"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Entre o novo e o velho mundo: reação e contra reação hegemônica

Por Cristina Soreanu Pecequilo (*)

Enquanto a sociedade norte-americana e a européia continuam dando sinais de desgaste, os emergentes ocupam espaços econômicos e políticos. Neste cenário destacam-se a eleição de José Graziano da Silva como chefe da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a presença de Lula como chefe da Missão Diplomática na África para a 17ª Assembléia da União Africana, a inclusão da África do Sul nos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), dentre outros. Com isso, os Estados Unidos enfrentam gradual perda de espaços estratégicos, proporcionais a sua crise e à vitalidade das “novas nações”.

Mesmo que lenta, e até negada pelos que discordam das hipóteses do declínio, esta redução de projeção e de eficiência é concreta, caracterizada por um avanço gradual das nações emergentes em alianças de geometria variável, organizações internacionais governamentais e em zonas de influência tradicionais do ocidente com a América Latina e África. No Oriente Médio observam-se as Primaveras Árabes e a dificuldade em sustentar no poder regimes aliados autoritários, controlar as transições posteriores depois da queda destes aliados e, em países não aliados, acelerar as movimentações populares para recuperar espaços como na Líbia ou na Síria. Independente do desfecho que venha a ter a situação de Kadafi na Líbia, incluindo o recente mandato para sua prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional, é patente a dificuldade da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Desde a autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas (em votação na qual os emergentes se abstiveram, Brasil, Rússia, Índia e China, ao lado da Alemanha), a OTAN tem bombardeado fortemente o território líbio, sem solução decisiva, subestimando a resistência do regime vigente.

Frente a esta realidade, desde a morte de Osama Bin Laden em maio de 2011, o Presidente Barack Obama tem empreendido uma significativa ofensiva externa, acompanhado pela Secretária de Estado Hillary Clinton. Tal ofensiva, além de representar um reposicionamento tático da administração democrata visando ocupar espaços internos diante da fragmentada oposição republicana, demonstra uma real preocupação dos EUA com a crescente perda de espaços estratégicos.

A ofensiva, entre maio e junho, consistiu-se em quatro frentes, em ordem cronológica: Oriente Médio e Norte da África, emergentes, África e Afeganistão. Comum a todas, a “disposição” norte-americana em ajudar aliados democráticos, mas, ao mesmo tempo, em reafirmar liderança. Outro fator de convergência é a resposta aos emergentes. Em termos específicos, a preocupação em sinalizar ao público doméstico que as ações externas não significam desatenção aos problemas internos, mas que a América precisa continuar presente no mundo.

No que se refere ao Oriente Médio e Norte da África, o discurso de Obama em 19 de maio de 2011, ecoou o de janeiro de 2009 sobre a importância da democracia na região, sob o signo de uma realidade diferenciada. Se em 2009 a região mantinha-se à margem dos movimentos populares, em 2011, a mesma tornou-se foco de renovadas dimensões sociais, muitas contrárias aos interesses norte-americanos como no caso do Egito. Obama procurou recuperar a influência na região, por meio de propostas de parcerias comerciais e um “Plano Marshall” para o desenvolvimento local. Retomou a iniciativa no processo de paz Israel-Palestina por meio da proposta de constituição do Estado palestino nas fronteiras pré-Guerra de 1967, sustentada na resolução 242 da ONU. A proposta, mesmo pelos palestinos, foi recebida com desconfiança, e, em Israel e nos EUA, sob protestos, o que a coloca em xeque. Uma proposta real? Ou uma tentativa de desacelerar o processo de reaproximação entre facções palestinas, Hamas e Fatah?

Somado a estes questionamentos, mencionou-se a ausência da Árabia Saudita no texto, que recebeu diversas interpretações: a permanência da tolerância com o regime ou um “recado” indireto pedindo mudanças pró-democracia?

O tom “propositivo e positivo” foi substituído por Obama e, depois Hillary Clinton, por “alertas” aos emergentes e sobre os mesmos. No primeiro caso, diante do Parlamento britânico em 25 de maio, o presidente deixou claro que os EUA não se encontram em declínio e que a ascensão da China, Índia e Brasil é condicionada à hegemonia. O argumento central é que sem a liderança prévia dos EUA para estabilizar o sistema internacional política e economicamente, provendo-o de estruturas de governança, o crescimento dos emergentes não seria possível. A prevalência do “velho” mundo anglo-saxônico ocidental sobre os “novos” pólos permanece.

Chegando à África, o teor é similar. Se em Westminter o “alerta” foi para a conformação dos emergentes à ordem, em visita a diversos países africanos para lançar pacotes de ajuda para o desenvolvimento (Ato de Crescimento e Oportunidade Africano), a Secretária de Estado Hillary Clinton “avisou” os africanos dos riscos de um novo colonialismo. Este novo colonialismo seria praticado pela China e pela Índia, principalmente a China via assistência financeira e projetos de infraestrutura. A natureza da empreitada sino-indiana consistiria, ainda, na busca de mercados, e no acesso a bens primários (alimentos e minérios) e ao gás e petróleo africanos. Além disso, e nesta equação se incluiria o Brasil, os emergentes estariam projetando seu poder no continente visando objetivos políticos próprios. Paradoxalmente, o mecanismo que Hillary critica é reprodução daquele desenvolvido pelas potências europeias no ciclo imperialista do século XIX e XX, ao qual os EUA se associaram posteriormente.

A repercussão das palavras da secretária foi vista de forma crítica. Se há espaços no continente é porque o mesmo esteve colocado à margem dos fluxos internacionais. A “redescoberta” norte-americana da África é produto da percepção de que o vácuo está sendo ocupado e que será preciso mais do que acenos positivos e discursos para recuperar espaço. Por sua vez, os emergentes mantiveram sua postura. Isto sinaliza seu
reposicionamento político diante da hegemonia com uma ação mais autônoma e mais descolada de pressões e contenções.

Finalmente, o Afeganistão. Ainda que o discurso de Obama de 22 de junho tenha sido recebido como uma declaração de mudança de missão, seu conteúdo, pelo menos o da retirada das tropas até 2014, era razoavelmente conhecido desde o encerramento oficial da missão militar do Iraque. A principal diferença reside, portanto, na velocidade da intervenção, encerrando em 2011 a ofensiva que se prolongaria até 2012. A fala de Obama foi uma reação ao corte de verbas pelo Congresso e à queda de apoio à guerra e à Presidência. Mais do que no Afeganistão, a decisão residiu em Washington visando 2012.

Os resultados da ofensiva são parciais: geram visibilidade, mas não revertem em apoio sustentado à Casa Branca. Para a maioria da opinião pública, o principal problema dos EUA é econômico e os demais temas a ele se subordinam. No campo internacional, as relações entre o “novo e o velho” mundo reproduzem dinâmicas de reação e contra reação do líder. Diferente do passado, talvez a “troca” hegemônica do século XXI não ocorra por guerras mundiais, mas sim por um avanço e recuo mútuo de posições estratégicas, que, enquanto não finalizado, alternará momentos de estabilização e crise, no centro e na periferia do poder.

(*) Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Bolívia e Equador devem ser os próximos membros permanentes do Mercosul

Monica Yanakiew
Enviada Especial da EBC

Assunção (Paraguai) - Vinte anos depois de sua criação, o Mercosul vai trabalhar pela inclusão definitiva de dois membros no bloco: Bolívia e Equador. Atualmente, os dois países andinos são membros associados do bloco regional, integrado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Como membros plenos, poderiam participar também da união aduaneira.

A decisão de negociar a maior aproximação com os governos boliviano e equatoriano foi tomada pelos chanceleres dos países integrantes do bloco, nesta terça-feira (28), véspera da 41ª Cúpula do Mercosul. O alto representante do Mercosul, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, viajará em breve a Bolívia, acompanhado por diplomatas dos quatro países membros, para iniciar as negociações. Em seguida, viajará ao Equador, cujo presidente, Rafael Correa, participará da cúpula como convidado.

Ao anunciar os projetos de expansão do Mercosul, o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, rebateu as críticas de que o bloco econômico perdeu força e não conseguiu transformar-se em um verdadeiro projeto de integração política, econômica e comercial, como a União Europeia (UE). Segundo ele, em 2010, a economia do bloco regional cresceu 8%. "Foi o crescimento mais elevado que o registrado por qualquer outra união aduaneira ou associação de livre comércio", disse Patriota, em entrevista coletiva. Além da UE, que vive momentos de crise, o Mercosul superou, em crescimento, a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).

