"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 31 de maio de 2013

Recupera delegação de paz das FARC sítio na Internet


La Habana, 30 maio (PL) A delegação da guerrilha colombiana às conversações de paz anunciou hoje aqui a recuperação de seu sítio oficial na Internet, que havia sido eliminado no passado 22 de maio.

O sítio pazfarc-ep.blogspot está outra vez na rede de redes, logo após as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo [FARC-EP] terem denunciado a eliminação do blog como um ato de terrorismo digital.
A delegação da insurgência às conversações de paz em Havana indicou que a sabotagem a seu blog é parte da “manipulação midiática” contra ela.
Apontou que coincidiu com o fechamento do nono ciclo de conversações com delegados do governo no Palácio de Convenções desta capital, no qual se anunciaram acordos no tema agrário.
Lamentamos estes fatos tão deploráveis e insistiremos em divulgar a verdade, apesar da censura e da perseguição do Estado colombiano”, disse um comunicado guerrilheiro divulgado nesse sítio.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

De Marquetalia a La Habana: 49 anos lutando pela paz

 



As FARC-EP, por ocasião de cumprir-se neste 27 de maio o 49º aniversário de nossa fundação em Marquetalia, enviamos uma saudação patriótica, revolucionária e fraternal ao conjunto das massas populares que lutam pela justiça na Colômbia, na Nossa América e no mundo.
Nascemos como um punhado de mulheres e homens do povo da Colômbia, obrigados pela brutal violência exercida em benefício de minorias privilegiadas pelo poder do Estado, a levantar-se em armas em defesa de sua vida, sua dignidade e seus sonhos. Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas, Hernando González Acosta e o restante dos 46 campesinos e campesinas que subscreveram o Programa Agrário dos Guerrilheiros em 1964, encarnaram com legendária bravura a erupção de um sentimento nacional de resistência e denúncia contra o crime, a impunidade e a intolerância.
As FARC-EP somos produto do crisol em que, ao calor do fogo e do fio de outras armas, a oligarquia colombiana pretendeu entronizar-se até a eternidade na direção do Estado. Velhos partidos compostos por terra-tenentes e burgueses de diferentes esferas, inspirados na doutrina fascista de segurança nacional, orgulhosos pelo apoio incondicional do governo dos Estados Unidos em seu afã de domínio continental, se encarregaram de afundar a Colômbia na horrível noite de morte, perseguição e terror que, infelizmente, ainda não termina.
A guerra, a violência e o medo generalizado foram sempre, ao longo da história universal, instrumentos favoritos dos poderosos. Colômbia não é uma exceção. Para demonstrá-lo, basta uma olhada isenta sobre os acontecimentos que têm banhado de sangue e dor a vida dos mais fracos e humildes desde os distantes dias da conquista. Ou os acontecimentos que precipitaram em nossa nação o assassinato de Jorge Eliécer Gaitán e a fúria violenta do Estado que ainda não cessa. Em nosso país, nos últimos 65 anos, as vítimas não são contadas por milhares, mas sim por centenas de milhares e por milhões. E toda a responsabilidade recai, sem dúvida, nas classes dominantes e seus ambiciosos partidos políticos, ainda que se vistam de etiqueta e lavem com formosura as mãos. A tranquilidade do lar, a concórdia, os sentimentos de paz, têm sido, por outro lado, o mais valioso patrimônio das mulheres e homens que vivem com simplicidade do trabalho de suas mãos. A guerra, toda guerra, consiste num enfrentamento desatado pelos ricos contra os pobres. As melhores terras, os grandes projetos de exploração de hidrocarbonetos, as concessões mineiras, as áreas urbanizáveis, tudo quanto representa um importante negócio, desata de imediato as feras famintas, com fingimento ou sem ele, contra os mais pacíficos habitantes condenados a vender, ir embora ou morrer. A guerra inclui, então, o silêncio e a mentira.
As FARC-EP somos povo que enfrenta com armas as armas do poder e da riqueza. Sentimos, portanto, o mais imenso apreço pela paz que nos roubaram, a paz que roubaram da Colômbia os negociantes e politiqueiros. Nunca quisemos a guerra. Desde antes do ataque a Marquetalia, nossos fundadores reclamaram ante o Estado, a Igreja e a comunidade internacional por um diálogo. Nada deteve a obsessão dos provocadores enquistados no parlamento e no governo. Durante estes 49 anos, sempre lutamos por uma solução política ao conflito. Nosso sonho mais querido é que termine definitivamente esta guerra que dessangra a pátria.
O qual não equivale a lançar os ferros ao solo e tornar-se submissos ao redil, há que atacar as causas do conflito. As classes dominantes na Colômbia, os donos tradicionais do poder e da fortuna, devem cessar para sempre suas condutas violentas, pôr fim a suas práticas intolerantes, desmontar seus aparelhos de morte e terror, permitir que na Colômbia se instaure a democracia verdadeira, para que se proscrevam a estigmatização e a ameaça, a perseguição e o desterro, o crime que garante com sua impunidade a dominação pelo medo.
O povo colombiano, a gente trabalhadora e humilde que suporta os rigores da pobreza e é acossada por sicários de diversa índole, a enorme massa a quem só se oferece migalhas em troco de inclinar com mansidão a nuca, tem todo direito a organizar-se politicamente, a expressar seus sentimentos de inconformismo e suas propostas de mudança, a fazer política sem risco de ser assassinados. As vítimas e os opositores à selvagem locomotiva mineira, os afetados de toda ordem com os TLCs e as políticas neoliberais de despojo, devem contar com plenas garantias para o trabalho pacífico em torno da abolição dessas atrozes políticas contra a humanidade.
A guerra tem que ser terminada. A imensa maioria de colombianos o está exigindo nas ruas. Para materializar de verdade esse objetivo, esses esforços têm que harmonizar-se e coordenar-se, unir-se de maneira sólida e pronunciar-se de maneira enérgica. Será impossível pôr fim definitivo a guerra em nosso país, se o bloco dominante de poder desconhece que a consecução da paz implica profundas reformas, de caráter estrutural, nas instituições e na vida nacional, sem as quais não desaparecerão jamais as causas da guerra. O compreendemos perfeitamente as FARC-EP desde a primeira tentativa de reconciliação em Casa Verde e nos mantemos fiéis a essa posição, a única que beneficia a Colômbia sem nenhum interesse.
Se a oligarquia se nega a fazer as mudanças, a enorme multidão do povo mobilizado se encarregará de impô-las. Nosso país atravessa por um momento histórico e crucial. A nação colombiana não pode permanecer mais em silêncio, como simples espectadora de uns diálogos no exterior e na expectativa de seus resultados. Os fóruns celebrados em Bogotá acerca da Política Agrária Integral e da Participação Política puseram de presente o enorme caudal de posições coincidentes e a potencialidade dos anseios por transformar nosso país para uma democracia verdadeira, em paz e com justiça social. Porém, isso não basta.
A proposta e o discurso não comovem um ápice a consciência dos procuradores do regime. Faz falta muito mais. Que se repitam uma e outra vez mobilizações como as de 9 de abril. Que o povo fale e se faça respeitar. O não à guerra tem que ser um sim à reforma agrária integral, um sim rotundo ao freio da locomotiva mineira, um sim rotundo a uma Assembleia Nacional Constituinte que consagre efetivas garantias democráticas, um sim à desmilitarização do território nacional, um sim à proibição dos bordões do ESMAD, um sim à justiça contra os responsáveis ocultos e visíveis dos grandes crimes contra o povo colombiano.
As FARC-EP não iríamos descartar, de nenhum modo, os oferecimentos do Presidente Santos no sentido de tentar a via de uma solução civilizada e dialogada ao conflito colombiano. Quando começou este governo, levávamos 46 anos combatendo por isso. Sabíamos e sabemos, como recentemente ratificou na imprensa o Alto Comissionado de Paz, que as intenções do regime não eram outras senão as de conseguir nossa humilhante submissão ao preço de uma massacrante ferocidade midiática. Porém, um Exército do Povo como o nosso, que conhece o autêntico sentir dos colombianos, sabia que não havia razões para temer. Pouco a pouco, lenta porém firmemente, se iria levantando um clamor muito diferente pela paz. Hoje já começa a sentir-se a força desse poderoso eco por todos os rincões do país. Já a Colômbia inteira expressa que a paz é o nome da justiça social. Já a nação compreende que a fórmula santista de opor um não rotundo a quanto se lhe propõe na Mesa é uma isca habilmente concebida para validar sua entrega definitiva aos interesses do capital estrangeiro. A Agenda pactuada em Havana não servirá jamais, por parte das FARC-EP, para endossar o império do neoliberalismo e santificar a ditadura civil em nossas instituições. Não existe nenhum tipo de acordos secretos, como afirmam alguns politiqueiros com perversos propósitos.
As FARC-EP cremos, sincera e apaixonadamente, que a paz é possível, e que as circunstâncias são abertamente propícias para consegui-la. Não temos a menor dúvida acerca da importância da existência da Mesa de Conversações em Cuba. Se encarrega de confirmarmos o plebiscito nacional e internacional de respaldo que recebemos diariamente. Confiamos em que o povo colombiano avançará sem parar para essa Mesa, para fazer-se ouvir, e em que tanto ele como a comunidade internacional se encarregarão de blindar os diálogos para impedir que se rompam por parte do governo, uma vez veja claro que as coisas não vão acontecer como as planejou. Desta vez, não poderão proceder como o fizeram duplamente em Casa Verde, Tlaxcala ou no Caguán.
Ao tempo em que compartilhamos o regozijo de completar 49 anos contínuos de luta pela paz, reconhecemos o heroico esforço de todas aquelas mulheres e todos aqueles homens, anciãos e crianças, que, de uma ou de outra maneira, puseram sua cota de sacrifício em apoio a nossa luta. Nossos combatentes caídos em combate ou encerrados em prisões provieram, assim como todos os demais, dessa massa humana esperançada e nobre que, com abnegação silenciosa, tem arriscado tudo por nós. Nossos mortos e feridos, nossos prisioneiros, nossos guerrilheiros e milicianos assediados por bombas e metralha, nossos camaradas clandestinos, nossos heróis extraditados, entregaram tudo, sem nenhum interesse pessoal, por Colômbia e sua gente, pela paz e a justiça. A todos eles, a todas elas e ao nosso povo, uma homenagem sincera neste novo aniversário. 

