"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Comando Conjunto do Ocidente para a população do município de Toribio

Em 9 de julho, unidades do Exército Popular das FARC, realizaram um ataque contra a delegacia de polícia e um comando das forças especiais do exército estacionado em uma casa na área urbana do município de Toribio. Muitas das casas que foram afetadas tinham sido alugadas ou cedidas por seus proprietários para membros da polícia e do exército, os que estavam habitando no momento do ataque.

Nós lamentamos a morte e ferimento de civis e outros danos causados por efeitos colaterais do combate. O único responsável pelos danos causados é o Estado colombiano, por manter pessoal militar e infraestrutura militar em roradias urbanas dos civis. Ao mesmo tempo, conclamamos a mídia a ser objetiva e imparcial, pois as informações fornecidas, em nenhum momento fizeram alusão às dezenas de baixas produzidas, entre a polícia e membros do exército, bem como o dano a infraestrutura militar atacada.

Ao colocar as unidades militares em áreas urbanas, supostamente para "proteger os civis", quando na verdade procuram é que ante a presença da população a insurgência se abstenha de atacá-los, em um contexto de intensificação da guerra como o que caracteriza na Colômbia, o governo está violando normas do Direito Internacional Humanitário (DIH), do qual é signatário o Estado colombiano, e em relação ao qual ainda não se pronunciou o escritório na Colômbia da ONU. Mais precisamente, o protocolo adicional às Convenções de Genebra, artigo 58 - Precauções contra os efeitos dos ataques, que dita:

a) Esforçar-se-ão, procurarão, sem prejuízo do artigo 49.º da Convenção IV, por afastar da proximidade dos objetivos militares a população civil, as pessoas civis e os bens de carácter civil sujeitos à sua autoridade;

b) Evitarão colocar objetivos militares no interior ou na proximidade de zonas fortemente povoadas;

c) Tomarão outras precauções necessárias para proteger a população civil, as pessoas civis e os bens de carácter civil sujeitos à sua autoridade contra os perigos resultantes das operações militares.

Também é comum às unidades da polícia e o exército abusarem do poder utilizando armas para intimidar e impedir a livre circulação de pessoas, acusando-as de serem guerrilheiros ou simpatizantes da guerrilha, e também, violam os direitos fundamentais (civis e política). Em outros casos, as tornam alvo de tiros e bombardeamentos indiscriminados, matando moradores como ocorreu na cidade de Toribio, em junho do ano passado, quando a polícia matou o jovem Wilmer Ovídio Yatacué Yonda, na trilha de Sesteadero. Dessa forma, eles estão violando o artigo 93 da Constituição da Colômbia:

“Os tratados e convenções internacionais ratificados pelo Congresso, que reconhecem os direitos humanos e proíbem sua limitação em estados de emergência em vigor na ordem interna.

Os direitos e deveres consagrados na presente Carta devem ser interpretados de conformidade com os tratados internacionais sobre direitos humanos ratificados pela Colômbia”.

Face ao exposto, e para evitar mais danos à população civil é necessário impedir a reconstrução da delegacia de polícia dentro da área urbana, e que de forma alguma os toribianos forneçam ou aluguem suas casa ao exército e a polícia, exigindo que afastem seus comandos e pessoal militar das áreas povoadas.

Assim como o Estado é o único responsável pelos danos causados aos civis, o governo é obrigado a reparar os danos causados aos cidadãos devido à guerra que promove e intensifica a cada dia.

O conflito social e armado que existe a décadas em nosso país, está profundamente enraizado nas desigualdades sociais, portanto, não será resolvido com mais bombas e balas. É através do diálogo entre o Governo e a insurgência, como podem surgir novos acordos para maior investimento social e garantia de todos os direitos econômicos, políticos, sociais, culturais e ambientais dos colombianos. Só assim podemos superar a guerra interna.

Conclamamos a população, organizações e movimentos sociais e partidos políticos para exigir do governo oligárquico e fascista de Santos a buscarem uma solução política para o conflito social e armado em nosso país.

RECOMENDAÇÕES A POPULAÇÃO CIVIL COLOMBIANA

1. A população civil deve evitar que quartéis militares e policiais sejam construídos perto de suas residências ou locais de concentração pública.

2. A população civil deve evitar que militares e policiais utilizem seus veículos particulares ou veículos de transporte público em serviço. Se os proprietários ou condutores forem obrigados, é preferível entregar as chaves do veículo, deixando a responsabilidade aos militares e exigir a assinatura de um documento.

3. A população civil deve abster-se de abordar veículos militares de qualquer tipo.

4. Os veículos civis nas estradas, deve manter uma distância mínima de 500 metros dos veículos e comboios militares.

5. A população civil deve abster-se de servir como guia para as forças de segurança quando patrulham em áreas rurais.

6. A população civil deve abster-se de entrar em guarnições militares ou delegacias de polícia. Nem deve dormir com eles.

7. Em zonas de conflito, os veículos de imprensa e agências humanitárias devem transitar com distintivos perfeitamente visíveis e velocidade mínima.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

“Agenda Colômbia”surge para denunciar violação dos Direitos Humanos naquele país

Somando-se a outras organizações políticas e sociais, Unamérica toma parte na construção de um espaço de solidariedade, estudo e divulgação das constantes ações de violação dos direitos humanos na Colômbia. A chamada “Agenda Colômbia” começa a ser organizada simultaneamente em várias capitais do Brasil e busca ser um espaço criado para dar visibilidade à realidade colombiana e gerar ações solidariedade do povo brasileiro aos movimentos da sociedade civil e organizações políticas democráticas colombianas.

Seu manifesto afirma que “como organização não é partidária, é autônoma, horizontal, prima pela equidade de gênero, a direção coletiva e a formação permanente.”

Lançada em Porto Alegre, a iniciativa afirma-se como alternativa de “luta contra o imperialismo, a militarização e a violação aos direitos humanos; a favor da livre determinação dos povos, a paz no mundo, a justiça social, a superação da impunidade, o resgate e a preservação da memória, e em especial pela superação do povo colombiano de sua grave situação social e política.”

Seu objetivo é criar solidariedade nas organizações sociais e políticas brasileiras ao povo colombiano para apoiar as lutas das colombianas e dos colombianos. E no reconhecimento de seus direitos humanos, na superação da impunidade, na solução política ao conflito armado com uma paz real e duradoura, na construção de justiça social e uma Colômbia onde caibam todos e todas.

Para isso busca desenvolver os seguintes eixos:

* Divulgação e informação: realizar campanhas de solidariedade ao povo colombiano divulgando e denunciando a situação colombiana, palestras, oficinas, assim como outro tipo de atividades que ajudem a explicar essa realidade.

* Memória histórica: recuperar e preservar a memória histórica das lutas sociais e políticas colombianas, das vítimas, e de sua relação com as lutas brasileiras e das políticas desenvolvidas na América Latina.

* Direitos Humanos: denunciar as violações de direitos humanos e criar redes solidárias, incidindo e pressionando o governo colombiano para que respeite os direitos humanos.

* Paz duradoura: buscar gerar ações solidárias e manifestações que chamem e pressionem como comunidade internacional o governo colombiano a dialogar e negociar uma paz duradoura e com justiça social com as distintas organizações armadas revolucionárias daquele país.

* Ajuda a exilados, perseguidos e refugiados: solidariedade com colombianas e colombianos que, por conta da situação social e política que vive seu país, foram obrigados a ter que abandoná-lo.

* Intercâmbio de experiências e convênios: fazer pontes entre organizações e entidades brasileiras para realizar intercâmbios com organizações e entidades colombianas, procurando fortalecer os processos sociais e políticos dos movimentos sociais e democráticos da Colômbia, por meio de: acompanhamento internacional no terreno; troca de experiências e o reconhecimento da realidade; apoio para a formação e educação no Brasil de lideranças sociais e políticas colombianas que contribuam para o fortalecimento dos processos.

Com esses princípios, a Agenda Colômbia inicia seus trabalhos tendo como objetivo central divulgar a situação dramática de milhares de colombianos afetados diretamente pelo conflito entre o Estado e as forças políticas beligerantes. As primeiras ações (debates, exibição de filmes, seminários) tiveram início no último mês de junho em Porto Alegre e deverão se estender por outras capitais do país.

Da Redação, com informações de Agenda Colômbia.


Fonte: www.unamerica.org.br

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Memórias de Gregorio Bezerra

Em Memórias, o líder comunista repassa sua impressionante trajetória de vida e resgata um período rico da história política brasileira. O depoimento abrange o período entre seu nascimento (1900) até a libertação da prisão em troca do embaixador americano sequestrado, em 1969, e termina com sua chegada à União Soviética, onde permaneceria até a Anistia, em 1979. No exílio começou a escrever sua autobiografia. Analfabeto até os 25 anos de idade e militante desde as primeiras movimentações de trabalhadores influenciados pela Revolução Russa de 1917, Bezerra teve papel de destaque em importantes momentos políticos da esquerda brasileira.

Mais de trinta anos após a publicação das Memórias (1979), de Gregório Bezerra, o lendário ícone da resistência à ditadura militar é homenageado com o lançamento de sua autobiografia pela Boitempo Editorial, acrescida de fotografias e textos inéditos, e em um único volume. O livro conta com a contribuição decisiva de Jurandir Bezerra, filho de Gregório, que conservou a memória de seu pai; da historiadora Anita Prestes, filha de Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, que assina a apresentação da nova edição; de Ferreira Gullar na quarta capa; e de Roberto Arrais no texto de orelha. Há também a inclusão de depoimentos de Oscar Niemeyer, Ziraldo, da adovogada Mércia Albuquerque e do governador de Pernambuco (e neto de Miguel Arrais) Eduardo Campos, entre muitos outros.


Em Memórias, o líder comunista repassa sua impressionante trajetória de vida e resgata um período rico da história política brasileira. O depoimento abrange o período entre seu nascimento (1900) até a libertação da prisão em troca do embaixador americano sequestrado, em 1969, e termina com sua chegada à União Soviética, onde permaneceria até a Anistia, em 1979. No exílio começou a escrever sua autobiografia.

Nascido em Panelas, no Agreste pernambucano, a 180 km de Recife, Gregório era filho de camponeses pobres, que perdeu ainda na infância, e com cinco anos de idade já trabalhava com a enxada na lavoura de cana-de-açúcar. Analfabeto até os 25 anos de idade e militante desde as primeiras movimentações de trabalhadores influenciados pela Revolução Russa de 1917, Bezerra teve papel de destaque em importantes momentos políticos da esquerda brasileira, e por conta disso totalizou 23 anos de cárcere em diversos presídios e épocas. Foi deputado federal (o mais votado em 1946) pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), ferrenho combatente do regime militar, e por essa razão protagonizou uma das cenas mais brutais da recém-instalada ditadura pós-golpe de 1964: capturado, foi arrastado por seus algozes pelas ruas do Recife, com as imagens tendo sido veiculadas pela TV no então Repórter Esso. A selvageria causou tamanha comoção que os registros da tortura jamais foram encontrados nos arquivos do exército.