Patriota também respondeu às críticas de empresários paraguaios, publicadas na imprensa local, às travas comerciais do Brasil e da Argentina. Ele lembrou que, em 2010, a economia paraguaia cresceu 15%, o maior crescimento no Continente Americano. E que o crescimento no bloco econômico foi acompanhado por uma distribuição de renda.

"No passado, o Brasil cresceu, mas não havia igualdade social. Hoje, dos Brics [acrônimo que representa os emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], o Brasil é o único com crescimento e distribuição de renda. O mesmo ocorre na Argentina, no Paraguai e no Uruguai. Essa melhoria não pode ser dissociada do Mercosul", ressaltou o subsecretário-geral para América do Sul, Central e Caribe, embaixador Antônio José Simões.

Em 20 anos de Mercosul, houve também um aumento significativo do intercâmbio comercial, que passou de US$ 4,5 bilhões em 1991 para US$ 45 bilhões no ano passado. Segundo Patriota, as expectativas para 2011 é superar os US$ 50 bilhões. "O intercâmbio comercial cresceu mil por cento", disse Simões. Segundo ele, esse desempenho é superior ao de outros acordos de livre comércio, como o assinado há sete anos por Chile e Estados Unidos.

Alem da Bolívia e do Equador, o Mercosul tem mais três membros associados: Chile, Peru e Colômbia. Mas o Mercosul optou por negociar uma aproximação maior com os governos da Bolívia e do Equador porque eles nao têm acordos de livre comércio com os Estados Unidos ou a UE.

Patriota também lembrou que o mundo mudou, desde a criação do Mercosul. "A China não era um parceiro significativo; hoje é o principal parceiro comercial do Brasil", disse. Segundo ele, um dos temas da reunião de chanceleres foi, justamente, o comércio Sul-Sul. As previsões são de que a China e a Índia continuem precisando de alimentos, energia e minerais. O Mercosul deveria desenvolver uma política de inserção nesses novos mercados, alem de implementar medidas para facilitar o livre trânsito dentro do bloco regional", disse o chanceler brasileiro.

Edição: Vinicius Doria

terça-feira, 28 de junho de 2011

Brasileiros reafirmam solidariedade à Revolução Cubana

Terminou no domingo 26 de junho, em São Paulo, a 19ª Convenção de Solidariedade a Cuba. Os mais de 500 participantes reafirmaram seu respaldo à Revolução cubana e expressaram seu compromisso para incrementar as ações em favor da ilha caribenha.

A Carta de São Paulo, documento que é a declaração final do encontro realizado no Memorial da América Latina, uma das mais belas obras do famoso arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, exalta o crescimento da solidariedade a Cuba neste imenso país sul-americano.

"Diante das ameaças dos Estados Unidos, os que apoiam a Revolução cubana devem estar cada vez mais organizados em sua defesa e para isso nossas campanhas de informação, manifestações nas ruas e pronunciamentos de parlamentares precisam avançar", indica o texto.

Os brasileiros amigos da ilha caribenha concordaram em intensificar as ações em favor da libertação dos cinco antiterroristas cubanos Gerardo Hernández, Antonio Guerrero, Fernando González, Ramón Labañino e Renê González, presos injustamente nos Estados Unidos há quase 13 anos.

CONTRA O BLOQUEIO

Igualmente, prosseguir na luta pelo fim do criminoso bloqueio econômico, financeiro e comercial que há mais de meio século Washington mantém contra Havana, no vão intento de render o povo cubano que, pelo contrário, resiste e mantém vivo seu espírito internacionalista.

Diante das mentiras e tergiversações da grande imprensa de direita do Brasil sobre a realidade cubana, os brasileiros amigos da ilha destacaram a necessidade de trabalhar para romper esse bloqueio midiático.

Para melhorar e aperfeiçoar esse trabalho no Brasil, os participantes na 19ª Convenção destacaram a importância de enviar uma delegação ao 6º Encontro Continental de Solidariedade a Cuba, que será realizado no México, de 6 a 9 de outubro deste ano.

Os convencionais brasileiros exaltaram a necessidade de acompanhar a postura do Brasil na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, a ser criada nos dias 5 e 6 de julho próximo em Caracas, Venezuela, como parte do bicentenário da independência de várias nações da região.

Os delegados assumiram a tarefa de fortalecer a atividade de divulgação dos objetivos da atualização do modelo econômico cubano, discutidos amplamente pelo povo e aprovados no 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba e destinados a aperfeiçoar o socialismo na ilha caribenha.

Da Convenção de Solidariedade a Cuba, organizada pelo Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba, participaram representantes de 16 dos 27 estados brasileiros, assim como uma delegação cubana, encabeçada pela presidente do Instituto Cubano de Amizade com os Povos, Kenia Serrano.

Magali Llort, deputada e mãe de Fernando González, um dos cinco cubanos lutadores contra o terrorismo; Zuleika Romay, presidente do Instituto Cubano do Livro; o coronel da reserva, José Ramón Herrera; a professora do Instituto de Relações Internacionais, Nidia María Alfonso e a jornalista Rosa Miriam Elizalde, coordenadora do site Cubadebate, também integravam a delegação cubana.

AGRADECIMENTO EMOCIONADO

O ato final da convenção foi marcado por muita emoção. Realizado no Memorial da Resistência, instalado no edifício onde funcionava o DOPS, na época da ditadura militar, militantes perseguidos pela ditadura que foram acolhidos em Cuba agradeceram à ilha caribenha pela solidariedade.

Os ex-presos políticos Ivan Seixas, Damaris Lucena, Elsa Lobos e Clara Sharf rememoraram a época de luta contra o regime militar e a firme colaboração da Revolução cubana com todos os companheiros perseguidos.

Seixas contou que nas reuniões dos grupos armados escutavam a Rádio Havana de Cuba, que era uma inspiração muito grande e uma alegria imensa, cada vez que escutavam notícias de que alguns dos companheiros de luta tinham conseguido chegar à ilha.

"Agradecemos por tudo o que fizeram por nós e nós faremos tudo o que pudermos por Cuba".

Damaris Lucena rememorou os horrores vividos na prisão durante a ditadura militar e recordou que foi uma das prisioneiras trocadas pelo cônsul japonês Nobuo Okushi e enviada ao México com seus filhos.

Ela contou que estando no México foi convidada a viajar a Cuba com seus familiares.

"Cuba é meu segundo país e os cubanos são meus irmãos", disse emocionada. "Tudo o que eu e meus filhos tenhamos que fazer por Cuba, faremos", declarou.

Também Elsa Lobo expressou sua eterna gratidão a Cuba pela formação que recebeu nesse país maravilhoso, e exaltou a colaboração recebida de diplomatas cubanos em diferentes países quando trabalhou em um organismo das Nações Unidas ou teve que exilar-se em Paris.

Com lágrimas nos olhos, Clara Sharf, companheira do líder comunista Carlos Marighella, assassinado pela ditadura militar, manifestou a estreita relação existente entre Marighella e a Revolução cubana, assim como seu trabalho na criação das primeiras associações de solidariedade a Cuba no Brasil.

Kenia Serrano, presidente do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (Icap) disse que este ato de agradecimento a seu país se converte em uma oportunidade para que Cuba agradeça aos brasileiros por sua combatividade, solidariedade e apoio ao direito à existência do processo revolucionário cubano.




domingo, 26 de junho de 2011

Encontro debate governos de esquerda e progressistas na América Latina e Caribe

Será realizado entre os dias 30 de junho e 2 de julho, no Rio de Janeiro, o seminário internacional “Governos de esquerda e progressistas na América Latina e no Caribe: balanço e perspectivas”, realizado pelas Fundações Perseu Abramo (PT), Mauricio Grabois (PCdoB) e Universidade Federal do Rio de Janeiro, com apoio da Fundação Friedrich Ebert no Brasil e Coppe – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia.


Nos três dias serão realizados 11 debates, sediados no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), Cidade Universitária, Ilha do Fundão, com representantes dos governos progressistas, partidos de esquerda e acadêmicos da América Latina sobre as experiências socialistas nos respectivos governos, as mudanças geopolíticas e a crise do capitalismo no mundo, com a participação do público brasileiro.

Estão confirmados conferencistas e debatedores de Venezuela, El Salvador, Equador, México, Paraguai, Peru, Porto rico, Argentina, Brasil, Colômbia, Chile e Cuba.

Informações sobre a programação e inscrições podem ser encontradas no site do evento e no portal das Fundações Perseu Abramo e Mauricio Grabois e nos canais de comunicação do PT e do PCdoB .