Juramos vencer!… E venceremos!  
 
SECRETARIADO DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
Montanhas de Colômbia, 27 de maio de 2013.
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Equipe ANNCOL - Brasil
anncol.br@gmail.com
http://anncol-brasil.blogspot.com



quarta-feira, 29 de maio de 2013

“O erro de Santos foi ordenar a norte de Cano”: Pablo Catatumbo

 
O integrante da delegação das Farc em Havana, Cuba, “Pablo Catabumbo”, indicou nesta segunda-feira a RCN Radio que o principal erro do presidente da República Juan Manuel Santos foi ordenar a morte do máximo chefe da guerrilha, Guillermo León Sáenz Vargas, aliás, “Alfonso Cano”.
Eu penso que o principal erro que o presidente Santos cometeu foi ter ordenado a morte de Alfonso Cano, e mais quando havia umas aproximações de paz que já se vinham apresentando tempos atrás. Cano era o homem da paz e ele haveria sido um elemento dinamizador deste processo. O presidente se equivocou”, indicou Catatumbo à emissora.
O Comandante guerrilheiro afirmou que “Alfonso Cano” era um “homem de paz” e agregou que se estivesse vivo “o processo talvez iria em maior velocidade”.
A experiência, inteligência e autoridade moral sobre a tropa era algo significativo, porém, ademais, sua experiência em outros processos de paz e seu compromisso com o país teria podido contribuir muitíssimo para este processo”, indicou Catabumbo.
Por último, o integrante da comissão das Farc assegurou que faltam ainda vários detalhes para revelar de como se realizaram as primeiras aproximações entre Governo e Farc.




