"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Bolívar cavalga em satélite espacial


Hoje foi lançado da China o Satélite Simón Bolívar. É um acontecimento histórico para os povos latino-americanos.

ANNCOL

Nosso Libertador Simón Bolívar continua cavalgando pela América. O renomado “bunda de ferro”, que dizem que podia dormir montado em seu cavalo, agora cavalga no satélite que a revolução bolivariana –encabeçada por Hugo Chávez Frías- tomou a decisão de batizá-la com seu nome.

No cyber-espaço se deslocará em mil e uma direções os planejamentos certeiros da verdade da história latino-americana. Todo extra-terrestre que houver no Cosmos perceberá que há um povo decidido a romper definitivamente as cadeias da exploração do homem pelo homem. Esse povo, que habita desde o Rio Grande até a Patagônia, é um povo que desenvolveu sua resistência perante os colonizadores espanhóis e agora contra os impérios de todo tipo, especialmente o império estadunidense.

No cyber-espaço veremos emergir a verdadeira história de Cuacaipuro Cuauthémoc, dos Incas, dos indígenas da Patagônia, dos aztecas e maias, dos povos da Sierra Nevada de Santa Marta, do Valle del Cauca, dos indígenas equatorianos; e também se ouvirá e verá a história da escravidão dos negros africanos que foram traídos contra sua vontade mas que fincaram raízes ao unir-se com os indígenas, criando a primeira fusão, os mestiços, que tiveram orgulhosos filhos e, posteriormente uniram-se com os brancos para formar a tri-etnicidade que hoje é exemplo de um povo que luta de todas as formas contra a exploração.

Séculos de silenciamento estão sendo destruídos pelo construção dos que caminham na América Latina. Com a verdade de seu povo e de mil maneiras diferentes. Com música, com arte, com poesia, com trabalho, com construções, com justiça, com energia universal.

Tudo isso culminou na base espacial chinesa de Xichang, a uns dois mil quilômetros a sudoeste da capital, para o lançamento ao espaço, depois da meia-noite, do satélite venezuelano Simón Bolívar, conforme nos conta a Prensa Latina.

Quando o satélite subia aos céus podia-se ver a auréola do Libertador Simón Bolívar cavalgando em seu cavalo de aço, erguendo sua espada para alcançar a justiça social, a paz, a liberdade, a soberania nacional e a independência.

Hoje as crianças de toda a América Latina terão uma razão a mais para olhar ao horizonte em busca de seus sonhos. Ali, nesse horizonte, verão resplandecer o Satélite Simón Bolívar esclarecendo à Terra, especialmente nos países americanos, a verdadeira história e sentimento de milhões de seres que foram tiranizados pelos impérios. E Simón Bolívar dirá ao Cosmos que estamos orgulhosos de nossa herança, de nossos costumes, de nossa cultura, de nossas línguas, que somos latino-americanos. E essa mensagem estará para sempre carregada com uma incomensurável dose de amor.

É necessário um brinde a tão histórico acontecimento:
Viva, Comandante Chávez!
Viva, povo venezuelano!
Vivam os povos da América Latina!

O artigo (em espanhol) encontra-se em Anncol.eu.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A diplomacia da mentira

por John Pilger


Em 1992, Mark Higson, o responsável do Foreign Office pelo Iraque, compareceu perante o inquérito Scott relativo ao escândalo de armas vendidas ilegalmente a Saddam Hussein. Ele descreveu uma "cultura da mentira" no cerne da elaboração da política externa britânica. Perguntei-lhe quão frequentemente ministros e responsáveis mentiam ao parlamento.

"É sistémico", disse ele. "As minutas que escrevi para vários ministros diziam que nada havia mudado, o embargo à venda de armas ao Iraque continuava o mesmo".

"Isso era verdade?", perguntei

"Não, não era verdade".

"E os seus superiores sabiam que não era verdade?"

"Sim".

"Então quanto de verdade o público obteve?"

"O público obteve tanta verdade quanto podíamos arriscar, uma vez que nós lhe contávamos mentiras puras e simples".

Desde o envolvimento britânico com o genocida Khmer Vermelho no Cambodja ao fornecimento de aviões de guerra ao ditador indonésio Suharto, sabendo que ele estava a bombardear civis em Timor Leste, à recusa de vacinas e outra ajuda humanitária às crianças do Iraque, a minha experiência com o Foreign Office é de que Higson estava certo e continua certo.

No momento em que escrevo isto, o povo desalojado da Ilhas Chagos, no Oceano Índico, aguarda a decisão da Câmara dos Lordes, ansiando por uma repetição dos quatro julgamentos anteriores de que a sua expulsão brutal para abrir caminho a uma base militar dos EUA era "ultrajante", "ilegal" e "repugnante". Que eles devam suportar ainda outro recurso deve-se ao Foreign Office – cujo conselheiro legal em 1968, um Anthony Ivall Aust (posteriormente nomeado cavaleiro), escreveu um documento secreto intitulado "Mantendo a ficção". Esta aconselhava o então governo trabalhista a "argumentar" a "ficção" de que os chagossianos eram "apenas uma população fluturante". Hoje, a ilha principal despovoada, Diego Garcia, sobre a qual está arvorada a Union Jack, serve a "guerra ao terror" como um centro de interrogatório e tortura americano.

Quando você considera isto, a corrida presidencial nos EUA torna-se surrealista. A beatificação do presidente Barack Obama já está a caminho; pois é ele quem "desafia a América a levantar-se [e] evoca "os melhores anjos da nossa natureza", diz a revista Rolling Stone, o que rememora os apelos dos redactores do Guardian à "mística" Blair. Como sempre, é necessário o Teste da Inversão Orwelliana. Obama afirma que a vasta riqueza da sua campanha vem de pequenos doadores individuais, mas ele também recebeu fundos de alguns dos mais notórios saqueadores da Wall Street. Além disso, a "pomba" e "candidato da mudança" votou reiteradamente o financiamento das guerras predatórias de George W. Bush, e agora pede mais guerra no Afeganistão enquanto ameaça bombardear o Paquistão.

Considerando as democracias na América Latina como um "vácuo" a ser preenchido pelos Estados Unidos, ele endossou "o direito da Colômbia de atacar terroristas que procuram lugar seguro além das suas fronteiras". Traduzido, isto significa o "direito" do regime criminoso daquele país de invadir os seus vizinhos, nomeadamente a arrogante Venezuela, no interesse de Washington. O grupo britânico de direitos humanos Justice for Colombia acaba de publicar um estudo referente ao apoio anglo-americano ao regime colombiano de Álvaro Uribe, o qual é responsável por mais de 90 por cento de todos os casos de tortura. Os torturadores principais, as "forças de segurança", são treinados pelos americanos e pelos britânicos. O Foreign Office responde que está "a melhorar o registo de direitos humanos dos militares e a combater o tráfico de droga". O estudo não descobre nem uma sombra de prova para confirmar isto. Oficiais colombianos com recordes de barbárie, tais como aquele implicado no assassinato de um líder sindical, são bem recebidos em "seminários" na Grã-Bretanha.

Tal como em muitas partes do mundo, o papel britânico é aquele de um subempreiteiro de Washington. O sangrento "Plano Colômbia" foi concebido por Bill Clinton, o último presidente democrata e inspirador do novo Partido Trabalhista de Blair e Brown. A administração Clinton foi pelo menos tão violento quanto a de Bush – ver relatório da Unicef de que 500 mil crianças iraquianas morreram devido ao bloqueio anglo-americano na década de 1990.

A lição aprendida é que nenhum candidato presidencial, menos ainda um democrata a nadar no dinheiro dos "banksters da América", como os chamava Franklin Roosevelt, pode ou irá desafiar um sistema militarizado que o controla e o premeia. A tarefa de Obama é apresentar uma cara afável, mesmo progressista, que ressuscitará as pretensões democráticas da América, internacionalmente e internamente, enquanto garante que não haverá quaisquer mudanças substanciais.

Entre americanos comuns, desesperados por uma vida segura, a cor da sua pele pode ajudá-lo a recuperar esta "confiança" injustificada — embora esta seja de uma tonalidade semelhante àquela de Colin Powell, que mentiu às Nações Unidas para Bush e agora apoia Obama. E quanto ao resto, não será tempo de abrirmos os olhos e exercermos o nosso direito de não nos mentirem, mais uma vez?

O artigo encontra-se em Resistir.info.

Crianças prisoneiras de guerra na Colômbia: casas, escolas e cidades como cárceres

por Luís Ernesto Almario/ABP Austrália


O ditador narcotraficante-paramilitar, Álvaro Uribe Vélez, pratica tortura física, moral e econômica em crianças. Um absurdo que deve ser investigado por organismos internacionais de proteção à infância no contexto do conflito sociopolítico e militar colombiano.

O conflito armado na Colômbia deixou perto de 1 milhão de mortos, irrigando suas pequenas propriedades rurais com miséria, desolação e morte de famílias camponesas, que, por sua vez, sempre foram alvo da tirania das oligarquias pró-imperialistas que a sangue e fogo defendem os interesses do colosso do Norte.

A sangria cruel do povo colombiano iniciou-se há 50 anos com a violência fratricida entre liberais e conservadores na disputa pelo poder. Incluem-se aí os “pájaros", os "chulavitas" de Laureano Gómez; o assassinato de Jorge Eliécer Gaitán, o “defensor do povo", a ditadura do General Gustavo Rojas Pinilla; tudo isso foram facetas de um conflito maior.

Os 16 anos da Frente Nacional, a alternância das duas facções de oligarquias colombianas são a continuidade da estúpida violência para obter o controle, o poder, e continuar administrando a pátria como o jardim traseiro dos gringos, recebendo como pagamento algumas migalhas de dólares que os norte-americanos deixam cair de sua mesa farta. No governo de Guillermo Valencia, os americanos que assessoravam os militares colombianos bombardearam as sete repúblicas independentes onde haviam refugiados camponeses que não aceitavam a anistia proposta pelo governo ilegítimo para entregar suas armas e integrar-se à vida civil. Eles temiam, com razão, ser assassinados.

Marquetalia, El Pato, Rio Chiquito, El Guayabero, entre outras comunidades, foram bombardeadas pelas forças governamentais, deixando milhares de mortos e desabrigados - perto de 100 mil, segundo alguns relatos de sobreviventes desse atentado terrorista contra a população camponesa - a sua maioria idosos, mulheres, crianças, inocentes que fugiam da região para se proteger.

O governo da Frente Nacional do conservador Guillermo León Valencia argumentava que não podia existir um estado dentro do estado, uma república independente, sem controle dos poderes centrais; no entanto, os camponeses haviam construído estradas que ligam as comunidades, escolas, postos de saúde, constituíram leis e um sistema de escambo como base econômica. As crianças, de qualquer idade, sempre foram vítimas inocentes da violência desse regime com fachada de democracia que por muitos anos controlou o poder na Colômbia. Foram essas crianças, que tiveram os seus pais assassinados, desaparecidos, presos, torturados, a quem não restou outro caminho senão empunhar as armas em revolução popular.

Essas crianças de ontem são os guerrilheiros de hoje, os que integram as colunas da guerrilha das FARC-EP .A essas crianças desabrigadas, as FARC, no tempo de Manuel Marulanda Velez, ensinou a ler e a escrever em escolas encravadas nas selvas colombianas, e depois os enviou a colégios nacionais de ensino médio. Alguns conseguiram entrar na Universidade Nacional; a outros o Partido Comunista (Juventude Comunista), diante de suas especiais capacidades e inteligências, conseguiram bolsas de estudos no exterior - na União Soviética, Cuba, enfim, em países socialistas que ofereceram esse presente.

Com esse esforço a Juventude Comunista (JUCO) lhes cultivou política e ideologicamente, enviando-lhes às mais diversas universidades socialistas do mundo. Na Patricio Lumumba, em Moscou, ingressaram em faculdades de Engenharia, Economia, Diplomacia Internacional; e em Havana formaram-se doutores em Medicina etc.

Segundo os altos comandos militares, os camponeses instruídos são perigosos. Solução: extermínio em massa, como o da União Patriótica, o assassinato seletivo de quadros da JUCO: Jaime Bateman, Luis Francisco Otero, Francisco Garnica, Pedro Leon Lupo Arboleda, Pedro Vazquez Rondon, Manuel Cepeda Vargas, Miller Chacon, Hernando Gonzales e muitos marcados para morrer, na mira do Exército.

Nos famosos distritos municipais de guerra, durante o governo de Carlos Lleras Restrepo, o comandante da Nona Brigada de Institutos Militares com sede em Neiva, coronel Armando Orejuela Escobar, que depois se tornaria general e comandante das forças Armadas, afirmava cinicamente que “Um camponês esclarecido é um bandido!"

Mas estas são as crianças desabrigadas de ontem e os profissionais do Secretariado e Comandantes das FARC de hoje, que lutam pela sua pátria e por uma Nova Colômbia com educação, trabalho e justiça social. São lutadores sociais, não terroristas, bandidos ou narcotraficantes como a família Uribe Vélez e seus 40 ladrões.

Por outro lado, também não devemos ignorar o que se passa com as crianças que nasceram em "berço de ouro", os filhos das mais "finas” classes sociais - das 50 - que governam o país há 200 anos: educados para mandar, perdão, administrar a estática “Gringolândia". As crianças ricas vão a escolas privadas, colégios exclusivos do mais alto turmequé, às mais caras e privilegiadas universidades do país e depois são enviadas para fazer pós-graduações ou doutorados em países europeus como a França, Espanha, Estados Unidos, Canadá; ou para países asiáticos como o Japão, Austrália e outros. Os "delfins" ou privilegiados dos gringos são nomeados pelo governo colombiano atual como embaixadores na casa Branca e fazem cursos no Pentágono e na CIA para serem ungidos como presidentes do país bananero para que se alternem na cadeira presidencial e assim não se enfrentem e deixem de defender os interesses imperiais...

Eles, os candidatos por excelência, não pertencem ao Eixo do Mal, não são filhos do demônio nem terroristas, são os enviados de Deus e anjinhos alvos do Tio "Sam" que, com com o apoio do sionismo e suas armas levarão a ordem ao mundo em nome de uma democracia a serviço do imperialismo norte-americano. Assim se dividem as crianças boas e más na Colômbia, enquanto, no contexto internacional, os organismos de proteção à paz, dos direitos humanos e da infância permanecem como espectadores do conflito graças às mentiras e as astúcias do tirano que impedem uma ação enérgica.

O autor solicita, nesta tribuna livre da ABP que nos permite opinar sobre a problemática colombiana, a intervenção dos organismos internacionais de proteção a nossas crianças na realidade que elas vivem na Colômbia, uma ditadura civil militar organizada por Alvaro Uribe Veles. Isso sem citar naquelas crianças que se lançam à aventura de perambular o mundo em busca de um futuro mais digno, ou as crianças crescidas que na primeira oportunidade se escondem em aviões e procuram asilos em qualquer parte que os recebam, aos profissionais ou intelectuais que lhes chamam de “mentes em fuga".

Para mostrar isso ao mundo temos que ler a carta de Liliany Patricia Obando Villota, enviada aos Exilados Políticos Colombianos Bolivarianos na Austrália. É uma peça-chave para se compreender a história da política colombiana e deve ser bandeira de luta internacional até conseguir que escutem o seu lamento. Seus filhos foram perseguidos, interrogados por capangas da inteligência militar, feitos prisioneiros devido à sua militância: são prisioneiros de guerra, seguidos e monitorados na sua casa, na escola, em sua cidade, enfim, cada passo e cada movimento que dão são seguidos pelos arapongas da Inteligência que seguramente vendem falsos positivos aos jornais.

O único crime para que essas pessoas se tornassem prisioneiras de guerra foi o fato de sua mãe, Liliany Patricia Obando Villota, uma mulher que fala cinco ou seis idiomas, além de ser cineasta, socióloga e mestra em Ciências Políticas sobre a realidade colombiana, ter narrado ao vivo a realidade que vive sua pátria.

Sem dúvida o senhor presidente está completamente maluco e deve enxergar muitos moinhos de vento como Sancho Pança, ou quer passar a imagem de maluco para mandar à prisão os seus opositores, como esta voz rebelde, de origem camponesa, por um delito inexistente como ter ocupado um cargo na FENSUAGRO. Liliany deixou aqui, na Austrália, muitos amigos que observam com assombro o que continua ocorrendo no país do Sagrado Coração de Maria e o escapulário da família Uribe, onde o paramilitarismo, o crime seletivo, o genocídio e o narcotráfico são o pão nosso da cada dia.

Do maluco Uribe tudo se pode esperar, em seus coices de fera ferida de morte. Ele vai ter que prender todo um povo que o repudia, que o ”elevou como palmeira, mas que cairá como côco". Aliás, em sua paranóia ele já solicitou a todos os governos do planeta a extradição dos exilados políticos.

Uribe é um caso especial de delírio de grandeza, e, como inspetor de polícia numa época de violência generalizada na Colômbia, mandou aplicar a pena de morte e fuzilar um cachiporro chusmero. Quando seus serviçais pistoleiros lhe insinuaram que a pena de morte não era legal na Colômbia, o ditador do pueblito retrucou: “Onde está escrito que não é possível impor a pena de morte?”. Os fuzileiros: “Na Constituição Federal, senhor presidente!”. Então Uribe, taxativo com seu sotaque paisa da família dos “12 apóstolos”, saiu-se com esta: “Pois reforma-se a Constituição e aplica-se a pena de morte!”.

O presidente Álvaro Uribe Vélez primeiro legalizou os paramilitares. Sua família montou os maiores e melhores laboratórios do “ouro branco” (a cocaína), e, com a máfia do terrorista Pablo Escobar, atravessou as fronteiras blindado pela máfia norte-americana e quer agora legalizar a pena de morte sob alegação de que é do fato que nasce o direito...

Diante disso, é necessário ficar bem claro aos opositores do regime totalitário do presidente Uribe e seus 40 ladrões que, quando se fizer alguma advertência ou aviso sobre a Corte Marcial, já se estará de antemão condenado. É como afirma um jovem sobrinho advogado, cheio de fé e esperança em uma nova Colômbia e a quem não atrevo a identificar porque a sua vida correria perigo assim como as vidas das crianças colombianas: "A justiça não existe, só existe a opinião dos injustos".

Finalmente, a carta de Liliany Patricia Ovando Villota nos traz uma série de dúvidas muito coerentes que questionam a maluquice do presidente Álvaro Uribe Vélez.

1- Por que os paramilitares, amigos ou amigas pessoais do ditador da Comarca gozam do privilégio da prisão domiciliar?

2- Por que os paramilitares são extraditados aos Estados Unidos indiciados por tráfico de drogas, evitando a justiça colombiana e impedindo os inquéritos por assassinatos e genocídios?

3- Que explicação deu o presidente Uribe sobre o parlamento paramilitar, seu partido e seus amigos que foram financiados pelas Autodefensas Unidas da Colômbia?

4- O que significa a legalização do paramilitarismo na Colômbia e a criação do paramilitarismo como partido político em Ralito, conforme manifestou-se o governante?

5- Os “Águias Negras" são o outro braço criminoso do presidente Uribe e seu bunker ou a guarnição é a Casa Nariño em Bogotá? Como se explica isso, presidente?

6- No Exército, oficiais de alta categoria são assassinos de jovens desaparecidos e quem deu as ordens foi o senhor, senhor presidente. Por que não nos tira essa dúvida?

------------------

Rede internacional organizada pelos amigos de Liliany Patricia Obando Villota, heroína colombiana que fez de sua casa uma prisão para cuidar dos seus filhos.
O original encontra-se em ABP Notícias.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Governo assume alguns de seus falsos-positivos

O descaramento do governo do narco-paramilitar Álvaro Uribe Vélez chegou a um ponto tal que, para dar um ar de "moralidade" e "respeito aos direitos humanos" enquanto a Alta Comissária dos Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, está de visita à Colômbia, o presidente ordenou o afastamento de três generais e 22 oficiais do exército colombiano por assassinatos extra-judiciais.


É uma tentativa de jogar mais uma cortina de fumaça e impedir que o mundo perceba quem é o verdadeiro culpado por todos esses crimes: o ilegal, imoral e inepto ocupante da Casa de Nariño, Álvaro Uribe Vélez.

Segue abaixo a reportagem de uma das grandes corporações de mídia que, finalmente, teve que informar (mesmo que superficialmente) o que realmente acontece no nosso país irmão.

"Álvaro Uribe ordena afastamento de dezenas de militares colombianos"
Correio Braziliense

O governo colombiano afastou de suas funções três generais e 22 oficiais e suboficiais por envolvimento em execuções extrajudiciais, um expurgo que acontece em plena visita ao país da Alta Comissária dos Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay.

O anúncio dessas demissões sem precedentes no exército, desde que o presidente Alvaro Uribe foi eleito em 2002, foi feito na manhã desta quarta-feira (29/10) pelo comandante do Estado Maior, Freddy Padilla de Leon, durante entrevista à imprensa da qual participaram também o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, e o presidente colombiano, Álvaro Uribe.

Uma investigação realizada a partir de 3 de outubro pelo exército "deixou claro que membros das forças armadas poderiam ter sido envolvidos nos assassinatos", anunciou o presidente.

"Em algumas instâncias do exército, houve negligência e falta de respeito aos procedimentos (...) permitindo que algumas pessoas pudessem estar envolvidas nos crimes", acrescentou.

O general Padilla leu uma lista compreendendo três generais, onze coronéis, três majores, um capitão, um tenente e seis suboficiais, todos demitidos de suas funções, como parte da enquete aberta pelo desaparecimento de 20 jovens dos bairros pobres do sul de Bogotá.

As autoridades destituíram o general da sétima divisão Roberto Pico Hernandez, o general de brigada José Joaquin Cortes, comandante da IIª divisão, e o general de brigada Paulino Coronado Gamez, da 30ª brigada - batalhões mobilizados nos nordeste do país.

Os jovens desaparecidos foram declarados mortos em combate nas fileiras da guerrilha no departamento Norte de Santander (nordeste), alguns dias após seu desaparecimento denunciado em Bogotá.

Essas "mortes em combate" pareceram pouco críveis a suas famílias, para quem eles não poderiam, no espaço de apenas alguns dias, se somarem às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), receber um treinameto e participar das operações.

Quando o escândalo explodiu, no final de setembro - após a descoberta de 19 corpos em fossas comuns no nordeste do país, em Ocana - alguns fizeram a ligação com a prática já denunciada de unidades do exército colombiano de executar civis para aumentar o número de guerilheiros mortos e obter, assim, recompensas.A prática foi amplamente denunciada por organizações de defesa dos direitos humanos, entre elas a Amnesty international, ontem.

Em 2007, segundo esta Ong, foram contabilizadas 330 execuções extrajudiciárias pelas forças da ordem, contra 220 em média em 2004-2006 e cerca de 100 em 2002.

O anúncio da destituição dos generais aconce num momento em que a Alta Comissária dos Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, visita a Colômbia. Ela chegou na noite de domingo e fica no país até sábado.

O caso da Colômbia será objeto de um exame específico pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU em dezembro. A situação colombiana dos direitos humanos destaca também um vento de contestação entre os parlamentares democratas do grande aliado americano, os Estados Unidos, cuja política em relação a Bogotá poderia radicalizar se o candidato democrata à presidência Barack Obama for eleito em novembro.

Venezuela tem dado lições de grande magnitude na transição ao socialismo

por Agencia Bolivariana de Noticias (ABN)

No processo de transição ao socialismo, a Venezuela desenvolveu alguns elementos que não haviam sido realizados no campo, com o qual deu lições de grande magnitude nessa área.

Assim argumentou nesta quinta-feira o professor de Economia e Filosofia da Universidade Estatal de Moscú, Alexander Buzgalin, durante sua participação no VIII Encontro Mundial de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade e Assembléia Geral do Fórum Mundial de Alternativas, que aconteceu no hotel Alba, em Caracas.

“Os que apoiamos o socialismo na Rússia consideramos que o processo venezuelano é de grande importância, porque conseguiu vitórias para a democracia socialista e estamos dispostos a ajudar, através de nossas experiências na União Soviética”, assinalou Buzgalin.

O catedrático russo especificou que a Venezuela tem empreendido um processo de socialização do capital para garantir alguns aspectos fundamentais como a necessidade de vencer a pobreza, assim como a garantia de que os cidadãos possam desfrutar de educação e saúde de maneira gratuita.

“É necessário preparar e educar as pessoas, trabalhar pela igualdade social para eliminar as amplas diferenças que existem no sistema capitalista nesse sentido, nesse sentido a Venezuela tem avanços significativos”, indicou.

Ainda assim, Buzgalin considerou que outro aspecto necessário para a transição ao socialismo é a independência dos trabalhadores, para que não fiquem sob o domínio das corporações, situação própria do capitalismo.

“É importante criar uma atmosfera na qual os trabalhadores sejam verdadeiros líderes de seus locais de trabalho; e sabemos que na Venezuela a classe trabalhadora está sendo impulsionada para que exerça o protagonismo”, pontualizou Buzgalin.

Nesse sentido, acrescentou que, para que os trabalhadores possam ser os líderes de suas atmosferas de trabalho, deve-se impulsionar seus direitos, como a união deles em organizações trabalhistas para distribuir recursos e outros fatores.

Ao mesmo tempo, assinalou que no socialismo deve-se promover e executar políticas que contribuam para o desenvolvimento de programas de planejamento, através da qual se transforme a economia capitalista em socialista.

Ele valorizou o fato de que na Venezuela aplica-se a democracia participativa, das bases, porque é através da democracia que se pode chegar ao socialismo.
“Venezuela está bem encaminhada, tem uma democracia que vem das bases, assim como uma série de programas de desenvolvimento social, que são fundamentais para transitar para o socialismo”, ressaltou.

Reiterou mais uma vez que os que apóiam o socialismo na Rússia consideram o processo venezuelano de grande importância, pois conseguiu importantes vitórias para a democracia socialista.

“Os venezuelanos têm sido professores em matéria de socialismo, poprque desenvolveram questões que não haviam sido realizadas no campo, as quais constituem lições de grande magnitude”.

A notícia encontra-se em ABN.

Investimento social será de 48% em 2009 na Venezuela

Em 2009 serão destinados do orçamento nacional um total de 78,6 milhões de bolívares fortes aos investimentos sociais, o que representa 48% do orçamento.

por Agência Bolivariana de Notícias

Assim afirmou o presidente Hugo Chávez Frías no Teatro Municipal de Caracas, durante o ato de entrega de financiamentos a projetos socioprodutivos do Poder Popular.

Chávez enfatizou que este dinheiro estará orientado ao desenvolvimento e implementação de projetos de cunho social e assinalou que todos os anos serão feitos esforços para incrementar este orçamento e baixar os gastos desnecessários. Nesse sentido, orientou seus ministros a tomarem as medidas cabíveis.

Recordou que o montante estimado para gastos sociais no orçamento desse ano será de cerca de 64,7 milhões de bolívares fortes (45% do total do orçamento nacional) e indicou que este dinheiro tem sido destinado ao investimento social direto, através de cada uma das missões e em programas de saúde, educação e cultura.

Com isso, o Mandatário nacional destacou que de 45% o número subirá para 48% de todo o orçamento nacional e ressaltou que o orçamento mede a orientação de um governo.

“Sempre temos dito, se queremos acabar com a miséria e a pobreza, devemos dar o poder ao povo. Todo o poder para o povo”, apontou o Chefe de Estado venezuelano.

A notícia encontra-se em ABN.

Salvar os povos, não os bancos

por SEPLA (Sociedade Latino-Americana de Economia Política e Pensamento Crítico)

Vivemos uma crise estrutural do sistema capitalista. Não é o momento de acreditar no seu salvamento e sim de trabalhar pela sua transformação. Os povos latino-americanos viram-se obrigados, mais de uma vez, a socorrer os banqueiros à custa dos seus sofrimentos. É hora de mudar a história e não repetir o resgate dos financeiros. Nossa prioridade são as necessidades populares.

A crise económica que deriva da financeira e está em curso nestes dias pode prolongar-se por muito tempo. Não é possível estabelecer, com seriedade, o tempo que ela perdurará e a forma do seu desenvolvimento. Mas o que se pode dizer é que é a crise mais grave e mais profunda desde 1929/30, e propaga-se a uma velocidade muito maior que aquela por possuir um carácter totalmente global.

Há que dizer, além disso, que a crise económico-financeira actual ocorre dentro de um contexto de múltiplas outras crises, como a dos alimentos, das matérias-primas, da energia, do ambiente e, também, de uma crise militar em que não se descarta a utilização de armas de destruição maciça.

A economia norte-americana, devido às suas três dívidas (privada, pública e com o exterior) encontra-se em risco de forte instabilidade. Sua hegemonia e económica está debilitada e questionada. Sua hegemonia geoestratégica sobrevive, ainda que haja sofrido reveses significativos. Pelas mesmas razões, o momento actual é particularmente perigoso para toda a humanidade uma vez que os EUA não renunciam à hegemonia e ao domínio unipolar nos diferentes campos. Esse país tenta inclusive manter sua hegemonia ideológica e cultural, que sem dúvida se vê afectada pelas contradições que surgem da mesma crise a nível interno e com os seus aliados.

A partir da crise, agudizar-se-á a contradição antagónica com o capitalismo à escala global. Abre-se um extenso período de convulsões cujos resultados estão abertos. As classes dominantes tentarão reconstituir o sistema com maiores níveis de exploração dos trabalhadores, os quais deverão fortalecer suas organizações para enfrentar essa agressão. A América Latina foi o subcontinente que maior resistência opôs ao neoliberalismo, cenário também de grandes rebeliões populares. A experiência social e política acumulada em alguns dos nossos países pode marcar um caminho na articulação dessa resposta necessária.

Os governos neoliberais e social liberais da nossa região, mesmo os chamados "progressistas", manterão sua crença na lógica do capital e sua intervenção procurará preservar o funcionamento do mercado capitalista e o domínio das empresas transnacionais que ocupam nossos territórios. Permitirão a quebra de uma ou outra grande empresa especulativa ou produtiva, mas intervirão imediatamente naquelas que possam por em risco da lógica do capital no âmbito do seu país. Isso significa que continuarão a permitir e ainda a promover a voracidade do lucro exigido pelos mencionados capitais. A crise fiscal do Estado aprofundar-se-á, reduzindo o investimento publico, a despesa social e os subsídios.

As referidas políticas incrementarão ainda mais o desemprego, a precariedade do trabalho, a redução de salários e pensões, com o que aumentarão a pobreza, a miséria e a exclusão social.

Entretanto, na América Latina há governos que, sem necessariamente colocar uma ruptura completa com o sistema do capital, tentam encontrar uma política capaz de enfrentar de maneira diferente as inevitáveis consequências da crise mundial nos seus países.

Em qualquer destas circunstâncias os trabalhadores e os movimentos sociais devem conquistar e preservar sua independência frente aos Estados e lutar decididamente contra as políticas antipopulares que pretendem transferir os custos da crise do capital para o trabalho e dos países centrais para os periféricos.

Por isso necessitamos definir uma agenda de política económico-social dentro de uma estratégia de sobrevivência e resistência dos sectores populares, em particular dos trabalhadores, para o difícil período que se avizinha, acompanhada de uma ofensiva ideológica contra o sistema capitalista que mostra com esta crise sua incapacidade absoluta para atender as necessidades dos nossos povos.

Propomos então este conjunto de medidas de política económica:

1- É urgente e indispensável a custódia da banca privada que, dependendo de cada país, pode ser por controle, intervenção ou nacionalização sem indemnização, seguindo o princípio de não estatizar dívidas privadas nem voltar a transferir esses activos para mãos privadas.

2- Controle e bloqueio da saída de capitais, evitando a sua fuga.

3- Centralização e controle cambial com política de câmbios múltiplos e diferenciados.

4- Moratória e imediata auditoria da dívida pública, libertando recursos para atender às necessidades sociais.

5- Controle de preços dos produtos básicos.

6- Manutenção e recuperação dos salários reais dos trabalhadores, associado a duma política de tributação progressiva que afecte o capital e sobretudo a especulação.

7- Políticas de protecção e incentivo ao mercado interno e às actividades económicas com alta geração de emprego. Para essa finalidade o investimento público desempenha um papel fundamental.

8- Seguro de desemprego e políticas de protecção social aos trabalhadores desempregados e informais.

9- Re-estatização das empresas estratégicas. Nacionalização das grandes empresas privadas em processo de quebra. Recuperação do controle nacional dos recursos naturais.

10- Uma integração regional que atenda aos interesses dos nossos povos e não aos do capital.

Tais medidas imediatas constituem uma resposta ao drama social que a crise impõe e iniciarão transformações que, para se realizarem plenamente, exigem avançar rumo a um horizonte socialista.

Salvar os povos, não os bancos, este é o objectivo da Sociedad Latinoamericana de Economía Política y Pensamiento Critico frente à crise e suas consequências sociais.

Buenos Aires, aos 23 dias de Outubro de 2008. Junta Directiva da SEPLA [*]

Declaração da Sociedad Latinoamericana de Economía Política y Pensamiento Crítico perante a crise económica mundial.

O artigo encontra-se em Resistir.info.

E agora?

por Jim Kunstler


É fascinante ler os comentadores de jornais de referência como The Financial Times e The Wall Street Journal a pretenderem incansavelmente que "o pior já passou" (talvez... esperemos... dedos cruzados... ave Maria cheia de graça... et cetera). A ignorância seria divertida se não envolvesse uma catástrofe mundial. Todos os países que atingiram o nível de civilização dos talheres-de-mesa estão agora a engendrar uma vasta rede de ciber-cabos que conduz os computadores dos seus bancos centrais directamente para a Estrela da Morte que paira acima dos negócios do mundo financeiro tal como um gigantesco aspirador de pó cósmico, a sugar dólares, euros, zlotys, forints, kronas, tudo o que tiverem. Tão rapidamente quanto as teclas criam pixels de divisas, as pequenas unidades de câmbio denominadas em electrões são sugadas para fora das economias terrestres em direcção ao buraco negro da morte monetária. Eis o que consistem os US$700 mil milhões do salvamento (desculpem-me, do "plano de resgate") e todos os seus riscos associados.

Para mudar as metáforas, digamos que estamos a assistir às duas etapas de um tsunami. O actual desaparecimento de riqueza na forma de dívidas repudiadas, apostas não honradas, contratos cancelados, e dramalhões gastos estilo Lehman Brothers é como o desaparecimento do mar. Os pobres e curiosos pequenos macacos humanos em pé na praia, paralisados pela estranheza do acontecimento enquanto o mar recua, o seu leito é exposto e surgem todas as espécie de criaturas exóticas a moverem-se na lama, enquanto os esqueletos de ruínas históricas são expostos à vista, e um grande fedor de putrefacção orgânica evola-se em direcção à costa. A seguir há a segunda etapa, o próprio maremoto – o qual, neste caso, será horrífica inflação monetária – a rugir de volta sobre o chão de lama em direcção à massa da terra, a esmagar-se sobre a praia, e a rasgar em pedaços todos os hotéis, casas e infraestruturas enquanto afoga os pobres e curiosos humanos que estavam ali fascinados pelo estranho espectáculo em cima dos terrenos mais altos. O maremoto assassino varre para longe tudo o que eles trabalharam para construir durante décadas, todas as suas comoventes pequenas propriedades e bens móveis, e os sobreviventes são deixados a lamentar-se em meio às ruínas quando o mar mais uma vez retorna ao seu berço eterno.

Assim, eis o que penso a que chegaremos: um intervalo de depressão deflacionária seguido por uma onda destrutiva de inflação que eliminará tanto a dívida como as poupanças construídas, raspando a paisagem financeira até à limpeza. Não há dúvida de que a etapa um está a caminho. Mas podemos assegurar que a onda gigante de dinheiro temerariamente concedida como empréstimo apenas numas poucas semanas fluirá de volta através da economia global deixando um rastro de destruição.

E daí? As sociedades do mundo serão confrontadas com a tarefa de reconstruir sistemas de actividades frutuosas, isto é, economias reais baseadas no comportamento produtivo ao invés dos fumos-e-espelhos de jogos trapaceiros como as finanças-Frankenstein. De facto, desculpe-me por comutar de metáforas mais uma vez, porque a história do Frankenstein – o novo Prometeu – ainda é outra narrativa adequada para informar-nos do que temos de fazer. Temos "brincado" com fogo financeiro e trouxemos à vida um monstro que agora pretende matar-nos. Uma pergunta que esta metáfora-narrativa levanta: quando é que a multidão de camponeses raivosos assaltará o castelo com as suas tochas em chamas e gritará pelo sangue dos criadores deste monstro? De preferência em breve, penso. Talvez, em alguns países (pode ser que nos EUA, se tivermos sorte), isto venha a assumir a forma mais ordeira dos processos sistemáticos, levando à justiça pessoas que perpetraram fraudes envolvendo a sopa de letras de "produtos" de investimento que azedou tantas contabilidades (e arruinou tantos indivíduos, instituições e governos). Penso que isto já começou com os investigadores a convocarem o evasivo Dick Fuld da Lehman Brothers – mas há centenas de outras figuras como ele fora dali, que conseguiram incontáveis milhões de dólares em actividades que eram simplesmente grandes vigarices. Eu não ficaria surpreendido se, eventualmente, o secretário do Tesouro Hank Paulson se encontrasse ele próprio no banco dos réus para responder como foi possível que, quando dirigia a Goldman Sachs, houvesse uma unidade especial na companhia dedicada a vender à descoberto (short selling) os próprios títulos apoiados por hipotecas que uma outra unidade na companhia tão afanosamente despejava em tudo quanto era fundo de pensões sobre a terra.

Além dos processos ordenados (os quais podem certamente tornar-se duros e cruéis), há a possibilidade de levantamentos sócio-políticos – revolução, violência, guerra civil, guerra entre países, toda a ementa de males que afligem a espécie humana. Não somos necessariamente imunes a isso aqui nos EUA, apesar da nossa querida noção de excepcionalismo, o qual nos inocularia contra todas as vicissitudes comuns da História.

Seja como for, os processos em tribunais, apesar de satisfazerem a fome de justiça (ou, mais particularmente, de vingança), não é uma actividade económica produtiva. Assim, a pergunta que pede mais uma vez para ser feita é: o que faremos nós? Sob as melhores circunstâncias reorganizaremos a nossa sociedade e a economia a um nível mais baixo de utilização da energia (e provavelmente a uma escala mais baixa de governação, também). A condição é que ela terá de ser muito mais baixa. Penso que seremos muito felizes daqui a cinquenta anos se tivermos umas poucas horas de electricidade por dia para utilizarmos.

A história da energia e da sua serviçal, as alterações climáticas [NR] , espreitam para além do espectáculo imediato do fiasco financeiro. Estas coisas implicam muito fortemente que as relações económicas agora a descarrilar não sejam reconstruídas – não do modo que eram antes, ou mesmo parecido com ele. O melhor desenlace serão sociedades que possam praticar agricultura orgânica "intensiva" em pequena escala e, igualmente em pequena escala, modos de fabricação por processos intensivos no contexto de redes sócio-políticas muito locais. Uma esperança que a acompanha é que possamos permanecer civilizados neste processo. Pessoalmente, enquanto reconheço o apelo (para outros, não para mim) da narrativa da "singularidade", o qual põe a raça humana a dar um súbito salto evolutivo rumo a alguma espécie de cyborg-nirvana, encaro-a como uma absoluta fantasia que tem zero probabilidades de verificar-se dada a nossa rematada aflição.

Mas retornando ao curto prazo, ou "o presente", diremos que há a questão de como os EUA atravessa esta eleição e a seguir os primeiros meses de um novo governo, enquanto ao mesmo tempo prossegue o grande fiasco. Vou votar pelo sr. Obama. Apesar de acreditar que ele dará um presidente muito melhor do que o apodrecido cão louco em que se tornou o sr. McCain, lamento qualquer um que seja colocado nominalmente "a cargo" das coisas neste próximo ano. O melhor que um presidente Obama pode fazer é oferecer algum conforto para um público que está totalmente despreparado para a convulsão agora sobre nós. O sr. Obama certamente não terá "dinheiro" para "gastar" em qualquer dos prometidos programas de apoio social que têm sido infindavelmente debatidos. Mas ele poderia articular claramente a realidade que estamos a enfrentar, e não necessariamente pedir por "sacrifício", como faz o apelo comum, mas por algo maior e melhor: por bravura e espírito resoluto, por inteligência e resilência, por candura e generosidade – entre um povo há muito desabituado de consorciar-se com os melhores anjos da sua natureza. Ele já começou a dar o exemplo ao aparecer em público com as mangas da camisa enroladas para cima. A mudança que tem estado no ar este ano – da qual o sr. Obama tem falado muito – está a chegar numa dose maior do que todos esperavam. Espero que estejamos preparados para entender o programa.
[NR] Um falso problema: ao longo de toda a história do planeta Terra verificaram-se alterações climáticas, não há nada de novo quanto a isso.

Meu novo romance do futuro pós petrolífero, World Made by Hand, está disponível neste link.
O original encontra-se em jameshowardkunstler.typepad.com/ . Tradução de JF.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Cinescrúpulos: Uma coluna dedicada exclusivamente ao espetáculo e à fanfarronice

"A noite foi mágica: a primeira atriz estava esplêndida em seu traje de gala. Acompanhada por Sua Minúscula Excelência, o príncipe Felipe de Borbón, e o espírito do generalíssimo Franco, Ingrid resplandesceu como nunca."

Não havia rival à altura. Desde sua aparição, em julho deste ano, na Operação Jaque (também conhecida como Casanariño), uma superprodução da norte-americana Warner Bush – em sociedade com a reconhecida associação das produtoras de espetáculos nacionais El Tiempo - Caracol – RCN – DAS -, ela despontava como incontestável ganhadora do Prêmio Príncipe das Astúrias à sétima arte.

Mesmo que alguns críticos considerem que a produção só ganhou relevância graças à portentosa difusão pela Discovery Channel, devo dizer que, em minha modesta opinião, Casanariño (Jeque) contou desde o primeiro momento com todos os elementos próprios de uma obra-prima revolucionária (aliás, esperamos que não o uso deste termo não vire razão para incluir a nossa coluna na lista de sustentadores ideológicos do terrorismo) naquilo que o gênero propõe.

Que outra obra contemporânea – excetuadas as grandes superproduções da mesma Warner Bush no Iraque e Afeganistão - combinou com tanta maestria gêneros como drama, comédia, humor negro e romance? Claro, é preciso dizer que há precursores. De fato, Jeque não seria possível sem a larga experiência dos seus produtores e diretores em gêneros como a farsa e o aclamadíssimo subgênero de terror conhecido como “falso positivo”.


A cerimônia

Ao melhor estilo dos grandes pop-stars de Hollywood, Ingrid subiu ao palanque encarnando o personagem que a projetou internacionalmente. Durante sua intervenção, Betancourt deu uma mostra de seus dotes histriônicos e o correto uso dos gêneros que fizeram inconfundível a sua interpretação em Jeque. Suas palavras fluíram com calculada naturalidade do humor ("Lhes posso assegurar que faço todo o possível para que este seja o último Natal que (os reféns) passem na selva”) à comédia ("Sabemos que existem contratos para nos matar e que as Farc querem voltar a capturar todas as pessoas que foram libertadas)”.

Evidentemente, Ingrid não poderia deixar passar a oportunidade sem convidar seus colegas da América Latina a dar um novo impulso ao cinema de aventuras na região ("Fazemos um dramático chamado (a nossos países vizinhos) para que impeçam que o seqüestro se generalize em nosso continente").

O mesmo ela aplicou aos guerrilheiros, chamando-os de "desumanizados carcereiros", elogiou o seu promotor nacional, o reconhecidíssimo comediante e especialista em produções de terror Álvaro Uribe - com quem assegurou ter passado recentemente “um momento muito lindo” -, e agradeceu aos governos da França, Espanha e Suíça pelo apoio recebido para alcançar o auge do sucesso. (Claro, ela não falou de Hugo Chávez nem de Piedad Córdoba, pois eles nunca aceitaram ser parte desta superprodução).

Novos Projetos

Seguramente o prêmio outorgado a Ingrid (acompanhado da nada desprezível soma de 50 mil euros) não só servirá para posicionar as produções norte-americanas na região. Também ajudará a saldar as numerosas despesas que o filme gerou e, sobretudo, promoverá a fatura de muitas outras obras desse clássico e fatal gênero.

Nós, desde Cinescrúpulos, apoiamos sem reserva a indicação desta obra ao Oscar, e seguramente serão premiados, além dos produtores e a atriz principal, o experimentado roteirista Francisco Santos e seu primo, o iracundo diretor Juan Manuel; os atores de repartição que renderam personagens inesquecíveis (repórteres e delegados da Cruz Vermelha Internacional) e, certamente, o talento de Rendon Group, inspirador e professor da Sétima Arte de Guerra.

Há, porém, um problema, pois será o povo colombiano que terá a última palavra. Aí, querida Ingrid, senhores produtores, não lhes asseguramos uma boa colheita de prêmios; será justamente o contrário. Mas tudo bem, antes disso desfrutem de sua gloríola que, apesar de efêmera, não deixa de render-lhes excelentes lucros. Certo?

O texto (em espanhol) encontra-se em ABP Notícias.

O guerreiro da Liberdade

por Iván Márquez
Integrante do Secretariado das FARC-EP

É um guerreiro da liberdade. Investe como kamikaze quando se trata de defender ao oprimido. Divide seu coração em mil pedaços fulgurantes de solidariedade para as causas justas; por isso atira as pedras da sua ira contra os tanques israelenses na Intifada palestina; é zapatista e é villista no bater de asas da esperança do povo mexicano, é escravo cimarrón no Haiti, saqueador negro mimetizado no uivar do Katrina, "fugitivo" no Equador pelo povo e por Correa, aymara e quéchua defendendo no grito, ferido, a sua conquista; bravo guerrilheiro de Manuel nas montanhas da Colômbia; sandinista, farabundista e morazanista sublevando o istmo centro-americano; mapuche e rodriguista no anseio austral de justiça e dignidade, miliciano da guerra assimétrica na Venezuela bolivariana de Chávez, defensor veemente de Velasco e de Torrijos e tupacamarista a morrer no Peru. Rebrilham no seu peito as estrelas de Martí, de Betances e de suas irmãs. E também é caamañista, endiabrado dançarino de jazz, rock e hip-hop.

Ele mesmo se define um lutador universal pela democracia verdadeira e o socialismo pleno. Narciso Isa Conde é seu nome, e seu quartel-general é a ilha de sonhos do Coronel de Abril, de onde dispara suas rajadas inflamadas, incandescentes como o sol o Caribe, contra o coração da opressão.

Álvaro Uribe, o presidente narcotraficante-paramilitar da Colômbia, quer matá-lo; o tem na mira ensangüentada dos seus sicários desalmados. Sofre ao vê-lo presidindo a Coordenadora Continental Bolivariana que, nos interstícios de sua organização do Movimento Continental, cria mais e mais espaços de encontro e coordenação de lutas - com Bolívar e os heróis nacionais da liberdade - pela Grande Pátria e o Socialismo nesta hora de crise abissal do sistema capitalista. Esta verdadeira reencarnação de McCarthy que preside o terrorismo de Estado na Colômbia, que entusiasmou-se com o apoio dos republicanos e pretende transnacionalizar a política fascista que flagela a Colômbia, decretou a pena de morte depois de não encontrar mais argumentos legais para extraditá-lo. Não lhe pede mais a prisão… e se acha o xerife das Américas! Isa Conde deve ter cuidado, e todos devemos cuidá-lo. Não esqueçamos que este regime é o mesmo que recolhe contingentes de jovens desempregados nas cidades para apresentá-los no dia seguinte como “falso positivo” - com uniformes e fuzis -, isto é, como guerrilheiros dados de baixa em combate.

Que o embaixador da Colômbia na República Dominicana, Juan José Cháux, era o mentor do assassinato com a permissão e/ou colaboração do general Aquino (ex -secretário das Forças Armadas dominicanas e atual chefe da Direção Nacional de Inteligência-DNI) e de certos enclaves policiais-militares da República Dominicana, a participação direta da inteligência colombiana, a CIA e o MOSSAD, é inquestionável. Juan José Cháux têm vínculos estreitos com o "Escritório de Envigado", de alguém conhecido como Dom Berna. Ele acompanhou os mafiosos narcotraficante-paramilitares desse "escritório" que se reuniram recentemente no Palácio de Nariño com delegados de Uribe para conspirar contra a Corte Suprema de Justiça. Esse senhor não é nenhum papagaio-de-rabiscos. É um paramilitar e saqueador violento de terras de camponeses e de indígenas no departamento do Cauca.

A Presença em Santo Domingo do atual comandante do Exército da Colômbia, general Mario Montoya, responsável pelo massacre de civis da Comuna 13 de Medellín, em coordenação com os paramilitares (aos quais ele fornecia fuzis às centenas, de acordo com testemunho do chefe paramilitar conhecido como "H.H"), é algo que não se deve desprezar. Só o ato de convidar o general Aquino a Bogotá e entregar-lhe, numa cerimônia de condecoração, o fuzil do comandante fariano Martín Caballero, abatido pelo exército recentemente nos Montes de Maria, é mais que eloqüente para evidenciar suas intenções criminosas.

O Presidente Leonel Fernández sabe que Isa Conde não é um guerrilheiro com fuzil nas mãos ao estilo de qualquer um de nós, ou de Che, para posar uniformizado e camuflado disparando simbolicamente sua inconformidade. As balas de Narciso são demolidoras e explosivas, sim, mas são disparadas por sua caneta e papel. Por isso elas têm a sonoridade do trovejar dos fuzis, como em toda batalha das idéias. Que paradoxo: demonizam os fuzis e demonizam as idéias! Por isso, o Presidente Fernández tem o dever de protegê-lo. Não é possível permitir que se criminalize o pensamento.

Acontece que Isa Conde é um escritor sem grilhões e sua palavra é global. Sobre sua cabeça ondeia, como chama, a bandeira da liberdade. Sua consciência de revolucionário universal não pode permanecer impassível diante da opressão do ser humano; por isso levanta sua voz mesmo à beira do maior dos precipícios. Um homem assim deve ser rodeado e escoltado por todos os legionários da solidariedade que existem no mundo.

O apóstolo "Narso" deve seguir divulgando seu luminoso Evangelho da Grande Pátria e Socialismo. Avante, Narso, pois há jugos a romper. As mesmas palavras são dirigidas a todos os perseguidos pela perfídia uribista.

Montanhas da Colômbia, 9 de outubro de 2008.

O original (em espanhol) encontra-se em ABP Notícias.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Carta das FARC aos colombianos apoidores da solução política para os problemas da guerra

"O pensamento é o primeiro e mais precioso dom da natureza.Nem mesmo a própria lei jamais poderá proibí-lo." Simon Bolívar

Carta enviada à redação da ANNCOL pela liderança das FARC:

Respeitados compatriotas,

É com alegria que recebemos sua carta de setembro convidando a explorar coletivamente os caminhos para a paz, longe da atual direção do governo que mantém uma guerra perpétua, persistindo na impossibilidade de uma solução militar para os problemas políticos, económicos e sociais subjacentes ao conflito sangrento que abala o país.

Saudamos o florescimento de uma corrente de opinião que se afasta do falso triunfalismo e dos parâmetros da solução belicista para os grandes problemas nacionais. Não duvidamos do sucesso de sua gestão, uma vez que coincide com o sentimento e o desejo de paz das maiorias.

Esta carta ja é o início do Intercâmbio Epistolar que nos propõem para discutir sobre a solução política do conflito, a troca humanitária e a paz. Participaremos de frente com o povo em um diálogo franco e aberto, sem dogmatismos, sem sectarismo, sem menosprezo sobre os temas que se sugere. É necessário que nos esforcemos para garantir a vinculação da maior quantidade possível de organizações políticas e sociais e indivíduos independentes.

Nós estamos dispostos a explorar possibilidades para o intercâmbio humanitário e da paz com justiça social e clamor que agora é a necessidade mais urgente e sentida em toda a nação, mantendo-se invariavelmente. A libertação unilateral de seis ex-congressistas, no passado recente, entregue ao presidente Hugo Chávez e a senadora Piedad Cordoba, procurou criar condições e ambientes propícios para a troca de prisioneiros detidos pelas partes beligerantes. Este fato é prova irrefutável de vontade política.

Muito respeitosamente sugerimos para reforçar este novo empreendimento, que levará em conta a aparente vontade da grande maioria dos presidentes latino-americanos os seus esforços para contribuir no processo de troca humanitária e pela paz.

A enorme bandeira da paz com justiça social tem de finalmente voar livre sob os céus da Colômbia. A eterna guerra contra o povo que nos querem impôr para perpetuar a injustiça não pode ser o destino de da Pátria.

Recebam nossos cordiais cumprimentos,

Compatriotas

Secretariado Central do Estado-Maior das FARC-EP

Montanhas da Colômbia, 16 de Outubro de 2008

Venezuela: Desafios da Revolução Bolivariana

por Miguel Urbano

Voltei à Venezuela neste Outono quatro anos depois de ali ter passado uma semana em Novembro de 2004.

Este regresso foi para mim uma permanente e tensa viagem através de uma cadeia de surpresas. Em tempos de revolução as mudanças são rápidas e quase sempre imprevisíveis.

Desta vez não saí de Caracas. Na capital, gigantesca megalopolis, hoje com 5 milhões de habitantes concentrados na área metropolitana, a contradição entre as áreas residenciais mais ricas e luxuosas da América Latina e as barriadas misérrimas que sobem pelos morros facilita ao forasteiro a compreensão da luta de classes mais explosiva do Hemisfério.

A Venezuela, fustigada pelo vendaval da revolução bolivariana, exibe o rosto de um laboratório social único no Continente. O rumo que a história seguir ali influenciará profundamente o futuro de centenas de milhões de latino-americanos.

CONQUISTAS DA REVOLUÇÃO

Num contexto desfavorável, hostilizada pelo imperialismo - autor intelectual do golpe de 2002 e do lock out petrolífero iniciado em Dezembro do mesmo ano - a Revolução Bolivariana realizou, sob uma ofensiva permanente da oligarquia crioula, conquistas que configuraram um desafio ao impossível aparente.

O analfabetismo foi praticamente erradicado. A assistência médica, antes privilégio da burguesia, passou a ser gratuita e extensiva à totalidade da população.

Num país onde antes o sector editorial era praticamente inexistente, o Estado, numa demonstração do interesse prioritário que atribui à batalha cultural, distribuiu gratuitamente desde o início do ano 27 milhões de livros de autores nacionais e estrangeiros. O total equivale à população do país. Um exemplo dessa explosão cultural foi a distribuição gratuita de um milhão de exemplares do D. Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes.

Novas universidades foram criadas e o número de estudantes no ensino superior excede hoje 2 milhões, dos quais mais de 1,5 milhão no pública. Antes, o acesso a universidade dos filhos de trabalhadores era mínimo. Presentemente, nas faculdades estatais os alunos das camadas não burguesas são maioria. Esses êxitos não teriam sido viáveis sem uma politica humanista e revolucionária na qual as Misiones, desempenham um papel decisivo . Por si só a Mision Mercal fornece a 10 milhões de pobres, a preços subsidiados, em 1.500 lojas do Estado, e postos de vendas móveis e mercados abertos , uma grande variedade de bens de consumo. A Mision Barrio Adentro, no campo da saúde, realiza um trabalho de valor inestimável. Mais de 20.000 médicos e enfermeiros cubanos levaram saúde a milhões de venezuelanos, numa epopeia de solidariedade internacionalista.

Iniciativa positiva e original foi a criação de empresas de produção social geridas pelos trabalhadores. Entraram já em funcionamento mais de 300 em regimes de propriedade estatal, mista ou colectiva.

O governo tem estimulado os Consejos Locales de Planificacion Publica e os Consejos Comunales, empenhados em promover a participação popular. Outras estruturas criadas pela Revolução, os Consejos de Trabajadores e os Consejos de Campesinos, têm realizado um trabalho importante na consciencialização de operários e camponeses.

Nesta visita passei uma manhã com outros convidados estrangeiros no Núcleo de Desarrollo Endógeno Fabrício Ojeda da Paróquia de Gramoven. Ali se concentram uma cooperativa que produz vestuário, sapatos, cerâmica, uma horta experimental, um mercado de vendas de alimentos subsidiados, um centro cultural, um centro de diagnóstico e uma clínica que é quase um pequeno hospital.

Tudo muito belo, mesmo comovedor. Sobre essa obra de amor e solidariedade falamos com os dirigentes comunitários durante o almoço em que partilhámos um sancocho, um dos mais típicos e saborosos pitéus nacionais.

Mas a Paroquia de Gramoven - a maior de Caracas - tem quase o dobro da população de Lisboa e os membro do Núcleo são somente 8.000. Cito esses números porque iluminam as dificuldades ciclópicas que as forças revolucionarias enfrentam no seu esforço para transformar a vida na Venezuela.

NO PARAISO DOS MILIONARIOS

O controle exercido pela grande burguesia sobre a grande maioria dos meios de comunicação social tem contribuído para projectar no mundo a imagem de uma sociedade na qual a antiga classe dominante teria perdido grande parte do seu poder económico.

Ora essa imagem falseia a realidade.

Não há na América Latina outro pais onde o abismo entre os de cima e os de baixo seja tão profundo. Em Caracas o contraste é particularmente chocante. Nem no México, nem no Rio, sequer nas barriadas de Lima vi favelas tão misérrimas como as que na capital venezuelana sobem pelos morros que a emolduram, oferecendo um espectáculo de degradação humana confrangedor. Somente em squaters de Joanesburgo e em musseques de Luanda encontrei algo comparável.

No outro extremo da pirâmide social, a exibição insolente de riqueza também supera o que conheço. Os bairros da grande burguesia e sobretudo as suas urbanizações de luxo, concentradas em condomínios fechados, são autênticos bunkers residenciais.

Estive no Country Club, paraíso de multimilionários, onde mansões sumptuosas se erguem em jardins belíssimos, alguns com quase um hectare. Faltou-me tempo para ir ate ao outro Country Club, o de Lagunita, mas disseram-me que ali vive hoje a nata da plutocracia venezuelana. Segundo apurei, o aparecimento de caserios de pobres nas proximidades daquele que atravessei em rápida visita levou à fuga de muitas famílias que venderam as suas residências a embaixadas e empresas transnacionais. Mudaram-se incomodadas pela vizinhança. Muitos moradores dos Country Clubs de Caracas têm, aliás, palacetes em Miami e casas solarengas nas praias ,nas montanhas e em haciendas de recreio.

Aproveitei a oportunidade para visitar a Plaza de Francia, no bairro de Altamira. O lugar não impressiona. É um amplo espaço entre prédios de apartamentos semelhantes aos da classe média de qualquer país latino-americano. O que o celebrizou foram os comícios provocatórios promovidos na praça pela oposição a Chávez, sobretudo após o golpe do ano 2002. O chamariz eram militares na reserva que tinham participado no putsh.

Na manhã em que ali estive nada recordava o passado recente. Famílias pacatas passeavam com os filhos, gozando o lazer do domingo.

O DISCURSO DO PRESIDENTE

De 13 a 18 de Outubro realizou-se em Caracas o VIII Encontro de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade, iniciativa em que participaram quase duas centenas de intelectuais da América, Europa, Africa e Ásia, vindos de 65 paises.

O Presidente Hugo Chávez aproveitou o acontecimento para pronunciar um importante discurso.

Falou durante uma hora e respondeu depois a perguntas dos participantes durante quase três horas. Foi aplaudido com entusiasmo pela esmagadora maioria das centenas de pessoas concentradas no grande salão do Hotel Alba.Chávez é um extraordinário orador que sabe cativar audiências muito diferentes.

A sua trajectória desde o levante militar contra o Governo corrupto de Carlos Andrés Perez (que o levou a prisão) até hoje ilumina com clareza meridiana a importância que o factor subjectivo exerce por vezes na construção da História. A Revolução Bolivariana não seria uma realidade sem a intervenção de Chávez, sem a ligação que mantém com a classe trabalhadora e a massa dos excluídos, sem a confiança que nele depositou o corpo de oficiais do Exército. O seu prestigio e carisma desempenharam e desempenham um papel fundamental no processo, pesando decisivamente na correlação de forças .

Terá ido muito mais longe do que esperava inicialmente quando criou o heterogéneo movimento V Republica e se candidatou à Presidência da Republica para a conquistar. O soldado católico rebelado contra um regime oligárquico, faminto de justiça social, tomou Bolívar como fonte de inspiração para um projecto de transformação da sociedade venezuelana.

A luta de classes desencadeada empurrou-o para a frente. Dele se pode dizer que caminhou com a história. A partir de 2004 o projecto inicial ganhou ambição. Ao afirmar que a meta a atingir seria a construção do socialismo o confronto com o imperialismo aprofundou-se, adquiriu contornos dramáticos que se manifestam na atmosfera de tensão que envolve o quotidiano do país. É sincero na sua opção pelo socialismo.

A Venezuela bolivariana emerge hoje como pólo das lutas anti-imperialistas na América Latina. O seu desafio teve repercussão continental. É improvável que Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador e o bispo Lugo no Paraguai tivessem sido eleitos sem o exemplo da resistência e da ambição transformadora de Chávez, se ele não houvesse estimulado povos irmãos a rejeitar as receitas neoliberais impostas por Washington, reivindicando o direito a serem o sujeito da construção do seu futuro. Simultaneamente a cumplicidade com o sistema de poder dos EUA de governos como o de Lula e dos Kirchner seria maior se o desafio de Chávez ao imperialismo não funcionasse como travão a politicas de vassalagem.

Mas as grandes conquistas da Venezuela Bolivariana não devem ser encaradas como alavanca mágica capaz de rapidamente encaminhar o pais para o socialismo. A construção do socialismo é um processo molecular, extremamente complexo e lento.

Lenin foi muito claro ao afirmar após a vitória da Revolução de Outubro que a conquista do poder e a destruição da velha ordem fora uma tarefa infinitamente mais fácil do que seria a exigida pela transição do capitalismo para o socialismo. E a história confirmou a lucidez dessa opinião.

Chávez, após a vitoria alcançada no referendo revogatório, tomou consciência de que o processo de transformação radical da sociedade não poderia avançar sem o instrumento politico capaz de mobilizar o potencial revolucionário das massas, colocando-o a serviço do projecto bolivariano. Por outras palavras, compreendeu que era indispensável criar a organização revolucionária de novo tipo. Mas o seu voluntarismo levou-o a cometer um erro. Um partido com essas características não pode ser criado por decreto. E Chávez procedeu apressadamente. O numero de filiados no Partido Socialista Unido da Venezuela – PSUV – excedeu as previsões mais optimistas. As adesões foram torrenciais. O Presidente, preocupado com o calendário, não aprofundou o debate com as forças revolucionarias mais consequentes. E o resultado foi mau.

A fundação do PSUV coincidiu com o auge da campanha sobre o chamado Socialismo do Século XXI, a alternativa ao capitalismo neoliberal. Estaria já a tomar forma na Venezuela e daí irradiaria para o mundo.

Que propunham como alternativa? Nada.

A fórmula do Socialismo no Século XXI é equívoca e enganadora. Lembra um balão vazio. O núcleo teórico e programático não existe praticamente. O mal está no ataque irresponsável aos clássicos do marxismo, desencadeado sobretudo por alguns intelectuais latino-americanos. Para eles o pensamento de Marx, Engels e Lenine, toda a obra teórica sobre o socialismo cientifico tornou-se uma velharia cuja superação se apresentaria como exigência da História.

Num contexto de grande confusão, caracterizado pela ausência de um debate sério, milhares de quadros da direita tradicional inscreveram-se no PSUV e, mascarados de revolucionários, atacaram com entusiasmo o marxismo.

O Partido Comunista da Venezuela, fiel aos seus princípios, decidiu que não podia dissolver-se e aconselhar aos seus militantes o ingresso num Partido que negava valor e significado à ideologia que lhe justifica a existência e o combate. O Pátria para Todos tomou uma decisão similar. Mas ambos resolveram manter o seu firme apoio ao processo revolucionário e ao Presidente.

O sistema mediático venezuelano, hegemonizado por uma direita fanática, ferozmente anti-Chávez, aproveitou a situação criada para apresentar uma versão distorcida da realidade, intrigando e difundindo boatos e noticias falsas. Chávez, entretanto, cometeu outro erro ao tentar impor um projecto de reforma da Constituição que não obtinha o consenso da maioria do eleitorado progressista. A abstenção no referendo promovido foi maciça e o projecto não passou.

Em Caracas concluí que alguns intelectuais que respeito, cativados pela moda do Socialismo do Século XXI, têm agido de boa fé. Outros estabelecem a confusão para chamar a atenção em exibições de vaidade. Até invocam Mariategui e Gramsci para lhes negar com leviandade o pensamento.