Apesar da dura realidade, Gregório jamais cultivou o ódio ou o rancor. Era por todos considerado um homem doce, generoso. Não foi um homem de letras, mas um grande observador e um brilhante contador de histórias. Assim é que suas páginas são narradas, sem afetações ou hipocrisia, passando pelo interior da mata e do agreste nos tempos de estiagem e seca, pelo Recife, o exílio na União Soviética, a militância no PCB. Dizia ele: “Não luto contra pessoas, luto contra o sistema que explora e esmaga a maioria do povo”.

Em 1983, o Brasil perdeu este que foi um de seus grandes defensores. Para sorte dos que estavam por vir, porém, ele deixou suas memórias recheadas de verdades e esperanças e que, acima de tudo, representam a história de muitos outros “Gregórios” que transformaram o seu destino na luta para transformar a realidade instituída.

Trechos do livro

“Foi o Natal mais farto e rico de alegria a que assisti durante os nove anos e dez meses de minha vida. Além disso, ganhei dois metros de algodãozinho para fazer duas camisas, porque só tinha uma e velha, que já estava virando farrapo. Aproveitei a cumplicidade de vovó e pedi-lhe que me fizesse uma camisa e uma calça, em vez de duas camisas. A velha topou as minhas antigas pretensões. Entretanto a costureira, que foi a minha tia Guilhermina, em vez de me fazer uma calça, fez uma ceroula grande, de amarrar acima do tornozelo. Deram-me para vestir. Achei bonita e até mais bonita do que uma calça, porque me fez lembrar do meu falecido avô, que, quando vivo, somente vestia ceroulas compridas amarradas no tornozelo. Calça só vestia quando ia à feira ou em visita aos domingos.

Afinal, todos aprovaram a ceroula, menos minha irmã Isabel. Ganhei a “batalha” de anos atrás, quando pleiteei uma calça no sítio Goiabeira. Era feliz, agora, e me sentia homem. O Natal e Ano-Novo serviram para minhas exibições de ceroulas compridas e camisa fora da calça.”

“Voltei à rua, tentando ver se alguns operários haviam chegado. Não havia ninguém. Fiz um ligeiro comício para os pequenos grupos que se aglomeravam nas sacadas dos prédios vizinhos, concitando-os a pegar em armas, sob o comando do camarada Luiz Carlos Prestes. Fui aplaudido das varandas por alguns estudantes que ali moravam. Mas o apoio, infelizmente, não passou dos aplausos. Um oficial tentou prender-me, pedindo-me que, pelo amor de Deus, eu me rendesse. Ao chegar a dez metros de mim, apontei-lhe o fuzil e o fiz recuar. Vinha chegando um sargento radiotelegrafista que, de longe, perguntou-me o que havia. Respondi-lhe que, se quisesse lutar pela Aliança Nacional Libertadora, tinha um lugar a sua disposição; se não, caísse fora enquanto era tempo.”

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A paz com justiça social é possível, lutemos por ela, No 24.

Por Juan Leonel Pérez

Em 07 de julho de 2011, as FARC atacaram em forma simultânea seis municípios, no Departamento (estado) do Valle del Cauca. A ação militar surpreendeu a todo o mundo. A imprensa estava dedicada a anunciar a iminente caída do Comandante das FARC, Alfonso Cano. Vários Ministros do governo e Generais tinham afirmado já, que essa Organização guerrilheira estava derrotada.

¿Como, então, realiza tamanho operativo militar em seis municípios o mesmo dia? Há uma explicação, só: O Presidente, os Ministros e Generais da República mentem ao país e ao mundo.

A ação realizada demonstra que a guerrilha tem capacidade operativa para agir em um dos departamentos mais militarizados do país, sem que as Forças Armadas possam neutralizá-la.

O movimento insurgente não está derrotado. Os golpes sofridos são de inteligência, pois onde descobrem que há um Comandante Guerrilheiro, de imediato concentram forças em número excessivo para atacar, como ocorreu com Jorge Briceño, em 22 de setembro de 2010. Militarmente é vergonhoso, até, que para atacar um guerrilheiro tenham que dispor de 30 aviões de guerra, 27 helicópteros e 6 mil homens.

O governo não pode, de jeito nenhum, conter o avanço militar da guerrilha. No seu desespero, então, ataca a população. Que culpa tem um morador se um guerrilheiro, que pelas circunstâncias, necessita em um momento dado disparar desde sua casa contra um objetivo militar? E o mais grave é que o Presidente anunciou que mandaria bombardear as casas desde as quais fossem atacados seus esbirros. Isso nos lembra como entre 1948 e 1957 durante os governos de Ospina Pérez, Laureano Gómez e Gustavo Rojas Pinilla as casas de milhares de famílias liberais foram incendiadas. Por esse crime de lesa humanidade neguem respondeu.

Uma notícia muito positiva que gostaríamos destacar de forma antecipada é o anúncio da ex-senadora Piedad Córdoba sobre a possível libertação unilateral de prisioneiros de guerra em poder das FARC. É possível que essa Organização guerrilheira demonstre, mais uma vez, sua vontade política de buscar mediante o diálogo a solução política do conflito social e armado. Segundo ela no dia 03 de agosto conheceremos os detalhes.

Com a paz com justiça social, todos ganhamos, com a guerra do governo contra o povo, todos perdemos!

A seguir, os resultados dos combates entre as FARC e as forças repressivas do governo, segundo a imprensa nacional e internacional, do 06 ao 14 de julho de 2011.

06/07: Em ataque das FARC contra uma patrulha do Exército e zona rural de

Argelia, Cauca, morre 1 militar e 3 mais ficam feridos de gravidade.

http://www.rcnradio.com

06/07 : FARC ataca com explosivos uma patrulha do Exército em Jambaló, Cauca.

http://www.rcnradio.com

08/07 : Ataque com explozsivos das FARC perto de Argelia, Cauca: vários

policiais feridos.

http://www.rcnradio.com

09/07 : FARC destroza a estação da Polícia em Toribío, Cauca. Vários agentes do regime n ficam feridos e mortos.

http://www.cronica.com.mx

10/07 : Ao menos 20 presos, vários deles guerrilheiros das FARC, fugem do cárcere de Tumaco, Nariño.

http://www.elheraldo.co

10/07 : Santos afirma que as forças do regime têm encurradado o Comandante

Alfonso Cano: as FARC respondem mediante ação militar em Corinto, Caldono, Jambaló,

Siberia e Mondomo, todos no estado do Cauca.

http://www.elheraldo.co

11/07 : Ataque das FARC em Suárez, Cauca: 2 policiais mortos.

http://www.elheraldo.co

12/07 : Guerrilheiros das FARC eliminam 2 policiais em Apartadó, Antioquia.

http://noticias.terra.com.ar

13/07: Continuam os ataques das FARC contra a Polícia em Toribío, Cauca.

http://www.eltiempo.com

13/07 : Militares caem em campo minado das FARC perto de Fortul, Arauca: 7

uniformados feridos.

http://www.efe.com

14/07 : FARC destroe 2 torres de energia no Catatumbo.

http://www.cronica.com.mx

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Colômbia anuncia possível libertação para presos de guerrilhas



A ex-congressista colombiana Piedad Córdoba anunciou nesta sexta-feira (15) que no próximo dia 3 de agosto divulgará detalhes sobre uma possível libertação de prisioneiros de guerrilhas.

Córdoba, líder de Colombianos e Colombianas pela Paz, disse que nesse dia ocorrerá um ato para recusar a guerra. Ela assegurou a divulgação do trabalho elaborado pelas organizações e mulheres que buscam a paz.

A líder afirmou que uma vez que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) libertem os prisioneiros, o governo do presidente Juan Manuel Santos deveria estabelecer uma mesa diálogo para pôr fim ao conflito.

Desde janeiro de 2008, o grupo insurgente libertou unilateralmente uma dezena de presos, entre políticos, policiais e militares, processos nos quais o trabalho de Córdoba foi crucial.

Fonte: Prensa Latina

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Entrevista com Alfonso Cano, Comandante em Chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC-EP)

Entrevista pescada do Diário Liberdade que traduziu para o português a entrevista publicada pelo jornal espanhol Público no passado mês de maio com o dirigente revolucionário colombiano.

Alfonso Cano, cujo nome civil é Guillermo León Sáenz Vargas (Bogotá, 1948), é o comandante da guerrilha mais antiga do mundo. Nesta entrevista com Público, a primeira que concede a um meio de comunicação em 19 meses, o líder intelectual da guerrilha analisa a época de Álvaro Uribe e mantém que é difícil avançar no caminho para a resolução da guerra civil que dura já décadas com o novo mandatário Juan Manuel Santos. Cano respondeu às perguntas através de um questionário que devolveu assinado a 21 de maio de 2011 "nas montanhas da Colômbia".

Quais são as razões pelas quais as FARC lutam?

Nossos objetivos são a convivência democrática com justiça social e exercício pleno da soberania nacional, como resultado de um processo de participação cidadã em massa que dirija a Colômbia para o socialismo.

São a guerrilha mais antiga do mundo. Seguem vigentes os motivos pelos quais iniciaram sua luta armada ou estes mudaram com o tempo?

Nestes 47 anos desatou-se uma vertiginosa transformação na ciência e na tecnologia, elevaram-se os índices de crescimento econômico em muitos países, colapsou o modelo soviético de construção socialista e irrompeu imparável a República Popular da China. No entanto, apesar de todo isso e a muitas outras novidades transcendentes, a fome cresceu no planeta, as injustiças, as fendas sociais e os conflitos persistiram e aumentaram enquanto cerca de 10.000 indivíduos muito abastados decidem a sorte de milhares de milhões de pessoas. As FARC nascemos resistindo à violência oligárquica que utiliza sistematicamente o crime político para liquidar à oposição democrática e revolucionária; também como resposta camponesa e popular à agressão latifundiária e fazendeira que inundou de sangue os campos colombianos usurpando terras de camponeses e colonos, e nascemos também, como atitude digna e beligerante de rejeição à ingerência do Governo dos EUA na confrontação militar e na política interna de nossa pátria, três razões essenciais que gestaram as FARC tal como se assinala no Programa Agrário de Marquetalia elaborado e difundido em 1964. Uma simples olhada sobre a realidade colombiana de maio de 2011 mostra-nos que, apesar do contexto internacional indicado, estes três fatores germinais persistem e se agravam na atualidade.

Acha que é possível abrir um processo negociador com o presidente Juan Manuel Santos?

Com o esforço em comum de muitos setores progressistas e democráticos interessados em uma solução incruenta do conflito, sempre será possível construir cenários e iniciar conversas diretas de horizontes verdadeiros, com qualquer governo, incluindo ao atual, apesar de que este, começando com o seu mandato, reduziu as possibilidades, ao impor uma lei que fecha portas a diálogos dentro do país. Porém, somos otimistas sobre a eventualidade de o conseguir.

