"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 30 de março de 2012

LANÇAMENTO DO MOVIMENTO POLÍTICO MARCHA PATRIÓTICA E CONSTITUIÇÃO DE SEU CONSELHO PATRIÓTICO NACIONAL

21, 22 e 23 de abril de 2012.


http://www.marchapatriotica.org/

   As organizações sociais, populares e políticas de camponeses, indígenas, estudantes, trabalhadores, de bairros, culturais e em geral, compostas por milhares de mulheres e homens explorados deste país, que, desde 20 de julho de 2010, nos articulamos e organizamos na Marcha Patriótica pela Segunda e Definitiva Independência,

CONVOCAMOS:

   O conjunto do povo colombiano, suas organizações, todas aquelas pessoas que em nosso país e em todas as latitudes do mundo compartilham conosco este anseio por transformações, de verdadeira democracia, de paz com justiça social, em síntese, a todas aquelas e todos aqueles que compartilham os sonhos e propostas apresentados na proclamação pela segunda e definitiva independência, fruto da vontade popular e soberana de milhares de mulheres e homens de nosso país, ao Lançamento do Movimento Político Marcha Patriótica e Constituição de seu Conselho Patriótico Nacional, uma proposta de organização eminentemente política, social e democrática, profundamente comprometida na defesa da causa popular e das reivindicações dos setores menos favorecidos da sociedade ou afetados pelas políticas neoliberais do Estado; um movimento que dinamize a variedade de formas de organização e mobilizações existentes em qualquer região da Colômbia, que cresça e se fortaleça, até se converter em uma verdadeira alternativa de transformação democrática para todo o povo colombiano, a ser realizado nos dias 21, 22 e 23 de abril de 2012, na cidade de Bogotá.

A crise e a mobilização social e popular

   O Lançamento do Movimento Político Marcha Patriótica e a Constituição de seu Conselho Patriótico Nacional se dá em meio de um importante e vigoroso aumento da mobilização social e popular não somente em nosso país, mas também em diferentes latitudes do mundo, contra a crise do capitalismo e pela geração de alternativas verdadeiramente democráticas, que possibilitem a existência de sociedades justas e dignas.
   
   Mais uma vez, o capitalismo entrou em crise demonstrando sua incapacidade estrutural de resolver os problemas materiais mínimos das maiorias, além de sua comprovada essência depredadora, que põe cada vez mais em questão a existência de nosso planeta.

   Nesta ocasião, a crise tem seu centro na financeirização promovida pelo modelo neoliberal, o qual põe como eixo principal da economia e, porque não dizê-lo, de nossas sociedades, o sistema financeiro, caracterizado por ser fundamentalmente especulador e parasitário, afetando a produção real de riqueza e gerando acumulação para uma ínfima minoria sobre a base da negociação, por parte desses poucos, dos bens e do bem-estar do conjunto de nossos povos.
  
   Frente a essa crise, as classes possuidoras, que estão no governo da maioria dos países do mundo, saíram apressadamente para salvar os bancos e o conjunto do sistema financeiro, enquanto impõem às grandes maiorias os custos da crise, através de fortes cortes dos investimentos sociais por parte dos Estados, promovendo novas ondas de privatização da saúde, da educação, da ordem territorial e de maior precarização dos direitos dos trabalhadores, tudo isso, por suposição, acompanhado de fortes doses de repressão e de cinismo contra os reais afetados por essas medidas.

   Diante desse panorama, a digna mobilização não se fez esperar em todas latitudes do mundo, no Magreb, na beligerante resistência do povo grego, na greve que mostra um ressurgimento da histórica classe operária inglesa, no grito de “democracia real já” de milhares de indignados na Espanha, nos milhares de estudantes que contra o modelo neoliberal voltam a abarrotar as grandes avenidas de Allende no Chile, demonstrando na prática que “a história é nossa e a fazem os povos” e, logicamente, a luta singular que muitos estadunidenses vêm fazendo em Wall Street.

   Na Colômbia, corajosamente, apesar de tanta morte e humilhação por parte do regime, assistimos a uma importante reativação do movimento social e popular contra as manifestações da crise em nosso país, contra o aprofundamento do modelo neoliberal, com seu necessário componente de guerra (adiantado pelo presidente Juan Manuel Santos) e pela recuperação dos direitos mínimos de nosso povo.

   É assim como em nosso país a herança de Ignacio Torres Giraldo, arquétipo da classe operária colombiana, está presente nas greves impulsionadas recentemente pelos trabalhadores do petróleo, especialmente em Campo Rubiales, no Meta. Sente-se também o clamor de mais de 30 mil pessoas que, nas ruas do histórico Barranco Avermelhado, em meados de 2011, fizeram retumbar a palavra de ordem da solução política, da paz e do direito à terra; a lição unitária do movimento estudantil colombiano que, através da mobilização, do debate e da organização – contando com o apoio de grandes setores da população colombiana – ganhou uma importante batalha contra o governo nacional, que tinha a intenção de privatizar a educação superior. Presenciamos também a importante confluência que significa o CONGRESSO DOS POVOS e o esforço unitário que representa a criação do COMOSOCOL.

   Parte ativa e muito importante dessa reativação do movimento social e popular é o nosso processo da Marcha Patriótica pela Segunda e Definitiva Independência, herdeira e continuadora da façanha independentista, democratizadora e soberana, empreendida por Bolívar, Nariño, José Antonio Galán, Benkos Biojó, Policarpa Salavarrieta, Manuela Beltrán e milhares de homens e mulheres que, ao longo desses mais de 200 anos, ofereceram suas vidas na conquista de tão altos propósitos. Nosso processo significa o encontro e a articulação de camponeses, estudantes, indígenas, trabalhadores, organizações de bairros, personalidades democráticas e expressões de todos os setores sociais, construindo uma proposta alternativa de país, invocando a soberania direta do povo através das assembleias abertas, retomando a mobilização e as ruas como elemento indispensável para a transformação, com vocação unitária e reafirmando, a cada dia, a importância da organização popular, tudo isso com o objetivo de conquistar para o povo sua participação decisória no governo da pátria, elemento que hoje se constitui no principal motivo da conformação de nosso Conselho Patriótico Nacional.

Presidente Juan Manuel Santos – neoliberalismo: aprofundamento do despojo e continuação da guerra contra o povo colombiano

   O governo de Juan Manuel Santos significa a aposta das classes dominantes na recomposição do regime político colombiano, o que é fundamental para a perpetuação de seus interesses, regime certamente enfraquecido em alguns elementos importantes depois dos oito anos do governo anterior. Logrou seu objetivo com relativo êxito através da chamada Unidade Nacional, verdadeiro pacto de elites, que, com o maior descaramento, repartiu os postos e os recursos do Estado como verdadeiro butim pirata, com o objetivo de comprar qualquer tipo de oposição, garantindo a unanimidade no interior do congresso e a maioria dos partidos políticos, assegurando a implementação do aprofundamento do modelo neoliberal, principal objetivo desse governo.

   Outro componente fundamental nessa intenção de maquiar o regime político colombiano tem sido uma decidida estratégia de cooptação de setores que outrora afirmavam defender os interesses populares, assim como uma política muito habilidosa de amoldamento e promoção de uma suposta nova esquerda, claramente dócil e funcional aos interesses das classes dominantes e à continuidade de seu projeto neoliberal.

   Essas ações lograram efetivamente cooptar algumas organizações sociais, tornar invisível, atacar e estigmatizar sistematicamente as posições de esquerda que questionam o modelo, promovendo sobre estas a etiqueta da ortodoxia e da imobilização. Especial atenção merecem as consequências que tiveram essa estratégia em nível internacional, com a aprovação do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, Canadá e a União Europeia e a confusão de muitos setores progressistas internacionais que veem com lástima a realidade de nosso país através da visão dos grandes monopólios da desinformação.

   Os elementos anteriormente mencionados facilitaram ao governo de Juan Manuel Santos adiantar uma reengenharia institucional neoliberal, através de um agressivo pacote legislativo, o qual começa com o Plano Nacional de Desenvolvimento e suas locomotivas do despojo, a reforma que consagra como princípio constitucional a sustentabilidade fiscal, a reforma do sistema nacional de royalties, a reforma do sistema de saúde, da justiça e do derrotado projeto de reforma da educação superior, só para mencionar alguns deles, visando aprofundar em nosso país a privatização de todos os elementos necessários da vida humana e da natureza, o despojo de nossos elementos naturais mais apreciados, a precarização absoluta das condições dos trabalhadores colombianos e o predomínio absoluto do setor financeiro que dessangra as finanças estatais e as riquezas dos colombianos, configurando-se dessa maneira em nosso país a terceira sociedade mais desigual do mundo.

   Esse modelo profundamente desigual, que se perpetua fundamentalmente através da guerra empreendida pelo regime contra o povo colombiano, tornou possível níveis absurdos de concentração das terras de nosso país através do deslocamento forçado de milhões de camponeses e do ataque sistemático às suas formas de organização. As “vantagens competitivas” para a economia colombiana, que significam salários de fome para nossos trabalhadores, foram conseguidas graças ao assassinato seletivo de milhares de sindicalistas, o saque descarado de nosso ouro, água, petróleo e demais elementos naturais, e se ergue sobre o extermínio consciente e deliberado de nossas comunidades indígenas e afro-colombianas. A continuidade no governo colombiano desses mercadores da morte se explica em grande medida devido ao genocídio de qualquer forma real de oposição política.

   É nessa realidade que encontra explicação a existência de nosso conflito social, político e armado, assim como a presença histórica das insurgências de nosso país; é por isso que se equivocam aqueles que afirmam que o atual governo conta com uma política de paz. Nesse ponto, a única política desse governo é a guerra total contra o povo colombiano: não se pode pensar que se avança até a paz quando as causas estruturais que originaram o conflito não só permanecem, mas também que se aguçam, quando se mata o opositor político e se fecha cada vez mais os espaços da já maltratada democracia. É por isso que, a partir da Marcha Patriótica e da Assembleia Aberta pela Independência, cremos que a luta pelas reivindicações mais sofridas de nosso povo e a luta pela solução política são elementos que necessariamente têm que se desenvolver de maneira conjunta: isso hoje é tarefa urgente e inadiável.

A cultura, a academia e a arte: elementos indispensáveis para nossa segunda e definitiva independência

   A desaforada depredação promovida pelo capital financeiro e pelo sistema bancário internacional, produto da concentração de riqueza do mundo em poucas mãos, não somente afeta a vida material dos países e das pessoas, como também afeta a identidade cultural dos povos, as tradições e as expressões culturais e artísticas.

   Por sua vez, as políticas neoliberais dos países imperialistas, agravadas pelos tratados profundamente desiguais do chamado “livre comércio”, promovem o saque das riquezas naturais, impondo para isso modos homogêneos de ser e de pensar.

   A isso contribuem os meios de comunicação, que formam parte do sistema, com a característica de que estes são os encarregados, desde o plano da cultura, de preparar o caminho mediante a desinformação massiva e a distorção da realidade, para que o imaginário coletivo social se mantenha seduzido pelo modelo, na passividade e no consumismo.

   A Cultura não é, como nos querem fazer crer, um luxo de uns tantos iniciados, ou umas atividades massivas de entretenimento. É uma necessidade vital do povo e das pessoas, um assunto fundamental da política, pois tem relação com nossa maneira de ser, de habitar o mundo, com nosso sentido de memória e de pertencimento, com nossa capacidade de prefigurar o futuro. E, portanto, com a vontade de atuar no “aqui e agora”!

