"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 29 de março de 2011

"Precisamos rever modelo agrícola atual"

28 de março de 2011

Por Roldão Arruda
De O Estado de S.Paulo

Gilmar Mauro, que faz parte da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra e é apontado como um dos principais pensadores da organização, conversou com a reportagem do Estado durante cerca de uma hora sobre os problemas que organização enfrenta atualmente - da dificuldade de mobilização de pessoas na periferia das cidades ao avanço do agronegócio, que disputa as mesmas terras reivindicadas pelo movimento.

O MST, criado em 1979, com uma pequena estrutura e empurrado pela Igreja Católica, hoje mobiliza cerca de 100 mil famílias e acampamentos e outras 300 mil em assentamentos. Possui uma estrutura que se espalhada por quase mil municípios em todas as regiões do País.

No momento, a maior preocupação de seus líderes é promover um grande debate nacional sobre a estrutura agrária do País, procurando sensibilizar a sociedade a partir do tema dos agrotóxicos.

Nas próximas páginas, os principais trechos da conversa:A que atribui a redução dos acampamentos? Isso está ligado ao mercado de trabalho?

Sim. A realidade socioeconômica do País mudou. Houve um processo acentuado de geração de empregos nos últimos oito anos. A construção civil está bombando, mobilizando trabalhadores que costumo chamar, brincando, de primos pobres da cidade. O cara da construção é o ex-camponês, que, do ponto de vista da educação formal, está situado num grau menor que o da maior parte da sociedade, e que, até algum tempo atrás, era o mais interessado na volta ao campo, na reforma agrária. Pensava nisso como uma forma de sobrevivência.

Na sua avaliação, esse quadro é conjuntural ou veio para ficar?

Não sei até onde dura isso, porque economia é processo, ascenso e crise. O capitalismo ainda não saiu do período de crise internacional e é provável que o avanço brasileiro encontre limites uma hora dessa. Mas ainda tem potencial para crescer, na construção civil, na agricultura, tem muita terra para ser explorada, potencial em várias áreas que vão sustentar o crescimento econômico por algum tempo no Brasil. Isso vai influenciar as condições de trabalho e de emprego.

O Bolsa Família também dificulta a mobilização de pessoas para a ocupação de terras?

Muitas famílias encontram no programa um complemento de renda e a possibilidade de ir sobrevivendo voltar para a terra e sem ver a reforma agrária uma alternativa.

Essas mudanças representam o esvaziamento da bandeira da reforma?

Não. Esse é o terceiro e mais importante aspecto da questão sobre a qual estamos falando. A reforma agrária precisa de fato ser ressignificada, com um debate político amplo que envolva toda a sociedade. Se continuarmos com essa lógica de exportação de commodities, com o uso intensivo de agrotóxicos, em menos de 50 anos teremos contaminado todos nossos rios, lagos, terra. É o que desejamos? Queremos consumir alimentos contaminados? Se a sociedade responder sim, então não há espaço para reforma. Se disser não, precisamos rever o modelo agrícola atual.

Essa lógica à qual você se refere é a que garante saldos na balança comercial.

Evidentemente. A agricultura cumpre esse papel há muito tempo. No entanto, estamos exaurindo nossos recursos naturais e contaminando a água. Esse não é um debate dos sem-terra, mas da sociedade. Foi por isso que Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) puxou a Campanha da Fraternidade deste ano para o tema da contaminação do solo e da água. No segundo semestre nós queremos fazer em São Paulo um grande seminário para discutir a questão do agrotóxico e a reforma agrária.

O pequeno agricultor também usa agrotóxico.

Usa. Por isso falamos em mudança de modelo. Não estamos dizendo que somos os bonzinhos e bonitinhos da história. É preciso mudar toda a formação cultural. Todos os quadros técnicos que saem hoje das universidades foram formados dentro do pacote da chamada revolução verde: vão sempre recomendar o uso de veneno para a solução de qualquer problema. Dias atrás, durante uma reunião com o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral)eu disse que a ele que precisamos mudar a formação universitária, criar quadros com mentalidade diferente. Se o Estado não pensar nisso, se Embrapa não mudar a direção da pesquisa tecnológica, se não fizermos esse debate político e de conscientização na sociedade, estamos fritos. As empresas vão continuar ganhando muito dinheiro e destruindo tudo.

Essa ênfase na questão ambiental não pode levar o MST a ser confundido com uma ONG? Isso não o distancia da perspectiva política?

Mas isso é altamente político. Porque implica uma mudança ampla, até na estrutura do poder. A lógica do capital nunca vai permitir isso, porque é a lógica do lucro, de produzir para ganhar e ganhar e ganhar... Quando a indústria automobilística vende dois milhões de carros, ela começa a pensar em vender dez milhões, em convencer cada pessoa a ter dois carros. É a lógica do sistema

Começamos a falar em mudança do sistema.

Sim. Mudança do sistema. Mudança da lógica. Até porque, se não mudarmos num curto espaço de tempo, teremos muitos problemas. Olhe as consequências que estamos assistindo ao nosso redor, as tragédias.

Não acha que poderia ser uma mudança dentro do capitalismo? O chamado capitalismo responsável proposto pela Marina Silva?

Não acredito. O capitalismo não resolve nosso problema, porque a essência dele é o lucro, a concorrência brutal, a exploração da força de trabalho e dos recursos da natureza. Se o capitalista pensa em mais lucro, a classe trabalhadora pensa em vender a força de trabalho pelo preço maior para comprar mais coisas também. Subjetivamente pensamos da mesma forma.

Essa forma de pensar a questão agrária de forma mais ampla surgiu agora?

Já no seu surgimento o MST tinha a visão de que para realizar a reforma agrária no Brasil seria preciso conjugar a luta pela terra com outras lutas na sociedade. A realização da reforma dependia de mudanças na estrutura de poder no País - porque se trata uma medida estrutural e estruturante contundente, destinada a alterar uma situação histórica secular.

A ação do MST nunca esteve restrita à luta pela terra?

A conquista de um assentamento é uma conquista parcial. É preciso desenvolver processos organizativos que avancem além da luta pela terra. A conquista de um lote não significa a resolução do problema da família, porque ela ainda necessita de crédito, casa, infraestrutura, estímulo. Por outro lado, a organização que agrega assentados e acampados precisa crescer, adquirir força, capacidade para levar adiante a proposta da reforma. É por isso que os assentamentos continuam vinculados ao MST. É por isso que investimos tanto na educação.

Vocês tem insistido muito na formação de professores, advogados, agrônomos economistas, entre outros profissionais, que sejam ligados ao movimento.

Para mudar uma sociedade, educação e cultura são fundamentais. Desde o início do MST nós investimos na juventude, na formação de quadros e de lideranças.

Não correm o risco de adentrarem os grandes debates políticos e se esquecerem de suas bases?

Uma organização só existe para responder a determinadas necessidades de suas bases. Por isso o MST vai continuar fazendo mobilizações para atender assentados e acampados. Evidentemente, porém, não basta responder às necessidades mais prementes. É preciso fazer desse processo de luta um processo de politização.

Vão debater os agrotóxicos e ao mesmo tempo continuar mobilizando gente para ocupações de terra?

Sim. Queremos chamar a atenção da sociedade para o debate sobre o uso dos nossos recursos naturais e cuidar da base. Tem gente querendo terra? Ir para a luta? Então vamos organizar, fazer ocupação, mas sem a ilusão, insisto, de que essas ocupações vão resolver o problema da reforma agrária.

O número de famílias assentadas e ligadas ao movimento tende a aumentar cada vez mais, o que significa mais trabalho para vocês.

Temos hoje, em bases do MST, mais de 300 mil famílias. A maioria vive de forma precária, o que significa que precisamos lutar para sejam instaladas agroindústrias nos assentamentos, para agregar valor aos produtos e aumentar a renda. Precisamos avançar na área de habitação, de infraestrutura, mudar a lógica de produção. A meta para o próximo período é procurar vincular os assentamentos às comunidades, às cidades onde estão instalados, buscando uma interação e o debate sobre o tipo de produção que se deseja ali. Queremos politizar esse tema e construir alianças na perspectiva do poder popular.Temos assentamentos espalhados por mais de mil municípios.

A presidente Dilma Rousseff não tem falado em novos assentamentos. A ênfase agora parece ser na melhoria dos que já existem.

Isso está de acordo com o que pensamos. Temos assentamentos precários em todo o Brasil. Não se trata de um problema das famílias, mas da falta de investimento. O governo contabiliza como beneficiárias da reforma agrária pessoas que são jogadas em cima de uma terra pobre, exaurida, e em locais sem infraestrutura. A primeira tarefa seria recuperar o solo. O investimento nos assentamentos não implica, porém, em deixar de fazer desapropriações. São cem mil famílias acampadas. Algumas com cinco, sete, treze anos de acampamento.

Além do Bolsa Família, da elevação dos níveis de emprego, o MST também enfrenta o avanço do capitalismo no campo. Os investimentos ficam maiores, assim como a cobrança, da parte dos empresários, de segurança jurídica.

Isso é levado em conta, sem dúvida. Por que os estrangeiros estão comprando aqui? Porque temos terra boa, sol e água em abundância. Um pé de pinus demora quinze anos para chegar ao ponto de corte nos Países Baixos. Na Bahia o problema está resolvido em seis ou sete anos. O retorno do investimento é muito alto. As mesmas áreas que disputávamos para a reforma agrária estão sendo disputadas pelo agronegócio e o grande capital. Desde o congresso que realizamos em 2007 sabemos que a nossa grande disputa é com o agronegócio e o grande capital. Estamos perdendo. Eles avançam sobretudo com o apoio do governo que garante quase todas as obras de infraestrutura que necessitam.

Com tanto assentado, tanta negociação com o governo, investimento em escolas, o MST não corre o risco de ficar cada vez mais institucionalizado, petrificado?

A massa é grande e os operários são poucos. Sempre ocorre um processo de institucionalização em qualquer organização social. Mesmo que você não seja institucionalizado formalmente, o processo é meio natural. O importante é não perder o foco na base. Se um dia o MST perder de vista a questão da terra, então passa a ser ONG.

O MST não poderia virar um partido?

Não faria sentido. Temos aliados no PT , PSOL, PMDB, PDT, PSB, PC do B, PCB e outros. Nosso movimento é de luta pela reforma agrária e ele não pode perder essa característica. A transformação do MST num partido seria um erro e a nossa derrota.

segunda-feira, 28 de março de 2011

44 BILHÕES DE MOTIVOS PARA ATACAR A LÍBIA

"...A Líbia, com as buscas dos últimos anos demonstrou possuir um capital incalculável de petróleo e de gás.

Com as novas tecnologias, as estimativas sobre as reservas podem se duplicar. Falamos de 44 bilhões de barris de petróleo.

É um petróleo de muito boa qualidade, que custa pouco para refinar e que não se encontra facilmente em outros lugares

(...) depois das destruições da guerra civil e da "humanitária", os contratos petrolíferos, se forem respeitados, poderão ser até mais favoráveis.

Porque, naturalmente, teremos um "vendedor", a Líbia, mais pobre e dividido e, portanto, mais chantageável.

E essa é a situação ideal à qual provavelmente se queria chegar..."