Ante a negativa do Governo de aceitar trocas de reféns por guerrilheiros presos, que planos tem para os sequestrados que seguem em poder das FARC?

Entendo que você se refere aos prisioneiros de guerra que temos em nosso poder, porque uma aproximação desapaixonada, rigorosa e objetiva ao tema, em uma confrontação política, social e militar de cerca de 47 anos, que enfrenta dois adversários deve aludir a prisioneiros de guerra que as partes capturam no devir desse confronto, não é? A negativa atual do governo à troca não tem por que fazer-nos desistir na aspiração de ter conosco, livres, os camaradas presos na atualidade e a que regressem a seus lares os prisioneiros, militares e polícias capturados em combate, que temos em nosso poder, a quem suas famílias também aspiram a ter de novo em seu seio. Por cima da indiferença do Estado sobre os próprios soldados, vamos perseverar. Sabe-se que enquanto perdurar uma confrontação, vai haver prisioneiros em poder das partes.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha é um organismo neutro encarregado de velar pelo cumprimento do direito internacional humanitário. Em seu último relatório indica que "enquanto as partes em conflito desenvolverem os confrontos armados em zonas rurais, a população que habita estas áreas vive em permanente perigo e está exposta a violações do DIH como: homicídios e/ou ataques a pessoas protegidas pelo DIH: desaparecimentos forçados; violência sexual; tomada de reféns; recrutamento forçado; maus tratos físicos e/ou psicológicos; e deslocação forçada. A falta de respeito ao princípio de distinção entre combatentes e civis, as pressões para colaborar gerando represálias diretas contra os civis, a ocupação de bens civis privados ou públicos e a contaminação por armas são outros fatores agravantes que afetam a vida das comunidades".

Quais destas violações cometem as FARC?

Para ser rigorosos teria que referir um a um os casos informados pelo CICR e como este não é o espaço adequado, posso lhe comentar que para nós, o primeiro e mais importante de nossa luta é a população, não só por razões de princípios políticos e ideológicos, mas práticos da guerra. Unicamente na medida que respondermos às necessidades objetivas da população em cada área, podemos resistir, crescer e avançar. Caso contrário é impossível.

Faz anos e dada a intensidade dos combates, difundimos umas normas de comportamento para que a população civil não permitisse sua utilização como escudo por parte da força pública que constrói quartéis no meio dos povoados, utiliza o transporte público para seus movimentos, situa caravanas de veículos militares no meio do transporte civil para suas deslocações por estradas, pernoita nas escolas e colégios, etc; práticas que a força pública utiliza, criando riscos à população.

Eventualmente unidades nossas podem violentar as normas, mas como estamos regidos por uns Estatutos, umas Normas e uns Regulamentos de Regime Disciplinar estrito, alicerçados em uma concepção revolucionária da vida, que harmonizam os relacionamentos entre combatentes e também, as nossas com a população civil garantindo uma profunda, sincera, harmônica e sólido relacionamento, tomamos os corretivos que assinalam nossos documentos.

Quanto ao DIH e a seus Protocolos adicionais, mantemos algumas reservas porque, em ocasiões, dificultam a aproximação de certas situações, dado que foi concebido e desenhado para conflitos entre nações e, apesar dos protocolos adicionais, não sempre proporciona o justo equilíbrio. Por exemplo, qualificar como "execuções extrajudiciais" a homicida, criminosa e sistemática prática das Forças Armadas oficiais da Colômbia durante os últimos 63 últimos anos, de assassinar civis, os vestir com roupa militar e colocar armas a seus cadáveres para os fazer passar como guerrilheiros "eliminados" em combate, em um país que diz ser um Estado de Direito e cuja legislação não prevê a pena de morte, possibilitou um tratamento benigno e celestino aos criminosos, que tem escamoteado uma condenação drástica, vertical, diáfana e oportuna ao terror desenvolvido pelo Estado colombiano desde faz mais de 47 anos.

A norma sobre o uso de armas não convencionais é uma regulamentação para a guerra entre nações que não pode abranger a movimentos populares como o nosso, que se armou desde um começo com paus e machados para se defender de uma agressão gestada e executada pelo Estado, com a contribuição militar, financeira e tecnológica da Casa Branca. Equivale a recriminar ao bíblico Davi porque utilizou pedras para defender da agressão do colosso Golias.

Valeria a pena trabalhar um cenário internacional onde analisar, desde diferentes ópticas, estas situações e outras do mesmo tenor e trocar conceitos sobre a "neutralidade" que acima de qualquer consideração, devem manter quem se reclamam suas garantes.

As FARC fazem uso de minas antipessoa, entre outras coisas contra operações de erradicação manual de cultivos de folha de coca. Por que continuam usando uma arma proibida pelo direito humanitário e que todo mundo lembrou em 1998 erradicar no Tratado de Ottawa ou a Convenção sobre a proibição de minas antipessoais?

Reitero-lhe que a respeito do armamento utilizado pela guerrilha em sua luta de resistência, na irregularidade de sua tática e como consequência da assimetría que carateriza uma confrontação como a colombiana, será necessário que em um cenário internacional largamente representativo, com a presença da guerrilha revolucionária com certeza, nos ocupemos de abordar este tema com objetividade, sem mentiras, buscando umas conclusões realistas que todos possamos acatar rigorosamente, incluindo aos governos. É ridículo, por qualificar de alguma maneira, que quando o Estado colombiano lança operativos contra insurgentes em uma proporção de 100 militares contra cada guerrilheiro, com bombardeios de abrandamento executados com milhares de toneladas de pentolita, realizados por uma aviação dotada de foguetes de todo tipo, metralhamentos das suas centenas de helicópteros gringos e russos de última tecnologia, fogo de artilharia com morteiros de 120 mm, saiam logo os altos comandos militares a se queixar e a denunciar, porque muitas de suas unidades caíram em campos minados em tão desigual teatro de operações. Ou, como também acontece, é criminoso forçar a civis a lhes servir como script em seus labores de rastreio e seguimento com consequências muitas vezes lamentáveis para quem foram obrigados. Ou, como acontece em outras ocasiões, é perversamente farisaico dar dinheiro a civis para que exerçam como bufos, quem buscando informação, muitas vezes é vítima da confrontação.

Sem dúvida, ninguém pode poupar esforços por separar a população civil do conflito. Isto deve ser privilegiado em todos e a cada um dos feitos com que se acometam como parte do conflito, mas como entender isto no caso da Colômbia, onde o governo nacional desatou uma intensa campanha para recrutar civis como informantes em troca de dinheiro, integrando um aparelho chamado Rede de Cooperantes, estarão-se cingindo às normas do DIH?. Ou existe uma contradição entre o seu discurso maniqueísta em frente à normatividade internacional e as políticas que desenvolve? São muitos os temas que deverá abocar uma reunião de atualização do DIH, na que seria vital a participação dos Estados Unidos de Norteamérica para também analisar a sindéresis entre as exigências que faz ao resto do mundo com respeito aos Direitos Humanos e sua prática quotidiana e universal.

Têm futuro as FARC se se mantiverem à margem do narcotráfico? Que relacionamentos têm agora com o cultivo e tráfico de drogas? É atualmente sua principal fonte de financiamento? Quanto dinheiro conseguem anualmente por este conceito?

Nossa luta por permanecer à margem do narcotráfico não foi fácil já que nos últimos 30 anos Colômbia foi permeada e contaminada, de pés a cabeça, pelos dinheiros do narcotráfico: as instituições do Estado sem exceção, a indústria, a banca, o comércio, a política, o desporto, o agro, a farándula, as forças militares e de polícia, e em general, o conjunto do tecido social.

A guerra contra as drogas decretada pela Casa Branca tem sido um fracasso, especialmente na Colômbia, pois deixou um enorme rasto de sangue, desintegração social e perda de valores substantivos da ética e a moral, enquanto a área semeada de coca oscila pendularmente entre as 90 mil e os 180 mil hectares e o país continua à cabeça do tráfico mundial, segundo relatórios de diversos organismos internacionais.

De tempo atrás, manifestamos nosso acordo com a legalização ou com a despenalização que, desde as épocas do prêmio nobel norte-americano Milton Friedman até hoje incluindo 4 ex-presidentes latino-americanos e grande quantidade de personalidades e organizações do mundo inteiro, se promove como saída realista para liquidar definitivamente os enormes lucros deste tráfico, manejar seu crescente consumo como um problema de saúde pública e desenvolver estratégias preventivas com a certeza de sua superação definitiva.

Em épocas do Caguán, em sessão especial ante embaixadores e representantes de diversos países e organismos multilaterais, apresentamos um plano detalhado para experimentar em uma área delimitada uma estratégia de substituição de cultivos que desestimulasse os camponeses cultivadores de coca e os ajudasse na criação de alternativas econômicas verdadeiras. Muitos narcotraficantes e dirigentes políticos dos partidos de governo opuseram-se à proposta e frustraram-na.

O narcotráfico não é um problema das FARC. É um fenômeno nacional, latino-americano e mundial, ao qual se deve fazer frente com uma estratégia nacional e convergente, encabeçada pelos primeiros responsáveis e também grandes vítimas deste câncer: os países desenvolvidos.

Gostava de ser taxativo nisto: nenhuma unidade fariana, de acordo aos documentos e decisões que nos regem, podem semear, processar, comerciar, vender ou consumir alucinógenos ou substâncias psicotrópicas.

Todo o resto que for dito é propaganda.

Deixando então de parte o narcotráfico, como se financiam as FARC?

As FARC - EP temos três fontes básicas de financiamento: contributos de amigos e simpatizantes que acham sinceramente no compromisso revolucionário das FARC e na causa pela qual lutamos; impostos que cobramos aos ricos, através da lei 002 e rendas geradas de investimentos que mantemos.

As FARC sofreram seus golpes mais duros durante o Governo de Uribe, como a Operação Xeque, a Operação Fénix, a Operação Camaleón... Em que situação se encontra a guerrilha? Quais são seus efetivos e do território controla?

Para sermos sinceros, o golpe mais sério e de maior transcendência que já recebemos foi depois da segunda conferência guerrilheira realizada em 1966, no departamento de Quindio, onde perdemos grande quantidade de combatentes e 70% das armas. Só até a quinta conferência, após muitos anos, pôde dizer o comandante Marulanda: "Por fim nos recuperamos do mal que quase nos liquida".

Operativos como Xeque, desenvolvido a partir da traição do chefe da unidade guerrilheira que vendeu os prisioneiros de guerra sob sua guarda, não tem as conotações promocionadas pelo Governo. Inumeráveis vezes já resgatamos nossos presos dos cárceres do Estado. São feitos de guerra que levam as partes a tomar novas medidas de segurança. Não modificam nem a conceção, nem os desenhos operacionais nem muito menos a estratégia de nossa força.

