"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 30 de novembro de 2014

Leonardo Boff: Presidenta Dilma iniciou o diálogo aberto


Uma das principais propostas da recém reeleita Presidenta do país, Dilma Rousseff, começou a se realizar: dialogar aberta e construtivamente com a sociedade e com os diferentes segmentos sociais. Foi assim que no dia 26 de novembro, por quase duas horas, dialogou com representantes do Grupo Emaus, nomeadamente, Frei Betto, Luiz Carlos Susin, Rosileny Schwantes, Maria Helena Arrochellas, Marcia Miranda e Leonardo Boff.

Este grupo, composto por cerca de 40 pessoas que já existe há 40 anos nasceu como resistência à ditadura militar, reunindo intelectuais e religiosos de várias partes do pais para analisarem a conjuntura política e eclesial e traçarem ações concretas junto às bases para acelerar o resgate da democracia, manietada pelo regime ditatorial. O sonho nosso era e é grande: o de gestar um país  que inclua no seu orçamento aqueles que há quinhentos anos estavam à margem.  Entre os presentes havia presos políticos e torturados e praticamente todos vigiados. Mas enfentamos os riscos e as ameças por uma causa maior que implica um país justo e solidário.

O encontro seu de nesta comunhão de espírito: o coração valente da Presidenta que suportou pesadas torturas sem nunca entregar ninguém e nós, de nosso jeito, expusemo-nos pela mesma causa, naquele tempo e agora. Ela logo entendeu o significado de nossa presença, solicitada por nós. Não íamos pedir nada, apenas reforçar sua determinação de seguir na construção do projeto originário do PT, o de criar uma sociedade com menos perversidade e que desse centralidade aos mais pobres e invisíveis, não obstante os contrangimentos da macroeonomia dominante.

Entregamos-lhe um documento  - O Brasil que queremos – com 16 pontos que podem ser lidos no meu blog (
leonardoboff.wordpress.com) onde ressaltam: a reforma do sistema político, tornar o modelo econômico mais social e popular, a promoção da reforma agrária e urbana, a defesa dos direitos dos povos indígenas e quilombolas entre outros.

A conversa transcorreu de forma extremamente franca e jovial, reconhecendo acertos e equívocos. Ressaltamos especialmente a necessidade de a Presidenta  retomar o diálogo com a sociedade, principalmente com os movimentos sociais organizados. Imediatamente foi marcada na próxima semana um encontro com a Coordenação dos Movimentos Sociais e outra com a Coordenação Nacional do Movimento dos Sem Terra.(MST). Todos insistimos em retomar a educação política das bases, dentro da pedagogia de Paulo Freire, em especial dos jovens. Não adianta mostrar apenas obras. Há que se mostrar que elas obedecem a um projeto político do Governo em benefício dos mais necessitados como Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos e outras iniciativas.  Este vínculo de causalidade torna consciente a população e reforça o projeto popular, que precisa ser fortalecido para superar a nossa abissal desigualdade social.

Salientamos a importância de reforçar e ampliar iniciativas de cunho social e ambiental como o projeto “Cultivando Água Boa” implementado pela hidrelétrica de Itaipu, envolvendo um milhão de pessoas que incorporou, mediante uma sistemática educação ecológica (formaram-se mais de 1600 educadores ambientais), recuperando rios, introduzindo a agricultura orgânica, integrando povos indígens e quilombolas e outros tantos benefícios, melhorando a vida das populações e da comunidade de vida. A Presidenta se mostrou entusiasmada pelo projeto que já tem mais de 11 anos  e pelas pessoas que o levam avante, com custos mínimos e em parceria com os 29 municípios lindeiros e de sua eventual implantação em outras hidrelétricas.

Ponto importante foi a educação política dos jovens para que não sejam meros consumidores mas cidadãos críticos e participantes. É um desafio para os grupos das Igrejas que se inserem nos meios populares e ao próprio PT que deve retomar uma ligação orgânica e dialogar e aprender com eles.

A Presidente se mostrou especialmente sensível à questão dos direitos humanos e aos Centros de Referência dos Direitos Humanos, na perspectiva de fortalecer iniciativas comprovadamente sérias que estão acontecendo em todo o nosso país.

A questão ecológica foi considerada tão importante e complexa que merecerá um outro encontro específico.

Nada pedimos. Não nos moveram interesses corporativos ou pessoais. Apenas oferecemos nossos préstimos, caso sejam solicitados pela Presidenta. Ela se mostrou comovida e aberta a outros encontros mais sistemáticos, pois se deu conta de nossa vontade de colaboração na construção de uma sociedade mais humana, mais justa e cooperatiava, onde seja menos difícil a vontade de transformação social e o amor humano entre todos.
(*) Leonardo Boff, ecoteólogo e escritor

sábado, 29 de novembro de 2014

Noam Chomsky visita Julian Assange na embaixada do Equador


Wikileaks
Cyberativista vive na embaixada do país em Londres desde 2012
Da redação

O ativista e fundador do Wikileaks Julian Assange recebeu nesta terça-feira (25) a visita do filósofo estadunidense Noam Chomsky na embaixada do Equador, em Londres, onde o australiano está exilado há mais de dois anos.

Na última sexta-feira (21) a Justiça da Suécia manteve a ordem de prisão contra o australiano por abuso sexual. Logo que recebeu a informação, a embaixada do Equador, que é vigiada 24 horas por dia pelo governo britânico, ratificou o asilo dado ao cyberativista para “defender sua vida e liberdade”.“Assange e Chomsky contemplam a operação policial contra e embaixada equatoriana em Londres”, publicou o Wikileaks em seu perfil no Twitter.

Vivendo dentro da embaixada desde 2012, Assange pretende participar, por videoconferência, do Encontro Nacional de Governança da Internet que acontecerá em Quito nesta quinta-feira (27). No final do evento ele deve publicar um artigo intitulado "O que implica a governança da internet para a América Latina?"

http://www.brasildefato.com.br/node/30645




"O grande desafio é seguir lutando por reformas estruturantes", afirma dirigente do MST


Por Iris Pacheco
Da Página do MST

Em entrevista à Página do MST, Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, afirma que o papel da militância social nesta disputa eleitoral foi fundamental para a reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT), e coloca que “os movimentos sociais têm o grande desafio de seguir lutando por reformas estruturantes no Brasil”.


Conceição falou ainda sobre a Reforma Agrária: “junto à luta pela Constituinte Exclusiva manteremos firme nossa luta pela terra e sua democratização do acesso e uso (...) A luta por Reforma Agrária é urgente e necessária, e a presidenta reeleita deve reconhecer esse fato e assentar as mais de 120 mil famílias acampadas pelo Brasil", reforça, ao dizer que "derrotamos o neoliberalismo nas urnas e agora segue a luta para derrotar o latifúndio e o agronegócio”.