(Margherita Paolini, Il Manifesto/IHU)


(Carta Maior; 2º feira, 28/03/2011)

sábado, 26 de março de 2011

Os ventos da mudança

Por Immanuel Wallerstein - Esquerda.net

Há 51 anos, a 3 de Fevereiro de 1960, o então primeiro-ministro conservador da Grã-Bretanha, Harold Macmillan, dirigiu-se ao parlamento da África do Sul, cuja maioria era do partido que erigira o apartheid como base do seu governo. A sua intervenção ficaria conhecida como o discurso dos “ventos de mudança”. Vale a pena recordar as suas palavras:

“Os ventos da mudança estão a soprar neste continente, e o crescimento da consciência nacional é um fato político, queiramos ou não. Precisamos aceitá-lo como fato político, e as nossas políticas nacionais têm de levá-lo em conta”.

O primeiro-ministro da África do Sul, Hendrik Verwoerd, não gostou do discurso e rejeitou as suas premissas e o seu conselho. 1960 passou a ser conhecido como “O ano da África”, porque 16 colônias tornaram-se estados independentes. O discurso de Macmillan tinha como alvo, na verdade, os Estados do Sul da África que tinham grupos expressivos de colonizadores brancos (e, quase sempre, enormes riquezas minerais) e resistiam à simples ideia do sufrágio universal, na qual os negros constituiriam a esmagadora maioria dos eleitores.

Dificilmente Macmillan poderia ser considerado radical. Explicava o seu raciocínio em termos de conquistar as populações asiáticas e africanas para o lado do Ocidente, na Guerra Fria. O seu discurso foi significativo por ser um sinal de que os líderes da Grã-Bretanha (e, consequentemente, os dos Estados Unidos) viam como causa perdida o domínio eleitoral branco no Sul da África, que poderia arrastar o Ocidente para o abismo. O vento continuou a soprar, e num país após o outro as maiorias negras impuseram-se, até que, em 1994, a própria África do Sul sucumbiu ao voto universal e elegeu Nelson Mandela presidente. Neste processo, porém, os interesses econômicos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos foram de alguma forma preservados.

Há duas lições que podemos aprender deste episódio. A primeira é que os ventos da mudança são muito fortes e provavelmente irresistíveis. A segunda é que quando os ventos varrem os símbolos da tirania, não é certo o que virá a seguir. Quando os símbolos caem, todos, retrospectivamente, os denunciam. Mas todos querem também preservar os seus próprios interesses nas novas estruturas que emergem.

A segunda revolta árabe, que começou na Tunísia e no Egipto, está agora envolvendo mais e mais países. Não há dúvida de que outros símbolos da tirania vão cair, ou vão fazer grandes concessões e promover amplas mudanças nas suas estruturas estatais. Mas quem vai, então, deter o poder? Na Tunísia e no Egipto, os novos primeiros-ministros foram figuras-chave dos anteriores regimes. E o exército, em ambos países, parece estar dizendo às multidões para porem fim aos protestos. Nos dois países, há exilados que regressam, assumem cargos e procuram prosseguir, ou mesmo expandir, os laços com os mesmos países da Europa e da América do Norte que sustentavam os anteriores regimes. É claro que as forças populares estão reagindo e acabam de forçar a renúncia do primeiro-ministro tunisiano.

No meio da Revolução Francesa, Danton aconselhou “de l’audace, encore de l’audace, toujours de l’audace” (“audácia, mais audácia, sempre a audácia”). Ótimo conselho talvez, mas Danton foi guilhotinado não muito tempo depois. E os que o executaram foram guilhotinados em seguida. Depois, vieram Napoleão, a Restauração, 1848, a Comuna de Paris. Em 1989, no bicentenário, quase toda a gente era retrospectivamente a favor da Revolução Francesa, mas é razoável perguntar se a trindade da Revolução Francesa – liberdade, igualdade e fraternidade – foi realmente realizada.

Algumas coisas são diferentes, hoje. Os ventos da mudança são hoje verdadeiramente mundiais. Por enquanto, o epicentro é o mundo árabe, e os ventos ainda sopram ferozes por lá. A geopolítica desta região nunca mais será a mesma. Os pontos-chave a observar são a Arábia Saudita e a Palestina. Se a monarquia saudita for seriamente desafiada – e parece possível que isso aconteça – nenhum regime do mundo árabe vai se sentir seguro. E se os ventos da mudança levarem as duas maiores forças políticas da Palestina a dar-se as mãos, até mesmo Israel pode sentir que é preciso adaptar-se às novas realidades e levar em conta a consciência nacional palestiniana, queira ou não queira, para parafrasear Harold Macmillan.

Desnecessário dizer que os Estados Unidos e a Europa Ocidental estão fazendo tudo o que está ao seu alcance para canalizar, limitar e redirecionar os ventos da mudança. Mas o seu poder já não é o que costumava ser. E os ventos da mudança estão soprando no seu próprio terreno. É a maneira de ser dos ventos. A sua direção e impulso não são constantes nem, portanto, previsíveis. Desta vez são muito fortes. Já não será fácil canalizá-los, limitá-los ou redirecioná-los.

quarta-feira, 23 de março de 2011

O antes, o durante e e o depois: Barack Obama e o Brasil

Cristina Soreanu Pecequilo*

A breve passagem do Presidente Barack Obama no Brasil nos dias 19 e 20 de março de 2011, em Brasília e Rio de Janeiro, foi antecedida por imensa expectativa em alguns círculos, que avaliaram a viagem como um exemplo prático da mudança significativa que a política externa estaria sofrendo no início da administração de Dilma Rousseff em comparação a de seu antecessor Lula (2003/2010). Com base nesta avaliação equivocada, inúmeras imagens foram construídas a respeito do que Obama faria ou diria em solo nacional.

Iniciando com a abolição dos vistos, passando pela conclusão de um acordo comercial bilateral ao estabelecimento de uma ampla parceria energética no campo do petróleo e biocombustíveis até a declaração formal de apoio ao pleito brasileiro de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSONU), a agenda destes grupos era extremamente abrangente. Tendenciosas, estas avaliações revelavam uma preocupação extensiva em desqualificar os esforços diplomáticos anteriores. A utilização repetida do termo “normalização”, associado na década de 1990 a uma perspectiva periférica e acrítica, passava a idéia de uma relação sustentada somente em conflitos e que estaria sendo substituída pela reintegração ao núcleo de poder norte-americano. Mais ainda, revelava o permanente desconhecimento sobre as motivações estratégicas dos EUA.

Se em 2011 o Brasil recebeu Barack Obama como uma potência global, isto se deve aos esforços internos e externos do país que o qualificaram a este status de forma autônoma. Esta situação não emerge de um relacionamento de mão única com aquele que tradicionalmente foi o maior parceiro político-econômico brasileiro no século passado, mas da busca de alternativas que permitiram solidificar uma ação internacional consistente e coerente com as necessidades do país. Com isso, as motivações estratégicas norte-americanas não derivam destes cálculos simplistas que permearam o debate sobre a política externa brasileira, mas da percepção de que o Brasil e a América do Sul são mais dois espaços nos quais os EUA perderam posições.

Assim, era preciso para os norte-americanos sinalizar que desejam preservar o Brasil em sua esfera de influência diante deste vácuo, como já o haviam feito diante da China, da Índia e da Rússia em ofensivas diplomáticas similares em contatos bilaterais prévios. E, no caso, no Brasil e na região, os EUA não perderam somente posições para a China, hoje o maior parceiro comercial brasileiro e aliado no grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), ou para a Índia, também no BRIC e no IBAS (Fórum de Diálogo Índia, Brasil, África do Sul), ou para a África do Sul, ou para a Rússia, ou para a cooperação Sul-Sul em geral, mas para o próprio Brasil nas Américas e no mundo.

Positivamente, em meio a estes ruídos prévios e construções ideológicas de determinados grupos que ignoravam estas questões, os sinais de Brasília mantiveram a percepção de que a visita de Barack Obama representava o reconhecimento deste processo de consolidação político-econômica-estratégica. Tais sinais já se encontravam presentes nos encontros preparatórios entre os dois países antes da chegada de Obama, e demonstravam clareza quanto o que significava esta viagem: uma oportunidade de aprofundar e promover maior adensamento estratégico das relações bilaterais, a partir do reconhecimento norte-americano do status global de poder do Brasil.

Tendo esta realidade como ponto de partida, de que se tratava de uma viagem de reconhecimento e não de concessões norte-americanas ou subserviência brasileira, deixou-se claro que esta dinâmica bilateral não afeta as prioridades externas do Estado brasileiro em termos de agenda Sul-Sul ou Norte-Sul, demandas e projeção. Parte da iniciativa de ser lider é criar fatos novos, dimensões positivas de interdependência, ação que os emergentes e o Brasil tem feito cada vez de forma mais constante. Neste campo, assumem responsabilidades por seus próprios destinos, e de nações similares ou de menor poder relativo, em suas escalas regionais e em nível global estatal e multilateral.

À medida que na última década o Brasil não manteve sua política ou agenda econômica, atrelada aos EUA, sua importância diante deste país aumentou, da mesma forma que sua vulnerabilidade diminuiu diante das constantes oscilações da política da potência hegemônica. Em seu discurso no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 19 de Março, Barack Obama mencionou iniciativas brasileiras como a UNASUL (União Sul-Americana de Nações) e projetos sociais direcionados às nações do sul no combate à fome e programas de saúde. Ou seja, o Brasil não era mais só o país do futuro, mas que o futuro teria chegado ao Brasil, como afirmou o Presidente dos EUA.

Fortemente, o país demonstrou não ter ilusões de que este reconhecimento traduzir-se-ia, de imediato, em uma mudança concreta da posição norte-americana em determinados temas. Nestes temas, principalmente no comércio bilateral, arena na qual o Brasil demanda maior igualdade e reciprocidade, e na reforma das organizações internacionais governamentais, principalmente no caso das Nações Unidas e seu CS, a posição brasileira foi de sustentar suas reivindicações. Por sua vez, pode-se até considerar que os EUA responderam positivamente em sua retórica, em suas demonstrações de “apreço” pelo pleito brasileiro, pela fala de Obama a empresários que igualou o país à China e Índia. A retórica, porém, não foi acompanhada pela substância da mudança ou pela sinalização de que os norte-americanos estariam dispostos a fazer concessões para engajar de forma diferente o Brasil nestas dimensões.

Acenar com parcerias para o pré-sal, ações conjuntas no campo energético é sinal do novo papel do Brasil, mas também da natureza pragmática do interesse norte-americano em petróleo, mercados em novos espaços que não surjam como tão conturbados como o Oriente Médio, apostando nas nações “amigas”. E, igualmente sendo pragmáticos, são parcerias que trazem inúmeros riscos ao Brasil, caso o país não busque preservar sua soberania nestas negociações, independente do campo. Neste sentido, o papel, por exemplo, da Comissão Brasil-Estados Unidos para Relações Econômicas Comerciais é o de encontrar pontos de consenso possível e equilibrio no setor, preservando a capacidade negociadora brasileira e sua autonomia. O mesmo raciocínio se estende às arenas da biodiversidade, dos diálogos estratégicos, da cooperação técnica e para a organização e segurança da Copa-2014 e das Olimpíadas-2016. O Brasil não pode se furtar a negociar com os EUA, mas precisa atrelar estas conversações a lograr objetivos que permitam a continuidade de seu crescimento e resolução de assimetrias internas via programas sociais.