   Amilcar Cabral, um poeta africano, dizia que a Cultura é feita da capacidade que têm os povos de responder às crises. Nós, ao mesmo tempo em que reconhecemos a crise, vemos, na busca de sua saída, uma grande oportunidade de mudança.

   A Cultura é a ponte entre a memória herdada das tradições e da decisão coletiva e pessoal, no presente, de lutar para que outro mundo seja possível.

   Essa Marcha Patriótica nos estimula a desenvolver a mobilização social pelos grandes ideais de Justiça que nos incentivem a encontrar, mais cedo que tarde, soluções criativas e coletivas ao conflito.

   Essa Marcha Patriótica não depende só da razão, que a temos de sobra. A sensibilidade e os sentimentos coletivos são, para todas e todos nós, assuntos fundamentais. Queremos fazer essa caminhada com canções, poemas e obras de teatro que desautorize o mito de que os poderosos são o modelo e de que são invencíveis. Não são! E o riso e a festa nos ajudarão a demonstrá-lo.

   As batalhas não devem se dar somente no terreno da Economia, mas também no terreno das ideias e no das imagens. Por isso, expressamos nossa valorização da arte e da cultura e a necessidade de contar com as e os artistas como sujeitos criadores.

   Por isso, convocamos imediatamente o povo colombiano a marchar conosco por um novo modelo de sociedade, chamamos os intelectuais democratas e as e os artistas, que contribuam com sua voz, seu pensamento e suas obras para vencer nesse empenho.
Façamos da Marcha Patriótica um grande acontecimento social, político e cultural.

O Movimento Político Marcha Patriótica e seu Conselho Patriótico Nacional, rumo à construção de uma alternativa política para a segunda e definitiva independência.

   É precisamente nesse contexto que a Marcha Patriótica, na perspectiva de se converter na alternativa política para a segunda e definitiva independência, convoca para a constituição e para o lançamento de seu Conselho Patriótico Nacional, como espaço amplo, inclusivo, deliberativo e estratégico, que deverá dotar esse novo instrumento político de uma plataforma, que contemple as reivindicações centrais do nosso país, e das perspectivas de ação para conquistá-las, assim como sua necessária estrutura interna.

   A configuração da Marcha Patriótica como movimento político não significa a dissolução das organizações políticas, sociais e populares que a compõem, nem muito menos que estas se afastem de suas ações e reivindicações setoriais; ao contrário, significa a constituição de um movimento de movimentos, que potencialize muito mais a atual reativação da mobilização e que articule as lutas de cada setor e as projete na disputa estratégica por um modelo de país e de sociedade. Para essa tarefa, é indispensável e determinante disputar o poder político do governo e do Estado com as atuais classes dominantes, que levaram o país a ocupar o vergonhoso segundo lugar entre os países mais desiguais da América e o terceiro no mundo.

   Nosso movimento político deve encorajar a ação de todos os colombianos e colombianas que se encontram inconformados, indignados e entediados com a situação atual repleta de pobreza, humilhação e morte e que desejam construir uma Colômbia verdadeiramente democrática, com um modelo econômico e político no qual o direito à saúde, à educação, à cultura, à moradia, à recreação sejam uma realidade para o conjunto da população; um país no qual se impeça o roubo de nossos bosques, campos andinos e riquezas; uma Colômbia na qual a diferença política seja um elemento essencial para o debate democrático; uma nação soberana, um país em paz, com justiça social – em síntese, uma Colômbia que alcance a segunda e definitiva independência.

   Fazemos isso com a profunda convicção de que a transformação de nosso país necessita urgentemente de um movimento político composto, em todo o seu ser e razão, pelas lutas e organizações sociais, populares, intelectuais e setores democráticos, que tenha, como princípios paralelos, o trabalho de base, a mobilização, a organização e a unidade do povo colombiano e o profundo compromisso de defender os interesses populares e das maiorias nacionais, para que possa alcançar a sinergia emancipadora entre as lutas sociais, as reivindicações e a disputa do poder político para colocá-lo ao serviço de todos os colombianos e não de una elite oligárquica.

METODOLOGIA E AGENDA:

Sábado - 21 de abril de 2012

Ato de Instalação:

→ Das 9 às 10 horas: leitura da convocação, explicação da metodologia e leitura das saudações

→ Das 10 às 12:30 horas: Painel inaugural “A construção de alternativas políticas e a mobilização social e popular contra a crise”

→ Das 12:30 às 14 horas: almoço

→ Das 14 às 18 horas: Trabalho das mesas:
   - Caracterização do regime político colombiano
   - Caracterização interna da Marcha Patriótica e do Conselho Patriótico Nacional
   - Plataforma política da Marcha Patriótica
   - Plano de trabalho 2012-2014
   - Política organizativa da Marcha Patriótica
   - Política internacional da Marcha Patriótica

→ 18 horas: Ato cultural

Domingo - 22 de abril de 2012

→ Das 8 às 10 horas: Plenária por comissões

→ Das 10 às 12:30 horas: Reunião por setor social:
   - Camponeses
   - Estudantes
   - Trabalhadores
   - Indígenas
   - Afro-colombianos
   - Mulheres
   - Organizações de bairros
   - Jovens
   - Artistas
   - Personalidades democráticas
   - Direitos Humanos

→ Das 12:30 às 14 horas: almoço

→ Das 14 às 18 horas: plenária geral e designações de pessoas para as diferentes instâncias colegiadas

→ 18 horas: Ato cultural

Segunda-feira - 23 de abril de 2012

Ato de lançamento do Movimento Político Marcha Patriótica e Constituição de seu Conselho Patriótico Nacional.

   Nesse dia, as diferentes organizações e processos de todos os departamentos enviarão um bom número de delegações para participar no ato de mobilização cultural e política, no qual será lançado o Conselho Patriótico Nacional e se dará a conhecer publicamente suas principais definições e propostas face ao país.

→ Das 8 às 10 horas: Recepção das delegações

→ Das 10 às 13 horas: Mobilização pela segunda e definitiva independência

→ Das 14 às 19 horas: Ato político e cultural
 

Mais informação: http://www.marchapatriotica.
http://agendacolombiabrasil.blogspot.com.br/

quinta-feira, 29 de março de 2012

FARC: Libertação de prisioneiros de guerra

Comunicado

1- Ante as dificuldades expostas pelo CICV para garantir o apoio logístico às liberações na data do 26 de março, não temos inconveniente em adiar por uma semana a mais a libertação dos 10 prisioneiros de Guerra, que em conseqüência terá lugar na Segunda-feira, 2 de abril.

2- Aos familiares desses prisioneiros lhes pedimos um pouco de paciência. Temos planificado esta liberação para que todo ocorra normalmente, sem problemas. Confiamos que em breve poderão abraçar seus entes queridos. Em contraste com essa eventualidade feliz, os guerrilheiros e o conjunto dos prisioneiros políticos estão realizando atualmente uma jornada de protesta nos cárceres do Estado, reclamando o fim das condições desumanas de sua reclusão, bem como garantias processuais e jurídicas. Esperamos que o governo cumpra sua palavra de permitir a visita da Comissão de “Mulheres do mundo pela paz” aos nossos combatentes (homens e mulheres), imputados de rebelião e de todos os cargos (montagens) dos que os acusam, só para desfigurar o delito político e cobrar assim vingança por sua rebelião armada, apesar de que esta é reconhecida pelos Estados como um direito universal.

Secretariado del Estado Maior Central das FARC-EP

Montanhas de Colômbia, Março 26.

Dia do direito universal dos povos à rebelião armada.

Que todos saibam quem são



Com ações inspiradas na experiência da Argentina e Chile denunciam-se, em sete cidades, a torturadores da ditadura militar no Brasil.

Ignacio Lemus
Rebelión


Um estudante se aproxima da porta da empresa de segurança Dacala com um cartaz que mostra o rosto de David dos Santos Araújo, dono da empresa e acusado pelo Ministério Público Federal de tortura e assassinato durante a ditadura militar no Brasil. Atrás da grade que divide manifestantes e empregados, o encarregado da segurança deixa a mostra o seu revolver por sob o paletó para intimidar o jovem.

Essa tensão caracterizou uma jornada histórica em que manifestantes de São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro, Belém e Curitiba protestaram simultaneamente diante das residências e empresas dos acusados por tortura e assassinato durante a ditadura militar.

Além da presença de alguns presos políticos, destacou-se uma grande maioria de jovens com bumbos, panfletos, cartazes e bandeiras, que através de vozes como a de Lira Alli, integrante da organização Levante Popular da Juventude anunciavam: “estamos aqui porque a verdade está sendo ameaçada e nós jovens queremos conhecer o nosso passado, para construir o nosso futuro”.


Esculacho

A articulação do “esculacho”, termo derivado do “escracho” que dá nome a uma ação inédita no Brasil, ficou sob a responsabilidade do Levante Popular da Juventude, organização ligada à Via Campesina, do MTD (Movimento de Trabalhadores Desempregados) e da Consulta Popular.

Manteve-se a discrição na coordenação para não alertar os ex-militares e ex-policiais focos do escracho, por outro lado a curta duração das iniciativas impediu a intervenção da policia.

A experiência marca um ponto antes e um depois na participação da sociedade brasileira no esclarecimento dos crimes de Estado, segundo os organizadores inspira-se em ações argentinas e chilenas que serviram para visualizar muitos dos que hoje estão sendo julgados nesses paises.


Verdade, memória e justiça.

Enquanto há expectativa na nomeação parte da presidenta Dilma Roussef dos membros da Comissão da Verdade que investigará os crimes durante a ditadura militar, existe uma grande divida em relação à decisão do Poder Supremo em 2010 de proteger a anistia que impede o julgamento dos culpados.

Foi então o clamor por justiça, um dos pontos de destaque no manifesto lido durante os escrachos: “Torturadores e apoiadores da ditadura militar, vocês não foram absolvidos! Não podemos aceitar que vivam suas vidas como se nada tivesse acontecido, enquanto que do nosso lado, o que fica é o silêncio, saudades e a loucura provocada pela tortura. (...) Enquanto todos os torturadores não forem julgados, não vamos dormir, nem descansar. (...)”, foi repetido em uníssono pelos manifestantes.


Aqui vive um torturador

Para os vizinhos os crimes de David dos Santos Araújo eram novidade. Alguns dos seus empregados declararam desconhecer a ficha do seu próprio chefe, mesmo assim não duvidavam ao tomar os cartazes dos manifestantes.

Trata-se do capitão Lisboa, como era chamado na Operação Bandeirante, um dos centros de tortura da ditadura militar. Ivan Seixas, que foi prisioneiro político em 1971, o reconhece, assegura que aos 16 anos foi torturado por Araújo, que também assassinou seu pai e violentou a sua irmã.

Em Belo Horizonte, o ponto de encontro foi a residência de Ariovaldo da Hora e Silva, torturador pertencente ao DOPS – Departamento de Ordem Política e Social, entre 1969 e 1971 e relacionado com as mortes de Jaime de Almeida, Afonso Celso Lana Leite e Nilo Sérgio, opositores do governo militar.

Em Porto Alegre, o destino foi a casa do coronel Carlos Alberto Ponzi. Ex-chefe do SNI – Serviço Nacional de Informações, acusado pela justiça italiana pelo desaparecimento do militante argentino-italiano, Lorenzo Ismael Viñas, seqüestrado ao tentar cruzar a fronteira para a Argentina, em 1980, durante a Operação Condor e um ano depois da assinatura da lei da anistia.

O escritório de advocacia do ex-delegado da Policia Federal de Fortaleza, José Armando Costa, também foi alvo de protestos e seus familiares e empregados tentaram impedir o escracho sem êxito.