Outro debate importante que permeou toda a disputa eleitoral foi a atuação dos meios de comunicação convencionais, que Conceição citou ser a “ditadura da mídia” enfrentada pela presidenta.


“Dilma, que já enfrentou a ditadura militar, nesta campanha teve que enfrentar a ditadura da mídia. Agora reeleita não pode deixar de lado a democratização da mídia. Para construir um país democrático e desenvolvido é preciso avançar no direito à comunicação com ampliação da liberdade de expressão e garantia da diversidade e pluralidade na rádio e TV”.


Confira abaixo a entrevista:


Como você avalia a disputa do segundo turno, que se deu entre dois projetos antagônicos de governo: o neoliberalismo, representando na candidatura de Aécio Neves, e o neodesenvolvimentismo, na candidatura Dilma?

Primeiramente reconhecemos o papel e a força da militância social, que ao ver os dois projetos em jogo, conscientemente foi às ruas e fez a diferença, pois eleição se ganha nas ruas com mutirão popular, com uma militância preparada e um povo organizado para lutar pela democracia.


Neste cenário, em que o palco foram as ruas e as redes sociais, a direita disputou as eleições com todo seu poder, com o capital financeiro dos bancos, do agronegócio e principalmente com a mídia, que cumpriu um papel de construção do ódio a um projeto de mudanças, que tende a beneficiar a classe trabalhadora do Brasil. 


Assim, Dilma, que já enfrentou a ditadura militar, nesta campanha teve que enfrentar a ditadura da mídia.


O que essa disputa significou para os movimentos sociais e a classe trabalhadora do país?

A disputa das eleições foi extremamente acirrada pelo ódio com que a direita queria derrotar o PT e os movimentos sociais. 


Ódio que neste segundo turno ficou ainda mais nítido e se cristalizou na disputa da luta de classes, entre uma mudança que agregue direitos para o povo brasileiro e o programa símbolo do retrocesso neoliberal, que promove as privatizações, terceirização do funcionalismo público e o massacre e criminalização a luta pela terra.


Como você citou, a “ditadura da mídia” apoiou a onda conservadora nessa disputa. De que forma o governo deve atuar para mudar esse cenário? Após as críticas de Dilma à revista Veja, é possível que a democratização da comunicação seja pautada?


A presidenta Dilma, agora reeleita, não pode deixar de lado a democratização da mídia. Para construir um país democrático e desenvolvido é preciso avançar no direito à comunicação, com ampliação da liberdade de expressão e garantia de diversidade e pluralidade na rádio e TV.


O governo deve parar de bancar a Globo e a Veja, que sempre expressaram seu ódio à classe trabalhadora. Este segundo mandato tem que levar adiante o projeto de democratização dos meios de comunicação, pois é inadmissível que o governo gaste 70% de verbas públicas da área da comunicação com esse monopólio, que apenas ataca e demoniza a luta do povo brasileiro com o objetivo de manter seus privilégios.


Os movimentos e organizações sociais já têm a proposta da Lei da Mídia Democrática, um Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP) das Comunicações que questiona essa concentração midiática e reivindica a regulamentação do que diz a Constituição em relação às rádios e TVs brasileiras. 


Não podemos mais ser reféns das poucas famílias que dominam os meios de comunicação e oferecem o serviço da desinformação.


Dilma ganhou por uma pequena margem, e muito devido a setores da esquerda que resolveram apoiá-la neste segundo turno. Esses fatos podem levar a militância do PT e o governo mais à esquerda?

Com esta disputa acirrada coube aos movimentos sociais empunhar suas bandeiras e ir às ruas garantir a vitoria da Dilma, e principalmente ratificar nas urnas o que já tínhamos construído em 2002: a derrota ao neoliberalismo. 


Nesse contexto, os movimentos sociais foram fundamentais, apesar de suas pautas estarem aquém de ser atendidas. Basta observarmos os fracos números da Reforma Agrária durante os quatro anos de governo.


Por isso, seguiremos fazendo luta e pautando nossas reivindicações. Fomos às ruas para ganhar as eleições e sem dúvida pautar a campanha da candidata pela esquerda. 


Agora, seguiremos somando forças e ocupando latifúndios por uma sociedade mais justa e igualitária.


Em seu discurso da vitória, a presidenta Dilma afirmou que não acredita que a disputa das eleições tenha dividido o país, e que busca o diálogo com todos os setores da sociedade. Podemos considerar isso como um indicativo de como será seu segundo mandato?

Na América Latina, a direita segue seu projeto de tentar desestabilizar os governos populares. No Brasil não é diferente. Agora, pós-eleições, pregam que o país está dividido na tentativa de desqualificar o trabalho do governo.


O processo eleitoral foi pedagógico por conta da nítida disputa de classes que ocorreu. Por isso, acredito que a presidenta, ao ver o antagonismo dos dois projetos postos, foi inevitavelmente empurrada um pouco mais para a esquerda. 


Por exemplo, apesar de serem beneficiados pelo atual governo, o agronegócio, enquanto classe, foi para a campanha de Aécio e a derrotou em todos os lados possíveis.


Como seu segundo mandato pode abarcar o anseio de mudanças difuso em todo o país?

A Dilma é democraticamente a presidenta de todos e todas brasileiras. E como tal, esperamos que em seu segundo mandato realize de fato reformas estruturantes que atendam os anseios da classe trabalhadora, dos camponeses, dos estudantes e garantias dos direitos individuais dos LGBTs, das religiões de matrizes africanas, das mulheres, etc.


Para garantir essas bandeiras de luta, a presidenta vai ter que governar com o povo nas ruas, pois o congresso, fisiologista e conservador, pode derrotar seu governo no parlamento, e suas alianças partidárias também não são confiáveis.


No quesito ‘reformas’, a presidenta afirmou que a Reforma Política e o plebiscito por meio de uma consulta popular é sua prioridade para o novo mandato. Como essa reforma pode melhorar a vida do povo?

O plebiscito popular, realizado em setembro, é um movimento vitorioso. Obtivemos 7,7 milhões de votos a favor de um plebiscito por uma reforma constituinte, e a presidenta Dilma assumiu este compromisso.


As reivindicações básicas do povo brasileiro não são atendidas porque a estrutura de poder político do Brasil e suas regras de funcionamento não permitem mudanças profundas. 


Embora tenhamos direito ao voto direto nas eleições, vários elementos influenciam na vitória de candidatos que não estão nem um pouco comprometidos com as necessidades do povo.


Precisamos ter condições de construir uma ampla unidade nacional em torno de um plebiscito oficial por uma constituinte soberana e exclusiva. Por isso, vamos nos organizar, preparar a luta e cobrar dela este compromisso.


Ao mesmo tempo, a Presidenta reeleita sequer citou a Reforma Agrária, e seu programa é vago na questão do campo. Como o Movimento pretende atuar de agora em diante para exigir o avanço desta pauta?