Nos últimos 9 anos, e como consequência da maior ingerência militar de Washington nos assuntos internos da Colômbia, a guerra se intensificou. Sofremos golpes. As mortes de Raúl, de Jorge, de Iván Rios e de muitos camaradas, doem-nos e geram-nos essa dor revolucionária que desata, incontenível, maior compromisso com nossos ideais de socialismo. Já as assimilamos. Com o legado e exemplo de nossos heróis e mártires, as novas promoções tomam seu posto e trincheira, novas promoções de revolucionários dispostos, como os mais antigos, a dar tudo, até a vida, pelos objetivos da Nova Colômbia.

Mas, sabe-se que em toda guerra há mortos, de ambos bandos , e a colombiana não é a exceção.

Também estes 9 anos, demonstraram o tamanho e a qualidade do compromisso das FARC com nossos ideais de mudança e de transformação revolucionária. Como é evidente nas partes militares também temos golpeado as forças militares e paramilitares do estado, as institucionais e as para institucionais, todas, incluindo aquelas que atiram a pedra e escondem a mão, que cinicamente dizem desconhecer a estratégia dos "falsos positivos", que negam ante os meios seu conluio com o narcoparamilitarismo, mas lhe abrem na escuridão da noite as portas secretas de seus palácios, mansões e fazendas para conspirar contra a convivência, a democracia e contra o povo.

As FARC mantemos nossa influência, sólida influência, nas áreas onde existimos, por todos os recantos da geografia nacional, nascida e alicerçada na justeza de nossas propostas políticas, em nosso trabalho e ajuda permanente às comunidades, respeito para todas elas e por nossa autoridade surgida do compromisso sincero do que não pretende nada em troca de seu esforço, salvo a satisfação de contribuir para a esperança do povo em sua própria capacidade de mobilização, organização, luta e em seu futuro bem-estar.

Não lhe posso comentar quantas unidades conformam as FARC – EP, porque somos uma organização irregular. Mas agimos, trabalhamos e lutamos em todo o território nacional.

O que tem de certo o alegado conteúdo do computador de Raúl Reyes?

Os elementos que puderam ter ficado funcionando, depois do bombardeio sobre a humanidade do Camarada Raúl e seu guarda, foram manipulados arbitrariamente pelo governo. Nem a própria INTERPOL quis ser comprometida com as manobras de Alvaro Uribe e manifestou publicamente, depois de uma detalhada análise, que tinha sido danificada a Corrente de Custodia, o que significa, em bom romance, que depois da morte de Raúl se manipularam os conteúdos do disco rígido "sobrevivente", se chegou a sobreviver depois de semelhante inferno de explosivos. Tratava-se de inventar e retorcer acontecimentos para extorquir as FARC e muitos amigos da paz da Colômbia com esse estilo muito particular que carateriza o senhor Alvaro Uribe e que impôs a toda sua administração. Nesta semana que termina, a Corte Suprema de Justiça declarou como ilegal qualquer prova levantada sobre os chamados computadores de Raúl Reyes, precisamente porque se manipularam os materiais supostamente encontrados e, além disso, foram desvirtuados os procedimentos judiciais.

Curiosamente, não trascenderam relatórios que nos chegavam e que o Comandante Raúl devia de conservar, por exemplo, sobre os pagamentos a altos oficiais da polícia, hoje generais, que fez o narcotraficante Wilber Varela e que comentou pessoal e detalhadamente a um de nossos comandantes no Vale do Cauca o coronel Danilo González, quem ainda em serviço ativo, buscou as FARC pretendendo a libertação de uns suspeitos que retinha; também não mencionaram relatórios precisos sobre a utilização plena do DAS por parte do paramilitarismo com a total anuência do Presidente da altura, nem dos encontros, uisque em mão, em Bogotá, de chefes paracos com "prestantes" personalidades linajudas para planificar as agressões contra a esquerda, nem outras muitas que fariam muito longa esta entrevista e que seguramente não incluíram nas cópias que foram presenteando, a alguns de seus governos amigos, à CIA, ao MI5 e ao MI6 ingleses, ao MOSSAD israelense e a outros que continuam publicitando inverosímeis histórias através de suas organizações de bolso.

Acha que o processo de desmobilização de paramilitares impulsionado pela lei de Justiça e paz foi bem sucedido? Qual é sua opinião sobre este processo?

Esse processo planificou-se e executou como uma farsa para deixar impunes os verdadeiros chefes do paramilitarismo depois que Álvaro Uribe, um deles, ganhou as eleições presidenciais no 2002.

Como abrangência, utilizaram narcotraficantes e sicários com ares de chefes contrainsurgentes, a quem prometeram estatus político e respeito a seus incalculáveis fortunas. Depois eliminaram-nos, em uma história que se recicla onde a aristocracia e alguns carreirista cometem crimes buscando o poder e a riqueza utilizando a criminosas e bandidos, a quem depois condenam, encarceram ou mandam assassinar em um repetido espetáculo de escárnio público.

O país sabe que o paramilitarismo é uma estratégia do estado para assassinar sistematicamente opositores, buscando ocultar o sangue que mancha até a medula às instituições públicas, por trás de bandos de sicários e delinquentes de aparência civil.

A oligarquia colombiana, impotente em sua luta contra os avanços da insurgência revolucionária, entregou-se à prática paramilitar à que posteriormente, nas décadas do 70, articulou com o nascente narcotráfico dando origem ao narcoparamilitarismo, engrandecido e consentido socialmente pelos poderosos durante longos anos, quem agora lutam por se safar do estigma e por lavar suas próprias porcarias.

Os narcos que acreditaram em suas palavras foram exibidos e promocionados como grandes chefes contrainsurgentes e depois, extraditados para os Estados Unidos com o fim dos silenciar. Tempo depois, quando de lá e pela pressão das vítimas procederam a confessar crimes, a mencionar seus compinchas, sócios, contatos, mecenas políticos e militares, a oligarquia utilizou seus meios para semear a dúvida: como achar um criminoso e não um aristocrata, um político tradicional ou um prestigioso general das Forças Militares?

A lei de justiça e paz, foi uma grande farsa, que passou pela venda de títulos como "comandantes paramilitares" a sicários narcotraficantes, passou também pelas fotos de grandes "desmobilizações" de desempregados e bandidos contratados para a ocasião com fuzis e armas compradas para a fotografia, e terminará com a absolvição de Álvaro Uribe, na comissão de acusações da Câmara de Representantes do Parlamento colombiano, salvo que os milhões de atingidos por esta criminosa estratégia lhe imprimam uma maior dinâmica a seus esforços e lutas e se receba maior solidariedade mundial. Só assim na Colômbia, como aconteceu na Argentina e outros países, poderá ser condenado também aos responsáveis materiais e intelectuais por negras e sangrentas noites em que afundaram o país.

Por que faz sentido a luta armada para as FARC e não a defesa através de vias democráticas dos ideais políticos e as transformações socioeconómicas que consideram necessárias?

Porque, na Colômbia, a oposição democrática e revolucionária é assassinada pela oligarquia. O massacre da União Patriótica é a mostra evidente.

Todo líder, qualquer organização não oligárquica que ameace os poderes estabelecidos, é assassinado ou a massacrado, como parte de uma estratégia oficial de Segurança Nacional. Os poderosos instituíram-na como caraterística da cultura política e agora a têm incorporado na conceção do Estado.

Extensos capítulos da história nacional que partem de setembro de 1828, quando as fações progringas colombianas de então atentaram contra o Libertador Simón Bolívar, até estes anos, passando pelo assassinato do Grande Marechal de Ayacucho, Antonio José de Sucre, do líder liberal Rafael Uribe Uribe, de Jorge Eliécer Gaitán, de Jaime Pardo Leal, de Luis Carlos Galã, de Bernardo Jaramillo Ossa, de Manuel Cepeda Vargas e de centenas de líderes mais, parecessem ratificar um velho e descarnado asserto popular: a oligarquia colombiana não entende senão a linguagem dos tiros.

Aqui nas FARC pensamos que apesar dessa histórica agressão antipopular que carateriza o devir nacional, é realista e inadiável trabalhar a construção de espaços de convergência, onde entre todos os colombianos construamos os acordos que alicercem a convivência democrática. O comandante Jacobo Arena fez questão de que o destino de Colômbia não podia ser a guerra civil, em consequência lutámos, uma e outra vez, por encontrar com os diferentes governos, a saída política ao conflito colombiano. NÃO se conseguiu porque a oligarquia pensa em rendiciones e nós em mudanças de fundo, democráticos, à vida institucional e às regras de convivência, mas não por isso, havemos de deixar de lutar por uma solução incruenta como essência de nossa conceção revolucionária e sustento da Nova Colômbia.

Que lições sacaram da criação da partido União Patriótica?

Foi uma experiência tão cheia de riqueza quanto dolorosa, que devemos analisar e referir permanentemente. Dentro de suas muitas lições lhe poderia mencionar algumas como o difícil que é avançar em um processo de solução política, quando a oligarquia colombiana mantém suas estratégias de paz dos sepulcros e Pax Romana, pois em frente a este projeto mostrou seu mesquindade e foi essencialmente sanguinária e cruel. Preferiu o assassinato de cerca de 5.000 dirigentes democráticos e revolucionários em uma razzia de corte hitleriano, que abrir espaços a todas as vertentes da esquerda, feito com que de se ter conseguido gerasse uma nova dinâmica na confrontação política e possibilitado a concreção integral dos Acordos da Uribe faz mais de 25 anos.

Com o extermínio da UP não só perdeu uma geração quase completa de dirigentes revolucionários, a maioria deles de grande dimensão política e imensos valores éticos, cuja ausência hoje é notória no palco público da nação como do continente, também se frustrou por muitos anos, a possibilidade de assinar um acordo de convivência.

A experiência da UP ensinou-nos que qualquer avanço para a paz que surja de acordos exige a transparência, que qualquer entrave seja esclarecido antes de subir um novo degrau, pois os Acordos da Uribe, origem da UP, foram sabotados pelo Alto Comando militar desde o primeiro momento apesar do qual, todos os comprometidos com ditos acordos, lutamos como Quixotes, por torná-los viáveis.

Mas consegue a assinatura de acordos de paz na Uribe em 1984 e garantir seu cumprimento total até culminá-los, foi impossível. De modo que os colombianos que empreendemos com grande otimismo e maior entusiasmo uma histórica jornada pela convivência, perdemos essa batalha civilizada em frente aos "inimigos ocultos da paz", que hoje já não se escondem tanto.

Um processo de paz bem sucedido tem como premissa inevitável o apoio lento, decidido, transparente e ativo, da maioria da população.

Não me cabe a menor duvida que as novas gerações de colombianos, em um futuro próximo, renderão honras e farão reconhecimento aos mártires da União Patriótica que "de peito aberto" lutaram por um melhor país para seus filhos, pela democracia e a convivência, com uma generosidade, um despreendimento e uma valentia instâncias.

Destacados líderes políticos da esquerda colombiana disseram a Público que acham que a existência como guerrilha das FARC é a responsável pela "direitização extrema" da sociedade colombiana, já que "esquerda" se associa a guerrilha. O senhor concorda?