terça-feira, 28 de maio de 2013

DECLARAÇÃO DA DELEGAÇÃO DAS FARC EM HAVANA



 Havana, Cuba, Sede dos diálogos de paz, 26 de maio de 2013

Compatriotas

Após discutir durante meses nossa problemática rural e de buscar soluções que, efetivamente, reivindiquem e redimam o camponês, as comunidades indígenas e afrodescendentes, e que favoreçam o bem viver dos colombianos, avançamos na construção de um acordo, com exceções pontuais, que necessariamente terão que ser retomadas, antes da concretização de um acordo final.

As reivindicações históricas mais profundas das comunidades rurais e empobrecidas foram bandeira ao vento em nossas mãos, além de argumento para o debate na Mesa de Negociações. Erigimo-nos na voz das pessoas comuns, dos campesinos sem terra frente às cercas das grandes propriedades, das comunidades rurais resolvidas a defenderem seu território ameaçado pela depredação mineral e energética das transnacionais... As Cem Propostas mínimas orientadas ao DESENVOLVIMENTO RURAL E AGRÁRIO PARA A DEMOCRATIZAÇÃO E PELA PAZ COM JUSTIÇA SOCIAL DA COLÔMBIA, são uma mostra irrefutável da profundidade de nosso compromisso. Ali estão colocadas as ideias de justiça que os de baixo querem que sejam escutadas e reconhecidas.

Depois de 22 anos de vigência de uma Carta Magna que consagrou direitos no papel, enquanto iniciou sua política neoliberal geradora de miséria, desigualdade e violência, é hora de exigir que a letra morta de benefício social da Constituição e da Lei ressuscitem, recobrem vida e seja cumprida pelas elites embutidas no Estado.

Em Havana, estamos abrindo uma brecha para que o povo atue, se mobilize na defesa de seus direitos e continue fazendo escutar sua voz como protagonista principal da construção da paz. Porém, preocupa que enquanto as maiorias clamam reconciliação e expressam seus anseios de justiça, o país tenha que permanecer suportando a inclemência das medidas e políticas econômicas, que entregam nosso território à voracidade das transnacionais, se siga aprofundando a desigualdade e continuem caindo compatriotas, de ambos os lados, em uma guerra de meio século que urge uma saída política.

Este ato de encerramento de um ciclo temático é, ao mesmo tempo, a abertura ao transcendental debate em torno da democracia colombiana. Muitas preocupações orbitam nossa consciência de porta-vozes dos anseios populares com relação ao importantíssimo assunto da Participação Política, que abordaremos na Mesa de Negociações de Havana, a partir de 11 de junho.

Mudanças estruturais urgentes estão batendo às portas do Estado, reclamando participação cidadã nas decisões e na adoção de políticas que dizem respeito ao seu futuro de dignidade. Temos que nos voltar às nossas origens, para resgatarmos o ensinamento do Libertador que nos disse que “A soberania do povo é a única autoridade legítima das nações”, que “O destino do exército é guarnecer a fronteira. Deus nos livre virar suas armas contra os cidadãos! Basta a milícia nacional para conservar a ordem interna”, “as minas de qualquer espécie, corresponde à República”, e “O Tesouro Nacional não é quem os governa. Todos os depositários de vossos interesses devem demonstrar o uso que hão feito deles”.

Nas atuais circunstâncias nos preocupa, por exemplo, a captura do Estado por parte de grupo de poder que aprova leis e regulamentos, que favorecem somente seu egoísmo, enquanto depreciam o interesse comum e levam a desigualdade e a defesa violenta de seus capitais, mais além dos limites do desumano.

Uma imensidão de “macrocriminalidade”, na qual reinam a corrupção e a impunidade, se apoderou do Estado colombiano. Este permanece emaranhado na teia da ilegalidade narco-paramilitar. E, todavia, pululam entre o Estado, empresas legais e a ilegalidade, para lavagem de dinheiro, celebrar contratos, roubar os recursos da saúde e saquear os tesouros da nação.

Todos estes são elementos que hoje obstruem a possibilidade de construir uma alternativa de solução diferente à guerra, porém confiamos na sabedoria das organizações sociais, políticas e populares da Colômbia, que saberão destrinchar o caminho para a paz.

O esforço coletivo pela paz da Colômbia terá que ser compensado com um tratado justo e vinculante, rubricado por uma Assembleia Nacional Constituinte, que funde nossa reconciliação à perpetuidade.

O Estado colombiano espera uma transformação estrutural profunda, que complemente medidas transcendentais similares às que agora acordamos, como a da formalização progressiva de todas as propriedades que ocupem ou possuam os camponeses da Colômbia.

DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP


Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)


segunda-feira, 27 de maio de 2013

COMUNICADO CONJUNTO # 16

Os delegados do Governo e das FARC-EP, informam que:

Chegamos a um acordo sobre o primeiro ponto da Agenda contida no “Acordo Geral para a terminação do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura”.

Acordamos denominá-lo “Para um novo campo colombiano: Reforma rural integral”.

No próximo ciclo de conversações, apresentaremos o primeiro informe periódico da Mesa.

Construímos acordos sobre os seguintes temas:
  • Acesso e uso da terra. Terras improdutivas. Formalização da propriedade. Fronteira agrícola e proteção de zonas de reserva.


  • Programas de desenvolvimento com enfoque territorial.


  • Infraestrutura e adequação de terras.


  • Desenvolvimento social: saúde, educação, moradia, erradicação da pobreza.


  • Estímulo à produção agropecuária e à economia solidária e cooperativa. Assistência técnica. Subsídios. Créditos. Geração de rendas. Comercialização. Formalização laboral.