Junto à luta pela Constituinte Exclusiva, manteremos firma nossa luta pela terra e sua democratização do acesso e uso. Seguiremos em busca de garantir a produção de alimentos saudáveis que chegue à mesa do trabalhador da cidade, com baixo custo e que inclusive ajude o governo a conter a inflação dos alimentos.


A Reforma Agrária é urgente e necessária, e a presidenta reeleita deve reconhecer esse fato e assentar as mais de 120 mil famílias acampadas pelo Brasil.


Derrotamos o neoliberalismo nas urnas e agora segue a luta para derrotar o latifúndio e o agronegócio, que não produz alimentos e nem trabalho para a população, não cria oportunidades para a juventude e expulsa os povos do campo para as cidades.


Quais os desafios de agora em diante?

Os movimentos sociais tem o grande desafio de seguir lutando por reformas estruturantes no Brasil. Devemos manter a luta pela terra, seguir construindo o plebiscito popular por uma constituinte exclusiva e exigir do governo a democratização da comunicação.


Também é necessária a reforma do Judiciário, que nos últimos anos tem criminalizado a luta pela terra, paralisado a criação de novos assentamentos ao engavetar os processos, trava as demarcações das terras indígenas e quilombolas e atua como principal conivente na impunidade dos crimes no campo.





sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Sejamos sérios, Santos


O Presidente emprega de mil maneiras a bandeira da solução civilizada ao conflito armado. Manifesta sua devoção por figurar na história como o homem que conseguiu a paz. Repreende, inclusive, os declarados defensores da solução militar. Pactua com a insurgência uma Agenda sobre a qual realizar conversações definitivas. Se ufana dos avanços alcançados e fala de perseverar. Até promove no exterior o pós conflito.


No entanto, sua atitude e seus feitos resultam muito mais reveladores que suas palavras. Só uma ideia parece obcecá-lo, render a insurgência, obrigá-la ao desarmamento, a entrega e a desmobilização. É o único resultado que para ele cabe assimilar com a paz. A Mesa de Havana se revela assim para o governo nacional como o cenário que facilitará a mecânica ordenada da admissão de sua derrota por parte da guerrilha das FARC-EP.
Não o expressam abertamente, porém a estas alturas resulta impossível ocultá-lo. A passagem do tempo, como as correntes, vai revelando o que se esconde sob a água. Basta examinar a conduta e as palavras tanto do Presidente Santos como do senhor De La Calle com relação aos dois casos mais recentes do acionar das FARC em Arauca, com os dois soldados, e no Chocó com o general, para descartar qualquer dúvida a respeito.
O Presidente sempre fanfarronou com o slogan israelense de dialogar como se não houvesse guerra e fazer a guerra como se não houvesse diálogos. Negociar em meio ao conflito tem sido sua posição permanente desde as primeiras aproximações. As regras do jogo que sempre reclamou foram as que nada do que ocorrera nos campos de batalha teria por que afetar o curso das conversações. Impôs inclusive que as conversações de Havana fossem ininterruptas.
Assim ficaram excluídas de entrada no Acordo Geral as possibilidades de congelamentos ou suspensões. O qual não excluiu seu direito a ordenar ao alto mando militar, pelo menos uma ou duas vezes por semana em seus discursos, recrudescer com toda sua força e poder contra as FARC. O Presidente nunca cessou de proclamar-se como o primeiro inimigo nosso, o que mais nos golpeou, o que conseguiu matar meia centena de mandos de todas as categorias.
Assim que nada podia argumentar contra o acionar militar das FARC contra unidades do Exército Nacional, em exercício de suas atividades de guerra e em suas áreas de operações. Porém decidiu fazê-lo, ordenando a suspensão do processo e violando em forma flagrante não só sua própria retórica como também os termos do Acordo Geral. A guerra vale e é aplaudida se provém do Estado, porém se torna condenável se é realizada pelo adversário atacado. A lei do funil.
Pôr como condição para reiniciar um processo suspenso arbitrariamente que a contraparte faça rápida entrega de seus prisioneiros equivale a um sequestro do processo de paz pelo Presidente. E responder, como tem feito a seus críticos, que põem ênfase na importância de combinar um cessar bilateral de fogos para evitar esse tipo de sobressaltos, põe de manifesto que o processo de paz não é mais que um simples instrumento numa estratégia final de guerra.
À resposta afirmativa das FARC que marca, sem dúvida, uma etapa em nosso modo de atuar nesse tipo de situações, o governo nacional corresponde com uma irracionalidade absoluta. Nossos porta-vozes em Havana se reuniram com os enviados de Santos e os garantidores, num gesto que muito poucos avaliam se se tem em conta a suspensão unilateral dos diálogos pelo governo, e de maneira ágil combinaram procedimentos e protocolos para as libertações.
Porém, o governo dispôs paralelamente uma operação militar sem precedentes, que não se detém nem sequer para possibilitar a realização do pactuado entre as duas partes. A militarização do Atrato, os sobrevoos, bombardeios e metralhamentos crescem em ferocidade. Se insiste num resgate pela força, talvez em precipitar uma desgraça que ninguém deseja. Essa é a verdadeira catadura do regime. Não há que chamar-se a mentiras, Santos joga ao mesmo.
Como sucede com a Mesa e o Processo, Santos pactua os protocolos, porém insiste em arrebatar pela força os prisioneiros, obstaculizando objetivamente o cumprimento daqueles. Quer dizer, viola novamente o pactuado. A realidade transbordou as regras do jogo defendidas pelo governo. O Presidente, com sua suspensão, derrubou o tabuleiro onde jogávamos a partida, destruiu a confiança. As coisas não poderão reiniciar-se assim, sem mais nem menos, haverá que fazer diversas considerações.
Que difícil, quão complicado resulta fazer ao Estado colombiano, ao seu governo, as classes no poder compreenderem que o conflito de meio século ao qual buscamos pôr fim com este processo se explica por umas causas que o originaram e o sustentam. E que, entre essas causas, colocando um pouco de lado a iniquidade e as injustiças galopantes no país, a mais destacável é intolerância política, a perseguição declarada contra os que propõem alternativas diferentes ao regime.
A violência oficial, por via militar, policial ou paramilitar, se encontra na base do nosso levantamento armado. Estamos convencidos de que esta guerra não se teria produzido jamais se o crime e a perseguição não se houvessem enfurecido sistematicamente contra os representantes da oposição ao regime oligárquico. Foi tanta e tão reiterada a intenção oficial de aniquilar a inconformidade que se tornou legítimo apelar ao recurso das armas para fazer política.
Ali centramos as FARC o núcleo do processo de paz. Desmontemos todas as formas de violência política em nosso país. A oficial e a insurgente. Reconheçamos as responsabilidades que cabem a elas, ante o mundo, a nação e as vítimas. Façamos até o impossível por ressarcir a estas últimas. Porém abramos definitivamente as portas ao exercício da oposição política a todas as correntes, com plenas garantias, sem excluir a ninguém, pacífica e legalmente.
Ainda no dia de hoje voltam a insistir-nos em mostras de paz, em gestos contundentes que demonstrem nossa vontade de reconciliação. Como se fora pouca coisa ter recebido o enviado do Presidente, depois que [este] nos insulta publicamente e suspende o processo de paz em violação aberta ao acordado. Como se não valesse nada ter continuado conversando apesar, do Presidente ter ordenado o assassinato de nosso Comandante Alfonso Cano
Gestos de paz. O que se torna insustentável é que o Presidente continue se ufanando de matar e matar, enquanto opera com histeria porque se lhe responde com dignidade. Sejamos sérios, Santos.

