"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 30 de maio de 2014

O grande vencedor na Colômbia foi a ABSTENÇÃO



Por Carlos Aznarez
Realizou-se no passado domingo a primeira volta das eleições presidenciais na Colômbia. A abstenção ultrapassou os 60%. Nenhum candidato obteve maioria absoluta. Passam à 2ª volta os candidatos da direita e da extrema-direita, com uma diferença de votos entre si de pouco mais de 300 mil votos. Os dois irão disputar os mais de 3 milhões de votos dos candidatos excluídos. Será certamente um novo festival de enganos e falsas promessas, e o povo colombiano continuará a voltar-lhes as costas.

Se há que mencionar um vencedor nas eleições na Colômbia, ele é a Abstenção, uma vez que mais de 60% dos colombianos e colombianas decidiram virar as costas a uma votação em que os dois principais candidatos (precisamente aqueles que passam à segunda volta) representam a direita e a extrema-direita. Tanto Juan Manuel Santos como Ivan Zuluaga são parte do mesmo sistema que há décadas vem desgovernando a Colômbia, e os seus cantos de sereia já não enganam facilmente o eleitorado.

Esta abstenção, somada aos mais de 760 mil votos em branco, representa um claro repúdio não só pelo uribismo paramilitar e narcotraficante, que Zuluaga representa, como também por quem se vangloria de ser “o candidato da paz”, o actual presidente Juan Manuel Santos, que quando compartilhava o governo com Uribe foi o impulsionador do Plano Colômbia e do Plano Patriota que tantos milhares de cidadãos assassinados deixaram como amostra das suas intenções.

Nem um nem outro expressam realmente a vontade de mudança, urgente e necessária, que camadas muito amplas do povo colombiano reclamam. Camponeses, operários, estudantes, indígenas, que se têm vindo a mobilizar ao longo de todos estes anos.

Para além disso, claro está, há que ter em conta a insurgência das FARC e do ELN, que juntamente com os sectores populares da esquerda revolucionária, como a Marcha Patriótica e o Congresso de los Pueblos, procuram transformar estas decadentes estruturas neoliberais e intimamente ligadas ao imperialismo ianque numa Nova Colômbia, onde sejam os de baixo quem decide quais são as prioridades a resolver.
Ao contrário do que disseram vários meios das corporações e o próprio Santos, até ao último dia da sua campanha eleitoral, a disjuntiva não é somente “paz ou guerra”, mas que uma paz que não venha acompanhada da resolução dos grandes problemas estruturais e da instalação de medidas que assegurem terra para os camponeses e a distribuição da riqueza de pouco servirá no futuro. Não pode ser esquecido que esta mesma semana se recordou que há 50 anos as FARC se levantavam em armas, precisamente em resposta à falta de resolução de alguns temas vinculados a reivindicações que ainda hoje continuam pendentes.

Em conclusão, as duas formações de direita, encabeçadas por Santos e Zuluaga, irão agora a uma segunda volta que pouco ou nada significará para as reais reivindicações das massas populares, para além de uma panóplia de falsas promessas e gestos enganosos para conseguir aliados entre os outros candidatos. Enquanto não mudar este perfil de uma democracia oca, monitorizada pela burguesia colombiana e pelos seus patrões de Washington, a verdadeira Colômbia, popular e rebelde, continuará a estar entre os milhões de pessoas que hoje se abstiveram como forma de resistência. São eles e elas quem está seguro de que as verdadeiras mudanças continuarão a ser alcançadas nas ruas e nas estradas, mobilizados e decididos a transformar, através de um processo constituinte, o destino de um dos países-chave do continente latino-americano.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Zuluaga recua e diz que continuará diálogo com FARC se for eleito na Colômbia


Decisão foi chamada pelo atual presidente colombiano, Juan Manuel Santos, de "cínica e eleitoreira"


Óscar Iván Zuluaga, candidato “uribista” às eleições presidenciais da Colômbia e vencedor do primeiro turno, voltou atrás nesta quinta-feira (29/05) e disse que, se vencer no dia 15 de junho, continuará as conversas de paz com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Antes, ele havia dito que suspenderia temporariamente o diálogo, realizado em Havana.

"Vamos dar continuidade às conversas, mas vamos estabelecer as condições que eu sempre propus", declarou Zuluaga à Caracol Radio. Entre as exigências do candidato à Presidência, estão um cessar-fogo com duração indefinida que contemple o fim de minas antipessoais e do recrutamento infantil, assim como a cessação dos ataques contra civis, soldados e infraestruturas energéticas.


Zuluaga não disse quanto tempo daria às FARC para que chegassem ao cessar-fogo, uma condição que sempre rejeitaram. Entretanto, ele esclareceu que havia recuado devido a um pedido da candidata do Partido Conservador, Marta Lucía Ramírez, em troca de apoio no segundo turno. Zuluaga, candidato do Centro Democrático, concorre contra o atual presidente colombiano, Juan Manuel Santos, da coalizão União Nacional.

Um dos temas tratados [com Ramírez] foi o da paz e uma das propostas que ela defendeu foi dar continuidade do processo de Havana, com condições como excluir os menores do conflito", afirmou à rádio RCN o candidato apoiado pelo ex-presidente Álvaro Uribe.


Estamos fazendo um pacto pela Colômbia, é um acordo de valores, de princípios”, disse Ramírez, que obteve 15,5% dos votos no primeiro turno, ao anunciar nesta quarta-feira (28) a aliança com Zuluaga. Outros membros de seu partido apoiarão Santos. 


Negociadores das conversas de paz com as FARC atingiram acordos parciais em três dos cinco tópicos que estão sendo discutidos, incluindo a reforma agrária, a participação política da guerrilha e o fim de suas ações relativas ao narcotráfico.


O presidente Santos afirmou que essas eleições seriam uma escolha entre agarrar a oportunidade histórica de por fim a um conflito de décadas, votando nele, e continuar uma “guerra sem fim”, ao escolher seu rival. Zaluaga, até agora, havia criticado o diálogo com “terroristas” e traficantes de drogas.


Ao saber das declarações de seu concorrente, Santos disse que o anúncio “é bem-vindo”, mas se trata de uma posição “cínica” e “eleitoreira”. “Agora eles são amigos da paz e a favor de que as conversas continuem, apesar de impor condições impossíveis de cumprir”, afirmou o atual presidente.

Santos e Zuluaga estão tecnicamente empatados nas intenções de voto, segundo a primeira pesquisa feita depois do primeiro turno de domingo passado (25).


A pesquisa, com margem de erro de 2,9% e realizada pelo instituto Cifras & Conceptos para a Caracol Radio e Rede + Notícias, dá a Santos 38% dos votos e Zuluaga, 37%.




quarta-feira, 28 de maio de 2014

Conclusões da Cúpula da UNASUL em Galápagos


O chanceler do Equador, Ricardo Patiño, apresentou nesta sexta-feira 23 a resolução final, uma vez culminada a cúpula ordinária de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas [UNASUL], onde se trataram diversos temas de interesse para o bloco regional.


