"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 24 de fevereiro de 2013

Salvemos a paz, Santos

Em nosso país, as coisas sempre ocorreram assim. As classes dominantes, assoberbadas por uma mal dissimulada arrogância, resolvem todos os assuntos segundo sua particular e interessada visão da realidade. Desprezando e desconhecendo as opiniões contrárias. Suas facções, enfrentadas às vezes por mesquinhos propósitos econômicos e políticos, como sucede hoje com Uribe, se reconciliam irmanadas quando se trata de massacrar as maiorias que rechaçam seus desígnios superiores. Aqui, sua palavra e seus canhões são a lei, o único que vale e conta. Por isso existe uma prévia elaboração dos diálogos de paz e seus resultados, a que o governo concebeu de antemão, sem considerar o que pensemos nós outros nem muito menos a imensa maioria que luta contra os obstáculos para tomar parte no processo, e à qual se ameaça com cárcere se chega a conversar conosco.
Em San Vicente del Caguán, no ato de entrega de títulos de terras a umas quantas famílias campesinas, com o consabido recurso de acreditar planos e programas da atual administração, o que em boa parte corresponde em verdade a velhas políticas distintas, o Presidente da República deu parte de um milhão e seiscentos mil hectares titulados por seu governo e mais de cento e cinquenta mil vítimas reparadas. Desse modo, aparece como o grande benfeitor que materializa seus projetos legislativos de redenção social. Nem uma só voz dos milhões de desterrados ou vítimas foi consultada pelo Estado acerca das leis com que se pretendia favorecê-los. Não se tratava disso, mas sim de atender outra classe de conveniências.
Santos as pôs em evidência ao dizer-lhes que agora poderão acorrer aos bancos, para que lhes emprestem, doravante se chamarão sujeitos de crédito. Sua intenção é convertê-los em grandes produtores de alimentos para o mercado mundial, tal e como o recomenda a FAO, a entidade mundial que jamais pôde solucionar as fomes em África, Ásia ou Haiti, porém que, por outro lado, tem servido para implementar a globalização do mercado de alimentos em benefício de grandes corporações. A história da leiteira é antiga, a pobre sonhava com uma enorme fortuna, até que a dificuldade a trouxe à triste realidade. Esses campesinos deverão associar-se com grandes capitais para produzir o demandado, e endividar-se. Serão os certeiros perdedores. Sua sorte me recorda a As vinhas da ira, a famosa novela de John Steinbeck.
Arrozeiros, canavieiros, cafezistas, grêmios poderosos que alguma vez lideraram a economia, enfrentam hoje duras realidades e o governo se nega a atendê-los. Não são sua prioridade. O mais indicado para eles, no dizer dos expertos, é buscar novas atividades produtivas nas quais possam ser competitivos. Questão das leis do mercado, se trata de flexibilizar e ter iniciativa. Essa linguagem de Santos para os campesinos, de afastar as diferenças, trabalhar juntos, rápido, ir da mão para conquistar os objetivos de prosperidade e emprego, rememora o cálido bolodório com o qual desde a antiguidade os avarentos têm tapeado ao pobre infeliz ao qual se aprestam a privar de seus centavos. O negócio será para os brandes banqueiros e consórcios, são seus interesses os que o governo representa. Não nos digamos mentiras, Santos.
Não pode resultar indiferente para nós que o Presidente da República que, desde o começo mesmo de seu governo, buscou contatar-nos para dialogar de paz, argumentando que reconhecia boa parte de justiça em nossas reclamações, ainda que não os métodos que empregávamos para fazê-las, se apresente a San Vicente num 20 de fevereiro, rememorando o fim dos diálogos do Caguán, num ato qualificado por ele mesmo como duplamente simbólico, para insultar de todos os modos possíveis contra as FARC e seus comandantes mais queridos, sem fazer a mais mínima menção ao processo de paz que se cumpre com seu governo em La Habana. É que, acaso, ao qualificar de experiência triste e muito lamentável aquele esforço frustrado de reconciliação, sentiu vergonha e horror de referir-se às atuais conversações?
Acreditávamos que Santos era sincero ao manifestar que sonhava passar à história como o Presidente que conseguiu a paz para Colômbia. O mandou a dizer de tantas maneiras, deu tantas mostras de querer, na realidade, alcançá-lo que seu comportamento e suas palavras em San Vicente del Caguán nos deixaram perplexos. Nem uma só vez mencionou a que considerou bandeira fundamental de seu governo, por outro lado poderíamos dizer que pareceu o vivo retrato de sua passagem pelo Ministério de Defesa na administração Uribe, o velho mestre do Pinzón de hoje. É essa a forma como se cria um ambiente propício para o processo e os diálogos? Assim é como o governo nacional comparece com sua quota à reconciliação, Santos?
Isso de que as FARC arrebatamos não sei quantos hectares a não sei quantos milhares de campesinos, assim como toda a cantilena com relação a que estamos obrigados a dar-lhe cara às vítimas do conflito, como se alguma vez houvéssemos manifestado nossa negativa a fazê-lo, podemos solucioná-lo de um modo simples e prático. Conformemos uma comissão de alto nível, integrada por delegados das FARC-EP e do governo nacional, com participação de grêmios e diversas organizações sociais, com os garantidores que sejam necessários, para que em Colômbia, em condições de segurança, se encarregue de visitar e verificar a situação real das propriedades que se dizem arrebatadas por nós. E que convoque a todas as possíveis vítimas para atender seus casos e precisar responsabilidades.
Porém que se convoque também as vítimas do Estado, os desterrados pelo Exército e pelos grupos paramilitares. E se esclareça também o mesmo. E cada quem responda. Podemos discutir na Mesa de Conversações, com participação do país, a atenção que devem merecer os informes finais. Diversas personalidades internacionais, Estados e organizações regionais têm manifestado seu apoio ao processo de paz em Colômbia. Com todos estamos sinceramente agradecidos. Por isso, nos parece oportuno que o Presidente Jimmy Carter, a ALBA, UNASUL, a CELAC e os que proponha o governo tomem parte na comissão mencionada. Se bem [que] é certo que na Mesa se têm adiantado importantes avanços de acordos, as atitudes oficiais que com os pretextos mencionados se repetem, ameaçam com afundá-lo num pântano. Arranquemo-los daí, já, Santos. A tão estreita e calculada concepção do processo aponta para afogá-lo. Salvemo-los.


TIMOLEÓN JIMÉNEZ
Chefe do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas de Colômbia, 21 de fevereiro de 2013