"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 26 de fevereiro de 2012

NOSSA TERRA

Iván Márquez
Agencia de Noticias Nueva Colombia (ANNCOL.info)


Nossa terra, a que nos pertence porque nascemos nela, nossa pátria, hoje convertida em tesouro desejado pela pirataria transnacional em tempos de decadência e de crise sistêmica do capital. As transnacionais, Sarmiento Angulo y Santodomingo, Efremovich y Francisco Santos, e muitos outros ferozes piratas de tapa olho e faca, tem-se lançado à pilhagem das riquezas que ainda existem na Colômbia, com a anuência gangster e patente do corso Presidente Santos.

Investir na terra tem hoje alcances estratégicos. A geografia, o território, se tem convertido na obsessão da avareza do capital. Diante do declínio da produção petroleira em escala mundial as empresas têm voltado seus olhos para a perspectiva de ganhos rápidos com a produção de biocombustíveis e a exploração do subsolo. A Amazônia, a região do Orenoco e a extensa faixa do Pacífico são os novos espaços cobiçados pelo capital para a obtenção de lucros a qualquer preço. A terra já não interessa tanto como meio de produção pecuarista e de geração de soberania em alimentação. O negocio está na produção de biocombustíveis, de etanol, no cultivo do milho, cana-de-açúcar, palmeira africana e na exploração do que há na superfície e debaixo dela: petróleo, ouro, carvão, columbita-tantalita, ferro-níquel, água e biodiversidade, sem nenhum tipo de barreiras éticas nem sócio-ambientais.

Durante 25 anos, os últimos governos prepararam o terreno para o assalto. Temos vivido um quarto de século de despojo violento comandado pelo Estado, de expropriação de terras, de massacres paramilitares, de deslocamentos forçados. Definitivamente a mão negra do Estado é o paramilitarismo. Nesse lapso foram deslocados 5 milhões de camponeses e expropriados 7 milhões de hectares. O paramiltarismo de Estado, o plano Colômbia, a ingerência norteamericana no conflito interno, foram utilizadas como aríete criminoso para quebrar o povo e gerar condições de segurança para a entrada em cena dos investidores.

Após 8 anos de governo ilegítimo, ilegal e mafioso, Uribe acabou ensanguentado até os cabelos. Santos simplesmente está lavando o sangue o respinga no regime. É um falso samaritano tentando tampar com cosméticos o desprestigio internacional de um governo. Diferencia-se de Uribe porque não assassina descaradamente, mas mata e despoja em nome da constituição e da lei.

Modificam-se as aparências, mas o lucro e o saque são sagrados. Não se mexem. Nisso é igualzinho ou pior do que Uribe. A confiança dos investidores é o eufemismo que encobre a entrega da soberania. Uribe assinou com as transnacionais, contratos de segurança jurídica até por 20 anos, os encheu de incentivos, de isenções tributárias, de garantias para o espolio...Quantos fardos de dólares e moedas de prata terão acrescentado ao bolso deste Judas da Colômbia? E Santos? Está fazendo o mesmo. Seu empenho é aprofundar a política neoliberal e nesse contexto é o propulsor de uma legislação que privilegia os direitos do capital diante do interesse comum e da pátria. Transformou 90 mil soldados do exército colombiano em taciturnos seguranças das transnacionais, em guardas da infraestrutura e dos lucros do capital estrangeiro contra a inconformidade social. Não foi esse o papel designado ao exército pelo Libertador. Ele falou de defender as fronteiras e as garantias sociais.

Dia e noite, centenas de vagões de carvão e cerca de um milhão de barris de petróleo por dia saem do país rumo ao mercado internacional, espalhando também, grande contaminação ambiental, e Santos, cheio de incompreendida satisfação, proclama que as exportações estão crescendo e a que a economia crescerá 7%. Vale se perguntar, tal como o sugerem os especialistas e acadêmicos do pais, quão tão colombiana é a economia colombiana? Quem exporta o petróleo, o carvão, o ferro-níquel e o ouro? As transnacionais. A prosperidade é, então, das transnacionais e dos governantes vendidos, não o país. A este sobram apenas os buracos e socavões vazios e o desastre sócio-ambiental.

Toda a população de Marmato, Caldas – povoado de antiga tradição mineira – pretende ser deslocada pelo governo para que uma transnacional canadense possa explorar seu ouro a céu aberto. Agora estão tentando criminalizar a mineração artesanal da que depende o sustento de milhares de colombianos, para entregar o monopólio da exploração aurífera às transnacionais. À frente desta campanha está o ministro de Minas e Energia. Por todos os lugares se ouve sua ladainha mentirosa de que este tipo de mineração está ligado aos bandos criminosos e ao terrorismo. O cúmulo da desfaçatez! É urgente amarrar esse burocrata louco que Santos colocou à frente do ministério, Mauricio Cardenas, antes de acabe destroçando o pouco de soberania que milagrosamente ainda temos.

Todos os esforços da estratégia de Santos estão dirigidos a legalizar o despojo, quer dizer, despojar e expropriar em nome da lei; suavemente, sem esse derramamento de sangue que tanto escandaliza a opinião pública internacional. Esse é o espírito que domina o pacote legislativo que será enviado ao Congresso em março. A lei de terras e indenização das vitimas promovida por Santos é um engano, assim como confundir sobre a verdadeira identidade dos culpados. De forma insólita resolveu pregar ultimamente, atirando para todos os lados, que a insurgência é a causa do despojo, quando historicamente está demonstrado que o responsável é o Estado com seu exército, seus paramilitares, seus latifundiários, seus pecuaristas e suas leis. Assim, o Presidente se assemelha ao ladrão que grita: pega ladrão!

Sim. Santos começou a dar o titulo de terras a supostos ou verdadeiros deslocados, mas o que está entregando é um direito à superfície, um papel de ilusões que leva o camponês a acreditar que é o dono da terra, sendo que na realidade o que está entregando é um titulo para que possa vender ou alugar. Logo cairão sobre os camponeses, como abutres, as transnacionais e a agroindústria, para alugar com direito a 20 ou 30 anos para produzir etanol e extrair ouro, petróleo, carvão, enquanto o camponês continuará confinado nos mesmos cinturões de miséria das grandes cidades, longe da sua terra, vivendo talvez de uma renda precária.

A terra, nestas circunstâncias, faz com que a categoria PÁTRIA perceba-se mais nítida e se aferre com todas suas forças ao coração dos colombianos. Lutar pela soberania deixa de ser uma bandeira abstrata, incompreendida e etérea, para se converter em exigência de dignidade das maiorias. Dessa forma, o punho da pátria levantado contra o saque das riquezas nacionais e a devastação do meio ambiente, adquire novas dimensões e ao mesmo tempo denota um novo nível de consciência de luta popular. Defender o nosso, nossa terra, é defender nossa dignidade.

Montanhas da Colômbia, fevereiro de 2012

(*) Iván Márquez é comandante e membro do Secretariado das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo (FARC-EP).