48 anos do Golpe

Enquanto a sociedade brasileira se mobiliza antecipando o 48º aniversário do golpe militar, em 31 de março e 1 de abril, a ação acontece somente em um pequeno setor da imprensa e recebe as costas das grandes cadeias televisivas, à exceção da Rede Record que descreveu os escrachos como uma ação de “guerrilha”.

No extremo oposto se vê o mega monopólio Rede Globo, que além de se fazer de surda aos protestos de ontem, há dias dava espaço ao anuncio das festividades dos militares pelo aniversário da “Revolução”, comemoração pelo golpe de Estado de 1964 (já proibidas por Dilma Roussef).

quarta-feira, 28 de março de 2012

FIDEL E A RELIGIÃO


Pablo Mora
Rebelión


Em 1985 começou um famoso dialogo entre Fidel Castro e o frade dominicano Frei Beto que apareceria no antológico Fidel e a Religião, “livro que teve um grande impacto porque tirou o prejuízo dos comunistas e o medo dos cristãos, criou pontes nas duas margem de um mesmo rio”, diria Betto. A primeira vez que um líder comunista no poder falava positivamente da religião, diante de colocações provocativas. Fidel Castro oferece revelações sobre sua informação pessoal e discute com sinceridade sua visão sobre religião. O resultado foi uma extraordinária reconciliação entre religião e revolução. Fidel assinala: “Há 10.000 vezes mais coincidências entre o cristianismo e o comunismo que entre o cristianismo e o capitalismo”. E Frei Betto concorda em que “as sociedades socialistas que criam melhores condições de vida para seu povo estão, inconscientemente, cumprindo com o que nós, homens de fé, consideramos o projeto histórico de Deus”.

Por ocasião da segunda viagem do Papa Benedito XVI a América Latina, México e Cuba, reproduzimos alguns momentos do diálogo entre Fidel Castro e Frei Betto, em 1985. Ai está a carta de liberdade de religião no socialismo cubano, admitindo-se que esta também pode contribuir para mudar a realidade, revolucionar um país, derrubar a opressão e implantar a justiça. O que leva Frei Betto a afirmar: “O que falta aos Bispos cubanos é uma teologia que lhes permita entender o socialismo como uma etapa imprescindível no caminho rumo ao Reino de Deus”.

Frei Beto: “Em Medellín, em 1968, começaram muitas mudanças na Igreja no nosso continente; a Igreja se aproximou mais dos pobres... E eu costumo dizer que mais do que a Igreja fez em opção pelos pobres, por força da repressão, os pobres fizeram opção pela Igreja, ou seja, buscaram na Igreja um espaço para se manter organizados, articulados, conscientes e atuantes”.

Fidel Castro: “Você expressa realmente com muita beleza que os pobres invadiram a Igreja. Eu acho que a dor dos pobres invadiu a Igreja, a tragédia indescritível dessas massas invadiu a Igreja. Acredito que o grito de dor chegou até a Igreja, sobretudo aos pastores que estavam mais próximos do rebanho, que podiam ouvir mais de perto seus gritos, suas dores, seus sofrimentos”.

Frei Beto: “Certa vez o senhor disse que aquele que se distancia dos pobres se distancia de Cristo. Não sei se o senhor, possivelmente, tinha consciência de que esta frase não somente é uma frase muito famosa, diria eu que é o fundamento de toda a Teologia da Libertação. Mas, nesta frase, o senhor concordou com uma frase de João Paulo II em sua encíclica Laborem Exercens, que trata do trabalho humano, em que reafirma que a fidelidade da Igreja com Cristo se verifica pelo seu compromisso com os pobres”.

Fidel Castro: “De fato, certa vez, disse uma frase que posso reiterar hoje, essa que você mencionou: aquele que trai o pobre, trai Cristo... Sempre fizemos o possível para que não se pudesse desenvolver nenhum sentimento anti-religioso na Revolução, por uma questão de princípios, por respeito às crenças e porque são realidades as religiões e os sentimentos religiosos”.

terça-feira, 27 de março de 2012

NUNCA MAIS

Adolfo Pérez Esquivel
Revista Amauta


A ditadura militar no Brasil, que governou de 1964 até 1985, baseou-se na Doutrina de Segurança Nacional Norteamericana e formou muitos dos seus militares na Escola das Américas, situada no Panamá, e em Academias Militares dos EUA.

A concepção ideológica e metodológica foi estudada e aperfeiçoada na Escola Superior de Guerra do Brasil e serviu como formação e doutrinamento das forças armadas de outros países onde também se aplicou o Plano Condor, com o objetivo de impor o terror, sequestros, torturas, assassinatos, transporte de prisioneiros de um país para outro e operações conjuntas em diversos países por forças-tarefa do Chile, Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e sua extensão para outros países centroamericanos.

Esta concepção ideológica, enquadrada no confronto Leste-Oeste, foi imposta em todo o continente pela mão da hipótese de conflito do inimigo interno, transformando as forças armadas em tropas de ocupação do seu próprio povo.

Não é objeto deste artigo se estender na análise disto que assinalo, mas gostaria de recomendar os trabalhos de pesquisa do sacerdote belga que viveu grande parte de sua vida no Brasil, Joseph Comblín, sobre a Doutrina de Segurança Nacional, e da pesquisadora e jornalista argentina Stella Calloni, que publicou a obra A hora do lobo.

O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, deve ter suportado a pressão de setores das forças armadas quando tentou constituir a Comissão da Verdade para investigar os fatos ocorridos durante a última ditadura militar. É preocupante e surpreendente que alguns militares da reserva do Brasil tentem boicotar a formação da Comissão da Verdade, que já é lei, confrontando e condicionando o governo da presidenta Dilma Rousseff para garantir o silêncio e a impunidade dos crimes de lesa-humanidade cometidos contra o povo brasileiro.

Um breve comentário sobre o Plano Condor, por ter sido vitima dessa política em vários países latinoamericanos.

No Brasil fui detido em duas oportunidades, a primeira foi em São Paulo em 1975, no aeroporto, e levado ao DOPS – da Policia Federal -, quando preparávamos um encontro de Bispos latinoamericanos com o Cardeal Arns em São Paulo.

A segunda detenção foi em 1981, quando, no Rio de Janeiro, na OAB, afirmei que a auto-anistia que os militares se deram era uma ofensa ao povo e que atentava contra o direito, porque a impunidade impede a construção da democracia.

As duas vezes, o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo, Bispos, comunidades religiosas e organizações sociais conseguiram a minha liberdade.

Hoje, o general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva, juntos com outros oficiais da reserva, pretendem colocar em duvida os acontecimentos sofridos pelo povo brasileiro nos anos da ditadura, para gerar suspeitas e enevoar a verdade histórica. O medo da investigação histórica dessa instituição corporativa está provocando um grave dano às Forças Armadas e às novas gerações que a integram.

Cada povo deve encontrar seu caminho e fortalecer suas instituições democráticas. Insisto que com impunidade é impossível construir uma democracia; os países que ocultam a memória, ou pretendem ignorá-la, perdem sua identidade e valores.

As Forças Armadas devem ter a coragem de analisar o seu papel nos acontecimentos de cada país durante as ditaduras e ajudar à Verdade. Não devem esquecer que são parte integrante do povo e não entidades separadas.

Até a sanção da lei nº. 12.528, constitutiva da Comissão da Verdade, no final de 2011, o Brasil era o único país latinoamericano que não tinha conformado uma comissão investigadora dos crimes de sua própria ditadura.

Não é possível construir um projeto de país livre e soberano se as Forças Armadas estão ausentes, é necessário recuperar a mística dos libertadores da independência dos nossos povos e trabalhar para a integração regional e continental.

Devemos ser solidários e apoiar a presidente Rousseff, que está levando à consciência e vida do seu povo a necessidade de reconstruir a memória e encontrar os caminhos de paz entre os diversos setores do povo brasileiro.

A Argentina tem avançado exemplarmente no direito da verdade e justiça. Tudo isto foi possível graças à incansável luta dos órgãos de direitos humanos, o apoio da sociedade e da vontade política do ex-presidente Nestor Kirchner e da presidenta Cristina para superar a impunidade jurídica. Este é o caminho correto para que nunca mais voltemos a viver o horror, a morte e o desaparecimento de pessoas, de crianças, vitimas do horror de políticas nefastas impostas através da Doutrina de Segurança Nacional para submeter os povos.

O acontecido no Brasil, pela pressão de setores das Forças Armadas, afeta-nós a todos, são remanescentes de um passado recente e devemos ser solidários e estar alertas sobre esses brotos, que tem ocorrido recentemente em alguns países da nossa América.

É importante que as novas gerações das Forças Armadas assumam seu papel específico junto ao povo na defesa da soberania, do direito à democracia e à vida.

Adolfo Pérez Esquivel é Prêmio Nobel da Paz. Presidente do Servicio Paz y Justicia Argentina.

Fonte: http://revista-amauta.org/2012/03/brasil-nunca-mais/

sábado, 24 de março de 2012

Colômbia procura paz e justiça: O contexto internacional e nacional

Entre 21 e 23 de Abril, o Conselho Nacional Patriótico vai convocar milhares de activistas da maior parte dos principais movimentos sociais urbanos e rurais e de sindicatos, grupos dos direitos humanos e movimentos indígenas, afro-colombianos, que se vão juntar para unir forças e lançar o que promete ser o novo movimento político mais significativo da história recente. Unidos num compromisso comum de procurar uma solução política para acabar com 60 anos de conflito social armado, o encontro vai decidir uma estratégia para derrotar os narco-regimes políticos do passado e do presente, recuperar as terras e as casas de 4 milhões de camponeses, índios, agricultores e afro-colombianos desalojados. O ponto central da missão deste encontro será a recuperação da soberania nacional, gravemente comprometida pela presença de sete bases militares americanas, pela apropriação a grande escala e a longo prazo por parte das multinacionais estrangeiras dos recursos minerais e energéticos do país, e a protecção das comunidades indígenas e afro-colombianas contra a depredação ambiental. O encontro de Abril tem vindo a ser preparado por reuniões de massas, organizadas por conselhos populares, determinados a pôr fim às máquinas políticas paramilitares e dos latifundiários que controlam o eleitorado.

Há boas razões para crer que este movimento político terá êxito onde outros falharam, em grande parte por causa da amplitude e abertura dos participantes, da crescente cooperação e unidade em lutas comuns pela reforma agrária, por uma democracia participada e pela oposição quase universal ao militarismo apoiado pelos EU e ao acordo neoliberal de comércio livre.

Perspectivas internacionais: Um contexto promissor
Nunca o clima internacional foi tão favorável, em especial na América Latina, para o crescimento da iniciativa democrática popular da Colômbia e para o possível êxito político deste "movimento de movimentos".
Por quase toda a América do Sul e Caraíbas um momento histórico favorável de autonomia regional assumiu uma forma organizada, apoiado por quase todos os principais países da região. A ALBA (Alternativa Bolivariana para a América Latina) liga uma dezena de países das Caraíbas e dos Andes num pacto de integração regional liderado pelo dinâmico governo democrático e anti-imperialista de Hugo Chavez, presidente da Venezuela. A UNASUR (União das Nações Sul-americanas), o MERCOSUR (Mercado Comum do Sul) e outras organizações regionais, são expressão da crescente independência política e económica da América Latina e uma rejeição da OEA (Organização de Estados Americanos). Em termos práticos, o crescimento destas organizações regionais independentes significa uma rejeição à intervenção militar patrocinada pelos EUA, conforme ilustrado pelo seu repúdio ao golpe militar nas Honduras apoiado por Washington em 2009. A oposição da América Latina ao Acordo de Comércio Livre da América, de Washington, levou ao crescimento do comércio intra-regional e forçou Washington a procurar 'acordos bilaterais de comércio livre' com o Chile, a Colômbia, o Panamá e o México.

