"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 31 de março de 2015

Frei Betto

Como o senhor avalia o atual momento do País?

O Brasil está vivendo um momento de crise política e econômica. Prevejo quatro anos de governo Dilma com muita turbulência, manifestações, greves, impasses. E me pergunto se, em 2018, o PMDB apoiará o candidato do PT. Como bom mineiro, desconfio que não e não me surpreenderei se o PMDB lançar um candidato próprio, com apoio do PSB e outros pequenos partidos. A questão é que tivemos 12 anos de governo do PT que, na minha avaliação, apesar de todos os pesares – e põe pesares nisso –, foram os melhores da nossa história republicana, sobretudo no quesito social. Efetivamente, 36 milhões de pessoas deixaram a miséria. Hoje, os aeroportos deixaram de ser um espaço elitista. Se vamos em um barraco de favela, lá dentro tem TV a cores, micro-ondas, máquina de lavar, fogão, geladeira, telefones celulares, talvez um computador e, possivelmente, no pé do morro, um carrinho que está sendo comprado em 60, 90 prestações mensais. Porém, essa família continua no barraco, sem saneamento, em um emprego precário, sem acesso a saúde, educação, transporte público e segurança de qualidade. O governo facilitou o acesso dos brasileiros aos bens pessoais, mas não aos bens sociais.

O que faltou?

Não tivemos, em doze anos, nenhuma reforma de estrutura, nenhuma daquelas prometidas nos documentos originais do PT. Nem a agrária, nem a tributária, nem a política. E aí poderíamos acrescentar nem a da educação, nem a urbana. Em suma, o que falta ao governo – e desde 2003 – é planejamento estratégico.

Como assim?

Governa-se na base dos efeitos pontuais, da administração de crises ocasionais, porque o PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder. Permanecer no poder se tornou mais importante do que fazer o Brasil deslanchar para uma nação justa, livre, soberana e igualitária. Como é que um governo que pretende desenvolver a nação brasileira cria um ministério que eu qualifico de coral desafinado? O que tem a ver Joaquim Levy com Miguel Rossetto? Kátia Abreu com Patrus Ananias? José Eduardo Cardozo com George Hilton?
Em artigo publicado pouco antes das eleições, o senhor listou 13 razões para votar na Dilma. Agora, escreveu novo artigo, A Farra Acabou, com críticas ao governo. O que mudou?

O que mudou é que, infelizmente, aquelas 13 razões não foram abraçadas no segundo mandato de Dilma. A presidente montou um ministério esdrúxulo, que não conseguiu nem sequer ter um projeto de Brasil minimamente emancipatório, como era o Fome Zero. Aliás, o próprio governo que o criou o matou, substituindo-o por um programa compensatório chamado Bolsa Família – que é bom, mas não tem caráter emancipatório. Todo o governo opera agora em função de um detalhe, não de um projeto histórico, que é o ajuste fiscal. E penalizando os mais pobres, não o capital. Todas as bases desse ajuste estão em cima da redução do seguro-desemprego, do abono salarial, do imposto sobre o consumo. E nada em termos das grandes heranças, dos royalties que saem do País, das grandes transferências de dinheiro, dos brasileiros que têm dinheiro nos paraísos fiscais. A conta vai ser paga por aqueles que já lutam com dificuldade.

O senhor quer dizer que estamos em um caminho sem volta?

O grave do governo do PT – tendo sido construído e consolidado pelos movimentos sociais – foi, ao chegar ao Planalto, ter preferido assegurar sua governabilidade com o mercado e com o Congresso e escantear os movimentos sociais. Hoje, eles são tolerados ou, como no caso da UNE e da CUT, manipulados, invertendo o seu papel. Com isso, o PT ficou refém desse Congresso, dependendo de alianças espúrias. Agora, o seu grande aliado, o PMDB, se rebela, cria – com o perdão da expressão – uma cunha renana para asfixiar o Executivo. Se alguém me pergunta “qual é a saída”? É o PT ser fiel às suas origens. Buscar a governabilidade pelo estreitamento de seus vínculos com os movimentos sociais. Ou seja, o segmento organizado, consciente e politizado da nação brasileira. Fora disso, tenho a impressão de que estamos começando a assistir ao começo do fim. Pode até perdurar, mas o PT tende a virar um arremedo do PMDB. Creio que cabe hoje, ao governo, fazer uma autocrítica séria.

Por meio dos movimentos sociais é que seria possível recuperar a imagem do partido?

Exatamente. O PT precisa sair da posição de bicho acuado em que se colocou. O partido, até hoje, não declarou se os envolvidos no mensalão são inocentes ou culpados; o partido, até hoje, não declarou se ele, que governa o Brasil e, portanto, a Petrobras, tem ou não responsabilidade na devassa que está sendo feita na maior empresa brasileira. O partido se afastou das bases sociais. Onde estão os núcleos populares que, nos anos 80, encantavam todas as pessoas que chegavam na zona leste de São Paulo, em uma favela, e a dona Maria, orgulhosamente, mostrava um barracão que era a sede do núcleo do PT? Onde está o trabalho de base, de formação política? Embora não tenha sido militante do PT, mas como ajudei a construir o partido por meio do trabalho pastoral, hoje me pergunto: onde estão os líderes do PT que, aos fins de semana, voltam para as favelas e periferias? Onde estão os líderes do PT que não tiveram um assombroso aumento de seu patrimônio familiar durante esses anos, a ponto de não se sentirem mais à vontade em uma assembleia de sem-teto, em uma aldeia indígena, em um fim de semana em um quilombola? Onde estão eles? Existem. São raros. Não vou citar nomes, mas tenho profundo respeito por militantes e dirigentes do PT que são muito coerentes com aquele PT originário. Mas, infelizmente, eles são exceção.

Como disse recentemente a senadora Marta Suplicy, “ou o PT muda ou acaba”.

É como já disse, o PT tem de mudar no sentido de voltar às suas origens e às suas bases sociais. Acabar não vai, porque tem tantos oportunistas que ingressaram no PT como rampa de acesso às benesses do poder, que o partido tende, inclusive, a inchar de gente que não tem nada a ver com as suas origens. Dou um exemplo: curiosamente, coincidindo com o dia em que a presidente entrega à nação um pacote anticorrupção, no estado do Rio um prefeito é flagrado na corrupção. O que esse cidadão tem a ver com a história de um partido que, ao nascer, se afirmou por três capitais: ser o partido ético na política brasileira, ser o partido dos pobres e ser o partido que, a longo prazo, construiria uma alternativa ao País, com uma sociedade socialista? O PT abandonou os três capitais. Esse pessoal que não tem a ver com o PT viu que, sendo do partido, o maná cai do céu. Fico me perguntando quantos outros exemplos não devem existir por esse Brasil afora?

Poderíamos apontar um culpado por esse rumo diferente que o partido tomou? O ex-presidente Lula?
J
amais, na minha análise – isso é um princípio – personalizo os acontecimentos. Porque não acredito que a história humana seja feita por meio de salvadores da pátria. É feita de movimentos e processos sociais. É preciso que haja uma luta interna no PT muito acirrada para que o partido seja minimamente coerente com suas origens e propostas.

O senhor é a favor do “volta, Lula”? Ele poderia “salvar” o governo desta atual crise?

Minha avaliação é que Lula só não será candidato à presidência em 2018 se morrer. Fora isso, tenho absoluta segurança de que ele será candidato. Não foi ele que me disse isso, é apenas da minha cabeça. Mas a questão não é “com o Lula voltando, as coisas vão se resolver”. O problema é o rumo que o partido tomou e imprimiu ao governo do Brasil. Há coisas extremamente positivas, mas a expectativa era muito maior. Governo se faz com luta interna, aprendi isso nos dois anos em que estive lá. Governo é como feijão, só funciona na panela de pressão. Aquilo é um caldeirão em fervura permanente. Mas é preciso que haja alguns segmentos dentro do governo capazes de elaborar uma proposta estratégica a longo prazo, que sirva de norte para as políticas. E isso não existe hoje.

O que existe?

Um pacote de propostas pontuais. A falta de horizonte histórico no projeto do governo, agravada pelo fim das ideologias libertárias desde a queda do muro de Berlim, é o que explica por que o debate político hoje desceu do racional para o emocional. É como briga de casal. Quando se perde um projeto amoroso ou da família, emoções afloram, insultos, ofensas, sentimento de ira e vingança, porque não se tem horizonte. Quando esse horizonte histórico existe, quando se tem projeto estratégico, o debate democrático fica no nível da racionalidade, não da emocionalidade. Mas essa fúria nacional que perpassa todos os ambientes só vai terminar se houver alguma força política que aponte um projeto histórico.

Novo estudo mostra como os EUA agem desde 1962 para destabilizar o Brasil e sua politica interna e externa



Por Flávio Sérvio



O que parecia mais uma teoria da conspiração agora ganha força como fato plausível: Washington pode estar movimentando sua inteligência para desestabilizar governos da América Latina, inclusive o do Brasil. O risco de ser taxado de alienado faz com que poucos abordem o assunto. Porém, aos poucos, parte da mídia observa a hipótese de que o governo dos Estados Unidos considera a presença do PT no Palácio do Planalto uma ameaça geopolítica.
Aliada histórica dos EUA, a direita brasileira já usou do mesmo expediente no passado. E com uma atuação semelhante. O maior símbolo empresarial brasileiro, a Petrobras, por exemplo, foi alvo de uma campanha difamatória que misturou Comissões Parlamentares de Inquérito com acusações de que a estatal servia aos interesses comunistas.