  • Políticas alimentares e nutricionais.
O que combinamos neste acordo será o início de transformações radicais da realidade rural e agrária da Colômbia com equidade e democracia. Está centrado na gente, no pequeno produtor, no acesso e distribuição de terras, na luta contra a pobreza, no estímulo à produção agropecuária e na reativação da economia do campo.

Busca que o maior número de habitantes do campo sem-terra ou com terra insuficiente possa ter acesso a ela, mediante a criação de um Fundo de Terras para a Paz.

O Governo Nacional formalizará, progressivamente, com sujeição ao ordenamento constitucional e legal, todas as propriedades que ocupam ou possuem os campesinos na Colômbia.

Se criam mecanismos para solucionar conflitos de uso e uma jurisdição agrária para a proteção dos direitos de propriedade com prevalência do bem comum.
Está acompanhado de planos em moradia, água potável, assistência técnica, capacitação, educação, adequação de terras, infraestrutura e recuperação de solos.

O acordo busca que se revertam os efeitos do conflito e que se restituam as vítimas do despojo e do deslocamento forçado.

Inclui a formação e atualização da informação rural para a atualização do respectivo cadastro, buscando segurança jurídica e melhor e mais eficiente informação.

Pensando nas futuras gerações de colombianos, o acordo delimita a fronteira agrícola, protegendo as áreas de especial interesse ambiental.

Buscando um campo com proteção social, erradicar a fome através de um sistema de alimentação e nutrição.

O pactuado até agora forma parte de um acordo mais amplo que esperamos conseguir nos próximos meses, o qual contém seis pontos. A partir do seguinte ciclo de conversações, que se inicia a 11 de junho, começaremos a discussão do segundo ponto da Agenda incluído no “Acordo Geral” de Havana, denominado Participação Política.

Um dos princípios que guiam estas conversações é que “nada está acordado até que tudo esteja acordado”. Isto quer dizer que os acordos que iremos construindo estão condicionados a que cheguemos a um acordo sobre a totalidade da Agenda e, também, que, na medida em que se avance na discussão, se possam ajustar e complementar os acordos sobre cada um dos sub pontos.

Queremos destacar que nestes 6 meses de conversações não somente discutimos o tema agrário. Neste lapso se deu vida ao processo de conversações, se pactuou a maneira de trabalhar em plenário, comissões ou por separado e se puseram em marcha diferentes mecanismos de participação e consulta cidadã para receber propostas e opiniões de cidadãos e organizações sociais. Estes mecanismos e procedimentos de trabalho e participação já estão em marcha, pelo que esperamos que daqui para adiante avancemos com maior celeridade na busca de acordos.

Ressaltamos a contribuição do Escritório das Nações Unidas na Colômbia e do Centro de Pensamento para a Paz da Universidade Nacional na organização dos fóruns que se realizaram em Bogotá sobre os temas Agrário e de Participação Política. Também incorporamos as contribuições das mesas regionais organizadas pelas Comissões de Paz do Senado e da Câmara de Representantes da Colômbia.

Agradecemos aos milhares de colombianos e colombianas, e organizações sociais que nos têm feito chegar suas propostas e opiniões sobre os pontos da Agenda através dos fóruns, da Página Web ou dos formulários que estão disponíveis em prefeituras e governadorias. Todas e cada uma destas propostas foram recebidas pelas delegações em Havana. Na Mesa de Conversações, se acordou e pôs em marcha um procedimento para recebê-las ordenadamente, classificá-las e tê-las disponíveis em meio eletrônico.

Queremos agradecer de maneira especial a Cuba e Noruega, países garantidores deste processo, por seu permanente apoio e pelo ambiente de confiança que propiciam. A presença de seus representantes na Mesa de Conversações é fator fundamental para o desenvolvimento das mesmas. Igualmente, agradecemos a Chile e Venezuela, países acompanhantes, aos quais as delegações informam periodicamente sobre a marcha dos diálogos.

Estes quatro países conformam um grupo de nações amigas do processo que avaliamos de maneira especial, como também agradecemos as expressões de apoio de outras nações, organismos e líderes internacionais que fortalecem a confiança no caminho que estamos transitando.

La Habana, 26 de maio de 2013     





quarta-feira, 22 de maio de 2013

'Uribe nos desalojou no Valle'


Novamente no Hotel Sevilla, me encontrei – encontro marcado previamente – com os negociadores das FARC en Havana: Pablo Catatumbo, Iván Márquez, Jesús Santrich e Marco León Calar.