TIMOLEÓN JIMENEZ
COMANDANTE DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
Montanhas de Colômbia, novembro de 2014.
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BRASIL MISTERIOSO


Stanley Burburinho: Tem muita coisa estranha acontecendo em pouco tempo e sem solução
Até hoje não sabemos e acho que nunca saberemos quem é o dono do jatinho avaliado em R$17 milhões do acidente que matou Eduardo Campos. E o mais curioso é a falta de interesse da velha mídia em querer saber.
A Globo mandou o filho da Miriam Leitão para o Panamá para saber quem era o empregador de José Dirceu num hotel em Brasília, mas não colocou ninguém aqui para saber quem é o dono do jatinho? O PPSB não declarou ao TSE o uso do jatinho usado por Campos e Marina durante a campanha presidencial e ficou tudo por isso mesmo. E não vejo a velha mídia indignada com isso.
Até hoje não sabemos e acho que nunca saberemos quem é o dono da quase meia tonelada de pasta base de cocaína apreendida em helicóptero de um político e não vejo a velha mídia preocupada em saber quem é o dono. E, pasme, o piloto do helicóptero não foi preso. Está solto.
E não vejo a velha mídia indignada com isso.
Delegados da PF da Operação Lava-Jato foram flagrados cometendo mais de um crime: fazendo campanha para Aécio Neves, ofendendo a presidente da República, a chefe a chefe deles, e xingando Lula e alguém vazou depoimentos que deveriam ser sigilosos para a revista Veja, para influenciar na eleição e influenciou.
E não vejo a velha mídia indignada com isso.
http://limpinhoecheiroso.com/2014/11/23/stanley-burburinho-tem-muita-coisa-estranha-acontecendo-em-pouco-tempo-e-sem-solucao/