Chegando ao mundo “real” não deixa de ser simbólico que enquanto Barack Obama acenava às “nações amigas” da América Latina, como o fez no Brasil, e o fará no Chile, com declarações “históricas” sobre as relações entre “iguais” e a consolidação da democracia, os bombardeios aéreos à Líbia atingissem elevada intensidade, depois da autorização do CSONU à operação na sexta-feira 18/03/2011. Em solo brasileiro, a intervenção foi abordada sob o signo da defesa da democracia e motivos humanitários, enquanto prolongam-se protestos e repressões similares em países aliados norte-americanos na região.

Também não deixa de ser simbólico, que nesta votação do CS, os países que se abstiveram e demonstraram preocupação com a ação, fossem os emergentes membros permanentes deste Conselho e nações pleiteantes, membros temporários eleitos: China e Rússia, somados à Brasil, Índia e Alemanha. São nestas manifestações que se desenha o novo mapa geoestratégico global e as complexas dinâmicas de poder do século XXI que motivam as viagens de Obama e suas declarações de igualdade com seus parceiros.

Porém, como se diz no Brasil, os EUA são um “pouco mais iguais” do que os outros: seu poder militar de superpotência e comando residual das organizações internacionais contrasta com uma economia estruturalmente deficiente e uma sociedade doméstica polarizada. Durante e depois de Obama, o Brasil continua sendo o mesmo de antes, consolidando sua ascensão do nível regional ao global, que busca a continuidade de seu projeto político-social-econômico e estratégico. Com os EUA, e com o mundo, dialogar não é sinônimo de concordar, mas de saber ouvir, negociar e falar em nome do interesse nacional.

(*) Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Agressão imperialista contra a Líbia: geopolítica e desforra

Editorial de Portal Vermelho.

Mais uma vez o imperialismo usa a desculpa esfarrapada de “defender populações civis” para impor, pela força, a um país soberano, seus interesses e objetivos geopolíticos. Desta vez, o alvo do mesmo perverso roteiro, já encenado no Iraque, no Afeganistão, na Sérvia, é a Líbia.

A ação, contrariamente ao ocorrido no Iraque em 2003, tem um frágil biombo para disfarçar a agressão. Ele é constituído pela resolução do Conselho de Segurança da ONU que aprovou, por 10 votos contra cinco abstenções, as medidas agressivas contra Tripoli. O imperialismo não conseguiu sequer unir todo seu campo; entre os cinco países que não aceitaram acompanhar aquela medida, um deles é justamente a Alemanha, uma das principais potências imperialistas. Os outros quatro são, significativamente, os países que formam o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), o bloco cuja emergência marca o cenário recente no mundo.

As ações iniciadas contra a Líbia, sob comando dos EUA e reunindo forças militares de um conjunto de países europeus, destacando-se entre eles a França e a Inglaterra (além de Espanha, Itália, Noruega e Dinamarca), constituem mais uma grave violação da soberania de uma nação independente.

Desde o início, os protestos na Líbia tiveram uma característica distinta dentro da onda libertária que sacode o mundo árabe. Nos demais países, todos os sinais indicam movimentos democráticos que surgiram de maneira espontânea, manifestando o descontentamento das multidões e o repúdio contra regimes notoriamente aliados dos países imperialistas. Isso ocorreu na Tunísia, no Egito, e está em curso em outras nações, particularmente no Iêmen e no Barein. Nestes dois países, a repressão contra os manifestantes é sangrenta e mortal, deixando um rastro de cadáveres em sua passagem mas que, nem por isso, desperta nas potências o alegado sentido humanitário que proclamam contra Muamar Kadafi, evidenciando a hipocrisia das motivações que levaram à adoção da resolução agressiva do Conselho de Segurança da ONU.

Na Líbia, os protestos foram usados pelo imperialismo como uma oportunidade para a intromissão, usando como instrumento seus notórios aliados que fazem parte da chamada Frente Nacional pela Salvação da Líbia (criada e financiada pela CIA) e da monarquista União Constitucional Líbia, também apoiada pelo governo dos EUA.

Desde o início dos protestos contra Kadafi, em 20 de fevereiro, multiplicam-se os sinais de envolvimento das potências imperialistas no apoio a estas facções rebeldes, que logo constituíram um autodenominado Conselho Nacional Líbio; há notícias inclusive de que contrabandearam armas para eles. E a imprensa ligada ao imperialismo cumpriu o seu papel difundindo, pelo mundo, todo tipo de desinformação a respeito dos acontecimentos na Líbia, num nítido esforço para obter o apoio da opinião pública a favor da agressão contra o país.

Tudo isso já foi visto no passado recente, e pretende justificar este outro perigoso passo na escalada guerreira do imperialismo contra os povos.

Os ataques contra a Líbia, iniciados no sábado, envolveram mais de 19 aviões só dos EUA e 110 mísseis disparados de navios de guerra, danificando a infraestrutura do país, atingindo inclusive um hospital cardiológico, e deixando 64 civis mortos pelo menos na capital, Trípoli.

Os líbios resistem e há informações de que o governo começou a distribuir armas para um milhão de cidadãos, número que desmente a perda de apoio de Kadafi entre a população, que se mobiliza em defesa da unidade e da soberania do país.

A agressão imperialista contra a Líbia é mais uma aventura ofensiva de resultado imprevisível e demonstra, mais uma vez, a disposição do imperialismo de usar apenas a agressão e a força militar para impor suas próprias soluções aos conflitos internacionais.

A resistência pode ser tão determinada quanto a que ocorre nos outros cenários de guerra no Oriente Médio. Um dos objetivos do imperialismo é reforçar sua posição num quadro que está instável desde o inicio dos protestos árabes, no começo do ano. Além de controlar o petróleo líbio, o imperialismo busca uma posição de força na vizinhança de um Egito que pode deixar de ser um aliado incondicional e criar uma situação nova e desfavorável a seus interesses no norte da África. E pode haver também a vontade de desforra contra Kadafi que, durante décadas, foi um forte adversário de seus objetivos e domínio.

terça-feira, 22 de março de 2011

VADE RETRO, OBAMA!

A vinda de Obama ao Brasil foi um gesto forte que marcou, para o Brasil e o mundo, um claro movimento de estreitamento das relações entre os governos brasileiro e norte-americano. O governo Dilma aponta para a continuidade, em nova fase, das ações de defesa dos interesses do capitalismo brasileiro no exterior.

A agenda midiática da visita sinaliza claramente um realinhamento do Brasil ao imperialismo norte-americano. Obama, por decisão do novo governo, foi o primeiro estadista estrangeiro a visitar o Brasil após a posse de Dilma. Mas não foi uma visita qualquer.

O governo brasileiro montou um palanque de honra e um potente amplificador para Obama falar ao mundo, em especial à América Latina, para ajudar os EUA a recuperarem sua influência política e reduzir o justo sentimento antiamericano que nutre a maioria dos povos. Nem na ditadura militar, um presidente estadunidense teve uma recepção tão espalhafatosa como a que Dilma lhe ofereceu.

Os meios de comunicação burgueses do mundo todo anunciam hoje em suas manchetes “o carinho do povo brasileiro com Obama” e a “amizade Brasil/Estados Unidos”. Caiu a máscara de uma falsa esquerda que proclama a política externa brasileira como “antiimperialista”.

Em verdade, o Brasil esteve três dias sob intervenção do governo ianque, que decidiu tudo, desde os acordos bilaterais a serem assinados à agenda, à segurança, à repressão a manifestações, ao itinerário, ao alojamento, às visitas e até ao cardápio de Obama. No Rio de Janeiro, a diplomacia americana e a CIA destituíram o governador e o prefeito, que queriam surfar na visita ilustre, decidindo tudo a respeito da presença de Obama na capital do Estado. Até a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, que fica na Cinelândia, foi obrigada a suspender suas atividades na sexta-feira. Foi ocupada por agentes norte-americanos e militares brasileiros para os preparativos do comício de domingo, que seria na praça em frente.

No caso da América Latina, foi um gesto de solidariedade aos EUA em sua luta contra os processos de mudança, sobretudo na Venezuela, Bolívia e no Equador e uma vista grossa ao bloqueio a Cuba Socialista e à prisão dos Cinco Heróis cubanos.

A moeda de troca para abrirmos mão de nossa soberania foi um mero aceno de apoio norte-americano à pretensão obsessiva do Estado burguês brasileiro de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, um símbolo para elevar o Brasil à categoria de potência capitalista mundial. Tudo para expandir os negócios dos grandes grupos brasileiros no mercado norte-americano e mundial.

Enganam-se os que pensam que existe contradição entre a política externa do governo Lula e a de Dilma, ambas fundamentalmente a serviço do capital. Trata-se agora de uma inflexão pragmática. Após uma fase em que o Brasil expandiu e consolidou os interesses de seus capitalistas por novos “mercados” como América Latina, África, Ásia e Oriente Médio, a tarefa principal agora é dar mais atenção aos maiores mercados do mundo, para cuja disputa segmentos da burguesia brasileira se sentem mais preparados.

Vai no mesmo sentido a vergonhosa atitude de Dilma lavar as mãos para facilitar a extradição de Cesare Battisti ao governo italiano, dirigido pelo degenerado cafetão Berlusconi, entregando um militante de esquerda na bandeja do imperialismo europeu, no exato momento em que cresce na região a resistência dos trabalhadores.

O governo brasileiro, durante os três dias em que Obama presidiu o Brasil, não fez qualquer gesto ou apelo aos EUA, sequer de caráter humanitário, pelo fim do bloqueio a Cuba, o desmonte do centro de tortura em Guantánamo, a criação do Estado Palestino, o fim da intervenção militar no Iraque e no Afeganistão.

Debochando da soberania brasileira e da nossa Constituição - que define nosso país como amante da paz mundial e da autodeterminação dos povos -, Obama ordenou os ataques militares contra a Líbia a partir do território brasileiro, exatamente em Brasília, próximo à Praça dos Três Poderes, que se ajoelharam todos diante desta humilhação ao povo brasileiro. Não se deu ao trabalho de ir à Embaixada americana, para de lá ordenar a agressão militar. Fê-lo em meio a compromissos com seus vassalos, entre os quais ministros de Estado brasileiros que se deixaram passar pelo vexame de serem revistados por agentes da CIA.

O principal objetivo da vinda de Obama ao Brasil foi lançar uma ofensiva sobre as reservas petrolíferas brasileiras do pré-sal, uma das razões da reativação da IV frota naval americana nos mares da América Latina. No caso de alguns países, o imperialismo precisa invadi-los militarmente para se apoderar de seus recursos naturais. No Brasil, bastam três dias de passagem do garoto propaganda do estado terrorista norte-americano, espalhando afagos cínicos e discursos demagógicos.

Outro objetivo importante da visita tem a ver com a licitação para a compra de aviões militares, suspensa por Dilma no início do ano, justamente para recolocar no páreo os aviões norte-americanos. Além disso, os EUA garantiram outros bons negócios na agricultura, no setor de serviços, na maior abertura do mercado brasileiro e latino-americano em geral.

Obama só foi embora fisicamente. Mas deixou aqui fincada a bandeira de seu país, no coração do governo Dilma. Cada vez fica mais claro que, no caso brasileiro, o imperialismo não é apenas um inimigo externo a combater, mas um inimigo também interno, que se entrelaçou com os setores hegemônicos da burguesia brasileira. O pacto Obama/Dilma reforça o papel do Brasil como ator coadjuvante e sócio minoritário dos interesses do imperialismo norte-americano na América Latina, como tristemente já indicava a vergonhosa liderança brasileira das tropas militares de intervenção no Haiti.

