"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 29 de julho de 2013

Comunicado das FARC-EP



La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 28 de julho de 2013

O otimismo dos colombianos na possibilidade real de conquistar a reconciliação nacional, sobre bases de justiça social, não pode ser atropelado pelos que, enquanto lançam ao mundo discursos de paz, persistem em manter e aprofundar as causas da confrontação, uma das quais é, sem dúvida, o problema da posse e uso da terra.


De nada serviria falar em Havana da limitação da propriedade da terra, do freio a sua estrangeirização, de sua formalização a favor dos pobres e da soberania nacional, se o governo converte o acordado em palavras vazias que são levadas pelo vento.


A inadiável reforma agrária ligada ao anseio de paz não pode ficar reduzida a uma zombaria de poderosos grupos econômicos, banqueiros e proprietários de empórios açucareiros que posam de “novos campinos”, com “repentinos” desejos de terra, que avançam pondo adiante a advogados trapaceiros e mafiosos que operam sob o manto da mais descarada impunidade e proteção governamental.


Como se deduz do tratamento infame que se está dando aos justos protestos dos moradores do Catatumbo, ao governo não lhe interessa defender o campesino pobre, mas sim os sacrossantos direitos do capital. Até se inventou um novo projeto de lei, como suposta solução salomônica, para que os foragidos mascarados que ostentam um grande músculo financeiro e têm atuado com comprovado engenho delituoso em suas empreitadas de monopolização de terras e Unidades Agrícolas Familiares não venham a perder seu investimento.


Acaso vamos permitir que a sentença da Corte Constitucional que derrubou os artigos 60, 61 e 62 do Plano Nacional de Desenvolvimento, que pretendia abrir passagem à monopolização das terras por parte de grandes empresários, seja escamoteada pelo escritório de advogados da firma Brigard e Urrutia, que trabalha para Riopaila Castilla S. A., Cargill, Fazenda e Sarmiento Ângulo?


Vamos permitir que, por atalhos e com subterfúgios, empresários apátridas e transnacionais representados em Poligrow, Cementos Argos, Mónica Semillas ou Inversiones Manuelita, montados na chamada “locomotiva da prosperidade” violem todas as proibições que existem para acumular propriedades incultiváveis e atropelem impunemente as poucas normas decentes da legislação colombiana, fazendo-se a propriedades situadas em zonas onde se produziram massacres e deslocamentos forçados, como se não passasse nada?


O país necessita saber quem são esses “campesinos” suspeitos que venderam suas UAFs de 1.100 hectares às transnacionais, a bilhões de pesos cada uma. Urge conhecer a verdade, porque a maioria dessas terras foi despojada violentamente pelo paramilitarismo de Estado.
O governo, em vez de inventar truques para mercadejar a Altiplanura e legalizar as monopolizações produzidas antes de 1994, ou as posteriores, em vez de reeditar sua tentativa de tornar as UAFs com a mentira da “flexibilização necessária” e o argumento de que se exigem os “favores” do investimento estrangeiro ou do músculo financeiro de “inocentes empresários” que não sabiam que violavam a lei, deveria tirar a máscara destes negociantes, de seus testas de ferro e de seus tabeliães e juízes de bolso, para demonstrar com fatos que não está disposto a permitir que se acrescente a injustiça que afoga o campo e a ilegalidade que capturou o Estado.


O governo está obrigado a defender a diafanidade de seu compromisso com a paz, propiciando que se devolvam urgentemente as terras monopolizadas, como os subsídios e isenções tributárias que fluíram também para estes fraudadores. A justiça exemplarizante contra estes sujeitos e a reivindicação dos direitos do povo do campo, que clama para que se formalize a terra e suas zonas de reserva, fazem parte fundamental da construção de paz.


Recordemos que o acordo parcial sobre terras alcançado em Havana ordena textualmente que: “O governo nacional em combinação com as comunidades, e tendo em conta o exposto nos princípios do presente acordo, promoverá o acesso a terra e a planificação de seu uso nas Zonas de Reserva Campesina, tornando efetivo o apoio aos planos de desenvolvimento das zonas constituídas e das que se constituam em resposta as iniciativas das comunidades e organizações agrárias que estas considerem representativas, de maneira que cumpram com o propósito de promover a economia campesina... Se promoverá a participação ativa das comunidades que habitam nas Zonas de Reserva Campesina na execução de seus planos de desenvolvimento”.


E mais adiante expõe que: “A constituição das zonas estará acompanhada de processos de formalização da propriedade... Com o propósito de regularizar e proteger os direitos da pequena e média propriedade rural, isto é, garantir os direitos dos legítimos donos e possuidores da terra..., e como garantia contra o despojo de qualquer tipo, o governo nacional formalizará progressivamente, com sujeição ao ordenamento constitucional e legal, todas as propriedades que ocupam ou possuem os campesinos na Colômbia”.


É hora de começar a cumprir e deixar de reprimir. É estranho que este assunto seja manejado pelo Ministério de Defesa – que só vê com o olho da consolidação militar – e não o Ministério de Agricultura. É hora de abandonar o argumento rebuscado de que não se dará passagem à Zona de Reserva Campesina do Catatumbo, por [causa de] sua localização geográfica fronteiriça com a República Bolivariana de Venezuela.