A programação completa do encontro



Entrevista de Giberto Carvalho, Ministro da Secretaria Geral da Presidência.

Fonte: O Globo

Com seis meses de governo, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou considerar "natural" que a presidente Dilma Rousseff seja candidata à reeleição em 2014. Em entrevista ao G1, ele disse que não há "nenhuma hipótese" de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disputar a Presidência em 2014.

"[Lula] não quer, em 2014, em hipótese nenhuma ele gostaria. E 2018 está muito longe. A oposição precisa levar em conta isso. Nosso time, além de bom plantel, tem bom banco. Não pense que colocamos todas as fichas na mesa. E Lula permanece figura que nos ajuda, apoia. Como candidatura, nenhuma hipótese de ele ser candidato em 2014. Ele não aceitaria de jeito nenhum", afirmou Carvalho.

Fiel escudeiro de Lula, Carvalho é a principal ponte entre o antecessor e a atual chefe. Com experiência acumulada de quem trabalha há mais de oito anos no governo, ele testemunhou as principais crises que abalaram a administração Lula, como o mensalão, em 2005, e a queda dos ministros José Dirceu, da Casa Civil e da Fazenda, Antonio Palocci.

Gilberto Carvalho disse lamentar a “crise prematura” que derrubou Antonio Palocci da Casa Civil no começo deste mês. Ele admite que o caso foi um “golpe duro” para a presidente Dilma. “Essa crise do Palocci não dá para subestimar. Foi um golpe duro que aconteceu prematuramente, e o governo não estava preparado."

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Politicamente analisando, Palocci não precisava ter feito o que fez, e nós não precisaríamos tê-lo perdido. Aí sim, acho que teve erro político, de comprar uma casa com tanta ostentação como aquela e assim por diante. Mas insisto: é julgamento relativo. No essencial, ele não cometeu erro legal nem ético enquanto esteve no governo."

G1 - O sr. é visto como o principal elo entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma. Com essa visão privilegiada, qual balanço faz destes seis primeiros meses do governo?
Gilberto Carvalho
- Eu acho que, de um lado, dá para dizer que é nitidamente um governo de continuidade, no sentido de que o projeto geral, com lema de crescimento, com distribuição de renda, está mantido, no sentido geral de inversão das prioridades, no sentido de privilegiar os que mais precisam, está mantido. O governo é para todos, mas especialmente para os mais pobres - o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], Minha casa, Minha vida. Eu diria que, de uma maneira geral, eu faço uma avaliação muito positiva de que os nossos pontos mais sagrados, mais importantes, estão não só mantidos, como reenfatizados. O lançamento do programa Brasil sem miséria é apenas a consolidação disso que eu estou dizendo. (...) É inegável, também, que é um governo que sofreu uma crise prematura, não vamos esconder o sol com a peneira. Essa crise do Palocci não dá para subestimar, foi um golpe duro que aconteceu prematuramente, e o governo não estava preparado. Governo nenhum está preparado para crise alguma, mas, vamos convir, foi cedo demais. Uma figura chave, muito importante. Foram 23 dias de muito sofrimento dela e de todos nós aqui dentro.

G1 - O sr. estava no governo nas piores crises, como a própria queda de Palocci do Ministério da Fazenda, no governo Lula. Pode-se dizer foi um erro colocá-lo no governo Dilma?
Carvalho
- Não foi não, porque pelo papel que ele tinha desempenhado no governo Lula, pelo papel fundamental na campanha e a contribuição que ele deu nos últimos seis meses, acho que não foi equivocado não. Deve-se levar em conta que a razão pela qual Palocci caiu não foi por uma razão pós-posse dele, foi anterior. Confesso que tenho muita dificuldade para fazer avaliação moral desta história, acho que não me compete isso - tanto que saí em defesa do Palocci. Do ponto de vista legal, ele fez o que muita gente não faz neste país: ele emitiu nota, registrou os bens dele na Receita, compareceu à Comissão de Ética. Aí, a pergunta: 'é muito dinheiro? É pouco dinheiro?' Eu, como sou incompetente para ganhar dinheiro, não sei avaliar isso. Claro que eu sei que é estranho, vejo a reação dos meus amigos, dos familiares. Politicamente analisando, Palocci não precisava ter feito o que fez, e nós não precisaríamos tê-lo perdido. Aí sim, acho que teve erro político, de comprar uma casa com tanta ostentação como aquela e assim por diante. Mas insisto: é julgamento relativo. No essencial, ele não cometeu erro legal nem ético enquanto esteve no governo.

G1- A escolha das ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais) o pegou de surpresa?
Carvalho
- Difícil falar que pegou de surpresa porque acompanhei muito de perto a escolha. Fui chamado pela Dilma para emitir opinião.

G1 - Com as escolhas, Dilma deu qual recado? Ela enfrentou os partidos?
Carvalho
- Você sabe que a escolha ministerial já é uma tradição no país e com Lula era a mesma coisa. Quando ele escolheu a Dilma, ninguém também imaginava. Então, não acho que ela quis enfrentar ninguém. O único episódio que teve um pouco de conflito foi com a Ideli, que a bancada queria indicar alguém. Mas, aquela história: para ministro, não se faz campanha. É escolha pessoal.

G1 - No começo do ano, o sr. disse que o PMDB teria a chance de ‘melhorar sua imagem’ no governo Dilma. Mas o PT tem dado tanto trabalho quanto o aliado, cobrando cargos do governo, fazendo pressões. Quem o sr. diria que dá mais dor de cabeça para o governo Dilma: o PT ou o PMDB?
Carvalho
- Eu acho que não pode ser visto desse jeito [risos]. Eu estou rindo da formulação interessante da pergunta e da minha dificuldade em responder [risos]. Eu acho que não dá para falar em dor de cabeça. Você tem aliados, PT, PMDB, PSB, que cresce cada vez mais. Tem o fenômeno novo que é o PSD, que se estiver perto do PSB vai ser força grande. Então, as pedras se movimentam, e os problemas que elas geram e as ajudas que elas dão também são proporcionais ao tamanho delas. Não dá para dizer que o PMDB dá mais trabalho que o PT, depende do momento e do tema.

Ele não quer voltar. Não vejo no Lula nenhuma manifestação dele de estar se preparando para voltar"

G1- Mas, e no momento?
Carvalho
- Digo para você assim: o PT deu trabalho, nesta dificuldade da bancada, mas houve momento anterior em que houve problemas com o PMDB, pelas pressões por cargos. Eu prefiro olhar - após oito anos nesta casa, você aprende a ficar calejado, não se apavora. É um jogo da política, de pressões e contrapressões. Cada partido, dependendo do momento, vai apresentar suas demandas.

G1 - Mas PT e PMDB se queixam o tempo todo de que não são atendidos por cargos e indicações.
Carvalho
- É natural da política, o governo está montado, praticamente. Falta muito pouca coisa para nomear. Os ministérios, o essencial está trabalhando, falta pouca coisa para nomear. Cada um olha do seu lado. A Ideli trouxe para a Dilma esses dias um texto de jornal de 2008, [em] que um ano depois Lula ainda precisava pedir calma para o PT e PMDB por causa da montagem do governo. As coisas vão ficando. A pressão é infinita. Precisamos relativizar as coisas. [É] natural que os partidos façam suas demandas.

G1- Dilma cede menos em relação aos partidos que Lula?
Carvalho
- Diria que sim, ela cede menos. Claro que ela pode fazer isso com a experiência que ela teve anteriormente, que Lula não teve. Outra coisa: a base que ela tem na Câmara, Senado, é mais confortável que [a que] Lula teve. Mas me agrada muito a clareza da Dilma, das posições dela. Eu fico muito triste de ver o nome dela vinculado a essa história de sigilo. Dilma é muito cuidadosa com a questão da transparência. Se tem alguém favorável à transparência é a Dilma.

G1 - E os sigilos dos documentos oficiais?
Carvalho
- [O senador Fernando] Collor fez um pedido a ela e isso foi vazado como se fosse uma posição dela.