O crescimento da integração regional autónoma proporciona duas vantagens estratégicas: reduz a dependência econômica em relação aos EUA e enfraquece a vantagem de Washington em impor sanções económicas contra qualquer governo nacionalista, populista ou socialista na região. Isso é evidente no fracasso de Washington em conseguir apoio latino-americano para o seu bloqueio a Cuba ou para as sanções contra a Venezuela. A queda da influência política e do domínio económico dos EUA abre uma oportunidade histórica para um governo popular nacionalista e democrático na Colômbia para, de forma realista, desenvolver um novo modelo de desenvolvimento alternativo centrado numa maior igualdade social.

O crescimento dinâmico dos mercados asiáticos, em especial da China, fornece à América Latina uma oportunidade histórica de diversificar os seus mercados, aumentar o comércio e garantir preços favoráveis às suas exportações. A vantagem das relações comerciais asiáticas é que estas não estão inquinadas pela subversão da CIA e do Pentágono – baseiam-se em estritas relações económicas mutuamente benéficas e na não intervenção nas relações internas de cada país. A diversificação do comércio está bastante avançada: a China substituiu os EUA e a UE como principais parceiros comerciais do Brasil, da Argentina, do Chile e do Peru e a lista está a aumentar à medida que a Ásia cresce rapidamente a mais de 8% e as economias dos EUA e da UE patinham na recessão.

A América Latina deixou de estar sujeita à volatilidade cíclica dos mercados financeiros EUA-UE. Durante as crises financeiras dos EUA e da Europa em 2009-2010, a América Latina conseguiu virar-se cada vez mais para a China para financiamento: os empréstimos da China à América Latina passaram de mil milhões de dólares em 2008 para 18 mil milhões de dólares em 2009 e 36 mil milhões de dólares em 2010. Além disso, países como a Argentina e o Equador, que não têm acesso aos mercados de capitais privados nos EUA e na UE por causa de incumprimento da dívida, podem contrair empréstimos em bancos estatais chineses. Entre 2005-2010, a China emprestou à América latina 75 mil milhões de dólares e em 2010 os empréstimos chineses ultrapassaram os empréstimos conjuntos do FMI, do Banco Mundial e do BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento].

Além disso, os bancos estatais chineses não impõem 'condições' políticas e económicas severas aos seus devedores latinos, como faz o FMI. Por outras palavras, os latino-americanos que recorrem ao financiamento externo, podem contrair empréstimos na China para financiar mudanças estruturais, incluindo a reforma agrária e a nacionalização de bancos, sem medo de represálias económicas dos seus emprestadores além-mar.

A ALBA proporciona um importante 'agrupamento sub-regional' e um fórum que representa uma poderosa rejeição às guerras imperialistas, uma oportunidade para maior integração das Caraíbas e uma defesa contra a intervenção política e militar imperialista assim como subsídios favoráveis sobre as importações de petróleo. A ALBA fornece à Colômbia uma oportunidade para aprofundar os seus laços estratégicos com a Venezuela e o Equador, já que partilham uma fronteira comum, economias altamente complementares e um legado bolivariano histórico e cultural comum.
Em contraste com o período entre finais dos anos 70 e 2000, quando Washington dominava a América Latina através de regimes clientes militares e civis e santificava o dogma neoliberal do chamado Consenso de Washington de 1996, e limitava a liberdade de acção dum governo popular independente, uma Colômbia livre e independente neste momento teria um ambiente internacional, político e económico muitíssimo mais favorável.

O declínio do poder global dos EUA

A influência dos EUA está em queda a nível mundial: a China e a Índia substituíram os EUA enquanto principais parceiros comerciais na Ásia, na América Latina, em África e em importantes países do Médio Oriente. A economia e as forças armadas da Rússia recuperaram da pilhagem catastrófica durante a era de Yeltsin e está a prosseguir uma política independente. Isso é evidente nas vendas militares e nos acordos de petróleo da Rússia com a Venezuela, no veto no Conselho de Segurança da ONU quanto ao assalto mercenário à Síria, apoiado pela NATO, e nas suas ligações mais estreitas com a China.

Juntamente com o aparecimento de um mundo multi-polar da Rússia-China-América Latina, o Médio Oriente e o Norte de África estão no meio de uma série de rebeliões democráticas populares e anti-imperialistas que ameaçam as ditaduras clientes dos EUA.

Igualmente importante, as guerras dos EUA, prolongadas, dispendiosas e fracassadas no Iraque e no Afeganistão têm sido imensamente impopulares internamente, e em conjunto com o défice fiscal e comercial e as crises financeiras, têm corroído o apoio público para novas guerras territoriais a grande escala.

Por outras palavras, os EUA estão muito menos capacitados para sustentar uma intervenção militar de grande escala contra um país importante como a Colômbia, se e quando for eleito um novo governo popular.
A morte do modelo capitalista neoliberal

Hoje, mais do que nunca na história recente, o actual "capitalismo de mercado livre" real demonstrou à escala mundial o seu fracasso em proporcionar os princípios essenciais a uma vida boa. Na Grécia, em Espanha, em Portugal, na Itália, o desemprego juvenil paira entre 35% a 50%; e o desemprego geral aproxima-se ou ultrapassa os 20%. Na UE e nos EUA o desemprego e o subemprego reais ultrapassam um quarto da força de trabalho.

A recessão económica, as crises financeiras e as condições de vida e de trabalho em queda são as condições que definem os EUA e a Europa. Por outras palavras, o modelo capitalista em crise há cinco anos não oferece alternativa para a grande maioria que trabalha nos 'países imperialistas desenvolvidos' nem nos chamados 'países em desenvolvimento'.

Isso apresenta uma oportunidade ideológica de ouro para demonstrar que uma sociedade socialista baseada na participação democrática é uma alternativa viável para crises suscitadas pelo capitalismo.
Lutas de classe e nacionais: A realidade emergente

Actualmente por todo o mundo, desde o sul da Europa até ao Médio Oriente, desde a Ásia até à América do Norte, sucedem-se revoltas populares de massas. Greves gerais, manifestações de massas e lutas de rua alastram-se nas capitais da Grécia, de Portugal e da Itália. Movimentos democráticos de massas desafiam ditadores no Egipto, na Tunísia, no Bahrain e nos estados do Golfo. Os 'movimentos de ocupação' nos EUA e em Espanha espalharam-se a outros países, rejeitando a "austeridade" baseada em classes. Perante a recuperação de lucros à custa de enormes cortes em salários, serviços públicos, pensões e cuidados de saúde, juntam-se à luta novos sectores da classe média.

Mesmo nos países capitalistas asiáticos de acentuado crescimento, como a China, a classe trabalhadora revolta-se contra as desigualdades e a exploração: mais de 200 mil greves e manifestações de protesto em 2011 fazem recordar as rebeliões populares da Revolução Cultural contra a hierarquia e o abuso. Em resumo, a correlação de forças regional e mundial é muito favorável ao aparecimento de um novo movimento político unificado e dinâmico na Colômbia. No entanto, há perigos e obstáculos que é necessário ter em consideração.

Obstáculos e desafios

O declínio e decadência do poder e da influência dos EUA não diminui os perigos de assassínios directos pelas
Forças Especiais, da intervenção militar indirecta através de aliados militares locais e da desestabilização económica.

Washington aperfeiçoou um exército clandestino de forças especiais, de operações armadas assassinas, em 75 países. Os EUA mantêm 750 bases militares em todo o mundo. Como vimos nas Honduras, os EUA ainda têm poder sobre militares e aliados entre os oligarcas para derrubar um governo progressista. Os EUA têm um exército de reserva de políticos locais e de ONG pronto para substituir os ditadores quando estes são derrubados.

Washington e a Europa da NATO forneceram apoio aéreo e naval e forneceram armas a mercenários e fundamentalistas locais para derrubar chefes independentes como Kadhafi na Líbia. Agora estão a fornecer armas a mercenários para atacar o presidente Assad na Síria. Os EUA e a UE estão a montar uma frota militar cercando o Irão e a promover sanções económicas para estrangular a sua economia. Mais preocupante ainda, Washington está a cercar a China e a Rússia com bases militares, mísseis e navios de guerra.

Por outras palavras, o imperialismo em declínio económico mantém contudo opções militares para deter o avanço dum sistema político global pluralista. Os estados imperialistas não abdicam do poder a não ser que tenham pela frente alianças regionais unificadas e, igualmente importante, governos com apoio popular de massas unificado.
A evolução positiva da integração latino-americana é um passo para uma maior independência mas tem fraquezas estratégicas: nomeadamente contradições e conflitos de classe internos quanto a modelos de desenvolvimento. O crescimento económico e a diversificação de mercados tem enfraquecido o domínio dos EUA mas também tem reforçado o poder e a riqueza das classes dirigentes internas e das grandes empresas multinacionais agro-minerais.

As desigualdades de riqueza, de receitas e de posse das terras florescem no Brasil, no Chile, no Peru, no Equador, na Bolívia e não só, apesar de alguns desses regimes afirmarem ser "governos populares". Além disso, o "anti-imperialismo" dos países da ALBA como a Bolívia não se estende às dezenas de multinacionais estrangeiras, donas da extracção de minerais e da exploração do petróleo, que dominam o país. A Argentina pode promover uma política estrangeira independente mas mais de um terço do seu território está nas mãos de capital estrangeiro.
Por outras palavras, embora o aumento de governos independentes na América Latina contribua para limitar o domínio dos EUA, os movimentos colombianos têm também que reconhecer as limitações e contradições de classe dos países 'progressistas' da região. Só a Venezuela tem concretizado políticas fortemente redistributivas e nacionalistas.
Os principais obstáculos que os novos movimentos políticos colombianos enfrentam são internos: a oligarquia entrincheirada e os seus aliados no estado, em especial no seio das forças militares e paramilitares. Se o ambiente externo é fortemente favorável, o regime político interno apresenta-se como um obstáculo formidável, principalmente os continuados assassínios de dezenas de importantes sindicalistas, de camponeses e de activistas dos direitos humanos.

A desmilitarização da sociedade civil, a começar pelo desmantelamento das bases militares americanas, o abandono do Plano Colômbia e a desmobilização das forças armadas (mais de 300 mil fora os grupos paramilitares privados) são importantes passos para a abertura de espaço político para o exercício de direitos democráticos. A democratização das eleições exige o fim da penetração estatal e da coacção da sociedade civil.

A democratização da Colômbia exige o crescimento de poderosos movimentos sociais independentes que representem todos os sectores populares da sociedade colombiana; é necessário que a investigação judicial e o julgamento do ex narco-presidente Álvaro Uribe e dos seus colaboradores mais próximos, por homicídios políticos, se alargue ao actual regime de Santos. O recente "acordo de comércio livre" entre Obama e Santos tem que ser repudiado porque é um obstáculo ao desenvolvimento interno e ao aprofundamento de relações económicas mais promissoras com a Venezuela e o resto da América Latina e a Ásia.

É preciso mobilizar mais de 4 milhões de colombianos espoliados, desapossados à força pelo regime de Uribe, para recuperarem as suas terras, e fornecer-lhes créditos, empréstimos e uma oportunidade de fugir à sua actual miséria e sofrimento.