Pesquisamos as edições de 1960 a 1964 dos jornais A Noite, Jornal do Brasil, Correio da Manhã, Diário de Notícias, Diário do Paraná, Folha de São Paulo, O Globo, Última Hora e Tribuna da Imprensa e foi encontrado um cenário político semelhante ao que vivemos atualmente. Notícias de crise econômica, a proximidade com a Rússia, China e países da América Latina e, não por acaso, denúncias de corrupção na Petrobras. O levantamento demonstrou que o papel exercido por parte da imprensa, a atuação da embaixada americana no Brasil e as movimentações da direita brasileira em 1964 tem uma verossimilhança com fatos que ocorrem atualmente no Brasil.

Escândalos na Petrobras serviram para desestabilizar João Goulart

Antes do Golpe de 64, em 1961, uma CPI investigou supostas irregularidades na construção de refinarias da empresa. Era presidida pelo então deputado federal Antônio Carlos Magalhães que pertencia aos quadros da UDN. A investigação em cima da estatal brasileira de petróleo durou cerca de três anos. Suficiente para manter o discurso da direita contra Jango ocupando páginas dos jornais e noticiários de rádio.
O fato, além de revelar que a corrupção naquela empresa não começou nos dias atuais, demonstra algo ainda mais emblemático: atacar a Petrobras desestabiliza o governo federal.

Símbolo do nacionalismo, mergulhar a maior empresa brasileira em escândalos torna a opinião pública suscetível ao sentimento de corrupção generalizada. No passado, funcionou como um dos ingredientes para desestruturar o governo de João Goulart, presidente que assumiu o mandado após a renúncia de Jânio Quadros, e que fora deposto em 1964 após uma intensa onda de desarticulação política que envolveu o Congresso Nacional, manifestações nas ruas, uma campanha de combate à corrupção e discursos anti-comunistas.
Um relatório da CPI foi divulgado às vésperas do Golpe de 64, precisamente um mês antes, e de forma incompleta. Foi mais um motivo para justificar o próprio golpe.
Após a instalação do regime militar, o assunto praticamente desapareceu das páginas dos jornais.

1964: intervenção americana não era teoria conspiratória

Dentro do processo de tornar público arquivos secretos americanos decorridos 50 anos dos fatos que geraram os documentos, recentemente, o governo dos EUA disponibilizou gravações e informações sobre o período que antecedeu o golpe de 1964 no Brasil. Os documentos comprovaram o que, até a sua divulgação, era tratado no Brasil como teoria conspiratória: o golpe militar de 1964 teve participação e apoio direto do governo norte-americano.


João Goulart, que não viveu para ver a publicação das informações, morreu sem acreditar que houve uma intervenção deliberada dos EUA.

Em uma entrevista publicada no começo deste ano, até então inédita, concedida ao jornalista norte-americano John Foster, em 1967, Goulart disse: “sob John Kennedy, os Estados Unidos recuperaram sua perspectiva positiva da América Latina. Os Estados Unidos tiveram então uma política correta, uma que estava em comunhão com o povo. Kennedy era favorável à autonomia dos governos da América e era a favor dos benefícios sociais para a população.”

A história provou que Goulart estava errado. Em 7 de outubro de 1963, Kennedy esteve reunido com Lindon Gordon, embaixador americano no Brasil na época, que sugeriu ao então presidente americano que o golpe militar era uma opção para se resolver a crise política brasileira.

Nas gravações, Kennedy perguntou, referindo-se a João Goulart: “Temos alguma decisão imediata para pressioná-lo?”, “O que devemos fazer imediatamente no campo político, nada?”, prosseguiu, sobre as atitudes esquerdistas de Goulart.
Gordon revelou haver dois planos: “Goulart abandona a imagem [de esquerdista] e resolve pacificamente. Ou talvez não tão pacífico: ele pode ser tirado involuntariamente”.


Dois meses antes, em agosto de 1963, a Embaixada dos EUA no Brasil encaminhou um telegrama ao Departamento de Estado em Washington. O documento levava a seguinte afirmação de Lindon Gordon: “é quase certo que Goulart fará tudo para instituir alguma forma de regime autoritário”. Documentos do Wikileaks vazados em 2011 revelaram que a Embaixada Americana continua a enviar informações sobre o governo brasileiro aos Estados Unidos.
Em 2007, Heráclito Fortes pediu intervenção dos EUA no Brasil

Um dos políticos que já colaborou secretamente com o governo dos EUA é ninguém menos que o atual deputado federal pelo PSB e ex-senador piauiense pelo PFL, Heráclito de Sousa Fortes. Em documento secreto da Embaixada Americana datado de 13 de novembro de 2007 e enviado à CIA(serviço de inteligência norte-americano), NSA (Agência de Segurança Nacional) dos EUA e ao Departamento de Energia dos Estados Unidos, o então senador, que era presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, repassou informações sigilosas para Washington e instigou uma ação de intervenção mais dura no Brasil. “Vocês são crianças: você ignora o problema demoradamente e então é tarde demais”, disse Heráclito de uma forma tão enfática que essa parte do relatório recebeu do embaixador Sobel o título de “You are Children” – Vocês são crianças.



O relatório, identificado como 07BRASILIA2132 - IRAN-RUSSIA-VENEZUELA TRIANGLE THREATENS REGIONAL STABILITY – tradução: o Triângulo Iran-Rússa-Venezuela ameaça a estabilidade regional”, foi escrito pelo então embaixador dos EUA no Brasil Clifford Sobel a partir de um diálogo entre ele e o ex-senador piauiense e atual deputado federal pelo PSB.Veja o original aqui.
Pelo relato, Heráclito ligou para Clifford no dia cinco de novembro de 2007 e pediu um encontro urgente para tratar de uma questão “que não poderia ser discutida no telefone”. Fortes encontrou com o embaixador naquele mesmo dia a tarde e o encontro continou na manhã seguinte.
O relatório tem uma seção denominada “ligando os pontos” em que há um resumo do que disse Heráclito Fortes. O relato é complexo, mas versa sobre compra de armas russas, esquerdismo venezuelano, boliviano e peruano, e o fato de a diplomacia venezuelana com o Brasil se tornar cada vez mais comercial, levando grandes empresas brasileiras para aquele país, o que, segundo Heráclito, favoreceria o que ele chamou de “causas populistas no Brasil”.
Em resumo, Heráclito demonstrou “sinais preocupantes” de que o Brasil se aproximava da Rússia, do Irã, da Venezuela, aumentando a influência desses países na região, “mutuamente se reforçando”. O embaixador Clifford comunicou que “as preocupações de Fortes estão paralelas com relatórios elaborados que apontam a compra de armas pela Venezuela”, “a falta de defesa brasileira moderna”, “o aumento de diplomatas venezuelanos no Brasil e o financiamento de círculos bolivarianos e organizações populistas”.
O documento classificado como secreto foi encaminhado à CIA e ao NSC (Conselho de Segurança Nacional) dos EUA. Quatro anos depois do diálogo entre o embaixador Clifford Sodel e Heráclito Fortes, o mundo descobriu que a presidente Dilma Rousseff e a Petrobras eram alvos da espionagem norte-americana. O monitoramento de ligações e correspondências de parte do governo federal e da estatal brasileira do Petróleo era feito pela NSA, dos EUA.
Nome de Heráclito Fortes aparece em outros documentos secretos

Em outro relatório de Cliffor Sodel aos EUA, Heráclito Fortes surge com declarações sobre a formação de um bloco anti-América entre países latino-americanos. Nas palavras do embaixador: “O diplomata iraniano faz lobbyin para o Brasil participar de um bloco anti-América, o que na opinião de Fortes já inclui Bolívia, Equador e Venezuela. O Sheik-Attar [diplomata iraniano] disse a Fortes que ele também estava falando com a Argentina sobre o bloco”. O documento, classificado como secreto, é datado de 18 de abril de 2008. Está identificado como 08Brasilia526 no Wikileaks.

Declarações de Heráclito podem ter sido o estopim para mudanças diplomáticas dos EUA

As declarações de Heráclito Fortes, devido ao cargo que ele ocupava, o de presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, tinham peso suficiente para serem consideradas por Washington. Dois anos depois do primeiro diálogo entre Heráclito e Clifford, os Estados Unidos começavam a modificar sua política internacional com relação a Venezuela. Argentina, assim como o Brasil, passa por uma grave crise na sua economia e política.

As relações EUA e Rússia ficaram estremecidas e atingem agora um dos piores momentos da história. Em comum, o fato de todos estes países que foram citados por Heráclito acabarem, de uma certa forma, alvos dos EUA.

Para cientista político, governo do PT tem contrariado interesses americanos

O cientista político e historiador Luiz Moniz Bandeira declarou recentemente que os EUA tem interesse em desestabilizar o governo do Partido dos Trabalhadores do Brasil. “Não se trata de uma questão ideológica, mas de governos que não se submetem às diretrizes de Washington”, disse Moniz. Para ele, Lula e Dilma contrariaram interesses econômicos daquele país. “A presidenta Dilma Rousseff denunciou na ONU a espionagem da NSA, não comprou os aviões-caça dos EUA, mas da Suécia, não entregou o pré-sal às petrolíferas americanas e não se alinhou com os Estados Unidos em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina”, declarou em recente entrevista.

Lula e Dilma exercem, na política, um papel semelhante ao que era pretendido por Goulart. São aliados à esquerda, a movimentos populares e foram responsáveis por reformas de base que Jango não conseguiu realizar.