G1 - Mas a notícia é a de que houve um recuo da posição da presidente. Até porque houve um desencontro de opiniões dos próprios componentes do governo, como a ministra Ideli e o líder do governo no Senado, Romero Jucá. Houve um recuo?
Carvalho
- É verdade. Mas não houve um recuo. Eu estava ao lado dela no almoço do PTB quando Collor falou que achava perigoso a emenda colocada [no projeto] por Walter Pinheiro [atual senador pelo PT-BA] que abre tudo, as questões internacionais. Ela comentou internamente que precisava olhar com cuidado isso, mas nem ela sabia direito os detalhes da emenda que a Câmara tinha feito. A partir disso, foi vazado - não com palavras dela - que Dilma ia apoiar a medida que Collor tinha proposto. Depois, quando ela foi examinar a questão, ela percebeu que não era correto isso, que não tinha sentido aquela posição, que o projeto da Câmara não era nenhum desastre. É apenas um exemplo de como a comunicação é importante. Senão, a gente apanha por versões que não correspondem aos fatos.

G1- Sobre o ex-presidente Lula, como o senhor avalia as intervenções dele em momentos de crise do governo Dilma?
Carvalho
- A relação Lula e Dilma vai merecer muitos estudos no futuro, é muito especial, eu tenho o privilégio de acompanhar as conversas entre os dois. É muito impressionante a sintonia, mas também o cuidado que ele tem para não fazer uma interferência inadequada. Acho natural que as pessoas interpretem os fatos como elas veem. Aquela bendita vinda dele aqui com a bancada do PT no Senado, depois com pessoal na casa do Sarney, aquilo foi interpretado como ‘Dilma em crise e pediu socorro ao Lula.’

A pressão é infinita. Precisamos relativizar as coisas. [É] natural que os partidos façam suas demandas"

G1 - E não foi?
Carvalho
- Não teve nada disso. Ele tinha combinado um encontro com senadores, foi convidado pelo Sarney. Eu concordo que o resultado não foi bom. O sinal externo não foi bom, pareceu que Lula chegou a Brasilia para salvar a Dilma. Mas, na prática, não houve nada disso. Como a cada 15 dias eles se encontram, era mais um desses encontros. O que quero dizer é: a Dilma não depende do Lula para tomar atitudes. Tanto que Gleisi e Ideli não foram sugestões dele. Ela não pediu licença dele. Dilma o consultou respeitosamente. Não tem essa de que ele é uma sombra dela. Ele é um apoio efetivo. Não há hipótese de ruptura entre os dois - pelo menos no horizonte que eu enxergo.

G1- O senhor ainda acha que Lula está na reserva para a eleição de 2014 ou Dilma é a candidata natural à reeleição do PT?
Carvalho
- As duas coisas. Eu acho que ela é candidata. Mas não posso responder sem consultá-la. Não sei se ela está cansada com seis meses do governo. Mas eu acho que é natural que ela seja candidata. Agora, Lula é reserva para nós, claro que é. Tem 2018. Quando digo que ele está no banco, é no sentido de que ele está ajudando, não necessariamente que será candidato no lugar da Dilma. Ele não quer voltar. Não vejo no Lula nenhuma manifestação dele de estar se preparando para voltar.

G1 - Lula não quer voltar?
Carvalho
- Não quer, em 2014, em hipótese nenhuma ele gostaria. E 2018 está muito longe. A oposição precisa levar em conta isso. Nosso time, além de bom plantel, tem bom banco. Não pense que colocamos todas as fichas na mesa. E Lula permanece figura que nos ajuda, apoia. Como candidatura, nenhuma hipótese de ele ser candidato em 2014. Ele não aceitaria de jeito nenhum.


sábado, 25 de junho de 2011

A paz com justiça social é possível, lutemos por ela, No.22.

Por Juan Leonel Pérez.


"Sempre será possível construir cenários e iniciar conversações diretas de horizontes certos, com qualquer governo, incluído o atual, apesar de que apenas começando seu mandato, reduziu as possibilidades ao impor uma lei que fecha as portas aos diálogos dentro do país. Mas, somos otimistas sobre a eventualidade de consegui-lo" (Alfonso Cano)

Com essa resposta Alfonso Cano, Comandante das FARC lhe responde a um jornalista sobre a possibilidade de uma saída negociada ao conflito social e armado existente na Colômbia.

A guerrilha não fecha as portas à paz, nem tem sua chave escondida, todo o contrário, tem toda a disposição para buscar uma solução política.

Porém, a mensagem do governo de Juan Manuel Santos é de Guerra, de isolar a insurgência, de aniquilar-la, sem importar-lhe a vida dos que morrem em combate, já que se trata de camponeses, operários, pessoas pobres, que nada significam para a oligarquia.

No presente ano será gasto o 20% do orçamento nacional na guerra. Para quê? quais os resultados? Matar um Comandante Guerrilheiro a cada seis meses, ou a cada ano? Assim é como pensam em ganhar a guerra? Não, definitivamente, NÃO!


O caminho para acabar com a guerra é a solução política, entendida como a porta de entrada à construção da Paz com Justiça Social.


A seguir os resultados dos combates entre a Insurgência e as forças repressivas do Estado, do 02 ao 15 de junho de 2011, segundo a imprensa colombiana.


02/06: Ataque das FARC a uma patrulha da Polícia na estrada que comunica Ibagué com Cajamarca,Tolima: 3 uniformados heridos.

http://www.elpais.com.co

03/06: Carro-bomba das FARC explota em zona rural de Barrancabermeja, Santander: tránsito bloqueado na estrada que une Pueblo Nuevo com o Campo 23.

http://www.rcnradio.com

03/06: Ação de propaganda armada das FARC em Medellín.

http://www.caracol.com.co

06/06: Surpressivo ataque das FARC ao Posto da Polícia no povoado El Mango, município de Argelia, Cauca: 4 uniformizados mortos e 16 feridos.

http://www.lanueva.com

07/06: Guerrilheiros das FARC queman 3 caçambas em Ituango, Antioquia.

http://www.rcnradio.com

08/06: FARC detém quatro cidadãos chinesses de uma multinacional petroleira no estado do Caquetá.

http://www.caracol.com.co

10/06: Em combates com o Exército, morrem 2 guerrilheiros das FARC em San Pedro, Valle del Cauca.

http://www.rcnradio.com

11/06: Em combates em Santander de Quilichao, Cauca, morreram um policial e dois guerrilheiros. Um soldado ficou ferido.

http://www.elpais.com.co

11/06: Vários ataques das FARC em Chaparral, Tolima: a prefeitura decreta toque de recolher.

http://www.caracol.com.co

11/06: Seguem os ataques das FARC em El Cauca: perto de Argelia um militar morto e um ferido; em Morales um policial morto e dois feridos.

http://www.elcolombiano.com

12/06: FARC quemam um ônibus, bloqueiam o trânsito e dinamitam dos torres de energia, perto de Natagaima, Tolima.

http://www.eltiempo.com

12/06: Mais ataques das FARC em diferentes pontos do Cauca: dois policiais mortos e 6 feridos.

http://www.radiosantafe.com

13/06: Guerrilheiros das FARC atacam e destroem avião de pequeno porte da Polícia em San Vicente del Caguán, Caquetá.

http://www.elcolombiano.com

14/06: Fortes combates entre as FARC e soldados do batalhão Cazadores entre San Vicente del Caguán e Puerto Rico, Caquetá: um militar morto.

http://www.lanacion.com.co

14/06: FARC apagam um politiqueiro do regime em Puerto Rico, Meta.

http://www.caracol.com.co

14/06: Um policial morto e três feridos em emboscada com explossivos das FARC em Nariño.

http://www.caracol.com.co

15/06: FARC ataca patrulla do Exército no sul do Tolima: um militar morto.

http://www.caracol.com.co

As FARC, têm publicado boletins de guerra de janeiro a março de 2011. É, estarrecedor o número de soldados, policiais, paramilitares e guerrilheiros mortos em combate durante esses três messes.

Até quando, senhor presidente seguirá enviando soldados e policiais a uma morte segura?.

Até quando seguirá o governo assassinando camponeses e apresentando-os como se fossem guerrilheiros?

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Por uma cultura da vida nos perigos do tempo presente.

Artigo de Jürgen Moltmann

Hoje, nos confrontamos com uma nova religião da morte. Uma vida não mais amada está pronta para matar e para ser morta.

A opinião é do teólogo alemão Jürgen Moltmann, em conferência apresentada durante a cerimônia de abertura do sétimo Fórum de Pequim, organizado entre os dias 5 e 7 de novembro de 2010 pela Universidade de Pequim.

Com a participação de mais de 350 estudiosos representantes de 50 países, o tema do fórum foi “Harmonia das civilizações e prosperidade para todos. Compromissos e responsabilidades para um mundo melhor”.