Digamos genericamente, que se está à esquerda se se prioriza o social, a democracia popular e as mudanças revolucionárias, em oposição a quem privilegia o lucro econômico, o hegemonismo burguês e a defesa do statu quo. Não se trata só de estar ao lado esquerdo da direita, mas de defender integralmente interesses de classe, populares. Integralmente.

Sublinho e comento-lhe que não escutei a nenhum destacado dirigente, de esquerda, afirmar o que menciona em sua pergunta.

Na Colômbia há bastantes pessoas, muito importantes e muito consequentes, que com enorme responsabilidade e altura discrepam da luta armada revolucionária, se afastam dela, mas entendendo suas circunstâncias históricas, trabalham por encontrar os caminhos da solução política respeitando o compromisso de quem combatemos na insurgência e, priorizando seus debates contra a oligarquia e contra o neo colonialismo imperial, verdadeiros geradores da violência na Colômbia.

De repente existe quem militou na esquerda e já não defende suas posições originais e sim as do regime, como acontece em muitas partes do mundo. Terá que respeitar suas novas posturas, mas sem os inscrever como defensores dos interesses populares nem os localizar à esquerda no xadrez da política.

Também pode ser dado o caso de quem pretende ocultar suas próprias falhas, depois do esforço alheio.

A luta nossa desde Marquetalia é pela democracia, pela possibilidade verdadeira de desenvolver uma ação de massas, aberta, pelas mudanças revolucionárias e o socialismo. E esta opção, é a que tem sabotado a tiros a oligarquia colombiana.

Assassinaram Jorge Eliécer Gaitán, legislaram com o anticomunismo como suporte durante a ditadura militar, criaram a Frente Nacional bipartidarista para excluir e perseguir os revolucionários, e aprovaram uma Constituição em 1991, com elementos positivos em seu desenho e textos, que deixou intacta a concepção de Segurança Nacional do inimigo interno que existe desde faz um pouco mais 47 anos em nosso país. A mesma do paramilitarismo e os falsos positivos.

A direita, na Colômbia e em todo mundo, faz propaganda e difunde seus pretextos, reais ou fictícios, para confundir, atacar e desvirtuar as lutas populares por bem-estar e progresso social. E utiliza variedade de forma para isso, incluindo a muitos quem em algum dia algum dia foram ativistas da esquerda.

Nos tempos que correm, com o desenvolvimento dos meios de comunicação, não há confusão possível. Quem defendem a ordem existente, não o podem ocultar.

A confrontação na Colômbia prolongou-se demasiado. Lutar e clamar pela paz é expressão de um sentimento profundamente popular e revolucionário.

As FARC assinaram um pacto de não agressão com a guerrilha do ELN em dezembro de 2009. Que obstáculos teve em sua implementação?

Tanto o Comando Central do ELN como o Secretariado do Estado maior Central das FARC - EP, reconhecemos com sentido auto-crítico, o erro que significou não deter drástica, radical e oportunamente os problemas que se foram dando em diversas áreas do país, entre combatentes das duas forças, tempo atrás.

Agora, trabalhamos com enorme convicção revolucionária em todas essas áreas por superar, definitivamente, os problemas, o mal-entendidos, as emulações mal feitas e os confrontos. É um processo complexo, tendo em conta a conjuntura atual, de intensa confrontação política e militar com o Estado. Mas vamos avançando com solidez.

A autocrítica é a fundo e em isso estamos. Falta tempo, há muito terreno por percorrer mas avançamos em firme fazendo consciência, a todos os níveis de nossas organizações, que somos parte do mesmo contingente de luta popular, revolucionária, anti-imperialista, bolivariana e socialista. E que isso é o que fundamenta a forma de nos relacionar, as convergências que devemos trabalhar e lutar para elevar a novos níveis a necessária estratégia unitária dos revolucionários colombianos.

Recolhemos o legado do grande revolucionário, o sacerdote Camilo Torres Restrepo de enfatizar o que nos une. As divergências devemo-las ventilar e arejar com mecanismos que estamos criando para isso.

Estamos obrigados a ser exemplo de unidade. E de maturidade. Assim também contribuiremos à unidade popular dos colombianos, projetando nos fatos a prioridade "do bem comum" acima de qualquer interesse particular.

Falta-nos um bom caminho, mas já o começamos. E isso é o estratégico.

Segundo um auto da Audiência Nacional, dois depoimentos de antigos membros das FARC implicam o Exército de Hugo Chávez nos cursos de treino que a ETA deu aos guerrilheiros colombianos em solo venezuelano. Os relatos dos arrependidos fazem parte de um relatório da Delegacia Geral de Informação da Polícia. Na epígrafe do auto dedicada aos "fatos" descreve-se como em agosto de 2007 dois supostos membros da ETA deram na selva venezuelana dois cursos sobre manejo de explosivos a guerrilheiros das FARC. Tiveram no passado as FARC relacionamento com a ETA? Mantêm relacionamento na atualidade e, em caso afirmativo, em que consiste?

A experiência das FARC em matéria de explosivos tanto de seu fabrico, como de seu armazenamento e utilização é longa e abundante, o que desde faz muito tempo nos permite auto-fornecer-nos sem recorrermos a nenhum tipo de ajudas, simplesmente porque não o precisamos. Temos os nossos próprios instrutores. Assim de simples. Isto para recusar as afirmações sobre tais cursos com pessoal estrangeiro que só pretendem prejudicar o governo bolivariano da Venezuela.

Na Colômbia, a partir de oferecimento de dinheiro, viagens a Europa e rebaixa considerável de penas, alguns desertores, prestaram-se para testemunhar contra nós e favorecer políticas nacionais ou internacionais do governo de Álvaro Uribe. Mas como a mentira não perdura, as montagens que fabricaram a partir de milhares de falsos depoimentos se estão desmoronando. Todos cairão como castelos de naipes.

Por exemplo, atualmente fazem investigações penais e administrativas, da Promotoria e também da Procuradoria Geral da Nação, contra altos servidores públicos do governo Uribe e contra altos comandos militares da época, pelas comédias que montaram, farsas, falsas deserções cheias de infames afirmações como parte de sua ofensiva contra as FARC.

O mundo está-se inteirando como no departamento do Tolima também se recrutaram bandidos e desocupados, com quem "formaram" uma coluna guerrilheira, os vestiram com uniformes militares, dotaram-nos de alguns fuzis velhos e outros muitos de pau, chamaram aos jornalistas, tiraram fotos deles, falaram sobre uma diatribe sem fundamento, lhes deram algum dinheiro aos farsantes, difamaram sobre muitos cidadãos a quem depois encarceraram e, depois, felizes ratificaram que o fim do fim estava perto, incluindo ao presidente de então.

Disséssemos que essa foi uma tónica geral do governo colombiano anterior, buscando impor suas políticas fascistas, levantou todo tipo de alfândegas morais, legais, éticas, discrecionalmente, para se outorgar a licença de caluniar, difamar, mentir e inventar. Valeria a pena que a justiça espanhola verificasse e confrontasse a fundo as informações que lhe foram proporcionadas nesse então.

Nossos relacionamentos, que neste momento têm caráter clandestino, com grande quantidade de organizações democráticas e revolucionárias do mundo, armadas e civis, estão regidas pelas conclusões das Conferências Guerrilheiras que, como já assinalei, orientam sobre o não desenvolvimento de ações militares em outros países, respeitando a soberania da cada país e as lutas da cada povo.

É certo que as FARC pediram apoio à ETA para atentar contra várias pessoas, entre elas o presidente, Álvaro Uribe, quando visitasse Espanha ou a UE?

Essa é a propaganda que se fazia o mesmo Uribe, na Colômbia e no exterior, para projetar uma imagem de vítima.

As forças de segurança espanholas detiveram Remédios García Albert, considerada com ligações com as FARC. Têm as FARC vínculos com Remédios García Albert? Em caso afirmativo, em que consistem?

Não conheço vínculos de Remédios García com as FARC. A ela, refiro-a exclusivamente por uma menção jornalística das autoridades colombianas, durante o período de incontinência propagandística que sofreu o governo em torno do suposto computador do Comandante Raúl Reyes. Nunca dantes nem nunca depois a escutei nomear. Poderia afirmar, se de algo serve, que nos tempos das conversas de paz no Caguán, grande quantidade de pessoas vindas do mundo inteiro, a título individual ou como representantes de organizações de muito diversa índole ou de governos, estiveram presentes e trocaram opiniões com nossos representantes sobre o processo que se adiantava. Não poderia agregar nada mais sobre isso.

Que relacionamento mantêm com os governos de Cuba, Venezuela e Equador?

Se me permitir, prefiro evitar uma resposta alusiva a nossos relacionamentos com qualquer governo do mundo.

Acham que Espanha pode jogar algum papel na solução do conflito colombiano? Qual?

Sempre percebemos positivamente a participação da comunidade internacional na solução política do conflito. Mas, dadas suas caraterísticas atuais e as permanentes e agressivas declarações oficiais, é necessário que lhe dêmos tempo ao tempo.

O que sabe dos falsos positivos? Por que as FARC não difundiram mais revelações sobre esse tema?

O assassinato sistemático de civis em estado de indefensão por parte de militares e polícias, e sua posterior apresentação como "guerrilheiros caídos em combate", é uma prática institucional na Colômbia, desde o ano 1948.

Não é nada inovador nem muito menos. Faz parte de uma guerra suja desenvolvida pelo Estado colombiano contra "o inimigo interno" que também concebe e executa o assassinato seletivo de líderes políticos da oposição, de dirigentes sindicais comprometidos com os trabalhadores, o desaparecimento de ativistas revolucionários, as torturas, o terror e os massacres que intimidem e gerem medo, parálises, pânico e deslocação.

Todo isso se denunciou e se continua denunciando. Existem centenas de livros, milhares de denúncias, milhares de evidências e de provas que demonstram a responsabilidade do Estado colombiano no desenvolvimento desta estratégia, só que até agora, a comunidade internacional aceita a tese oficial que assinala como fatos isolados, sob a responsabilidade de algumas maçãs podres, esta criminosa prática institucional.

São centenas de milhares as vítimas civis da guerra suja que o Regime empreendeu, segundo afirma, em "defesa das instituições e do Estado de Direito".

Em meados dos anos setenta, a estratégia oligárquica de terror fundiu suas práticas paramilitares com o narcotráfico, sob a direção e chefia de poderosos empresários, destacadas personalidades da política tradicional e altos comandos militares, com o objetivo de intensificar seus crimes e entesourar dinheiro proveniente do narcotráfico, mas ocultando a seus verdadeiros chefes e orientadores.