Na década de 60, as informações do Embaixador Americano no Brasil serviram para os EUA traçarem sua intervenção no Brasil e foram utilizadas para derrubar João Goulart. Jango era muito próximo da esquerda, alinhado demais com a Rússia e a China e abria caminho para um fortalecimento da América Latina.
Como hoje, o Brasil daquele período era a locomotiva que liderava e impulsionava os países latino-americanos. O petróleo era um dos focos das disputas geopolíticas, assim como a abertura de novos mercados econômicos.
Não por coincidência os elementos presentes nas informações graciosas fornecidas por Heráclito Fortes são os mesmos da década de 60: petróleo, esquerdismo, relações com a Rússia e China, o temor de governos democráticos populares e o fortalecimento do Brasil e dos países da americana latina. Se o governo dos EUA está, novamente, manipulando a atual conjuntura política do Brasil, Whashington não dirá. Apenas o tempo vai dizer, daqui a 50 anos.

OS APETITES ELEITORAIS ACIMA DA PAZ


Por Por Matías Aldecoa

A nova rodada de conversações entre o Governo Nacional e as FARC-EP se iniciou com desencontros provocados pela decisão unilateral do presidente Santos de conformar uma Comissão Assessora excludente e pelos ataques da Força Pública contra os combatentes que se encontram em trégua unilateral desde 20 de dezembro de 2014.
Isto sucede no início do ciclo 34 de Conversações que desde terça-feira 17 de março tem lugar no Palácio de Convenções de Havana, Cuba.
O Comandante Pablo Catatumbo, um dos plenipotenciários da delegação insurgente, fez um pronunciamento crítico frente à iniciativa do Presidente, caracterizando a nova Comissão como “um reflexo das formas de exclusão política e social que a Colômbia tem sofrido ao longo de sua vida republicana”.
Efetivamente, o governo Santos, que posa em Colômbia e no estrangeiro de democrata e de amante da paz, não incluiu na Comissão as forças democráticas que incursionaram recentemente na arena política nacional, como a Frente Ampla pela Paz e a Cúpula Agrária, e tampouco deu participação à extensa gama de expressões políticas e sociais que compõem a pluralidade da Nação.


Manobra eleitoral que rompe a confidencialidade
Setores da opinião nacional assinalaram que a conformação da referida Comissão na atual conjuntura, e sua composição, põe de manifesto um truque de Santos para inclinar a favor de suas preferências políticas os resultados das eleições do próximo mês de outubro, quando se elegerão prefeitos, governadores, deputados e vereadores.
O [fato de que] pessoas que até agora haviam sido contrárias aos diálogos de paz, como Andrés Pastrana e Martha Lucía Ramírez, tenham aceitado integrar a dita Comissão é o resultado de duas realidades: a primeira, o generalizado anseio de paz dos colombianos e da comunidade internacional. A segunda [consequência da primeira], os dividendos eleitorais que proverá, nas próximas eleições, aos políticos que a integram. Pois a participação na Comissão significará visibilidade aos que tenham aspirações a cargos públicos nas eleições de outubro.
A decisão do Presidente põe em dúvida sua sinceridade de paz por uma razão adicional: ao estarem os membros da Comissão Assessora a par do que se discuta e acorde em Havana, o qual será uma de suas funções [“lhes fizemos um relato do discutido e dos temas que virão”, disse Santos], o Governo viola o princípio de confidencialidade do Processo e dá via livre para que as FARC-EP atuem em igual sentido.


Então, para que foi criado o Conselho Nacional de Paz?”
Este foi um dos vários interrogantes feitos pelo Comandante Pablo Catatumbo em seu discurso de 18 de março, em referência a que, com anterioridade, Santos havia convocado o Conselho Nacional de Paz, criado mediante a lei 434 de 1998. Sua composição majoritariamente civil se fixa como finalidade “direcionar e assessorar ao Governo Nacional em todos os temas concernentes ao Processo e consecução da paz”. Ademais de fazer um acompanhamento ao Processo e de contribuir com propostas, iniciativas, vedoria, atos e medidas que apontem a concretizar a paz para os colombianos, deve estabelecer recomendações que devem ser levadas em conta pela Mesa de Conversações.
Ainda que a lei tenha sido aprovada finalizando o governo de Ernesto Samper [3 de fevereiro de 1998], o Conselho Nacional de Paz foi instalado pelo presidente Juan Manuel Santos a 27 de maio de 2014. No ato, Santos revelou que “há que adaptá-lo ao processo de paz atual e à Colômbia dos próximos 10 anos”.
O acima exposto levou a prever a inclusão no Órgão de novos setores do país, como também a participação de organismos internacionais defensores de direitos humanos. Tudo isso com o propósito de dar maior legitimidade e de garantir o cumprimento eficaz de seu papel como interlocutor entre o Governo Nacional e a “sociedade civil”.
No entanto, esse corpo de ampla composição, que poderia estar jogando o importante papel destinado na etapa decisiva pela qual atravessam as conversações, foi deixado de lado e terminou substituído por uma Comissão enviesada, limitada, excludente e com propósitos meramente eleitorais. Ler comunicado: A excludente comissão de Paz


Os direitos humanos: “um objetivo do Estado que deve ser promovido”
Na quinta-feira 19 de março, o chefe da Delegação de Paz das FARC-EP, Iván Márquez, frente a um grupo de jornalistas no Palácio de Convenções de Havana, esboçou os conceitos que sobre direitos humanos tem a organização insurgente.
O tema é um dos componentes do ponto 5, Vítimas, do Acordo Geral. O outro componente é o de Verdade, e sobre este a Comissão de Paz da Guerrilha terminou de fazer suas propostas ao finalizar o ciclo 33. Leia também: a guerrilha denuncia falta de interesse do Estado para respeitar os direitos humanos
A Constituição Nacional estipula que “a garantia dos direitos humanos [...] é uma responsabilidade que concerne de maneira exclusiva ao Estado”; porém, na realidade, as instituições colombianas têm violado todos os direitos: políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais etc.
Em atenção a isso, o Comandante guerrilheiro chamou a refundar uma nova institucionalidade com capacidade de solucionar as graves problemáticas de injustiça que a confrontação causou. “Teríamos que esclarecer já o fenômeno do paramilitarismo, e o Estado deverá abrir todos os arquivos”.
O governo de Santos não tem tomado medidas práticas em direção a cumprir com suas obrigações em matéria de direitos integrais das vítimas. Ao contrário, diariamente escutamos notícias que dão conta de novas ameaças, assassinatos, despojos, ademais das violações ocasionadas pelas políticas neoliberais no econômico e social.


O cessar-fogo unilateral ameaçado
Depois de ler o documento, o Comandante Iván Márquez respondeu perguntas aos jornalistas, os quais se centraram nos recentes enfrentamentos ocorridos entre o Exército e as FARC-EP, como consequência da ofensiva que as Forças Militares adiantam desde que a organização guerrilheira deu início à trégua unilateral.
O chamado das FARC é ao presidente Santos para que “faça algo por salvar” o cessar-fogo; à Frente Ampla pela Paz e à sociedade civil em geral para que intervenham ante o Governo e se mobilizem contra as “forças contumazes” que continuam derramando sangue e produzindo mais vítimas. É necessário que se detenham os ataques que, pouco a pouco, estão desvanecendo a decisão de manter a trégua.
Persistindo as agressões da Força Pública, a guerrilha se verá obrigada a reativar ações ofensivas e de hostilidades, o que representará uma regressão no processo de paz, a volta da escalada do conflito, um triunfo dos beneficiários da guerra e mais sacrifícios para o povo colombiano.


Equipe ANNCOL - Brasil


Por que tanta indiferença do governo frente a resultados da Comissão Histórica?


Resultados da Comissão Histórica não podem ser lançados ao incêndio do esquecimento”
No encerramento do ciclo 34 de conversações, as FARC-EP voltaram sobre quatro temas que consideram importantes para o desenvolvimento da Mesa, num comunicado lido pelo chefe da Delegação de Paz, Iván Márquez.
Em primeiro lugar, se referiu à responsabilidade do Estado. Segundo as conclusões da Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas, o Estado é o grande responsável pelo conflito social e armado; estes resultados devem ser reconhecidos, já que “A Comissão Histórica [...] não foi integrada para agradar a uma das múltiplas partes do conflito”, ressaltou.
O segundo tema que nomeou foi o da justiça. Se referiu à justiça transicional que alguns querem aplicar a insurgentes e membros da força pública, sendo o foro militar um “caramelo envenenado”. O direito deve ser solução, não obstáculo, segundo o porta-voz. Acrescentou que o Acordo Geral de Havana é a carta de navegação quanto à jurisdição; a guerrilha não se impressiona com a opinião “daqueles que não sofreram a violência, ou apenas ouviram algo dela em textos oficiais”.
Segundo as FARC-EP, a corrupção da justiça fez com que o Estado perdesse sua faculdade sancionadora há tempos. Portanto, o Estado não tem por que começar a entregar faculdades para nomear o Tribunal de Aforados.
O terceiro assunto é a não utilização da paz nas eleições de outubro, referindo-se às referendas parciais como tática para ganhar votos, sabendo que existe um sexto ponto da Agenda chamado Implementação, verificação e referenda dos acordos.