 
 Por: Alfredo Molano Bravo

Num canto da grande sala começou a conversação. A delegação do Governo havia chegado na tarde e Sergio Jaramillo havia ditado uma polêmica conferência na Universidade Externado na noite anterior. Creio que boa parte dos temas que os comandantes desenvolveram tem que ver com essa conferência, que, confesso, não havia lido, encantado com a arquitetura e a afabilidade do povo de Santiago de Cuba, onde fui, quase como um peregrino, conhecer o quartel Moncada, onde começou a história do Movimento 26 de Julho e a Revolução Cubana.
Alfredo Molano Bravo: Falemos da pequena história da aproximação secreta com o governo de Santos.
Pablo Catatumbo: Os primeiros passos da negociação que hoje se desenvolve em Havana estão agasalhados por um pacto de confidencialidade que não podemos divulgar. No entanto, há uns antecedentes que devem ser conhecidos ou relembrados.
AMB: Como, quais?
PC: Há fatos que o país não conheceu em seu momento e que hoje devem ser contados para ir abrindo campo à verdade histórica.
No começo dos anos ’90, no governo de Gaviria, estivemos muito próximos de um arranjo de verdade, um “acordo no fundamental”, como disse Álvaro Gómez. Convocada por meios irregulares uma Assembleia Constituinte, as Farc se mostraram interessadas em participar, entre outras coisas porque Jacobo Arenas havia lançado a iniciativa desde os acordos da La Uribe com Belisario. Mais ainda, para dar espaço à União Patriótica, propusemos a eleição popular de prefeitos e governadores.
Nós estávamos preparados para a constituinte, e o governo de Gaviria, sem opor-se publicamente a nossa participação, embaralhava suas cartas. Com uma delas no bolso chegaram altos funcionários do Governo a conversar com Marulanda um mês antes da eleição de constituintes; buscavam definir o número de constituintes da Coordenadora Guerrilheira Simón Bolívar [CGSB], composta por ELN, EPL, FARC e M-19 na assembleia constituinte. Conversaram com Marulanda e com Alfonso em muito bons termos, até que se tratou do número de constituintes da Coordenadora. Dias antes, se haviam reunido seus chefes Francisco Caraballo, o padre Manuel Pérez, Carlos Pizarro com Marulanda para definir nossa participação. As cifras eram muito diferentes e a diferença muito grande. Gaviria oferecia cinco lugares e a Coordenadora pedia 20. Uma vez postos os números sobre a mesa, os delegados disseram: “Os tomam ou os deixam”.
Marulanda não respondeu nem sim nem não, disse somente: “Necessitamos um tempo para consultar com todos os membros da CGSB”. Não há tempo, responderam em forma peremptória os funcionários, o helicóptero não pode voar depois das 5 da tarde. Vocês devem tomar a decisão já. Marulanda não podia tomá-la e lhes disse: “Fiquem esta noite aqui e amanhã encontramos uma solução”. Responderam: Não, não temos tempo. Marulanda lhes respondeu: se não têm uma noite para conversar, que tempo vão dedicar à paz? Assim que o helicóptero saiu naquela tarde sem uma resposta. Um mês depois, no dia da eleição de constituintes, o Exército bombardeou os acampamentos do rio Duda. Foi a chamada Tomada de Casa Verde, que nem foi em Casa Verde nem foi tomada; o coronel Alfonso Velázquez reconheceu depois num escrito que o alto comando militar admitiu que a operação havia sido um grande erro militar. A realidade é simples e franca: Não nos liquidaram, lá seguimos. Digo-o agora: Os ultimatos não servem com as Farc.
Foi o momento em que mais perto estivemos de um acordo de paz. É óbvio que, se nós participamos numa constituinte e compartilhamos sua redação, de fato, nos acolhemos a ela sem reservas e fica sem fundamento o levantamento armado. A insurgência não pode seguir alçada em armas contra uma Constituição que subscreveu.
O erro de Gaviria e do M-19 foi pretender que se podia fazer uma paz parcial, uma paz oportunista sem que estivéssemos todos. A arrogância de dirigentes distanciados do povo e desconhecedores da realidade histórica, como César Gaviria, impediu um acordo que era muito possível e que haveria sido muito sólido.
Jesús Santrich: Se bombardeou uma possibilidade de paz. Em lugar de fechar o terrível capítulo da guerra, Gaviria e seu comissionado, Rafael Pardo, preferiram negociar com Carlos Pizarro – um homem a quem respeitamos porque deu sua vida pelos ideais –, porém ao que, cabe recordá-lo, lhe facilitamos os meios econômicos dos quais carecia o M-19 para que pudesse pôr Álvaro Gómez em liberdade, quando o retiveram. A história dessa verdade não está escrita. Como diz Pablo: Conosco não valem ultimatos. Essas bravatas definitivamente não servem, e o dizemos sem arrogâncias. Por outro lado, se perdeu a oportunidade de poupar-se ao país milhares de mortos, de dor e de sofrimento.
MB: Por que as FARC não negociaram com Samper?
Iván Márquez: O governo de Samper não tinha legitimidade suficiente para adiantar uma negociação de paz. Os militares o tinham bloqueado. Bedoya brandia o sabre cada vez que o presidente falava de paz. Quando se começou a falar de uma desocupação de La Uribe, uma zona desocupada de fato porque o Governo não sabia nem onde ficava esse município, Bedoya se insubordinou e pediu a Samper dar a ordem por escrito com o objetivo de legitimar um golpe militar. Samper não tinha com que fazer frente ao poder dos militares. Carlos Holmes, agora pré-candidato de Uribe, era um simples lagarto. Propôs ao Secretariado, em seu desespero e sua impotência, unir os rios do Sul Oriente para desenvolver o país. Uma coisa absurda, pura e simples. Samper propôs negociar em meio ao conflito, o que para nós sempre foi um erro que custa muito. Algum dia se conhecerá a correspondência desprezível que sustentou nessa época Carlos Holmes Trujillo com Jacobo e Alfonso.
AMB: Por acaso, a trégua bilateral não dá uma vantagem militar a vocês?
JS: Não nos dá vantagens, nós demos uma trégua unilateral e o Governo não a interpretou como um gesto de boa vontade senão como um sintoma de fraqueza. Quisemos mostrar que, suspendendo as ações militares ofensivas, não se fortalecia o Exército. Não o entenderam. Talvez o país e a comunidade internacional, sim, o compreenderam.
AMB: E como foi o rolo com Pastrana?
Marco León Calarcá: Pastrana confessa em seu calhamaço de 800 páginas que o Caguán foi uma estratégia para poder armar o Exército, que jamais teve uma real vontade de paz. O reconheceu Víctor G. Ricardo: as FFAA não tinham nem apetrechos, nem botas, nem gasolina para os aviões. Se as Farc houvessem advertido para este fato, não se haveriam sentado a conversar com o Governo. Ademais, Pastrana se havia comprometido, como recordou há pouco Felipe Lópéz na reportagem, excelente diga-se depassagem, que lhe faz Juan Carlos Iragorri, a combater o paramilitarismo, o que nunca fez. Esse foi o fracasso do Caguán.