Hoje, muitas evidências começam a sair à luz, desde as farsas dos cárceres atribuídos aos militares e políticos responsáveis por crimes atrozes, passando pela usurpação em massa de terras por parte de fazendeiros, militares, industriais e dirigentes dos partidos tradicionais, acordos políticos empapados de sangue entre gamonais e narcos, enriquecimento desmesurado e inusitadamente rápido de um reduzido setor social vinculado aos diferentes governos destes anos, institucionalidade permeada quase sem exceção por dinheiros mafiosos e ao serviço destes, até os nexos do alto governo com esta estratégia que pelo cedo visibiliza a duas de suas "eminentes" cabeças, o senhor Narváez e Álvaro Uribe Vélez.

E, embora até hoje não há militares condenados pelos chamados "falsos positivos", a sociedade avança na luta por chegar ao fundo do problema, por determinar a cada situação com precisão, castigar aos autores materiais e também aos autores intelectuais e determinadores, o que inevitavelmente atingirá a regulamentação militar existente, inspirada, concebida e desenhada baixo a ótica da Segurança Nacional apregoada por Washington desde os tempos da guerra fria, que foi um dos tema tabu na Constituinte de 1991 e causa de fundo dos milhares e milhares de mortos de todos estes anos. A Colômbia tem perdido muito tempo por esse veto que a oligarquia impôs nos conciliábulos daqueles anos.

Semelhante engano, não pode ser repetido. As soluções que requer o país são estruturais, se queremos a reconciliação sobre bases verdadeiras e não cerzir mais um remendo como aquele de 1991. Por isso também é transcendente que, se conseguirmos construir um novo cenário em função da solução incruenta, em algum momento possam participar representantes da força pública, onde seguramente muitos de seus integrantes, sem responsabilidades nas ruindades da guerra suja, também estarão clamando pela reconciliação e a reconstrução nacional.

A seguir à morte de Jorge Briceño em um bombardeio a 22 de setembro, o presidente Santos reiterou que já se enxergava o fim do fim das FARC. O que opina sobre isto?

Desde 1964, conhecemos tal declaração oficial em boca de diferentes presidentes e ministros de guerra, em ocasiões fazendo de agoureiros, outras vezes em forma de promessa e outras a maneira de ameaça, sempre com a pretensão de ocultar as raízes do conflito que fizeram necessária a existência das FARC.

Assim, justificaram a violência terrorista do Estado.

Assim, incrementaram ano após ano o orçamento militar e policial, para bem-estar dos generais e dos senhores da guerra.

Assim, ocultaram desde faz tempo sua própria incapacidade, sua intransigência e a profunda corrupção que corrói as instituições oficiais.

Assim, pretendem ocultar a sua vergonhosa e humilhante genuflexão em frente ao Pentágono Norte-americano e à Casa Branca.

Enquanto não abordarmos seriamente, entre todos, a busca de soluções aos problemas estruturais do país, a confrontação será inevitável. Umas vezes mais intensa, outras não tanto. Em alguns momentos com a iniciativa militar do Estado, em outros, com a iniciativa popular, em uma trágica ciclotimia que devemos superar, inteligentemente, com grandeza histórica.

Se prosseguir a confrontação, terá mais mortos. De ambos os lados. Mais tragédias para o povo. E não chegarão a paz e nem a convivência para a Colômbia.

Não se trata da morte de um ou de outro comandante guerrilheiro. O conflito não é assim tão simples. As circunstâncias históricas do país são muito particulares. A existência de guerra de guerrilhas revolucionárias na Colômbia não é consequência do voluntarismo de um punhado de valentes ou de uns aventureiros, ou de uns "terroristas" ou de uns "narcoterroristas", tais qualificativos podemos deixá-los para a propaganda oficial. A insurgência colombiana é reflexo do sumum de uma série de fatores estruturais que os diferentes governos não podem insistir, teimosa ee criminosamente, em desconhecer.

A oligarquia colombiana conformou uma força pública armada a mais de 500 mil homens, em um país de uns 45 milhões de habitantes com enormes necessidades e carências. Inaudito! Cerca da quinta parte do orçamento nacional que entra anualmente foram aprovados para despesas militares. Investiram-se quase $10.000 milhões de dólares de ajuda norte-americana no Plano Colômbia, para uma guerra fracassada. No entanto, a confrontação prossegue.

Quando bombardearam o acampamento do comandante Jorge Briceño, com quase uma centena de aeronaves que deixaram cair milhares e milhares de toneladas de explosivos durante muitos dias, em um dantesco inferno. Instalaram na periferia do local de tendas de campanha com espelhinhos e presentes e roupa nova, sapatos Reebock e Nike convidando aos guerrilheiros através de alto-falantes durante semanas, à traição e à deserção.

Todo o que obtiveram foi uma heroica resposta militar da guerrilha, colmatada de moral e de consciência revolucionária, que produziu centenas de baixas na força de ocupação oficial e o pedido em massa de entrada de novos guerrilheiros na região e em muitas outras zonas do País.

A proximidade da paz democrática, da convivência e da justiça social não pode ser medido em litros de sangue. Isso o sabe o país e certamente o presidente Santos.

Em seu último informe ONG colombiana Novo Arco Íris, que faz acompanhamento do desenvolvimento do conflito militar cruzando informações oficiais e de analistas, embora reconheça a supremacia aérea do governo, disse que os combates em terra lhes são notoriamente adversos.

Quais são os resultados reais deste longo confronto?

Quanto a isso, só quero assinalar que diariamente há combates e fatos de guerra entre a guerrilha revolucionária e a força pública institucional e parainstitucional na maioria dos 32 departamentos do País, onde se obtêm vitórias e em ocasiões também se recebem golpes, em uma confrontação que se prolongou no tempo e na qual a iniciativa militar se altera, se modifica, muda no tempo e nas diferentes áreas, mas não estrategicamente. Os partes militares, que fazemos públicos, quantificam os efeitos da guerra em nosso adversário e em nossas próprias fileiras com dados incontestáveis. Gostava de destacar que a ofensiva oficial atual iniciada desde faz algo mais de 11 anos, a partir do chamado Plano Colômbia, desenhado no Pentágono norte-americano, dirigido e financiado por eles e alimentado sem descanso por armamento de última geração desde Washington, fracassou. É a maior e mais prolongada operação contrainsurgente lançada no continente e é também a maior demonstração que a solução do conflito na Colômbia não passa pela Pax Romana.

Que condições exigem vocês hoje para se desmobilizarem?

Desmobilizar-se é sinónimo de inércia, é entrega covarde, é rendição e traição à causa popular e ao ideário revolucionário que cultivamos e lutamos pelas transformações sociais, é uma indignidade que leva implícita uma mensagem de desesperança ao povo que confia em nosso compromisso e proposta bolivariana.

Não temos nenhuma dúvida quanto à nossa obrigação de lutar permanentemente e sem desmaio, com convicção e otimismo, por nos acercar com certeza à solução política, incruenta, do conflito. Os colombianos, com a contribuição de países amigos, devemos construir um palco de diálogo onde alinhavar e tecer em comum um processo que conclua em acordos, cuja materialização incida contundente e irreversivelmente na liquidação das causas que em seu momento originaram o conflito armado e que hoje o nutrem abundantemente.

Uma vez erigido o palco, em um processo que também deve trabalhar a reconstrução da confiança entre as partes, teremos que conversar envelope os prisioneiros de guerra, militares, polícias e guerrilheiros em poder das partes, como uma feição política e humanitário que reclama prelação. E, em função de objetivos de longo fôlego, contamos como ponto de partida com uma ferramenta excecional qual é a Agenda Comum pela mudança para uma Nova Colômbia, assinada como acordo entre o Estado Colombiano e as FARC-EP, no Caguán.

Sem dúvida, o importante é construir o palco, com vontade de decisão política, pensando no país e em seu futuro, fazendo abstração das mentiras inventadas pela propaganda oficial que afastam a solução definitiva porque faz pensar ao estabelecimento com seus próprios desejos. E, nestes processos é indispensável manter a antena em terra.

Os dolorosamente frustrados tentativas que fizemos desde La Uribe em 1984 por encontrar caminhos civilizados, são evidência das enormes dificuldades que implica encontrar o caminho correto sem que isso implique resignação.

A Colômbia atravessa uma conjuntura crítica porque acabou há pouco o período do governo mais violento e corrupto da história nacional, encabeçado por Álvaro Uribe. Dezenas dos congressistas e dirigentes políticos que e fizeram campanha presidencial e participaram de sua gestão estão no cárcere, condenados como determinadores do narcoparamilitarismo, outros muitos enfrentam investigação preliminar por parte da Promotoria e do Corte Suprema de Justiça, vários de seus ministros também estão sindicados ou são pesquisados enquanto dezenas de comandos meios desta administração já estão encarcerados todos por corrupção e/ou paramilitarismo.

O véu vai cair logo. A camada de teflon construída pelos amigos de Uribe possibilitando o enriquecimento desmesurado deste círculo mafioso como fruto de uma incomensurável corrupção administrativa, a contemporização complacente de muitos com a estratégia e prática paramilitar que já se conhecia e sua fascistoide rejeição visceral a uma solução política do conflito, todo este vergonhoso véu, está a ponto de cair, o que abrirá novas perspetivas à civilidade e à democracia verdadeira.

Quando o país, além da violência e a corrupção, é açoitado pela natureza em forma de chuva inclemente, está reclamando a seus dirigentes grandeza e estatura histórica para contornar a difícil conjuntura e o projetar com força para o futuro.

Os ódios doentios espalhados pelo anterior governo, que polarizaram a Colômbia, estão vivendo os seus últimos momentos. Às competências que assumiu para evitar a lei como ruína está lhes pondo fim a Promotoria, os juízes e os Cortes. O ter retrotraído ao DAS aos tempos da tenebrosa POPOL, polícia política do regime nos anos 50 e aparelho criminoso do bolso presidencial, não será um crime impune.

A insistência uribista adensada na sua indicação das FARC como sendo terrorista não faz nem sombra à contundente verdade sobre a existência do conflito armado na Colômbia, contida no projeto da chamada Lei de vítimas, se tivermos em conta que foi sobre a tese mentirosa de inexistência do conflito, que Uribe construiu seu aparelho fascista.

Como revolucionários que entregamos tudo pelos nossos ideais e o bem-estar do povo, persistimos na solução política do conflito.

domingo, 10 de julho de 2011

Marquetalia-Simacota: berços de resistência e de unidade


Anncol/ Num dia de maio de 1964, e apenas dois meses depois, em julho daquele ano, em resposta ao regime oligárquico, iniciaram suas gloriosas marchas, um grupo de homens e mulheres que decidiram se por à tirania, assumindo a resistência armada como o único caminho que sobrou, por um regime déspota e elitista ao longo da história do país tem concentrado a riqueza em poucas mãos e massificou a pobreza e a miséria no povo trabalhador.