Sobre o processo de diálogo na República Bolivariana de Venezuela, destacamos a entrega de um informe onde se incluem as contribuições construtivas da Unasul ao processo. Unasul reafirma a sua convicção de que o diálogo é prioritário e necessário”. Nesse sentido, considera que qualquer sanção imposta pelos EUA de forma unilateral contra Venezuela representa um obstáculo para a paz.


Em relação à a presença de Cuba na próxima Cúpula das Américas: “Nossos mandatários latino-americanos, e em especial os sul-americanos, respaldam que a irmã República de Cuba esteja presente de maneira incondicional na próxima Cúpula das Américas em condições de igualdade”.


A respeito do processo de paz que se leva a cabo na Colômbia: “Unasul reitera seu apoio aos diálogos de Paz na Colômbia e vê com satisfação o acordo alcançado no terceiro ponto relacionado com as drogas ilícitas. Os chanceleres da Unasul apoiam a construção de uma paz estável para todo o povo colombiano”.


Sobre a cúpula do G77+China, que se desenvolverá na Bolívia: “O Conselho de Ministros se congratula e se compromete com o desenvolvimento satisfatório deste evento; pelo que respalda ao governo boliviano em todos os aspectos logísticos e de organização”.


O Chanceler de Venezuela, Elías Jaua, agradeceu o respaldo que o povo venezuelano recebeu por parte da União de Nações Sul-Americanas [Unasul]. Qualificou de positivo a aceitação da denúncia que levou a terras equatorianas sobre a ingerência dos Estados Unidos contra o Estado.


Em nome do povo venezuelano agradeço pelo apoio que temos recebido em nossa luta contra as ações intervencionstas dos EUA”, disse. Ao mesmo tempo, aplaudiu a integração da região em tempos onde, segundo ele, o Governo dos Estados Unidos insiste em semear a instabilidade na região.


A seis anos da consolidação da Unasul, nos resta seguir trabalhando para contra-arrestar os ataques de Governos capitalistas”, asseverou.


VENEZUELA: OS RICOS INCITAN À VIOLÊNCIA ENQUANTO OS POBRES CONSTROEM UMA NOVA SOCIEDADE.


Por Darío Azzellini


Antes de Hugo Chávez ter chegado à presidência da Venezuela em 1999, os bairros de Caracas construídos precariamente nos morros nos subúrbios da capital nem sequer apareciam no mapa da cidade.


Oficialmente não existiam, nem as autoridades da cidade, nem o Estado se ocupavam de seu desenvolvimento urbano. Os habitantes pobres daquelas vizinhanças obtinham a água e eletricidade com tubulações e cabos instalados por eles mesmos. Estavam desprovidos de serviços tais como: coleta de lixo, salubridade e educação. Hoje em dia, os habitantes desses bairros estão organizando suas comunidades por meio de assembleias democráticas, conhecidas como Conselhos Comunais –dos quais hoje há mais de 40.000 no país.


As famílias de trabalhadores se uniram com o objetivo de estabelecer espaços comunitários e empresas cooperativas, assim como de coordenar programas sociais e reconstruir as casas de seus vizinhos, baseando suas ações nos princípios de solidariedade e coletivismo social.


Por outra parte, este tipo de organização comunitária tem conseguido o apoio governamental, principalmente por meio da lei dos Conselhos Comunais, decretada pelo presidente Chávez em 2006. Este apoio tem incentivado a formação de comunas, as quais cobrem grandes áreas e estão dirigidas por representantes dos conselhos comunais eleitos democraticamente. Devido a esta forma de organização, se dão as condições para o desenvolvimento de projetos sociais em grande escala.


Protestos violentos


Entre todas as noticias sobre manifestações opositoras e protestos que se difundem pelos grandes meios de comunicação, nunca se reporta alguma que provenha dos bairros de autogestão comunitária. Por outra parte, a imprensa a serviço da direita se dedica a informar diariamente de forma distorcida que os estudantes de todo o país estão protestando ante uma fragilizada situação econômica e pelos altos índices de criminalidade, e argumentam que só recebem como resposta a repressão das forças governamentais.


No entanto, a violência nas ruas que tem concentrado a atenção de todo o mundo tem se limitado a produzir-se em alguns lugares isolados –principalmente em zonas residenciais de ricos nas cidades de Caracas, Maracaibo, Valencia, San Cristóbal e Mérida- e não nos bairros onde vivem as classes pobres e trabalhadoras de Venezuela.


Contrariamente ao difundido pelos meios de comunicação internacionais, a grande maioria dos estudantes de Venezuela não participa nos protestos. Nem sequer um terço das pessoas detidas vinculadas às manifestações iniciadas em fevereiro são estudantes. É de destacar que Venezuela tem atualmente 2.6 milhões de estudantes [700.000 em 1998] –graças ao sistema de universidade pública criado pelo presidente Chávez.


Uma avaliação das recentes detenções indica que os líderes dos protestos costumam ser, em geral, uma mistura de traficantes de drogas, paramilitares e intermediários militares privados –em outras palavras, típicos mercenários preparados para qualquer tipo de operação militar desestabilizadora da CIA.


No sulino estado de Barinas, fronteiriço com a Colômbia, foram detidos dois organizadores de barricadas armadas. Um foi Hugo Alberto Nuncira Soto, quem havia sido detido pela Interpol, por ser membro de “Los Urabeños”, uma organização paramilitar vinculada ao tráfico de drogas, contrabando, assassinatos e massacres.


Em Caracas foram detidos os irmãos Richard e Chamel Akl –que pertencem a uma companhia militar privada, Akl Elite Corporation, e representam o braço venezuelano da empresa contratista privada Risk Inc.–. Foram detidos enquanto dirigiam um veículo blindado transportando armas de fogo, explosivos e equipamento militar. Este veículo havia sido equipado com dispositivos destinados a espalhar azeite e pregos nas ruas, ademais de levar granadas de gás lacrimogêneo, bombas caseiras, pistolas, máscaras de gás, coletes anti balas, equipamentos de visão noturna, tanques de gasolina e armas cortantes.


Após a morte de Chávez, em março do ano passado, a oposição venezuelana considerou que estavam dadas as condições para ganhar as eleições presidenciais, baseando-se mais que nada na presunção de que o povo eleitor já não seria influenciado pelo grande carisma de Chávez.


No entanto, o candidato líder da oposição, governador do Estado de Miranda, Enrique Capriles Radonski, perdeu novamente a eleição presidencial, agora ante o sucessor de Chávez, Nicolás Maduro.
Tendo sido derrotada em 18 de 19 eleições desde 1998, parte da oposição decidiu não esperar um tempo prolongado para ter uma nova e incerta possibilidade de uma vitória eleitoral; portanto, em lugar disso, se aventuraram a promover a desestabilização do país e desencadear a violência com o objetivo de derrocar o governo eleito.