Putin: Um discurso histórico


Por Atilio Borón
Há discursos que sintetizam uma época. O que Winston Churchill pronunciou no Westminter College, em Missouri, em março de 1946, é um deles. Ali popularizou a expressão “cortina de ferro” para caracterizar a política da União Soviética na Europa e, segundo alguns historiadores, marcou com essa frase o início da Guerra Fria.
Antes, em abril de 1917, um breve discurso de Lênin ao chegar de seu exílio suíço à Estação Finlândia de São Petersburgo, anunciava, ante a surpresa de sua entusiasta audiência animada pelos acordes da Marselhesa, que a humanidade estava parindo uma nova etapa histórica, prognóstico que haveria de confirmar-se em Outubro com o triunfo da Revolução Russa.
Em Nuestra América, um papel semelhante cumpriu “A história me absolverá”, o célebre alegado com que, em 1953, o jovem Fidel Castro Ruz se defendeu das acusações do ditador cubano Fulgêncio Batista pelo assalto ao Quartel Moncada. Nesta linha haveria que agregar o discurso pronunciado por Vladimir Putin a 24 de outubro deste ano no marco do XI Encontro Internacional de Valdai, uma associação de políticos, intelectuais e governantes que anualmente se reúnem para discutir sobre a problemática russa e, nesta ocasião, a preocupante situação mundial.
As três horas consumidas pelo discurso de Putin e seu amplo intercâmbio de opiniões com algumas personalidades da política europeia –entre eles o ex-primeiro-ministro da França, Dominique de Villepin e o ex-chanceler da Áustria Wolfgang Schuessel- ou com acadêmicos de primeiro nível como o grande biógrafo de Keynes, Robert Skidelsky, foi convenientemente ignorado pela imprensa dominante.
O líder russo falou claro, sem meias palavras e abandonando de saída a linguagem diplomática. E mais, no início de seu discurso relembrou a frase de um deles que dizia que “os diplomatas têm línguas para não dizer a verdade” e que ele estava ali para expressar suas opiniões de maneira franca e dura para, como ocorreria depois, confrontá-las com as de seus incisivos interlocutores, aos quais também lhes fez umas quantas perguntas. Discurso ignorado, dizíamos, porque nele se traça um diagnóstico realista e privado de qualquer eufemismo para denunciar a aparentemente irreprimível deterioração da ordem mundial e os diferentes graus de responsabilidade que lhes cabe aos principais atores do sistema. Como disso não se deve falar, e como o mundo tem um líder confiável e eficaz nos Estados Unidos, peças oratórias como as de Putin merecem ser silenciadas sem maiores trâmites.
Um breve comentário no New York Times no dia seguinte, com ênfase em algumas passagens escolhidas com escandalosa subjetividade; algumas notas mais com as mesmas características no Washington Post e isso foi tudo. O eco desse discurso na América Latina, onde a imprensa em todas as suas variantes está fortemente controlada por interesses norte-americanos, foi inaudível. Por contraposição, qualquer discurso de um ocupante da Casa Branca que assegure que seu país é uma nação “excepcional” ou “indispensável”, ou que difame a líderes ou governos que não caem de joelhos ante a ordem estadunidense corre muito melhor sorte e encontra amplíssima difusão na mídia do “mundo livre”. Que disse Putin em sua intervenção? Impossível resenhar em poucas páginas seu discurso e as respostas aos questionamentos feitos pelos participantes. Porém, com o ânimo de estimular uma leitura desse documento, resumiríamos algumas de suas teses, como segue na continuação.
Primeiro, ratificou sem papas na língua que o sistema internacional atravessa uma profunda crise e que, contrariamente a relatos auto complacentes –que no Ocidente minimizam os desafios do momento-, a segurança coletiva está em muito sério perigo e que o mundo se encaminha para um caos global. Opositores políticos queimados vivos no porão do Partido das Regiões pelas hordas neonazistas que se apoderaram do governo na Ucrânia, a derrubada do voo MH17 da Malasya Airlines por parte da aviação ucraniana e o Estado Islâmico decapitando prisioneiros e brandindo suas cabeças pela Internet são alguns dos sintomas mais aberrantes do que, segundo um internacionalista norte-americano, Richard N. Haass, é a decomposição do sistema internacional que outros, situados numa postura teórica e política alternativa, como Samir Amin, Immanuel Wallerstein, Chalmers Johnson e Pepe Escobar preferem denominar “império do caos”. Esta execrável realidade não se pode ocultar com belos discursos e com as armadilhas publicitárias aos quais são tão afeitos Washington e seus aliados. O desafio é gravíssimo e só poderá ser exitosamente enfrentado mediante a cooperação internacional, sem hegemonismos de nenhum tipo.
Segundo, em sua exposição Putin forneceu uma detalhada análise do decadente itinerário transitado desde a pós-guerra até o fim da Guerra Fria, o surgimento do fugaz unipolarismo norte-americano e, em sua curva descendente depois do 11-S, as tentativas de manter a atual [des]ordem internacional pela força ou pela chantagem das sanções econômicas como as aplicadas contra Cuba por mais de meio século, Iraque, Irã, Coréia do Norte, Síria, Costa do Marfim e agora Rússia. Uma ordem que cai em pedaços e, como anunciava o título do Encontro, que se debate entre a criação de novas regras ou a suicida aceitação da força bruta como único princípio organizador do sistema internacional. De fato, nos encontramos ante um mundo sem regras ou com regras que existem porém são pisoteadas pelos atores mais poderosos do sistema, começando pelos Estados Unidos e seus aliados, que dão por desagregada as Nações Unidas sem propor nada em troca.
A Carta das Nações Unidas e as decisões do Conselho de Segurança são violadas, segundo Putin, pelo auto proclamado líder do “mundo livre” com a cumplicidade de seus amigos, criando assim uma perigosa “anomia legal” que se converte em campo fértil para o terrorismo, a pirataria e as atividades de mercenários que ora servem a um e depois acorrem a prestar seus serviços a quem lhe oferece o melhor pagamento. O ocorrido com o Estado Islâmico é paradigmático neste sentido. Terceiro, Putin relembrou que as transições na ordem mundial “por regra geral foram acompanhadas, se não por uma guerra global, por uma cadeia de intensos conflitos de caráter local”. Se há algo que se pôde resgatar do período da pós-guerra, foi a vontade de chegar a acordos e de evitar até onde fosse possível as confrontações armadas. Houve, aliás, muitas, porém a temida guerra termonuclear pôde ser evitada nas duas maiores crises da Guerra Fria: Berlim em 1961 e a dos mísseis soviéticos instalados em Cuba em 1962. Posteriormente, houve importantes acordos para limitar o armamento nuclear. Porém, essa vontade negociadora desapareceu.
O que hoje prevalece é uma política de perseguição, de bullying, favorecida por um hipertrofiado orgulho nacional com o qual se manipula a opinião pública que assim justifica que o mais forte –Estados Unidos- abuse e submeta aos mais fracos. Mesmo que não menciona o dado, no fundo de seu discurso se perfila com clareza a preocupação pela exagerada expansão do gasto militar estadunidense que, segundo os cálculos mais rigorosos, supera o bilhão de dólares [ou seja, um trilhão de dólares], quando, ao desintegrar-se a União Soviética, os publicistas do império asseguraram urbi et orbi que o gasto militar se reduziria e que os assim chamados “dividendos da paz” se derramariam em programas de ajuda ao desenvolvimento e combate à pobreza. Nada disso teve lugar. Quarto, ao declarar-se a si mesmos como vencedores da Guerra Fria, a dirigência norte-americana pensou que todo o velho sistema construído à saída da Segunda Guerra Mundial era um oneroso anacronismo. Não propôs um “tratado de paz”, onde se estabelecessem acordos e compromissos entre vencedores e vencidos, senão que Washington se comportou como um “novo rico” que, embriagado pela desintegração da União Soviética e seu acesso a uma incontestada primazia mundial, atuou com prepotência e imprudência e cometeu um sem-fim de disparates. Exemplo rotundo: seu contínuo apoio a numerosos “combatentes da liberdade” recrutados como aríetes para produzir a “mudança de regime” em governos desafetos e que a pouco andar se converteram em “terroristas”, como os que no 11-S semearam o horror nos Estados Unidos ou os que hoje devastam a Síria e o Iraque. Para invisibilizar tão gigantescos erros, a Casa Branca contou com “o controle total dos meios de comunicação globais [que] permitiu fazer passar o branco por negro e o negro por branco”.
E, numa passagem de seu discurso, Putin se pergunta: “Pode ser que a excepcionalidade dos Estados Unidos e a forma como exerce sua liderança sejam realmente uma bendição para todos nós, e que sua contínua ingerência nos assuntos de todo o mundo esteja trazendo paz, prosperidade, progresso, crescimento, democracia e simplesmente tenhamos que relaxar e gozar? Me permito dizer que não.” Quinto, em diversos momentos de sua alocução e do intercâmbio de perguntas e respostas com os participantes, Putin deixou assentado muito claramente que a Rússia não cruzará os braços ante as ameaças que pairam sobre sua segurança nacional. Utilizou para transmitir essa mensagem uma eloquente metáfora para referir-se, indiretamente, aos planos da OTAN de cercar a Rússia com bases militares, e para responder às inquietações manifestadas por alguns dos presentes acerca de uma eventual expansão imperialista russa. Disse que em seu país se tem grande respeito ao urso “amo e senhor da imensidão da taiga siberiana, e que para atuar em seu território nem se incomoda em pedir permissão a ninguém. Posso assegurar que não tem intenções de transladar-se para outras zonas climáticas porque não se sentiria cômodo nelas. Porém, jamais permitiria que alguém se aproprie de sua taiga. Creio que isto está claro.”
Esta observação foi também uma resposta a uma caracterização muito difundida nos Estados Unidos e na Europa que menospreza a Rússia –e antes a União Soviética- como “um Alto Volta [um dos países mais pobres e atrasados da África] com mísseis”. Sem dúvidas que a mensagem foi muito clara e despojada de eufemismos diplomáticos, em linha com sua confiança na fortaleza da Rússia e sua capacidade para suportar com patriotismo os maiores sacrifícios, como ficou demonstrado na Segunda Guerra Mundial. Disse textualmente: “Rússia não se dobrará ante as sanções, nem será incomodada por elas, nem a verão chegar à porta de alguém para mendigar ajuda. Rússia é um país autossuficiente”. Em síntese: se trata de um dos discursos mais importantes sobre o tema pronunciado por um chefe de estado em muito tempo e isto por muitas razões.
Por seu documentado e descarnado realismo na análise da crise da ordem mundial, onde se nota um exaustivo conhecimento da literatura mais importante sobre o tema produzida nos Estados Unidos e na Europa, refutando nos fatos as reiteradas acusações acerca do “provincianismo” do líder russo e sua falta de contato com o pensamento ocidental. Por sua valentia ao chamar as coisas por seu nome e identificar aos principais responsáveis pela situação atual. Exemplo: quem arma, financia e recruta aos mercenários do EI? Quem compra seu petróleo roubado de Iraque e Síria e assim contribui para financiar o terrorismo que dizem combater? Perguntas estas que nem o saber convencional das ciências sociais nem os administradores imperiais jamais as formulam, pelo menos em público. E que são fundamentais para entender a natureza da crise atual e os possíveis caminhos de saída. E pelas claras advertências que fez chegar aos que pensam que poderão subjugar a Rússia com sanções ou cercos militares, como nos referíamos mais acima. Porém, diferentemente do célebre discurso de Churchill, ao não contar com o favor do império e seu imenso aparato propagandístico camuflado sob as roupagens do jornalismo, o notável discurso de Putin passou despercebido, por enquanto. A cem anos da explosão da Primeira Guerra Mundial e a vinte e cinco da queda do Muro de Berlim, Putin lançou a luva e propôs um debate e esboçou os lineamentos do que poderia ser uma saída da crise. Passou algo mais de um mês e a resposta dos centros dominantes do império e seu mandarinato tem sido um silêncio total. É que não têm palavras nem razões, só armas. E vão continuar tensionando as cordas do sistema internacional até que o caos que estão semeando reverta sobre seus próprios países. Nuestra América deverá estar preparada para essa contingência.
Infelizmente, esse discurso só está disponível em russo e em inglês no sítio web da presidência da Rússia. Uma tradução ao castelhano foi realizada por Iñaki para o blog http://salsarusa.blogspot.com.ar/2014/11/discurso-de-putin-en-valdai.html