O PCB, que participou ativamente das manifestações contra a presença de Obama no Brasil, denuncia o inaudito aparato repressivo no centro do Rio de Janeiro. Repudia a repressão exercida contra ativistas políticos e se solidariza de forma militante com os companheiros presos.

Desde a época da ditadura, nunca houve tamanha repressão e restrição à liberdade de expressão e ao direito de ir e vir. No domingo, o centro do Rio de Janeiro foi cercado por tropas e equipamentos militares. Uma passeata pacífica foi encurralada por centenas de militares armados, agentes à paisana, cavalaria e tropa de choque. Nunca houve tamanho aparato militar, mobilizado pelas três esferas de governo - Federal, Estadual e Municipal -, sob o comando da CIA e do Pentágono, em clara e desavergonhada submissão ao imperialismo.

A resistência do movimento popular teve uma vitória importante: a pressão exercida levou à suspensão de um comício de Obama em praça pública, na Cinelândia, local que simboliza as lutas democráticas e da esquerda brasileira. Obama fugiu do povo e falou em local fechado para convidados escolhidos a dedo, pelo consulado americano, a nata da burguesia carioca: falsos intelectuais, empresários associados, jornalistas de aluguel, artistas globais, políticos oportunistas, deslumbrados e emergentes, enfim, uma legião de puxa-sacos que se comportaram como claque de programa de auditório de mau gosto para o chefe dos seus chefes.

PCB (Partido Comunista Brasileiro)

Comitê Central – 20 de março de 2011

Reflexão de Fidel Castro: Os sapatos me apertam

Enquanto os reatores sinistrados despejam fumaça radiativa no Japão, e aviões de monstruosa aparência e submarinos nucleares lançam mortíferas cargas teleguiadas sobre a Líbia, um país norte-africano do Terceiro Mundo com apenas seis milhões de habitantes, Barack Obama contava aos chilenos uma fábula parecida com as que eu escutava quando tinha quatro anos: “Os sapatos me apertam, as meias fazem calor; e o beijinho que me deste levo no coração”.

Alguns de seus ouvintes ficaram pasmos naquele “Centro Cultural” em Santiago do Chile.

Quando o presidente mirou ansioso o público depois de mencionar a pérfida Cuba, esperando uma explosão de aplausos, houve um silêncio glacial. Às suas costas – Ah! Feliz coincidencia! – entre as demais bandeiras latino-americanas, estava exatamente a de Cuba.

Se por um segundo desse uma volta sobre seu ombro direito, teria visto, como uma sombra, o símbolo da Revolução na Ilha rebelde que seu poderoso país quis, mas não pôde, destruir.

Qualquer pessoa seria, sem dúvida, extraordinariamente otimista se espera que os povos de Nossa América aplaudam o 50º aniversário da invasão mercenária de Giron, 50 anos de cruel bloqueio econômico de um país irmão, 50 anos de ameaças e atentados terroristas que custaram milhares de vidas, 50 anos de projetos de assassinato dos líderes do histórico processo.

Senti-me aludido em suas palavras.

Prestei, efetivamente, meus serviços à Revolução durante muito tempo, mas nunca eludi riscos nem violei princípios constitucionais, ideológicos ou éticos; lamento não ter tido mais saúde para seguir servindo-a.

Renunciei sem vacilação a todos os meus cargos estatais e políticos, inclusive ao de Primeiro Secretário do Partido, quando adoeci e nunca tentei exercê-los depois da Proclamação de 31 de julho de 2006, nem quando recuperei parcialmente minha saúde mais de um ano depois, embora todos continuassem intitulando-me afetuosamente dessa forma.

Mas sigo e seguirei sendo como prometi: um soldado das ideias, enquanto possa pensar e respirar.

Quando perguntaram a Obama sobre o golpe de Estado contra o heróico presidente Salvador Allende, promovido como outros muitos pelos Estados Unidos, e a misteriosa morte de Eduardo Frei Montalva, assassinado por agentes da Dina, uma criação do governo norte-americano, perdeu sua presença de espírito e começou a tartamudear.

Foi certeiro, sem dúvida, o comentário da televisão do Chile ao final de seu discurso, quando expressou que Obama já não tinha nada que oferecer ao hemisferio.

De minha parte, não quero dar a impressão de que experimento ódio a sua pessona, e muito menos ao povo dos Estados Unidos, a cujos muitos de seus filhos reconheço o aporte à cultura e à ciência.

Obama tem agora pela frente uma viagem a El Salvador nesta terça-feira. Ali terá que inventar bastante, porque nessa nação centro-americana irmã, as armas e os treinadores que recebeu dos governos de seu país, derramaram muito sangue.

Desejo-lhe boa viagem e um pouco mais de sensatez.

Fidel Castro Ruz
21 de março de 2011, 21h32

Fonte: Cubadebate

segunda-feira, 21 de março de 2011

Obama, Dilma e o exemplo de Tancredo

Foi um ultraje, um abuso, um desrespeito total ao povo brasileiro o fato de Obama ter usado o território brasileiro, e mais precisamente as dependências do Palácio do Planalto, durante audiência com a Presidenta Dilma, para dar as ordens de ataque com mísseis à Líbia! Não merece, em absoluto, o Prêmio Nobel da Paz, mas o da guerra!

por Beto Almeida*

Mas, o episódio, mais um para a coleção de atitudes desrespeitosas com o povo brasileiro que dirigentes dos EUA praticaram - a mais grave de todas o Golpe de 1964, organizado a partir da Casa Branca que o pop star não mencionou - nos faz reviver um outro episódio.

Eleito pelo Colégio Eleitoral, Tancredo Neves fez um giro por diversos países para comunicar a nova fase da política no Brasil a partir de 1985. O primeiro visitado foi os Estados Unidos. Recebido por Ronald Reagan, que na época sustentava a criminosa agressão contra a Nicarágua por meio de sabotagens e de apoio a grupos terroristas chamados de “contras”, Tancredo ouve com paciência o presidente estadunidense discorrer sobre América Latina e, praticamente, solicitar ou assediar o apoio brasileiro contra a Nicarágua Sandinista, por ele chamada de “expansão comunista-terrorista na região”.

Mineirice e soberania

Reagan só mais tarde foi compreender qual é a manha dos mineiros. Aparentemente, pelo comportamento de Tancredo na reunião privada, Reagan foi iludido acreditando que o mineiro estaria de acordo com os absurdos intervencionistas e criminosos que os EUA estavam lançando contra a Nicarágua. E por desdobramento, desrespeitando o povo brasileiro também convocando o Brasil para uma guerra contra um país irmão, a Pátria de Sandino.

Pois Tancredo deixou a Casa Branca sem dizer palavra e dirigiu-se ao Congresso. Aí sim estava a caixa de ressonância de que precisava. Ao ser sabatinado por senadores e deputados, em meio a indagações protocolares, genéricas e as imbecilizantes de sempre, sem que ninguém lhe perguntasse, Tancredo declara em alto e bom som para surpresa de todos, inclusive de sua assessoria que sequer fora avisada: “o Brasil não vai admitir uma intervenção militar estrangeira na Nicarágua Sandinista!”

O embaixador norte-americano no Brasil, um afrodescendente, ficou pálido com o que ouviu, segundo relato do experimentado jornalista José Augusto Ribeiro, assessor de imprensa de Tancredo, que também só naquele instante tomava conhecimento da postura do presidente brasileiro recém-eleito em defesa da autodeterminação dos povos, e, concretamente, em defesa do direito da Nicarágua de escolher seu modelo político soberanamente, reconhecendo seu sagrado exercício de independência.

Fidel e Tancredo

Imediatamente a declaração corajosa e soberana de Tancredo Neves, no Congresso dos EUA, minutos após ter se reunido com o presidente Ronald Reagan que lhe fez a proposta indecente, ecoava mundo afora pelas agências de notícias. Minutos depois um despacho das agências noticiosas chegava às mãos de Fidel Castro, que estava à tribuna num Congresso Internacional Contra o Pagamento da Dívida Externa, em Havana, quando também havia acabado de advertir para o risco de uma intervenção militar norte-americana na Nicarágua. Fidel pára seu discurso, lê o telegrama com as declarações de Tancredo Neves e fulmina da tribuna: “Invadir a Nicarágua é relativamente fácil, quero ver invadir o Brasil de Tancredo Neves!”

Sabe-se que quando Obama foi interrompido por seu secretário à mesa de reunião com Dilma, ele deu a ordem de ataque que pode levar à morte milhares de civis líbios e destruir tudo o que foi construído pelo processo de transformações da Líbia. E, ato contínuo, teria comunicado sua decisão à Presidenta Dilma, como a querer apoio ou adesão ao ataque. Dilma, segundo os relatos, teria recusado e declarado “o Brasil é um país pacífico e não concordamos que a ação militar vá produzir os efeitos esperados”. Não aderiu. Mas não declarou publicamente.

Desrespeito ao povo brasileiro

Teria sido importante que Dilma, a exemplo do também mineiro Tancredo Neves, ecoasse esta declaração em cadeia de TV e rádio, enquanto Obama estivesse em território brasileiro. Era uma maneira de reprovar publicamente a abusiva atitude de Obama de usar o território brasileiro, em visita oficial, para determinar um ataque mortal contra um país com o qual o Brasil tem relações normais, incluindo a participação de empresas, técnicos e produtos no processo de transformação que levou a Líbia a ter o mais elevado Índice de Desenvolvimento Humano da África.

Aliás, envolto em profundo simbolismo e em sintonia histórica com as declarações de Tancredo Neves está a recusa de Lula a comparecer ao almoço com Obama. Talvez esteja no gesto de Lula o que verdadeiramente Dilma e o Itamaraty queriam ou deviam dizer.

Sabemos que os primeiros mísseis lançados contra Trípoli destruíram um hospital e mataram 48 pessoas, inclusive crianças. As agências de notícias controladas pela indústria bélica e pelo poder petroleiro com sanguinária voracidade pelo óleo negro líbio continuam a mentir, agora dizendo que nenhum alvo civil foi atingido. Isto não está autorizado pela Resolução 1973 da ONU. É terrorismo pura e simplesmente!

Por isso Brasil, Rússia, China, Índia e Alemanha abstiveram-se, provavelmente sabendo das extrapolações criminosas - já preparadas há tempo - dos termos da Resolução para apoiar a contra-revolução. O precedente é gravíssimo e pode ser aplicado até mesmo contra o próprio Brasil ou qualquer país que tenha robustas riquezas energéticas. Com a quantidade de agentes de serviços de informação que atuam no Brasil disfarçados de ongueiros, conforme denunciam autoridades brasileiras, é o caso de atentar para o perigoso precedente aberto pela decisão da ONU.

Tancredo mandou fechar base militar dos EUA no Brasil

Num dia em que até ministros de estado brasileiros foram bruscamente revistados por seguranças de Obama, o exemplo da sabedoria de Tancredo recobra atualidade e vitalidade. Foi também Tancredo que, como primeiro-ministro, mandou fechar uma Base Militar que os EUA tinham no arquipélago de Fernando Noronha. Porém, Tancredo não fez declarações, apenas consultou as forças armadas no último dia do prazo para a renovação do contrato para a permanência da instalação militar estadunidense, e, mandou publicar o decreto determinando a retirada do dispositivo estrangeiro no Diário Oficial.