Os actuais dirigentes da Colômbia não podem apontar um único exemplo dum modelo neoliberal bem sucedido na Europa, na América Latina ou nos Estados Unidos. O México e a América Central neoliberais estão dominados por cartéis da droga, com mais de 80 mil homicídios nos últimos cinco anos e têm as taxas de crescimento mais baixas da região. A economia dos EUA está estagnada com mais de 20% de desempregados e subempregados. A União Europeia está à beira da desintegração. Está a ser confirmada claramente a crítica de Marx sobre a crescente pauperização no capitalismo. Chegou a altura de os novos movimentos políticos considerarem uma "via colombiana para o socialismo" construída sobre a propriedade pública dos altos comandos da economia, da reforma agrária, da agricultura sustentável e da protecção ambiental sob controlo democrático.

É com espírito de optimismo e análise crítica que envio a minha solidariedade e apoio incondicional aos organizadores, activistas e participantes militantes que vão estar presentes neste encontro histórico. Estou confiante em que mais cedo que tarde guiarão a Colômbia à sua "segunda e final independência".

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=29529

Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

quinta-feira, 22 de março de 2012

LANÇAMENTO DO MOVIMENTO POLÍTICO MARCHA PATRIÓTICA E CONSTITUIÇÃO DE SEU CONSELHO PATRIÓTICO NACIONAL

21, 22 e 23 de abril de 2012.

As organizações sociais, populares e políticas de camponeses, indígenas, estudantes, trabalhadores, de bairros, culturais e em geral, compostas por milhares de mulheres e homens explorados deste país, que, desde 20 de julho de 2010, nos articulamos e organizamos na Marcha Patriótica pela Segunda e Definitiva Independência,

CONVOCAMOS:

O conjunto do povo colombiano, suas organizações, todas aquelas pessoas que em nosso país e em todas as latitudes do mundo compartilham conosco este anseio por transformações, de verdadeira democracia, de paz com justiça social, em síntese, a todas aquelas e todos aqueles que compartilham os sonhos e propostas apresentados na proclamação pela segunda e definitiva independência, fruto da vontade popular e soberana de milhares de mulheres e homens de nosso país, ao Lançamento do Movimento Político Marcha Patriótica e Constituição de seu Conselho Patriótico Nacional, uma proposta de organização eminentemente política, social e democrática, profundamente comprometida na defesa da causa popular e das reivindicações dos setores menos favorecidos da sociedade ou afetados pelas políticas neoliberais do Estado; um movimento que dinamize a variedade de formas de organização e mobilizações existentes em qualquer região da Colômbia, que cresça e se fortaleça, até se converter em uma verdadeira alternativa de transformação democrática para todo o povo colombiano, a ser realizado nos dias 21, 22 e 23 de abril de 2012, na cidade de Bogotá.

A crise e a mobilização social e popular

O Lançamento do Movimento Político Marcha Patriótica e a Constituição de seu Conselho Patriótico Nacional se dá em meio de um importante e vigoroso aumento da mobilização social e popular não somente em nosso país, mas também em diferentes latitudes do mundo, contra a crise do capitalismo e pela geração de alternativas verdadeiramente democráticas, que possibilitem a existência de sociedades justas e dignas.

Mais uma vez, o capitalismo entrou em crise demonstrando sua incapacidade estrutural de resolver os problemas materiais mínimos das maiorias, além de sua comprovada essência depredadora, que põe cada vez mais em questão a existência de nosso planeta.

Nesta ocasião, a crise tem seu centro na financeirização promovida pelo modelo neoliberal, o qual põe como eixo principal da economia e, porque não dizê-lo, de nossas sociedades, o sistema financeiro, caracterizado por ser fundamentalmente especulador e parasitário, afetando a produção real de riqueza e gerando acumulação para uma ínfima minoria sobre a base da negociação, por parte desses poucos, dos bens e do bem-estar do conjunto de nossos povos.

Frente a essa crise, as classes possuidoras, que estão no governo da maioria dos países do mundo, saíram apressadamente para salvar os bancos e o conjunto do sistema financeiro, enquanto impõem às grandes maiorias os custos da crise, através de fortes cortes dos investimentos sociais por parte dos Estados, promovendo novas ondas de privatização da saúde, da educação, da ordem territorial e de maior precarização dos direitos dos trabalhadores, tudo isso, por suposição, acompanhado de fortes doses de repressão e de cinismo contra os reais afetados por essas medidas.

Diante desse panorama, a digna mobilização não se fez esperar em todas latitudes do mundo, no Magreb, na beligerante resistência do povo grego, na greve que mostra um ressurgimento da histórica classe operária inglesa, no grito de “democracia real já” de milhares de indignados na Espanha, nos milhares de estudantes que contra o modelo neoliberal voltam a abarrotar as grandes avenidas de Allende no Chile, demonstrando na prática que “a história é nossa e a fazem os povos” e, logicamente, a luta singular que muitos estadunidenses vêm fazendo em Wall Street.

Na Colômbia, corajosamente, apesar de tanta morte e humilhação por parte do regime, assistimos a uma importante reativação do movimento social e popular contra as manifestações da crise em nosso país, contra o aprofundamento do modelo neoliberal, com seu necessário componente de guerra (adiantado pelo presidente Juan Manuel Santos) e pela recuperação dos direitos mínimos de nosso povo.

É assim como em nosso país a herança de Ignacio Torres Giraldo, arquétipo da classe operária colombiana, está presente nas greves impulsionadas recentemente pelos trabalhadores do petróleo, especialmente em Campo Rubiales, no Meta. Sente-se também o clamor de mais de 30 mil pessoas que, nas ruas do histórico Barranco Avermelhado, em meados de 2011, fizeram retumbar a palavra de ordem da solução política, da paz e do direito à terra; a lição unitária do movimento estudantil colombiano que, através da mobilização, do debate e da organização – contando com o apoio de grandes setores da população colombiana – ganhou uma importante batalha contra o governo nacional, que tinha a intenção de privatizar a educação superior. Presenciamos também a importante confluência que significa o CONGRESSO DOS POVOS e o esforço unitário que representa a criação do COMOSOCOL.

Parte ativa e muito importante dessa reativação do movimento social e popular é o nosso processo da Marcha Patriótica pela Segunda e Definitiva Independência, herdeira e continuadora da façanha independentista, democratizadora e soberana, empreendida por Bolívar, Nariño, José Antonio Galán, Benkos Biojó, Policarpa Salavarrieta, Manuela Beltrán e milhares de homens e mulheres que, ao longo desses mais de 200 anos, ofereceram suas vidas na conquista de tão altos propósitos. Nosso processo significa o encontro e a articulação de camponeses, estudantes, indígenas, trabalhadores, organizações de bairros, personalidades democráticas e expressões de todos os setores sociais, construindo uma proposta alternativa de país, invocando a soberania direta do povo através das assembleias abertas, retomando a mobilização e as ruas como elemento indispensável para a transformação, com vocação unitária e reafirmando, a cada dia, a importância da organização popular, tudo isso com o objetivo de conquistar para o povo sua participação decisória no governo da pátria, elemento que hoje se constitui no principal motivo da conformação de nosso Conselho Patriótico Nacional.

Presidente Juan Manuel Santos – neoliberalismo: aprofundamento do despojo e continuação da guerra contra o povo colombiano

O governo de Juan Manuel Santos significa a aposta das classes dominantes na recomposição do regime político colombiano, o que é fundamental para a perpetuação de seus interesses, regime certamente enfraquecido em alguns elementos importantes depois dos oito anos do governo anterior. Logrou seu objetivo com relativo êxito através da chamada Unidade Nacional, verdadeiro pacto de elites, que, com o maior descaramento, repartiu os postos e os recursos do Estado como verdadeiro butim pirata, com o objetivo de comprar qualquer tipo de oposição, garantindo a unanimidade no interior do congresso e a maioria dos partidos políticos, assegurando a implementação do aprofundamento do modelo neoliberal, principal objetivo desse governo.

Outro componente fundamental nessa intenção de maquiar o regime político colombiano tem sido uma decidida estratégia de cooptação de setores que outrora afirmavam defender os interesses populares, assim como uma política muito habilidosa de amoldamento e promoção de uma suposta nova esquerda, claramente dócil e funcional aos interesses das classes dominantes e à continuidade de seu projeto neoliberal.

Essas ações lograram efetivamente cooptar algumas organizações sociais, tornar invisível, atacar e estigmatizar sistematicamente as posições de esquerda que questionam o modelo, promovendo sobre estas a etiqueta da ortodoxia e da imobilização. Especial atenção merecem as consequências que tiveram essa estratégia em nível internacional, com a aprovação do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, Canadá e a União Europeia e a confusão de muitos setores progressistas internacionais que veem com lástima a realidade de nosso país através da visão dos grandes monopólios da desinformação.

Os elementos anteriormente mencionados facilitaram ao governo de Juan Manuel Santos adiantar uma reengenharia institucional neoliberal, através de um agressivo pacote legislativo, o qual começa com o Plano Nacional de Desenvolvimento e suas locomotivas do despojo, a reforma que consagra como princípio constitucional a sustentabilidade fiscal, a reforma do sistema nacional de royalties, a reforma do sistema de saúde, da justiça e do derrotado projeto de reforma da educação superior, só para mencionar alguns deles, visando aprofundar em nosso país a privatização de todos os elementos necessários da vida humana e da natureza, o despojo de nossos elementos naturais mais apreciados, a precarização absoluta das condições dos trabalhadores colombianos e o predomínio absoluto do setor financeiro que dessangra as finanças estatais e as riquezas dos colombianos, configurando-se dessa maneira em nosso país a terceira sociedade mais desigual do mundo.

Esse modelo profundamente desigual, que se perpetua fundamentalmente através da guerra empreendida pelo regime contra o povo colombiano, tornou possível níveis absurdos de concentração das terras de nosso país através do deslocamento forçado de milhões de camponeses e do ataque sistemático às suas formas de organização. As “vantagens competitivas” para a economia colombiana, que significam salários de fome para nossos trabalhadores, foram conseguidas graças ao assassinato seletivo de milhares de sindicalistas, o saque descarado de nosso ouro, água, petróleo e demais elementos naturais, e se ergue sobre o extermínio consciente e deliberado de nossas comunidades indígenas e afro-colombianas. A continuidade no governo colombiano desses mercadores da morte se explica em grande medida devido ao genocídio de qualquer forma real de oposição política.

É nessa realidade que encontra explicação a existência de nosso conflito social, político e armado, assim como a presença histórica das insurgências de nosso país; é por isso que se equivocam aqueles que afirmam que o atual governo conta com uma política de paz. Nesse ponto, a única política desse governo é a guerra total contra o povo colombiano: não se pode pensar que se avança até a paz quando as causas estruturais que originaram o conflito não só permanecem, mas também que se agudizam, quando se mata o opositor político e se fecha cada vez mais os espaços da já maltratada democracia. É por isso que, a partir da Marcha Patriótica e da Assembleia Aberta pela Independência, cremos que a luta pelas reivindicações mais sofridas de nosso povo e a luta pela solução política são elementos que necessariamente têm que se desenvolver de maneira conjunta: isso hoje é tarefa urgente e inadiável.

A cultura, a academia e a arte: elementos indispensáveis para nossa segunda e definitiva independência

A desaforada depredação promovida pelo capital financeiro e pelo sistema bancário internacional, produto da concentração de riqueza do mundo em poucas mãos, não somente afeta a vida material dos países e das pessoas, como também afeta a identidade cultural dos povos, as tradições e as expressões culturais e artísticas.

Por sua vez, as políticas neoliberais dos países imperialistas, agravadas pelos tratados profundamente desiguais do chamado “livre comércio”, promovem o saque das riquezas naturais, impondo para isso modos homogêneos de ser e de pensar.