Delegação de paz das FARC-EP

sábado, 27 de julho de 2013

Paralisações e greves debilitam o regime santista





Fonte: Rebelión


A Colômbia vive uma das conjunturas mais álgidas em matéria de mobilização social de amplos grupos da população com paralisações, greves, bloqueios de estradas e manifestações públicas.

A ação social popular engloba os camponeses da região do Catatumbo, os mineiros artesanais, os pequenos cafeicultores, o setor da saúde e os operários da mineração de carvão da Drumond, que declararam a paralisação das atividades.

No mesmo sentido, há expressões de inconformismo contra elementos recalcitantes do sistema político hegemônico, como o Procurador Alejandro Ordoñez, que bloqueia a vigência de direitos para segmentos sociais excluídos por normas vetustas como as que afetam casais do mesmo sexo e mulheres a favor do aborto. Da mesma forma, o programa social do governo da cidade de Bogotá por uma cidade mais humana, é bloqueado pelas máfias criminosas de ultra direita, ocasionando um movimento cidadão de inconformismo que se estende por toda a cidade.

Existe indignação pelos escândalos de corrupção nas altas esferas governamentais, pois proeminentes figuras oficiais, como o embaixador em Washington, aparecem envolvidas em vergonhosas manobras para apropriação de extensos territórios com jogadas “jurídicas” que transferem títulos para reconhecidas multinacionais da alimentação.

Ainda que ocorram conversações de paz em Havana, a violência não para porque o acordo que se projeta é uma “pax oligarchica neoliberal” que deixa o sistema econômico, social e político intacto, tal como funciona desde a herança colonial que temporalmente interrompeu a campanha pela independência que se iniciou em 1810.

Muitos se perguntam o que está acontecendo com o governo e com o atual Presidente.

As questões que surgem são varias. Qual é o comportamento das autoridades estatais nas atuais circunstâncias? Será derrubada a administração diante da força das revoltas? O que acontecerá com o processo em Havana? A reeleição de Santos para outro mandato presidencial é certeza? A coalizão governamental se debilitou? Surgirão outros candidatos do campo governista? A ultra direita uribista paramilitar vai recuperar espaço político?

Santos e sua equipe de governo tem demonstrado uma descomunal incompetência para atender adequadamente as demandas populares. Desde o chefe da Casa de Nariño para baixo, todos os burocratas (uns mais e outros menos) tem sido um desastre na negociação com as lideranças das greves. Nenhum mostrou a mais elementar das competências para dar um tratamento político aos camponeses, aos trabalhadores, aos mineiros e às lideranças da oposição que tem expressado com firmeza suas denuncias.

O que tem prevalecido é a violência como função central do governo, executada por estruturas sanguinárias como o Esquadrão Móvel Antidistúrbios da polícia/ ESMAD, que assassina, atropela, tortura e aprisiona cidadãos humildes, camponeses desvalidos, que diante do desespero pela situação social saem às ruas para exigir soluções do Estado que reage com balas, cadeia e tortura.

Violência que tem o acompanhamento óbvio do linchamento e manipulação midiática dos grades meios de comunicação, concentrados em mentir e fazer guerra psicológica contra as manifestações sociais. São uma vergonha. O ocorrido com Cesar Jerez é um ato de maldade miserável.

Mesmo que Santos tenha dito através dos meios de comunicação favoráveis ao governo que sua resposta é diferente pois o seu temperamento é o de um democrata, na prática o que tem se dado é a velha política de violência de um regime oligárquico que mantém sua essência autoritária.

Há uma sensação de tremendo vazio de poder. A sociedade sente que o Estado e seu governo ficaram no ar, que as instituições do regime não funcionam e que as mesmas são os instrumentos de diversas facções nacionais e territoriais que o capturaram para o beneficio particular e dinástico.

Há uma derrubada e paralisia no conjunto das instituições formais que supostamente representam o senhor Santos. O seu debilitamento é muito intenso e qualquer coisa pode acontecer.

Disso, os altos funcionários, não ficam sabendo, pois seu autismo é crônico. Vivem em outra realidade. A das suas fantasias e elucubrações.

É por essa razão que crescem as preocupações pelo que possa acontecer com as conversações de paz entre o governo e as Farc. Se bem que há avanços importantes, a guerra mantém o seu rigor com as vitimas correspondentes no campo de batalha. Isso é o real do conflito, sem querer dizer que o discurso acumulado nas rodadas de diálogo e fóruns públicos seja irrelevante.

A reeleição de Santos, por mais quatro anos, não é uma opção viável diante do seu desgaste geral. Santos não consegue ser levantado nem pelo poder do orçamento público, nem a imposição ianque que prepara outras formulas para a continuidade do domínio burguês, com outros nomes e marcas eleitorais. Santos é um cadáver do qual as pessoas devem se desprender já.

A coalizão governamental é apenas um nome e as tendências centrifugas estão em curso com muita velocidade. Tanto que um dos principais sócios, Vargas Lleras, já decolou para formalizar sua oferta presidencial, trincando em três partes o bloco dominante da elite colombiana. Vargas Lleras já abandonou o barco dos náufragos governistas, em ato de oportunismo político que custará caro, pois seu cálculo esquece o que foi o desastre da sua passada campanha nacional na que obteve escassos 150 mil votos. É um pedante e um boneco de papel sem maiores opções. Assim será visto pelas imobiliárias que o financiam de mãos cheias.