Hoje, o presidente Santos deveria ler o livro, quem, devido a suas múltiplas ocupações, certamente não teve oportunidade de olhá-lo. Marulanda, que era um especialista em emboscadas, sabia o que o governo de Pastrana buscava e, por isso, deixou a cadeira vazia. Porém, era um guerreiro nobre e lhe fez saber a Pastrana que não assistiria a abertura formal das negociações em San Vicente. Pastrana se apresentou para fazer ficar mal a Marulanda. Ainda que a cadeira ficou vazia, não caiu no vazio seu discurso, um discurso que se deve voltar a ler com cuidado. Não se tratava de que se pagassem umas galinhas e umas mulas. Quando Eastman, o pequeno, lhe perguntou: “Comandante, você não queria voltar a Marquetalia e ter uma fazenda cafeeira grande com gado e mulas?” Marulanda lhe disse, sem ofender-se: “Sim, quero, meu filho, uma fazenda grande chamada Colômbia, não com mulas, mas sim com caminhões-tratores para mover tudo o que se produz”.
AMB: E com Uribe, houve aproximações?
PC: E muito sérias, apesar de sua gritaria bélica. Uribe não é um guerreiro, é um fanfarrão. Antes de terminar o segundo governo, quando sua candidatura estava fazendo água, um empresário com quem as duas partes tínhamos confiança – um verdadeiro facilitador – fez uma ponte com Luis Carlos Restrepo e por aí com Uribe. A embaixada americana e a Igreja estiveram informadas do passo, segundo nos inteiramos por Wikileaks. Passaram uns dias até quando recebemos uma carta muito amável e bem escrita assinada por Frank Pearl, nesse momento conselheiro de Uribe, que propunha um diálogo secreto no Brasil com Alfonso Cano ou comigo.
Nós analisamos com seriedade a iniciativa e concluímos que, estando por finalizar o governo, não tinha sentido abrir um processo sem saber quem poderia ser o novo mandatário. Assim que se respondeu com um “Não, grato; por agora, não”.
De todas as maneiras, ficou no ambiente o ânimo da iniciativa para encontrar-nos na zona onde eu operava – Barragán, Santa Lucía, La Mesa –. O Exército desocupou, com efeito, a área, apesar do que o ministro de Defesa declarava em público. Nos mandaram dizer que essa era uma prova da vontade de conversar, porém o Governo estava já de saída e nós lemos o que era certo: Uribe necessitava de nosso apoio.
AMB: Ou seja, que durante o governo de Uribe, sim, houve uma desocupação?
PC: Sim senhor, assim foi. Se pode verificar pelas datas.
IM: Mais ainda, houve outro antecedente por lá na metade de Uribe. O presidente nos fez saber que estaria disposto a desocupar os municípios de Florida e Pradera se Marulanda estava disposto a conversar, porém que o único problema era que essa desocupação incluía os engenhos açucareiros de Ardila Lulle. Álvaro Leiva lhes fez cair na conta do erro. Se tratava de um encontro com o Bloco Ocidental das Farc e já estávamos prontos para viajar ao lugar com Caliche, Pacho Chino, Leonel Páez, Reinel, melhor dizendo, o alto comando.
AMB: E por que razão não se levou a cabo o encontro?
JS: Porque, quando as coisas estavam prontas, explodiu uma bomba na praça da Universidade Militar. Puro barulho. Não houve feridos nem mortos, porém o Governo concluiu que nós a havíamos posto e se cancelou o encontro. Como não fomos nós, sabíamos o que buscava quem a pôs. Os meios de comunicação deram um grande desdobramento ao fato e alguns – os de sempre – disseram que o ato mostrava a hipocrisia das Farc, seu jogo duplo. Depois enredaram tudo com uma mulher que sacaram da manga e que diz que nos fazia inteligência. Uma falsa Mata Hari crioula.
AMB: Agora, falemos das relações com Santos.
IM: Depois do desencontro com Uribe, veio o “ruído de chaves” que fez Santos no discurso de posse. O interpretamos como uma boa mensagem e não nos equivocamos, porque um dia nos chegou um texto autorizado por ele, porém sem sua assinatura, dizendo que o Governo poderia estar interessado em explorar uma solução política ao conflito armado. Já o Governo falava de conflito armado e não de ameaça terrorista, o que era um passo significativo.
Alfonso Cano respondeu, em meio a um intenso assédio militar, com uma conferência gravada que deu ao que ele chamava a “guerrilheirada” e que difundimos amplamente. Alfonso dizia mais ou menos: “Sim, exploremos”. Depois enviou outra mensagem mais clara: “Conversemos”.
Há que dizer – acrescenta Iván Márquez – que o papel do presidente Chávez nas aproximações foi definitivo. Depois de oito anos de guerra sem quartel, de guerra a morte, nós desconfiávamos de tudo. Chávez aclimatou com paciência e sabedoria a necessária confiança numa saída negociada. Todos os primeiros passos se deram na Colômbia com sua ajuda.
AMB: Houve alguma condição prévia?
PC: Por nossa parte, a única condição foi que a classe dirigente, representada nos dois partidos tradicionais, estivesse disposta a reconhecer sua responsabilidade histórica na violência desde suas origens até o presente; esse simples fato abriria uma perspectiva, uma avenida de paz, porque se restabeleceria a verdade histórica. Santos, há que destacar, esteve de acordo. As únicas condições que nós pusemos foram as de ter essa disposição de ânimo para conversar e que as Farc nunca aceitariam um acordo que não incluísse a reforma agrária e a justiça social.
AMB: E das armas, quê?
JS: Nós temos uma disposição sincera e serena para participar nas mudanças que o país requer se há democracia. Nunca dissemos que só com as armas se chega ao poder. Marulanda disse: “Se as mudanças se fazem pela via democrática, as armas serão desnecessárias”. Nós não estamos apegados a elas. Porém, não aceitamos a pax romana que querem impor-nos. Na hora da verdade, se há boa vontade das partes, as armas são um assunto secundário. O IRA não entregou uma só pistola e hoje há governo e democracia na Irlanda do Norte. O pacto, convertido em texto constitucional, as tornaria inúteis. Inclusive poderíamos dar cumprimento a um preceito constitucional lógico: Na Colômbia há um só Exército. Porém, há muitos casos que estão vivos, como a morte de Guadalupe Salcedo. Desmitifiquemos a entrega de armas. As armas não se disparam sozinhas, se tornam inúteis. Se os compromissos são cumpridos, são desnecessárias; se há uma vontade de paz verdadeira, tudo se ajeita. Acaso não é bom para eles reduzir o PIB “de armas” de quase 6% para, digamos, 4%? Quantos quilômetros de rodovias se poderiam fazer com esses 2%? Quantos subsídios de moradia se poderia dar? Quanta saúde não se poderia dar? Não se lhe pode arrancar o corpo ao problema da saúde. É, hoje em dia, o assunto que mais preocupa o povo. O Governo põe paninhos de água morna a um enfermo moribundo, como é a Lei 100.
AMB: Vocês adiantaram, segundo parece, um bom trecho no tema agrário com as Zonas de Reserva Campesina. Em que ponto vão?