Em quarto lugar, a guerrilha lhe insistiou ao governo sobre a necessidade de adiantar a redação de acordos para a reparação das vítimas. E finalizou o documento:
Cada vez estamos mais convencidos de que o caminho para superar a crise institucional e alcançar a paz, é a realização da Assembleia Nacional Constituiente”.
Oficina de Prensa de la Delegación de Paz FARC-EP
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Equipe ANNCOL - Brasil

segunda-feira, 30 de março de 2015

Existem uns 1.600 paramilitares na fronteira entre Colômbia-Venezuela



Resumen Latinoamericano/Correo del Orinoco, 23 de março de 2015 – O jornalista José Vicente Rangel, indicou que segundo organismos de inteligência, se encontram “aproximadamente 1.600 paramilitares situados na fronteira da Colômbia com a Venezuela”.



Um total de 800 na fronteira com o estado de Zulia e os outros 800 na zona fronteiriça com o estado de Táchira, “em pelotões de 100 efetivos que contam com apoio logístico e armamento moderno”, explicou durante a seção Confidenciales [Confidenciais] de seu programa José Vicente Hoy, transmitido pelo canal privado Televen.



Acrescentou que horas antes do anúncio do presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro, em 12 de fevereiro, havia revelado um golpe de Estado, que os grupos paramilitares “estavam se mobilizando com o propósito de passar a território nacional. Depois do anúncio presidencial, se retiraram para as bases onde operam”.



Assim, Rangel informou sobre a chegada ao Peru de porta-aviões “CVN 73”, o que representa uma ameaça para a América do Sul e vai contra os princípios da União das Nações Sul-americanas (UNASUL) e da Comunidade de Estados Latino-americanos (CELAC).



O jornalista recordou que o Peru, desde o ano de 2010, é visitado por navios de superfície (porta-aviões), o que permite que os EUA tragam à região sul- americana navios de acompanhamento como destróiers, cruzadores de mísseis, fragatas de mísseis e submarinos.



Oposição está destinada a permanecer presa ao erro



Para Rangel, “a oposição venezuelana se parece muito com um labirinto: tem todas suas características, sobretudo aquela que ao ingressar a ele praticamente não existe saída”.



Durante seu programa dominical, José Vicente Hoy assinalou que a direita venezuelana não tem imaginação porque precisa de criatividade, porque não pisa em terra firme, porque é invadida pela angústia ao não encontrar saídas. Então, se produz um sentimento de desespero que fatalmente a conduz ao erro.



Não tem feito outra coisa senão dar voltas em torno dos mais incríveis e labirínticos rastros de suas próprias contradições. Não racionaliza sua situação e, portanto, está condenada a dar voltas em uma busca ofuscada de um lugar por onde possa abandonar o labirinto”, expressou.



Neste sentido, assegurou que a falta de coerência, a carência de um plano elaborado pela consciência, a falta de sentido político e a incapacidade para idealizar saídas, a condena permanentemente a estar nesse labirinto de seus enredos.



A oposição não aprende e o destino parece condená-la a permanecer atada eternamente ao erro, ou seja, estar sempre metida no labirinto”, finalizou.



Assassinam conselheiro Dimas Gómez Chirinos, do PSUV, e seu filho em Falcón



Na sexta-feira pasada, altas horas da noite, o conselheiro do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), por Casigua de Mene Mauroa, Dimas Gómez Chirinos, de 47 anos, foi assassinado por desconhecidos que lhe deram vários tiros. Assim, informou um comunicado do Ministerio Público.



Gómez caminhava para sua residência em companhia de sua esposa e dois de seus filhos, Eli David Gómez, de 20 anos, e Eliezer José Gómez, de 21, quando foram interceptados.



O conselheiro e seu filho de 20 anos foram levados ao Centro de Diagnóstico Integral da comunidade de Mene de Mauroa, sem sinais vitais.



O outro jovem ferido permanece estável no Hospital do Sul, em Maracaibo.



O Ministério Público indicou a promotora Yudith Medina para coordenar as diligências e perícias de investigação.



Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

DESMINADO HUMANITÁRIO SALVA CICLO 34



Por Matías Aldecoa
O resultado mais importante do ciclo 34 dos Diálogos de Havana é o projeto geral do plano piloto de descontaminação de explosivos e munições sem explodir, no qual se acordaram três estruturas formais e se definiram os estados de Meta e Antioquia para iniciar sua posta em prática.
A transcendência deste acordo humanitário radica em que, pela primeira vez, nos 50 anos de confrontação armada entre a insurgência colombiana e a Força Pública, se alcança uma concertação entre guerrilheiros e militares para adiantar uma tarefa que os compromete a ambos com a paz. Em todas as fases e equipes de coordenação do projeto estará presente pessoal tanto do Exército como das FARC-EP e de APN, que é quem lidera e coordena a execução do projeto.
Além do alívio que representa para as comunidades, seu êxito contribuirá para gerar a confiança necessária entre as partes enfrentadas militarmente, em momentos em que se aborda o tema do cessar-fogo bilateral e o eventual cumprimento de um armistício.
Por outra parte, a segunda rodada de trabalho da Subcomissão Técnica foi encerrada na sexta-feira 27 de março pelo Comandante Carlos Antonio Lozada, chefe da Subcomissão Técnica das FARC-EP, quem ressaltou os avanços alcançados e apontou que: “vai chegando o momento de alistar somente as armas de nossas ideias, de nossa inteligência e criatividade para encarar a mais dura e difícil de todas as batalhas: a de unir-nos para derrotar para sempre a confrontação entre irmãos”. Ler Palavras de despedida dirigidas à subcomissão técnica do governo.
Dois dias antes, o chefe insurgente havia expressado o beneplácito das FARC-EP pela declaração que fizera em Bogotá o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, em apoio aos esforços de paz que têm como sede Havana.
Os porta-vozes da organização insurgente manifestaram, em documentos e em rodadas de imprensa, a disposição de se reunirem com representantes dos governos que lhes motive apoiar os esforços de paz, tal como se está fazendo com o Comissionado do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Bernard Aronson. Os apoios internacionais fortalecem os diálogos e contribuem significativamente para a reconciliação dos colombianos. Ler: FARC saúdam apoio do governo Russo ao processo de paz.
26 de março: Dia do Direito à Rebelião Armada
A Delegação de Paz das FARC-EP rendeu homenagem a Manuel Marulanda Vélez, quem fora chefe máximo desta organização guerrilheira desde que ajudou a fundá-la em 1964 até sua morte em 26 de março de 2008. O Comandante Iván Márquez, membro do Secretariado, recordou em sua dissertação que, um ano depois do falecimento natural de Manuel Marulanda, foi instituída a data do 26 de março como “Dia do Direito Universal dos Povos à Rebelião Armada”.
O recurso da rebelião ao qual têm recorrido historicamente os povos foi reconhecido como direito “no preâmbulo mesmo da Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada pela ONU em 1948, se consagra e legitima ademais [...] na história do constitucionalismo mundial, desde a Declaração de Filadélfia de Independência dos Estados Unidos”.
O tema do direito à rebelião foi reiteradamente exposto pelas FARC-EP durante a discussão do ponto 5, Vítimas, do Acordo Geral. Num eventual acordo de paz, o status de rebeldes dos levantados em armas deve ser amparado com a anistia ou indulto.
Temas urgentes para a mesa”
Já no encerramento do ciclo 34, o chefe da Delegação de Paz das FARC chamou a atenção sobre quatro temas cardeais para levar as conversações a bom porto, e nos quais há dissenso com os negociadores do governo.
Em primeiro termo, está a necessidade de tomar a paz como um direito que sintetiza os demais direitos, colocando-a acima de qualquer outra consideração. Isso deve partir [do fato] de que o Estado aceite a responsabilidade que lhe assiste no conflito ao longo destes sessenta anos de confrontação. A referida responsabilidade está plenamente demonstrada e amplamente fundamentada no informe da Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas (CHCV).
Resolvendo na prática esta primeira consideração, se aplanaria o caminho para dar solução às outras três preocupações expressadas pelo Comandante guerrilheiro. São elas: “A justiça como um todo, sem excluir os problemas da jurisdição”. Se assinala aqui que, no marco de um acordo de paz, o foro militar que o governo de Santos defende aparentemente exculpa porém não garante que no futuro seja utilizado pelos determinadores da guerra para se lavarem as mãos, mandando muitos militares para os cárceres como bodes expiatórios.
A atual crise da esfera judicial - “A justiça está sub judice”- abarca a totalidade da institucionalidade; o Estado de Direito se suporta na justiça e agora os magistrados das altas cortes estão sendo investigados porque o poder judiciário foi tomado pela corrupção e pelas máfias. Para tapar essa situação, por demais de podre, o Presidente Santos anunciou a criação de uma nova reforma à justiça, reforma que será feita pelas mesmas instituições corroídas. Desde Havana se diz que essa medida não resolve uma crise que envolve a toda institucionalidade. A situação demanda uma solução de raiz a partir de uma Assembleia Nacional Constituinte.
A terceira precisão feita pelo Comandante Iván Márquez consiste na “Não utilização da paz nas próximas eleições de outubro”. O Presidente se propõe aproveitar as próximas eleições para fazer uma referenda parcial dos acordos conquistados em Havana, desconhecendo que ainda não se chegou à discussão do ponto de Referenda.
Finalmente, Iván Márquez instou –uma vez mais- a delegação do governo, liderada por Humberto De La Calle, a começar a redigir os acordos sobre a reparação das vítimas do conflito, tarefa que o governo deixou relegada. Ler: Fim do ciclo 34: Temas urgentes para a Mesa.
28 de Março de 2015



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Equipe ANNCOL - Brasil

Tentativa de golpe contra a Venezuela



Ignacio Ramonet



Ave simpática da fauna amazônica, o tucano é bem conhecido por seu espetacular bico de cor vistosa. Mas também é o nome de um agressivo “pássaro de aço” fabricado pela construtora brasileira Embraer, cuja denominação militar é EMB 312, e cujos dois modelos mais vendidos são: o T-27, em sua versão de treinamento, e o AT-27, armado para ataques em terra. É uma das aeronaves de treinamento mais vendidas no mundo. A aviação militar da Venezuela, por exemplo, possui cerca de trinta Tucanos. 