As guarimbas [manifestações violentas] têm atuado nas municipalidades governadas por políticos antichavistas. Fazem-no tanto fomentando eles mesmos ações violentas ou abstendo-se de manter a segurança municipal, protegendo nos fatos as barricadas portadoras de bombas e armas de fogo.


Também se negaram à coleta do lixo, com o objetivo de aumentar a desordem.


A luta por uma nova sociedade


Do que estão temerosos os setores ricos em Venezuela e que os meios de comunicação da direita não mostram é que um sistema diferente é possível –e as classes trabalhadoras venezuelanas estão tratando de construí-lo.


Esta é a verdadeira razão pela qual Venezuela está sendo agredida. E, sem dúvida, se trata de um ataque traiçoeiro contra Venezuela, sua infraestrutura e suas propostas de futuro.


Em 1º de abril um grupo de guarimberos tocou fogo numa sede ministerial com bombas molotov, tendo 1.200 trabalhadores no interior do edifício. O fogo se iniciou perto da creche do ministério onde 89 bebês tiveram de ser evacuados pelos bombeiros.
Estes fatos letais são frequentes. Durante as semanas passadas, uma universidade foi incendiada, assim como creches, metrôs, ônibus, centros médicos, mercados de distribuição de alimentos, lugares de informação turística e outros espaços cívicos.
Em Mérida, um depósito de água potável foi deliberadamente contaminado com gasolina. Em Caracas, uma reserva natural localizada no lado norte foi incendiada, o que, por sua vez, provocou a destruição das linhas de energia elétrica que abastece parte da cidade.


Estes ataques têm as mesmas características que os provocados pela “contrarrevolução” da Nicarágua, apoiada pelos Estados Unidos, nos anos 1980’s, tratando-se de ataques contra objetivos que implicavam a destruição de obras realizadas pelo governo ou organizações comunitárias e desta maneira, em forma simbólica, significava um rechaço a qualquer alternativa ao sistema capitalista.


Como consequência da nacionalização das reservas petrolíferas e de gás, assim como do investimento do governo em programas sociais, Venezuela foi o único país no mundo que cumpriu com os objetivos de desenvolvimento do milênio promovido pelas Nações Unidas para 2015. Não há registro de que outros países tenham conseguido esse objetivo.


O índice de pobreza em Venezuela foi reduzido para menos da metade e a extrema pobreza se reduziu em 70%. Atualmente, a desigualdade social é a mais baixa de qualquer outro país da América Latina e do Caribe. A maioria do povo em Venezuela está muito melhor atualmente do que antes que Chávez fora eleito.


Não há dúvida alguma de que nestes momentos Venezuela está sendo afetada por uma difícil situação econômica. Sofreu uma alta inflação e uma marcada escassez em alimentação e energia elétrica durante o último ano.


Erros na administração e a corrupção são problemas reais; no entanto, o tema da escassez se deve primordialmente à especulação, ao contrabando, a uma intencional redução da produção, assim como o monopólio pelo setor privado, numa forma similar ao que sucedeu antes do golpe de estado no Chile promovido pelos EUA em 1973.


O representante das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura [FAO], quem esteve em Caracas em inícios de abril, ressaltou os admiráveis esforços do governo no sentido de aprofundar os programas sociais.


No último ano, a FAO reconheceu que Venezuela é um dos 18 países no mundo que conseguiu grandes progressos em combater a desnutrição, a qual se reduziu de 13.5% em 1990-92 para menos de 5% em 2010-12.


Devido a estas conquistas conseguidas pelo governo é que milhões de venezuelanos continuam vivendo normalmente, apesar dos efeitos da crise econômica, a qual geralmente golpeia primeiro aos pobres. Apesar das manifestações violentas por parte da oposição e tendo em conta a propaganda dos grandes meios internacionais de comunicação, identificados com as classes menos afetadas pela escassez e a inflação, a maior parte dos estudantes de Venezuela não participa nos protestos.


Porém, na realidade, poucos em Venezuela estão protestando; estão fazendo a guerra.


Nota: Tomado de "Creative Time Reports". Darío Azzellini é um cineasta que realizou uma série de documentários sobre Venezuela.


Tradução: Joaquim Lisboa Neto


terça-feira, 27 de maio de 2014

50 anos de Resistência!



Levantamos hoje nossa palavra, com a força do amor a favor da reconciliação nacional e, em especial, da unidade de nossos povos submetidos durante décadas ao poder cruel das oligarquias.


Nossa voz emerge para chamar, com sentimentos de fraternidade e esperança, as organizações sociais, políticas e populares em geral, as comunidades afro-colombianas, camponesas e urbanas castigadas pela miséria, as igrejas, os jovens e estudantes, as mulheres, o movimento LGBTI, as camadas médias, os acadêmicos e especialmente os povos indígenas, para além das dificuldades ou desencontros que houvéssemos tido em qualquer tempo e lugar, a empreender com mais determinação do que nunca, a marcha pela unidade pelas transformações radicais que a pátria nos reclama para rumar pelo caminho da paz com justiça social, em que todos encontremos o cenário de abrigo que  nos permita o bem viver e a concórdia.


Com sinceridade e profundo sentimento de alteridade, as FARC-EP clamam pela unidade popular e pela defesa da pátria hoje, a partir de uma circunstância em que, com convencimento, assumimos um processo de diálogo pela paz pensando em um destino melhor para a Colômbia: fato que, por ser anelo das maiorias, é causa que deveremos defender como uma só força de mudança.


Necessário é dizer que a paz é o direito síntese que está acima de tudo. Se não há paz não há nada; nem sequer país. A segurança uribista (do ex-presidente Uribe, 2002-2010) é um ardil que só acentua o caos. Não pode haver segurança para todos sem paz.


Queremos ressaltar a importância e o compromisso que revestem propósitos necessários, como o de encontrar a coincidência política dos setores populares e sua unidade em função da defesa do processo de diálogo para a consecução da paz com justiça social, que beneficie o conjunto da nação. Este "pòr-se de acordo" em função da paz dá início a um caminho de mudança, de aproximação, de portas abertas para dar cabida a todos na sociedade e nas instituições. Abrir-se ao diálogo para encontrar a verdade, a justiça integral e conseguir a paz após setenta anos de violência, impulsiona com maior vigor a marcha sem parar do processo constituinte que estamos aspirando.