Estes homens e mulheres deram origem às FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo) e ao ELN (Exército de Libertação Nacional), o povo em armas para conquistar a tomada do poder para reivindicar ao povo trabalhador, ao povo camponês massacrado pelos latifundiários e as multinacionais, ao povo trabalhador excluído das decisões transcendentais sobre o futuro do país, apesar de ser a fonte de trabalho e produtora de riqueza. Desses primeiros insurgentes, após 47 anos dessa epopéia, não podemos esquecer nomes como Manuel Marulanda Velez, Jacobo Arenas, Manuel Pérez Martínez, Camilo Torres Restrepo, entre outros pioneiras e pioneiros, impossível mencioná-los todas.

Nesse ano de 1964, como relatado na última declaração do Estado-Maior Central das FARC-EP: " 47 anos de violência a partir do dia em que o bipartidarismo liberal-conservador personificado no excludente, corrupto e infame pacto da alternância presidencial da Frente Nacional, no governo de Guillermo León Valencia, decidiu embaralhar o curso histórico da pátria pelos desfiladeiros da barbárie, lançando a maior ofensiva militar até hoje conhecida na América Latina, com mais de 16.000 soldados das forças governamentais dirigida desde a Casa Branca, em sua estratégia para o controle geopolítico do continente e para conter os ventos de dignidade e independência que sopravam da revolução cubana, articulado no Plano LASO (Latin American Security Operation) para aniquilar os camponeses de Marquetalia . É que a violência e a genuflexão perante o amo ianque, tem sido por excelência a conduta política das classes dominantes na Colômbia ".

Após 47 anos de existência, uns poucos deram um passo para o lado para renunciar à luta armada e desapareceram na rendição e nas dádivas que o regime ofereceu para entregar seu fuzil e seus princípios. A institucionalidade os absorveu sistematicamente desaparecendo como sujeitos individuais e coletivos da resistência. Por umas quantas migalhas lhes caiu o muro e para eles chegou o fim da história, hoje servem como caixa de ressonância das políticas que um dia combateram e perderam toda perspectiva histórica transformadora.

Hoje, como diz a última declaração do Comando Central do ELN: “Hoje, 47 anos depois, continuam em vigor todas as motivações que originaram o engajamento guerrilheiro popular e há muitas razões mais para levantar as bandeiras Vermelhas e Negras de nossa causa libertária”.

Atualmente, todas as causas que justificam o levantamento armado se agravaram: a exploração econômica, a exclusão política, o empobrecimento social, a alienação cultural, a repressão militar e a dependência externa. Do regime político de exclusão da Frente Nacional, onde um único partido político se alternava no poder, mudando apenas a cor do pano, hoje passamos para um regime mafioso e fascista, que controla a administração pública, apoderou-se do governo e do Estado, eliminando o Estado Social de Direito, a pouca democracia e as liberdades civis, para garantir uma nova legislação a serviço do capital estrangeiro. A sociedade foi militarizada, criminalizando a protesta e mobilização social; as principais organizações sociais que se atrevem a exigir os seus direitos foram enfraquecidas ou aniquiladas, assim como o movimento de oposição política. A metade da população colombiana está na pobreza e 15 por cento na indigência. Temos 0,58 no coeficiente de Gini, que mede a desigualdade de renda, um dos mais altos do continente e do mundo.

Após 47 anos do levante popular, a oligarquia fez mais vigentes as motivações que um dia originaram o caminho da luta armada para emancipar o povo colombiano, “Desde meados da década dos anos 70 do século passado, a Colômbia foi submetida a uma recolonização imperialista mediante a imposição do modelo neoliberal, juntamente com a doutrina da Segurança Nacional. Assim, a privatização, do terrorismo de Estado, o paramilitarismo, o tráfico de drogas, os massacres, o exílio e a desapropriação se tornaram políticas de Estado.

Sob os ditames imperialistas, foi-se aniquilando a indústria manufatureira e estatal que sustentava uma economia nacional, dentro do modelo de substituição de importações. Toda a economia passou a depender do capital transnacional, com o prejuízo para os pequenos e médios empresários, e privatizando as importantes empresas estatais. A economia tem sido dominada pelo fenômeno da Financeirização, onde prima o capital financeiro e especulativo, em contrapartida ao capital produtivo” (COCE, julho 2011).

Hoje, estamos piores do que antes, como afirma o Estado-Maior Central das FARC-EP: “A barbárie não pode continuar sendo parte do nosso destino por mais 47 anos, e menos agora com a mobilização que podemos-nos impor um futuro verdadeiro e civilizado, agora que o terror e o medo acrescentado pelo modelo de Estado mafioso implantado por Uribe Vélez se descortina a corrupção ocultada pela exaltada ‘segurança democrática’ onde a parapolítica, a Yidid-política, os ‘falsos positivos’, as prisões em massa, as valas comuns em todo o país, o roubo de recursos destinados ao campo, através do programa ‘Agro-ingresso seguro’ para enriquecimento dos aliados clientelistas do regime, as zonas francas para beneficio do bolso familiar do ex-presidente, os seguimentos ilegais do DAS, a extradição de seus aliados narco-paramilitares para garantir a impunidade, as mansões dentro das guarnições militares para hospedar os oficiais das forças armadas condenados por crimes de guerra e de Estado não amedrontam mais o nosso povo, como este já o reiterou em suas manifestações. Manifestações que vem crescendo desde o ano passado, e crescerão, como o clamor por justiça social que a nação exige, contra o continuísmo do uribismo representado pela ‘Unidade Nacional’ do presidente Juan Manuel Santos, seu neoliberalismo que propõe um modelo de enclave que dê garantias para as multinacionais mineiro-energéticas que aprofundará a crise humanitária que afeta o país e a crise do meio ambiente que assola inclemente à nação em cada mudança de estação, do diminuição e repressão das liberdades civis, do aprofundamento do conflito social e armado justificado em uma concepção de segurança nacional imposta por Washington e que fundamenta todas as formas de crimes de Estado que são aplicados na Colômbia, de impunidade à corrupção que permeia todos os níveis do Estado, como os cartéis da saúde estabelecidos pela lei 100”.

Hoje a Colômbia é um país putrefato, como afirma o COCE: “Os antivalores capitalistas têm desvirtuado as novas gerações na competição, o egoísmo, a corrupção, o crime, o dinheiro fácil, que têm sido exacerbados pela financeirização, o narcotráfico e a máfia, como os protótipos da vida que devem ser imitados e são injetados no inconsciente coletivo através dos grandes meios de desinformação de massas com filmes, telenovelas e todo o mundo do espetáculo. O imperialismo ianque transformou a Colômbia em uma colônia servil e é por isso é a maior potência militar na América Latina, com o propósito de intervir nos países vizinhos que avançam com governos democráticos populares. Não só temos as 7 bases militares gringas do escândalo, mas cerca de 30 bases militares onde quem manda são os gringos, além disso eles podem utilizar os portos, aeroportos e todo o território nacional para mover as tropas estrangeiras que quiserem. Hoje, a Colômbia é um país mais desastroso, empobrecido, injusto, dependente, vil e inabitável, do que há 47 anos.

No entanto, os dois grupos insurgentes apostam em uma solução política, como o firmam as FARC-EP:

“A violência nunca foi a nossa razão de ser, a violência nos foi imposta e é a característica principal de um regime decadente prospera nele. Que assassina os opositores para monopolizar o poder político e aumentar a corrupção ou alcançar reconhecimento dentro da estratificação da morte estabelecida pelo Ministério da Defesa, para recompensar os crimes de Estado e que, para eludir sua responsabilidade, os denominaram eufemisticamente de ‘falsos positivos’. Violência que deslocou mais de 5 milhões de compatriotas e fez desaparecer a mais de 19 mil colombianos, apenas nos 8 anos de governo Uribe, para o enriquecimento de industriais, agroindustriais, pecuaristas, grandes proprietários de terras envolvidos com o narcotráfico e militares”.

Nossa razão de ser é a paz da moradia digna; do desenvolvimento humano equilibrado; da educação gratuita em todos os níveis; da saúde preventiva para toda a nação; da reforma agrária integral que beneficie as comunidades camponesas, indígenas e afrodescendentes; do salário justo e do emprego garantido; da proteção integral do meio ambiente; a das garantias políticas para o debate e a participação nos órgãos do poder político; do pleno exercício dos direitos humanos integrais; a do respeito e garantias para as comunidades LGTV; a do reconhecimento pleno dos direitos de gênero; a do reconhecimento do aborto como parte substancial de uma sociedade que deve crescer em matéria de direitos e o direito à protesta e à mobilização social . E por esta paz apostamos tudo, até a própria vida, como o têm endossado generosamente centenas de combatente”.

Ou como afirma o ELN:

“A essência que move o conflito colombiano é a luta entre aqueles que estão ao lado das grandes maiorias contra uma minoria excludente que detém o poder e tem muito claros seus interesses e seus laços com o imperialismo global, inimigo obstinado dos povos”.

“Portanto, é essencial tomar partido, sem cair em sectarismos nem ser excludentes, mas não há dúvida que se deve saber de que lado se está na disputa. É urgente convocar e organizar um Acordo Nacional para a luta, com a força de todas as organizações populares, que elas sejam representadas pelos seus autênticos dirigentes e estes, aliados aos setores médios, saibam interpretar o interesse popular e da Nação, de tal forma que seja esta a essência desse Acordo. Não se pode ir mais longe se realmente se encarna uma posição política com um sentido de luta popular, de mudanças importantes e de uma perspectiva política e social, que projete um Novo Governo de Nação, Paz e Igualdade”.

As respostas do regime mafioso às propostas de soluções políticas para o conflito feitas pelas duas organizações insurgentes tem sido com uma política arrogante de terra arrasada, onde o culto da morte torna-se o eixo central de sua política genocida. Diante da morte de insurgentes, o governo não duvida um instante em posar para as fotos com as mãos ensangüentadas em um delírio macabro digna de sua estirpe, mesmo assim são os dois grupos insurgentes os que têm proposto ao país saídas que evitem a tragédia da guerra: “Nestes 47 anos de batalhas pela paz na Colômbia desde a resistência armada, ratificamos nosso compromisso da reconstrução e reconciliação da Colômbia bolivariana, da pátria grande e do socialismo, iluminados pelo pensamento unitário do Libertador Simon Bolivar. Porque a unidade e a paz são possíveis sim (FARC-EP declaração citada)”. “Hoje, as palavras de ordem de ‘unidade popular contra a oligarquia’, levantadas por Gaitan há mais de 60 anos e por Camilo Torres, os dois maiores dirigentes populares do nosso tempo, estão na ordem do dia. O ELN continuará a insurreição armada. Ao mesmo tempo que corrige seus erros, reafirma-se em suas convicções e espírito de luta. Reconhecemos o movimento popular de oposição que não desiste diante do Terrorismo de Estado. Acreditamos que as condutas repressivas e criminosas dos governos da vez somente desaparecerão quando a organização popular, em seu legítimo direito de se organizar e lutar, rompa as imposições dos seus inimigos. Juntamente com a luta firme e decidida do povo, o ELN dá muita importância à solidariedade dos povos e governos do mundo, em particular os do continente, em seu apoio rumo à justiça social, democracia e socialismo para os colombianos. (ELN, comunicado em www.eln-voces.com )

Após 47 anos de luta, as duas organizações insurgentes, em mensagens para o povo colombiano, confirmam: “Somos um patrimônio de luta e dignidade do nosso povo, somos a esperança libertadora, somos um exemplo de vida plena com os humildes. Nossas armas, firmeza e decisão de combate, pertencem ao nosso povo, porque somos parte de suas lutas e nossa razão de ser é defender os interesses populares. NEM ENTREGA, NEM RENDIÇÃO...SEMPRE JUNTO AO POVO, NEM UM PASSO PARA ATRÁS, LIBERDADE OU MORTE!”. (CCEO, 04 de julho de 2011, Montanhas da Colômbia). “Nestes 47 anos de batalhas pela paz na Colômbia desde a resistência armada, ratificamos o nosso compromisso com a reconstrução e reconciliação na Colômbia bolivariana, a pátria grande e do socialismo, iluminados pelo pensamento unitário do Libertador Simon Bolivar. Porque a unidade e a paz, sim são possíveis. (Estado Maior Central das FARC-EP, 27 maio de 2011: www.farc-ep.co )

A história da Colômbia não pode ser escrita sem lembrar a heróica luta de homens e mulheres que integram a insurgência colombiana, honra e glória para os companheiros e camaradas mortos em ação. Nestes 47 anos de resistência, os prisioneiros e prisioneiras políticas ocupam um lugar sagrado nesta emancipadora.