E precisamente um desses tucanos militares, artilhado para atacar, deveria bombardear o Palácio de Miraflores, em Caracas, no último dia 12 de fevereiro. E matar o presidente Nicolás Maduro. Tinha como missão, da mesma forma, atacar o Ministério da Defesa e destruir o edifício que abriga os estúdios do canal de televisão internacional Telesur, a fim de semear o caos e a confusão.

Segundo revelou o próprio presidente Maduro, a tentativa de golpe foi desarticulada graças à habilidade dos organismos de inteligência bolivarianos. Eles permitiram a prisão de um grupo de oficiais da aviação e de civis uniformizados. “Trata-se – declarou o mandatário venezuelano – de uma tentativa de utilizar um grupo de oficiais da aviação para provocar um ataque e um atentado golpista à democracia e à estabilidade da nossa pátria; é o último suspiro do chamado 'golpe azul' de um ano atrás, em fevereiro-março de 2014”.

Nicolás Maduro contou que um dos oficiais envolvidos estava “comprometido” desde o ano passado com grupos de ultradireita venezuelana que procuravam gerar novamente distúrbios violentos no país. O presidente revelou que, depois de uma série de investigações, as autoridades militares exigiram que esse oficial fosse banido das forças armadas. “Mas há algumas semanas – explicou o mandatário –, vários opositores o contactaram de novo, pagaram-lhe uma soma importante em dólares e confiaram a ele várias missões. Ao mesmo tempo, a embaixada do Estados Unidos lhe concedia um visto com data de 3 de fevereiro e lhe garantia que, 'se isso falhar, já sabe, tem um visto para entrar nos Estados Unidos por qualquer uma de nossas fronteiras'”.

A partir daquele momento – continuou relatando Nicolás Maduro –, esse oficial contatou mais quatro companheiros para executar as missões “planejadas de Washington”. Uma delas consistia em gravar em vídeo declarações do general de aviação Oswaldo Hernández Sánchez na prisão. Ele foi detido por tentar dar um golpe de Estado em 2014.

A ordem era gravar um vídeo desse general, a quem apelidam de El Oso [O Osso, em tradução literal], e em 12 de fevereiro, nos atos de comemoração, pegar um avião Tucano e atacar o Palácio de Miraflores e outros 'objetivos estratégicos', como o Ministério da Defesa, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e a sede da Telesur. A ordem de iniciar a ação se dispararia no momento em que um jornal de oposição publicasse o que eles chamavam de 'programa de governo de transição'”.

Por sua vez, Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional venezuelana, e Jorge Rodríguez, prefeito do município Libertador, contribuíram em Caracas, no último dia 13 de fevereiro, com mais detalhes da tentativa golpista. Ambos os dirigentes chavistas confirmaram que os oficiais detidos haviam admitido que a publicação de um “manifesto” na imprensa era uma das senhas para lançar a tentativa, cujo código era Operação Jericó.

Ambos revelaram que, segundo declarações dos presos, os golpistas tinham a intenção de “liquidar” desde o primeiro instante, além do presidente Nicolás Maduro, aos próprios Diosdado Cabello e Jorge Rodríguez, e a duas personalidades bolivarianas: Tibisay Lucena, presidenta do CNE, e Tareck e Aissami, o ex-ministro do Interior e atual governador do estado de Aragua.

Por outro lado, identificaram, além do general Oswaldo Hernández, El Oso, outros supostos cabeças da conspiração. A saber: o capitão Héctor José Noguera Figueroa, o coronel José José Suárez Rómulo, o primeiro tenente Ricardo Antich Zapata (supostamente encarregado dos contatos com a embaixada dos Estados Unidos) e o primeiro tenente Luis Hernándo Lugo Calderón. Também mostraram parte do arsenal apreendido, em particular armas de alto calibre, como fusis semiautomáticos AR-15, metralhadoras e granadas. Da mesma forma, revelaram que descobriram mapas da cidade de Caracas com vários “alvos estratégicos” marcados: o Palácio de Miraflores, os ministérios da Defesa, do Interior e de Justiça e Paz; o Conselho Nacional Eleitoral, a Direção de Contrainteligência Militar e o canal Telesur.

Cabello e Rodríguez designaram como “autores intelectuais” da tentativa golpista e do projeto de magnicídio duas personalidades da oposição: Antonio Ledezma, prefeito de Caracas (preso no último dia 19 de fevereiro), e Julio Borges, deputado da oposição. Também afirmaram ter provas da participação de pessoas da embaixada norte-americana: “Uma funcionária da embaixada chamava as esposas dos generais venezuelanos e lhes dizia que o nome de seu marido estava na lista de pessoas sancionadas pelo Congresso dos Estados Unidos. E que o visto de toda a sua família para ingressar em território americano havia sido invalidado. Tentando criar confusão nas famílias dos oficiais”, explicou Jorge Rodríguez.

O presidente Maduro disse, por sua vez, ter em seu poder o “plano de governo” redigido pelos golpistas, no qual se eliminam os poderes públicos e se ameaça os cubanos das missões de serviço social (saúde, educação, esporte). “Também falam – disse maduro – em privatizar a PDVSA (Petróleos de Venezuela Sociedad Anónima), em dissolver todos os poderes públicos, suspender as garantias democráticas, liberalizar o sistema de câmbio e presentear a oligarquia com dólares mais uma vez”. O presidente acrescentou que, nesse “plano de governo”, os golpistas “lançam uma ameaça contra o que chamam de “coletivos” – que nós sabemos que é o povo venezuelano –, anunciando que, quando chegarem ao poder, atuarão contra eles com toda a força militar. E os cubanos das missões na Venezuela teriam 24 horas para se apresentar nos escritórios do novo governo de fato ou 'enfrentarão as consequências (…)'”.

Apesar de todos esses detalhes e provas trazidos pelas máximas autoridades venezuelanas, os meios de comunicação internacionais (inclusive na América Latina) deram pouco crédito a esse anúncio de intenção de golpe de Estado. Essa “incredulidade” faz parte – há 15 anos – da estratégia dos grandes meios de comunicação dominantes em guerra contra a revolução bolivariana, para desacreditar as autoridades bolivarianas. Indiferente a essa atitude hostil, o presidente Nicolás Maduro continuou explicando, com perseverança pedagógica e com todo o tipo de provas, como, desde o falecimento de Hugo Chávez (há exatamente dois anos), e desde sua eleição (14 de abril de 2014), um “golpe lento” está em marcha para tentar derrotá-lo.

Desta vez, o golpe seria executado em quatro fases. A primeira começou no começo de janeiro de 2015, quando o presidente Maduro realizava uma longa viagem ao exterior (China, Irã, Catar, Arabia Saudita, Argélia e Rússia). Essa fase foi realizada com o apoio de setores do empresariado, que impulsionaram campanhas de retenção de alimentos básicos e produtos de primeira necessidade, com a finalidade de criar escassez e mal estar, preparando as condições para que os cidadãos saíssem às ruas para protestar e saquear supermercados. O que não aconteceu.

Na segunda fase, os grandes meios de comunicação internacionais intensificaram a difusão de reportagens, notícias e artigos que davam uma imagem distorcida da realidade venezuelana. Fazendo crer que, no país do “socialismo do século XXI”, estava-se produzindo uma autêntica “crise humanitária”. O presidente Maduro denunciou, na ocasião, o detestável papel desempenhado nessa fase da Operação Jericó por vários jornais espanhóis (El País, ABC).

A terceira etapa deveria ser protagonizada por um “traidor” que, na televisão e nos grandes meios de comunicação, faria um chamamento solene à rebelião. Ainda que o presidente não tenha deixado claro quem seria esse “traidor”, alertou os cidadãos: “Não quero alarmar ninguém, mas sou obrigado a dizer a verdade (…) Estão procurando um traidor e peço ao povo que esteja alerta”.

A quarta fase do golpe é a que se desvelou em 12 de fevereiro, com a participação de um grupo de oficiais direitistas da aviação militar, financiados pelo estrangeiro. Então, seria anunciado o “programa de governo de transição”. E se enterraria a revolução de Chávez.



Mas inclusive em quatro fases, o golpe fracassou. E a revolução bolivariana continua viva.



Tradução de Daniella Cambaúva
 


sábado, 28 de março de 2015

Rússia se soma ao respaldo internacional ao processo de paz


La Habana, Cuba, sede dos Diálogos de Paz, 25 de março
O Comandante Carlos Antonio Lozada leu um breve pronunciamento, expressando o beneplácito das FARC-EP pelo apoio da Rússia ao processo de paz da Colômbia, através de seu chanceler Serguei Lavrov.
Nuns comentários que o Comandante guerrilheiro fez, depois de ler o comunicado, afirmou que o apoio ativo se soma às múltiplas expressões de apoio oriundas de muitas partes do mundo, entre outros, o dos EUA através de seu enviado especial. “As FARC-EP estamos em plena disposição de reunir-nos com todos os países”, acrescentou Lozada.
Frente a uma pergunta feita sobre a reforma à justiça através do legislativo, anunciada pelo Presidente Santos ontem, a insurgência enfatizou que essas não são soluções de fundo. “Há uma profunda crise que impregna aos três poderes e só uma Assembleia Nacional Constituinte que elabore um novo marco constitucional poderá dar uma saída real”, salientou o porta-voz da guerrilha.
Uma das vítimas, Clara Rojas, disse desde Washington que vocês devem pedir desculpas, dar a cara ao mundo, assim como as FFMM”, foi a pergunta formulada pelo jornalista de Caracol, Carlos Barragán.
O Comandante deixou claro que a insurgência já ha tem feito pleno reconhecimento de suas responsabilidades diante da comunidade nacional e internacional. Ademais, as FARC-EP têm proposto um Dia Nacional de Contrição e de Reconciliação, que seria um dia de perdão coletivo por parte de absolutamente todos os setores que têm sido  responsáveis.