É um momento de tremenda desordem e confusão para a ultra burguesia que por muitos anos tem exercido o controle do Estado e do sistema de poder.

É claro que a facção mais recalcitante, a ultra direita fascista de Uribe Vélez, enche o peito e aposta pelo seu triunfo. Movimenta peões e espalha a ofensiva com todo o poder acumulado. Entretanto, não é uma tarefa fácil, dada a sua tremenda responsabilidade nos desatinos e abusos durante o longo período de domínio paramilitar de oito anos da presidência do senhor Uribe como cabeça dos grupos assassinos das autodefesas e narcotraficantes. Uribe tem centenas de litígios penais em andamento em diferentes níveis judiciais, nacionais e estrangeiros.

Assim sendo, ainda não se configurou uma alternativa política consistente desde a esquerda e o campo progressista. O que não quer dizer que não existam enormes potenciais.

As reformas substanciais de toda a sociedade colombiana e das mudanças revolucionárias são uma prioridade e uma necessidade que demandam maior lucidez dentre as lideranças e da multidão que pressiona o salto excepcional na história da Colômbia.



terça-feira, 23 de julho de 2013

Campesinato do Catatumbo solicita ao Presidente Maduro poder exercer o direto ao refúgio internacional


-->
Fonte: telesurtv.net

Carta aberta ao presidente Maduro dos campesinos mobilizados do Catatumbo
Senhor:
Nicolás Maduro
Presidente da República Bolivariana de Venezuela
Ref.: Refúgio internacional humanitário
Receba uma cordial e fraternal saudação do campesinato do Catatumbo.
Os campesinos e as campesinas do Catatumbo, região fronteiriça com Venezuela, nos encontramos desenvolvendo um protesto social que se prolonga já por 41 dias.
Nossa região vive uma profunda crise econômica, social e humanitária. Uma crise produto de décadas de abandono estatal que se recrudesce com a guerra, a militarização, a erradicação forçada dos cultivos de coca e as sistemáticas violações aos direitos humanos por parte do Estado colombiano.
Estamos exigindo o reconhecimento do campesinato, o acesso pleno aos direitos civis e políticos, aos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais que nos façam viver em dignidade. Exigimos, mediante esta mobilização, o direito à terra e ao exercício da territorialidade para nossas comunidades através de uma Zona de Reserva Campesina, figura que se encontra reconhecida pela lei colombiana.
Temos sofrido a repressão do Estado colombiano, 4 de nossos companheiros foram assassinados pela força pública, temos dezenas de feridos e encarcerados.
Até o momento, nossas reivindicações e exigências não foram ouvidas. Pelo que nos mantemos bloqueando a rodovia Cúcuta – Tibú.
As últimas declarações do presidente Santos nos fazem prever que nosso protesto será duramente reprimido nas próximas horas. Situação que deixaria vulneráveis a milhares de mulheres, anciãos, enfermos e crianças que participam da mobilização.
Com esta carta, queremos solicitar que seu governo nos permita exercer o direito internacional ao refúgio, acolhendo-nos a lei orgânica venezuelana sobre refugiados e asilados, ao Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados e a Declaração dos Refugiados de Cartagena, isto ante a eventualidade de uma operação militar contra nosso justo protesto, ação repressiva que deixará vítimas inocentes.
De antemão, agradecemos a compreensão, a humanidade e a solidariedade do povo e do governo de Venezuela para com o campesinato do Catatumbo.
La Aduana, Tibú, Catatumbo. 21 de Julho de 2013
Asociación Campesina del Catatumbo – Ascamcat
[Associação Campesina do Catatumbo]