O artigo foi publicado no blog da Editora Queriniana, 17-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Conferência de abertura do Fórum de Pequim, China, novembro de 2010

A minha intervenção será sobre o que está me ocupando há muito tempo:

  • uma cultura da vida mais forte do que o terror da morte;

  • um amor à vida que supera as forças destrutivas presentes hoje no mundo.

E isso porque acredito firmemente que "onde há perigo é, cresce também aquilo que salva" [1].

Vou começar com alguns dos perigos do nosso tempo na primeira parte, às quais vou responder na segunda parte com as dimensões de um mundo vivível e a vitalidade do amor.

I. O terror hoje de uma morte universal

1. A vida humana atualmente está em perigo, e não só porque a nossa existência é mortal. De fato, sempre foi assim. Mas está em perigo porque ela já não é mais amada, afirmada e acolhida. O poeta francês Albert Camus, depois da Segunda Guerra Mundial, afirmava: "Este é o mistério da Europa: a vida não é mais amada". Aqueles que sofreram naquela guerra homicida sabe o que ele queria dizer. Uma vida não mais amada está pronta para matar e para ser morta.

Hoje, nos confrontamos com uma nova religião da morte. Não quero dizer com isso a religião do Islã, mas sim a ideologia do terror tão típica do século XXI: "Os seus jovens amam a vida", assim se expressou o mulá talibã Omar, no Afeganistão, "os nossos amam a morte". Depois do assassinato em massa de Madri, no dia 11 de marco de 2004, foram encontradas cartas com a mesma mensagem: "Vocês amam a vida; nós, a morte". Essa parece ser a ideologia do terrorista moderna dos assassinos suicidas. Lembro que ainda 60 anos atrás, na Europa, houve um evento semelhante: "Viva la muerte", gritou um velho general fascista durante a Guerra Civil. E não se pode dissuadir um assassino suicida: ele rompeu o temor da morte, não ama mais a vida e quer morrer junto a suas vítimas.

2. Além dessa superfície de terror, encontra-se um perigo maior. Os tratados de paz e pela não proliferação das armas entre as nações têm um pressuposto tácito: a vontade de sobrevivência, a vontade de viver de ambos os lados. Mas o que acontece se um parceiro não quer sobreviver, mas pretende morrer, e se, com essa morte, ele pode destruir, como um todo, esse mundo "ímpio" e "sem Deus"? O que acontece quando um país que possui armas nucleares está obcecado por essa "religião da morte" e se torna o agente suicida do extermínio coletivo do resto do mundo, só porque está empurrado contra um canto e renuncia a todas as formas de esperança? A dissuasão só funciona se todas as partes têm a vontade de viver e querem sobreviver.

A sedução de destruir este mundo, que é percebido como velho, ímpio ou ateu, pode crescer em um desejo de morte universal. Se queremos sacrificar nossa própria vida, que parece ser inútil e sem significado, podemos destruir este mundo hostil por inteiro. Essa "religião da morte" apocalíptica é o verdadeiro inimigo da vontade de viver, do amor pela vida e da afirmação do ser.

3. Além dos perigos que existem hoje para a vida comum das nações em nível político, existe uma ameaça constante de data mais antiga: a nuclear. A primeira bomba atômica sobre Hiroshima, em agosto de 1945, marcou o fim da Segunda Guerra Mundial e foi, ao mesmo tempo, o início do fim para todo o gênero humano, ou seja, a idade em que é possível, a qualquer momento, o fim da humanidade. Nenhum ser humano é capaz de sobreviver ao "inverno nuclear" que se seguiria a uma grande guerra atômica. Lembrem-se: o gênero humano esteve à beira de um evento semelhante há mais de 40 anos durante a Guerra Fria. E é verdade que o conflito aberto não é mais muito provável, já que tal confronto cessou em 1990. Vivemos em um tempo de relativa paz, mas ainda há tantas bombas atômicas e de hidrogênio armazenadas nos arsenais das grandes nações (e até mesmo das mais pequenas), capazes de autodestruir a humanidade. Sakharov chamou isso de "suicídio coletivo": "Quem atira primeiro morre por segundo" – essa foi, há mais de 40 anos, a chamada "destruição recíproca assegurada".

Muitas pessoas haviam se esquecido da ameaça atômica até que o presidente Obama despertou no ano passado, em Praga, o velho sonho de um "mundo sem bombas atômicas" e empreendeu novas negociações com a Rússia para o desarmamento. Então, de repente, muito de nós se deram conta novamente do destino que paira como uma nuvem escura sobre as nações. Insolitamente, tem-se a percepção explícita da presença da ameaça nuclear naquilo que os psicanalistas norte-americanos chamam de "entorpecimento nuclear". Reprimimos a ansiedade, procuramos esquecer essa ameaça e vivemos como se o perigo não existisse, embora ele corroa o nosso subconsciente, desgastando o nosso amor pela vida.

4. Diferentemente da ameaça nuclear, as mudanças climáticas não são apenas uma ameaça, mas já uma realidade que está surgindo em toda parte. As pessoas sabem disso porque todos podem vê-las, percebê-las e, às vezes, sentir o seu odor.

A destruição do meio ambiente que causamos por meio do sistema econômico global de hoje, indubitavelmente, danificará seriamente a sobrevivência da humanidade no século XXI. A sociedade industrial moderna desequilibrou o equilíbrio do organismo Terra e deu início à morte ecológica universal, a menos que se mude o modo em que as coisas se desenvolvem. Os cientistas mostraram que as emissões de dióxido de carbono e de gás metano destroem o nível de ozônio da atmosfera, enquanto o uso dos fertilizantes químicos e de uma multidão de pesticidas torna o solo estéril. Eles demonstraram que o clima global já está mudando agora, hoje, tanto que experimentamos um aumento de catástrofes "naturais", como secas e inundações, que não são naturais, mas sim causadas pela mão do homem. O gelo do Ártico e da Antártida derrete, e, nos próximos séculos – dizem-nos os cientistas –, cidades costeiras como Hamburgo, minha cidade, e regiões como Bangladesh e muitas ilhas dos mares do Sul serão inundadas. Tudo, em todas as formas de vida sobre a Terra, está ameaçado.

A crise ecológica é, em primeiro lugar, causada pela civilização científica e tecnológica ocidental. Isso é verdade.

Mas é um erro pensar que os problemas ambientais são problemas unicamente dos países industriais do Ocidente. Ao contrário, as catástrofes ecológicas estão agravando ainda mais os problemas econômicos e sociais já existentes nos países do Terceiro Mundo. Indira Gandhi tinha razão quando dizia que "a pobreza é a pior poluição".

Todos conhecemos essa realidade, mas parecemos paralisados. Não fazemos aquilo que sabemos que é necessário para impedir as piores consequências. Essa paralisia também pode ser definida de "aturdimento ecológico". Nada acelera uma catástrofe iminente quanto a paralisia do fazer.

Não sabemos se o gênero humano vai sobreviver ao destino que ele criou. E isso é bom. Porque, se soubéssemos que não sobreviveremos, não faríamos nada. Se soubéssemos que existem possibilidades, igualmente não faríamos nada. Só se o futuro for aberto a ambas as soluções, somos obrigados a fazer hoje o que é necessário para sobreviver amanhã. Como não somos capazes de saber se o gênero humano vai sobreviver, devemos agir hoje como se o futuro da vida dependesse de nós, e devemos, ao mesmo tempo, confiar que nós e os nossos filhos faremos a vida e a sobrevivência vencerem.

5. Mas deve haver uma raça humana ou somos só um acidente da natureza? Atualmente, mais de seis bilhões de seres humanos vivem na terra, e esse número deverá crescer rapidamente. Mas a Terra também poderia não ser habitada. Ela viveu sem seres humanos por milhões de anos e pode sobreviver talvez por milhões de anos depois que a raça humana desapareça. Tudo isso deixa o campo aberto para a pergunta última e mais crucial:

Nós, seres humanos, estamos sobre a terra só por acaso, ou faz parte da evolução da vida que os homens deviam vir? Se a natureza mostrasse um "forte princípio antrópico", poderíamos nos sentir "em casa no universo" (Stuart Kauffman). Se isso não pode ser provado, o universo não dá nenhuma resposta à questão existencial da humanidade. Nem as estrelas, nem os nossos genes nos dizem se um ser humano deve existir ou não. Mas como podemos amar a vida e afirmar o nosso existir humano se a humanidade é só um acidente da natureza e, como tal, supérfluo e irrelevante para o universo, talvez só um erro dela? Há um "dever ser", como nos diz Hans Jonas? Existe qualquer razão para amar a vida e afirmar o ser humano? Se não há respostas, toda cultura da vida é incerta em seus fundamentos e está construída sobre bases precárias.