Oficina de Prensa de la Delegación de Paz FARC-EP
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Equipe ANNCOL - Brasil

sexta-feira, 27 de março de 2015

A da justiça é uma crise orgânica da dominação política oligárquica. A saída é a Constituinte pela paz.


Por Horacio Duque Giraldo 



A explosão de outra crise [os antecedentes estão referidos ao naufrágio de uma reforma ao sistema judicial no ano de 2012 e aos escândalos permanentes no Conselho da Judicatura] no aparelho judicial colombiano com o caso do paramagistrado uribista Pretel, envolvido com sua mulher numa cadeia de situações de corrupção e despojo de terras a campesinos de Urabá, não é mais que o reflexo da crise generalizada do sistema de dominação política da camarilha oligárquica que controla o Estado colombiano.
A crise e o colapso da justiça é similar à da saúde sitiada pelos bandidos, a da educação universitária convertida no pior dos negócios, como vimos no caso da U de San Martin, a dos militares com os “falsos positivos”, a da economia com a queda dos preços do petróleo, a da corrupção em municípios e estados onde há uma cascata de saqueios aos dinheiros públicos, a dos partidos políticos, a do sistema eleitoral penetrado pela criminalidade, a das cidades arruinadas pelo neoliberalismo, a do campo sitiado pela violência, a dos meios de comunicação dominantes infestados de mentiras e promotores da investida propagandística e ideológica, a de Transmilenio e a mobilidade em Bogotá, enfim, a crise do poder de umas elites contrárias aos interesses das maiorias nacionais afetadas pela pobreza, a miséria e a negação estrutural dos direitos humanos.
Com esse panorama, não resta mais alternativa que recorrer à caixa de ferramentas de Gramsci para esclarecer com o pensamento crítico o que é isto, para onde marcha o campo político da sociedade e quais são as saídas apropriadas para formular alternativas democráticas e revolucionárias, na perspectiva do socialismo e do poder popular.
Antonio Gramsci definiu, para situações como a que hoje vivemos, o conceito de “crise orgânica”. Se trata desses momentos históricos em que as forças dominantes fraturam as relações entre a sociedade e o Estado, entre a economia e a política, e não podem exercer sua direção do modo habitual.
Porém, longe de simplismos, propomos aprofundar um pouco mais no significado da “crise” e para isso convém que examinemos aqueles textos nos quais mais direta e explicitamente Gramsci analisa tal situação crítica e problemática e que nos entregam luzes para interpretar a conjuntura colombiana.
Gramsci fixa em suas reflexões alguns elementos fundamentais de uma teoria da “crise orgânica”.
Primeiro elemento. Com o conceito de “crise” Gramsci identifica uma fase histórica complexa, de longa duração e de caráter mundial, e não um ou mais acontecimentos que sejam as manifestações particulares dela. O conceito de crise define, com efeito, aquilo que habitualmente se denomina “período de transição”, isto é, um processo crucial no qual se manifestam as contradições entre a racionalidade histórico-política dominante e o surgimento de novos sujeitos históricos portadores de inéditos comportamentos coletivos, que, no nosso caso, são os potentes movimentos sociais, um dos quais é a resistência campesina revolucionária contra a violência terra-tenente, encarnada nas Farc.
Se trata de um processo –escreve Gramsci- que tem muitas manifestações e no qual as causas e os efeitos se complicam e se superpõem. Se pode dizer que a crise como tal não tem uma data de começo senão só de algumas manifestações mais clamorosas que costumam identificar-se com a crise, errônea e tendenciosamente. Toda a pós-guerra é crise, com intentos de evitá-la que algumas vezes têm êxito neste ou noutro país, nada mais. Para alguns, e talvez não erroneamente, a guerra mesma é uma manifestação da crise, inclusive a primeira manifestação da crise.
Em primeiro termo, deve-se notar que a “grande guerra”, ou seja, a primeira guerra mundial, dadas suas dimensões, manifesta o caráter mundial da crise mesma. O caráter mundial da crise é destacado por Gramsci naquela passagem em que se pode escapar dela; ilusão que deriva do fato que não se compreende que o mundo é uma unidade, se queira ou não se queira, e que todos os países permanecendo em certas condições estruturais passarão por alguma “crise”.
O segundo elemento consiste na identificação dela como processo que envolve ao conjunto da vida social, razão pela qual não pode ser reduzida a seus aspectos particulares: crise financeira, crise de autoridade, crise comercial, crise produtiva, crise judicial, etc. É difícil nos fatos separar a crise econômica das crises políticas, ideológicas etc.
É com o conceito de crise orgânica que Gramsci define uma crise histórica global. Ele contrapõe o conceito de crise orgânica ao conceito de crise conjuntural [como a judicial]. Uma crise conjuntural não é de ampla dimensão histórica e se apresenta como ocasional, imediata, quase acidental, diz, e está determinada por fatores “variáveis e em desenvolvimento”. Uma crise de caráter orgânico, por outro lado, afeta aos grandes agrupamentos mais além das pessoas imediatamente responsáveis e mais além do pessoal dirigente; neste caso “se verifica uma crise que amiúde se prolonga por décadas”. Esta duração excepcional significa que na estrutura se revelaram [amadureceram] contradições irremediáveis, ainda que as forças políticas que atuam em ordem à conservação e defesa da mesma estrutura se esforçam por sanar em certos limites e superar, com reformas imanentes e retoques cosméticos, como os 5 que agora Santos propõe para a crise da justiça.
As crises [conjunturais ou orgânicas] se manifestam no terreno do mercado determinado; Gramsci entende por mercado determinado determinada relação de forças sociais numa determinada estrutura do aparelho de produção, relação garantida, ou seja, feita permanente, por uma determinada superestrutura política, moral, jurídica.
Porém, que é o mercado determinado e por que coisa está determinado? Está determinado pela estrutura fundamental da sociedade em referência, e então será preciso analisar esta estrutura e identificar nela aqueles elementos [relativamente] constantes que determinam o mercado etc., e aqueles outros “variáveis e em desenvolvimento” que determinam as crises conjunturais, até que também os elementos [relativamente] constantes sejam modificados produzindo-se a crise orgânica.
Escrevendo especificamente sobre a “grande crise”, Gramsci assinala que cada vez mais a vida econômica veio concentrando em torno a uma série de grandes produções massivas, e estas são as que estão em crise: controlar esta crise é impossível precisamente por sua amplitude e profundidade, que chegaram a ter tais dimensões que a quantidade se converte em qualidade, ou seja, há crise orgânica e não só conjuntural.
Quando Gramsci destaca o caráter orgânico da crise, toma distância a respeito da associação que se faz comumente entre o conceito de crise histórica global e das situações de estancamento ou depressão econômica.
Outra questão vinculada com a anterior –escreve- é a de ver se as crises históricas fundamentais estejam determinadas imediatamente pelas crises econômicas. Se pode excluir que, por si mesmas, as crises econômicas imediatas produzam acontecimentos fundamentais, que é a tentação de alguns com a crise econômica em curso devido à queda dos preços do petróleo e seus efeitos fiscais.
A estas considerações, faz seguir o exemplo da grande crise de 1789 na França: ela se desenvolve num período em que a situação econômica era bem mais boa imediatamente, pelo qual não se pode dizer que a catástrofe do Estado absoluto se tenha devido a uma crise de empobrecimento. A ruptura do equilíbrio de forças não sucede por causas mecânicas imediatas de empobrecimento do grupo social que tinha interesse em romper o equilíbrio e que, de fato, o rompe [a classe burguesa], senão que sucede no contexto de conflitos superiores ao mundo econômico imediato, conectados ao “prestígio” de classe [interesses econômicos futuros], a uma exasperação do sentimento de independência, de autonomia e de poder. A questão particular do mal-estar ou do bem-estar econômico como causa de novas realidades históricas é um aspecto parcial da questão das relações de forças em seus diferentes graus, nos enfatiza Gramsci.
A crise orgânica não é, pois, nem uma crise puramente econômica nem uma crise especificamente política, ela consiste precisamente na contradição entre as relações econômicas existentes e as relações políticas emergentes, entre economia e política, entre “condições” e “iniciativas”, entre estrutura e superestrutura.
Em estreita relação com este segundo elemento, se apresenta o terceiro elemento da teoria da crise orgânica:
Uma das contradições fundamentais é esta: que, enquanto a vida econômica tem como premissa necessária o internacionalismo, ou melhor, o cosmopolitismo, a vida estatal se desenvolveu sempre mais no sentido do ‘nacionalismo’, ‘da autossuficiência’” etc. Um dos traços mais vistosos da “atual crise” é nada mais que a exasperação do elemento nacionalista [estatal nacionalista] na economia: racionamentos, restrições ao comércio de divisas, comércio equilibrado entre dois países etc.
A crise se apresenta no período em que o capitalismo havia formado um mercado de dimensões mundiais, e portanto se havia criado a possibilidade de que os grupos econômicos dominantes nas nações particulares obtivessem lucros subtraindo-os de outras nações capitalistas; nestas condições, o mercado econômico internacional se constitui como o lugar de competição entre grupos econômicos dominantes nacionais. Sendo o mercado uma determinada relação de forças sociais numa determinada estrutura do aparelho de produção, a conformação do mercado mundial significa: a) que as forças sociais começam a atuar em escala mundial, numa estrutura do aparelho de produção que apresenta uma interdependência crescente entre as particulares estruturas produtivas nacionais; b) que as forças sociais que, enfrentando-se entre si, constituem as relações de força, se torna muito mais complicado pela substancial multiplicação dos contendores.