Com isso retirou o espaço e tempo de manobra dos vassalos sempre postos a defender os interesses da metrópole contra nosso próprio povo. Só no dia seguinte a opinião pública veio a saber do episódio, também relatado por José Augusto Ribeiro. Tancredo foi insistentemente indagado pelos jornalistas se iria normalizar as relações com Cuba, um modo de conflitá-lo com setores militares. Tancredo respondia com gargalhadas bem humoradas: “Mandei fechar uma base militar dos EUA e ninguém nunca me perguntou nada sobre isto. Mas, agora, só querem saber de Cuba, Cuba, Cuba”.

Se bem já não estamos mais na etapa em que um chanceler brasileiro chegava a agachar-se para retirar os sapatos em obediência a um guardinha de alfândega nos EUA, há sinais confusos sobre a necessária e imperativa continuidade, com mais consolidação e audácia, da política externa elaborada e praticada durante o governo Lula.

Seja porque todas as sanções ou ações militares delas decorrentes que os EUA arrancam no grito do Conselho de Segurança da ONU jamais deixaram de ser, de verdade, nada menos que agressões armadas contra povos e governos que têm posição de independência em relação à Casa Branca. As mais recentes destas sanções resultaram em destruição e morte na Yugoslávia, no Iraque, no Panamá, no Afeganistão e, agora, recém começada, na Líbia, prevendo-se a demolição de toda uma infra-estrutura que levou a Líbia a superar o atrasadíssimo regime monárquico e passar do tribalismo à construção de uma experiência socialista, ainda longe de ser alcançada.

Demolição do estado Líbio

Mas, é emblemático o fato de que os primeiros bombardeios lançados de porta-aviões dos EUA sobre Trípoli tenham demolido um hospital público, uma das conquistas deste processo de transformações, que também inclui um avançado sistema público de educação, canais de irrigação, indústria petroleira estatal, alvos que, demolidos, podem fazer o país recuar no tempo socio-economico. Aliás, está claro porque se levanta a bandeira da monarquia hoje por lá, com o apoio do Pentágono e da máquina macabra da OTAN.

Com toda certeza, o Brasil tem uma experiência histórica que nos anima a dizer que tem faltado mais protagonismo ao Itamaraty na crise Líbia, como indicamos em artigo anterior. Vale lembrar, por exemplo, que Vargas, intimado pelos EUA, recusou-se a colocar o Brasil na Guerra da Coréia. Em Angola, o Brasil apoiou o governo de Agostinho Neto, do MPLA, sendo o primeiro país a reconhecer a Independência da ex-colônia portuguesa.

A agressão à Líbia não passa de uma guerra de rapina do petróleo e numa ação para intimidar todo o processo de libertação política do mundo árabe, sempre cuidando de proteger os interesses dos EUA na região, como se vê na hipocrisia contida no apoio descarado de Hillary Clinton à invasão militar da Arábia Saudita ao Bahrein.

O Brasil construiu uma política externa que lhe rendeu prestígio e autoridade mundial. Não pode retroceder e aparecer associado ou até mesmo passivo diante de monstruosas maquinações midiáticas e bélicas para sustentar uma política neocolonialista, como agora neste criminoso ataque contra a Líbia.

Quando a Presidenta Dilma iniciou sua campanha eleitoral por Minas Gerais, exatamente com um gesto emblemático de depositar flores no túmulo de Tancredo Neves, saudamos a escolha da iniciativa. Com a esperança de que muitos dos ensinamentos deixados pelo estadista mineiro ajudem a iluminá-la nas horas mais difíceis. E a pronunciar o que o gesto de Lula afirmou.

* Jornalista, Membro da Junta Diretiva da Telesur.

domingo, 20 de março de 2011

Escuta aqui Ianque!


Senhor Barack Hussein Obama, presidente dos Estados Unidos da América:


Senhor Presidente: Simón Bolívar escreveu, em 05 agosto de 1829: “Os EUA parecem destinados pela providência para infestar a América de misérias em nome da liberdade”. Uma profecia confirmada mil vezes, até os nossos dias. A advertência do Libertador tornou-se realidade não só na América Latina e no Caribe, condenado por sua proximidade geográfica e suas enormes riquezas a sofrer a pilhagem dos EUA e suas legiões de marines. A partir da Segunda Guerra Mundial, a voracidade depredadora do novo império tornou-se universal e continua a cometer crimes contra a humanidade invocando a liberdade e os direitos humanos de suas vítimas. Seu país, Senhor Presidente, que forjaram patriotas exemplares inspirados em nobres princípios republicanos, se tornou um império cruel, desalmado e voraz, odiado e temido no mundo.

Guerras e invasões, bombardeios das populações civis, golpes de Estado, conspirações e assassinatos políticos, tortura em prisões secretas, terrorismo, sabotagem, campanhas de propaganda e dinheiro para desestabilizar os governos, mentiras para justificar a ocupação de países ricos em petróleo, gás e outros minerais, bloqueios de alimentos e remédios para submeter a soberania e dignidade de nações pequenas e fracas, e acima de tudo, o seu desenfreado espírito de rapina, transformaram os EUA em odioso símbolo do escárnio ao direito dos povos. Como está longe seu país hoje do nobre espírito que animou a Declaração de Independência em 1776! A proclamação de Jefferson e seus colegas de que “todos os homens nascem iguais”, se perdeu na escuridão da traição. O senhor representa algo completamente diferente do país que sonharam os Pais Fundadores. O senhor é o chefe de um império que ameaça o mundo com sua busca desesperada por matérias-primas e recursos energéticos para alimentar uma economia que não reconhece outro limite que o lucro máximo. Esta irresponsabilidade está empurrando a humanidade à fome e ao desastre. O desprezo da sua nação pelas leis da natureza ameaça a existência do planeta e atropela as normas de solidariedade ambiental que garantem a presença do ser humano na Terra. Seu governo, senhor presidente, tem continuado as políticas que fazem dos EUA um império belicista. Mais do que um país, o seu é uma fortaleza militar. Isso pode ser comprovado pelo orçamento de defesa deste ano de 553 bilhões de dólares e um adicional de 117,8 bilhões para apoiar a guerra no Afeganistão e no Iraque.

O senhor não fala em nome dos 155 milhões de norteamericanos que querem um mundo em paz. Muito menos o faz pelos milhares de sindicalistas e jovens que têm se mobilizado nestes dias em Wisconsin, Ohio e outros estados para protestar contra leis que reduzem os salários e aposentadorias. O senhor fala em nome dos 400 norteamericanos que Michael Moore já disse que “têm a mesma quantidade de riqueza que a metade do total dos norteamericanos”. Esse gordo formidável e incansável, que tem feito a sua parte para divulgar a realidade dos EUA, afirma também: “Temos entregado a nossa preciosa democracia para uma elite financeira. Wall Street, os bancos e Fortune são os que governam esta república” (1). Esta realidade – a do capitalismo – também se vive no Chile. Somos pouco mais do que 17 milhões de uma população mestiça que, no entanto, discrimina os indígenas, morenos e negros. Nosso país sofre das mesmas distorções que afetam o seu, entre outras razões porque se esforça em imitar. Também no Chile, uma elite exerce o poder. Seus membros possuem fortunas imensas e constam do quadro de honra da Forbes . Íris Fontbona, viúva de Luksic, possui 19,2 bilhões de dólares. Horst Paulmann, 10,5 bilhões, a familia Matte, proprietários de florestais e usinas de energia, 10,4 bilhões; e o Presidente da República, Sebastián Piñera, aumentou sua fortuna aumentou para 2,4 bilhões no ano passado. Esta minoria insaciável controla os meios de comunicação e a educação privada, onde se educam a maioria das crianças e jovens chilenos. Consegue assim o mesmo engano massivo que Moore menciona em seu discurso de Madison: que os pobres “votem no partido que protege os ricos, porque ‘um dia você poderá ser um deles”. O apoio social da elite governante no Chile é uma suposta classe média, alienada pelo consumismo e que se equilibra no cartão de crédito. Isto facilita o acesso a automóveis, eletrodomésticos, telefones celulares, viagens e entretenimento, cuja profusão permite criar a ilusão de uma sociedade igualitária. Por trás do pano escondem-se três milhões e meio de pobres e indigentes e quase 700.000 jovens que não estudam nem trabalham. Uma parte considerável da população é prisioneira da droga. O Chile – como o senhor sabe – é um dos dez países com maior desigualdade do mundo. Como o senhor pode ver, senhor Presidente, no Chile vai se sentir em casa. De certa forma – poderá perceber se o espesso muro de segurança permitir – nosso país é uma tosca imitação do seu. Mas vocês são o império e nós, a colônia. O modelo econômico e social que nos foi imposto pelo terrorismo de Estado dos militares e empresários em conluio com as empresas multinacionais, foi o prêmio maior da intervenção norteamericana. A oligarquia que ajudou a deflagrar o golpe é a mesmo que hoje governa o país. Nunca o deixaram de fazer, em nenhum momento durante quase 40 anos. Para isso utilizou, indistintamente, de militares e políticos de direita e de “centro-esquerda”. Estes últimos governaram por 20 anos e nem sequer despentearam o modelo neoliberal. Pelo contrário, acabaram por transferir para o setor privado o pouco que sobrava da área pública.

Essa gentalha, senhor Presidente, são seus amigos no Chile. Tenha cuidado com eles. É lamentável que o senhor trilhe a mesma estrada sinuosa que seus antecessores já percorreram. O senhor não corrigiu a aleivosa política para Cuba, que incrementaram os dez presidentes anteriores. O bloqueio contra a ilha – o senhor bem sabe – é uma arbitrariedade injusta que viola os direitos humanos do povo cubano, e que as Nações Unidas assinala todo ano, sem que seu país se faça de entendido. Isto é um insulto e uma afronta para toda a América Latina e o Caribe, porque atropela a soberania de uma nação irmã. Além disso, seu governo tem se feito de surdo ao apelo mundial de liberdade para os cinco cubanos presos nos EUA acusados de impedir as ações terroristas preparada contra a ilha. A atitude beligerante de seu governo contra a Venezuela é outro fato constrangedor desta política imperial. Suas tentativas de desestabilizar o governo do presidente Hugo Chávez, repetem o mesmo esquema de intervenção externa que o Chile viveu em 1973 e Honduras em 2009. O senhor parece não entender que, na América Latina e no Caribe, renasceu uma corrente política e social que demanda democracia participativa, justiça e igualdade. É um movimento de povos cansados de ficções democráticas na medida dos interesses oligárquicos. Sua demanda superior, como sempre, é a unidade e a integração da América Latina e do Caribe.