Inflitrados


Por Antonio Caballero
Fonte: Revista Semana
Toda reivindicação, todo protesto, todo clamor cidadão é assinalado – macartizado, se dizia em outros tempos – como manifestação maligna das FARC.
As FARC estão infiltradas na paralisação do Catatumbo, certamente. Como não iam estar, se lá levam 40 anos? É como se se denunciasse com alegria escandalosa que Juan Manuel Santos está infiltrado em Anapoima, quando o que passa é que lá tem sua fazenda. Pense o leitor: se não estivessem as FARC no Catatumbo, por que diabos se lhe haveria ocorrido a um de seus chefes pôr-se o pseudônimo de Pablo Catatumbo?
Bem: também há outro que se pôs [o pseudônimo de] Andrés París. Porém é que, como revelou urbi et orbi o ministro de Defesa, as FARC também estão infiltradas na Europa. E na paralisação mineira recém começada, e nas que se anunciam para meados de agosto. E nos protestos dos universitários, e na paralisação judicial, e no dos cafeicultores, e no dos cacauicultores, e no dos plantadores de batata. Em tudo, em todas as partes.
O ex-presidente Uribe acaba de denunciar, sem tremor na voz, o Parlamento Europeu, que o critica: está infiltrado pelos terroristas das FARC. Toda reivindicação, todo protesto, todo clamor cidadão é assinalado – macartizado, se dizia em outros tempos – como manifestação maligna das FARC. Para desacreditá-las, para desqualificá-las, e com a esperança de desativá-las. Que o povo não peça: que agradeça!
Nisso consiste a “prosperidade para todos” de Santos, como a “segurança democrática” de Uribe, como a já não recordo que coisa de Pastrana nem qual outra de Samper, e assim de para atrás, até os benefícios da Coroa espanhola, que nos deu a religião e a língua. Ou assim me ensinaram no colégio.
Assim que: sem dúvida, as FARC estão infiltradas nos protestos do Catatumbo, como assinalou lucidamente – desde a Suíça, onde se encontrava infiltrado no Comitê Olímpico Internacional – o presidente Santos. Porém, o que importa é saber por que estão lá.
Nessa região de colonização da fronteira agrícola, que agora a imprensa e até os funcionários chamam de “esquecida pelo Estado”, quando a coisa não é exatamente assim: há que dizer, mais precisamente, que tem sido saqueada pelo Estado – pelos agentes do Estado, dos prefeitos para cima -, ou entregue pelo Estado ao saqueio das grandes empresas petroleiras, mineradoras, madeireiras, palmeiras, cocaleiras, e ao poder militar das guerrilhas ou das autodefesas.
Uma região sem fazer e já desfeita, sem saúde, sem escolas, sem estradas. Não é por prazer masoquista que foram viver lá seus atuais moradores [os antigos, os índios motilones ou Bari, foram quase exterminados]. Chegaram lá fugindo, deslocados e perseguidos pelas violências anteriores, a mal viver de precárias colheitas de hortas comunitárias, da ilusão petroleira e, ultimamente, da coca: único cultivo congruente rentável em nossa cada vez mais remota fronteira agrícola.
E então, aí sim, chega o Estado colombiano a marcar presença: a fumigar. A envenenar pela força os plantios com glifosato importado dos Estados Unidos para que sua colheita não chegue aos narizes dos consumidores norte-americanos, aos quais seu governo é incapaz de fazer cumprir suas próprias leis.
A situação foi resumida há uns dias no El Tiempo pelo caricaturista Papeto. Um de seus senhores gordos diz ao outro: “O grupo guerrilheiro está infiltrado por campesinos que protestam”.
Agora, bem: não já os que protestam, nem por que, senão como protestam? Esta revista o mostrou em sua capa na semana passada, com o título, mais que escandalizado, escandaloso, ‘Que há por detrás?’.
Protestam com seringueiras. E também com batatas bomba e coquetéis molotov. Porém sem armas verdadeiras. Não protestam com votos, porém tampouco com fuzis. E, tal como os votos, as marchas e os apedrejamentos são argumentos democráticos tão válidos como as barreiras publicitárias. Até agora [escrevo isto na noite da quinta-feira, e sairá publicado na -edição- do sábado], os únicos mortos foram quatro campesinos [ou infiltrados] do lado dos que protestam, por bala de fuzil.
Por tê-lo dito, preocupado pelos possíveis excessos da força pública na repressão, ao representante do Escritório de Direitos Humanos que a ONU tem na Colômbia, os ministros do governo o acusaram de inoportuno, irresponsável e temerário.
Como se pode, então, e como se deve protestar contra um Estado em que, governo após governo, ignora suas obrigações e descumpre suas promessas? Com o silêncio? Só com a pétala de uma rosa?
Ministro Carrillo, ministro Pinzón, vice-presidente Garzón, presidente Santos: sejam sérios. Isto da paz não vai ser fácil enquanto, de um lado, se considere ilegítimo que, em meio ao conflito armado, as FARC impulsionem paralisações no Catatumbo, e que, do outro lado, se considere ilegítimo que o presidente Santos tenha fazenda em Anapoima.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Movimentos sociais e personalidades convocam a solidariedade com Colômbia


Um novo encontro de solidariedade com o processo de paz colombiano terá lugar na cidade de Caracas, Venezuela, entre 4 e 6 de setembro próximo. O Congresso Internacional pela Paz na Colômbia se organiza por movimentos sociais junto a intelectuais, ativistas, parlamentares, artistas e líderes ecumênicos.



Unimos nossas vontades no empenho de contribuir a uma solução política ao conflito que vive há mais de cinquenta anos esse povo irmão”, expressa a mensagem da convocatória, assinada por reconhecidos intelectuais como o uruguaio Eduardo Galeano, o Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, o ator e ativista Danny Glover, o bispo brasileiro Pedro Casaldáliga e o teólogo e escritor Frei Betto.

A intenção deste Congresso é unificar critérios e agendas para o desenvolvimento de ações globais com vistas a gerar um ambiente internacional propício para o bom desenvolvimento do processo de paz na Colômbia, e potencializar os esforços de paz de colombianas e colombianos neste sentido. Somos conscientes de que o horizonte de paz não será completo sem a participação nos diálogos do Exército de Libertação Nacional [ELN] e do Exército Popular de Libertação, EPL”, acrescenta o texto.

Considerando que “a paz com justiça social, dignidade e soberania para a Colômbia é um tema de importância estratégica para toda a humanidade”, estes movimentos sociais e personalidades comprometidas com a paz referem, ademais, a oportunidade que significa a mesa de conversações entre o governo do presidente Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo – FARC-EP instalada em Havana, Cuba, para a saída ao conflito.

O momento político atual na Colômbia e o entorno regional reclamam canalizar a solidariedade expressada em diversas latitudes com a exigência de que ninguém se levante da mesa enquanto não se chegue à terminação do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura”, concluem em seu chamado à opinião pública para o Congresso Internacional pela Paz.