Vem sendo construindo um processo constituinte após se tornar evidente a necessidade de superar a crise da justiça, das regiões, da terra e do território, dos recursos naturais não renováveis e do meio ambiente, dos órgãos de controle, do congresso nacional. Torna-se necessário, então, um ponto de encontro que vá além dos diálogos de Havana. Esta dinâmica deve transcender para a materialização de um grande acordo nacional que dê vida à Assembleia Nacional Constituinte, porque nesta instância histórica do pluralismo e do pluriculturalismo, a Constituição deve ser um acordo de convivência que interprete cabalmente o tempo presente; deve conter, igualmente, a alma requerida para desenvolver a necessária capacidade institucional que aposte por assimilar, com sabedoria os tempos que estão por vir.


Mas esta missão é de todos filhos e filhas da Colômbia e requer da opinião e do protagonismo de cada setor da sociedade. Consequentemente, chamamos as organizações sociais e populares a se expressarem. a que intercambiemos em torno de como deve ser o rumo a seguir em função desta causa. Vocês têm a palavra.


Nossa contribuição de início é expressar que, no caminhar constituinte que felizmente teve início para não ser interrompido, o sentimento pluricultural, os diversos povos indígenas e afro-colombianos, as múltiplas expressões sociais, como as organizações camponesas, estudantis do campo e da cidade, trabalhadores e patrões, movimentos políticos, setores informais da economia, crentes religiosos, não crentes e demais componentes do tecido nacional, devem ocupar desde já seu lugar, sem timidez alguma. Eventualmente, haverá que se aplicar a lei pela qual se convoca a sonhada Constituinte. Tal lei teria a faculdade constitucional de indicar a composição que haverá de ter essa Assembleia. Cabe na norma estabelecer circunscrições especiais para dar cabida a comunidades que devem ter presença em seu seio, com urgência social e sentido de paz. Tal é o caso dos povos indígenas e afro-colombianos e outros setores historicamente submetidos.


As FARC-EP é feitura de povo e, como tal, enfatiza seu sonho para que essa construção de unidade se multiplique em cada cenário de interlocução das organizações populares, tornando causa comum, por exemplo, na luta pelo reconhecimento das Zonas de Reserva Camponesa já estabelecidas na lei, na concretização do respeito aos territórios ancestrais indígenas e na consolidação de suas reservas, no realce dos territórios comunitários das negritudes e dos direitos da gente que fazem convergir sua existência nas zonas de realidade interétnica e interultural. Cada povo e cada comunidade devem garantir seu direito à terra e ao território em apoio mútuo, macomunadamente que, ao mesmo tempo que reconheça os direitos dos camponeses, reafirme os direitos adquiridos dos povos indígenas e afro-colombianos e ofereça, por fim, possibilidades de existência digna aos depauperados que habitam no campo  e na cidade, no entendimento de que a pátria é de todos e é contra a depredação das transnacionais e das burguesias locais que devemos defendê-la a partir do mais profundo do nosso ser indígena, de nosso ser negro, de nosso ser mulato, de nosso ser mestiço e mameluco vilipendiado e que grita com o peito aberto: já basta de tanta exploração!


Com a fé absoluta na integração e unidade dos nossos povos, com o fortíssimo ideal emancipatório que é o "macro cosmo da raça humana", com o imparável caminhar constituinte, com total compromisso e esperança na paz, deixamos os braços abertos para estreitarmos com os nossos irmãos no convite e na minga da unidade para a ação que nos liberte.
DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Bomba geoestratégica para os EUA: Rússia e China preparam canal interoceânico na Nicarágua


A parceria entre a Rússia, China e Nicarágua, para a construção de um canal interoceânico ligando o Atlântico ao Pacifico é uma poderosa bomba geoestratégica para os EUA, diz o escritor russo Alexander Projánov. À medida que aumenta as ameaças de invasão da Nicarágua pelos EUA, no norte do país, a Nicarágua assinou um acordo com Moscou em que navios de guerra russos que navegam nas águas do Mar do Caribe. E também que bombardeiros russos de longo alcance podem aterrissar na capital, Manágua, explica o especialista citado pelo Izvestia.



Recentemente, após uma reunião com o chanceler russo, Sergey Lavrov, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega destacou a posição continua do seu país em apoiar a Rússia na resolução pacífica dos conflitos no Oriente Médio, e na Ucrânia e rechaça categoricamente a política de sanções e os padrões duplos de moralidade estabelecidos pelos EUA.


Projánov diz ser improvável que a presença de navios e aviões russos na região venha provocar confrontos militares. A única coisa que é certa é o fato de que a abordagem da China e da própria Rússia está assustando o Ocidente, acrescentou o escritor russo.


A Nicarágua convidou empresas da China e da Rússia para que em parceria com o governo nicaraguense elas comecem a construir este canal, cujas obras deverão ser iniciadas no final deste ano e concluídas na sua totalidade em 2019.


Com uma profundidade de 27 metros, uma largura de 83 metros e um comprimento de 286 km, o canal da Nicarágua deverá ser o mais profundo, mais amplo e mais longo do que o seu homólogo no Panamá e terá um custo menor do que a construção o canal construído pelos EUA no Panamá.


Dois portos, uma na costa do Pacífico, e o outro na costa atlântica, aeroportos, tudo isso vem formar a grande capacidade do canal que oferecerá a possibilidade de economizar até 10 dias, em comparação com o do Panamá. E esta é uma grande economia, uma grande atração e uma grande competição, disse Projánov.


"E agora, as empresas russas e chinesas começam a atuar em uma área perto dos Estados Unidos. Claro, isso não é agradável para os americanos", disse ele.


O diretor do Instituto Nacional de Energia da Rússia, Sergey Pravosúdov, por sua vez, disse que o canal da Nicarágua enfraquece consideravelmente a posição dos EUA, causando um duro golpe para o prestígio de Washington na região.


"EUA controla os principais pontos das rotas marítimas do Canal do Panamá, o Canal de Suez e as principais rotas comerciais através de Singapura, Gibraltar, etc. Portanto, para EUA o surgimento de uma rota alternativa é um desafio direto", diz Pravosúdov citado pelo 'Svobodnaya Pressa’.




Tradução: Valter Xéu

domingo, 25 de maio de 2014

Juan Manuel Santos, actual presidente e, candidato "uribista" irão disputar segundo turno na Colômbia


O candidato do Centro Democrático, Óscar Iván Zuluaga, é o mais votado nas eleições presidenciais realizadas neste domingo (25/05) na Colômbia com 29,27% dos votos, seguido de perto pelo presidente Juan Manuel Santos, com 25,63%, quando já foram apurados 99,51 % dos sufrágios. Com isso, o atual presidente e Zuluaga, apradinhado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, disputarão a presidência em um segundo turno programada para o próximo dia 15 de junho.



Em terceiro lugar aparece Marta Lucía Ramírez, do Partido Conservador, com 15,55%, seguida pela esquerdista Clara López, do Polo Democrático Alternativo (PDA), com 15,28%; e Enrique Peñalosa, da Alianza Verde, com 8,33%. Outro personagem importante do pleito foi a alta abstenção: cerca de 60% dos colombianos aptos a votar não foram às urnas. 