II. Uma cultura da vida deve ser uma cultura de vida comum entre os humanos e o mundo natural

1. Podemos "viver com a bomba"? Acho que é possível crescer em sabedoria, mas como?

O sonho do presidente Obama de um "mundo sem armas nucleares" é justo, mas continua sendo um sonho. Jamais a humanidade será capaz de enfrentar aquilo que agora ela consegue fazer. Qualquer pessoa que tenha aprendido a fórmula da fissão atômica não a esquece jamais. Desde Hiroshima, em 1945, o gênero humano perdeu a sua "inocência atômica".

Mas o prazo atômico é também a primeira idade comum das nações. Todos os países se encontram no mesmo barco. Todos nós compartilhamos a mesma ameaça, cada um de nós pode se tornar uma vítima. Nessa nova situação, a humanidade deve se organizar como sujeito da sobrevivência comum. A criação das Nações Unidas em 1946 foi um primeiro passo. Os acordos de segurança internacionais vão garantir a paz e nos darão tempo para viver, e um dia, talvez, a unificação transnacional entre humanos manterá sob controle os meios de destruição nuclear. A ciência nos diz como adquirir poder sobre a natureza; a sabedoria nos ensina a controlar o nosso poder. O desenvolvimento da sabedoria pública e política é tão importante quanto o progresso científico.

A primeira lição a ser aprendida é esta: a dissuasão não assegura mais a paz. Só a justiça salva a paz entre as nações. Não há outro caminho para alcançar a paz no mundo se não houver ações e equilíbrios harmônicos entre os vários interesses. A paz não é a ausência da violência, mas sim a presença da justiça. A paz é um processo, não uma propriedade. Ela é um caminho comum de redução da violência e de construção da justiça nas relações sociais e globais do gênero humano.

A paz dentro das nossas nações é uma questão de justiça social. A alternativa à pobreza não é a propriedade. A alternativa à pobreza e à propriedade é a comunidade, e o espírito de comunidade é a solidariedade e a ajuda recíproca. Esse é, em síntese, o ensinamento moral das religiões mundiais.

2. O "respeito pela Vida"

Se, em um sistema de vida, que liga uma sociedade humana com o ambiente natural, se verifica uma crise – a morte da natureza –, tem-se também uma crise de todo o sistema vital. Aquela que hoje chamamos de "crise ecológica" não é simplesmente uma crise do nosso ambiente, mas é uma crise total do nosso sistema de vida e não pode ser resolvida apenas com os instrumentos tecnológicos. Ela pede uma mudança do sistema e uma mudança dos valores e das convicções-guia da nossa sociedade. As sociedades modernas industriais não estão mais em harmonia com os ciclos e os ritmos da terra como ocorria nas sociedades agrícolas pré-modernas. As sociedades da modernidade estão programadas sobre o progresso e a expansão dos projetos humanos. Reduzimos a natureza da terra a "nosso ambiente" e destruímos o espaço vital das outras formas de vida. Ano após ano, centenas delas morrem. Nada é mais destrutivo do que reduzir a natureza a ambiente do homem.

Precisamos de uma mudança do domínio moderno da natureza a um "respeito pela vida", como Albert Schweitzer e o Tao Te Ching nos ensinam. Isto é, respeito por cada forma única de vida e pela nossa vida comum no mundo humano e natural e pela grande comunidade de todos os seres vivos. Um biocentrismo pós-moderno substituirá o antropocentrismo ocidental e moderno. Naturalmente, não se pode voltar a uma orientação ao “kósmos” do mundo rural antigo e pré-moderno, mas podemos dar início a uma necessária transformação ecológica da sociedade industrial. Para isso, devemos – acho – mudar o nosso conceito de tempo. A concepção linear de progresso no consumo e no descarte da produção deve abrir caminho para uma concepção circular de tempo de "energia renovável" e de "economia da reciclagem". Só as circulações da vida podem dar estabilidade ao nosso mundo de progresso. Mas a economia da reciclagem ainda é a economia dos pobres.

A Carta Mundial para a Natureza, aprovada no dia 28 de outubro de 1982 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, vai neste sentido:

A humanidade faz parte da natureza [...] Toda forma de vida é única e merece ser respeitada, qualquer que seja a sua utilidade para o homem [2].

Nós fazemos "parte da natureza" e só podemos sobreviver, portanto, preservando a integridade da natureza.

3. A vida do amor em tempos de perigo

O ser humano não é apenas um dom da natureza, mas é também a tarefa do ser humano. Aceitar isso em tempos de terror requer uma grande coragem de viver. A vida deve ser afirmada contra o terror e a ameaça. Em palavras simples: a vida deve ser vivida; a vida amada, a vida comum no mundo humano e no natural é mais forte do que a ameaça da aniquilação universal. Vejo três fatores maiores dessa coragem de existir e da coragem de viver:

a) A vida humana deve ser afirmada, porque também pode ser negada. Como todos sabem, uma criança só pode crescer em uma atmosfera de confiança. Em uma atmosfera de rejeição, a criança desapareceria na alma e no corpo. Ela aprende a se aceitar quando é aceita. O que é verdade para ela vale para os seres humanos sempre: onde somos acolhidos, apreciados e afirmados, somos motivados a viver; onde percebemos um mundo hostil de desprezo e de rejeição, nos retiraremos em nós mesmos e ficamos na defensiva. Precisamos de uma forte afirmação de vida que possa enfrentar tais negações. Cada sim à vida é mais forte do que toda negação da vida, porque pode criar algo novo que os resíduos não podem fazer.

b) A vida humana é uma vida de participação e de partilha. Estamos vivos onde sentimos a simpatia dos outros e permanecemos vivos onde compartilhamos a nossa vida com outros. Na medida em que temos interesses, estamos vivos. É fácil fazer a contraprova: a indiferença leva à apatia. A apatia total é uma vida absolutamente não vivida; é a morte da alma antes da morte física.

c) A vida humana é viva se for busca da felicidade. A vida humana ganha em vitalidade com o seu lutar inato. A "busca da felicidade" é, desde os tempos da Declaração Americana de Independência, um direito humano essencial. Buscar a própria felicidade não é só um direito humano privado, mas é também um direito público. Falamos de "vida boa" ou de uma "vida significativa" e, com isso, queremos dizer uma vida que vive suas máximas potencialidades na vida pública de uma sociedade boa e harmoniosa, como nos disse Confúcio.

Quando levamos a sério essa "busca da felicidade", encontramos o infortúnio das massas pobres e começamos a sofrer com aqueles aos quais cabe esse destino. A compaixão com o qual tomamos parte na sua paixão pela vida é o reverso da busca da felicidade. Quanto mais nos tornamos capazes de felicidade na vida, mais somos capazes de sentir dor e compaixão. Essa é a grande dialética da vida humana.

Mas "onde há perigo, cresce também aquilo que salva". Como cresce a salvação? Tentei mostrar como o Ser pode levar consigo o não-ser e como a vida pode superar a morte mediante o amor e como as contradições mortais podem se transformar em diferenças produtivas e em formas superiores de vida e de comunidade, ou – como disse o professor Tu Weiming – "enquanto a harmonia reconhece o conflito e a contradição, busca transformar a tensão destrutiva em tensão criativa, de modo que uma relação estressante pode ser regenerada em uma síntese superior".

Lembro-me da famosa afirmação do filósofo alemão Friedrich Hegel, amigo Hölderlin desde seus tempos de estudante na Universidade de Tübingen. Ele escreveu a primeira afirmação do pensamento dialético na sua Fenomenologia do Espírito de 1807:

[A vida do Espírito, ao contrário, não é] aquela que se enche de horror perante a morte e se preserva íntegra da decadência e da devastação, mas é aquela vida que suporta a morte e nela se mantém [3].

Uma vida humana plenamente amada e vivida supera as contradições do terror e da ameaça. Toda verdadeira espiritualidade religiosa revela o grande e divino Sim à vida, Sim à Terra e Sim ao futuro, apesar dos perigos.

Notas:

1 - Patmos, in F. Hölderlin, Poesie, Ed. Rizzoli, Milão, 2001, p.489.
2 - http://nadiadesantis.com/leggi-e-trattati/la-carta-mondiale-della-natura.html
3 - Bompiani, Milão 2000, 87 (Prefácio 27)


Memória brasileira: Sigilo ou vergonha?

