alguns territórios, e afastou o fantasma da possibilidade de um triunfo da guerrilha de esquerda em um futuro próximo, ainda que isto não tenha acontecido por mérito próprio, mas sim com a ajuda das condições internacionais.

Agora a velha burguesia colombiana quer recuperar o controle direto do Estado, porém nesta ocasião deve contar com uma nova burguesia enriquecida com o narcotráfico e o roubo de terras com as expulsões violentas e os assassinatos.

O novo presidente recebe como herança um país que se acostumou com o reino da impunidade nos crimes cometidos por funcionários do Estado e por grupos que foram dele e cometeram delitos de lesa humanidade, sob o argumento de que defendiam a institucionalidade e a "democracia". Até a mídia da burguesia colombiana tiveram que admitir, ao fazer um balanço dos 8 anos de governo Uribe, que a impunidade para os crimes de Estados, de seus aliados e para os atos de corrupção se instalou no país.

A revista Semana repassou sinteticamente alguns destes eventos, relembrando a profundidade da corrupção no país, ainda que tenha esquecido de mencionar que, segundo a promotoria, se perderam uns 4 bilhões de dólares por ano em pagamentos de comissões, subornos e obras contratadas inconclusas, nunca feitas ou defeituosas.

No entanto, sublinhou que " Se bem que Colômbia nunca tenha conseguido ‘reduzir a corrupção a suas justas proporções’, como promulgou o ex-presidente Julio César Turbay, por décadas existiu um código não escrito segundo o qual os altos funcionárias que fossem atingidos por escândalos de grau maior renunciariam". Essa prática caiu em desuso no governo de Uribe e só em um par de casos extremos os envolvidos tiveram de renunciar para enfrentar a justiça.

Entre as exceções, a revista Semana recorda: "Só uns poucos deram um passo em falso: Fernando Londoño, por suas explosivas declarações contra a Justiça (e não pelas denúncias sobre suas irregularidades em Invercolsa), e María Consuelo Araújo, quando seu pai e seu irmão foram detidos pela parapolítica". Entre os protagonistas de escândalos que seguiram em seus postos e alguns são até hoje apoiados por Uribe, recorda-se o caso do diretor do DAS, Jorge Noguera, obrigado a renunciar pelas revelações de infiltração de informações sobre sindicalistas para os paramilitares.

Em vez da sua renúncia, Uribe concedeu-lhe a função de cônsul na cidade italiana de Milão. Tempos depois, voltou ao país, pensando que a impunidade abarcava tudo, para depor diante da Promotoria e da Procuradoria. Hoje está detido, acusado pelo assassinato de sindicalistas e outras pessoas em colaboração aos grupos paramilitares.

O então chefe da computação de DAS, Rafael García, foi detido por sua responsabilidade nas intervenções aos telefones de políticos, juízes, jornalistas e ministros da Corte de Justiça, e em suas declarações ao juiz reconheceu que o DAS conspirou com paramilitares para infiltrar combatentes na Venezuela e atentar contra a vida do presidente Hugo Chávez. Nestes dias, Fernando Tabares, ex-diretor de Inteligência do DAS, assegurou que a espionagem sobre políticos, juízes e defensores dos direitos humanos e a confecção de dossiês e a infiltração de informação falsa para desprestigiar opositores, realizadas por esse organismo, eram de conhecimento da Presidência, tendo sido ordenadas por Bernardo Moreno, secretário-geral da Presidência e homem de confiança de Uribe.

Moreno ainda é envolvido no caso denominado "Yidisgate", quando com a mudança de voto no último instante da deputada Yidis Medina, aprovou-se a primeira reeleição de Uribe.

Além de Moreno, na compra de voto -admitida por Yidas Medina, que foi processada pelo caso- está envolvido o ex-ministro e atual embaixador da Colômbia em Roma, Sabas Pretelt, que foi chamado a juízo, e seu ex-colega de gabinete, o ministro de Proteção Social, Diego Palacio, que seria convocado em breve pelo juiz atuante.

Contudo, as atividades ilegais do DAS começaram há muitos anos, inclusive antes do governo de Uribe. Somente nestes últimos 8 anos elas serviram especialmente ao presidente em seus objetivos de política interior e exterior.

A revista Semana recorda que "tampouco assumiu sua responsabilidade política o ministro da Agricultura, Andrés Fernández, pelo escândalo de AgroIngreso Seguro, no qual se revelou que vários dos beneficiários do programa eram rainhas da beleza e políticos que haviam apoiado a reeleição, e que haviam fracionado projetos com o fim de não superar os tetos legais que existiam para os subsídios".

Na lista não deve faltar o atual ministro do Interior, Valencia Cossio, em virtude das graves acusações da Promotoria contra seu irmão Guillermo por uma suposta relação com narcotraficantes.

Além do mais, os filhos do presidente enfrentaram uma investigação judicial quando se soube que poderia ter usado seus conhecimentos a respeito dos planos de construção do governo para comprar propriedades desvalorizadas e revendê-las quando o Estado estudava construir nessa zona, obtendo assim lucros de vários milhões de dólares.