Junte-se à convocatória ao evento
Convocatória
Juntos e juntas pela paz na Colômbia

Os abaixo-assinados, ouvindo o clamor do povo colombiano, unimos nossas vontades no empenho de contribuir para uma solução política ao conflito que vive há mais de cinquenta anos esse povo irmão. Conscientes de que a paz com justiça social, dignidade e soberania para a Colômbia é um tema de importância estratégica para toda a humanidade, convocamos ao Congresso Internacional pela Paz na Colômbia a realizar-se nos dias 4, 5 e 6 de setembro de 2013 na cidade de Caracas, Venezuela.

A intenção deste Congresso é unificar critérios e agendas para o desenvolvimento de ações globais com vistas a gerar um ambiente internacional propício para o bom desenvolvimento do processo de paz na Colômbia e potencializar os esforços de paz de colombianas e colombianos neste sentido. Somos conscientes de que o horizonte de paz não será completo sem a participação nos diálogos do Exército de Libertação Nacional, ELN, e do Exército Popular de Libertação, EPL.

Nós, intelectuais, ativistas sociais, parlamentares, artistas, líderes ecumênicos, mulheres, estudantes, campesinos de todas as raças e de todo o mundo, recebemos com alegria e esperança os notórios avanços das conversações que têm lugar em Havana, Cuba, entre o governo do presidente Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo, FARC-EP. Ao mesmo tempo, celebramos que a voz de cores diversas do povo colombiano se levanta unida e forte para concretizar os caminhos da paz.

O momento político atual na Colômbia e o entorno regional reclamam canalizar a solidariedade expressada em diversas latitudes com a exigência de que ninguém se levante da mesa enquanto não se chegue à terminação do conflito e à construção de uma paz estável e duradoura.

  1. Adolfo Pérez EsquivelPrêmio Nobel da Paz, Argentina.
  2. Eduardo GaleanoEscritor, Uruguai.
  3. Dom Pedro Casaldáliga, Bispo Emérito São Félix do Araguaia, Brasil.
  4. Mireille Fanon-MendèsFundação Frantz Fanon, França.
  5. Bispo Medardo E. GómezIgreja Luterana Salvadorenha. El Salvador.
  6. Frei Betto, Teólogo, Escritor e jornalista, Brasil.
  7. Agustin Lao MontesProfessor, Centro de Sociologia para América Latina, estudos caribenhos e latinos, estudos afro-americanos, Universidade de Massachusetts em Amherst, Estados Unidos.
  8. Nidia Arrobo RodasFundação Povo Índio do Equador.

   Ver todos      /    Adherirse

O que o Papa vem fazer no Brasil?


Estava na programação do papa anterior, que o novo papa cumpre, a visita ao Brasil. É claramente parte de um plano do Vaticano para tentar recuperar terreno perdido nas últimas décadas no continente considerado o mais católico do mundo.

O Papa João Paulo II havia feito uma opção estratégica de alinhamento com os EUA e a Inglaterra, para protagonizar, junto com Ronald Reagan e Margareth Thatcher, a ofensiva final contra a URSS, para provocar o desenlace favorável ao bloco imperialista na guerra fria. Fez parte disso a repressão e o enfraquecimento fundamental da teologia da libertação – que poderia ter sido a versão popular do catolicismo.

A forte ofensiva do Vaticano contra a teologia da liberação matou a galinha dos ovos de ouro do catolicismo e abriu campo para todas as variantes evangélicas, que ocuparam o espaço que poderia ter sido ocupado pela teologia da libertação. Ao invés de se fortalecer, a Igreja Católica entrou numa profunda – e provavelmente irreversível – decadência.

A vinda do papa ao Brasil – considerado o maior país católico do mundo – tem como objetivo tentar recuperar espaço perdido nas últimas décadas, na contramão das tendências de enfraquecimento da adesão a religiões e da expansão das várias correntes evangélicas.

Mas o papa não traz nenhum discurso atraente, especialmente para as novas gerações, maioritárias no Brasil e na América Latina. Mais além da participação da relativa quantidade de jovens nas manifestações da vinda dele, nada indica que o papa possa recuperar prestígio e adesão ao catolicismo no Brasil e no nosso continente.

Nos temas que preocupam os jovens e o mundo contemporâneo, o papa não tem nada a dizer. Seu discurso tem se revelado conservador nos temas básicos que interessam aos jovens e que poderiam renovar o discurso da Igreja: papel das mulheres na Igreja, aborto, divórcio, entre outros.

Há uma campanha publicitária, tentando projetar uma imagem simpática do novo papa, uma ação contra a antipatia e a falta total de apelo do papa anterior. Mas nada além da imagem dele.

Propagava-se que, como o novo papa é argentino, ilusórias previsões de que já não viriam dois milhões, mas dois milhões e meio, o que rapidamente naufragaram. Fala-se agora de menos da metade disso e, certamente, mais de 90% vindos do Brasil.

A visita do papa terá um efeito instantâneo, nada mais do que isso, produto de uma campanha publicitária de projetar algum líder conservador em um mundo em que os estadistas do bloco ocidental – Obama, Merkel, Hollande, Rajoy, Cameron, entre outros – têm suas imagens muito deterioradas.