A versão revisada e corrigida desse primeiro esforço de tradução do discurso de Putin se encontra disponível em www.atilioboron.com.ar
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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Farc cumprem parte do acordo com o governo e iniciam libertação de prisioneiros


As Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia (Farc) informam que os soldados Paulo César Rivera e Jonathan Andrés Díaz, que haviam sido capturados em combate, no último dia 09 de novembro deste ano, foram libertados pelos guerrilheiros sãos e salvos nas planícies do Departamento de Arauca, norte do país. Os dois militares, pertencentes à Força de Tarefa Quirón, foram entregues a uma missão humanitária integrada por representantes dos países garantidores do processo de paz, Cuba e Noruega, e do CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha).

Há dois anos, os Diálogos de Paz entre o governo e as Farc têm sido realizados em Havana, Cuba, mas no último dia 16 de novembro o presidente Juan Manuel Santos anunciou a suspensão das conversações por causa do sequestro do general Ruben Alzate e de outras duas pessoas pela guerrilha. Para a retomada dos Diálogos, as Farc se comprometeram a libertar o militar e mais quatro pessoas. Duas delas, os soldados Rivera e Díaz, foram libertadas nesta terça-feira, 25.



Portanto, as Farc vêm cumprindo com os propósitos da primeira fase do Acordo Humanitário Especial, e anunciam que, a partir de agora, focarão seus esforços na libertação do general Rubén Darío Alzate, comandante da Força de Tarefa Titán, e de seus acompanhantes, o suboficial José Rodríguez Contreras e a advogada Gloria Urrego. "Esperamos que os operativos dirigidos pelo Ministério da Defesa e o cerco militar contra a população civil sejam suspensos imediatamente, para que a libertação das pessoas mencionadas transcorra sem sobressaltos e sem riscos para nenhuma das partes”, acrescentou a guerrilha.

domingo, 23 de novembro de 2014

Colombianos apostam na saída política do conflito armado



Chamamos os negociadores a reiniciar as conversas o quanto antes e a não se levantar da mesa até que tudo esteja acordado, pediram os participantes do Encontro Regional pela Paz, do município de Tumaco, departamento de Nariño.

No encontro que se estenderá até este sábado (220, líderes sociais e cidadãos fizeram um chamado a não perder as conquistas de dois anos de conversas durante as quais as partes atingiram consensos em três temas da agenda: reforma rural integral, participação política e drogas ilícitas.

"Em Nariño já houveram muitos mortos nesta guerra,  por isso temos agendas e propostas de paz e apoiamos o reencontro entre representantes do governo e das Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia-Exército do Povo (FARC-EP), com a esperança no fim do conflito", manifestou o diretor de Desenvolvimento Local, Álvaro Obando.

Estamos cansados de guerra, precisamos da reconciliação entre irmãos, disseram habitantes de Tumaco, entre eles integrantes de comunidades indígenas.

Os encontros regionais desenvolvidos anteriormente em Chocó, Putumayo, Meta, Cauca, Caquetá, Tolima, Sucre e Santander, tiveram como objetivo divulgar os acordos da mesa de negociações, com sede em Havana.

O governo e as Farc-EP conversam na capital cubana desde 2012 para terminar o período militar, que deixou até agora mais de seis milhões de vítimas, entre elas 230 mil mortos.

Tais negociações foram interrompidas pelo presidente Juan Manuel Santos devido ao desaparecimento no passado domingo do general Rubén Darío Alzate, nas proximidades do povoado Las Mercedes, departamento de Chocó, onde foi visto pela última vez.

O movimento insurgente reivindicou a captura do militar enquanto transitava por um área de operações de guerra, anunciaram também sua libertação junto à do cabo Jorge Rodríguez, a advogada Glória Urrego e dois soldados retidos em Arauca.

Essa decisão das Farc-EP é interpretada aqui por alguns analistas como uma demonstração de compromisso com os esforços a favor da paz.

Ontem, Santos confirmou que já está em andamento os procedimentos para pôr em liberdade essas cinco pessoas com a ajuda de Cuba e Noruega como países garantes do processo negociador.

Ao mesmo tempo, muitas vozes exigem um fim bilateral das hostilidades para envolver essas conversas em um clima de confiança mútua, além de colocar uma trava à violência contra a população civil, fundamentalmente a assentada em regiões rurais.

Os recentes acontecimentos são formas de dialogar no meio dos combates, opinam líderes de Marcha Patriótica, plataforma que reúne diversas organizações progressistas de diferentes municípios.

Particularmente os camponeses e indígenas sofrem deslocamentos e as ameaças do fogo, entre outras sequelas do conflito; 'trégua já', exigem seus membros.

Entre os grupos castigados de forma mais severa se destacam os jovens que defendem deixar para trás décadas de violência e beligerância.

Nós não inventamos esta guerra, mas temos que suportar suas consequências, somos bucha de canhão ao integrar as filas do exército durante o serviço militar obrigatório, lamentam.

A Colômbia não aguenta mais mortes, nem mais desaparecidos, alertaram participantes em uma manifestação convocada em Bogotá para exigir a continuidade dos diálogos.

Entre pronunciamentos e chamados, no país andino cresce nesta sexta-feira a expectativa pela retomada das conversas depois do operativo de libertação dos quatro militares e uma civil, cuja data e detalhes não foram revelados.