Nestas condições, os grupos econômicos dominantes, respectivamente unificados nos diferentes Estados nacionais, se defendem uns dos outros através de políticas econômicas nacionalistas, protecionistas.
Me parece –escreve Gramsci- que, fazendo uma análise da crise, se deveria começar enumerando os impedimentos postos pelas políticas nacionais [ou nacionalistas] à circulação: 1) das mercadorias; 2) dos capitais; 3) dos homens [trabalhadores e fundadores de novas indústrias e novas empresas comerciais]. A premissa maior neste caso é o nacionalismo, que não consiste tanto na intenção de produzir no próprio território tudo o que se consome [que significaria que todas as forças são orientadas prevendo-se um estado de guerra], e que se expressa no protecionismo tradicional, senão no tentativo de estabelecer as principais correntes comerciais com determinados países, ou porque são aliados [e portanto se quer sustentá-los e formar de uma maneira mais apta para uma situação de guerra] ou porque se quer destruí-los já desde antes da guerra militar [e este novo tipo de política econômica é o dos “racionamentos”, que parte do absurdo de que entre dois países deva ter um balanço de intercâmbios parelho, e não que cada país possa balançar em paridade só comercializando com todos os países indistintamente].
Este nacionalismo da vida estatal era, pois, resultado direto do internacionalismo da vida econômica [internacionalismo contraditório e parcial, enquanto expressão da ampliação do raio de ação dos grupos econômicos que se unificam somente em nível nacional]. Eis aqui porque a primeira guerra mundial foi a “primeira resposta dos responsáveis” pela crise. E a segunda guerra mundial mostrará depois a insuficiência dessas respostas a esta crise.
A contradição entre o cosmopolitismo da vida econômica e o nacionalismo da vida estatal está, pois, na origem da guerra, enquanto as relações de força a nível internacional [entre as classes dominantes unificadas nos Estados nacionais particulares] não encontravam um lugar de confrontação política, isto é, um lugar de mediação e de recomposição, como poderia ter sido uma instituição estatal supranacional. À falta de uma dialética política das relações de força internacionais, é o momento militar [das relações de força] que se impõe. Neste sentido, a guerra constituiu um substituto de um Estado multinacional, ou seja, um complexo de atividades práticas e teóricas militares [que definem a guerra, o Estado como guerra] em lugar daquele conjunto de atividades práticas e teóricas políticas que faltam em nível internacional, que definem o Estado. Neste sentido, deve-se entender a concepção da guerra como continuação da política com outros meios.
Por isso, deve-se reexaminar a explicação leninista da guerra, segundo a qual a guerra é a luta inter-imperialista pelo domínio dos mercados coloniais, para a subdivisão e nova repartição das colônias.
O quarto elemento da teoria da crise orgânica está implícito nos três elementos já expostos, e consiste na identificação da origem da crise numa mudança global das relações de força entre as classes e os Estados.
A crise tem sua origem em relações técnicas, ou seja, nas posições de classes correspondentes, ou em outros fatos”. Legislações, subversões etc.? Certo, parece demonstrável que a crise tem origens “técnicas”, ou seja, nas respectivas relações de classes, porém, em seus inícios, as primeiras manifestações ou previsões deram lugar a conflitos de diferentes tipos e a intervenções legislativas que puseram em evidência a crise mesma porém não a determinaram, ou só lhe incrementaram alguns fatores. Esta não é a simples reafirmação do critério teórico-metodológico geral segundo o qual todos os processos históricos são produzidos por e podem ser explicados como conflitos entre as classes; ela, bem mais, resume uma análise histórica específica da “grande crise” e de suas manifestações particulares. Em particular, Gramsci proporciona uma explicação original dos fenômenos da inflação e deflação, da “perturbação” do equilíbrio dinâmico entre a cota consumida e a cota poupada da renda nacional e o ritmo da produção como expressão de mudanças nas relações de força entre as classes e entre os Estados.
Sobre os fenômenos “monetários da crise”: quando num Estado a moeda muda [inflação ou deflação], se produz uma nova estratificação de classes no mesmo país; porém, quando muda uma moeda internacional [por exemplo, a esterlina e, menos, o dólar etc.], ocorre uma nova hierarquia entre os Estados, o que é mais complexo e leva a reduções no comércio e, amiúde, a guerras, isto é, há uma passagem “gratuita” de mercadorias e serviços de um país a outro, e não somente de uma classe a outra da população. A estabilidade das moedas é uma reivindicação, no interno, de algumas classes, e no externo [para as moedas internacionais nas quais se firmaram compromissos] de todos os comerciantes; porém, por que elas variam? As razões são muitas, certamente: 1. porque o Estado gasta demasiado, ou seja, não quer fazer pagar seus gastos a certas classes diretamente, senão que indiretamente a outras e, se lhe é possível, a países estrangeiros; 2. porque não se quer diminuir um custo “diretamente” [exemplo, o salário], senão só indiretamente e num tempo prolongado, evitando conflitos perigosos etc. Em todo caso, também os efeitos monetários são devidos à oposição entre os grupos sociais, que é preciso entender nem sempre no interior do mesmo país em que sucede, senão que em relação com um país antagonista
Sobre o problema do desequilíbrio entre o consumo, a poupança e a produção na “grande crise”, Gramsci compreende, ademais, que, em suas raízes, mais que de um desequilíbrio nas relações entre salários e lucros, se trata do fato que tem ocorrido na distribuição da renda nacional através do comércio e da bolsa especialmente, que se introduziu na pós-guerra [ou aumentou em comparação com o período precedente] uma categoria de exatores/depredadores que não representa nenhuma função produtiva necessária e indispensável, enquanto absorve uma cota imponente da renda.
Se trata, pois, da formação [ou da ampliação mais além de certos limites] de um grupo social “parasitário”, que implica na estruturação de uma composição demográfica irracional. Surge uma crise quando crescem as forças do consumo em comparação com as de produção; porém, não se trata somente de uma questão quantitativa.
A crise existe quando uma função intrinsecamente parasitária [da classe política, burocrática e militar] se demonstra necessária dadas as condições existentes: isso faz com que tal parasitismo seja ainda mais grave. Precisamente quando um parasitismo é “necessário”, o sistema que cria tal necessidade está condenado em si mesmo.
Em nosso caso, bem podemos estar falando do parasitismo da classe política/judicial/militar que despoja a seu bel-prazer todo o excedente controlado pelo Estado e seu governo, com Santos à frente.
Estes processos não dependem naturalmente do desenvolvimento dos mecanismos econômicos, senão que são resultado de projetos políticos que têm em sua base o problema das relações de força entre as classes.
Ainda mais:
Que não se queira [ou não se possa] mudar as relações internas [e tampouco retificá-las racionalmente], aparece na política da dívida pública, que aumenta continuamente o peso da passividade demográfica, precisamente quando a parte ativa nacional, aumentam os parasitas, a poupança se restringe e é desinvestida do processo produtivo e desviada para a renda pública, ou seja, convertida na causa de um novo parasitismo absoluto e relativo.
O quinto elemento da teoria da crise econômica consiste na identificação da ruptura dos automatismos dados e no surgimento de novos comportamentos coletivos, os quais, no entanto, não conseguem expandir-se até o ponto de substituir aos precedentes. Esta é uma situação de contraste entre “representantes e representados”, cujo conteúdo é a crise de hegemonia da classe dirigente, que sucede, ou porque a classe dirigente falhou em alguma grande empresa sua para a qual exigiu, ou impôs pela força o consenso das grandes massas [como a guerra], ou porque vastas massas [especialmente de campesinos e de pequenos burgueses intelectuais] passaram de repente da passividade política a uma certa atividade e expõem reivindicações que em seu conjunto inorgânico constituem uma revolução. Se fala de “crise de autoridade” e ela é precisamente uma crise de autonomia ou uma crise do Estado em seu conjunto.
É uma crise do Estado em seu conjunto, em que a classe dirigente vê posta em tela de juízo sua "autoridade”, seja por um fracasso próprio numa empresa política de envergadura, seja pela mobilização ativa e consciente de amplas camadas sociais antes inativas.
Estas crises de hegemonia são uma luta entre “dois conformismos”. Os velhos dirigentes intelectuais e morais da sociedade sentem que se lhes afunda o terreno sob os pés, se dão conta de que suas “pregações” se converteram precisamente em “pregações”, isto é, em algo alheio à realidade, em pura forma sem conteúdo, em larva sem espírito; daqui seu desespero e suas tendências reacionárias e conservadoras: a forma particular de civilização, de cultura, de moralidade que eles representaram se decompõe e por isto proclamam a morte de toda civilização, de toda cultura, de toda moralidade e pedem ao Estado que adote medidas repressivas, e se constituem num grupo de resistência distanciado do processo histórico real, aumentando, deste modo, a duração da crise, porque o ocaso de um modo de viver e de pensar não se pode produzir sem crise.