IM: Falemos claramente. Nós não estamos pedindo que sejam soberanas, mas sim que sejam autônomas, como o são os municípios que têm um conselho, uma administração eleita, que fazem seus planos de desenvolvimento e cuidam de seu meio ambiente; que podem planejar o uso de regalias e manejar as transferências, que podem chegar a votar uma decisão que considerem põe em perigo sua estabilidade ambiental. Esse conto das “republiquetas independentes” é uma falácia inventada pelos militares para desconhecer um programa originado no campesinato e regulamentado por uma lei da república. Quiséramos dizer que, sobre o primeiro ponto da agenda, levamos redigidas em limpo como acordo dez folhas de papel. Avançamos. Viemos meter o acelerador a fundo. Já entramos hoje, quarta-feira 15 de maio, no tema da laborização do trabalho rural para que os campesinos tenham direito a férias, gratificação, seguro desemprego, saúde, pensão.
MLC: É paradoxal, o que o campesinato e as Farc estão pedindo em matéria agrária é que se cumpram duas leis fundamentais, a Lei 200 de 36, que dá direito de propriedade aos possuidores de melhorias – que é o que se pede quando se fala dos nove milhões de hectares – e a Lei 160 de 1994, que cria as Zonas de Reserva Campesina. Ou seja, que se atendam as solicitações feitas pelos campesinos de reconhecer suas melhorias e convertê-las em Zonas de Reserva Campesina. É simples: que se cumpram as leis que eles mesmos redigiram na Constituição.
JS: Se o Governo não cumpre suas próprias leis, como poderemos confiar em que cumpra os acordos que se firmariam?
AMB: Vocês pedem mudanças sociais, porém onde está a linha entre o possível e o que não se pode pedir sem cair no irrealizável?
MLC: Nós estamos dispostos a um acordo de paz com justiça social. Não estamos pedindo a “revolução por contrato”, mas sim uma reestruturação política sólida que nos permita participar na construção de uma verdadeira democracia; poderíamos pactuar uma longa trégua, uma trégua de vários anos para compartilhar a responsabilidade de tirar o país da pobreza e da injustiça.
AMB: O Governo tem dito que nem a política econômica nem a doutrina militar são negociáveis, e vocês assinaram o acordo que exclui esses temas.
IM: O governo de Santos nos fecha esta porta ao impedir-nos negociar a política econômica. Como vamos falar de justiça social com os TLCs que estão arruinando aos cafeicultores, aos arrozeiros, aos agricultores de batata e de milho, aos produtores de lácteos, que, como temos visto, estão hoje protestando e organizando-se? Como vamos passar por alto a política econômica que permite o roubo do ouro e do carvão que estão fazendo as grandes mineradoras? Como vamos falar de justiça social vendo como arrasam a altiplanura, acabam com sua gente e com seus recursos hídricos? É necessário recordar que o Acordo firmado com Santos diz muito claramente que “o desenvolvimento econômico com justiça social e em harmonia com o meio ambiente é garantia de paz e progresso”. Como, então, falar de construção da paz sem falar do desenvolvimento econômico com justiça social? O Governo alega que o preâmbulo do acordo firmado não faz parte do acordo. É como dizer que o preâmbulo de uma constituição, seu marco geral, seu espírito, não são vinculantes! Absurdo! Um preâmbulo não é uma nota decorativa!
JS: A discussão do modelo de desenvolvimento se está dando na rua, o questionamento aos TLCs é tema de discussão em toda reunião. Os editoriais de imprensa o trazem a conto. Acaso a crise de Grécia, Itália, Espanha não estão impugnando o chamado Consenso de Washington? Porém, aqui está proibido discutir um modelo que demonstrou ser o motor da injustiça social e da exclusão econômica.
JS: Mais ainda, se vamos falar de paz e vamos falar de armas, como podemos passar agachados ante uma doutrina militar que tem tolerado o paramilitarismo? Agora nos querem vender a mentira de que os militares – alguns, muitos, não importa – nada têm que ver com a formação de um exército que chegou a ter – e tem – vários milhares de homens armados. Como podemos aceitar que semelhante força que cometeu os crimes mais atrozes que o país já conheceu se formou, cresceu e se fortaleceu às costas dos generais, sem que em mais de 20 anos de tivesse produzido um só combate com a Polícia e o Exército? Que classe de generais temos, então? A doutrina militar vigente deve ser discutida pelo país porque seus efeitos estão à vista de todo o mundo. Basta ler os jornais, basta contar os mortos e os desaparecimentos registrados pelas ONGs. Como sabe o Exército quantos homens e mulheres temos, suas idades, seu lugar de nascimento, e não diz quantos homens, mulheres e crianças morreram no país durante os 60 anos de confrontação armada? A simples cifra é um argumento para que se discuta uma doutrina militar que tem favorecido tal quantidade de mortos e desaparecidos, de falsos positivos, de massacres, de torturas. Saquemos os trapos ao sol, todos os trapos, e que isto seja, em vez de um varal de mortos, um varal de confissões francas e valentes. Não temamos a verdade da guerra, uma guerra em que estão comprometidas duas partes e não uma somente.
AMB: Como destravar o novelo em que estamos metidos?
PC: O país está maduro para escutar com serenidade uma declaração de responsabilidade histórica no desastre que temos vivido durante 60 anos. Esse simples sinal sincero por parte do Governo permitirá avançar em transformar o acordo firmado num tratado de paz. Que se reconheçam as vítimas do conflito, as vítimas das duas partes. Que se ponham sobre a mesa todos os componentes do quebra-cabeças, que se tragam à mesa todas as vítimas e todos os vitimários, sempre e quando se reconheça que nós nos armamos em legítima defesa e que em legítima defesa temos sustentado uma longa guerra sem ser derrotados.
Quero dizer uma coisa em voz alta: Este Secretariado está disposto a buscar de uma vez por todas a dar um jeito. Propendemos por uma participação ativa de todo o povo, e a fórmula histórica é uma assembleia constituinte.
AMB: Estão vocês tão certos de ter nela maioria, ou melhor, de não ser uma minoria que possa ser massacrada?
PC: Cremos que o povo nos ouve. Porém, se o povo decide por maioria colocar-nos de lado, aceitamos seu veredito. São as regras do jogo. Nós apostamos numa assembleia constituinte com caráter legislativo para que não volte a passar o que passou com a de 1991, na qual, por exemplo, o princípio de ordenamento territorial não pôde sair do limbo. Agora, com a proposta de Zonas de Reserva Campesina, pode tomar vida.
Por último, digo para que se ouça: A Santos lhe falta governabilidade. Não se pode negar. Necessita uma maioria forte para poder assinar a paz e nós estamos dispostos a ajudar a construí-la sempre e quando tenha esse único objetivo: a paz, a reconciliação política definitiva entre colombianos.
 