A jornada eleitoral se caracterizou pela tranquilidade, sem incidentes graves de nenhum tipo, como consequência do cessar-fogo unilateral decretado pelas guerrilhas. Santos - economista de 62 anos que é forte aliado dos EUA -, fez progresso nas conversas de paz com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o que é considerado um marco da sua presidência. Ele promete chegar a um acordo definitivo de for reeleito para um segundo mandato de quatro anos.


Já Zuluaga, vem atacando fortemente o processo, dizendo que o governo daria a guerrilheiros imunidade judicial em troca do desarmamento. "Não se pode fazer com que a paz dependa de defender as FARC, como esse governo quer", disse Zuluaga, um ex-ministro de Finanças de 55 anos, em debate presidencial ocorrido na última quinta-feira. Toda a campanha foi marcada por uma forte troca de acusações e denúncias mútuas
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Com apoio de Opera Mundi

Processo de paz na Colômbia


O Governo brasileiro congratula-se com o povo e o Governo da Colômbia pela conclusão bem-sucedida, em 16 de maio, das negociações sobre o ponto "Solução ao problema das drogas ilícitas", no âmbito da Mesa de Conversações de Paz em Havana, onde se negocia o fim do conflito com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).


 22/05/2014 -
Com o acordo alcançado no dia 16, somado aos acordos anteriores sobre "Desenvolvimento agrário" e "Participação política", estão concluídos três dos seis pontos centrais da agenda de paz, o que demonstra a determinação das partes em encontrar solução definitiva para o conflito que trouxe tanto sofrimento ao povo colombiano.
O Brasil reitera seu apoio ao processo de paz e sua confiança em que o conflito interno na Colômbia possa ser solucionado pela via do diálogo. A paz na Colômbia não é objetivo apenas do povo colombiano, mas de todo o continente, devendo contribuir para o projeto de integração regional consubstanciado em torno da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL).
Fonte: Ministério das Relações Exteriores

sexta-feira, 23 de maio de 2014

VENEZUELA: Cidade Socialista Juan Pablo Peñaloza, o tempo da organização popular


por Marco Teruggi
(desde Venezuela para Resumen Latinoamericano)

Eliel García está de pé sobre uma ladeira andina. Atrás dele dois homens aram com um boi. O céu pesa sobre os chapéus. Na frente dele crescem morangos e amoras, um rio caído de uma laguna. Eliel conta sua história, que é a de muitos. Uma história com as mãos abertas sobre a manhã, afundadas na terra.

Ele é originário deste lugar, de Táchira, desta mesma montanha da qual se foi há vários anos a trabalhar na cidade, para depois regressar para organizar, com um projeto coletivo. Assim se fez –elegeram-no- porta-voz do Parlamento Comunal deste ensaio, esta realidade construída: a Cidade Socialista Juan Pablo Peñaloza.
Também é militante da Corrente Revolucionária Bolívar e Zamora, o movimento social e político que impulsionou esta experiência. A Corrente que, explica Eliel, “não vai na frente nem atrás, mas sim ao lado do povo, acompanhando-o, formando, ajudando, mobilizando”.

O primeiro a começar o trabalho de organização nesta zona foi Eduardo Cifuentes, um homem que trouxe a experiência acumulada na Cidade Comunal Campesina Socialista Simón Bolívar, situada no alto Apure, a primeira das três cidades socialistas impulsionadas pela Corrente no país.

Quando chegamos em 2008 encontramos uma paróquia onde a direita tinha espaço, onde eleitoralmente se perdia de 60 a 40. Hoje em dia, nas últimas eleições de 14 de abril, a Revolução ganhou de 75 a 25”, conta com sua filha nos braços, nascida em Juan Pablo Peñaloza.

Desde então se construíram as cinco comunas que compõem Juan Pablo Peñaloza, integradas por 19 conselhos comunais que agrupam um total de 1000 famílias. “Por aí vai o incômodo, ainda que nos digam que a lei não está, nós começamos com os conselhos comunais e a lei não estava, depois com as comunas e tampouco estava”, explica Eliel. “Se nos equivocamos, fazemos com o povo, não dentro de um gabinete”, acrescenta. Por trás dele, o arado continua seu avanço lento e obstinado.

Um passo no caminho

Primeiro, os conselhos comunais. Depois, as comunas. Agora, uma cidade socialista. Cada instância de organização popular –e sua agregação- está pensada num sentido: o Estado Comunal, o novo Estado projetado para substituir o atual, capitalista. Assim o descreve Eliel, nomeando o Plano da Pátria, o plano de governo para o ciclo 2013-2019 que, em sua apresentação, indica que se deve: “Pulverizar completamente a forma Estado-burguesa que herdamos, a que ainda se reproduz através de suas velhas e nefastas práticas, e dar continuidade à invenção de novas formas de gestão política”.

A nova institucionalidade, então, com ensaios, erros e acertos, que se cria –e recria-, entre muitos. Ali onde o governo comunal deve reger. Esse é o horizonte que atravessa os projetos e as práticas da Cidade Socialista, o sentido com o qual se dão os passos, e se compôs cada comuna, “que é tão importante para o socialismo como para a água para o ser humano”, no dizer de Eduardo.

Por isso falam de autogoverno, e buscam dar-lhe forma, dar-lhe vida nas comunidades. “Quando a Cidade Comunal se compõe, ao mesmo tempo em que se ia dando o processo das comunas, se arma o autogoverno. Ainda não existia a Lei das Comunas, o autogoverno era um porta-voz por cada conselho comunal e esse era o autogoverno da Cidade Comunal. Depois, aparece a Lei das Comunas e se lhe nomeia Parlamento Comunal”.

Isso, Yanina Settembrino explica. Ela é argentina. Antes de continuar falando, explica: “A Revolução Bolivariana tem a ver não somente com um projeto venezuelano, senão que também abriu a condição de possibilidade para todos os latino-americanos”.

O autogoverno é a prática que deve ser transversal em toda a Cidade Socialista. Em cada uma de suas instâncias. Desde esse olhar da Corrente, o órgão principal de decisão deve ser a assembleia de cidadãos e cidadãs de cada conselho comunal, enquanto o Parlamento Comunal deve ser mais uma instância de articulação do que de tomada de decisão.

Com o tempo de aprendizagem coletiva, conseguiram avançar nessa direção, como explica Yanina: “Buscamos que exista um autogoverno que possa decidir, que leve a vozaria de 1000 famílias para executar a política pública. Aqui não chegam funcionários sem que o Parlamento esteja informado, não chegam recursos sem que se discuta na comunidade”. O caminho para isso tem uma direção: de baixo pra cima.