Isso é o que Hugo Chávez representa para o povo venezuelano e para os pobres e excluídos do continente. A Revolução Bolivariana tem uma linha de continuidade de dois séculos com a história política latinoamericana e caribenha. Vem dos libertadores que desafiaram e derrotaram o poder colonial, entre eles o nosso Bernardo O'Higgins que proclamou “mais vale morrer de pé do que viver de joelhos”. Esse foi o espírito de luta dos chefes e soldados indígenas e mestiços das primeiras lutas pela independência. É o mesmo espírito que renasceu em Fidel Castro e Salvador Allende, e que hoje percorre as planícies da Venezuela e as selvas e montanhas do Equador e da Bolívia. Em 1960, um grande norteamericano, o sociólogo C. Wright Mills, escreveu Escuta ianque. A Revolução Cubana. Foi uma tentativa de fazer os EUA compreender este acontecimento histórico. Mas os ianques não deram ouvidos. Oxalá o senhor preste atenção em norteamericanos valentes como Noam Chomsky, James Petras, Michael Moore e tantos outros intelectuais, artistas, cineastas, religiosos, cientistas, sindicalistas, etc, que com honestidade tentam que a sua nação acorde para a realidade. Se o senhor atender a essas vozes, compreenderá porquê o clássico grito “Yankees go home” continua sendo ouvido pelos presidentes norteamericanos até o dia do juízo final do imperialismo.

Atenciosamente,

MANUEL DONOSO CABIESES
diretor de "Punto Final"

(1) Discurso de Michael Moore em Madison, Wisconsin, 5/3/2011. (Ver http://www.rebelion.org/noticia.php?id=123832).

sábado, 19 de março de 2011

O FIM DO FIM

Fonte: ANNCOL

O almirante, quando diz “negociação”, continua a pensar na “debandada” e que os guerrilheiros negociarão a desmobilização com Chucky Santos e suas maritacas e, como querem os padres efeminados, o arrependimento, o perdão e a emenda reconciliadora.



O plano militar “Fim do Fim” foi criado na embaixada dos EUA contando com o alto comando do exército colombiano. Simples, e baseado na idéia dos imperialistas e seus lacaios de que as armas são onipotentes e que o homem é um apêndice delas. Quando é justamente o contrário. É o homem, com suas idéias e sua vontade, o fator fundamental da guerra.

O plano tem três partes: A primeira é Militar: Contando com a mais moderna tecnologia de satélites e da aviação militar, eliminar um a um os membros do Secretariado e alguns comandantes intermediários das FARC, para produzir o efeito “debandada” entre os guerrilheiros.

A segunda parte é política: Iniciar uma forte ofensiva “política” para a desmobilização da guerrilha intitulada “Paz Negociada” com o objetivo de produzir o efeito de que primeiro vem a paz e depois a negociação. Essa é a oferta de paz que Angelino Garzón, o “Convertido”, tem feito repetidamente, como um papagaio de batina, interpretando a ordem dada pelo presidente Santos, criador da teoria dos Falsos Positivos.

Por fim, a terceira parte é Diplomática: Iniciar uma forte ofensiva diplomática dentro da chamada “comunidade internacional”, onde figuram em igualdade países tão díspares como os imperialistas EUA, Canadá, França, Espanha, juntamente com marionetes como o México, Peru ou Panamá; com o objetivo de exercer uma pressão internacional muito forte para que a guerrilha aceite o “magnânimo” oferecimento feito por Chucky Santos e sua maritaca Angelino.

Como já foi dito, é o homem com suas idéias, sua moral e sua vontade, que determinam o curso da guerra. Hoje, 19 de março de 2011, na ausência do sodomita Riverita, que está no armário, o comandante das FF.MM da Colômbia, o Almirante de água doce Cely, saiu a público para reconhecer que “talvez não será tão fácil como o planejaram”, eliminar UM x UM os comandantes do Secretariado das FARC e alguns comandantes de Frentes, para produzir uma hipotética “debandada desmobilizadora” nas fileiras da guerrilha, e, em consequência, diz a novidade de que “possivelmente” o conflito social e armado colombiano termine em uma negociação, que é o quê as FARC propões há 6 décadas. Logicamente, quando o almirante diz que “negociações” ainda continua pensando na “debandada” e em que os guerrilheiros negociarão com Chucky Santos e suas maritacas a desmobilização e, como querem os padres efeminados, o arrependimento, o perdão e a emenda reconciliadora.

Mas não será tão fácil levar o plano original até o fim. À medida que se desmascara o Messias Uribe Vélez com os seus milagres, começam a surgir as enormes rachaduras que existem no braço armado do uribismo: O general “Coca” Naranjo, para salvar seu chefe, o Capo N º 82, afunda em público e sem o menor escrúpulo, o editor do jornal Tiempo-Planeta e seu antigo sócio, José Obdulio. Pastrana bate, bate e bate contra Uribe Vélez, esquecendo quem o nomeou como embaixador em Washington, e a quem ele apoiou, com todo o seu poder, quando era presidente da Colômbia, em 2002, para ser “eleito” pelos grupos paramilitares como seu sucessor. E Chucky Santos tenta maquiar cada vez mais o seu divino rosto, mostrando-se ao mesmo tempo como Liberal pardista, vargasllerista, da U, e até mesmo verde. Só falta se declarar polista da linha de Petro para aumentar a confusão que impera no seio da classe dominante e de seus apoios imperialistas.

Finalmente começam a entender que apenas se tratou de Resistir a eles adequadamente, utilizando todas as ações e iniciativas das massas exploradas!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Brasil quer relação de igual para igual com Estados Unidos

Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou hoje (17) que a visita ao Brasil do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no próximo fim de semana deve representar, sobretudo, o estabelecimento de um novo patamar nas relações entre os dois países. Ele disse que o Brasil quer uma relação de igual para igual, sem confrontação.

“O Brasil quer uma relação de igual para igual. As circunstâncias no mundo de hoje favorecem isso”, afirmou o chanceler. “O Brasil se consolidou como democracia”, acrescentou, lembrando que as fontes renováveis no Brasil são 45% da matriz e que os brasileiros estão envolvidos em vários temas de interesse global.

Patriota disse que o governo do Brasil participa de várias frentes de articulação na América Latina, na África, no Oriente Médio e nos países desenvolvidos. “Estamos em articulação com os nossos vizinhos e com o mundo em desenvolvimento, que oferecem frentes múltiplas de cooperação. Queremos multipolaridade da cooperação, não da rivalidade, do protagonismo e da confrontação”, afirmou.

Segundo o chanceler, a expectativa é que Obama sinalize favoravelmente à reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e ao ingresso do Brasil como membro permanente. Ele reconheceu, no entanto, que apenas a sinalização não resolverá o impasse que há no órgão em decorrência da divergência interna – dos favoráveis e dos contrários à reestruturação do conselho.

“Uma manifestação dos Estados Unidos não vai afetar dramaticamente os acontecimentos, pois envolve entendimentos nas Nações Unidas, a aprovação da maioria de dois terços [dos 15 integrantes do conselho, ou seja, o apoio de dez países] e a ratificação dos cinco membros permanentes. [Mas] um discurso dos Estados Unidos é um dado significativo”, disse Patriota.

O ministro ressaltou que Obama, em 2009, já havia indicado que tinha interesse em conhecer o Brasil. Segundo ele, esta é a nona visita de um presidente norte-americano ao Brasil e ocorre na melhor fase vivida no país.

“Dos nove presidentes americanos que visitaram o Brasil, esta será a ocasião em que um presidente norte-americano encontrará o país em melhores condições econômicas, políticas e com um perfil internacional elevado, uma diplomacia muito ativa, um alcance verdadeiramente global da diplomacia”, afirmou.

Edição: Graça Adjuto

ONU dá sinal verde para imperialismo agredir a Lìbia

A resolução foi aprovada com 10 votos a favor, cinco abstenções e nenhum voto contra. Brasil, China, Índia, Alemanha e Rússia foram os países que se abstiveram na votação. O texto exclui explicitamente "qualquer tipo de ocupação estrangeira em qualquer parte do território líbio", o que faz com que os Estados Unidos tenham de renegociar uma possível incursão armada no Conselho em um futuro próximo.

A ONU autoriza os estados membros a “tomar todas as medidas necessárias (…) para proteger civis e áreas civis populadas sob ameaça de um ataque na Líbia, incluindo Bengazi”, diz parte do texto aprovado, pretexto para evitar a derrocada total das forças pró-imperialistas que agem na Líbia há quase um mês.

As “medidas”, que podem incluir o uso de força militar contra as forças de Kadafi, podem resultar de ação “nacional ou através de organizações e acordos regionais”, e devem ser tomadas em cooperação com o secretário geral das Nações Unidas.

O governo de Muamar Kadafi, em seguida ao anúncio na ONU, alertou que ações militares externas podem resultar em danos a alvos civis e militares no Mediterrâneo, como parte de um contra-ataque de suas forças.

"Qualquer ação militar externa contra a Líbia deixará todo o tráfego áereo e marítimo no Mar do Mediterrâneo exposto e [instalações] civis e militares se tornarão alvos do contra-ataque da Líbia", disse o comunicado transmitido pela TV estatal e distribuído pela agência oficial de notícias Jana.

Brasil condena uso da violência

A embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Ribeiro Viotti, disse que o país não está convencido de que o uso da força levará ao objetivo primordial de defesa ao povo líbio e que a resolução pode ter um efeito não desejado de "aumentar os confrontos no solo".

Ela ressaltou que o Brasil continua apoiando a resolução passada no Conselho sobre a Líbia, que impôs sanções como proibição de viagens e veto à venda de armas ao país.

A diplomata brasileira condenou ainda publicamente o uso de violência contra os manifestantes, o desrespeito aos direitos humanos e pediu o direito à liberdade de expressão. Ela defendeu, contudo, uma solução aos confrontos através de um "diálogo significativo", "uma solução pacífica e sustentável".

O excesso de confiança no setor nuclear

Por Rui Curado Silva (*)

O segredo em torno dos programas nucleares soviético e americano e o clima de competição da Guerra Fria explicam a falta de transparência tanto dos EUA como da URSS sobre os problemas e os acidentes que iam ocorrendo nas centrais nucleares. Inclusive em nível interno, pequenos incidentes eram prontamente abafados, sobretudo na URSS. Antes de Chernobyl, os engenheiros soviéticos tinham muito pouca informação sobre os acidentes ocorridos noutras centrais do país, logo na prática estavam convencidos que a probabilidade de ocorrência de acidentes era próxima de zero. Gerou-se assim um clima de excesso de confiança que foi uma das principais causas do acidente de Chernobyl, quer no desleixo na implementação o projeto durante a construção da central, como na negligência dos engenheiros durante o teste de segurança que ironicamente desencadeou o acidente.

No entanto, o excesso de confiança estende-se às sociedades mais abertas, sobretudo quando a lógica de mercado é aplicada aos programas nucleares civis, como adverte Georges Charpak (Nobel da Física e um dos responsáveis do programa nuclear francês) no livro "De Tchernobyl en tchernobyls", Odile Jacob, 2005. O acidente de 1999 em Tokaimura no Japão ocorreu porque a lógica do lucro de uma empresa privada se sobrepôs às regras mais elementares de segurança. Para poupar, foi guardada no mesmo recipiente demasiada quantidade de uma solução com material radioativo, tendo-se atingido a massa crítica para desencadear uma reação em cadeia. A reação emitiu fortes doses de radiação que provocou a morte de dois trabalhadores e sérios problemas de saúde em um terceiro.