Por frei Betto

Fonte: Correio da Cidadania

Há 141 anos terminou a Guerra do Paraguai. Durou de 1864 a 1870. Ao longo de seis anos, Brasil, Argentina e Uruguai, instigados pela Inglaterra, combateram os paraguaios. O pretexto era derrubar o ditador Solano López e impedir que o Paraguai, país independente e sem miséria, abrisse uma saída para o mar.

O Brasil enviou 150 mil homens para o campo de batalha. Desses, tombaram 50 mil. Do lado paraguaio foram mortos 300 mil, 20% da população do país. E o Brasil abocanhou 40% do território da nação vizinha.

Até hoje o acesso aos documentos do conflito está proibido a quem pretende investigá-los. Por quê? Talvez o sigilo imposto sirva para cobrir a vergonhosa atuação de Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro, que comandou nossas tropas na guerra. E do Conde D’Eu, genro de Dom Pedro II, que sucedeu o duque no massacre aos paraguaios.

Os arquivos ultra-secretos do Brasil podem permanecer sigilosos por 30 anos. O presidente da República pode prorrogar o prazo por mais 30, indefinidamente. Eternamente.

Em 2009, Lula enviou à Câmara dos Deputados projeto propondo o sigilo eterno periodicamente renovado. Cedeu a pressões dos ministérios da Defesa e das Relações Exteriores. Os deputados federais o aprovaram com esta emenda: o presidente da República poderia renovar, por uma única vez, o prazo do sigilo, e os documentos considerados ultra-secretos seriam divulgados em, no máximo, 50 anos.

O projeto passou ao Senado. Caiu em mãos da Comissão de Relações Exteriores, cujo presidente é o senador Fernando Collor. E, para azar de quem torce por transparência na República, ele próprio assumiu a relatoria. E tratou de engavetá-lo. Não deu andamento ao debate nem colocou o projeto em votação.

A presidente Dilma decidira sancionar a lei do fim do sigilo eterno a 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Naquela data, o relator Collor foi a plenário e declarou ser “temerário” aprovar o texto encaminhado pela Câmara dos Deputados.

Na véspera de ser empossada ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti declarou que Dilma estaria disposta a atender pedidos dos senadores José Sarney e Fernando Collor, e patrocinar no Senado mudança no decreto para assegurar sigilo eterno a documentos oficiais. A única diferença é que, agora, o sigilo seria renovado a cada 25 anos.

O Congresso está prestes a aprovar a Comissão da Verdade, que irá apurar os crimes da ditadura militar. Como aprovar esta comissão e vetar para sempre o acesso a documentos oficiais? Isso significa impedir que a nação brasileira tome conhecimento de fatos importantes de sua história.

Collor e Sarney não gostam de transparência por razões óbvias. Seus governos foram desastrosos e vergonhosos. Já o Ministério das Relações Exteriores alega que trazer à tona documentos, como os da Guerra do Paraguai, pode criar constrangimentos com países vizinhos. Com países vizinhos ou com nossas Forças Armadas e personagens que figuram como heróis em nossos livros didáticos?

O sigilo brasileiro a documentos oficiais não tem similar no mundo. Se não for quebrado, a presidente Dilma ficará refém da chamada base aliada. Ontem foi o “diamante de 20 milhões de reais”, hoje o sigilo eterno, amanhã…

Na terça, dia 14 de junho, retornaram ao Brasil os arquivos do livro “Brasil Nunca Mais” (Vozes), que relata os crimes da ditadura militar brasileira. A publicação, patrocinada pelo Conselho Mundial de Igrejas, foi monitorada pelo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e o pastor Jaime Wright.

O mérito do “Brasil Nunca Mais” é que não há ali nenhuma notícia de jornal ou depoimento de vítima da ditadura. Toda a documentação se obteve em fontes oficiais, retirada, por advogados, de auditorias militares e do Superior Tribunal Militar. Microfilmada, foi remetida ao exterior, por razões de segurança. Agora retorna ao Brasil para ficar disponível aos interessados. Muitas informações ali contidas não constam da redação final do livro, da qual participei em parceria com Ricardo Kotscho.

Os arquivos da Polícia Civil (DOPS) sobre a ditadura militar já foram abertos e se encontram à disposição no Arquivo Nacional. Falta abrir o arquivo das Forças Armadas, o que depende da vontade política da presidente Dilma, ela também vítima da ditadura. As famílias dos mortos e desaparecidos têm o direito de saber o que ocorreu a seus entes queridos. E o Brasil, de conhecer melhor a sua história recente.

Um país sem memória corre sempre o risco de repetir, no futuro, o que houve de pior em sua história.

Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros.

Pobreza infantil afeta quase 81 milhões de crianças na América Latina e no Caribe

SANTIAGO DO CHILE.— A pobreza infantil prejudica quase 81 milhões de menores de 18 anos na América Latina e no Caribe, segundo um estudo da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), os quais, ainda, fazem um apelo aos governos para que invistam na infância e reduzam as persistentes desigualdades, segundo um cabograma da agência Efe.

De acordo com a pesquisa da Cepal e da Unicef, existe uma grande heterogeneidade entre países como a Bolívia, El Salvador, Guatemala, Honduras e Peru, onde mais de dois terços das crianças são pobres.

Entretanto, no Chile, Costa Rica e Uruguai quase uma em cada quatro crianças é afetada pela pobreza infantil, precisam os dados contidos no estudo "Pobreza infantil na América Latina e no Caribe".

Na pesquisa dos dois organismos internacionais se faz uma medição e diagnóstico da pobreza infantil, desde um enfoque de direitos na região e busca propor recomendações de política pública para sua superação.

O estudo, aplicado entre 2008 e 2009, mediu múltiplas dimensões da pobreza infantil na América Latina e no Caribe, vinculando cada uma ao cumprimento da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, que entrou em vigor em 1989.

A sondagem levou em conta fatores como a nutrição, acesso à água potável, conexão a serviços de saneamento, a qualidade da habitação e o número de pessoas por quarto, assistência à escola e acesso a meios de comunicação e informação, cuja privação contribui para um quadro de pobreza e exclusão social.

Fonte: Granma Internacional

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O papel de Wall Street no narcotráfico

A política dos EUA para o México é um pesadelo. Ela minou a soberania mexicana, corrompeu o sistema político e militarizou o país. Obteve também como resultado a morte violenta de milhares de civis, pobres em sua maioria. Mas Washington não está nenhum pouco preocupado com os “danos colaterais”, desde que possa vender mais armas, fortalecer seu regime de livre comércio e lavar mais lucros das drogas em seus grandes bancos. Os principais bancos dos EUA se tornaram sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga. A guerra contra as drogas é uma fraude. Ela não tem a ver com proibição, mas sim com controle. O artigo é de Mike Whitney.
Mike Whitney - SinPermiso

Imagine qual seria sua reação se o governo mexicano decidisse pagar 1,4 milhões de dólares a Barack Obama para usar tropas norte-americanas e veículos blindados em operações militares em Nova York, Los Angeles e Chicago, estabelecendo postos de controle, e elas acabassem se envolvendo em tiroteios que resultassem na morte de 35 mil civis nas ruas de cidades norte-americanas. Se o governo mexicano tratassem assim os Estados Unidos, vocês o considerariam amigo ou inimigo? Pois é exatamente assim que os EUA vêm tratando o México desde 2006.

A política dos EUA para o México – a Iniciativa Mérida – é um pesadelo. Ela minou a soberania mexicana, corrompeu o sistema político e militarizou o país. Obteve também como resultado a morte violenta de milhares de civis, pobres em sua maioria. Mas Washington não está nenhum pouco preocupado com os “danos colaterais”, desde que possa vender mais armas, fortalecer seu regime de livre comércio e lavar mais lucros das drogas em seus grandes bancos. É tudo muito lindo.

Há alguma razão para dignificar essa carnificina chamando-a de “Guerra contra as drogas”?

Não faz nenhum sentido. O que vemos é uma oportunidade descomunal de empoderamento por parte das grandes empresas, das altas finanças e dos serviços de inteligência norteamericanos. E Obama segue meramente fazendo seu leilão, razão pela qual – não é de surpreender – as coisas ficaram tão ruins sob sua administração. Obama não só incrementou o financiamento do Plano México (conhecido como Mérida), como deslocou mais agentes norteamericanos para trabalharem em segredo enquanto aviões não tripulados realizam trabalhos de vigilância. Deu para ter uma ideia do cenário?