Este é o elemento decisivo da teoria gramsciana da crise orgânica. O que permite identificar o papel da crise econômica ao interior da crise orgânica: Se pode excluir que, por si mesmas, as crises econômicas imediatas produzam acontecimentos fundamentais; somente podem criar um terreno mais favorável para a difusão de certos modos de pensar, de expressar e de resolver as questões que implicam todo o desenvolvimento posterior da vida estatal.
Uma crise econômica consiste, com efeito, num desequilíbrio nas relações de forças do mercado determinado tal que debilita os automatismos dominantes nos comportamentos coletivos, isto é, tal que faz surgir comportamentos deteriorados, anômalos [especulações, monopólios, armazenamentos etc.]. Estes comportamentos são de natureza regressiva; no entanto, o enfraquecimento dos “automatismos dados” é aquele que torna possível que novos comportamentos coletivos se elaborem e difundam, isto é, que, frente aos novos problemas, amadureçam novas respostas teóricas e práticas ao interior de certos grupos e organizem sua atividade.
Mais concretamente, se trata de processos de mobilização e de ativação política de determinadas classes, as quais passam da passividade à atividade, do consenso passivo à autonomia política, da fase econômico-corporativa à organização em partidos, e que, enfim, se põem o objetivo da “conquista” do Estado com o objetivo de que os novos comportamentos dos que são portadores se generalizem em toda a sociedade.
Em suma.
A crise orgânica está, pois, no fato de que determinadas classes não se reconhecem mais na vida estatal, se separam dos grupos dirigentes dados, porém, ao mesmo tempo, ainda não conseguem impor-se como novas classes hegemônicas. É a sacudida do “bloco histórico” completo, a crise que abarca tanto a perda da hegemonia como da possibilidade dos dominantes de fazer avançar a economia, afetando a estrutura e a hegemonia criada.
Em palavras de Gramsci, se a classe dominante perdeu o consenso, então não é mais “dirigente”, senão que unicamente dominante, detentora da pura força coercitiva, o que significa que as classes dominadas se separaram das ideologias tradicionais, não creem mais no que acreditavam antes. A crise consiste justamente em que o velho morre e o novo não pode nascer, e neste terreno se verificam os fenômenos mórbidos mais diversos.
Se trata, na crise orgânica da dominação oligárquica, de uma desintegração do bloco histórico, no sentido de que os intelectuais que estão encarregados de fazer funcionar o nexo estrutura-superestrutura se separam da classe a que estavam organicamente unidos e já não permitem que exerça sua função hegemônica sobre o conjunto da sociedade. «A classe dominante perdeu o consenso.» Quer dizer, já não é dirigente, senão que unicamente dominante, detentora de uma força coercitiva pura.
A crise orgânica de uma classe ou grupo social sobrevém na medida em que esta desenvolveu todas as formas de vida implícitas em suas relações sociais, porém, graças à sociedade política e suas formas de coerção, a classe dominante mantém artificialmente sua dominação e impede que a substitua o novo grupo de tendência dominante.
Uma tal crise orgânica bem pode estar provocada pelas grandes massas da população que passam subitamente da inatividade política a uma certa atividade e expressam reivindicações que em seu próprio complexo inorgânico constituem uma revolução. A crise orgânica que se manifesta como desaparecimento do consenso que as classes subalternas acordam à ideologia dominante não podem culminar com o aparecimento de um novo bloco histórico, senão na medida em que a classe dominada fundamentalmente saiba construir, pela mediação orgânica de seus intelectuais, um novo sistema hegemônico dominante capaz de opor-se ao anterior e eficaz para estender-se por todo o âmbito social. Quer dizer, capaz de conquistar a sociedade civil como prelúdio à conquista da sociedade política.
Hoje, o que temos em Colômbia é a forte sensação social de caducidade das velhas instituições em que se assenta o controle político, representadas particularmente no anacrônico e ancilosado poder judicial, o desprestigiado poder legislativo, o corrupto poder legislativo, o corrupto poder executivo e o degenerado poder militar, sem que se salvem outros estamentos como a polícia, os políticos tradicionais e as burocracias sindicais. Evidentemente, não só são objeto do protesto popular os setores da superestrutura política: o são também, entre outros, e isto é novo, os bancos, as empresas privadas, o FMI e suas receitas neoliberais, a OCDE, o que dá à revolta popular um claro sabor anticapitalista.
As velhas e mumificadas instituições da representação política funcionais ao domínio oligárquico, pelo menos tal qual estão concebidas até agora, não resistem à prova dos fatos e são superadas por um povo e uma opinião que já não quer delegar e que projeta organizar-se com fortes doses de autonomia e de rechaço aos poderes constituídos.
São circunstâncias em que o bloco ideológico dominante tende a desintegrar-se e a perder sua capacidade de impulsionar o sistema para adiante, porém conta ainda com forças que podem moderar a crise e impedir um desenlace revolucionário.
Por isso, é necessário definir com clareza a correlação de forças e entender que o sistema de dominação não se constitui a partir da fachada da Casa de Nariño para dentro, senão que se conforma como um conjunto de forças que estão por trás do poder e que se reagrupam quando o “governo democraticamente eleito” perde o consenso e se racha e as massas começam a ganhar o campo político. É então quando aparecem as mancomunações, esses reagrupamentos que se verificam com as cúpulas de poderes em Palácio integrando o gabinete, a Igreja, os sindicalistas, construindo um mentiroso “diálogo de unidade nacional” do qual participam secretamente o FMI, o Banco Mundial, a UE, a OCDE e a Embaixada dos EUA e quando as forças políticas do sistema abandonam suas diferenças secundárias e se organizam à vista de todos como “partido único do sistema” no qual se chafurdam a U, os liberais, conservadores e sindicalistas pelegos.
Um novo sujeito popular.
Porém, também é imprescindível anotar com letras maiúsculas, porque é o fenômeno mais transcendente, que a característica principal da situação é que o sujeito popular massivo que ganha as ruas e o espaço público deixa de aceitar a direção das maquinarias politiqueiras que até ontem simplesmente o representavam.
Uma das características da crise orgânica é que a burocracia dirigente terminou por separar-se da massa; os partidos tradicionais, com a forma de organização que apresentam como empresa eleitoral, com aqueles determinados homens que os constituem, representam e dirigem já não são reconhecidos como expressão própria de sua classe nem de uma fração dela, diz Gramsci, concluindo que o partido termina por converter-se em anacrônico e, nos momentos de crise aguda, desaparece seu conteúdo social e fica como [se estivesse] nas nuvens.
Na crise orgânica, o sistema reforça a presença dos fatores do Estado que não se especializam precisamente nas arquiteturas do consenso ou no exercício cuidadoso da hegemonia cultural, e sim nos instrumentos de exercícios da coerção e corrupção, para o qual tende a territorializar as forças militares, a militarizar as polícias e forças de segurança e a combinar suas ações com as forças repressivas do poder global, como as que giram agora ao redor das bases ianques em nosso território e outras iniciativas militaristas.
A crise não é, e a realidade colombiana assim o confirma, algo surgido da noite pro dia. Se aduba de um leque de elementos de deterioração da dominação oligárquica no tempo e num regueiro de lutas populares que adquirem diversas formas e respondem a diferentes segmentos do sujeito popular, porém que vão se complementando entre si.
Há uma forte recuperação de elementos de consciência coletiva que se encontravam deteriorados por anos de ofensiva neoliberal.
Nas atuais circunstâncias, a função histórica das esquerdas, mais que autoproclamar-se vanguardas, é propender a fortalecer os elementos de autonomia e de cidadania das massas e da constituição de fatores de poder popular assentados no protagonismo do novo sujeito popular.
Há que considerar que nas crises orgânicas os setores dominantes não se paralisam, senão que buscam aproveitar a revolta inorgânica para produzir movimentos reacionários de direita buscando o massacre das mobilizações o e retorno à passividade política.
Por isso se torna decisivo propor nas assembleias e mobilizações populares e em cada circunstância, agora que o momento é propício, a construção de uma contra hegemonia, de um contrapoder, de um novo sistema de instituições que consolidem o direcionamento das forças antagônicas às da dominação.
Se bem que é necessário atuar com rapidez e responder um a um aos acontecimentos, deve-se prever também que a crise, que está aberta, tenha uma duração prolongada como produto dos esforços do bloco dominante por sustentar o regime.
Portanto, será crucial o aspecto da organização popular e sua capacidade para que a diversidade prevalecente possa manifestar-se de maneira unificada nas lutas por um período extenso para dar uma via positiva à espontaneidade e acumular forças. Junto, pois, aos esforços apontados à constituição do sujeito num novo sistema hegemônico, serão decisivas as tarefas de reforço das forças definidamente revolucionárias.
O elemento decisivo de toda situação –e voltamos a Gramsci- é a força permanentemente organizada e predisposta desde longo tempo que se pode fazer avançar quando se julga que uma situação é favorável [e é favorável só na medida em que uma força tal existe e está impregnada de ardor combativo].
Nesse sentido, a iniciativa apresentada desde Havana pela delegação das Farc de convocar uma Assembleia Constituinte soberana pela paz é um elemento que pode unificar todos os setores populares na ideia de uma mudança radical do Estado e do regime social e político na perspectiva de uma democracia ampliada e com justiça social.
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