Fonte: Prensa Latina

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A paz triunfará em Colômbia


A mais brilhante conquista de 2 anos de processo de paz em Havana é a progressiva expansão do sentimento de reconciliação no coração dos colombianos.
Agora, mais do que nunca, necessitamos dar vida e movimento ao preâmbulo, ao espírito do Acordo Geral que estabelece que a construção da paz é assunto da sociedade em seu conjunto que requer a participação de todos, sem distinção, para que a marcha da Colômbia para seu destino de paz avance sem reversão.
Ninguém discute hoje que o respeito aos direitos humanos deve tremular em todos os confins do território nacional; que o desenvolvimento econômico com justiça social e em harmonia com o meio ambiente é garantia de paz e progresso; que é importante ampliar a democracia como condição para conquistar bases sólidas de paz e que o desenvolvimento social com equidade e bem-estar nos permitirá crescer como país.
Estes postulados do marco conceitual do Acordo de agosto de 2012 estão em sintonia com o palpitar do anseio nacional; porém, também em contraste com estes fundamentos, e em contradição com o até agora conquistado nos acordos parciais, o governo avança com suas iniciativas legislativas neoliberais que atiram pela borda a possibilidade certa de uma Reforma Rural Integral, o qual indica que, se algo urge para conquistar um rumo de irreversibilidade para a conquista do Acordo final, deverá o governo atuar com sindérese, interpretando o sentir das maiorias nacionais que pedem paz, democracia e bom viver, em vez de marchar ao compasso do egoísmo e da exclusão que caracterizam a direita guerreirista.
A maioria dos acordos parciais, e grande parte das 28 restrições, não são outra coisa que reivindicações cujas soluções podem ser materializadas cumprindo as normas legais e constitucionais. Um Estado com verdadeira vontade de paz não teria que fazer muito esforço para tornar realidade estas aspirações.
Uma Reforma Rural Integral como a que pretende o primeiro acordo parcial, por mais tentativas de formalização, distribuição e restituição que se façam, é impossível se não se resolve o grave problema do latifúndio que está latente e em crescimento; é impossível se continua avançando o projeto de Lei 133 de 2014, impulsionado para satisfazer aos empresários que estão tomando de assalto a Altiplanura, ou se não se resolvem assuntos de suma transcendência como os conflitos de uso do solo que, com aspectos como a exploração mineiro-energética, levam aparelhados o saqueio de nossas riquezas naturais, o detrimento de nossa soberania e a necessidade de um reordenamento territorial participativo. 
A expansão da democracia, por mais iniciativas de participação cidadã que tenham sido pactuadas, não será certa se se continua com a contrarreforma política que impede o acesso das minorias às instâncias de representação, como se se mantém a Doutrina da Segurança Nacional, a concepção do inimigo interno, o paramilitarismo, as leis liberticidas de segurança cidadã, a pretensão de aprovar um foro militar de impunidade, e o monopólio mesquinho dos meios de comunicação. Menos [ainda] se se nega a possibilidade de abordar os problemas de ordem política, econômica e social que as enormes massas de população têm e se obstruem as iniciativas de transformações institucionais.
A velha política antinarcóticos que ainda sobrevive como desenvolvimento da fracassada “guerra contra as drogas” imposta por Washington favoreceu em Colômbia a corrupção, o crime, a impunidade e a ofensiva contra insurgente de um Estado gangsterizado e em grande medida capturado pelas máfias do narcotráfico. Frente a esta realidade, conseguimos construir um terceiro acordo parcial, que concebe uma nova política de luta contra as drogas de uso ilícito, fundamentado no caráter social do problema, desmilitarizando-o, restando-lhe o timbre proibicionista e punitivo em relação aos campesinos cultivadores e aos consumidores, que, na realidade, são vítimas e o elo mais frágil do problema. Este acordo parcial, que enfatiza em que a perseguição deve dirigir-se contra os comercializadores e o setor financeiro que lucra com a lavagem de ativos, foi ponderado satisfatoriamente por organismos internacionais como as Nações Unidas. Não obstante, o fenômeno em questão não tem possibilidade de solução sem o concurso do conjunto das nações do mundo pela condição de negócio capitalista que entranha.
Por outra parte, em nosso próprio território a solução do problema implica definir uma nova política criminal, propender pela suspensão imediata das aspersões aéreas com glifosato e pela reparação integral de suas vítimas; e requer acabar definitivamente com o velho esquema de erradicações forçadas-fumigações, que fracassou, gerando enormes prejuízos ao tecido ambiental e social, o qual implica que devem ser buscadas alternativas urgentes.
Ao lado destes e outros profundos problemas sociais que se encontram no centro dos debates da Mesa de Conversações, está o transcendental tema das vítimas do conflito, hoje em pleno desenvolvimento e já com alguns compromissos subscritos no Acordo de Princípios e na realização de 4 das 5 audiências programadas para escutar suas dores da alma e suas esperanças de paz. Em todos os encontros, não há ideia que tenha resplandecido mais que a de encontrar a reconciliação desde já, cessando as hostilidades que evitem a geração de novas vítimas. Cremos estar marchando com passo firme e seguro na construção de mecanismos que esclareçam as origens, as causas e as responsabilidades no surgimento e na permanência de uma guerra imposta pelo bloco de poder dominante, a respeito do qual instâncias não governamentais de alta credibilidade assinalaram ao Estado e a seus grupos paramilitares como os responsáveis por mais de 80% dos casos de vitimização, sem contar seu protagonismo na proliferação da miséria, da desigualdade e da violação do conjunto dos direitos humanos, incluindo os direitos econômicos, sociais e culturais.
Entre os mecanismos aos quais aludimos, registramos a posta em marcha da “Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas”, cujo informe deverá ter alcances vinculantes, com um marco de referência inevitável, não substitutivo, no qual se deverá apoiar a comissão de esclarecimento e de memória que nos entregue verdades sobre a confrontação e assente bases de não repetição. Para dinamizar estas instâncias, as FARC-EP apresentaram um decálogo de propostas mínimas e lineamentos orientadores para a discussão do ponto 5 da Agenda, as quais são elementos de discussão que propusemos para que o país busque alternativas de ressarcimento e convivência sobre bases de justiça, em seu sentido mais amplo e integral.
Outros espaços de interlocução para tratar de aspectos centrais da Agenda são a subcomissão de gênero e a subcomissão técnica, a última das quais, ademais de ter a missão de abordar assuntos como o do cessar bilateral de fogos e da deixação de armas, tem ao Comando Guerrilheiro de Normalização como complemento na tarefa de observar o necessário e honroso retorno das Forças Militares a seu papel constitucional de defesa das fronteiras da pátria.
Vale ressaltar que as discussões e construções teóricas realizadas pela insurgência durante os ciclos dedicados a analisar o ponto VÍTIMAS permitiram pôr em claro o sentido que para as FARC têm conceitos e procedimentos como os de armistício e deixação de armas, ou como há de ser a passagem de organização armada a movimento político para a luta aberta num período de normalização, que não de transição. Neste plano de ideias, cujas consequências tocam em compromissos, tanto ao governo como à insurgência, não há para o processo de paz nenhum marco jurídico diferente ao Acordo Geral de Havana, nem há Lei de justiça transicional diferente aos compromissos que deste se derivem.
Tanto a deixação das armas, que é o compromisso da guerrilha e do Estado de sua não utilização em política, como o armistício, durante o qual se devem implementar os acordos, seriam elementos básicos do tratado de paz, cuja referenda deverá ter um mecanismo pactuado entre as partes para levá-lo à mais ampla possibilidade de complementação e convalidação do soberano.
Sem dúvida, o Tratado de Paz deverá forjar-se como produto de profundos acordos políticos que lhe forneçam uma suficiente blindagem jurídica, no qual o reconhecimento da rebelião como direito universal, posto em prática pela insurgência, tenha a avaliação e as garantias próprias do caráter altruísta que o inspira, circunstância que implicará, à parte das mudanças estruturais para superar a desigualdade, a miséria e a falta de democracia, o restabelecimento do delito político como aspecto nodal das conclusões que deve ter o tratamento integral e simultâneo dos temas que se compreendem no ponto 3 FIM DO CONFLITO, porque ninguém entenderia que as FARC-EP depusessem sua opção pela rebelião sem que sua luta tenha contribuído de maneira substancial para a superação e solução dos fatores que geraram o levantamento.
Com este balanço altamente favorável à saída política do conflito e, sobretudo, tendo em nossas mãos os acordos parciais e os avanços aos quais fizemos alusão, indicando que com eles começamos a discussão de temas decisivos, devemos dizer que não é sensato que continuemos matando-nos numa confrontação, que, não cessando, gerará prisioneiros e incidentes que podem pôr em perigo a continuidade da Mesa de Conversações e a ansiada possibilidade de chegar à firma do Acordo Final. Não é este um temor infundado, porque hoje mesmo temos a circunstância de que o Governo, tendo ordenado recrudescer a ofensiva contra a insurgência, quando recebe golpes que envolvem a captura de prisioneiros, tal como ocorreu com os soldados da força-tarefa Quirón ou como sucedeu com a captura, por forças guerrilheiras, do comandante da força-tarefa Titán, general Rubén Darío Alzate, de maneira impulsiva e inconsequente suspende as conversações. Não é admissível que quem declara a guerra sem quartel, em meio a ela, pretenda que não se toquem em seus soldados e generais.
Finalmente, devemos recordar que, se todos os sub pontos do ponto 3 sobre “Fim do Conflito” devem ser resolvidos integral e simultaneamente, é bom que o governo, em atenção ao sub ponto 5, vá estabelecendo com seu interlocutor como se “revisará” e se vão fazer “as reformas e os ajustes institucionais necessários para fazer frente aos desafios da construção da paz”.
A dois anos de desenvolvimento destas conversações que fizeram reverberar a esperança de um povo, não podemos deixar de pronunciar com profundo sentimento bolivariano e com a memória viva de nosso comandante Manuel Marulanda Vélez as seguintes palavras:
A Cuba, garantidor do processo e país anfitrião, a seu governo revolucionário e a seu povo, em nome dos colombianos, nosso amor e eterna gratidão por tanto desvelo pela paz da Colômbia. Ao governo e ao povo da Noruega, obrigado por contribuir para a reconciliação de um país latino-americano que merece viver em paz. Muito obrigado, presidente Nicolás Maduro, de Venezuela, gratos à presidenta Michelle Bachelet do Chile, por seu acompanhamento e solidariedade.
A paz deverá triunfar em Colômbia. VENCEREMOS! 
Comissão de Paz das FARC-EP