A opção de construção de 55 reatores no arquipélago japonês, em permanente risco sísmico, insere-se na mesma lógica de lucro que se sobrepõe à segurança. Não é de estranhar a revelação feita pela Wikileaks (divulgada no Daily Telegraph) de que um dos responsáveis da Agência Internacional de Energia Atômica teria advertido em 2008 o governo japonês para o risco de fortes sismos poderem pôr em causa a segurança das centrais japonesas. A central de Fukushima foi desenhada para resistir a sismos de escala 7, o sismo da passada sexta atingiu o grau 8,9. Aliás têm-se alimentado muitos fantasmas sobre as virtudes da organização da sociedade japonesa, mas a realidade é que o Japão apresenta um dos piores registos de acidentes graves na indústria nuclear. Aos referidos junta-se ainda o acidente de Mihama em 2004.

O excesso de confiança surge ainda nos debates domésticos sobre o nuclear (não apenas em Portugal) quando se reduz o número de acidentes a Chernobyl (nível 7), quando se esquece o acidente de Three Mile Island em que o puro acaso não produziu outro Chernobyl (nível 4), quando se ignora Tokaimura (nível 4) e Mihama no Japão ou os recentes acidentes nas centrais de Sellafield no Reino Unido (nível 3) e de Forsmark na Suécia (nível 2).

A indústria nuclear é mais segura do que a generalidade das indústrias químicas, mas não é uma indústria imaculada, não é uma indústria de risco zero nem nada que se pareça. E como os acidentes da indústria nuclear são potencialmente muito mais perigosos e muito mais caros de remediar, na hora de tomar decisões deve-se oferecer às populações toda a informação disponível, deve-se usar da máxima transparência. Claramente não foi isso que aconteceu no Japão.

(*) Investigador no Departamento de Física da Universidade de Coimbra

quinta-feira, 17 de março de 2011

A cara da Mentira.

Declaração da Rede Popular Catarinense de Comunicação – RPCC

Para agradecer o Nobel da Paz a ele conferido, Obama discursou uma declaração de guerra ao mundo e revelou por trás de sua máscara a cara lívida e sem vida de uma velha mentira.

Esse é o representante do mais criminoso império da história, o maior explorador de todos os tempos, aquele que mais destrói a civilização, a natureza e a vida, que mais assassina ilegal e “legalmente”, que mais controla a vida privada das pessoas e que mais golpeia nossa região desde há mais de século e meio, pisa terra brasileira. É o ladrão entrando pela porta da frente. Mas, também é o representante do país que mais mente para satisfazer suas necessidades e apetites mais doentios, sem ter o menor reparo em se usar de todos os meios de comunicação, para distorcer, disfarçar, ocultar, omitir, ou mesmo, “inventar a verdade”.

Centro funcional dos mais poderosos monopólios da comunicação, vinculados ao sistema mais heterodoxo de empresas da guerra e da exploração sem limite, que não medem as conseqüências civilizatórias de todas suas arremetidas mediáticas, os Estados Unidos, tem em Obama um dos casos mais pérfidos e cínicos para com a América Latina. Este camaleão político é produto também da mentira através dos sítios de relacionamento, pelos quais consegui armar boa parte de sua campanha eleitoral que o levou a apresentar-se à juventude norte-americana e aos hispanos daquela nação, como uma possibilidade de mudança que não só não se confirmou, como que hoje, tal qual observamos em Wisconsin, Ohio, Kansas, Indiana, entre outros estados, traiu as esperanças, e com um discurso dúbio e mentiroso, afunda ainda mais os próprios trabalhadores norte-americanos. Obama representa com clareza brutal, as formas mais odiosas de manejo do discurso e do uso dos meios de comunicação.

Os meios da Rede Popular Catarinense de Comunicação – RPCC expressamos nosso repúdio e repugnância pela desagradável visita ao Brasil deste genocida mentiroso e invasor.

A seguir o prontuário invasor e genocida dos Estados Unidos, que resgatou Adalberto da Silva Jones e que foi publicado em 2007 no sítio do CMI/Brasil, no qual só falta a participação e organização por parte do Império, do último Golpe de Estado na irmã República de Honduras – 2009, derrocando ao Presidente Constitucional José Manuel Zelaya Rosales, configurando a estréia do Imperador Obama na gráfica dos golpes de estado norte-americanos pelo mundo.

Invasões e golpes dos EUA pelo mundo

Entre as várias invasões que as forças armadas dos Estados Unidos fizeram nos séculos XIX, XX e XXI, podemos citar:

1846/1848 – México – Por causa da anexação, pelos EUA, da República do Texas;

1890 – Argentina – Tropas desembarcam em Buenos Aires para defender interesses econômicos americanos;

1891 – Chile – Fuzileiros Navais esmagam forças rebeldes nacionalistas;

1891 – Haiti – Tropas debelam a revolta de operários negros na ilha de Navassa, reclamada pelos EUA;

1893 – Hawai – Marinha enviada para suprimir o reinado independente e anexar o Hawaí aos EUA;

1894 – Nicarágua – Tropas ocupam Bluefields, cidade do mar do Caribe, durante um mês;

1894/1895 – China – Marinha, Exército e Fuzileiros desembarcam no país durante a guerra sino-japonesa;

1894/1896 – Coréia – Tropas permanecem em Seul durante a guerra;

1895 – Panamá – Tropas desembarcam no porto de Corinto, província Colombiana;

1898/1900 – China – Tropas ocupam a China durante a Rebelião Boxer;

1898/1910 – Filipinas – Luta pela independência do país, dominado pelos EUA (Massacres realizados por tropas americanas em Balangica, Samar, 27/09/1901, e Bud Bagsak, Sulu, 11/15/1913; 600.000 filipinos mortos;

1898/1902 – Cuba – Tropas sitiaram Cuba durante a guerra hispano-americana;

1898 – Porto Rico – Tropas sitiaram Porto Rico na guerra hispano-americana, hoje ‘Estado Livre Associado’ dos Estados Unidos;

1898 – Ilha de Guam – Marinha desembarca na ilha e a mantêm como base naval até hoje;

1898 – Espanha – Guerra Hispano-Americana – Desencadeada pela misteriosa explosão do encouraçado Maine, em 15 de fevereiro, na Baía de Havana. Esta guerra marca o surgimento dos EUA como potência capitalista e militar mundial;

1898 – Nicarágua – Fuzileiros Navais invadem o porto de San Juan del Sur;

1899 – Ilha de Samoa – Tropas desembarcam e invadem a Ilha em conseqüência de conflito pela sucessão do trono de Samoa;

1899 – Nicarágua – Tropas desembarcam no porto de Bluefields e invadem a Nicarágua (2ª vez);

1901/1914 – Panamá – Marinha apóia a revolução quando o Panamá reclamou independência da Colômbia; tropas americanas ocupam o canal em 1901, quando teve início sua construção;

1903 – Honduras – Fuzileiros Navais desembarcam em Honduras e intervêm na revolução do povo hondurenho;

1903/1904 – República Dominicana – Tropas atacaram e invadiram o território dominicano para proteger interesses do capital americano durante a revolução;

1904/1905 – Coréia – Fuzileiros Navais dos Estados Unidos desembarcaram no território coreano durante a guerra russo-japonesa;

1906/1909 – Cuba -Tropas dos Estados Unidos invadem Cuba e lutam contra o povo cubano durante período de eleições;

1907 – Nicarágua – Tropas invadem e impõem a criação de um protetorado, sobre o território livre da Nicarágua;

1907 – Honduras – Fuzileiros Navais desembarcam e ocupam Honduras durante a guerra de Honduras com a Nicarágua;

1908 – Panamá – Fuzileiros invadem o Panamá durante período de eleições;

1910 – Nicarágua – Fuzileiros navais desembarcam e invadem pela 3ª vez Bluefields e Corinto, na Nicarágua;

1911 – Honduras – Tropas enviadas para proteger interesses americanos durante a guerra civil invadem Honduras;

1911/1941 – China – Forças do exército e marinha dos Estados Unidos invadem mais uma vez a China durante período de lutas internas repetidas;

1912 – Cuba – Tropas invadem Cuba com a desculpa de proteger interesses americanos em Havana;

1912 – Panamá – Fuzileiros navais invadem novamente o Panamá e ocupam o país durante eleições presidenciais;

1912 – Honduras – Tropas norte americanas mais uma vez invadem Honduras para proteger interesses do capital americano;

1912/1933 – Nicarágua – Tropas dos Estados Unidos com a desculpa de combaterem guerrilheiros invadem e ocupam o país durante 20 anos;

1913 – México – Fuzileiros da Marinha invadem o México com a desculpa de evacuar cidadãos americanos durante a revolução;

1913 – México – Durante a revolução mexicana, os Estados Unidos bloqueiam as fronteiras mexicanas;

1914/1918 – Primeira Guerra Mundial – EUA entram no conflito em 6 de abril de 1917 declarando guerra à Alemanha. As perdas americanas chegaram a 114 mil homens;

1914 – República Dominicana – Fuzileiros navais da Marinha dos Estados invadem o solo dominicano e interferem na revolução em Santo Domingo;

1914/1918 – México – Marinha e exército invadem o território mexicano e interferem na luta contra nacionalistas;

1915/1934 – Haiti – Tropas americanas desembarcam no Haiti, em 28 de julho, e transformam o país numa colônia americana, permanecendo lá durante 19 anos;

1916/1924 – República Dominicana – Os EUA invadem e estabelecem governo militar na República Dominicana, em 29 de novembro, ocupando o país durante oito anos;

1917/1933 – Cuba – Tropas desembarcam em Cuba e transformam o país num protetorado econômico americano, permanecendo essa ocupação por 16 anos;

1918/1922 – Rússia – Marinha e tropas enviadas para combater a revolução bolchevista. O Exército realizou cinco desembarques, sendo derrotado pelos russos em todos eles;

1919 – Honduras – Fuzileiros desembarcam e invadem mais uma vez o país durante eleições, colocando no poder um governo a seu serviço;

1918 – Iugoslávia – Tropas dos Estados Unidos invadem a Iugoslávia e intervêm ao lado da Itália contra os sérvios na Dalmácia;

1920 – Guatemala – Tropas invadem e ocupam o país durante greve operária do povo da Guatemala;

1922 – Turquia – Tropas invadem e combatem nacionalistas turcos em Smirna;

1922/1927 – China – Marinha e Exército mais uma vez invadem a China durante revolta nacionalista;

1924/1925 – Honduras – Tropas dos Estados Unidos desembarcam e invadem Honduras duas vezes durante eleição nacional;

1925 – Panamá – Tropas invadem o Panamá para debelar greve geral dos trabalhadores panamenhos;

1927/1934 – China – Mil fuzileiros americanos desembarcam na China durante a guerra civil local e permanecem durante sete anos ocupando o território;

1932 – El Salvador – Navios de Guerra dos Estados Unidos são deslocados durante a revolução das Forças do Movimento de Libertação Nacional – FMLN -
comandadas por Marti;

1939/1945 – II Guerra Mundial – Os EUA declaram guerra ao Japão em 8 de dezembro de 1941 e depois a Alemanha e Itália, invadindo o Norte da África, a Ásia e a Europa, culminando com o lançamento das bombas atômicas sobre as cidades desmilitarizadas de Iroshima e Nagasaki;

1946 – Irã – Marinha americana ameaça usar artefatos nucleares contra tropas soviéticas caso as mesmas não abandonem a fronteira norte do Irã;

1946 – Iugoslávia – Presença da marinha ameaçando invadir a zona costeira da Iugoslávia em resposta a um avião espião dos Estados Unidos abatido pelos soviéticos;