Uribe segue contando com o respaldo popular, segundo as enquetes, apesar de não ter conseguido abater o desemprego, nem baixar significativamente a pobreza como havia anunciado em suas duas campanhas eleitorais. O desemprego, que o prognóstico do governo estimava ter em 8,6% neste ano, se encontra em 12%. "No país não se criou um só emprego formal desde 2006", disse o professor de Economia da Universidad de los Andes, Alejandro Gaviria, em uma nota publicada pela revista Semana.

Outra das propostas de Uribe, em 2004, era reduzir a pobreza de 45% da população para 33%, mas o mesmo governo reconhece hoje que não conseguiu baixar um único ponto. A indigência cuja queda era prevista para 12%, manteve-se em 17%.

Reino do paramilitar

No mês de julho, completaram-se cinco anos do lançamento da chamada "Lei de justiça e paz", que desmantelou os grupos paramilitares integrados na autodenominada Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). O estudo está demonstrando que muitos desses grupos ressurgiram com outros nomes e que não se cumpriram os objetivos de conhecer a verdade por trás dos crimes, processar os responsáveis por eles e reparar às vítimas.

Álvaro Uribe, desde quando era governador de Antioquia, facilitou a criação dos grupos de segurança privada que se transformaram nas AUC. Em sua capital, Medellín, o narcotraficante Pablo Escobar, fundador do Cartel de Medellín, estabeleceu seu império, e segundo documentos desclassificados pelos Estados Unidos, Uribe manteve certos laços com o então poderoso chefe mafioso. O primo do notável presidente, o ex-senador Manuel Uribe, foi processado por sua vinculação com os paramilitares.

No recente balanço dos cinco anos da Lei de justiça e paz, apresentado pela VerdadAbierta.com, sustenta-se que "o Processo de Justiça e Paz foi a maneira como o governo de Uribe quis atar todos os cabos soltos que deixou em sua negociação de submissão da justiça com os chefes paramilitares. E, claro, devido à falta de clareza política nessa negociação, o processo judicial teve de lidar com vários obstáculos. Talvez o pior, já que nem todos os postulados eram paramilitares, alguns criminosos de lesa humanidade não foram julgados, deixando assim o conflito em andamento e colocando em risco as vítimas e investigadores".

O documento sustenta que "o paramilitarismo é gêmeo do narcotráfico, quase desde o começo, são irmãos das ambições de boa parte da classe política tradicional e da guerra suja empreendida por alguns militares e policiais e foi primo dos empresários que viram a oportunidade da fazer capital facilmente sobre a miséria dos campesinos".

O informe destaca que até agora os pouco mais de três mil paramilitares, que se beneficiaram da lei e prestam declarações livres perante a justiça (a pena máxima por todos os seus crimes só pode chegar a oito anos), confessaram 1.309 massacres e 42.785 homicídios, enquanto o número de desaparecidos supera os 40 mil. Com base em evidências, a justiça exumou 2.719 valas comuns e encontrou 3.299 cadáveres. Também com base em evidências, soube-se que os grupos paramilitares utilizaram do esquartejamento a cremação de suas vítimas, em um estilo copiado dos fornos nazistas.

Independente da monstruosidade do revelado em algumas das audiências, existe o temor de que grande parte da verdade seguirá enterrada, em especial depois da polêmica decisão do presidente Uribe de extraditar os chefes paramilitares para os Estados Unidos quando começaram a denunciar seus vínculos com políticos. Depois da extradição, os chefes paramilitares se negaram a seguir colaborando com o esclarecimento dos fatos. O informe da VerdadAbierta.com mostra que as versões livres dos paramilitares "perderam espontaneidade e desenvolveram um tráfico subterrâneo de pressões e dinheiro para que os desmobilizados apontem uns (às vezes inocentes) e omitam de mencionar outros (quase sempre culpados)".

Outro dos aspectos em que a lei fracassou é na reparação às vítimas. O Estado não contribui - diz que não dispõe de recursos - e em poucos caos em que se iniciou um processo nesse sentido, manipulou-se o objetivo, terras e dinheiro para mãos de parentes dos políticos encarregados na distribuição dos recursos.

Além do mais, os campesinos donos de cinco milhões de hectares de terra que perderam no conflito não podem mais recuperá-las, salvo em poucos casos. De acordo com o informe, "o testa de ferro anulou o processo, e as ameaças e assassinatos de líderes campesinos, como Rogelio Martínez, em Sucre ou Ana Isabel Gómez Pérez em Córdoba, que se animaram a reclamar do que é sujo, colocaram-nos em um beco sem saída. E não há política de governo que enfrente este problema de maneira integral".

Até agora nos quase 300 casos em que identificaram delitos, somente foi registrado uma sentença completa. As vítimas têm o temor de que o processo se estenda e se cumpra os oito anos de pena máxima sem condenação e reparação, com o agravante de um paramilitarismo renovado. A população colombiana vai descobrir o que faz o novo presidente neste sentido e se alenta a continuidade das investigações sobre os vínculos dos políticos com os paramilitares - freados no último ano por pressões do presidente Uribe - e implementa ações para a reparação das vítimas.

Fonte: Adital