A isso contribuem os meios de comunicação, que formam parte do sistema, com a característica de que estes são os encarregados, desde o plano da cultura, de preparar o caminho mediante a desinformação massiva e a distorção da realidade, para que o imaginário coletivo social se mantenha seduzido pelo modelo, na passividade e no consumismo.

A Cultura não é, como nos querem fazer crer, um luxo de uns tantos iniciados, ou umas atividades massivas de entretenimento. É uma necessidade vital do povo e das pessoas, um assunto fundamental da política, pois tem relação com nossa maneira de ser, de habitar o mundo, com nosso sentido de memória e de pertencimento, com nossa capacidade de prefigurar o futuro. E, portanto, com a vontade de atuar no “aqui e agora”!

Amilcar Cabral, um poeta africano, dizia que a Cultura é feita da capacidade que têm os povos de responder às crises. Nós, ao mesmo tempo em que reconhecemos a crise, vemos, na busca de sua saída, uma grande oportunidade de mudança.

A Cultura é a ponte entre a memória herdada das tradições e da decisão coletiva e pessoal, no presente, de lutar para que outro mundo seja possível.

Essa Marcha Patriótica nos estimula a desenvolver a mobilização social pelos grandes ideais de Justiça que nos incentivem a encontrar, mais cedo que tarde, soluções criativas e coletivas ao conflito.

Essa Marcha Patriótica não depende só da razão, que a temos de sobra. A sensibilidade e os sentimentos coletivos são, para todas e todos nós, assuntos fundamentais. Queremos fazer essa caminhada com canções, poemas e obras de teatro que desautorize o mito de que os poderosos são o modelo e de que são invencíveis. Não são! E o riso e a festa nos ajudarão a demonstrá-lo.

As batalhas não devem se dar somente no terreno da Economia, mas também no terreno das ideias e no das imagens. Por isso, expressamos nossa valorização da arte e da cultura e a necessidade de contar com as e os artistas como sujeitos criadores.

Por isso, convocamos imediatamente o povo colombiano a marchar conosco por um novo modelo de sociedade, chamamos os intelectuais democratas e as e os artistas, que contribuam com sua voz, seu pensamento e suas obras para vencer nesse empenho.

Façamos da Marcha Patriótica um grande acontecimento social, político e cultural.

O Movimento Político Marcha Patriótica e seu Conselho Patriótico Nacional, rumo à construção de uma alternativa política para a segunda e definitiva independência.

É precisamente nesse contexto que a Marcha Patriótica, na perspectiva de se converter na alternativa política para a segunda e definitiva independência, convoca para a constituição e para o lançamento de seu Conselho Patriótico Nacional, como espaço amplo, inclusivo, deliberativo e estratégico, que deverá dotar esse novo instrumento político de uma plataforma, que contemple as reivindicações centrais do nosso país, e das perspectivas de ação para conquistá-las, assim como sua necessária estrutura interna.

A configuração da Marcha Patriótica como movimento político não significa a dissolução das organizações políticas, sociais e populares que a compõem, nem muito menos que estas se afastem de suas ações e reivindicações setoriais; ao contrário, significa a constituição de um movimento de movimentos, que potencialize muito mais a atual reativação da mobilização e que articule as lutas de cada setor e as projete na disputa estratégica por um modelo de país e de sociedade. Para essa tarefa, é indispensável e determinante disputar o poder político do governo e do Estado com as atuais classes dominantes, que levaram o país a ocupar o vergonhoso segundo lugar entre os países mais desiguais da América e o terceiro no mundo.

Nosso movimento político deve encorajar a ação de todos os colombianos e colombianas que se encontram inconformados, indignados e entediados com a situação atual repleta de pobreza, humilhação e morte e que desejam construir uma Colômbia verdadeiramente democrática, com um modelo econômico e político no qual o direito à saúde, à educação, à cultura, à moradia, à recreação sejam uma realidade para o conjunto da população; um país no qual se impeça o roubo de nossos bosques, campos andinos e riquezas; uma Colômbia na qual a diferença política seja um elemento essencial para o debate democrático; uma nação soberana, um país em paz, com justiça social – em síntese, uma Colômbia que alcance a segunda e definitiva independência.

Fazemos isso com a profunda convicção de que a transformação de nosso país necessita urgentemente de um movimento político composto, em todo o seu ser e razão, pelas lutas e organizações sociais, populares, intelectuais e setores democráticos, que tenha, como princípios paralelos, o trabalho de base, a mobilização, a organização e a unidade do povo colombiano e o profundo compromisso de defender os interesses populares e das maiorias nacionais, para que possa alcançar a sinergia emancipadora entre as lutas sociais, as reivindicações e a disputa do poder político para colocá-lo ao serviço de todos os colombianos e não de una elite oligárquica.

METODOLOGIA E AGENDA:

Sábado - 21 de abril de 2012

Ato de Instalação:

→ Das 9 às 10 horas: leitura da convocação, explicação da metodologia e leitura das saudações

→ Das 10 às 12:30 horas: Painel inaugural “A construção de alternativas políticas e a mobilização social e popular contra a crise”

→ Das 12:30 às 14 horas: almoço

→ Das 14 às 18 horas: Trabalho das mesas:

- Caracterização do regime político colombiano

- Caracterização interna da Marcha Patriótica e do Conselho Patriótico Nacional

- Plataforma política da Marcha Patriótica

- Plano de trabalho 2012-2014

- Política organizativa da Marcha Patriótica

- Política internacional da Marcha Patriótica

→ 18 horas: Ato cultural

Domingo - 22 de abril de 2012

→ Das 8 às 10 horas: Plenária por comissões

→ Das 10 às 12:30 horas: Reunião por setor social:

- Camponeses

- Estudantes

- Trabalhadores

- Indígenas

- Afro-colombianos

- Mulheres

- Organizações de bairros

- Jovens

- Artistas

- Personalidades democráticas

- Direitos Humanos

→ Das 12:30 às 14 horas: almoço

→ Das 14 às 18 horas: plenária geral e designações de pessoas para as diferentes instâncias colegiadas

→ 18 horas: Ato cultural

Segunda-feira - 23 de abril de 2012

Ato de lançamento do Movimento Político Marcha Patriótica e Constituição de seu Conselho Patriótico Nacional.

Nesse dia, as diferentes organizações e processos de todos os departamentos enviarão um bom número de delegações para participar no ato de mobilização cultural e política, no qual será lançado o Conselho Patriótico Nacional e se dará a conhecer publicamente suas principais definições e propostas face ao país.

→ Das 8 às 10 horas: Recepção das delegações

→ Das 10 às 13 horas: Mobilização pela segunda e definitiva independência

→ Das 14 às 19 horas: Ato político e cultural


Traduzido para o Partido Comunista Brasileiro (PCB) por Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Estamos prontos para iniciar a liberação dos prisioneiros de guerra: FARC-EP

Comunicado.

1. Informamos ao grupo de Mulheres do Mundo pela Paz, coordenado por Piedad Córdoba e a organização Asfamipaz, que estamos prontos para iniciar o processo de libertação,em duas jornadas, de 10 prisioneiros de guerra que estão em nosso poder.

2. Manifestamos nosso acordo com os pontos do protocolo de segurança. Só resta que o presidente Juan Manuel Santos permita a visita humanitária projetada por Mulheres do Mundo pela Paz, aos prisioneiros políticos e de guerra nos centros de reclusão do país. Não é possível entender que o governo colombiano negue a existência deles, só para obstruir essa visita, quando o Instituto Nacional Penitenciário e Carcerário, INPEC, atendendo um direito de petição, acaba de reconhecer que há 15.000 prisioneiros políticos. Esta é uma realidade inocultável num país que tem já décadas de conflito armado.

Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Montanhas de Colômbia, 16 de março de 2012

domingo, 18 de março de 2012

Marx: mais vivo e atual que nunca, nos 129 anos de sua morte.

Por Atilio A. Boron

Num dia como hoje, há 129 anos, morria placidamente em Londres, aos 65 anos de idade, Karl Marx.
Teve a mesma sorte de todos os grandes gênios, sempre incompreendidos pela mediocridade reinante e o pensamento acorrentado ao poder e às classes dominantes.

Como Copérnico, Galileo, Servet, Darwin, Einstein e Freud, para mencionar apenas uns poucos, Marx foi insultado, perseguido e humilhado. Foi ridicularizado por medíocres intelectuais e burocratas acadêmicos que não chegavam aos seus tornozelos, e por políticos complacentes com os poderosos de turno, que repugnavam suas concepções.

A academia teve muito cuidado ao fechar suas portas. Nem ele e nem seus amigo e colega eminente, Friedrich Engels, jamais ascenderam aos claustros universitários.

E mais, Engels, sobre quem Marx disse ser “o home mais culto da Europa”, nem sequer estudou na universidade.

Entretanto, Marx e Engels produziram uma autêntica revolução copernicana nas humanidades e nas ciências sociais: depois deles, e ainda que seja difícil separar sua obra, podemos dizer que depois de Marx, nem as humanidades e nem as ciências sociais voltariam a ser com antes.

A amplitude enciclopédica de seus conhecimentos, a profundidade duas análises, sua empenhada busca pelas evidências que confirmassem suas teorias, fizeram com que Marx, que teve suas teorias e seu legado filosófico dado como mortos tantas vezes, seja mais atual que nunca.

O mundo de hoje se parece da maneira surpreendente ao que ele e seu jovem amigo Engels prognosticaram num texto assombroso: O Manifesto Comunista.

Este sórdido mundo de oligopólios vorazes e predadores, de guerras de conquista, degradação da natureza e saque dos bens comuns, de desintegração social, de sociedades polarizadas e de nações separadas por abismos de riqueza, poder e tecnologia, de plutocracias travestidas para aparentar ser democracias, de uniformização cultural pautada pelo American way of life é o mundo que antecipara em todos os seus escritos.

Por isso, são muitos os que se perguntam, já nos estados com capitalismo desenvolvido, se o século XXI não será o século de Marx.

Respondo a essa pergunta com um sim sem atenuantes e digo que já estamos vendo isso: as revoluções em marcha no mundo árabe, as mobilizações dos indignados na Europa, a potência plebeia dos islandeses ao enfrentar e derrotar os banqueiros e as lutas dos gregos contra os sádicos burocratas da Comissão Europeia, o FMI e o Banco Central europeu, o barril de pólvora dos movimentos Occupy Wall Street, que abarcou mais de cem cidades norte-americanas, as grandes lutas que na América Latina derrotaram a ALCA e a subserviência dos governos de esquerda na região, começando pelo heroico exemplo cubano, são outras mostras de que o legado do grande maestro está mais vivo que nunca.

O caráter decisivo da acumulação capitalista, estudada como nenhum outro n’ O Capital, era negada por todo o pensamento da burguesia e pelos governos dessa classe, que afirmavam que a história era movida pela paixão dos grandes homens, pelas crenças religiosas, pelos resultados de heroicas batalhas ou imprevistas contingências da história.

Marx retirou a economia das catacumbas e não só assinalou sua centralidade como também demonstrou que toda a economia é política, que nenhuma decisão econômica está despojada de conotações políticas.

Além disso, Marx defendeu que não existe saber mais político e politizado que o da economia, discordando com os tecnocratas de ontem e de hoje, que sustentam que seus planos de ajustes e suas absurdas elucubrações economicistas obedecem a meros cálculos técnicos e que são politicamente neutros.

Hoje, ninguém mais acredita seriamente nessas balelas, nem sequer os personagens da direita (ainda que se abstenham de confessá-lo).