Não se trata de uma pequena operação de apreensão de drogas, é outro capítulo da guerra norteamericana contra a civilização. Vale lembrar uma passagem de um artigo de Laura Carlsen, publicado no Counterpunch, que nos mostra um elemento de fundo:

“A guerra contra as drogas converteu-se no veículo principal de militarização da América Latina. Um veículo financiado e impulsionado pelo governo norteamericano e alimentado por uma combinação de falsa moral, hipocrisia e muito de temor duro e frio. A chamada “guerra contra as drogas” constitui, na realidade, uma guerra contra o povo, sobretudo contra os jovens, as mulheres, os povos indígenas e os dissidentes. A guerra contra as drogas se converteu na forma principal do Pentágono ocupar e controlar países à custa de sociedades inteiras e de muitas, muitas vidas”.

“A militarização em nome da guerra contra as drogas está ocorrendo mais rápida e conscienciosamente do que a maioria de nós provavelmente imaginou com a administração de Obama. O acordo para estabelecer bases na Colômbia, posteriormente suspenso, mostrou um dos sinais da estratégia. E já vimos a extensão indefinida da Iniciativa de Mérida no México e América Central, incluindo, tristemente, os navios de guerra enviados a Costa Rica, uma nação com uma história de paz e sem exército...”

“A Iniciativa de Mérida financia interesses norteamericanos para treinar forças de segurança, proporciona inteligência e tecnologia bélica, aconselha sobre as reformas do Judiciário, do sistema penal e a promoção dos direitos humanos, tudo isso no México” (“The Drug War Can’t Be Improved Only be Ended” – “A Guerra contra as drogas não pode ser melhorada, só terminada”, Laura Carlsen, Counterpunch)

A impressão que dá é que Obama está fazendo tudo o que pode para converter o México em uma ditadura militar, pois é exatamente isso o que ele está fazendo. O Plano México é uma farsa que esconde os verdadeiros motivos do governo, que consiste em assegurar-se de que os lucros do tráfico de drogas acabem nos bolsos das pessoas adequadas. É disso que se trata: de muitíssimo dinheiro. E é por isso que o número de vítimas disparou, enquanto a credibilidade do governo mexicano caiu como nunca em décadas. A política norteamericana converteu grandes extensões do país em campos de morte e a situação não para de piorar.

Veja-se esta entrevista com Charles Bowden, que descreve como é a vida das pessoas que vivem na Zona Zero da guerra das drogas no México, Ciudad Juárez:

“Isso ocorre em uma cidade onde muita gente vive em caixas de papelão. No último ano, dez mil negócios encerraram suas atividades. De 30 a 60 mil pessoas, sobretudo os ricos, mudaram-se para El Paso, no outro lado do rio, por razões de segurança. Entre eles, o prefeito de Juárez, que prefere ir dormir em El Paso. O editor do diário local também vive em El Paso. Entre 100 e 400 mil pessoas simplesmente saíram da cidade. Boa parte do problema é econômico. Não se trata simplesmente da violência. Durante esta recessão desapareceram pelo menos 100 mil empregos das empresas fronteiriças devido à competição asiática. As estimativas são de que há entre 500 e 900 bandos de delinquentes”.

Há 10 mil soldados das tropas federais e agentes da Polícia Federal vagando por ali. É uma cidade onde ninguém sai à noite, na qual todos os pequenos negócios pagam extorsão, onde foram roubados oficialmente 20 mil automóveis no ano passado e assassinadas 2.600 pessoas no mesmo período. É uma cidade onde ninguém segue o rastro das pessoas que foram sequestradas e não reaparecem, onde ninguém conta as pessoas enterradas em cemitérios secretos onde, de forma indecorosa, volta e meia aparecem alguns corpos em meio a alguma escavação. O que temos é um desastre e um milhão de pessoas que são muito pobres para poder ir embora. A cidade é isso”. (Charles Bowden, Democracy Now)

Isso não tem a ver com as drogas; trata-se de uma política externa louca que apoia exércitos por delegação para impor a ordem por meio da repressão e militarização do Estado policial. Trata-se de expandir o poder norte-americano e de engordar os lucros de Wall Street. Vejamos mais alguns dados de fundo proporcionados por Lawrence M. Vance, na Future of Freedom Foundation:

“Um número não revelado de agentes da lei norteamericanos trabalha no México (...) A DEA tem mais de 60 agentes no México. A esses se somam os 40 agentes de Imigração e Aduanas, 20 auxiliares do Serviço de Comissários de Polícia e 18 agentes da Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, mais os agentes do FBI, do Serviço de Cidadãos e Imigração, Aduana e Proteção de Fronteiras, Serviço Secreto, guarda-costas e Agência de Segurança no Transporte. O Departamento de Estado mantém também uma Seção de Assuntos de Narcóticos. Os EUA também forneceram helicópteros, cães farejadores de drogas e unidades de polígrafos para examinar os candidatos a trabalhar em organismos de aplicação das leis”.

“Os aviões não tripulados norteamericanos espionam os esconderijos dos carteis e os sinais rastreadores norte-americanos localizam com exatidão os carros e telefones dos suspeitos. Agentes norteamericanos seguem os rastros, localizam chamadas telefônicas, leem correios eletrônicos, estudam padrões de comportamento, seguem rotas de contrabando e processam dados sobre traficantes de drogas, responsáveis pela lavagem de dinheiro e chefes dos cartéis. De acordo com um antigo agente anti-droga mexicano, os agentes norteamericanos não estão limitados em suas escutas no México pelas leis dos EUA, desde que não se encontrem em território norteamericano e não grampeiem cidadãos norteamericanos. (“Why Is the U.S. Fighting Mexico’s Drug War?”, “Por que os EUA travam a guerra contra as drogas no México?”, Laurence M. Vance, The Future of Freedom Foundation).

Isso não é política externa, mas sim outra ocupação norteamericana. E adivinhem quem enche os cofres com essa pequena fraude sórdida? Wall Street. Os grandes bancos ficam com sua parte como sempre fazem. Vejamos essa passagem de um artigo de James Petras intitulado “How Drug profits saved Capitalism” (“Como os lucros das drogas salvaram o capitalismo”, publicado em Global Research). É um estupendo resumo dos objetivos que estão configurando essa política:

“Enquanto o Pentágono arma o governo mexicana e a DEA (Drug Enforcement Agency, a agência anti-droga dos EUA) põe em prática a “solução militar”, os maiores bancos dos EUA recebem, lavam e transferem centenas de bilhões de dólares nas contas dos senhores da droga que, com esse dinheiro, compram armas modernas, pagam exércitos privados de assassinos e corrompem um número indeterminado de funcionários encarregados de fazer cumprir a lei de ambos os lados da fronteira...”

“Os lucros da droga, no sentido mais básico, são assegurados mediante a capacidade dos carteis de lavar e transferir bilhões de dólares para o sistema bancário norteamericano. A escala e a envergadura da aliança entre a banca norteamericana e os carteis da droga ultrapassa qualquer outra atividade do sistema financeiro privado norteamericano. De acordo com os registros do Departamento de Justiça dos EUA, só um banco, o Wachovia Bank (propriedade hoje de Wells Fargo), lavou 378.300 milhões de dólares entre 1° de maio de 2004 e 31 de maio de 2007 (The Guardian, 11 de maio de 2011). Todos os principais bancos dos EUA tornaram-se sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga”.

“Se os principais bancos norteamericanos são os instrumentos financeiros que permitem os impérios multimilionários da droga operar, a Casa Branca, o Congresso dos EUA e os organismos de aplicação das leis são os protetores essenciais destes bancos (...) A lavagem de dinheiro da droga é uma das fontes mais lucrativas de lucros para Wall Street. Os bancos cobram gordas comissões pela transferência dos lucros da droga que, por sua vez, emprestam a instituições de crédito a taxas de juros muito superiores às que pagam – se é que pagam – aos depositantes dos traficantes de drogas.

Inundados pelos lucros das drogas já desinfetados esses titãs norteamericanos das finanças mundiais podem comprar facilmente os funcionários eleitos para que perpetuem o sistema”. (“How Drug Profits saved Capitalism, James Petras, Global Research).

Vamos repetir: “Todos os principais bancos dos EUA se tornaram sócios financeiros ativos dos cartéis assassinos da droga”.

A guerra contra as drogas é uma fraude. Ela não tem a ver com proibição, mas sim com controle. Washington emprega a força para que os bancos possam garantir um bom lucro. Uma mão lava a outra, como ocorre com a Máfia.

(*) Mike Whitney é um analista político independente que vive no estado de Washington e colabora regularmente com a revista norteamericana CounterPunch.

Tradução: Katarina Peixoto

Com apoio de Carta Maior