Consolidando a economia comunal e campesina

Nas montanhas de Táchira a maioria dos habitantes é composta de campesinos, produtores. Muitos, como Eliel, durante décadas emigraram para buscar trabalho. Assim povoaram morros de Caracas e das grandes cidades do país. Poucos regressaram. Por isso, entre os projetos principais da Cidade Socialista existe uma necessidade transversal: a produção e a distribuição de alimentos.
Para debater cada um dos projetos, foram realizadas mesas de trabalho. Delas nasceram duas reivindicações que se tornaram conquistas: o primeiro Agropatria Comunal do país, e a instalação de uma Empresa de Propriedade Socialista, o Centro de
Armazenamento e Distribuição.

Duas ferramentas para responder as necessidades centrais dos campesinos: conseguir os insumos para produzir –vendidos através do Agropatria-, e a possibilidade de avançar para um sistema de distribuição organizado coletivamente, que possa terminar com o problema dos intermediários. Duas instâncias para avançar na autogestão, na independência comunal do Estado existente.

Com o Agropatria Comunal são os próprios produtores quem atendem aos produtores -992 no total-, e o conselho comunal é quem lhes faz seguimento”, explica Eliel. Quanto à perspectiva do Centro de Armazenamento e Distribuição, que em breve começará a funcionar, Eduardo explica que este deverá ter “um desenvolvimento produtivo endógeno, como falava o Comandante [Hugo Chávez] em 2006, a EPS tem que gerar seu excedente para o próprio sustento de seu espaço territorial e, depois que consigam consolidar seu espaço territorial, expandir-se para outras comunas, cidades comunais”.

Ademais desses dois pilares, a Cidade Socialista conseguiu outro projeto importante: o outorgamento de 100 casas. Javier Mauricio Valderrama, porta-voz do Parlamento e beneficiário de uma delas, conta com foi o processo: “Se fizeram assembleias nos conselhos comunais e nas comunas e se buscou as pessoas mais necessitadas; depois se discutiu no Parlamento Comunal”.

Isto, ele narra sentado numa plataforma de morangos com seu filho sobre os joelhos, e destaca: “Nós mesmos vamos executar [o projeto], como beneficiários”. Resolver as demandas –a dívida histórica- com protagonismo popular em cada uma das discussões, decisões e execuções, essa é a folha de rota da Cidade Comunal.

Até onde?

Autogoverno, empoderamento, governo comunal, protagonismo popular são palavras que formam parte do léxico cotidiano da Cidade Socialista. Para conquistá-lo –isto é, dar corpo e massividade a essas ideias- recorreram a uma ferramenta que definem como imprescindível: a formação política.

Para isso levam adiante, em outras instâncias, a Escola Nacional de Formação de Comuneiros e Comuneiras Oligarcas Tremei. “Trabalhamos com a metodologia da educação popular, todas as pessoas têm direito de opinar, de explicar seu pensamento”, explica María Ochoa. Ela é facilitadora da escola, e militante da Corrente Revolucionária.

Assim, ao cair a noite envolvida em neblina, são dezenas de comuneiros e comuneiras, jovens e adultos, os que, depois de uma jornada de trabalho, se aproximam das 3 escolas onde se desenvolve simultaneamente a formação. “O povo diz que a cada dia quer aprender um pouco mais sobre o processo revolucionário”, conta María antes de entrar na sala para refletir, nesse dia, sobre o poder popular socialista.

Mais, essa é então a estratégia. Assim fundaram conselhos comunais, comunas e este novo passo: uma cidade socialista. Que segue? Até onde? Como continuar depois das ciudades socialistas? Seguirão os comuneiros e as comuneiras de Juan Pablo Peñaloza ao ritmo da organização popular sem importar as leis? Repetirão novamente com o poeta Juan Gelman: “Quem disse alguma vez: até aqui o homem, até aqui não?”?

Por isso fazem. A cada dia. Para ir para mais, sustentando nas mãos esse horizonte de Estado Comunal e avançar criando, sendo governo –“o que manda desde baixo, obedecendo”-, como diz Yanina. Então, talvez algum dia a história marque “até aqui”. E nessa hora o povo dirá, esse povo empoderado do qual forma parte Eliel, que acrescenta antes de partir, “isto se começa, porém nunca se termina”, deixando a montanha só com o ruído do arado.

Tradução: Joaquim Lisboa Neto


quinta-feira, 22 de maio de 2014

Romper o silêncio: o limiar de uma guerra mundial


por John Pilger
Por que toleramos a ameaça de outra guerra mundial?

Por que permitimos mentiras que justificam este risco? A escala do nosso doutrinação, escreveu Harold Pinter, é um "acto de hipnose brilhante, mesmo jocoso e altamente conseguido", como se a verdade "nunca acontecesse mesmo enquanto estava a acontecer".

Todos os anos o historiador americano William Blum publica o seu "sumário actualizado do registo da política externa estado-unidense" o qual mostra que, desde 1945, os EUA tentaram derrubar mais de 50 governos, muitos deles eleitos democraticamente; interferiu grosseiramente em eleições de 30 países; bombardeou as populações civis de 30 países; utilizou armas químicas e bacteriológicas e tentou assassinar líderes estrangeiros.

Em muitos casos a Grã-Bretanha foi uma colaboradora. O grau de sofrimento humano, sem mencionar a criminalidade, é escassamente reconhecido no ocidente, apesar a presença das mais avançadas comunicações do mundo e nominalmente do jornalismo mais livre. Que a maior parte das numerosas vítimas do terrorismo – o "nosso" terrorismo – é muçulmana, é indizível. Que o jihadismo extremo, o qual levou ao 11/Set, foi cultivado como uma arma da política anglo-americana (Operação Ciclone no Afeganistão) é omitido. Em Abril do Departamento do Estado dos EUA observou que, a seguir à campanha da NATO em 2011, "a Líbia tornou-se um abrigo seguro para terroristas".

O nome do "nosso" inimigo mudou ao longo dos anos, de comunismo para islamismo, mas na generalidade é qualquer sociedade independente do poder ocidental e a ocupar território estrategicamente útil ou rico em recursos. Os líderes destas nações obstrutivas habitualmente são violentamente empurrados para o lado, tais como os democratas Muhammad Mossedeq no Irão e Salvador Allende no Chile, ou são assassinados como Patrice Lumumba no Congo. Todos eles são sujeitos a uma campanha de caricaturas e difamação pelos media ocidentais – basta pensar em Fidel Castro, Hugo Chávez, agora Vladimir Putin.

O papel de Washington na Ucrânia é diferente apenas quanto às suas implicações para todos nós. Pela primeira vez desde os anos Reagan, os EUA ameaçam levar o mundo à guerra. Com a Europa oriental e os Balcãs agora como postos avançados da NATO, o último "estado tampão" ("buffer state") a bordejar a Rússia está a ser despedaçado. Nós no ocidente estamos a apoiar neo-nazis num país onde nazis ucranianos apoiaram Hitler.