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Equipe ANNCOL - Brasil

Comunicado sobre o General Alzate


No dia 16 de novembro, por volta das 15:00 horas, unidades guerrilheiras pertencentes ao Bloco Iván Ríos das FARC-EP, no exercício de suas tarefas de segurança, interceptaram, numa das reservas móveis que mantêm às margens do rio Atrato, o bote em que se transladava o senhor Brigadeiro General do Exército Nacional, em serviço ativo, Rubén Darío Alzate Mora, comandante da denominada Força de Tarefa Conjunta Titán, que opera nesta zona do país.
Em companhia do general Alzate viajavam o cabo segundo do Exército Jorge Contreras Rodríguez e a senhora Gloria Urrego, advogada a serviço da mencionada unidade militar. Uma vez identificados plenamente, apesar de vestirem roupas civis, os três foram capturados por nossas unidades, devido a que se trata de pessoal militar inimigo, que se move no exercício de suas funções, em área de operações de guerra.
Mais, se se tem em conta a responsabilidade que o general Alzate ocupa no Exército Nacional, como cabeça de uma Força de Tarefa Conjunta, estrutura elaborada pelos mandos militares do Pentágono para a guerra frontal contra o povo da Colômbia e sua insurgência armada. São grandes as contas pendentes do general Alzate com a justiça popular. Certamente, seu caso merece um detido exame no qual haverá que levantar muitas coisas.
Todos os dias, em diferentes lugares do país ou do exterior, o Presidente Santos reitera a ordem de recrudescer com todo o poder do Estado contra as FARC-EP. E isso apesar das conversações de paz que se adiantam em Havana. Seu ministro de defesa vocifera uma e outra vez sobre o perto que estão de cair as cabeças dos mandos guerrilheiros, assegurando que aqueles que saem a dialogar na Mesa de Conversações fazem-no para fugir da morte iminente.
Buscamos a paz porque há um conflito armado, reconhecido legal e politicamente pelo atual governo. A soberba da oligarquia a leva a pensar que, inclusive em meio ao processo de paz, possui o direito de matar e despedaçar colombianos, de aterrorizá-los e massacrá-los, sem que estes tenham o menor direito de responder a suas violências. Sem cessar bilateral de fogo, as quais o Presidente chama regras do jogo, não podem operar somente para as forças do Estado.
Respeitamos a vida e integridade física e moral de nossos prisioneiros e estamos plenamente dispostos a garanti-lo até onde nos seja permitido pela ira estatal. As prisões do país estão amontoadas de prisioneiras e prisioneiros políticos e de guerra. A solução dos grandes males de que padece nossa pátria tem que ser a do diálogo, sempre estivemos dispostos a isso. Sem imposições, respeitando a condição política e pessoal dos adversários.
Vale lembrar que estamos subordinados às decisões que as instâncias superiores das FARC-EP adotem.
ESTADO-MAIOR DO BLOCO IVAN RÍOS DAS FARC-EP 
Montanhas de Colômbia, 17 de novembro de 2014