segunda-feira, 20 de maio de 2013

La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 19 de maio de 2013 Nossa Lista de Mercado



Diz o presidente que as propostas que as FARC apresentam ante os meios de comunicação se parecem cada vez mais com uma Lista de Mercado.
Nos agrada a comparação, porque nos relembra a lista triste dos pobres quando vão comprar no armazém do vizinho produtos da cesta básica como arroz, chocolate ou azeite. E nossa gente não pede, por exemplo, meio quilo de arroz, mas sim 50 gramas; não meio quilo de chocolate – como deveria ser –, mas sim três barrinhas; não um frasco de azeite, e sim 2 onças... Por Deus! Não têm dinheiro para pagar o produto completo. Os que comercializam nos supermercados de camada seis não entendem isto. Não entendem a Juan Pueblo, entre consternado e angustiado, constatando que já não há “pão de a cem”. Só a perfídia do governo e de seus tortos burocratas da estatística esconde a subumana realidade para semear a falsa percepção de que o país progride. Os do governo dizem: “aumentamos as exportações”, porém não explicam que os que exportam nossas riquezas naturais e ficam com os lucros – que deveriam ser utilizados na solução de nossos graves problemas sociais – são as transnacionais.
Há pouco, o Departamento Administrativo Nacional de Estatística [DANE] anunciou a redução do número de pobres em 10 milhões. Esta suposta redução repentina de 30 para 20 milhões é uma farsa descarada. A acentuação das políticas neoliberais, o único que produz é miséria e mais desigualdade. De que cartola sacaria o mágico esse mentiroso e trêmulo coelho? Utilizando o índice neoliberal e tecnocrático do PIB para medir sua economia onde não se contabiliza para nada o índice de desenvolvimento humano nem a existência de uma crise humanitária gerada pelo terrorismo de Estado. 
As manipuladoras e instáveis variáveis de mediação que utilizam fazem com que a uma família que vive na favela, pelo fato de não pagar arrendamento – que pode custar 80.000 pesos – lhe somem esse “não gasto” como se fosse uma renda. Se uma pessoa trabalha duas horas por semana, ou se rebusca nas ruas, já é um empregado. Assim é que tiram, sem mais nem mais, o povo da pobreza. No entanto, por mais que depurem a base de dados do SISBEN, seus registros não baixam da cifra de 30 milhões de pobres num país de 46 milhões de habitantes.
Não importa que incomode ao governo, porém reiteramos ante o país a lista de mercado que queremos levar a nossos lares campesinos:
Remover a injusta concentração da terra em poucas mãos, que é a causa do conflito e da miséria do campo. Formalizar ou titular 9.5 milhões de hectares em mãos de campesinos organizados nas Zonas de Reserva Campesina. Desenvolver um tipo de mineração ligada ao investimento social, sem impactos negativos na produção de alimentos e no meio ambiente. Frear a estrangeirização da terra. Proteger a economia campesina frente ao TLC. Laboralização do trabalho rural que estabeleça um salário mínimo para os diaristas. Que aos trabalhadores do campo se lhes garanta direitos reconhecidos como o de previdência, saúde, educação, férias e seguridade social em geral. O campo colombiano deve modernizar-se privilegiando a economia campesina e abandonando de todas as maneiras suas irritantes expressões feudais.
Agora, estamos à espera das conclusões do Foro sobre Participação Política para armar uma nova lista de insumos que saciem a fome secular de democracia, desmilitarize o Estado e a sociedade, e permita ao Constituinte Primário, o povo soberano, construir com suas próprias mãos o tratado de paz que a Colômbia requer.
Nossa “Lista de Mercado” não sugere uma revolução por decreto, simplesmente reivindica os interesses mais sentidos das pobrezas e reclama o cumprimento, pelo menos, de normas constitucionais e legais vigentes.

DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP