"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 27 de dezembro de 2008

O que fará Obama em relação às últimas diretrizes do pentágono

A diretriz do pentágono coloca no mesmo nível a guerra de guerrilhas e uma guerra convencional, dando aos Estados Unidos asas para mais invasões à outros países. Preparem-se colombianos...

ANNCOL

O colunista do diário El Espectador, Alvaro Camacho Guizado, num artigo entitulado El Pentágono y el Maquiavelo criollo , nos tráz as últimas diretrizes do Pentágono norte-americano, extraídas de um artigo da AFP. A diretriz foi firmada em 1º de dezembro de 2008 e coloca no mesmo nível a guerra de guerrilhas, o 'terrorismo' e a guerra tradicional.

Com esta diretriz o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, é levado contra as cordas e se lhe lança uma corda da qual será muito difícil soltar-se. Pelo que se tem visto até agora, Obama tem se acercado dos mesmos dirigentes que tem dirigido a USAmérica nos últimos anos e a tem levado ao mais estrondoso fracasso. Se a solução da crise financeira é a mesma receita de Bush, guerra e mais guerra, o mais provavel é que os Estados Unidos entre em colapso porquanto a crise econômica e política a qual atravessa é praticamente irreversivel. E se cumpriria a tendência a que alguns investigadores chamam de 'declive dos impérios'.

O artígo mencionado é "Pentagon raises status of 'irregular warfare ', da AFP, do qual trazemos sua tradução para o português e o link para acessar em inglês.


"Pentágono apresenta o estatuto de "guerra irregular" AFP /

WASHINGTON (AFP) - O Pentágono emitiu uma diretriz de colocar a luta contra o terrorismo e a guerra de guerrilhas nas mesmas condições que a guerra tradicional no que tange à planificação militar e à doutrina. Os funcionários disseram na quinta-feira:


A diretriz foi firmada 1º de dezembro pelo deputado secretário de Defesa Gordon England, o qual esboçou as funções e responsabilidades para o desenvolvimento de capacidades para a luta contra ameaças não convencionais.


"É política do Departamento de Defesa reconhecer que a IW (guerra irregular) é tão estrategicamente importante quanto a guerra tradicional", disse a diretriz.


Em virtude da Diretriz, a guerra irregular se define como a que abarca as operações de luta contra o terrorismo, a guerra de guerrilhas, a defesa interna extrangeira, contra-insurgência e operações de estabilidade.

Fica à cargo do Departamento de Defesa desenvolver capacidades para:

- Identificar e prevenir, ou derrotar, ameaças irregulares de estado e os atores não estatais

- Ampliar a ação em zonas e entornos incertos onde os E.U.A. tem se negado em chegar, operando através dos indígenas e de forças extrangeiras

- Formar, assessorar e ajudar às forças de segurança extrangeiras e sócios

- Apoio a um governo extrangeiro ou de população ameaçada por adversários irregulares

- Criar um meio ambiente seguro nos Estados frágeis.

Os funcionários do Pentágono reconheceram o desempenho militar dos E.U.A. nestas missões no Afeganistão e no Iraque durante anos, mas dizem que a Diretriz da uma estrutura burocrática formal para esses esforços.

"Isto codifica as funções e responsabilidades", disse Bryan Whitman, um portavoz do Pentágono.

Em julho, a diretriz dá início a uma estratégia de defesa dos E.U.A. para lugares em que há "guerra aberta" contra o extremismo e, ainda por cima, incrementa seu potencial convencional para os desafios representados por China e Rússia.

“O documento de estratégia da defesa diz que "num futuro previsivel, ganhar a guerra aberta contra os movimentos extremistas violentos será o objetivo central dos E.U.A."

Que julguem nossos leitores e chegarão à mesma conclusão que nós. De que, se for assim, o futuro não é nada encantador e haverá que se preparar para lutar contra o pior: Uma invasão direta dos Estados Unidos.


http://anncol.eu/index.php?option=com_content&task=view&id=1635&Itemid=9

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia

Convidamos a todos os colombianos que anseiam uma pátria soberana, em desenvolvimento e em paz, a trabalhar pela formação de um novo governo nacional, patriótico, democrático, bolivariano, rumo ao socialismo, que se comprometa ao seguinte:

1 Solução política para o grave conflito social que o país vive.

2 A doutrina militar e de Defesa Nacional será BOLIVARIANA. Em cumprimento ao mandato do libertador, os militares empregarão sua espada em defesa das garantias sociais. As novas Forças Armadas se distinguirão por seu amor ao povo e o ódio à tirania. Serão garantia da soberania nacional, respeitosos aos direitos humanos e terão um tamanho e um orçamento de acordo com um país que não está em guerra com seus vizinhos.

A Polícia Nacional dependerá do Ministério do Interior e justiça, re-estruturada para que cumpra sua função preventiva; moralizada e educada no respeito aos direitos humanos.

3 Participação democrática nacional, regional e municipal nas decisões que comprometam o futuro da sociedade. O povo se eleva como soberano e, como tal, elege diretamente o Presidente, os membros do legislativo unitário, os titulares do poder moral (Procuradoria, Defensoria e Controladoria) e ao titular do poder eleitoral. Serão instituídos os poderes moral e eleitoral. Todas as instâncias de eleição popular poderão ser objeto de revogação do mandato. A Corte Suprema de Justiça, a Corte Constitucional, o Conselho de Estado e o Conselho Nacional do Judiciário serão eleitos por voto direto de todos os juízes e Magistrados do país, para a democratização do sistema judicial. Será suprimido o sistema penal acusatório.

4 Se acabarão a corrupção e a impunidade. Os que tiverem tal conduta receberão castigo exemplar. O novo governo ressarcirá a dignidade dos milhões de deslocados, desaparecidos, assassinados e de todas as vítimas do Terrorismo de Estado.

5 Haverá liberdade de imprensa e democratização dos meios de comunicação de massa. Em todo caso, será priorizado o interesse social.

6 Repúdio à política neoliberal. Desenvolvimento e modernização econômica com justiça social. O Estado deve ser o principal proprietário e administrador dos setores estratégicos: o energético, as comunicações, os serviços públicos, estradas, portos e recursos naturais em benefício do desenvolvimento econômico-social equilibrado do país e das regiões.

Será buscada a ampliação do mercado interno, a auto-suficiência alimentar e o estímulo permanente à PRODUÇÃO, a pequena, média e grande indústria, a auto-gestão, a micro-empresa e a economia solidária.

A gestão econômica oficial deve se caracterizar por sua eficiência, sua ética, sua produtividade e sua alta qualidade. Haverá participação dos grêmios, as organizações sindicais, populares, entes acadêmicos e científicos na elaboração das decisões sobre a política econômica, social, energética e de investimentos estratégicos.

7 Exploração dos Recursos Naturais como o petróleo, o gás, o carvão, o ouro, o níquel, as esmeraldas, a água, a biodiversidade, etc, em benefício do país e de suas regiões, garantindo a preservação do meio-ambiente. Renegociação dos contratos com Companhias Multinacionais que sejam lesivos para a Colômbia. A Comissão Nacional de Energia, com participação do Estado, os trabalhadores do setor e as regiões, planificarão a política energética.

Serão construídas mais refinarias e desenvolvida a indústria petroquímica. O governo informará à comunidade com transparência, os termos dos contratos existentes.

8 Pelo menos 50% do Orçamento Nacional será investido no bem-estar social, levando em conta o cidadão, o seu emprego, seu salário,. Saúde, moradia, educação e lazer como centro das políticas do Estado, apoiados em nossas tradições culturais e buscando o equilíbrio da sociedade e da natureza. Os direitos da infância, da juventude, das mulheres e idosos, dos povos indígenas e afro-descendentes serão especialmente reivindicados pelo novo governo.

Dez por cento do Orçamento Nacional será investido em investigação científica.

9 Os que possuem maior riqueza pagarão impostos mais altos para tornar efetiva a distribuição de renda. O imposto do IVA, apenas afetará bens e serviços.

10 Política Agrária que democratize o crédito, a assistência técnica e o mercado. Estímulo total à indústria e à produção agropecuária. Protecionismo estatal frente a desigual competência internacional.

Cada região terá seu próprio plano de desenvolvimento elaborado em conjunto com as organizações da comunidade, liquidando o latifúndio onde quer que ele exista, redistribuindo a terra, definindo uma fronteira agrícola que racionalize a colonização e proteja do arrasamento de novas reservas. Ajuda permanente para o mercado nacional e internacional.

11 Relações internacionais com todos os países do mundo sob o princípio do respeito à auto-determinação dos povos e do mútuo benefício. Priorizar as tarefas pela integração da Nossa América. Todos os latino-americanos e caribenhos serão considerados cidadãos da Nossa América. Pátria Grande e socialismo será nossa divisa. Respeito aos compromissos políticos com outros Estados sem abrir mão da soberania. Revisão total dos pactos militares, tratados comerciais e convênios lesivos para a nação. Terá fim a extradição de nacionais. Objeção ao pagamento da Dívida Externa naqueles empréstimos viciados de dolo em qualquer de suas fases. Para os outros casos se planejará uma moratória no serviço para facilitar o cancelamento da dívida social.

12 Solução do fenômeno de produção, comercialização e consumo de narcóticos e alucinógenos, entendido diante de tudo como um grave problema social que não pode ser tratado pela via militar, que requer acordos com a participação da comunidade nacional e internacional e o compromisso das grandes potências como principais fontes da demanda mundial dos entorpecentes. Materialização da proposta de substituição de cultivos emanada da audiência pública internacional sobre cultivos ilícitos e meio-ambiente.

Nona Conferência das FARC-EP

Pela Nova Colômbia, a Pátria Grande e o Socialismo.

Manifesto das FARC

Compatriotas:

1 A dignidade nos está convocando à resistência em unidade frente ao governo foragido, ilegítimo e ilegal que tomou o Palácio de Nariño, à convergência e ao Acordo Nacional para superar a profunda crise institucional e de governabilidade que abate o país e para traçar caminhos corretos rumo à paz duradoura.

A Colômbia merece respeito. Não podemos mais tolerar essa máfia narco-paramilitar de latifundiários e pecuaristas, narcotraficantes e empresários que, com o apoio militar do governo dos Estados Unidos e o bombardeio dos meios de informação, converteram a Colômbia em um inferno da guerra, os massacres, as detenções em massa de cidadãos, os desaparecimentos, a miséria e o saque, e de todos os desaforos do terrorismo de Estado.

2 O governo de Uribe marcha no compasso das diretrizes de Washington e das exigências de poderosos chefes narco-paramilitares como Salvatore-Mancuso, Jorge 40, Castaño, Cuco Vanoy, Isaza, Báez, Macaco, Don Berna, El Alemán, Giraldo, El Tuso, Gordo Lindo e outros sinistros personagens da moto-serra e cocaína, sócios do Presidente. Essa máfia financiou com maletas repletas de dólares as duas campanhas presidenciais de Uribe.

Sim, eles o elegeram, e são eles que mandam.

Impuseram, à ponta de fusil, de terror e de fraudes eleitorais, dezenas de congressistas, governadores e prefeitos que atuaram como marionetes do paramilitarismo na política e no governo. Como acreditavam serem donos do país, não tiveram vergonha nenhuma em proclamar com fins de vitória que haviam conseguido eleger 35% do atual congresso, o que equivale a uns 80 representantes e senadores. Esses mesmos votos contaminados levaram Uribe à Presidência da República, e por isso e muito mais, seu mandato é ilegítimo e ilegal.

Este governo está erguido sobre milhares de valas comuns e massacres, sobre terras despojadas e milhões de deslocados, sobre lágrimas e luto... Nada foi feito sem a aprovação ou a participação das forças armadas oficiais.

Toda a cúpula do Estado, a começar pelo próprio Uribe, chefe principal dos “paracos”, está invadida pelo monstro da narco-para-política que tomou a Colômbia. O Vice-presidente foi o inspirador do bloco paramilitar que atuou sobre a capital. O comando do exército e a polícia não pode negar que sempre atuou em parceria para delinqüir com eles. O ministro de Defesa conspirou com Carlos Castaño. A ex-chanceller Araújo era amiga de Jorge 40. O ex-chefe do DAS, Jorge Noguera, além de montar com eles a conhecida fraude eleitoral a favor de Uribe, lhes fornecia a lista dos dirigentes sindicais e populares que deviam assassinar.

Os chefes paramilitares estavam mandando no país e Uribe não dizia nada. Roubaram os recursos da saúde. Morderam todos os contratos que viam pela frente. Saquearam os orçamentos estaduais e municipais. Começaram até a cobrar impostos...

O Acordo de Ralito, pacto das trevas entre o governo e seus paramilitares, foi o pacto da impunidade, onde o governo se comprometeu a garantir penas irrisórias e simbólicas, participação na política, a não-extradição, o respeito às suas riquezas mal adquiridas através do despojo, o narcotráfico e a lavagem de dinheiro.

Esse é o motivo que compeliu o Presidente Uribe ao desacato e ao desafio insólito frente a providência da Corte Suprema de Justiça que afirmou que o paramilitarismo e a orquestra para delinqüir não é sedição. Ele entende que sem o rótulo artificial de delito político que pretendiam tirar do paramilitarismo para santificá-lo, estariam acabando com a mais importante opção de impunidade com a qual contava, não apenas para favorecer aos paramilitares, mas para eximir o Estado, genitor dessa desumana estratégia contra-insurgente na qual também estão envolvidas a CIA e o DEA.

Uribe bem que mereceu o repúdio dos povos que, em suas viagens internacionais, o recebem comm gritos de “assassino, assasino: que renuncie por ser paramilitar, por ser ilegítimo, por ser ilegal”.

Qualquer governo do mundo em tais circunstâncias já teria caído sem remédio. E os colombianos não somos menos para tolerar semelhantes governantes, mesmo que contem com o respaldo do governo dos Estados Unidos.

3 A Colômbia está sendo violentada também pela política de Segurança Democrática, desenhada por Washington como desenvolvimento da velha Doutrina de Segurança Nacional e como estratégia de predomínio do império sobre os povos de Nossa América. Em essência, esta política –explicada pelo general Craddock do Comando Sul- busca, nos marcos da recolonização neoliberal, assegurar o investimento e o espólio das transnacionais, mediante a aplicação de leis severas e a força, para reprimir e aniquilar a resistência dos povos e a inconformidade social.

Não podemos permanecer impassíveis frente a esta política que já começa a ser executada também por outros governos do hemisfério.

No caso da Colômbia, a Segurança Democrática tem como componente militar o Plano Patriota, cujo objetivo principal é a derrota militar da guerrilha das FARC, ou em seu defeito a redução de sua vontade de luta para levá-la subjugada à mesa de negociações. Desde então não se sentem tranqüilos com esta alternativa de poder construída pelo povo como resistência a décadas de violência estatal e de opressão.

“Com este objetivo de derrotar a guerrilha mobilizaram dezenas de batalhões e brigadas móveis para o sul e lançaram grandes e repetidas operações em outras áreas do país. Instalaram postos de comando com oficiais gringos em Larandia e Três Esquinas, Caquetá, nos arredores da Amazônia que almejavam. Ativaram satélites espiões e aparatos com tecnologia militar de ponta. Realizaram cercos estratégicos, bloquearam zonas camponesas, deslocaram a população, assassinaram e desapareceram com civis, incendiaram parcelas, roubaram gado, bombardearam dia e noite, trilharam selva e cordilheiras, e não puderam, em cinco anos, mostra um só resultado contundente. Apenas o desgaste inútil e o esfacelamento da vontade de luta das tropas oficiais que morrem na selva ou saem machucados dela, porque assim quer um louco guerreirista que vocifera em Bogotá e culpa generais por ausência de resultados ou partes de vitória.
Da pólvora e do calor das batalhas está surgindo uma força guerrilheira de novo tipo, fogueada nas manobras inimigas e no choque com as novas tecnologias da operatividade contra-insurgente, guerrilha que é verdadeiro poder de fogo político e militar a serviço da causa popular.

Mas paralelamente ao desenvolvimento do Plano Patriota nos distintos teatros de operações, o governo vai consolidando o crime de opinião, a repressão da consciência, até chegar a prender mais de 150 mil cidadãos, acusando-os de simpatizar com a guerrilha. Em ares de dissuadir o respaldo ao projeto político e social da insurgência está sendo ceifado na Colômbia o direito universal à opção política. Não bastou eliminar fisicamente a toda uma geração de revolucionários que se incorporaram à União Patriótica como alternativa legal de mudança; agora querem impor um pensamento, o da nova inquisição, da direitoa e o fascismo. Um pensamento que criminalizará o protesto social com o conto de que, por trás de toda mobilização popular contra as políticas do governo, está a guerrilha. Um autoritarismo que quer acabar com a autonomia e a independência das outras instâncias do poder público para estabelecer, sem sobressaltos constitucionais, o reino da tirania, que apenas tolera as oposições que não proponham a mudança do status quo, das estruturas da opressão.

4 Essa direita fascista ativou o orçamento da nação em função da guerra e o resultado é o desastre social. Crianças que morrem de fome, crescimento da pobreza e da marginalização, abandono total dos projetos de construção de moradia popular, a maioria da população sem serviços de água, luz e saneamento básico. Indiferença do governo frente à carência de escolas, colégios e professores, porque optou pela privatização desse serviço, assim como da saúde.
Recorte das transferências que paraliza o desenvolvimento das regiões. Venda de empresas rentáveis do Estado para conseguir mais recursos para a guerra. Privatização paulatina de empresas estratégicas como ECOPETROL. Incremento dos índices de desemprego e sub-emprego ao impulso da flexibilização trabalhista que pisoteia os direitos dos trabalhadores e dispara os lucros dos empresários. Fome e alto custo de vida é o que geram as políticas do Estado contra a massa popular. Perspectivas de aprofundamento da crise social com a aprovação do TLC que agride a pátria, a soberania e a qualidade de vida dos colombianos.

A perfídia com a qual atua o Estado deve ser respondida com a mobilização do povo em ações de rua e bloqueio de estradas que paralizem o país em demanda dos direitos conculcados para constatar na luta de massas a força dos de baixo e para buscar a convergência de todos os setores democráticos sob uma só bandeira política e social, com o objetivo de formar um novo governo que trabalhe pela paz, a justiça social e o resgate da dignidade e a soberania do povo da Colômbia.

5 Para a construção desta alternativa, colocamos à consideração do país, de suas organizações políticas e sociais, de todo o povo, a Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia para abrir a discussão e o intercâmbio em torno das bandeiras e do programa de um novo governo que sugerimos que seja patriótico, democrático, bolivariano, rumo a uma nova ordem social, comprometido na solução política do grave conflito que o país vive.

Um novo governo que materialize o projeto político e social do Libertador, que forme um novo Exército Bolivariano para a defesa da pátria e as garantias sociais. Uma nova ordem, edificada sobre a democracia e a soberania do povo, que agregue aos ramos do popder público o poder moral e eleitoral, que institua o congresso unitário e o referendo revogatório do mandato. Um novo sistema de governo que castigue com severidade a corrupção e a impunidade, que ponha fim à política neoliberal, que estimule a produção em suas diversas modalidades, que assuma o controle dos setores estratégicos, que faça respeitar nossa soberania sobre os recursos naturais e que implemente políticas eficazes de preservação do meio-ambiente. Um governo que trabalhe pela gratuidade da educação em todos os níveis, que instrumente a redenção social, a justiça agrária, que renegocie os contratos com as transnacionais que sejam lesivos para a nação, que deixe sem vigência os pactos militares, tratados e convênios que maculem a soberania da pátria, que não extradite nacionais, que se negue ao pagamento da dívida externa naqueles empréstimos viciados de dolo em todas as suas fases. Um governo cuja divisa em política internacional seja a Pátria Grande e o socialismo e que priorize as tarefas da integração dos povos de Nossa América. Por isso a política de fronteiras das FARC opta pela irmandade e não pela confrontação com os exércitos dos países vizinhos. Nossa luta é de resistência e libertação frente ao regime opressor colombiano.

É hora de analisar e selecionar o caminho que nos conduza à paz, à independência, à justiça social, à democracia, e à unidade como caminho para sobreviver e enfrentar com êxito as políticas dos impérios.

6 A paz é um processo, um bem comum que requer de todos a preparação do terreno para que germine. Não se consegue a paz da noite para o dia. São necessárias novas estruturas econômicas, políticas e sociais que a sustentem, mudanças como as que sugere a Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia.

Não haverá a paz dos sepulcros. Todos os planos militares das oligarquias e o império para exterminar a insurgência desde o LASO (Latin American Security Operation) executado em Marquetalia, até o Patriota, fracassaram porque o levante armado por causas sociais, econômicas e políticas não se derrota com bombas ou com chumbo, nem tecnologias recém-criadas.

Por canalhice ou demagogia eleitoreira, Uribe anunciou estar disposto a oficializar uma zona de encontro para assinar a paz em três meses. 43 anos de confrontação não se superam em tão curto tempo. A problemática política, econômica, social, cultural, ambiental e de soberania do país não pode ser resolvida em 3 meses, a não ser que alguma das partes tenha derrotado a outra, e este não é o caso. Uribe não é o homem para a paz na Colômbia. Não está programado pelos gringos para isso. Um tipo que sequer reconhece a existência do conflito armado não chegará à paz por nenhum caminho. Apenas um novo governo patriótico e democrático, soberano, poderá conseguir a paz negociada, não um governo fantoche da Casa Branca. Seria necessário um governo compenetrado com a necessidade da paz, que apoiado no povo e no interesse nacional tome a decisão de voltar suas tropas aos quartéis, de reduzir drasticamente o orçamento para a guerra em prol dos investimentos sociais e de exigir a saída do país das tropas e assessores estadunidenses intrometidos no conflito interno e fator atiçador da guerra, para avançar nos diálogos de paz.

7 A paz merece todos os esforços e sacrifícios do país e começa com o consenso de suas forças fundamentais, de suas organizações políticas e sociais, para criar entre todos uma nova alternativa política de poder que se converta em governo soberano e digno, altivo frente a Washington, empenhado na maior quantidade de felicidade possível para o povo, segundo o mandato do Libertador.

É necessário começar o quanto antes a troca humanitária e o reencontro de todos os atores da transformação social e a paz, inclusive a guerrilha, em torno dessa perspectiva. Aqueles que, a partir da servidão do stablishment, pregam a exclusão da insurgência com rebuscados argumentos, o fazem para induzir a formação de uma alternativa na qual ela seja uma presa fácil dos poderosos exploradores de sempre.
Propomos que se iniciem o mais breve possível os primeiros contatos clandestinos, com ou sem o consentimento do governo, para criar pautas e para ir esboçando coletivamente alguns traços programáticos para a redenção da Colômbia.

Convidamos a este diálogo os dirigentes revolucionários, os setores democráticos dos partidos, os setores avançados do clero, os militares patriotas e bolivarianos, os líderes operários e camponeses, estudantes, líderes comunitários, indígenas, os negros, os educadores, as mulheres... a todos e a todas as lideranças populares, para juntar anseios e empreender juntos o caminho rumo a Nova Colômbia.

8 O objetivo é a criação de uma alternativa para a mudança, surgida de um Grande Acordo Nacional pela paz, a justiça, a soberania e o decoro da nação, que se proponha um novo governo para salvar a Colômbia do abismo, para recuperar a dignidade maculada pelo governo foragido de fascistas narco-paramilitares abençoados por Washington, uma nova condução dos destinos da pátria que substitua a repressiva e exploradora Segurança Democrática do império e a política neoliberal, que resgate a soberania do povo, reestruture o Estado com a finalidade de garantir o bem comum e forme um Exército Bolivariano guiado pelo amor ao povo, a justiça social e a defesa da pátria. Enfim, um governo que convoque uma Assembléia Nacional Constituinte para criarmos uma nova Constituição que referende as mudanças a favor do povo, rumo a paz e a convivência, a verdadeira democracia, a soberania e a integração solidária dos povos, como mandatos emanados desse grande Pacto Social.

Não nos resta outra alternativa senão buscarmos unidos o caminho para sair da obscura noite orientados pelo vislumbre da justiça e a alvorada nova da Grã-Colômbia.

Rumo a Nova Colômbia, Acordo Nacional pela Paz
Secretariado do Estado-Maior Central das FARC

Montanhas da Colômbia, setembro de 2007

As FARC-EP denunciam ante a opinião pública nacional e internacional

por Estado-Maior do Bloco Sul das FARC-EP


1 Que cumprindo as diretrizes diretamente da CIA e que são de pleno conhecimento do presidente narco-paramilitar Álvaro Uribe Vélez e do fascista ministro de defesa Juan Manuel Santos, o exército colombiano junto com seus paramilitares e em cumplicidade com alguns oficiais do país vizinho do Equador, sobretudo da Marinha, está penetrando em território equatoriano e realizando assassinatos e seqüestros em nome das FARC e da delinqüência comum.

2 Que o objetivo internacional da CIA e do setor narco-político paramilitar de Uribe é criar na fronteira colombo-equatoriana uma situação caótica que obrigue o Exército equatoriano a ter presença permanente e com patrulhamento na fronteira, para depois comprometê-lo em operações conjuntas contra-insurgentes, e assim, implicá-lo no conflito interno social e armado que vive a Colômbia.

3 Os setores políticos uribistas comprometidos nesta ação desestabilizadora contra o governo equatoriano são os mesmos que repartiram a grana à torto e à direita para que os equatorianos residentes nas populações fronteiriças se pronunciassem no último Referendo pelo NÃO; os memos que, em parceria com os reacionários venezuelanos e com a assessoria da CIA, estão infiltrando paramilitares colombianos à irmã República Bolivariana de Venezuela, com fins também desestabilizadores para derrubar o Presidente Chávez.

4 Contrariando as ordens do Presidente Correa, certos oficiais da Marinha com as unidades sob seu comando, estiveram realizando patrulhas conjuntas com o exército colombiano desde Puerto Cólon, sobre o rio San Miguel, até Puerto Nuevo (Equador); com menos constância mas também o fizeram, desde Puerto Ospina, sobre o rio Putumayo, até a desembocadura do Cohembí, demonstrando que são mais fiéis à CIA que a seu próprio povo e a seu Presidente.

5 As FARC manifestam ao povo-irmão equatoriano e ao seu presidente Rafael Correa, a quem admiramos por sua dignidade e patriotismo, que o único cidadão de sobrenome Solórzano que têm em seu poder, é o capitão da polícia de Florida (Valle), que está comprometido na formação de grupos paramilitares e figura em nossa lista para a troca.

6 As FARC nada têm a ver com os seqüestros recentemente denunciados pelo Presidente, nem com outros acontecimentos delitivos ocorridos na fronteira e atribuídos injustamente a elas.

7 As FARC-EP reiteram que, de acordo com a sua política de fronteiras, estabelecida pela Oitava Conferência, de manter boas e fraternais relações com os países vizinhos, não deteve nenhum cidadão de nacionalidade equatoriana nem muito menos realizou ou realiza retenções no território desse país irmão.

Estado-Maior do Bloco Sul das FARC-EP
Montanhas da Colômbia,

Dezembro de 2008.

O comunicado encontra-se em Anncol.eu.

Pablo Catatumbo substitui Felipe Rincón

Na comissão da Troca, anuncia as Farc. “Pablo, juntamente com os camaradas Fabián Ramírez e Carlos Antônio Losada, representarão as FARC-EP nas conversações com o Estado sobre a troca, assim que o governo outorgar as garantias necessárias para desenvolvê-la nos municípios de Florida e Pradera”.

Reajuste da comissão da troca
Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP

1 Ratificando nossa inquebrantável decisão em realizar a troca de prisioneiros de guerra com o Estado e fazer as honrarias à memória do desaparecido camarada Felipe Rincón, que fazia parte da comissão da troca, designamos o comandante Pablo Catatumbo como novo integrante de tal comissão.

2 Pablo, conjuntamente com os camaradas Fabián Ramírez e Carlos Antônio Losada, representarão as FARC-EP nas conversações com o Estado sobre a troca, assim que o governo outorgar as garantias necessárias para desenvolvê-la nos municípios de Florida e Pradera.

3 Não temos abdicado nem abdicaremos de tê-los presentes em cada combate, missão e tarefa, de acompanhá-los daqui, levar-lhes a solidariedade e buscar a liberdade de todos os guerrilheiros e amigos presos nas prisões do regime e do império.

4 Consciente do fato de que prisioneiros de guerre existirão enquanto existirem conflitos, seremos perseverantes nas propostas da troca.

5 Além das travas governamentais da criminal perseguição sobre advogados e familiares, do isolamento e demais vexames a que são submetidos, das miseráveis chantagens e armações dos que pretendem brigar a desistir de seu pensamento, a trair seus ideais e pisotear sua dignidade, nas prisões da Colômbia como nas dos Estados Unidos, os guerrilheiros das FARC têm dado um exemplo de valor, firmeza revolucionária e integridade a seus concebedores. Por isso nos sentimos orgulhosos, todos os farianos, pois esta moral inquebrantável é o cimento da vitória. Diante do altar da pátria temos jurado vencer, e venceremos.

Montanhas da Colômbia
18 de dezembro de 2008

O comunicado encontra-se em Anncol.eu

Uribe o mais distante possível

Imaginem se a dupla Santos e Uribe descobrem a localização dos detidos em poder das FARC. Fracasso e morte certa.

ANNCOL

Escreve a agência AFP. O CICV “terá as garantias para a libertação”, pois “assim disse o presidente (Àlvaro Uribe) desde o início e é a posição do governo”, afirmou Santos anteontem. Chama a atenção o fato de que o CICV, Comitê Internacional da Cruz Vermelha, tenha garantias para a entrega e outros vizinhos de reconhecida seriedade, sejam vetados por Bogotá.

Uribe argumenta que não quer danificar suas ‘relações internacionais’. Silenciosamente, trata de ocultar a intromissão contínua de militares e paramilitares em território equatoriano e a passagem de paramilitares para a Venezuela. O mundo sabe de suas armações contra a unidade latino-americana e seu papel como Caim.

Segundo as Farc, os seis prisioneiros serão entregues em duas etapas aos “colombianos pela paz na Colômbia”, encabeçados pela senadora Piedad Córdoba. Quanto a isso as Farc são claras em sua última carta aos milhares de colombianos, assinantes do intercâmbio epistolar.

Para diminuir o evidente desprestígio de Uribe e de todo o estabelecimento, -agregou o Min. Defesa Juan Manuel Santos-, “O governo assegurou a suspensão temporária das operações militares em uma área do departamento de Guaviare para facilitar a entrega, entre janeiro e fevereiro, de outros seis políticos em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)”.

Apesar disso, na mesma terça-feira, dia 23 de manhã, o soldado Freider Alfonso Montenegro, de 22 anos, do Batalhão Joaquín París, membro da Brigada de Selva número 22, teve uma perna ferida por uma mina. E o que fazia este humilde servidor profissional da ‘segurança democrática’? Segundo o general Pedro León Soto, comandante da Sétima Brigada em Primícia, afirmou ao El Tiempo, o soldado buscava dez detidos pelas Farc.

Distância do regime uribista.

A notícia encontra-se em Anncol.eu.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Farc se dirige aos colombianos pela Paz e anuncia libertação unilateral de seis prisioneiros de guerra

"Celebramos que sua alusão aos prisioneiros de guerra esteja desprovida deste “humanitarismo distorcido” disseminado pelos meios de comunicação, que vê apenas os prisioneiros de um lado, ignorando que se trata de duas partes em conflito. Este enfoque ajuda na busca de uma solução realista do problema, para o qual...”.
Secretariado das Farc.


ANNCOL publica a carta em sua totalidade para todos os nossos leitores:

***

Senhores

COLOMBIANOS PELA PAZ

Bogotá


“Apesar de serem alarmantes as conseqüências da resistência ao poder, não é menos certo que existe na natureza do homem social um direito inalienável que legitima a insurreição”.
Simón Bolívar

Compatriotas:

Com esta reflexão do pai de nossas repúblicas, o Libertador Simón Bolívar, -que ajuda a compreender preocupações coletivas- damos continuidade ao intercâmbio epistolar respondendo aos temas abordados em sua carta do dia 27 de novembro.

Concordamos com vocês que a discussão sobre a guerra e a paz na Colômbia não pode ignorar fenômenos que estremecem hoje a consciência nacional. Os denominados eufemisticamente “falsos positivos” –que deveriam ser chamados de assassinatos de civis não-combatentes executados pelo Estado- são, como vocês acertadamente o percebem, manifestação dolorosa da guerra suja que vive a Colômbia. Constituem um reluzente grito de vitória da “segurança democrática” do presidente Uribe, que sempre mediu o êxito dessa política –em seu componente militar- em litros de sangue.

Não pode ser considerado como um acontecimento isolado o que obedece a uma orientação pontual do Ministério da Defesa e da Presidência, repetida sistematicamente a nível nacional em todas as guarnições.

É impossível desvirtuar que os milhares de civis assassinados para serem representados noticiosamente como guerrilheiros mortos em combate, o foram pelo estímulo dos ascensos e recompensas oferecidas pelo governo aos militares. Assim como é um acontecimento destacável, que depois do conhecimento público sobre tal genocídio, o Ministério da Defesa não voltou a publicas suas orgulhosas cifras de “mortos em combate” com as que sustentavam sua fantasiosa “derrota da insurgência” e o “fim do conflito”. A consciência da nação deve impedir que este tipo de crime de lesa humanidade que o Estado comete termine na impunidade. A destituição de alguns altos comandos militares por tais acontecimentos deve ser complementada com uma responsabilidade penal, o que muito seguramente, fará com que as cortes e tribunais dos povoados sintam a “segurança democrática” – desenvolvimento da fascista Doutrina de Segurança Nacional –no bano dos réus.

Tal como vocês destacam, a escalada do conflito –que têm relação direta com a ingerência crescente do governo dos Estados Unidos no conflito interno colombiano- vem acompanhada de uma maior degradação. Devemos fazer algo para escaparmos dessa maldição que parece nos perseguir desde a destruição da Colômbia de Bolívar e de sua grande obra legislativa concebida visando o bem comum.

Desde meados do século passado, a degradação gerada pelo Estado não para de crescer em espiral. Os mesmo métodos brutais que ceifaram a vida de 300 mil colombianos na década de 50, agora mais refinados, seguem vitimizando a população, esquartejando com moto-serras, enterrando em valas comuns, deslocando milhões de camponeses para apoderar-se de suas terras, “empapelando” juridicamente os cidadãos, até alcançar o nível de barbárie das “partes positivas”.

Recordamos a resposta do comandante das FARC Manuel Marulanda a uma pergunta sobre a humanização da guerra: “a melhor maneira de humanizar a guerra é acabá-la”. Hoje, seguimos com a mesma percepção, e para isso é indispensável a mudança das injustas estruturas.

Celebramos que sua alusão aos prisioneiros de guerra esteja desprovida deste “humanitarismo distorcido” disseminado pelos meios de comunicação, que vê apenas os prisioneiros de um lado, ignorando que se trata de duas partes em conflito. Este enfoque ajuda na busca de uma solução realista do problema, para o qual reiteramos nossa determinação e vontade de alcançá-la.

Nesse esforço coletivo, é importante avançar na identificação e precisão dos temas objeto de nossas reflexões para ganhar certezas na busca por soluções. Por exemplo: em um conflito armado e social como o que vive a Colômbia há mais de 40 anos, integrantes da força pública devidamente armados, treinados e uniformizados combatem diariamente, de diferentes formas e em diferentes cenários, com a guerrilha revolucionária, apresentando baixas de ambas as partes, como ocorre em toda confrontação bélica. Finalmente uma delas obtém a vitória e faz prisioneiros da parte em conflito. Isto ocorreu, ocorre e inevitavelmente continuará ocorrendo, aqui e em todo lugar do mundo, enquanto durarem os conflitos. Este tipo de capturados são prisioneiros de guerra. Essa é sua categoria dentro do conflito. A não ser que pretendam, como no caso do governo de Álvaro Uribe, negar a existência do conflito.

A proposta de Manuel Marulanda Vélez ao congresso, de aprovar uma lei permanente que deixe aberta a possibilidade da troca, cobra plena vigência nestas circunstâncias. Evitaria um cativeiro prolongado e doloroso. Nesse mesmo sentido, e com implicações de diversas ordens, temos planejado em diversas oportunidades, a conveniência de um reconhecimento das FARC-EP como força beligerante. Acontece também a detenção de pessoas com algum tipo de representação política, que tomaram partido envolvendo-se abertamente em favor da guerra e em crimes contra setores populares, vinculados com o militarismo e o paramilitarismo como demonstra todo o processo da para-política, o que, com suas ações, golpeiam o povo, o tesouro e os bens públicos. Estes, diante da reconhecida impunidade do regime na lógica dos de baixo, devem responder por sua conduta. E acontece também o fenômeno da retenção de pessoas com objetivos econômicos, que tem múltiplos autores: policiais, militares, DAS (polícia política colombiana), paramilitares, delinqüência comum e membros da insurgência. Na responsabilidade que nos cabe e, entendendo as dificuldades que nos acarreta, fazemos esta reflexão: como se financia uma confrontação como a colombiana? Como faz, por exemplo o Estado? Decreta cargas impositivas generais, Impostos de guerra, empréstimos das empresas transnacionais, entre as quais se destacam: BP, Chevron – Texaco OXI, Drummond, Chiquita Brands (antiga United Fruit Company), Repsol, Monsanto, Coca-Cola, etc; mas fundamentalmente financia a guerra com ajuda econômica, militar e tecnológica do governo dos Estados Unidos. Colômbia é o primeiro receptor desta “ajuda” no hemisfério, o qual se paga com a soberania. O proeminente sociólogo estadunidense James Petras estima que Washington investiu no Plano Colômbia mais de 10 bilhões de dólares nos últimos 6 anos. É uma desproporção de recursos econômicos e de meios para uma guerra injusta contra um povo.

No espírito de minimizar o impacto sobre os não-combatentes, as FARC expediram a Lei 002 sobre tributação, que cobra um imposto para a paz àquelas pessoas naturais ou jurídicas cujo patrimônio seja superior a um milhão de dólares e que, apenas em última instância, contempla o recurso da retenção.

A guerra, a medida que se generaliza, produz efeitos dolorosos e não-desejados. Com franqueza lhes comentamos que não está dentro de nosso ideário nem em nossos princípios a eternização destes métodos. De fato, temos nos manifestado estando envolvidos em diálogos que buscaram a paz com anteriores governos, como bem o ressaltam em sua nota.

Os temas desta missiva são mais que oportunos para sugerir-lhes o quão importante seria abrir um amplo debate sobre a situação de milhares de presos políticos encarcerados após prisões em massa utilizadas para atemorizar e dissuadir o apoio popular às forças insurgentes. São milhares os cidadãos acusados de rebelião e terrorismo através de armadilhas da inteligência militar e do pagamento de gordas recompensas. Esta reflexão coletiva deveria incluir também os desaparecimentos forçados de pessoas, a mais estarrecedora forma de seqüestro existente executada pelo Estado, e que a perda de liberdade agrega na perda da vida após espantosas torturas em meio a plena impunidade.

Finalmente, vocês nos pedem, visando um eventual intercâmbio humanitário, avançar em algumas reflexões acerca de como “desenhar cenários onde seja possível debater com a sociedade alternativas políticas para encontrar um caminha de transição rumo a uma sociedade justa e equitativa”.

Sobre isto, estamos propondo, através do manifesto das FARC-EP e da Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia, um encontro das forças políticas e sociais interessadas na mudança, que nos permita delinear de maneira consensual um grande acordo nacional rumo à paz, para construir coletivamente alternativas políticas à guerra e à injustiça social. Estamos seguros de que nós e milhões de colombianos seria maravilhoso ver florescer um novo governo, produto dessde pacto social, que convoque ao diálogo de paz com participação das organizações políticas e sociais do país, que leve suas conclusões a uma assembléia nacional constituinte, para que o tratado de paz alcançado tenha também sustentação constitucional.

Como demonstração ferrenha da vontade que nos acompanha e como gesto que busca gerar condições favoráveis à troca humanitária, anunciamos a próxima libertação unilateral de seis prisioneiros em duas etapas. Estes serão entregues a vocês, como “colombianos pela paz da Colômbia”, encabeçados pela senadora Piedad Córdoba. Primeiro, serão libertados três agentes da polícia e um soldado, em seguida, o senhor Alan Jara e o deputado Sigifredo López. As condições de modo, tempo e lugar serão explicadas em seu devido momento.

Recebam nossa cordial saudação.

Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP

Montanhas da Colômbia,


17 de dezembro de 2008

O comunicado, em espanhol, encontra-se em Anncol.eu.

Esta resposta faz parte de uma série de discussões entre os intelectuais e a guerrilha colombiana.
A ordem do diálogo, desde sua primeira carta, encontra-se assim:

1- Carta dirigida ao Secretariado das FARC, por membros da sociedade civil colombiana.
2- Carta das FARC aos colombianos apoidores da solução política para os problemas da guerra
3- Intercâmbio epistolar Colombianos e as FARC

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Comentando “La Paz en Colômbia”, de Fidel Castro

por Narciso Isa Conde, Presidente da Coordinadora Continental Bolivariana – CCB

(Parte II) Pró-sovietismo das FARC? Está certo que o Partido Comunista Colombiano (PCC) foi um partido pró-sovietico e que teve muito a ver com a origem e desenvolvimento das FARC. Mas as coisas nunca foram tão simples e muito menos agora.

O PCC foi também um partido imerso em formas de luta não tão afins com a visão soviética, em que o PCUS desses tempos estava impregnado da concepção que exaltava a chamada “via pacifica” ao socialismo.

Além disso, como bem recolhe Fidel do livro de Alape, Marulanda é de origem liberal e no seu processo de transformação em militante comunista soube se diferenciar de certos conceitos e atitudes presentes naquela época no PCC.

Este processo de criação e desenvolvimento das FARC como força militar conducida por comunistas nunca foi um processo livre das tensões que geralmente surgem nesse tipo de relação (partido legal e força insugente penalizada) e no contexto de uma complexa combinação dessas estruturas e formas de luta.

A ruptura finalmente ocorreu em 1993. As FARC separam-se do PC legal e criam primeiro o Partido Comunista Clandestino e a seguir o Movimento Bolivariano como estrutura mais ampla e flexível, também clandestina.

Como PCC legal pode ter havido amarras ao centro soviético. Mas como FARC realmente não. Esta organização político-militar foi formada com muita autonomia em todos os ordenamentos.

Não acredito, portanto, que neste aspecto (posicionamento em relação URSS) possam sustentar-se os relativos distanciamentos político-ideologicos entre os lideres das FARC e os lideres da revolução cubana.

Alem do mais, a revolução cubana e o Partido Comunista de Cuba, além da sua origem herética e sua grande independência inicial, além do peso da cubanidade interna, também foi influenciado pela URSS (inclusive para além da gravitação do velho PSP pró-soviético), ao ponto que seu modelo de transição ao socialismo resultou impregnado em muitos aspectos pelos graus de dependência dessa grande potencia euro-oriental e pelo peso de sua gravitação ideológica.

A “copiadeira”, como o próprio Fidel batizou, não foi pouco coisa, ainda que sempre houvesse tensões e choques entre os/as mais inclinadas para a sovietização e os/as defensoras da originalidade.

Fidel, apesar de seu indiscutível espírito independente e criador, resultou ser um grande arbitro dessas tensões e, portanto, teve que representar expressões combinadas dessas correntes e balancear situações. Nunca se produziu a subordinação total, mas sim muitas concessões e passos condicionados junto a expressões de autodeterminação e até rebeldia.

Isto também se refletiu na política exterior do partido e do Estado, onde se registraram muitas iniciativas soberanas e também atitudes complacentes como foi o apoio à intervenção soviética na Tcheco-Eslováquia e a aceitação, sem reflexão critica, do status quo do sistema soviético afetado por uma crise evidente. A esta altura ainda, o PC de Cuba não fez uma analise institucional que explique a profundidade as causas da derrubada do chamado “socialismo real”.

A escola do pensamento soviético, o marxismo dogmatizado, penetrou profundamente na academia cubana, sobretudo nas ciências sociais, no sistema de educação, no partido, nas forças armadas e em muitas outras instituições cubanas.

Em conseqüência, não se ajustaria à verdade histórica apresentar às FARC como seguidores do PCUS e ao Partido Comunista de Cuba como algo totalmente independente e distinto como foi insinuado.

A evolução das FARC para um marxismo cada vez mais criador, para uma combinação certeira do pensamento socialista revolucionário moderno como o bolivarianismo, é cada vez mais acentuada e essa realidade merece ser valorizada no debate atual. Nas FARC estuda-se Marx, Lênin, Rosa Luxemburgo, Che Guevara, Fidel, Mariátegui, Gramsci, Bolívar, Marti e os pensadores revolucionários destes tempos. Isto coexiste também com um pesado lastro dogmático.

Cuba avançou muitíssimo no inicio enquanto ao pensamento critico, à recuperação do pensamento martiano e sua combinação com o marxismo herético. Mas tem passado por sérios períodos de involução pela gravitação da escola soviética, conservando e desenvolvendo ao mesmo tempo uma grande quantidade de cuadros e dirigentes resistentes ao dogmatismo e defensores de um marxismo criador e de um pensamento critico e inovador.

Persiste a luta histórica que hoje tende a se expressar com renovados brios quando se coloca na ordem do dia a necessidade de mudança de modelo, de uma nova transição revolucionária que supere o burocratismo e o estatismo através de um programa de socialização da propriedade e da gestão pública, e de transformações políticas e sociais para uma democracia mais participativa e mais integral.

Não ingerência

Os limites entre a ingerência e a solidariedade não são fáceis de estabelecer, principalmente no terreno das relações entre forças revolucionarias desiguais e com cenários e processos de luta diferentes. Da mesma forma a relação entre hegmonia, continuísmo, independência e vínculos mutuamente respeitosos.

A experiência vivida indica que as tensões e contradições que essas relações geram resultam ser mais difíceis de resolver harmonicamente quando uma das partes se constitui em força condutora de uma revolução transformada em poder.
Freqüentemente rompe-se o equilíbrio necessário e afloram as tendências à imposição e à dependência.

Mas também ocorrem estas situações nas relações entre Estado e governos aliados e entre Estado e governos dissimilares.

Cuba tem sido muito cuidadosa no trato das relações com outros governos e Estados latinoamericanos com regimes econômicos, sociais e políticos diferentes.

Em “La Paz en Colômbia”, Fidel coloca varias amostras dos cuidados nesse plano e também coloca à mostra atitudes prudentes e respeitosas com outras forças revolucionarias da região.

Isto tem sido assim em termos concretos. Mas nem sempre, nem em todos os períodos, casos e circunstâncias.

Mas os cuadros e funcinários dos departamentos da Seção Internacional do PC de Cuba ou do aparato diplomático cubano nem sempre têm todos os cuidados de Fidel.

No período de predomínio do conceito “foquista” (versão reducionista de sua própria e certeira variante guerrilheira)diversas vezes se implementaram métodos ingerencistas, modalidades de recrutamento, pressões indiretas e diretas que conformaram atitudes hegemonistas que, por sua vez, estimularam possições continuistas que fizeram dano a diferentes processos nacionais. Isto também se manifestou em outras circunstâncias.

A tolerância diante da diversidade revolucionaria nem sempre tem acompanhado a política cubana, menos ainda quando se tem expressado criticas ou diferenças significativas em relação ao model vigente em Cuba e os modelos de transição socialistas. Refiro-me a criticas ou divergências desde claras posições de esquerda, revolucionária, socialistas e comunistas.

Os protagonistas das revoluções vitoriosas tendem a ver os demais processos através de suas próprias lentes e experiências e tendem a responder ao assédio imperialista e à hostilidade de outros Estados com essa visão enfiesada, empenhando-se na expansão dessa experiência em forma um tanto mecânica.

Esses fatores alteraram-se em Cuba para fortalecer tendências a instrumentalizar outros movimentos revolucionários em função do interesse e de essa visão.

Posteriormente, a contaminação dogmática teve presença significativa em muitas instâncias do partido e do Estado Cubano, gerando diversos graus de tolerância e a conseqüente penalização da não-coincidência.

Dirigentes, cuadros, militantes e organizações revolucionárias, históricas e firmemente solidárias com a revolução cubana (como os/as que mais), mas não incondicionais e sim com capacidade e valor critico, têm sido progressivamente marginalizados/as, excluídos/as de determinados cenários e inclusive desqualificados com opiniões não verídicas e estigmatizações injustas....pelo fato de propor uma visão diferente sobre a construção do socialismo, as relações partido-estado, o tipo de democracia, os processos de burocratização e dogmatização, e as políticas implementadas em um outra vertente.
Digo-o por experiência própria e também alheia.
A direção revolucionária cubana tem muitos méritos, virtudes e acertos. Mas na realidade não é certo considerá-la infalível ou dar 100 em todas as matérias.

Nas relações de amizade, cooperação e solidariedade têm-se cometido erros significativos que não se deveriam deixar de lado na hora de avaliar.

Não faltam excessivas preferências das relações de Estado e de governo sobre – e àsvezes em detrimento – de relações solidárias com as forças revolucionárias dos países com os quais Cuba mantém vínculos oficiais e de outra índole de Governo a Governo.

A prioridade política desde a ótica revolucionária, freqüentemente se inverte, principalmente se as organizações revolucionárias confrontam-se com esses governos.

A tendência a valorizar os demais governos e partidos pela atitude que tem diante de Cuba predomina, muitas vezes, sobre suas características políticas e ideológicas negativas e sobre suas nefastas práticas de governo para com seus países.

Isto quase sempre desencadeia de fato pressões e distanciamentos notávies entre atores revolucionários de ambos países e, geralmente do mais forte para o mais fraco, que tende a perder comedimento e delicadeza. Também isto tem acontecido na política e instituições de Cuba encarregadas das relações internacionais.

Creio que, em diferentes graus, segundo os temas e períodos, muitas destas reações e posicionamentos deram lugar a inconseqüências, enfoques e posturar não acertadas em relação às FARC e ao processo colombiano.

Guerras curtas e guerras prolongadas

É verdade que as circunstâncias da guerra revolucionária em Cuba foram muito diferentes à da Colômbia. E por isso mesmo não acredito que seja um dos fatores que motivam as contradições reais entre a direção cubana e as FARC, a diferença de critério sobre a duração da guerra popular, como acredito também que nenhum líder revolucionário deseja prolongar a insurgência armada so por prolongá-la. Os tempos variam por que as condições são distintas.

No caso das FARC, como do ELN, não se trata de uma determinação caprichosa, de um critério pré-determinado à margem e às condições e circunstâncias em que se desenvolvem suas lutas, de um interesse de permanecer em armas nas montanhas mais tempo do que o necessário. É um dado da realidade, uma situação imposta por circunstâncias específicas.

A disposição, o preparo mental e logístico para combater por um longo período geralmente se deriva da análise da correlação de forças, da natureza do regime opressor, da magnitude da guerra desatada desde o poder e do apoio externo que a oligarquia e a partidocracia dominante possam receber.

Enfrentar militarmente o regime de Batista ou de Somoza não era o mesmo que dar inicio à luta armada a partir da guerra suja desatada pela oligarquia conservadora colombiana e posteriormente reforçada.

Não é o mesmo a insurgência armada antes ou depois da vitória cubana, nem depois da intervenção na República Dominicana.

Posteriormente, o inimigo desenvolveu o conceito e as técnicas de contra-insurgência a níveis incríveis, desenhou as guerras de baixa e media intensidade e o imperialimo norteamericano decidiu potenciar várias formas de intervenção militar e renovadas gerações de armamentos.

A Colômbia se encontra numa das piores situações para resistir.

Por isso pode-se estar de acordo com o tipo de insurgência cubana em sua situação específica e também com as características da guerra popular na Colômbia, uma com desenlace vitorioso de curto prazo e outra de longuíssima duração e ainda dependendo de uma decisão final. Não creio que haja de contrapor estes processos e derivar contradições donde realmente não as há.

A esse tipo de luta, como a qualquer outro, não se lhe pode pôr prazo, ainda que seja natural preferir o desenlace triunfal a curto prazo. Definitivamente isto não depende da vontade e do desejo de seus protagonistas e condutores. Tampouco o determina uma concepção específica desligada da realidade.

A cadeira vazia

Deixar a cadeira do comandante Manuel Marulanda vazia no ato de inauguração dos diálogos de El Caguán não foi necessariamente um erro, nem revela desprezo pelo diálogo e a negociação.

Assim como Fidel, creio que Marulanda foi um dirigente de grande honestidade, sagacidade política, inteligência e genialidade militar. Portanto, não precisava mentir para explicar sua ausência nessa cerimônia, muito menos atuar sem jeito para dar vantagens ou criar situações aproveitáveis pelo Presidente Pastrana.

Se, nessa ocasião falou de conspiração para matar a ele e Pastrana, foi porque tinha informações fundamentadas.

Fui convidado e cheguei atrasado a essa atividade porque houve atraso com os vistos. José Arbesú já tinha ido, mas estive com o comandante do FMLN, Leonel González, com o Secretário Geral do PC Argentino, Patrício Echegaray, com a dirigente comunista uruguaia, Maria Arismendy, com Raúl Reyes, Jorge Briceño, Joaquín Gómez e Manuel Marulanda, com outros dirigentes comunistas da América Latina e Caribe e com muitos outros comandantes e combatientes farianos.

Ali passamos vários dias e então foi quando mantive um longo intercâmbio com o camarada Manuel Marulanda, sobre o qual tenho escrito em varias oportunidades.

Recordo que fomos informados da razão pela qual o camarada Manuel não assistiu ao ato. Falou-se do possível atentado e analisaram o tema de sua presença lá ser ou não conveniente já que, devido à fragilidade dos diálogos, deveria-se ponderar muito bem se convinha ou não criar ilusões neles.

A presença do comandante em chefe das FARC poderia criar expectativas acima das possibilidades reais e favorecer certa tergiversação. Entretanto, sempre nós informaram que as noticias de última hora sobre o atentado foram determinantes nessa decisão de não assistir.

Tratou-se de fatos e razões políticas de relevante importância, não de indisposição caprichosa e pré-determinação negativa à negociação. Como prova disto o camarada Manuel, mais adiante, entrevistou-se várias vezes com o presidente Andrés Pastrana.

Os informes para Fidel

Não vou aqui analisar até onde as informações recebidas por Fidel dos seus enviados ou delegados, refletem fielmente, ou não, os conteúdos das conversações destes com os comandantes das FARC.

Também não vou entrar no tema de até onde a mensagem escrita pelo camarada Marcos Calarca, das FARC, reflete exatamente o comunicado dado pelo comandante Marulanda e se trata, ou não, de uma versão quase via cabo.

Quem tem que fazer isso são os candidatos farianos que participaram nas conversações e que conheceram em detalhe o pensamento do camarada Manuel Marulanda sobre o tema em questão.

Lamentavelmente, o líder das FARC está impossibilitado de ver e avaliar o que foi informado a Fidel e o dito por Fidel.

De se ter em conta que com os informes desse tipo, que não são transcrições de gravações, nem versões taquigráficas traduzidas, que por ser resumidos acabam, quase sempre, ficando esquemáticos e/ou incompletos.

Além disso, aquele que escreve sempre coloca sua subjetividade, sua percepção, não necessariamente exata ou fiel ao que se diz ou quis dizer. É comum que passe algo dos seus valores e até dos seus preconceitos.

Comigo tem acontecido diversas vezes e agora me vem na memoria como foi deformada pelos camaradas cubanos uma intervenção que fiz num seminário do PT do México, num debate sobre as experiências socialistas cubana, chinesa, vietnamita e coreana.

O documento sobre o que lá falei chegou à alta direção cubana, especificamente a José Ramón Balaguer, que era o responsável ideológico e de ralações internacionais do PCC, totalmente distorcida e isso contribuiu com o esfriamento de nossas relações.

Não digo que tenha sido assim no caso do intercâmbio colombo-cubano, muito menos com essas características e com essa dimensão, mas quando se usam essas formas de comunicação a possibilidade de inexatidão e de deformação existem e somente os protagonistas diretos desses diálogos podem fazer as correções e observações necessárias.

Desejo de negociação e possibilidade de acordos

Sinceramente penso que nos diálogos de El Caguán não se enfrentaram um Pastrana (ou o governo colombiano) com vontade de negociar e chegar a acordos e um Marulanda (Secretariado das FARC) cético, desconfiado, desinteressado e se negando a chegar a acordos possíveis.

Posso estar errado – não seria a primeira vez – mas essa avaliação das partes é a impressão que me deixaram os testemunhos e avaliações tanto dos companheiros cubanos que participaram das conversações com ambas as partes como o próprio companheiro Fidel. Percebi em seus escritos que achavam que o presidente colombiano estava com melhor disposição para os diálogos do que a comandância fariana e o próprio Marulanda.

Acredito como já disse antes, que realmente não foi assim.

Entendo que, intimamente, ambas as partes sabiam que era praticamente impossível que esses diálogos dessem frutos concretos para a superação do conflito armado; isto é, que concluíssem com um desenlace exitoso para cada parte e num acordo benéfico para o país.

No fundo de suas almas – e não estavam errados – sabiam que qualquer acordo implicava em grandes vantagens para uma das partes, devido à essência narco-paramilitar-terrorista do Estado colombiano, as características da oligarquia e da direita colombiana, e aos níveis da intervenção militar estadounidense nesse país incluídos os planos militares do Pentágono relacionados com a conquista da Amazônia.

Ambos sabiam disso, mas a ambos convinha politicamente abrir esses diálogos e mostrar-se a favor da ansiada paz.

Nos diálogos de El Caguán houve, de ambas as partes, muito embate de jogadas políticas dirigidas a ganhar tempo e espaço político. Mas ambas estavam convencidas de que razões estruturais relacionadas com a natureza do poder e da dominação na Colômbia impediam produzir acordos mutuamente vantajosos e significativos, inclusive um acordo “suis gênesis”, que, ao que parece, era uma das convicções e das sugestões de Fidel. Ao final de contas Pastrana não podia botar de lado o poder real em que estava sustentada sua presidência.

E digo que parece porque, ainda que disso fale-se no livro, nele não se incluiu o texto integral da mensagem enviada por Fidel, através de Arvesú, sobre esse e outros aspectos. Outros informes e mensagens foram incluídos textualmente, mas desse só aparecem alussões parciais do seu conteúdo.

O artigo encontra-se em ABP Notícias.

MOÇÃO CONTRA AÇÃO VIOLENTA DA POLÍCIA DURANTE MANIFESTAÇÃO DO PETRÓLEO NO RIO

Para assinar essa moção, mande um e-mail para APN: agencia@apn.org.br

As entidades abaixo assinadas vêm repudiar a violenta e desastrosa ação da polícia militar e da guarda municipal do Rio de Janeiro, que deixou cerca de 50 feridos e três pessoas detidas durante uma manifestação pacífica, por volta de meio dia, da quinta-feira dia 18/12, na Avenida Rio Branco, em protesto contra a 10ª Rodada de Licitação do Petróleo.

Depois de receberem uma ordem de despejo na noite do dia 17 para desocupar o Edifício Sede da Petrobrás, as 500 pessoas presentes na manifestação retornaram na manhã do dia 17, para a Candelária, que fica perto da Agência Nacional do Petróleo (ANP), responsável pela realização dos leilões das áreas petrolíferas. Em seguida, a manifestação prosseguiria pela Avenida Rio Branco, em direção à Cinelândia.

A violenta reação da Polícia Militar e da Guarda Municipal surpreendeu os manifestantes que foram espancados durante toda a caminhada pela Avenida Rio Branco. Até agora os organizadores da manifestação, convocada pelo Fórum Nacional contra a Privatização do Petróleo e Gás, que reúne dezenas de entidades, confirmam a detenção de três pessoas: Emanuel Cancella, coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ); Gualberto Tinoco (Piteu), da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas): Thaigo Lúcio Costa, estudante de jornalismo da Universidade de Santa Cecília, de Santos. Dentre os feridos, esteve hospitalizado, com um corte na cabeça, no Souza Aguiar, o diretor do Sindipetro-RJ Eduardo Henrique Soares da Costa. Um militante do MST quebrou o braço, ao ser espancado pela PM
Desde a ordem de despejo, vinda da presidência da Petrobrás os manifestantes sentiram a animosidade das forças de repressão, mas não esperavam ação tão agressiva, contra uma simples manifestação de protesto.

A ação absurda da polícia remonta à sombria época da ditadura militar, impedindo a liberdade de manifestação e o democrático direito de defesa da soberania nacional e dos recursos naturais brasileiros. Por esse motivo repudiamos a ação violenta da polícia e exigimos imediato fim da criminalização dos movimentos sociais.




Sindipetro-RJ
Sindipetro-Litoral Paulista
MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra)
MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados)
FIST (Federação Internacionalista dos Sem Teto)
FOE (Frente de Oposição de Esquerda da União Nacional dos Estudantes)
Conlutas
Intersindical
CUT
Federação Única dos Petroleiros (FUP)
Frente Nacional dos Petroleiros (FNP)
Centro Estudantil de Santos
Movimentos de estudantes secundaristas do Rio de Janeiro

CELA- Centro de Estudos Latino Americano
Agência de Notícias Nova Colômbia - Anncol Brasil

Pela criação da "Ordem do Sapato"

Muntazar al-Seidi ficou sem os seus sapatos, mas passou à história pelo gesto valente de vingar moralmente aqueles que perderam muito mais do que isso numa guerra criminosa.

Deveria ser criada a Ordem do Sapato pelas ordens e sindicatos de jornalistas para demonstrar que não são bajuladores dos grandes interesses agressores e exploradores dos seus povos.

Bush foi ao Iraque como um delinquente que volta ao local do crime para ufanar-se por haver destruído um país inocente.

Todas as guerras travadas pelo imperialismo ianque foram originadas por erros friamente calculados, desde a ocupação e apropriação da metade do território do México em meados do século XIX até o apoio militar aos talibans e a Sadddam Hussein em décadas passadas.

Para apropriar-se de Cuba, Porto Rico e Filipinas, os EUA explodiram o navio Maine a fim declarar guerra a Espanha em 1898, acusada de sabotagem, quando já havia sido derrotada pelos patriotas cubanos.

Pearl Harbor foi bombardeada pelo Japão na II Guerra Mundial, apesar de Washington estar informada do ataque 24 horas antes através dos seus diplomatas e espiões.

Os erros criminosos induzidos ou aproveitados tiveram a sua máxima expressão na ainda não esclarecida destruição das torres gémeas de Nova York, ponto de partida da terrorista Guerra contra o Terrorismo.

Os crimes de guerra estão penalizados severamente, até com a pena capital, e a desculpa do erro é um agravante quando, reconhecendo-o, se continua o genocídio.

As sapatadas de El Nazional são, ironicamente, contra o povo soberano que se liberta de dois impérios, o da opressão que sempre impôs ditaduras militares e civis repressivas, e o da mentira mediática a que serve esse jornal.

Os iraquianos devem estar orgulhosos por terem jornalistas valentes que dão a cara pelo seu povo frente aos opressores do seu país, assassinos de um milhão dos seus compatriotas.

Israel tem mais de 11 mil presos políticos palestinos nos seus cárceres e muito poucos jornalistas no mundo fazem campanhas pela sua liberdade. Por que será?

Há meios de comunicação na América Latina que mentem sistematicamente para desacreditar candidatos presidenciais, ao inventar que Chávez os financia, o que utilizam como arma política no Peru, Colômbia, Panamá, El Salvador e Guatemala.

Agora se diz que é verdade que o Iraque tem mocassins de destruição maciça.

Que dirão agora os media submissos quanto à exclusão dos EUA da nova Organização de Estados Latino-Americanos e do Caribe?

Cuba regressou dignamente aonde sempre pertenceu e de onde nunca deveria ter sido excluída.

Será a primeira vez que um par de sapatos será convertida em peça de museus.

Com Bush e Cheney desaparece uma espécie de selvagem que fez da morte e da tortura um negócio detestável e um ritual abominável. Mas restam os seus padrinhos.

Com Obama, nem fatalismo nem ilusões. Só a luta dos povos mudará a história.

A honestidade informativa baseia-se na verdade e esta nos factos reais.

Não há pior liberdade que a de difamar impunemente.

No Paraguai, o fascismo disfarça-se de protesto contra a luta de classes que a oligarquia sempre praticou de forma selvagem contra os mais pobres e os revolucionários.

Não é Chávez que os deixa loucos. É a democracia participativa do povo o que não suportam.

[*] Embaixador da República Bolivariana da Venezuela na Bielorússia.

O artigo encontra-se em Resistir.info.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

VERGONHA: Militantes são espancados e presos em protesto no Rio contra leilão do petróleo

Por ordem da ANP, militantes são espancados e presos durante manifestação no Rio contra leilão

Cerca de 50 feridos e três pessoas detidas. Esse é o saldo – até agora computado - deixado pela violenta reação da Polícia Militar do Rio de Janeiro e da Guarda Municipal, durante uma manifestação pacífica, por volta de meio dia, nesta quinta, 18, na Avenida Rio Branco, em protesto contra a 10ª Rodada de Licitação do Petróleo.



Depois de receberem uma ordem de despejo, ontem à noite (17) para desocupar o Edifício Sede da Petrobrás, no Rio, os manifestantes – cerca de 500 pessoas - dirigiram-se para a Candelária, que fica perto da Agência Nacional do Petróleo (ANP), responsável pela realização dos leilões das áreas petrolíferas. Em seguida, a manifestação prosseguiu pela Avenida Rio Branco, em direção à Cinelândia.

A violenta reação da Polícia Militar e da Guarda Municipal surpreendeu os manifestantes que foram espancados durante toda a caminhada pela Avenida Rio Branco. Até agora os organizadores da manifestação, convocada pelo Fórum Nacional contra a Privatização do Petróleo e Gás, que reúne dezenas de entidades, confirmam a detenção de três pessoas: Emanuel Cancella, coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ); Gualberto Tinoco (Piteu), da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas): Thiago Lúcio Costa, estudante de jornalismo da Universidade de Santa Cecília, de Santos. Dentre os feridos, está hospitalizado, com um corte na cabeça, no Souza Aguiar, o diretor do Sindipetro-RJ Eduardo Henrique Soares da Costa. Um militante do MST quebrou o braço, ao ser espancado pela PM. As entidades que compõem o Fórum ainda estão fazendo o levantamento do número de feridos e estão tentando localizá-los. Muitos ainda não foram encontrados.

Desde a ordem de despejo, vinda da presidência da Petrobrás, ontem à noite, os manifestantes sentiram a animosidade das forças de repressão, mas não esperavam ação tão agressiva, contra uma simples manifestação de protesto. Um dos detidos, o coordenador do Sindipetro-RJ, Emanuel Cancella, declarou:


“Nós acabamos de viver um momento que remonta à sombria época da ditadura militar. O Capitão Moreira me deu ordem de prisão, mesmo eu dizendo que era advogado. Ele bateu muito em mim. Algemou o Pitel e o estudante e os policiais feriram gravemente nosso companheiro Eduardo Henrique”. Emanuel Cancella está com um braço fraturado e costelas. Por de 14 horas estava concluindo o seu depoimento na 1ª DP, na Rua Relação, 42. Logo seria encaminhado para exame de corpo delito. A partir das 14h30, a Rádio Petroleira transmitirá flashes ao vivo.


Participavam da manifestação no Rio, parte de uma jornada de Lutas pela suspensão do leilão do petróleo, iniciada desde o dia 14 – no dia 15, houve a ocupação do Ministério das Minas e Energia, em Brasília, pela Via Campesina e petroleiros – representantes de dezenas de entidades que compõem o Fórum, dentre as quais: Sindipetro-RJ, Sindipetro-Litoral Paulista, MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) , MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados), FIST (Federação Internacionalista dos Sem Teto), FOE (Frente de Oposição de Esquerda da União Nacional dos Estudantes), as centrais sindicais Conlutas, Intersindical e CUT, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a Frente Nacional dos Petroleiros (FNP), o Centro Estudantil de Santos, movimentos de estudantes secundaristas do Rio de Janeiro. A campanha “O Petróleo Tem que ser nosso” continua.

A notícia encontra-se em APN-Agência Petroleira de Notícias


O PETRÓLEO TEM QUE SER NOSSO!

SOBERANIA NÃO SE NEGOCIA!

NEM UM PASSO ATRÁS!






Comentando “A Paz na Colômbia”, de Fidel


por Narciso Isa Conde – Presidente da Coordenação Continental Bolivariana, CCB.

(Parte I) Acredito ser muito importante o comandante Fidel Castro tenha publicado seu recente livro “A Paz na Colômbia”, revelador não só de valiosas informações sobre as relações cubano-colombianas de diferentes índoles e sobre esse e outros processos, mas, principalmente de aspectos muito singulares e importantes das suas convicções, concepções e iniciativas como estadista e líder político de destaque da nossa América e do mundo.

As informações, idéias e valores existentes neste texto possibilitam desenvolver com maior profundidade o debate sobre a história recente das lutas na Colômbia e a sua importância para o continente, sobre as razões de ser da insurgência revolucionária nesse país e seus vínculos com Cuba e nossa América, acerca das posições do Partido Comunista de Cuba a respeito de determinados governos, Estados e movimentos revolucionários da Colômbia e do continente, sobre as ponderações do próprio Fidel a respeito do papel do comandante Manuel Marulanda e as FARC-EP, e em torno dos transcendentais problemas da solidariedade revolucionária, as relações intergovernamentais, a independência e/ou dependência das organizações revolucionárias em relação aos Estados e sobre as tendências hegemônicas no contexto da cooperação e a solidariedade.

O conteúdo deste livro transcende o tema colombiano para incursionar e provocar sérias reflexões a propósito das relações e razões de Estados e de governos, sobre os vínculos entre forças revolucionárias, a política diplomática e suas contradições a respeito da revolução além das próprias fronteiras, isto é, como processo continental e mundial.

Com pano de fundo traz temas como o da fusão e/ou separação dos papeis do Estado, governo, partidos revolucionários e os movimentos sociais, como o impacto das experiências revolucionarias particulares sobre os seus protagonistas e a presença de certas tendências ao ver outros processos através do condicionado foco nacional, como o dos vínculos entre hegemonia e continuísmo, entre independência e solidariedade, entre o impacto e as tensões de uma visão cubano-centrista e o necessário reconhecimento em profundidade da diversidade de vias, métodos e alternativas revolucionarias.

Esta transcendência do estritamente colombo - cubano é que me motivou a escrever estas linhas, não sem deixar de reconhecer que também senti a obrigação de dar a conhecer, em relação com as informações e apreciações expostas por Fidel, minhas vivencias e comentários políticos sobre posições e atitudes sustentadas pelas FARC-EP, ELN, o governo de Andrés Pastrana e outros temas de interesse, incluídos alguns relacionados com o regime de Uribe, a atualidade colombiana e continental.

O último parece-me necessário justamente pela posição que historicamente – e no presente – tenho assumido não somente a respeito do Estado narco-paramilitar-terrorista da Colômbia e aos seus diferentes governos, mas também em torno da solidariedade
Incomovível com as forças insurgentes e com toda a esquerda colombiana, assim como o meu apreço e defesa da revolução cubana como pioneira da segunda independência, impactante manifestação da heresia revolucionaria, expressão elevada do novo antiimperialismo, valioso e inconcluso processo de orientação socialista.


Os livros de Alape e o testemunho de Jacobo Arenas

Parabénizo Fidel do fundo do coração que incluiu de forma tão relevante na sua recente obra amplos parágrafos dos valiosos livros, relativamente pouco conhecidos, “Cuadernos de Campaña” e “Tiro Fijo: los sueños y las montañas”, de Arturo Alape e o “Diário de la Resistencia de Marquetalia”, do comandante Jacobo Arenas, que elevam, desde a sua imensa humanidade, o grande talento político e militar, as firmes convicções revolucionarias e a militância comunista exemplar de nosso inesquecível Manuel Marulanda Vélez.

Sentia-se falta que uma voz tão autorizada e influente em Cuba, na América e no mundo, de tanto valor ético e impacto político, recuperaram para todo o movimento revolucionário mundial e difundisse desde tão alta e lida tribuna esses belos e substanciais textos sobre a vida e as lutas de um dos mais destacados e formidáveis comandantes guerrilheiros que, sem duvida, fez história e se converteu em lenda desde a sua condição de combatente e condutor, durante 60 anos ininterruptos, de uma das mais longa e heróica rebeldia pela causa da liberdade, do socialismo e da emancipação do povo colombiano e de todos os povos do mundo.

Sentia-se muita falta, principalmente porque, desde faz muitos anos a figura de Manuel Marulanda e a organização que liderou, tem sido submetida a mais perversa e mentirosa campanha de descrédito que movimento revolucionário algum tenha sofrido.

Os estigmas da fatura imperialista, qualificando a Marulanda e às FARC de “terroristas”, “narco-terroristas”, “bandidos”..., repetidos à exaustão por poderosos meios, calaram tão fundo e fizeram tanto dano que terminaram contaminando amplos setores políticos, incluindo uma considerável parte das esquerdas e forças progressistas do continente.

As debilidades da posição cubana diante do processo colombiano e a questionável atitude de parte da esquerda do continente.

Entendo que a direção cubana não fez o jogo dessas maledicências públicas, mas não foi suficientemente consistente, firme e enérgica em ajudar a desmenti-las categoricamente como agora o fez Fidel.

Ainda mais, aprecio que as boas relações do governo de Cuba com o da Colômbia – descritas em alguns de seus aspectos e situações pelo próprio Fidel, reforçadas e continuadas até o presente mediante determinados acordos de cooperação e vínculos políticos – deram lugar a longos silêncios e débeis reações desde a parte cubana, tanto diante dessa campanha caluniosa como em relação à natureza mafiosa do Estado colombiano e os mal feitos de seus governos. Isto se acentuou durante os recentes períodos de Uribe Vélez, o mais pérfido, narco-paramilitar e terrorista de todos os governos recentes.

Por um longo tempo de governo, a liderança do partido e as organizações sociais de Cuba diminuíram sua beligerância política diante do sistema dominante na Colômbia, apesar do seu acentuado caráter oligárquico, pro - imperialista e repressivo; apesar dos altíssimos graus de corrupção de suas instituições civis e militares e de sua transformação numa espécie de narco-estado administrados por verdadeiros narco-governos... apesar do seu altíssimo grau de criminalidade.

O Plano Colômbia - Iniciativa, o Plano Patriota, as novas e recentes modalidades da “guerra suja” iniciada em 1948 e a crescente intervenção norte-americana neste país propiciada pelos presidentes Andrés Pastrana e Álvaro Uribe, passaram a ser temas marginais quando não quase invisíveis na agenda cubana.

Da mesma forma minguou progressivamente a linha solidária cubana com o movimento insurgente, apesar de ser um dos mais legítimos e fortes do continente, enquanto cresceu a política de cooperação econômica, a distensão bilateral entre os governos e os acordos bilaterais entre Estados; o que se transladou à conduta da força política dirigente e todas as esferas organizadas da sociedade civil cubana.

Em boa medida desde o PC de Cuba, desde as organizações populares e as instancias de solidariedade da sociedade cubana, não se expressavam nem se expressam pronunciamentos e ações de apoio militante à insurgência e à oposição de esquerda e progressista para além do apoio aos diálogos, às tentativas de solução negociada ao conflito armado, aos acordos humanitários e às iniciativas de paz.

Inclusive não faltaram declarações do Chanceler cubano do momento e do próprio Fidel considerando não pertinente a luta armada na Colômbia, afetando dessa forma a posição de organizações político-militares e sua razão de ser.

O tom de beligerância só subia ocasionalmente quando o governo colombiano da vez exibia atitudes de hostilidade contra o governo e à revolução de Cuba. Esse foi mais precisamente o caso do governo de Turbay Ayala, que deu lugar a uma enérgica e combativa declaração da Chancelaria cubana, incluída no livro de Fidel que estamos comentado.

Enquanto ao posicionamento político, um significativo silêncio oficial e partidarista cubano acompanhou o período posterior ao bombardeio criminoso do regime de Uribe contra o acampamento de Raúl Reyes. Além disso, nem ao comandante Reyes nem a Manuel Marulanda se fizeram as merecidas homenagens, salvo as opiniões vertidas por Fidel nas suas “Reflexões”. Tampouco se sentiu a reação esperada contra o governo de Álvaro Uribe, que em estreita aliança com os falcões norte-americanos e o tenebroso regime israelense, perpetrou essa e outras ações desprezíveis.

Tomara que as ponderações feitas por Fidel no seu novo livro ajudem a recuperar a linha de solidariedade do Partido Comunista de Cuba, das organizações sociais e das instancias de solidariedade cubana para com as forças alternativas colombianas, insurgentes e não insurgentes.

Por outro lado – e com motivos e causas distintas das do PC de Cuba – as atitudes de uma parte importante da esquerda latino-caribenha fora do poder em relação ao tema colombiano, declinaram aceleradamente na mesma magnitude que a sua evidente guinada para a direita; registrando-se posicionamentos realmente oportunistas e até pusilânimes em relação à insurgência colombiana e especialmente diante das FARC.

A chantagem da direita colombiana e da administração Bush, o impacto da feroz campanha midiática, unida ao evidente debilitamento ideológico dessas forças (a sua escorregada para posições moderadas e pro-sistémicas), as levou a renegar totalmente a luta armada e a se distanciar dos movimentos político-militares e de tudo que cheira a pólvora ou expressara certa radicalidade.

Entre os que tomaram esse rumo houve os que se esforçaram em excluir as FARC dos espaços de coordenação onde participavam.

Relembro como a alta direção do PT brasileiro, setores hegemônicos na Frente Ampla do Uruguai e a alta direção do PRD mexicano, entre outras organizações, empenharam-se em excluir as FARC do Foro de São Paulo, valendo-se da existência de uma espécie de direito a veto no seio do seu Grupo de Trabalho ou equipe de coordenação.

Na realidade, as posições do Partido Comunista de Cuba nunca chegaram a ser expressas até esse penoso nível de inconsistência. É que as causas das debilidades da posição cubana diante do processo colombiano são realmente distintas das que produziram essa lamentável atitude dessa parte moderada das esquerdas fora do poder.

Nestas últimas predominou uma linha intensamente reformista, uma acentuada renuncia ao projeto revolucionário, uma espécie de acomodamento institucional e sistêmico, uma profunda crise de identidade, uma marcada tendência social-democrata e à social sem-vergonhisse e inclusive a não transbordar os limites de um neoliberalismo “light”. Acreditaram na estória do “fim da história” e ficaram permeáveis à ideologia dominante.

O caso cubano é outro.

Em Cuba há um problema estrutural que, sem duvida limita, amarra e impede o necessário desdobramento entre a política de Estado e de governo e a política do partido revolucionário e as organizações sociais, entre a coexistência e cooperação com Estados ao serviço da grande burguesia dependente e o necessário internacionalismo revolucionário.

Refiro-me à fusão do partido com o Estado e o governo, à superposição de funções; e ao controle do Estado e o partido sobre todo o sistema de organizações sociais, meios de comunicação e espaços de relações e solidariedade internacional.

Os cargos de direção do governo desde o mais alto ao mais baixo nível, confundem-se com os cargos no partido.

O órgão do partido é o órgão da política oficial.

A política exterior do governo é em alto grau a política exterior do partido.

A razão do Estado pesa sobre tudo, arrasta e impõe condicionamentos onerosos.

As fronteiras entre o diplomático e o político-revolucionário não estão devidamente delimitadas.

Isto tem a ver com o modelo estatizante vigente, que tende a gravitar negativamente com força e cada vez mais e que, com o passar dos anos, gera burocratização, dogmatização e rigidez o que leva a uniformizar a política exterior do governo e do partido.

Fidel, que provavelmente foi um dos lideres que mais se esforçou para combinar o seu papel de estadista com a sua vocação revolucionária e que de qualquer maneira não está isento dos condicionamentos assinalados. Ele mesmo confessa quando escreve:

“Enquanto ao fornecimento de armas aos revolucionários, nos limitávamos ao caráter beligerante ou não dos governos dos paises irmãos em relação a Cuba”. (La Paz Colombiana, pág.126).

Quer dizer que o determinante é a atitude dos governos em relação ao Estado cubano, independendo da natureza desses governos, do seu caráter opressor, da repressão e da exploração que exerciam contra seus próprios povos, da sua degradação política e moral.

E isto realmente não se limita ao fornecimento de armas, mas a muitas vertentes de solidariedade com os movimentos revolucionários desses países. Prima o nível de tolerância de suas ações pelos governos da vez em seus respectivos países e o nível de tolerância desses governos ao tipo de solidariedade externa, o que reduz sensivelmente o perfil do apoio político cubano.

É verdade que para Cuba o problema tem-se tornado mais difícil e complexo pela necessidade que teve – e tem – de romper o criminoso isolamento e o bloqueio imposto pelos EEUU.

Mas, novamente temos que fazer referência ao fato de que o modelo estatizante e a situação estrutural e institucional assinalada, diminuem a flexibilidade dos órgãos dirigentes para poder combinar ambas as linhas de trabalho e necessidades políticas desde instâncias diferenciadas.

Além do mais, em casos como o colombiano, convertido seu Estado e governo em crias perversas, é válido e necessário, sem derrubar linhas de relações interestatais com outros países, contribuir ativamente ao seu isolamento e derrota, ao triunfo do cambio revolucionário e/ou progressista.

Não são necessários outros exemplos, em relação a outros países e situações, onde se tem incorrido em falhas significativas parecidas em quanto à necessária solidariedade.

Destaca-se também a forma constante de contraste – e todas as informações oferecidas por Fidel em relação ao processo centro-americano no final dos anos 70 e 80 confirmam este acerto – o extraordinariamente positivo da aplicação desses casos de políticas certeiras carregadas de dignidade e solidariedade revolucionaria.

Outra questão que tem gravitado muito na concepção de Fidel sobre o processo revolucionário continental e mundial, é o que ao meu entender é uma supervalorização – possivelmente influenciada pelo drama que representou para Cuba – do impacto negativo da derrubada do chamado socialismo real e da desintegração da URSS.

Parece como se depois disso o recolhimento da linha de subversão revolucionaria deveria ser obrigatório e de longuíssima duração, e como se qualquer insurgência que se propusera mudar a essência do sistema estaria impedida de fazê-lo pelo enorme peso da “uni polaridade militar” a favor do imperialismo norte-americano. Daí a frase “outra Cuba não é possível”, junto a algo que se assemelha a uma visão marcadamente possibilista.

E penso que isso não é assim, apesar de todas as adversidades criadas por esse cataclismo político. Vejamos:

- As FARC e o ELN puderam crescer muitíssimo depois desses acontecimentos.

- Hugo Chávez e os militares bolivarianos da Venezuela levantaram-se em armas e produziram um cambio formidável na correlação de forças.

- O EZLN irrompeu com uma insurreição muito original, para criar uma nova situação no México, necessitando ainda de um desenlace maior.

- A insurgência social indígena sem armas de fogo converteu-se num fator transformador, num grande acumulo subversivo.

- O povo se tem lançado a derrubar presidentes na véspera das eleições, criando situações novíssimas que possibilitam substituir instituições decadentes e criar nova institucionalidade.

- Muitas vezes o armamento para vencer a repressão e avançar tem falhado.

- As mudanças progressistas por eleições não tem estado à margem de tudo isto. Melhor dizendo, são conseqüência dessas lutas extra-institucionais que, por carecer de acumulação militar, impõem-lhe certos limites que o impedem produzir mudanças mais radicais.

A onda é ampla, têm estigma continental e quanto mais potente e mais integral seja o acumulo de forças pela mudança, mais profundos e extensos podem ser seus resultados. Tudo isto tem mais sentido e maiores possibilidades em meio de uma grande crise que estremece a ordem capitalista mundial.

Em tais condições, onde há construção significativa de forças militares alternativas, não me parece correto pactuar para ficar à margem do poder, aceitando a hegemonia da direita e das classes dominante-governantes como novo consenso e modalidades.

O artigo (em espanhol) encontra-se em ABP Notícias.