Poderia ser dito, provocando um sorriso malicioso de Marx do além, que hoje são todos marxistas, porém o Monsieur Jordan, esse personagem de Les bourgeois gentilhomme, de Molière, falaria em prosa em saber.

Por isso, quando estourou a nova crise geral do capitalismo, todos correram para comprar O Capital, começando pelos governantes dos capitalismos metropolitanos.

É que a coisa era, e é, muito grave para perder tempo lendo as bobeiras de Milton Friedman, Friedrich von Hayek ou as monumentais sandices dos economistas do FMI, do Banco Mundial ou do Banco Central Europeu, tão inaptos como corruptos e, que por ambas as coisas, não foram capazes de prognosticar a crise que, como um tsunami, está arrasando os capitalismos metropolitanos.

Dessa forma, por méritos próprios e por questões externas, Marx está mais vivo que nunca e o faro de seu pensamento arroja uma luz cada vez mais esclarecedora sobre as tenebrosas realidades do mundo atual.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Agenda Colômbia Brasil promove palestra na sede nacional do PCB

A sede nacional do PCB foi palco, na semana passada, da palestra "Os Direitos Humanos na Colômbia", proferida pelo coordenador da Agenda Colômbia Brasil, Mauricio Avilez.

O movimento busca dar visibilidade à realidade colombiana e gerar solidariedade do povo brasileiro aos movimentos da sociedade civil e organizações políticas democráticas colombianas.

Mauricio desmentiu a versão oficial de que a Colômbia estaria vivendo nova realidade política após o termino do governo de Álvaro Uribe e lembrou que Juan Manuel Santos, atual presidente do país, foi ministro da Fazenda de Andrés Pastrana – quando começou o Plano Colômbia – e da “Defesa” de seu antecessor.

O representante da Agenda Colômbia apresentou ainda números impactantes que ilustram a conjuntura daquele país e o caráter de seu Estado: o Estado colombiano violou de forma sistemática e permanente os direitos humanos exterminando, na déceda de 90, o partido político de esquerda União Patriótica (UP), cujos mortos superam 5 mil militantes. No mundo, 60% dos sindicalistas assassinados são da Colômbia, foram mais de 2.778 nosúltimos anos. A repressão ao movimento estudantil também é enorme. Apenas no governo Uribe, mais de 34.000 pessoas foram desaparecidas.

Os camponeses com status de refugiados internos pela violência passam dos 5 milhões, sendo o país com mais refugiados internos no mundo. Isso em um país em que 78,3% dos proprietários de terra têm menos de 6% da área, enquanto 0,15% dos proprietários possui mais 55% das terras.

Mauricio aproveitou a ocasião para convidar o PCB a participar da Marcha Patriótica, que ocorrerá em Bogotá no próximo mês, e comentou ser esta uma boa iniciativa para a unidade da esquerda colombiana, que pode abrir perspectivas mais otimistas para o país vizinho.

Representando o PCB no evento, o secretário-geral Ivan Pinheiro, que esteve recentemente na Colômbia a convite do movimento Colombianos e Colombianas pela Paz, deu seu depoimento sobre o evento de que participou e assegurou que o partido se fará presente na Marcha, compartilhando a visão de que se trata de uma iniciativa importante para o cenário latino-americano.

Além de diversos militantes, a palestra contou com a presença do dirigente do MST, Marcelo Durão, e o da Casa da América Latina, Luiz Ragon.

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Com apoio do PCB

Por la solución política al conflicto colombiano

“Colombia es un país donde ríos de oro se mezclan con ríos de sangre.” Eduardo Galeano.

El conflicto interno en Colombia lleva casi seis décadas, y se ha convertido en uno de los más antiguos del mundo, junto al de Palestina y Cachemira.

En esta confrontación, la población civil ha sido la primera víctima. Según las cifras que manejan las organizaciones de derechos humanos, nacionales e internacionales, son más de 60 mil los detenidos-desaparecidos; ocho mil presos políticos; cientos de fosas comunes; cinco millones de campesinos, indígenas y afrodescendientes violentamente desplazados de sus tierras en los últimos diez años, y miles de asesinatos políticos cada año. Instancias internacionales, como la ONU, señalan al Estado, junto a sus grupos paramilitares, como el máximo responsable de tal violencia. La insurgencia, representada en las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia, FARC, y el Ejército de Liberación Nacional, ELN, aunque en una muy mínima proporción, también tiene su responsabilidad.

Al analizar la historia política del país, se puede afirmar que la guerrilla es consecuencia y no causa de una guerra que tiene raíces económicas, políticas y sociales. También se constata que desde hace 30 años la insurgencia ha insistido por una salida política negociada al conflicto. En los intentos de diálogo que ya se han realizado, los sucesivos gobiernos han utilizado pretextos para romper y no avanzar en la búsqueda de una paz con dignidad. El asesinato a comandantes de las FARC, y la persecución con el mismo fin de los del ELN está encaminado a bloquear las demandas de una negociación.

Igualmente, hemos sido testigos de las grandes movilizaciones realizadas por extensos sectores del pueblo colombiano clamando y exigiendo, una salida política que lleve a la paz con justicia social.

En los últimos meses el gobierno colombiano repite que el conflicto solo concierne a los colombianos. Pero resulta fácil comprobar, observando la geopolítica, que esto no es así, pues por múltiples razones ya incumbe a la región y al continente. Igualmente, al repasar la historia se constata que Estados Unidos tiene una gran responsabilidad en su recrudecimiento, al pretender convertir a esta nación en una base militar continental, con el fin de contener los proyectos democráticos que se desarrollan en América Latina. Mientras que intancias regionales como la Unión de Naciones Suramericanas, UNASUR, han proclamado a la región como un territorio de paz.

Por lo anterior, hacemos un llamado al gobierno de Colombia y, por extensión, al de Estados Unidos, para que escuchen al pueblo colombiano, y se acepte la propuesta de la insurgencia para buscar una solución política negociada al conflicto.

Convencidos estamos que la salida es política y no militar.

Adolfo Pérez Esquivel, Premio Nobel de la Paz, Argentina.

Jean Ziegler, vicepresidente del Consejo Asesor del Consejo de Derechos Humanos de la ONU, Suiza.

Piedad Córdoba, vocera de “Colombianas y Colombianos por la Paz”, Colombia.

Martín Almada, Premio Nobel Alternativo de la Paz, Paraguay.

Hernando Calvo Ospina, periodista, Colombia/ Francia.

Gilberto López y Rivas, Catedrático, México.

Hugo Moldiz Mercado, Periodista, Bolivia.

Paul-Emile Dupret, asesor Parlamento europeo, GUE/NGL, Bélgica.

Alfonso Sastre, escritor, España.

Roberto Fernández Retamar, escritor, Cuba.

Santiago Alba, periodista, España/Túnez.

James Petras, sociólogo, Estados Unidos.

Ramón Chao, periodista, España/Francia.

François Houtart, teólogo, Bélgica.

Pascual Serrano, periodista, España.

Aram Aharonian, periodista, Uruguay/Venezuela.

Carlos Fazio, periodista, México.

Fernando Buen Abad Domínguez, filosofo, México.

Carlos Padrón, actor, Cuba.

Manuel Cabieses Donoso, periodista, Chile.

Carmen Bohórquez, Historiadora, Venezuela.

Stella Calloni, periodista, Argentina.

Belén Gopegui, escritora, España.

Alejandro Dausá, sacerdote, Argentina.

Constantino Bértolo, editor, España.

David Acera, actor, España.

Mario Casasús, periodista, México.

Paul Fortis, escritor, El Salvador.

Ricardo Bajo, periodista, Bolivia.

Carlos Aznárez, periodista, Argentina.

Jorge Capelán, periodista, Nicaragua.

Miguel Alvarez Gándara, Serapaz, México.

Sara Rosenberg, escritora, Argentina/España.

(Siguen firmas…)

sexta-feira, 9 de março de 2012

Colômbia procura paz e justiça: O contexto internacional e nacional

por James Petras

Marcha patriótica, 21-23/Abril/2012

Entre 21 e 23 de Abril, o Conselho Nacional Patriótico vai convocar milhares de activistas da maior parte dos principais movimentos sociais urbanos e rurais e de sindicatos, grupos dos direitos humanos e movimentos indígenas, afro-colombianos, que se vão juntar para unir forças e lançar o que promete ser o novo movimento político mais significativo da história recente. Unidos num compromisso comum de procurar uma solução política para acabar com 60 anos de conflito social armado, o encontro vai decidir uma estratégia para derrotar os narco-regimes políticos do passado e do presente, recuperar as terras e as casas de 4 milhões de camponeses, índios, agricultores e afro-colombianos desalojados. O ponto central da missão deste encontro será a recuperação da soberania nacional, gravemente comprometida pela presença de sete bases militares americanas, pela apropriação a grande escala e a longo prazo por parte das multinacionais estrangeiras dos recursos minerais e energéticos do país, e a protecção das comunidades indígenas e afro-colombianas contra a depredação ambiental. O encontro de Abril tem vindo a ser preparado por reuniões de massas, organizadas por conselhos populares, determinados a pôr fim às máquinas políticas paramilitares e dos latifundiários que controlam o eleitorado.

Há boas razões para crer que este movimento político terá êxito onde outros falharam, em grande parte por causa da amplitude e abertura dos participantes, da crescente cooperação e unidade em lutas comuns pela reforma agrária, por uma democracia participada e pela oposição quase universal ao militarismo apoiado pelos EU e ao acordo neoliberal de comércio livre.

Perspectivas internacionais: Um contexto promissor

Nunca o clima internacional foi tão favorável, em especial na América Latina, para o crescimento da iniciativa democrática popular da Colômbia e para o possível êxito político deste "movimento de movimentos".

Por quase toda a América do Sul e Caraíbas um momento histórico favorável de autonomia regional assumiu uma forma organizada, apoiado por quase todos os principais países da região. A ALBA (Alternativa Bolivariana para a América Latina) liga uma dezena de países das Caraíbas e dos Andes num pacto de integração regional liderado pelo dinâmico governo democrático e anti-imperialista de Hugo Chavez, presidente da Venezuela. A UNASUR (União das Nações Sul-americanas), o MERCOSUR (Mercado Comum do Sul) e outras organizações regionais, são expressão da crescente independência política e económica da América Latina e uma rejeição da OEA (Organização de Estados Americanos). Em termos práticos, o crescimento destas organizações regionais independentes significa uma rejeição à intervenção militar patrocinada pelos EUA, conforme ilustrado pelo seu repúdio ao golpe militar nas Honduras apoiado por Washington em 2009. A oposição da América Latina ao Acordo de Comércio Livre da América, de Washington, levou ao crescimento do comércio intra-regional e forçou Washington a procurar 'acordos bilaterais de comércio livre' com o Chile, a Colômbia, o Panamá e o México.

O crescimento da integração regional autónoma proporciona duas vantagens estratégicas: reduz a dependência económica em relação aos EUA e enfraquece a vantagem de Washington em impor sanções económicas contra qualquer governo nacionalista, populista ou socialista na região. Isso é evidente no fracasso de Washington em conseguir apoio latino-americano para o seu bloqueio a Cuba ou para as sanções contra a Venezuela. A queda da influência política e do domínio económico dos EUA abre uma oportunidade histórica para um governo popular nacionalista e democrático na Colômbia para, de forma realista, desenvolver um novo modelo de desenvolvimento alternativo centrado numa maior igualdade social.