Tendo engendrado o golpe de Fevereiro contra o governo democraticamente eleito de Kiev, o plano de Washington de tomar a histórica e legítima base naval da Rússia em águas quentes, na Crimeia, fracassou. Os russos defenderam-se, tal como o fizeram contra toda ameaça e invasão do ocidente durante quase um século.

Mas o cerco militar da NATO acelerou-se, juntamente com ataques orquestrados pelos EUA a russos étnicos na Ucrânia. Se Putin puder ser provocado a vir em sua ajuda, o seu papel pré-decretado de "pária" justificará uma guerra de guerrilha dirigida pela NATO que provavelmente se estenderá à própria Rússia.

Putin, ao invés, confundiu o partido da guerra ao procurar uma acomodação com Washington e a UE, ao retirar tropas da fronteira ucraniana e ao instar os russos étnicos na Ucrânia oriental a abandonarem o referendo provocatório do fim de semana. Este povo que fala russo e é bilingue – um terço da população da Ucrânia – deseja há muito uma federação democrática que reflicta a diversidade étnica do país e seja tanto autónoma como independente de Moscovo. Na maior parte não são nem "separatistas" nem "rebeldes" mas cidadãos que querem viver em segurança na sua pátria.

Tal como as ruínas do Iraque e do Afeganistão, a Ucrânia foi transformada pela CIA num parque temático – dirigido em Kiev pelo director da CIA John Brennan, com "unidades especiais" da CIA e do FBI a instalarem uma "estrutura segura" que supervisione ataques selvagens àqueles que se opõem ao golpe de Fevereiro. Assista aos vídeos, leia os relatos de testemunhas oculares do massacre em Odessa este mês. Bandidos fascistas transportados em autocarro incendiaram a sede da casa dos sindicatos, matando 41 pessoas presas no seu interior. Observe a polícia de prontidão. Um médico descreveu como tentou resgatar pessoas, "mas fui impedido por radicais nazis pró ucranianos. Um deles empurrou-me para longe brutalmente, prometendo que em breve eu e outros judeus de Odessa iriam deparar-se com o mesmo destino... Gostava de saber porque todo o mundo está a manter silêncio".

Os ucranianos de língua russa estão a combater pela sobrevivência. Quando Putin anunciou a retirada de tropas russas da fronteira, o secretário da defesa da junta de Kiev – um membro fundador do partido fascista Svoboda – jactou-se de que os ataques a "insurgentes" continuariam. Em estilo orwelliano, a propaganda no ocidente inverteu isto para Moscovo "a tentar orquestrar conflitos e provocação", segundo William Hague. O seu cinismo vai a par com as grotescas congratulações de Obama à junta golpista pela "notável contenção" a seguir ao massacre de Odessa. A junta, ilegal e dominada por fascista, é descrita por Obama como "devidamente eleita". O que importa não é a verdade, disse outrora Henry Kissinger, mas "o que é percebido ser verdadeiro".

Nos media dos EUA a atrocidade de Odessa foi subestimada como "nebulosa" e uma "tragédia" na qual "nacionalistas" (neo-nazis) atacaram "separatistas" (pessoas a colectarem assinaturas para um referendo sobre uma Ucrânia federal). O Wall Street Journal de Rupert Murdoch condenou as vítimas – "Incêndio fatal na Ucrânia provavelmente ateado pelos rebeldes, diz o governo".

A propaganda na Alemanha tem sido pura guerra fria, com o Frankfurter Allgemeine Zeitung a advertir os seus leitores para uma "guerra não declarada" da Rússia. Para alemães, é uma ironia odiosa que Putin seja o único líder a condenar a ascensão do fascismo na Europa do século XXI.

Um truísmo popular é que "o mundo mudou" a seguir ao 11/Set. Mas o que mudou? Segundo o grande denunciante Daniel Ellsberg, um golpe silencioso teve lugar em Washington e agora domina o militarismo desenfreado. O Pentágono actualmente dirige "operações especiais" – guerras secretas – em 124 países. Internamente a ascensão da pobreza e a hemorragia da liberdade são o corolário histórico de um estado de guerra perpétuo. Acrescente-se o risco de guerra nuclear e a pergunta que resulta é: por que toleramos isto? 
Maio/2014

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Duménil e os mantras neoliberais: cortar gastos sociais, reduzir custos do trabalho


No capitalismo, há cada período de cinco anos, aproximadamente, temos uma recessão, onde a produção diminui durante um ano mais ou menos. Mas há outro tipo de problema, mais grave, que são as crises estruturais que trazem perturbações para a economia do mundo inteiro. Desde 2007 estamos vivendo uma dessas crises que atingiu o modelo neoliberal como um todo e ainda não terminou.


A avaliação é do economista francês Gérard Duménil, pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), que esteve em Porto Alegre para lançar seu livro “A Crise do Neoliberalismo”, lançado no Brasil pela Boitempo Editorial. Duménil teve um dia cheio em Porto Alegre na quinta-feira: gravou uma entrevista para o programa Frente a Frente, na TVE, e fez palestras na Fundação de Economia e Estatística (FEE) e na PUC-RS. Antes de Porto Alegre, Duménil também lançou o livro em São Paulo (dia 24 de abril) e em Foz do Iguaçu (dia 5 de maio).


Escrito em conjunto com o também pesquisador Dominique Lévy, a obra analisa a atual crise econômica global e os fatores que deram origem a ela. Duménil defende que a crise iniciada em 2008 poderá se estender por um período superior a dez anos, em função dos problemas vividos pelas economias dos Estados Unidos e da União Europeia, em especial o aumento da dívida pública.


A Crise do Neoliberalismo” discute temas como a financeirização econômica, a reestruturação produtiva, as lutas de classes e as relações internacionais às portas de uma nova ordem global multipolar. O livro analisa a chamada “Grande Contração” de 2007-2010 no contexto da globalização neoliberal. Entre os problemas enfrentados hoje pelos Estados Unidos, os autores citam a queda do investimento interno na indústria, uma dívida doméstica insustentável e a crescente dependência de importações, que aliados ao desenvolvimento de uma estrutura financeira global frágil, ameaçam a força do dólar. Duménil e Lévy preveem que, a menos que haja uma alteração radical da organização político-econômica dos EUA, o centro político e econômico o neoliberalismo, haverá um declínio agudo da economia norte-americana, com implicações para todo o mundo.


O economista francês caracteriza a crise atual como uma crise de hegemonia financeira, similar a que ocorreu no período da Grande Depressão, nos anos 30. Neste tipo de crise, explicou, o capitalismo explode por falta de controle. “Sempre há um aspecto financeiro muito importante neste tipo de crise. Corresponde ao que Marx e Engels chamaram no Manifesto Comunista de aprendizes de feiticeiros, que são os capitalistas que acabam perdendo o controle sobre um certo tipo de mágica financeira que inventam”. No caso atual, a mágica girou em torno do mercado de fundos derivados que escapou completamente do controle de seus criadores. O capitalismo, assinalou, sempre se recuperou de todas essas crises, mas isso sempre provocou também mudanças importantes no funcionamento do sistema.