As duas organizações têm proclamado a unidade, a organização e luta como um bandeiras.


PELA NOVA COLÔMBIA, A PÁTRIA GRANDE E O SOCIALISMO
NEM UM PASSO PARA ATRÁS, LIBERDADE O U MORTE
TODOS COM TODAS POR UMA SOLUÇÃO POLÍTICA, UNIDADE, ORGANIZAÇÃO E LUTA

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Uma declaração brilhante e corajosa

Reflexões de Fidel

Com apoio de Cuba Debate

A atenção a outros assuntos prioritários, me separam momentaneamente da freqüência com que elaborei reflexões durante o ano de 2010, no entanto, o anúncio do líder revolucionário Hugo Chávez Frías na quinta-feira (30) obriga-me a escrever estas linhas.

O presidente da Venezuela é um dos homens que mais fizeram pela saúde e educação de seu povo, como são temas nos que acumulou mais experiência a Revolução Cubana, com imenso prazer, colaboramos ao máximo em ambos os campos com esse país irmão.

Não se trata, em absoluto, de que esse país carecesse de médicos, pelo contrário, possuía em abundância, incluindo entre eles profissionais de qualidade, como em outros países da América Latina. Se trtata de uma questão social. Os melhores médicos e os mais sofisticados equipamentos poderiam estar, como em todos os países capitalistas, a serviço da medicina privada. Às vezes nem isso, porque no capitalismo subdesenvolvido, como o que existia na Venezuela, a classe rica dispunha de meios suficientes para ir aos melhores hospitais dos Estados Unidos ou da Europa, algo que era habitual e ninguém pode negar.

Pior, os EUA e a Europa têm sido caracterizados por seduzir os melhores especialistas de qualquer país explorado do Terceiro Mundo a abandonar sua pátria e emigrem para as sociedades de consumo. Formar médicos para esse mundo, nos países desenvolvidos, envolve enormes somas, que milhões de famílias pobres na América Latina e Caribe, não poderiam pagar nunca. Em Cuba acontecia isso até a revolução que aceitou o desafio, não só para treinar médicos capazes de servir o nosso país, mas outros países da América Latina, o Caribe ou do mundo.

Nunca arrebatamos as inteligências de outros povos. Ao contrário, em Cuba têm-se formado , gratuitamente, dezenas de milhares de médicos e outros profissionais de alto nível para devolvê-los aos seus próprios países.

Graças às profundas revoluções bolivariana e martianas, Venezuela e Cuba são países onde a saúde e a educação se desenvolveram extraordinariamente. Todos os cidadãos têm direito real a receber, gratuitamente, educação geral e formação profissional, algo que os Estados Unidos não puderam e nem poderão garantir a todos os seus habitantes. A realidade é que o governo desse país investe a cada ano um trilhão de dólares com aparatos militares e suas aventuras bélicas. É também o maior exportador de armas e instrumentos de morte e é o maior mercado de drogas no mundo. Devido a esse tráfico, dezenas de milhares de latino-americanos perdem suas vidas a cada ano.

É algo tão real e tão conhecido, que mais de 50 anos atrás, um Presidente de origem militar denúnciou, com tom amargo, o poder decisivo acumulada pelo complexo militar industrial desse país.

Estas palavras seriam excessivas se não fosse a odiosa e repugnante campanha desencadeada pelos meios de comunicação da oligarquia venezuelana, ao serviço desse império, usando as dificuldades da saúde que atravessa o Presidente bolivariano. A isto nos une uma estreita e indescutível amizade, que surgiu a partir da primeira visita ao nosso país, em 13 de dezembro de 1994.

Alguns estranharam a coincidência da sua visita a Cuba com a necessidade de atenção médica que se produziu. O presidente venezuelano visitou nosso país para o mesmo fim que o levou ao Brasil e Equador. Não havia intenção alguma de receber serviços médicos em nosso país.

Como é sabido, um grupo de especialistas de saúde cubanos prestam, ha anos, os seus serviços ao presidente venezuelano, que, fiel aos seus princípios bolivarianos, jamais viu neles estrangeiros indesejáveis, mas filhos da grande pátria latino-americana pelaqual lutou o Libertador até o último suspiro de sua vida.

O primeiro contingente de médicos cubanos partiram para a Venezuela, quando aconteceu a trágedia no estado de Vargas, que custou milhares de vidas a este nobre povo. Esta ação de solidariedade não era nova, constituia uma tradição arraigada em nossa Pátria desde os primeiros anos da Revolução; desde que há quase meio século médicos cubanos foram enviados à recém independizada Argélia. Essa tradição foi aprofundada a medida que a Revolução Cubana, em meio a um bloqueio cruel, formava médicos internacionalistas.

Países como o Peru, Nicarágua de Somoza e outros do hemisfério e do Terceiro Mundo sofreram trágedias por terremotos ou outras causas que exigiram a solidariedade de Cuba. Assim, nosso país tornou-se a nação no mundo com o maior número de médicos e pessoal especializado na saúde, com altos níveis de experiência e capacidade profissional.

O Presidente Chávez se esforçou para dar atenção ao nosso pessoal de saúde. Assim nasceu e se desenvolveu o vínculo de confiança e amizade entre ele e os médicos cubanos que sempre foram muito sensíveis ao trato do líder venezuelano, o qual por sua parte, foi capaz de criar milhares de postos de saúde e proporcionar-lhes o equipamento necessário para prestar serviços gratuitos a todos os venezuelanos. Nenhum governo no mundo fez tanto em tão breve tempo pela saúde do seu povo.

Uma elevada percentagem de pessoal cubano da saúde prestou serviços na Venezuela e muitos deles também atuaram como professores em certas disciplinas ensinadas na formação de mais de 20 mil jovens venezuelanos que estão começando a se formar como médicos. Muitos deles iniciaram os seus estudos em nosso próprio país. Os médicos internacionais do Batalhão 51, graduados na
Escuela Lationamericana de Medicina ganharam uma reputação sólida no desempenho de missões complexas e difíceis. Sobre estas bases foram desenvolvidas nesse campo as minhas relações com o presidente Hugo Chávez.

Devo acrescentar que há mais de 12 anos a partir de 02 de fevereiro de 1999, o presidente e líder da Revolução venezuelana não descansou um dia, e que ocupa um lugar único na história deste hemisfério. Todas as suas energias, tem sido dedicada à Revolução.


Pode-se afirmar que por cada hora extra que Chávez dedica a seu trabalho, um presidente dos Estados Unidos, descansa duas.

Era difícil, quase impossível, que sua saúde não sofresse qualquer quebranto, e isso ocorreu nos últimos meses.

Pessoa acostumada aos rigores da vida militar, suportava estoicamente as dores e incômodos que com crescente freqüência o afetavam. Dadas as relações de amizade desenvolvidas e os intercambios constantes entre Cuba e Venezuela, juntamente com minha experiência pessoal com relação à saúde, que vivi desde o anúncio em 30 de Julho de 2006, não é extranho que eu me desse conta da necessidade de uma checagem rigorosa da saúde do Presidente. É demasiadamente generoso de sua parte, atribuir-me algum mérito especial neste assunto.

Admito, desde já, que não foi fácil a tarefa que me impus. Não foi difícil para mim perceber que sua saúde não andava bem. Haviam trascorrido 7 meses desde que ele fez sua última visita a Cuba. A equipe médica dedicada ao cuidado de sua saúde me havia rogado que fizesse essa gestão. Desde o primeiro momento a atitude do presidente era informar ao povo, com absoluta clareza, sobre seu estado de saúde. Por isso, estando a ponto de regressar, através do seu Ministro de Relações Exteriores, informou ao povo sobre sua saúde até aquele momento e prometeu manter o povo informado.

Cada cura era acompanhada por rigorosa análise de células e de laboratório, que em tais circunstâncias se realizavam.

Um dos exames, vários dias após da primeira intervenção, trouxe resultados que determinaram uma medida cirúrgica mais radical e tratamento especial ao paciente.

Na sua digna mensagem de 30 de junho, o presidente, notavelmente recuperado, fala do seu estado de saúde de forma clara.

Admito que para mim não foi ácil informar ao amigo a nova situação. Pude apreciar a dignidade com a qual ele recebeu a notícia de que, para ele, - com tantas tarefas importantes que ele tinha em mente, incluindo a comemoração do bicentenário e a formalização do acordo sobre a unidade da América Latina e o Caribe - muito mais do que o sofrimento físico implicados por uma cirurgia radical, significa um prova, como expressou, em comparação com os tempos difíceis que teve de enfrentar na sua vida de combatente inflexível.

Junto a ele, a equipe de pessoas que o atende e que ele qualificou como sublimes, enfrentou a magnífica batalha da qual tenho sido testemunha.

Sem vacilação afirmo que os resultados são impressionantes e que o paciente tem enfrentado uma batalha decisiva que o conduzirá, e com ele a Venezuela, a uma grande vitória.

É preciso fazer que sua declaração seja comunicada ao pé da letra em todas as línguas, mas, sobretudo, que seja traduzida e legendada em Inglês, uma língua que pode ser entendida neste Torre de Babel, em que o imperialismo tem convertido o mundo.

Agora os inimigos externos e internos de Hugo Chavez estão à mercê de suas palavras e suas iniciativas. Haverá, sem dúvida surpresas para eles. Brindemos-lhe ao mais firme apoio e confiança. As mentiras do império e a traição dos traidores serão derrotadas. Hoje, existem milhões de venezuelanos combativos e conscientes de que a oligarquia e o império não os poderão voltar a submeter jamais.