O crescimento dinâmico dos mercados asiáticos, em especial da China, fornece à América Latina uma oportunidade histórica de diversificar os seus mercados, aumentar o comércio e garantir preços favoráveis às suas exportações. A vantagem das relações comerciais asiáticas é que estas não estão inquinadas pela subversão da CIA e do Pentágono – baseiam-se em estritas relações económicas mutuamente benéficas e na não intervenção nas relações internas de cada país. A diversificação do comércio está bastante avançada: a China substituiu os EUA e a UE como principais parceiros comerciais do Brasil, da Argentina, do Chile e do Peru e a lista está a aumentar à medida que a Ásia cresce rapidamente a mais de 8% e as economias dos EUA e da UE patinham na recessão.

A América Latina deixou de estar sujeita à volatilidade cíclica dos mercados financeiros EUA-UE. Durante as crises financeiras dos EUA e da Europa em 2009-2010, a América Latina conseguiu virar-se cada vez mais para a China para financiamento: os empréstimos da China à América Latina passaram de mil milhões de dólares em 2008 para 18 mil milhões de dólares em 2009 e 36 mil milhões de dólares em 2010. Além disso, países como a Argentina e o Equador, que não têm acesso aos mercados de capitais privados nos EUA e na UE por causa de incumprimento da dívida, podem contrair empréstimos em bancos estatais chineses. Entre 2005-2010, a China emprestou à América latina 75 mil milhões de dólares e em 2010 os empréstimos chineses ultrapassaram os empréstimos conjuntos do FMI, do Banco Mundial e do BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento].

Além disso, os bancos estatais chineses não impõem 'condições' políticas e económicas severas aos seus devedores latinos, como faz o FMI. Por outras palavras, os latino-americanos que recorrem ao financiamento externo, podem contrair empréstimos na China para financiar mudanças estruturais, incluindo a reforma agrária e a nacionalização de bancos, sem medo de represálias económicas dos seus emprestadores além-mar.

A ALBA proporciona um importante 'agrupamento sub-regional' e um fórum que representa uma poderosa rejeição às guerras imperialistas, uma oportunidade para maior integração das Caraíbas e uma defesa contra a intervenção política e militar imperialista assim como subsídios favoráveis sobre as importações de petróleo. A ALBA fornece à Colômbia uma oportunidade para aprofundar os seus laços estratégicos com a Venezuela e o Equador, já que partilham uma fronteira comum, economias altamente complementares e um legado bolivariano histórico e cultural comum.

Em contraste com o período entre finais dos anos 70 e 2000, quando Washington dominava a América Latina através de regimes clientes militares e civis e santificava o dogma neoliberal do chamado Consenso de Washington de 1996, e limitava a liberdade de acção dum governo popular independente, uma Colômbia livre e independente neste momento teria um ambiente internacional, político e económico muitíssimo mais favorável.

O declínio do poder global dos EUA

A influência dos EUA está em queda a nível mundial: a China e a Índia substituíram os EUA enquanto principais parceiros comerciais na Ásia, na América Latina, em África e em importantes países do Médio Oriente. A economia e as forças armadas da Rússia recuperaram da pilhagem catastrófica durante a era de Yeltsin e está a prosseguir uma política independente. Isso é evidente nas vendas militares e nos acordos de petróleo da Rússia com a Venezuela, no veto no Conselho de Segurança da ONU quanto ao assalto mercenário à Síria, apoiado pela NATO, e nas suas ligações mais estreitas com a China.

Juntamente com o aparecimento de um mundo multi-polar da Rússia-China-América Latina, o Médio Oriente e o Norte de África estão no meio de uma série de rebeliões democráticas populares e anti-imperialistas que ameaçam as ditaduras clientes dos EUA.

Igualmente importante, as guerras dos EUA, prolongadas, dispendiosas e fracassadas no Iraque e no Afeganistão têm sido imensamente impopulares internamente, e em conjunto com o défice fiscal e comercial e as crises financeiras, têm corroído o apoio público para novas guerras territoriais a grande escala.

Por outras palavras, os EUA estão muito menos capacitados para sustentar uma intervenção militar de grande escala contra um país importante como a Colômbia, se e quando for eleito um novo governo popular.

A morte do modelo capitalista neoliberal

Hoje, mais do que nunca na história recente, o actual "capitalismo de mercado livre" real demonstrou à escala mundial o seu fracasso em proporcionar os princípios essenciais a uma vida boa. Na Grécia, em Espanha, em Portugal, na Itália, o desemprego juvenil paira entre 35% a 50%; e o desemprego geral aproxima-se ou ultrapassa os 20%. Na UE e nos EUA o desemprego e o subemprego reais ultrapassam um quarto da força de trabalho.

A recessão económica, as crises financeiras e as condições de vida e de trabalho em queda são as condições que definem os EUA e a Europa. Por outras palavras, o modelo capitalista em crise há cinco anos não oferece alternativa para a grande maioria que trabalha nos 'países imperialistas desenvolvidos' nem nos chamados 'países em desenvolvimento'.

Isso apresenta uma oportunidade ideológica de ouro para demonstrar que uma sociedade socialista baseada na participação democrática é uma alternativa viável para crises suscitadas pelo capitalismo.

Lutas de classe e nacionais: A realidade emergente

Actualmente por todo o mundo, desde o sul da Europa até ao Médio Oriente, desde a Ásia até à América do Norte, sucedem-se revoltas populares de massas. Greves gerais, manifestações de massas e lutas de rua alastram-se nas capitais da Grécia, de Portugal e da Itália. Movimentos democráticos de massas desafiam ditadores no Egipto, na Tunísia, no Bahrain e nos estados do Golfo. Os 'movimentos de ocupação' nos EUA e em Espanha espalharam-se a outros países, rejeitando a "austeridade" baseada em classes. Perante a recuperação de lucros à custa de enormes cortes em salários, serviços públicos, pensões e cuidados de saúde, juntam-se à luta novos sectores da classe média.

Mesmo nos países capitalistas asiáticos de acentuado crescimento, como a China, a classe trabalhadora revolta-se contra as desigualdades e a exploração: mais de 200 mil greves e manifestações de protesto em 2011 fazem recordar as rebeliões populares da Revolução Cultural contra a hierarquia e o abuso. Em resumo, a correlação de forças regional e mundial é muito favorável ao aparecimento de um novo movimento político unificado e dinâmico na Colômbia. No entanto, há perigos e obstáculos que é necessário ter em consideração.

Obstáculos e desafios

O declínio e decadência do poder e da influência dos EUA não diminui os perigos de assassínios directos pelas Forças Especiais, da intervenção militar indirecta através de aliados militares locais e da desestabilização económica.

Washington aperfeiçoou um exército clandestino de forças especiais, de operações armadas assassinas, em 75 países. Os EUA mantêm 750 bases militares em todo o mundo. Como vimos nas Honduras, os EUA ainda têm poder sobre militares e aliados entre os oligarcas para derrubar um governo progressista. Os EUA têm um exército de reserva de políticos locais e de ONG pronto para substituir os ditadores quando estes são derrubados.

Washington e a Europa da NATO forneceram apoio aéreo e naval e forneceram armas a mercenários e fundamentalistas locais para derrubar chefes independentes como Kadhafi na Líbia. Agora estão a fornecer armas a mercenários para atacar o presidente Assad na Síria. Os EUA e a UE estão a montar uma frota militar cercando o Irão e a promover sanções económicas para estrangular a sua economia. Mais preocupante ainda, Washington está a cercar a China e a Rússia com bases militares, mísseis e navios de guerra.

Por outras palavras, o imperialismo em declínio económico mantém contudo opções militares para deter o avanço dum sistema político global pluralista. Os estados imperialistas não abdicam do poder a não ser que tenham pela frente alianças regionais unificadas e, igualmente importante, governos com apoio popular de massas unificado.

A evolução positiva da integração latino-americana é um passo para uma maior independência mas tem fraquezas estratégicas: nomeadamente contradições e conflitos de classe internos quanto a modelos de desenvolvimento. O crescimento económico e a diversificação de mercados tem enfraquecido o domínio dos EUA mas também tem reforçado o poder e a riqueza das classes dirigentes internas e das grandes empresas multinacionais agro-minerais.

As desigualdades de riqueza, de receitas e de posse das terras florescem no Brasil, no Chile, no Peru, no Equador, na Bolívia e não só, apesar de alguns desses regimes afirmarem ser "governos populares". Além disso, o "anti-imperialismo" dos países da ALBA como a Bolívia não se estende às dezenas de multinacionais estrangeiras, donas da extracção de minerais e da exploração do petróleo, que dominam o país. A Argentina pode promover uma política estrangeira independente mas mais de um terço do seu território está nas mãos de capital estrangeiro.

Por outras palavras, embora o aumento de governos independentes na América Latina contribua para limitar o domínio dos EUA, os movimentos colombianos têm também que reconhecer as limitações e contradições de classe dos países 'progressistas' da região. Só a Venezuela tem concretizado políticas fortemente redistributivas e nacionalistas.

Os principais obstáculos que os novos movimentos políticos colombianos enfrentam são internos: a oligarquia entrincheirada e os seus aliados no estado, em especial no seio das forças militares e paramilitares. Se o ambiente externo é fortemente favorável, o regime político interno apresenta-se como um obstáculo formidável, principalmente os continuados assassínios de dezenas de importantes sindicalistas, de camponeses e de activistas dos direitos humanos.

A desmilitarização da sociedade civil, a começar pelo desmantelamento das bases militares americanas, o abandono do Plano Colômbia e a desmobilização das forças armadas (mais de 300 mil fora os grupos paramilitares privados) são importantes passos para a abertura de espaço político para o exercício de direitos democráticos. A democratização das eleições exige o fim da penetração estatal e da coacção da sociedade civil.

A democratização da Colômbia exige o crescimento de poderosos movimentos sociais independentes que representem todos os sectores populares da sociedade colombiana; é necessário que a investigação judicial e o julgamento do ex narco-presidente Álvaro Uribe e dos seus colaboradores mais próximos, por homicídios políticos, se alargue ao actual regime de Santos. O recente "acordo de comércio livre" entre Obama e Santos tem que ser repudiado porque é um obstáculo ao desenvolvimento interno e ao aprofundamento de relações económicas mais promissoras com a Venezuela e o resto da América Latina e a Ásia.

É preciso mobilizar mais de 4 milhões de colombianos espoliados, desapossados à força pelo regime de Uribe, para recuperarem as suas terras, e fornecer-lhes créditos, empréstimos e uma oportunidade de fugir à sua actual miséria e sofrimento.

Os actuais dirigentes da Colômbia não podem apontar um único exemplo dum modelo neoliberal bem sucedido na Europa, na América Latina ou nos Estados Unidos. O México e a América Central neoliberais estão dominados por cartéis da droga, com mais de 80 mil homicídios nos últimos cinco anos e têm as taxas de crescimento mais baixas da região. A economia dos EUA está estagnada com mais de 20% de desempregados e subempregados. A União Europeia está à beira da desintegração. Está a ser confirmada claramente a crítica de Marx sobre a crescente pauperização no capitalismo. Chegou a altura de os novos movimentos políticos considerarem uma "via colombiana para o socialismo" construída sobre a propriedade pública dos altos comandos da economia, da reforma agrária, da agricultura sustentável e da protecção ambiental sob controlo democrático.

É com espírito de optimismo e análise crítica que envio a minha solidariedade e apoio incondicional aos organizadores, activistas e participantes militantes que vão estar presentes neste encontro histórico. Estou confiante em que mais cedo que tarde guiarão a Colômbia à sua "segunda e final independência".
28/Fevereiro/2012

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=29529
Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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Com apoio do Partido Comunista Brasileiro