Mas à falta de discurso atraente – mais além dos apelos demagógicos e vazios sobre a miséria, a paz, o revigoramento da espiritualidade, etc. –, nada se pode esperar de duradouro da visita do papa, que partirá como veio, sem nenhuma capacidade de fortalecer uma Igreja Católica brasileira com autoridades oficiais conservadoras e inexpressivas. A direita conseguirá apenas episodicamente projetar a imagem simpática do papa atual, sem nenhuma ingerência na situação do Brasil e da América Latina.

Samuel Pinheiro Guimarães: “democratização da mídia é prioritária para a defesa da soberania”


-->“O controle dos meios de comunicação é essencial para o domínio da classe hegemônica mundial. Como esses meios são formuladores ideológicos, servem para a elaboração de conceitos, para levar sua posição e visão de mundo. Daí a razão da democratização da mídia ser uma questão prioritária”, afirmou o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães no debate 'O Brasil frente aos grandes desafios mundiais', realizado nesta terça-feira na Universidade Federal do ABC.

Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (2009-2010) e secretário geral do Itamaraty (2003-2009) no governo do presidente Lula, o embaixador defendeu a campanha do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) por um novo marco regulatório para o setor. Segundo ele, uma relevante contribuição à democracia e à própria soberania nacional, diante da intensa disputa política e ideológica numa “economia profundamente penetrada pelo capital internacional”.

Entre as iniciativas para garantir o surgimento e estabelecimento de novas mídias, apontou, está a “distribuição das verbas publicitárias do governo”, desconcentrando os recursos públicos e repartindo de forma justa e plural. “O critério de audiência que vem sendo utilizado privilegia o monopólio e o oligopólio”, sublinhou.

O embaixador também condenou o fato de que um mesmo grupo possa deter emissoras de rádio e televisão, jornais e revistas – a chamada propriedade cruzada. Samuel lembrou que, quando estados como a Argentina, o Equador e a Venezuela aprovam leis para democratizar a comunicação, a mídia responde com uma campanha extraordinária, como se isso fosse censura à imprensa. Segundo ele, "essa concentração acaba concedendo um poder completamente desmedido para alguns poucos divulgarem as suas opiniões como verdade absoluta".

Manipulação

Em função dos interesses da classe dominante, alertou o embaixador, a mídia hegemônica pode, sem qualquer conexão com a realidade, “demonstrar que um regime político da maioria é uma ditadura e realizar campanhas sistemáticas que permitam uma intervenção externa, com o argumento que determinado governo oprime os direitos humanos”.

Uma vez criado o caldo de cultura, soma-se à campanha de difamação e manipulação das consciências a intervenção militar, como aconteceu contra o governo de Muammar al-Gaddafi. “Na Líbia houve a derrubada de um governo que lhes era contrário, não foi ação defensiva dos direitos humanos em hipótese nenhuma”, frisou. Na avaliação de Samuel, os Estados Unidos têm um projeto muito claro de manter o seu controle militar e informativo, que utilizam de forma alternada e complementar. “Contra os governos que contrariam frontalmente os seus interesses, os EUA têm uma política declarada de ‘mudança de regime’. Para isso, sem grandes embaraços, qualquer movimento pode ser instrumentalizado”, assinalou.

Entre os muitos exemplos de manipulação citados pelo embaixador está o “esforço da política neoliberal para reduzir direitos”, utilizando-se da campanha pelo "aumento da competitividade”. ”O receituário que defendem", disse Samuel, "é o de reduzir programas sociais, controle orçamentário e reduzir os benefícios da legislação trabalhista. Para isso disseminam ideias como a de que as empresas nacionais não são produtivas”.

Também condenando a manipulação da informação e o papel desempenhado por setores da mídia, o professor Paulo Fagundes Vizentini, coordenador do Núcleo de Estratégia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, considerou inadmissível que “os mesmos que bombardeiam e ocupam militarmente países soberanos venham agora dar lições de direitos humanos”.

“Antes era feio não ter opinião, hoje é ideológico, o que mais se parece com fisiológico”, disse Vizentini, defendendo a afirmação do interesse público e da soberania nacional, e combatendo “os que querem que o país fique na segunda divisão, desde que sejam o capitão do time”.

O professor sublinhou o papel estratégico e singular proporcionado pela descoberta do pré-sal, tanto do ponto de vista energético como geopolítico, e alertou para a necessidade de que o Brasil tenha os elementos de dissuasão para impedir que esse imenso patrimônio venha a ser apropriado militarmente pelos estrangeiros. “Para isso temos de enfrentar os espíritos fracos e colonizados. O colonialismo é o mais difícil de combater, porque está dentro da nossa cabeça”, frisou.

Para o secretário de Relações Internacionais do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Pedro Bocca, o fortalecimento dos espaços de mídia dos movimentos sociais, como a TeleSur, a Alba TV e a TVT, com sua divulgação em canal aberto, são atualmenee necessários. "O investimento do governo é essencial para combater a desinformação e garantir a efetiva democratização da comunicação e do país", concluiu.


quinta-feira, 18 de julho de 2013

Farc e governo colombiano adiam por uma semana diálogo de paz

As delegações das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (Farc-EP) e o governo de Juan Manuel Santos decidiram iniciar um novo ciclo do diálogos - que mantêm em Havana - no dia 28 de julho.
Em um comunicado conjunto divulgado nesta quinta-feira (18), ambas partes informaram a nova data, pois a retomada das conversas estava prevista para o dia 22, segundo informaram os delegados ao terminar a 11ª jornada.