Desconhecem o marxismo aqueles que o apresentam como uma ideologia dogmática e imobilista quando a teoria de Marx é precisamente o contrário.

A atualidade da obra de Marx é tão transparente neste limiar do Século XXI, quando o capitalismo senil se atola numa crise pantanosa, que até um ex comunista, o famoso historiador britânico, Eric Hobsbawm, acaba de reconhecer numa entrevista à revista web argentina Sin Permiso (odiario.info, 21.10.2008) que as análises do autor de O Capital e a sua teoria económica não perderam actualidade, sendo uma fonte de valiosos ensinamentos.

Essa evidência transparece na Europa em importantes trabalhos de intelectuais com a envergadura dos franceses Georges Labica e Georges Gastaud, do húngaro Istvan Meszaros e do italiano Domenico Losurdo.

Os apologistas do fantasmático Socialismo do Século XXI confundem num labirinto ideológico a teoria marxista, dinâmica e criadora, com o malogro de experiências de construção do socialismo. O fim da União Soviética (desastroso para a humanidade), os erros ali cometidos na transição do capitalismo para o socialismo e posteriormente, e o desmoronamento dos regimes ditos socialistas do Leste Europeu não põem em causa a validez do marxismo. Afirmar o contrário é um enorme disparate.

A alegre algazarra dos media venezuelanos quando Chávez, em Valera (Trujillo), criticou o PCV e o PPT por apoiarem um candidato diferente do apresentado pelo PSUV é compreensível.

O Presidente, sempre emotivo, utilizou então palavras ofensivas que foram imediatamente utilizadas pelos dirigentes da direita.

Cabe esclarecer que o Partido Comunista e o PPT somente apoiam para o governo daquele Estado, nas eleições de 23 de Novembro, outro candidato por identificarem no lançado pelo PSUV um politico corrupto e reaccionário. Nos 22 Estados do país somente não apoiam os candidatos do PSUV em seis, por entenderem que as personalidades apresentadas por aquele partido não merecem um mínimo de confiança.

O ENCONTRO EM DEFESA DA HUMANIDADE

Participei na capital venezuelana no VIII Encontro de Intelectuais em Defesa da Humanidade.

A Declaração de Caracas, que publicamos, aprovada no final por unanimidade, é um documento positivo.

O evento, nesta oitava sessão, foi, na minha opinião, prejudicado pela realização simultânea da Assembleia Geral do Foro Mundial de Alternativas, dirigido por Samir Amin e François Houtart.

Ambos foram, com a cooperação do Ministério do Poder Popular e da Cultura da Venezuela, os principais organizadores Encontro. Não terá sido uma decisão feliz o entrosamento das iniciativas.

O próprio tema central – Transições para o Socialismo – que figurou na capa do Programa reflectiu uma opção polémica que influenciou o rumo dos debates.

Falou-se amplamente da Transição para o Socialismo na América Latina, na Ásia, na Europa e até na Africa. Fácil é imaginar a diversidade de interpretações, algumas incompatíveis, dadas ao conceito de transição. E a confusão daí resultante.

A TRANSIÇAO – O PRESENTE E A META

O Socialismo do Século XXI foi nestes dias de Outubro tema de diálogo permanente entre intelectuais dos quatro continentes reunidos em Caracas. Para isso terá contribuído muito a conhecida posição de Hugo Chávez sobre o assunto. Venezuela estaria segundo o Presidente em fase de transição para o socialismo. No seu discurso do dia 16 , dirigido aos convidados estrangeiros, afirmou que Evo Morales está a construir o socialismo na Bolívia.

De um europeu ouvi que o Paraguai avança para o socialismo. Outro disse-me que o Equador também caminha para o socialismo.

Hugo Chávez tem contribuído para a confusão que prevalece no debate ideológico num momento em que a crise do sistema de poder imperial exige das forças progressistas lucidez e serenidade. Em vez de o combater, acentua no discurso político o seu pendor populista, enraizado na tradição do caudilhismo latino-americano.

Exceptuada a mudança, negativa, das relações com o governo neofascista de Uribe e os elogios a governantes liberais europeus como Sarkozy e Sócrates, a politica externa da Venezuela tem sido muito positiva, sobretudo pela firmeza e coragem que caracterizam a confrontação com o imperialismo estadounidense. No relacionamento com a América Latina, a estratégia de Chávez, inspirada no pensamento de Bolívar, visa ao reforço da solidariedade entre os povos irmãos a Sul do Rio Bravo. A Alternativa Bolivariana para as Américas -ALBA - é uma resposta ao projecto neocolonialista da ALCA. A Petrocaribe, o Banco del Sur e a criação da UNASUR surgiram como marcos importantes no desenvolvimento dessa estratégia anti-imperialista.

Não é exagero afirmar que a politica externa de Chávez é, além de anti-imperialista, inspirada por uma clara opção internacionalista.

No plano interno, a contradição entre o discurso e a prática não favorece a imagem do Presidente.

Não obstante a ofensiva contra revolucionária da oposição, a situação económica do país tem melhorado muito. A taxa de inflação continua a cair e o crescimento do PIB, beneficiado pelo alto preço do petróleo, é dos mais elevados do mundo. As reservas oficiais mais do que duplicaram entre 1998 e 2006, atingindo nesse ano os 37,4 mil milhões de dólares.

A insistência em apresentar a Venezuela como um pais em transição para o socialismo falseia, entretanto, a realidade.

As estruturas e funções do Estado venezuelano não foram profundamente alteradas nos últimos anos. Conforme os economistas Remy Herrera e Paulo Nakatani sublinham num importante ensaio, «poderosos grupos de funcionários e técnicos, com os seus valores ideológicos e comportamentos individualistas e métodos de gestão, conservam o controle de decisões e actividades administrativas-chave, o que dificulta extraordinariamente a implantação de medidas alternativas da revolução» (odiario.info,26.04.2008).

O aparelho de Estado permanece capitalista. O sistema fiscal continua a beneficiar a grande burguesia. O Banco Central é autónomo e a sua actuação global deixa transparecer a subordinação à finança mundial. A saída ilegal de capitais atinge um volume impressionante e o florescimento do mercado negro estimula o açambarcamento e a escassez de bens de consumo essenciais.

O salário mínimo é o mais elevado da América Latina (correspondente a uns 320 euros) mas como o custo de vida é altíssimo não satisfaz as necessidades básicas dos trabalhadores que o recebem.

A comercialização das importações, segundo estatísticas do Banco Central, é controlada numa percentagem de 87% pelo sector privado.

Para agravar uma perigosa situação de dependência, a Venezuela continua a importar quatro quintos dos produtos alimentares que consome.

Na prática o Estado somente controla o petróleo, o aço e as comunicações (mas não o sistema mediático).

Falar, portanto, de transição para o socialismo num contexto em que o modo de produção e as relações de produção não deixaram de ser capitalistas é uma inverdade e uma fonte de ilusões.

---///---

Regresso deste breve reencontro com a Venezuela bolivariana com a convicção reforçada de que mais do que nunca as forças progressistas – nomeadamente os comunistas - têm o dever internacionalista de manter e ampliar a sua solidariedade com o processo revolucionário ali em desenvolvimento. Nele desempenha um papel fulcral o Presidente Hugo Chávez. Repito: sem a sua presença activa como líder da Revolução esta dificilmente poderia prosseguir.

Mas a constatação dessa evidência não implica a renúncia a uma atitude de critica serena a posições assumidas por Chávez.

Os epígonos que aplaudem acriticamente cada decisão, cada discurso, quase cada palavra do Presidente não se comportam como revolucionários.

Miguel Urbano Rodrigues

Serpa, 23 de Outubro de 2008

A crise mundial

Por Pedro Rodríguez Rojas / Venezuela


Tão ingênuo quanto pensar que a crise da economia mundial será a definitiva, que apagará do planeta o capitalismo, é pensar que ela será algo passageiro e de pouca importância. A atual crise do capitalismo só pode ser apenas medida pelas quebras de algumas instituições bancárias e a inestabilidade severa do sistema financeiro, deve-se ver estas como o efeito definitório de uma crise de longo prazo e de velha data.

Devemos sempre lembrar quando, após a queda definitiva da União Soviética, muitos celebraram um suposto triunfo do capitalismo sobre o socialismo. Como já foi amplamente explicado, em alguns de nossos artigos, primeiro, o que aconteceu na União Soviética não pode ser considerado socialismo e, tampouco, houve tal triunfo do capitalismo. O modelo soviético caiu por si só, por suas graves contradições e deficiências.

O que é certo é que a crise do socialismo veio junto à própria crise do sistema capitalista, que já era notória desde os anos 80. Enquanto se produzia a derrubada soviética, o capitalismo mundial transcorre, por sua vez, em uma profunda crise, fundamentalmente na economia norte-americana. Os Estados Unidos consolidaram-se como o maior devedor do mundo (4 trilhões de dólares), um déficit fiscal de cerca de 500 bilhões de dólares e um déficit comercial de uns 150 bilhões de dólares. Toro Hardy (1993) afirma o seguinte:

“Após 1991, os soviéticos, submetidos à mais grave crise da história, chegaram ao colapso, tampouco os norte-americanos atravessavam seu melhor momento. Uma angustiosa crise econômica era sentida também. A quebra da Panam, os investimentos perdidos pela General Motors e o sumiço de 150 mil postos de trabalho por alguns gigantes da economia estadunidense, IBM, Xerox e a própria Genaral Motors, constituíam um dos aspectos mais evidentes dessa situação. De fato, os Estados Unidos encontravam-se em sua pior recessão desde a célebre depressão dos anos trinta”. (El Globo 05/07/93). O que poderia ser ainda pior para a economia norte-americana é o debilitamento de seu papel no comércio internacional a partir da competência da Europa e da Ásia e, mais ainda, pelo aumento dos juros estrangeiros, a medida em que a economia estadunidense vem crescendo de maneira mais violenta que os juros norte-americanos no exterior.

A crise econômica atual possui várias vertentes. Primeiro, há uma crise econômica na América do Norte de produtividade e competitividade frente aos mercados asiáticos. Segundo, é uma economia claramente especulativa, em que a relação da massa monetária pouco tem a ver com a produção real de bens, este efeito é, quem sabe, o mais notório da crise, mas, a nosso modo de ver, não é o mais grave. Terceiro, há uma crise energética, o alto consumo de energia não se equipara com os níveis de reserva e de produção de energéticos, ainda mais quando sabemos que a maioria desses reservatórios encontram-se em países do terceiro mundo, Oriente Médio e Venezuela. Quarto, desde o ano passado também é evidente a crise alimentar, tal como o demonstra os informes anuais da FAO, onde se evidencia que um terço do planeta possui problemas sérios de abastecimento de alimentos e é uma crise que tende a generalizar-se, tendo uma de suas principais é exatamente a busca, por parte dos Estados Unidos, pela produção de bio-combustível através da produção de cereais e, portanto, a diminuição da produção alimentar.