1947/1949 – Grécia – Operação de invasão de Comandos dos EUA garantem vitória da extrema direita nas “eleições” do povo grego;

1947 – Venezuela – Em um acordo feito com militares locais, os EUA invadem e derrubam o presidente eleito Rómulo Gallegos, como castigo por ter aumentado o preço do petróleo exportado, colocando um ditador no poder;

1948/1949 – China – Fuzileiros invadem pela ultima vez o território chinês para evacuar cidadãos americanos antes da vitória comunista;

1950 – Porto Rico – Comandos militares dos Estados Unidos ajudam a esmagar a revolução pela independência de Porto Rico, em Ponce;

1951/1953 – Coréia – Início do conflito entre a República Democrática da Coréia (Norte) e República da Coréia (Sul), na qual cerca de 3 milhões de pessoas morreram. Estados Unidos são um dos principais protagonistas da invasão usando como pano de fundo a recém criada Nações Unidas, ao lado dos sul-coreanos. A guerra termina em julho de 1953 sem vencedores e com dois estados polarizados: comunistas ao norte e um governo pró-americano no sul. Os EUA perderam 33 mil homens e mantém até hoje base militar e aero-naval na Coréia do Sul;

1954 – Guatemala – Comandos americanos, sob controle da CIA, derrubam o presidente Arbenz, democraticamente eleito, e impõem uma ditadura militar no país. Jacobo Arbenz havia nacionalizado a empresa United Fruit e impulsionado a reforma agrária;

1956 – Egito – O presidente Nasser nacionaliza o canal de Suez. Tropas americanas se envolvem durante os combates no Canal de Suez sustentados pela Sexta Frota dos EUA. As forças egípcias obrigam a coalizão franco-israelense-britânica, a retirar-se do canal;

1958 – Líbano – Forças da Marinha invadem apóiam o exército de ocupação do Líbano durante sua guerra civil;

1958 – Panamá – Tropas dos Estados Unidos invadem e combatem manifestantes nacionalistas panamenhos;

1961/1975 – Vietnã. Aliados ao sul-vietnamitas, o governo americano invade o Vietnã e tenta impedir, sem sucesso, a formação de um estado comunista, unindo o sul e o norte do país. Inicialmente a participação americana se restringe a ajuda econômica e militar (conselheiros e material bélico). Em agosto de 1964, o congresso americano autoriza o presidente a lançar os EUA em guerra. Os Estados Unidos deixam de ser simples consultores do exército do Vietnã do Sul e entram num conflito traumático, que afetaria toda a política militar dali para frente. A morte de quase 60 mil jovens americanos e a humilhação imposta pela derrota do Sul em 1975, dois anos depois da retirada dos Estados Unidos, moldou a estratégia futura de evitar guerras que impusessem um custo muito alto de vidas americanas e nas quais houvesse inimigos difíceis de derrotar de forma convencional, como os vietcongues e suas táticas de guerrilhas;

1962 – Laos – Militares americanos invadem e ocupam o Laos durante guerra civil contra guerrilhas do Pathet Lao;

1964 – Panamá – Militares americanos invadiram mais uma vez o Panamá e mataram 20 estudantes, ao reprimirem a manifestação em que os jovens queriam trocar, na zona do canal, a bandeira americana pela bandeira de seu país;

1965/1966 – República Dominicana – Trinta mil fuzileiros e pára-quedistas desembarcaram na capital do país, São Domingo, para impedir a nacionalistas panamenhos de chegarem ao poder. A CIA conduz Joaquín Balaguer à presidência, consumando um golpe de estado que depôs o presidente eleito Juan Bosch. O país já fora ocupado pelos americanos de 1916 a 1924;

1966/1967 – Guatemala – Boinas Verdes e marines invadem o país para combater movimento revolucionário contrário aos interesses econômicos do capital americano;

1969/1975 – Camboja – Militares americanos enviados depois que a Guerra do Vietnã invadem e ocupam o Camboja;

1971/1975 – Laos – EUA dirigem a invasão sul-vietnamita bombardeando o território do vizinho Laos, justificando que o país apoiava o povo vietnamita em sua luta contra a invasão americana;

1975 – Camboja – 28 marines americanos são mortos na tentativa de resgatar a tripulação do petroleiro estadunidense Mayaquez;

1980 – Irã – Na inauguração do estado islâmico formado pelo Aiatolá Khomeini, estudantes que haviam participado da Revolução Islâmica do Irã ocuparam a embaixada americana em Teerã e fizeram 60 reféns. O governo americano preparou uma operação militar surpresa para executar o resgate, frustrada por tempestades de areia e falhas em equipamentos. Em meio à frustrada operação, oito militares americanos morreram no choque entre um helicóptero e um avião. Os reféns só seriam libertados um ano depois do seqüestro, o que enfraqueceu o então presidente Jimmy Carter e elegeu Ronald Reagan, que conseguiu aprovar o maior orçamento militar em época de paz até então;

1982/1984 – Líbano – Estados Unidos invadiram o Líbano e se envolveram nos conflitos no país logo após a invasão por Israel – e acabaram envolvidos na guerra civil que dividiu o país. Em 1980, os americanos supervisionaram a retirada da Organização pela Libertação da Palestina de Beirute. Na segunda intervenção, 1.800 soldados integraram uma força conjunta de vários países, que deveriam restaurar a ordem após o massacre de refugiados palestinos por libaneses aliados a Israel. O custo para os americanos foi a morte 241 fuzileiros navais, quando os libaneses explodiram um carro bomba perto de um quartel das forças americanas;

1983/1984 – Ilha de Granada – Após um bloqueio econômico de quatro anos a CIA coordena esforços que resultam no assassinato do 1º Ministro Maurice Bishop. Seguindo a política de intervenção externa de Ronald Reagan, os Estados Unidos invadiram a ilha caribenha de Granada alegando prestar proteção a 600 estudantes americanos que estavam no país, as tropas eliminaram a influência de Cuba e da União Soviética sobre a política da ilha;

1983/1989 – Honduras – Tropas enviadas para construir bases em regiões próximas à fronteira invadem o Honduras;

1986 – Bolívia – Exército invade o território boliviano na justificativa de auxiliar tropas bolivianas em incursões nas áreas de cocaína;

1989 – Ilhas Virgens – Tropas americanas desembarcam e invadem as ilhas durante revolta do povo do país contra o governo pró-americano;

1989 – Panamá – Batizada de Operação Causa Justa, a intervenção americana no Panamá foi provavelmente a maior batida policial de todos os tempos: 27 mil soldados ocuparam a ilha para prender o presidente panamenho, Manuel Noriega, antigo ditador aliado do governo americano. Os Estados Unidos justificaram a operação como sendo fundamental para proteger o Canal do Panamá, defender 35 mil americanos que viviam no país, promover a democracia e interromper o tráfico de drogas, que teria em Noriega seu líder na América Central. O ex-presidente cumpre prisão perpétua nos Estados Unidos.

1990 – Libéria – Tropas invadem a Libéria justificando a evacuação de estrangeiros durante guerra civil;

1990/1991 – Iraque – Após a invasão do Iraque ao Kuwait, em 2 de agosto de 1990, os Estados Unidos, com o apoio de seus aliados da Otan, decidem impor um embargo econômico ao país, seguido de uma coalizão anti-Iraque (reunindo além dos países europeus membros da Otan, o Egito e outros países árabes) que ganhou o título de “Operação Tempestade no Deserto”. As hostilidades começaram em 16 de janeiro de 1991, um dia depois do fim do prazo dado ao Iraque para retirar tropas do Kuwait. Para expulsar as forças iraquianas do Kuwait, o então presidente George Bush destacou mais de 500 mil soldados americanos para a Guerra do Golfo;

1990/1991 – Arábia Saudita – Tropas americanas destacadas para ocupar a Arábia Saudita que era base militar na guerra contra Iraque;

1992/1994 – Somália – Tropas americanas, num total de 25 mil soldados, invadem a Somália como parte de uma missão da ONU para distribuir mantimentos para a população esfomeada. Em dezembro, forças militares norte-americanas (comando Delta e Rangers) chegam a Somália para intervir numa guerra entre as facções do então presidente Ali Mahdi Muhammad e tropas do general rebelde Farah Aidib. Sofrem uma fragorosa derrota militar nas ruas da capital do país;

1993 – Iraque – No início do governo Clinton é lançado um ataque contra instalações militares iraquianas em retaliação a um suposto atentado, não concretizado, contra o ex-presidente Bush, em visita ao Kuwait;

1994/1999 – Haiti – Enviadas pelo presidente Bill Clinton, tropas americanas ocuparam o Haiti na justificativa de devolver o poder ao presidente eleito Jean-Betrand Aristide, derrubado por um golpe, mas o que a operação visava era evitar que o conflito interno provocasse uma onda de refugiados haitianos nos Estados Unidos;

1996/1997 – Zaire (ex-República do Congo) – Fuzileiros Navais americanos são enviados para invadir a área dos campos de refugiados Hutus;

1997 – Libéria – Tropas dos Estados Unidos invadem a Libéria justificando a necessidade de evacuar estrangeiros durante guerra civil sob fogo dos rebeldes;

1997 – Albânia – Tropas invadem a Albânia para evacuar estrangeiros;

2000 – Colômbia – Marines e “assessores especiais” dos EUA iniciam o Plano Colômbia, que inclui o bombardeamento da floresta com um fungo transgênico fusarium axyporum (o “gás verde”);

2001 – Afeganistão – Os EUA bombardeiam várias cidades afegãs, em resposta ao ataque terrorista ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Invadem depois o Afeganistão onde estão até hoje;

2003 – Iraque – Sob a alegação de Saddam Hussein esconder armas de destruição e financiar terroristas, os EUA iniciam intensos ataques ao Iraque. É batizada pelos EUA de “Operação Liberdade do Iraque” e por Saddam de “A Última Batalha”, a guerra começa com o apoio apenas da Grã-Bretanha, sem o endosso da ONU e sob protestos de manifestantes e de governos no mundo inteiro. As forças invasoras americanas até hoje estão no território iraquiano, onde a violência aumentou mais do que nunca.

VOCÊ DEIXARIA ENTRAR ESTE GENOCIDA EM SUA CASA?

Fora o verdugo de Afeganistão e o Iraque

Fora o torturador de Guantánamo

Fora o presidente de Wall Street e do Pentágono

FUERA ESTADOS UNIDOS E OTAN DA LÍBA

Santa Catarina, Brasil

16 de março de 2011.

Assinam esta Declaração estes integrantes da RPCC:

Agência de Notícias do Contestadowww.agecon.org.br

APAFECwww.apafec.org.br

Celso Martins – Historiador e jornalista

Desacato – www.desacato.info

Fragmentos do Tempo2http://fragmentosdotempo2.blogspot.com

Maria Rosa 104,9FMwww.mariarosa.fm.br

O Taquaruçuhttp://otaquarucu.blogspot.com

Radio Comunitária Fortaleza 98,3FMwww.comunitariafortaleza.com.br

Rádio Web Cidadania – www.agecon.org.br/pgWebRadio.asp

Raul Longo – Jornalista e escritor

Revista Pobres e Nojentashttp://pobresenojentas.blogspot.com

Sambaqui na redewww.sambaquinarede2.blogspot.com

Tangaraense 104,9FMwww.tangaraensefm.org

Urda Alice Klueger – Historiadora e escritora