Após trocarem propostas sobre o segundo ponto da agenda, a participação política, a guerrilha e o governo tem trabalhado de maneira separada para continuar abordando o primeiro subponto, destacaram em comunicado.

Eles informaram ainda que esse assunto se refere aos direitos e garantias para o exercício da oposição política em geral e em particular para os novos movimentos que surjam após a assinatura do Acordo Final.

Ao encerrar o 11º ciclo de diálogos, ambas delegações disseram que, durante o período concluído então, continuaram avançando na discussão do segundo ponto da agenda e cada parte apresentou sua visão geral sobre o tema.

Segundo o texto, as equipes começaram com o assunto das garantias para o exercício da oposição “como um elemento essencial para a construção de um acordo final que contribua a construir as bases de uma paz estável, duradoura e um fortalecimento da democracia”.

A agenda dos diálogos de paz, iniciados em novembro, inclui, além da questão agrária e a participação política, a atenção para as vítimas, o problema do narcotráfico e o fim do conflito armado.

Fonte: Prensa Latina

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Faça parte da ENFF: entre na associação de amigos da escola do MST


Joao Pedro Stedile, Erivan Hilario e Igor Fuser*


 
Vocês têm acompanhado nossas atividades na luta pela Reforma Agrária e por uma sociedade brasileira com mais igualdade nesses anos todos.
A formação político-ideológica e o processo educativo é tão importante para o MST quanto conquistar a terra para trabalhar e produzir alimentos.
Por isso, estamos enviando uma proposta (clique aqui) para que você se engaje no nosso movimento, ajudando nos processo formativos e na manutenção da Escola Nacional Florestan Fernandes.
Preencha e ficha e envie para associacao@amigosenff.org.br 

Estamos pedindo sua participação e solidariedade. Contamos com vocês!

Um forte abraço, em nome de toda militância do MST e dos movimentos sociais brasileiros.
* Joao Pedro Stedile é da coordenação Nacional do MST e da Via Campesina,  Eriva Hilario é do coletivo de Direção da ENFF e  Igor Fuser é presidente da Associação de Amig@s da ENFF.

Abaixo, saiba mais da ENFF
 
Trajetória de construção e manutenção de
uma escola de formação no século 21

 
A Escola Nacional Florestan Fernandes é uma escola de formação de quadros.  Ela é dirigida  pelos militantes/educadore spopualres do MST, mas realiza cursos para toda militância dos movimentos sociais brasileiros e de toda America Latina.   Seu nome é uma homenagem a um dos maiores pensadores brasileiros que tinha como principio colocar os conhecimentos científicos a serviço da libertação da classe trabalhadora brasileira, e por isso expressa a síntese da vocação da escola: Florestan Fernandes!

Situada em Guararema (a 70 km de São Paulo) foi inaugurada em 23 de janeiro de 2005 e  foi construída ao longo dos anos de 2000 e 2004, graças ao trabalho voluntário de mais mil trabalhadores sem terra e simpatizantes. Sua missão histórica é a de atender às necessidades da formação de militantes de movimentos sociais e organizações que lutam por um mundo mais justo.

Os recursos para a sua construção foram obtidos com a venda de fotos de Sebastião Salgado e do livro Terra (fotos de Sebastião Salgado, texto de José Saramago e música de Chico Buarque) e mediante a contribuição de entidades da classe trabalhadora do Brasil, da América Latina e de várias partes do mundo.

Sua manutenção e funcionamento são assegurados pelo apoio de solidariedade nacional e internacionais.    A Escola mantem o principio que não deve receber recursos governamentais, para manter a autonomia político-ideologica de fidelidade apenas à classe trabalhadora.

A escola desenvolve seus cursos e atividades sempre baseado no principio da solidariedade e da participação de todos.
Assim, todos os professores que nesse período passaram por La dando aulas sempre o fizeram de forma militantes.   Todos os trabalhadores que moram na escola o fazem de forma militante.  E todos os trabalhos de manutenção da escola são realizados com  a participação dos próprios estudantes, como um processo autogestionário e do método educativo.
Alguns cursos superiores e de pos-graduação são realizados em parcerias com universidades publicas brasileiras, como tem ocorrido com a UNESP e a UNB.
A escola mantêm dois cursos latinoamericanos  para estudantes de todo continente e da  Europa, dentro da perspectiva de fortalecido da integração popular continental, nos marcos da ALBA.   E diversos movimentos sociais brasileiros realizam suas atividades formativas nos espaços da escola assumindo suas próprias despesas.

Veja a seguir algumas informações básicas sobre o funcionanento da ENFF.
1.Um território autônomo de formação da classe trabalhadora

A escola está erguida sobre um terreno de 120 mil m2, com instalações de alvenaria de tijolos fabricados pelos próprios trabalhadores. O projeto arquitetônico, oferecido voluntariamente, teve como princípio causar o menor dano ao meio ambiente e, ao mesmo tempo, propiciar o melhor resultado para o sujeito da escola: trabalhadores, alunos, assessores e visitantes.