Como temos visto a atual crise financeira deixou em bancarrota instituições bancárias, de serviço e hipotecárias e pior, deixou sem casas e sem trabalho muitos norte-americanos, alguns dos quais chegaram ao extremo de perder a vida. E basta que se perca uma vida para que essa crise seja considerada uma crise grave. Os críticos sérios do capitalismo e nós que aspiramos por sua substituição estamos conscientes de que este não é o fim do modelo e que, embora alguns países do terceiro mundo, especialmente na América Latina, venham desenvolvendo modelos alternativos, seria ingenuidade nossa pensar que o modelo capitalista será substituído a nível planetário. A mudança de sistema só ocorrerá quando existirem organizações maduras politicamente o suficiente para que permitam aos atores sociais transformar esta sociedade.

O que é certo é que esta crise deve representar o fim da etapa neoliberalista do capitalismo. O neoliberalismo triunfante dos anos 80 já havia manifestado suas debilidades e contradições na década de 90. Esta crise mundial, que colocou os estados nacionais dos países desenvolvidos a intervir diretamente e planificar os novos programas econômicos, é uma demonstração de que o livre mercado, por si só, leva a crises permanentes. Hoje vemos como o governo norte-americano nacionaliza empresas, oferece créditos bilionários para salvar companhias, mas não para enfrentar o problema dos que ficaram sem trabalho e estão nas ruas. Como sempre, o capitalismo socializa as perdas e privatiza os lucros. Seria bom ouvir os que, em nosso país, criticaram as nacionalizações que foram feitas de empresas básicas e estratégicas e sem a qual a crise seria mais severa em nosso país.

Enquanto os efeitos desta crise sobre a região ainda não são claros, ainda é cedo para estes cálculos, mas, como sempre, nos afetará, pela simples razão de que formamos parte de um sistema econômico mundial, mas a crise será ainda pior para os países que são mais dependentes da economia internacional. Como disse no início, seria ingênuo pensar que países como o nosso, que dependem da exportação do petróleo por sermos deficientes na produção interna, não vamos sofrer as conseqüências, mas, caso nossas economias, nossos bancos centrais, nossas reservas internacionais, estivessem atadas a políticas emanadas dos organismos internacionais, os danos seriam ainda maiores.

Assim como no seio dos países desenvolvidos os lucros são de uns poucos e as crises são para todos, na escala planetária os países desenvolvidos e suas empresas buscaram as formas de evitar um pouco suas crises internas com os recursos provenientes do terceiro mundo, é lá onde fará falta governos que defendam a autonomia e soberania frente a estas intenções. Porque, enquanto os países desenvolvidos não acreditam há muito tempo no livre mercado muito menos na debilidade dos estados nacionais, pelo contrário, aumentaram e incrementaram a participação e a decisão pública da economia, ainda assim, os organismos internacionais seguem dando ordens aos países subdesenvolvidos para que sigam o manual do neoliberalismo como a salvação para saírem da crise.

É uma pena que a integração Latino Americana ainda não tenha sido bem sucedida a ponto de fazer frente a esta crise com certa autonomia. É uma pena que o Banco do Sul não esteja em pleno desenvolvimento, hoje os mesmos mandatários que se negaram a apoiar esta iniciativa estão lamentando. Esperemos que esta crise para a América Latina seja um impulso para integração Latino-americana mas sob novos modelos de desenvolvimento, opostos ao neoliberalismo, com um sentido mais autônomo e humano, caso contrário a crise levará consigo as economias e a população toda e seguiremos atados à dependência em que nos coloca o modelo capitalista mundial.

Mas, para os que ainda acreditam que esta crise financeira, energética e agro-alimentar é algo passageiro, nós respondemos que o mais grave da crise do capitalismo mundial não está na economia, mas no ecológico e no ético. Já não há a menor dúvida de que o modelo de produção capitalista está esgotando de forma exponencial a capacidade do planeta, esta crise não é reversível e só poderá ser amenizada diminuindo o ritmo de produção e de consumo mundial. Esta não é a queda da bolsa, ou de alguns bancos e instituições hipotecárias, não são os mesmos pobres que sempre morreram de fome por falta de alimentos, não, desta vez o mundo todo vê a sua existência ameaçada e isto que pode parecer “escandaloso” não é a invenção de “comunistas inveterados” que vêem crises no capitalismo por todos os lados, mas é uma verdade comprovada pelos maiores cientistas a serviço do modelo capitalista.

A outra crise é a ética, há quem afirme, como Emeterio Gómez, que com esta crise o capitalismo não chegará ao seu fim, pelo contrário, renascerá com uma nova cara, com um elemento novo com o qual nunca contou em seus cinco séculos de existência: A Ética. O capitalismo, por sua própria natureza, é a busca pelo lucro e o enriquecimento, não importa os mecanismos que se utilizem para isso. Basta ler desde Adam Smith, passando por Stuart Mill, Sismondi, Muller, F. List, até chegar a Eucken, Mises, Hayek Hayej, Friedman, entre outros, para evidenciar como, para os grandes teóricos, alguns deles merecedores de prêmios Nobel, o capitalismo é um problema de ordem técnica e não moral, não importa o egoísmo, a competência danosa, a colonização, o extermínio de populações inteiras, produzir guerras e gerá-las de forma artificial para controlar a produção de matéria prima, não importa para eles lançar às ruas trabalhadores se a empresa não consegue um certo grau de lucro, não lhes importa botar alimentos para que os preços caiam, enquanto um terço do mundo passa fome, a eles não importa assinar e assumir os acordos humanitários ou de diminuição de emissão dos gases tóxicos, ou a luta contra a droga ou o racismo quando são suas maiores causas.

Por isso, frente à afirmação de que é imprescindível até que ponto esta crise financeira afetará o capitalismo, não tenho a menor dúvida em afirmar que a ameaça maior não sobre o capitalismo, mas sobre o planeta, a humanidade, a vida toda, encontra-se na crise ambiental e ética.
O artigo (em espanhol) encontra-se em ABP Notícias.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Futuro já!

por Rodrigo Granda/Marco León Calarcá/FARC EP


A crise que afeta o capitalismo segue desencadeando-se no chamado primeiro mundo e derrubando as fictícias economias apesar das desesperadas e inúteis medidas econômicas para detê-la. Como sempre, os donos do capital lutam para empurrar a carga mais onerosa aos mais pobres.

No âmbito internacional, particularmente em Nossa América e no terceiro mundo, apesar de existirem vários países considerados “inviáveis” (invenção recente dos teóricos do capital), como o povo haitiano, descendente e herdeiro de Petion, que tanto ajudou em nossa primeira independência com a solidariedade moral, material e oportuna ao Libertador, dívida histórica impagável, sem ser este motivo para esquecê-la e não retribuí-la em nossos dias.

No âmbito nacional as oligarquias crioulas descarregam o peso da crise nos ombros de João Povo, tradicional pagador dos desmandos e irracionalidades do sistema.

A experiência acumulada e construída através da resistência em Nossa América, onde vários governos representam, na atualidade, os interesses populares, em processos diferentes, mas com grandes semelhanças e nos outros países as maiorias lutam de todas as formas possíveis por mudanças que tragam a democracia verdadeira, soberania e justiça social.

Esta realidade permite planejarmos encarar a crise de maneira coordenada para, de uma vez por todas, ajustar as contas com os poderosos de sempre e tomar a condução de nossos destinos na direção e pelos caminhos empreendidos e indicados pelos heróis. O objetivo é terminar a tarefa que foi iniciada por eles.

A conjuntura é favorável para avançar na luta contra o principal e mais poderoso inimigo dos povos, o imperialismo estadunidense, inclusive com a possibilidade concreta de enterrá-lo definitivamente e minimizar os danos que em sua queda possa causar. É chegado o momento de arrefecer o combate, concretizar a mais ampla unidade popular, dinamizar as organizações políticas e sociais, sustentar os processos democratizadores e revolucionários radicalizando-os.

Pátria Grande e socialismo é a bandeira da redenção, mantida no alto pelas limpas mãos dos trabalhadores, camponeses, estudantes, desempregados; homens e mulheres; indígenas, negros, e mestiços de mestiços. Nossa América constituída em uma verdadeira e inédita república de nações, escudo de soberania e desenvolvimento; organizada para proporcionar “a maior soma de felicidade possível” aos povos, buscando a igualdade e a justiça social na democracia verdadeira.

O futuro é nosso, devemos construí-lo a partir da realidade presente tão favorável aos interesses dos despossuídos. E não é um futuro distante, é o próximo, é o de agora, é o de amanhã, é o de já!

O original encontra-se em ABP Notícias.

Os trabalhadores em luta

Mais de 500 mil trabalhadores compareceram à convocatória da CUT.

ANNCOL

Segundo informações de nossos repórteres na Colômbia, pelo menos 500 mil trabalhadores estatais participaram nesses momentos da Greve Nacional de 24 horas, convocado pela Central Única dos Trabalhadores – CUT. Na cidade capital, Bogotá, os trabalhadores participarão também em uma marcha que terminará na Plaza de Bolívar, com uma concentração.

O presidente da CUT, companheiro Tarcisio Mora, informou que a greve acontece em exigência pelas garantias sindicais, pelo aumento geral de salários, conflitos trabalhistas como no caso dos cortadores de cana no Valle del Cauca e em repúdio aos decretos da Comoção Interior e o Tratado de Livre Comércio, TLC.

Além disso, a Fecode informou aos colombianos que seus 280 mil educadores afiliados começaram uma paralização geral.

De outra parte, os trabalhadores de Ecopetrol, do Bem-Estar Familiar, do Sena, as Universidades do setor oficial, a Aeronáutica Civil, Notariado e Registro da Controladoria, a DIAN, entre outros, pararam as atividades.

Em Cali estão chegando do mundo todo personalidades internacionais para acompanhar aos indígenas do Cauca em suas atividades e marchas. Entre estas personalidades estariam o Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, e foi anunciada a presença do juiz Garzón, da Espanha e o presidente da Bolívia, Evo Morales.

Já viemos anunciando na Anncol: água mole e pedra dura, tanto bate até que fura. Por parte do governo, começam a rolar as cabeças pela perseguião dos líderes da oposição política do PDA e já se vê nervosismo na Casa de Nariño. Uribhitler viu-se obrigado a reconhecer que a Polícia disparou contra os manifestantes indígenas no Cauca, causando a morte de vários deles e a acusação de uma suposta infiltração da guerrilha das FARC nas mobilizações indígenas, de cortadores de cana, de trabalhadores estatais, não passa de uma nova cortina de fumaça lançada pelo regime narco-paramilitar de Uribhitler.

Perguntamos: O que tem Uribhitler? O que teme sua “equipe de governo”? Quando vão renunciar?


Porque nosso povo já venceu o terror que o Terrorismo de Estado semeou durante décadas. Nosso povo já está achando a sintonia necessária para que suas reivindicações amplamente buscadas sejam satisfeitas. Se nos matarem, estaremos vestindo as botas da luta. Os que caírem transformarão nosso país para a felicidade do povo. À luta! Às ruas! Luta de Massas! Resistência de Massas!

E nada de aventuras!

O Original encontra-se em Anncol.eu.