Intelectual de formação marxista, Duménil defende que o neoliberalismo deve ser pensado levando em conta a existência de relações de poder entre as classes sociais. No período da Grande Depressão, exemplificou, a renda das classes capitalistas diminuiu enormemente. Já o período do pós-guerra teve como novidade mais importante a criação do Estado de Bem-Estar Social e o fortalecimento da social-democracia europeia. Com a crise dos anos 70, as classes capitalistas conseguiram de novo impor seu poder e deram origem ao neoliberalismo. Entre cada crise, resume, há o surgimento de uma nova ordem econômica social, mais à esquerda ou mais à direita.


O que há em comum em todos esses processos, sustenta ainda o economista francês, é a permanência de uma lógica de classe. “As palavras esquerda e direita seguem tendo um significado de classe. Após a crise dos anos 70, as classes capitalistas conseguiram impor uma nova ordem social, gerando uma grande acumulação de riqueza, cujo montante não temos como conhecer em função da existência dos paraísos fiscais”.


O centro do mundo neoliberal está nos Estados Unidos, aponta Duménil. Na Europa, esse modelo apresenta algumas variações. “A Alemanha tem hoje um governo de direita, mas é um país menos neoliberal que a França, por exemplo, onde houve um processo de financeirização muito grande, o que ocorreu também na Espanha”, exemplifica. Ao falar da situação desses países, Duménil detalha com mais precisão o que define, afinal de contas, o neoliberalismo.


As empresas hoje nos Estados Unidos recompram suas próprias ações para aumentar a cotação das mesmas nas bolsas de valores. Com a globalização financeira, o Banco Central dos EUA acabou perdendo o controle sobre o comportamento do sistema financeiro. Some-se a isso, o desequilíbrio do comércio exterior e o processo de endividamento das famílias e temos os ingredientes que fizeram a crise explodir.”


O economista ressaltou que nem todos os países foram atingidos do mesmo modo pela crise. “Essa não é uma crise mundial, não há uma crise na China ou no Brasil, por exemplo. O mais grave é que nos Estados Unidos e na Europa há uma tendência de declínio da taxa de investimentos. Se essa tendência continuar eles vão perder seu domínio mundial”.


O que há de diferente na crise atual, em comparação ao que ocorreu nos anos de 1930, destacou Duménil, é que agora não ocorreu uma grande depressão por causa de políticas muito fortes que foram aplicadas rapidamente. “Não esperaram três ou quatro anos para tomar medidas, como ocorreu na crise dos 30. Foram feitas grandes operações de empréstimos para socorrer o sistema financeiro e adotadas políticas orçamentárias muito fortes. Houve um preço a pagar. A dívida dos EUA aumentou 37% por causa do crescimento do déficit fiscal do governo, mas com isso conseguiram evitar uma grande depressão”.


E o que acontece agora? Duménil responde:



“Nos
EUA, continua enorme o poder das grandes corporações capitalistas e financeiras. Por outro lado, temos uma atuação muito forte o governo Obama. Neste sentido, temos um neoliberalismo (financeirização) menos liberal, com forte intervenção do Estado, adoção de práticas comerciais protecionistas mais ou menos disfarçadas e uma política orçamentária muito forte, geradora de um grande déficit também. Além isso, a Reserva Federal (Banco Central dos EUA) está usando políticas muito fortes para controlar as taxas de juro de longo prazo. Com isso, os EUA conseguiram retomar um crescimento de 2%. Devemos considerar aí também a existência do fator nacional, que é a preocupação norteamericana com a manutenção da hegemonia no mundo. Mas eles não conseguirão manter esse ritmo sem mudar as regras do neoliberalismo”.


A Europa, segundo a análise de Duménil, tem uma política mais à direita do que aquela praticada hoje pelos EUA. “Na Europa, os governos só se preocupam em tranquilizar os bancos e diminuir os déficits dos governos. O problema é que cada vez que se diminui o déficit orçamentário, o país entra em recessão. No caso da Europa, não há o fator nacional operando como no caso dos EUA”.


A situação da China e do Brasil é diferente, apontou. “A China está criando um sistema capitalista sob o comando do Partido Comunista. Não é um capitalismo neoliberal pois o governo controla tudo. Assim como nos EUA, há um forte fator nacional operando nas decisões do governo chinês. A situação do Brasil é um pouco intermediária. A economia do país tem elementos neoliberais, como a presença forte do sistema financeiro e seus agentes, mas tem também políticas sociais importantes, como o Bolsa Família e a valorização do salário mínimo, além de ter também um fator nacional operando, um projeto nacional. O Brasil conseguiu se inserir na globalização de um modo eficaz”.


Diante deste cenário, Duménil previu dificuldades para o Brasil nos próximos anos, mas apontou diferenças existentes no conjunto das políticas implementadas aqui, em relação ao que ocorre hoje principalmente na Europa, onde a preocupação central é reduzir os gastos dos governos, discurso adotado pela oposição ao governo Dilma e pela maioria dos meios de comunicação. O economista francês, aliás, manifestou surpresa com a manchete da entrevista que concedeu ao jornal Zero Hora: “Na entrevista, eu falei mais de 20 minutos e na última frase levantei uma hipótese sobre as dificuldades que o Brasil pode enfrentar. Pois essa última frase virou a manchete da entrevista”. Questionado sobre o papel da mídia no sistema neoliberal, Duménil disse:


É horrível. Eu tomo meu café da manhã na França ouvindo rádio. Não sei como meu estômago aguenta. Tento ler um pouco o Le Monde, mas está cada vez pior. É pura propaganda. Repetem o mesmo mantra: diminuir os custos do trabalho e cortar os gastos sociais. Não há alternativa, repetem à exaustão”.


Nós precisamos sair do neoliberalismo”, concluiu Duménil. “Isso significa mudar a forma de administrar as empresas, mudar as regras do comércio exterior e controlar os movimentos de capitais. Isso exige uma luta política muito forte”. O neoliberalismo, assinalou, é resultado de uma construção de muitos anos, que começou no pós-guerra e se consolidou a partir dos anos 70. Hoje, apesar da crise, esse modelo segue forte e conta com um trabalho de propaganda diário executado pelos meios de comunicação, que se tornaram um braço ideológico e também econômico do neoliberalismo. É isso que explica que, no café da manhã que Duménil toma na França ou no café da manhã que alguém toma em Porto Alegre, escute-se o mesmo mantra no rádio, nas televisões ou nos jornais (ou na internet): diminuir os gastos do governo, cortar gastos sociais, diminuir os custos do trabalho. Aí está o resumo da disputa eleitoral deste ano no Brasil.