Ao todo, são três salas de aula, que comportam juntas até 200 pessoas, um auditório, dois anfiteatros, uma biblioteca com 40 mil livros (obtidos por meio de doação), com espaço de leitura e ilha de edição. Além disso, a escola conta com quatro blocos de alojamento, refeitórios, lavanderia, estação de tratamento de esgotos e casas destinadas aos assessores e às famílias de trabalhadores que residem na escola. Dispõe, ainda, de horta e pocilga que produzem para consumo local, e árvores frutíferas espalhadas pelo terreno. Para o lazer, oferece um campo de futebol gramado e uma quadra multiuso coberta.

O seu uso demanda a dedicação integral de 35 trabalhadores militantes residentes no local, de todas as áreas (administrativa, pedagógica, infraestrutura elétrica, sanitária e outros). Todos os que frequentam os seus cursos se encarregam da limpeza, dos cuidados com a horta e outros trabalhos de manutenção.

A ciranda infantil, espaço educativo para os filhos dos trabalhadores e ou dos estudantes que lá acorrem, se chama “Ciranda Infantil Saci Pererê” e oferece um ambiente sadio e cuidadoso às crianças, enquanto seus responsáveis, principalmente as mães, estudam e/ou trabalham.   Saci Perere foi escolhido com um concurso interno entre amigos e militantes do MST e representa o símbolo folclórico de nossa nacionalidade.
2.O TRABALHO EDUCATIVO

Nesses anos de sua existência, de 2005 e 2012 passaram pela escola mais de vinte mil militantes dos movimentos sociais do campo e da cidade, de todos os Estados do Brasil e de outros países da América Latina e da África.

A escola tem recebido o apoio de mais de 500 professores voluntários – do Brasil, da América Latina e de outras regiões –, nas áreas de Filosofia Política, Teoria do Conhecimento, Sociologia Rural, Economia Política da Agricultura, História Social do Brasil, Conjuntura Internacional, Administração e Gestão Social, Educação do Campo e Estudos Latino-americanos.

A  ENFFF  é associada  CLACSO,  como espaço de parceria com inúmeras experiências de formação superior da America Latina.     Também tem feito parceiras com inúmeras entidades do Brasil e do Exterior para o desenvolvimento de seminários, cursos e atividades formativas.

Se realizam na escola inúmeras formas e cursos diferentes.  Há encontros e seminários temáticos de curta duração.   Há cursos de formação de militantes desenvolvidos em várias etapas.   Há cursos superiores em convenio com universidades, e há também cursos de especialização e de posgraduação em convênios com universidades e/ou desenvolvidos por movimentos com outras parcerias.

Como parte do método pedagógico, a escola possue um coletivo pedagógico (CPP) permanente, responsável  pela realização dos cursos planejados.  Mas em cada curso ou atividade se constitui uma CPP especial, com participação dos próprios estudantes e professores, para autogestionarem as atividades formativas.

A escola possui um espaço de produção hortigranjeira, na qual os estudantes também se inserem como parte do trabalho-estudo educativo. 

Temos orgulho de já termos recebido como professores visitantes ilustres pensadores do pensamento critico mundial, que contribuíram com a escola, como:  Istvan Mezaros, Eduardo Galeano, Aleida Guevara,  Ignacio Ramonet,  jean Ziegler, Walter Salles, Ana Esther Cecena,  Isabel Mona, Isabel Rauber, Francois Houtart,  Fernando Martinez, Armando Bartra, Marta Harnecker, Michel Lowy,  Claudio Kartz, Richard Gott, Carlos Barrientos, entre outros..
3.PARTICIPE DA LUTA EM DEFESA DA ENFF

Em dezembro de 2009, um grupo de intelectuais, professores, militantes e colaboradores resolveu criar a “Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes”, com os seguintes  objetivos:
divulgar as atividades da escola, por todos os meios possíveis;
iniciar uma campanha nacional pela adesão de novos sócios;
promover atividades e campanhas de solidariedade para angariar recursos, incluindo  doações de livros, revistas, publicações e material audiovisual para a Biblioteca da ENFF;
apoiar e incentivar o desenvolvimento de projetos de educação e escolarização de crianças, jovens e adultos do campo, da cidade, das comunidades indígenas e quilombolas, bem como projetos contra as discriminações de raça, cor, gênero, sexo e religião;
desenvolver parcerias específicas com instituições e entidades que atuem na área da formação e educação;
viabilizar projetos que estimulem estudos acerca da tradição do pensamento crítico;
estimular intercâmbio de atividades de formação do Brasil com a América Latina e com outros continentes.
4.PRECISAMOS DE SEU APOIO E PARTICIPAÇÃO:

Para se tornar associado, é indispensável preencher da ficha de adesão com o compromisso de contribuir regularmente com um valor mínimo mensal de R$ 30,00, ou com contribuições solidárias de qualquer valor.  

Os recursos angariados pela Associação serão diretamente destinados às atividades da escola. Eventualmente, parte desses recursos poderá ser usada na organização de outras atividades (seminários, mostras de arte e fotografia, festivais de música e cinema etc), cujos recursos também serão destinados à ENFF.

Se você ainda não conhece,  poderá fazer uma pessoal ou coletiva de forma monitorada à ENFF, organizada periodicamente por nossa associação.
A associação organiza visitas  coletivas  um sábado por mês.
Você sentirá orgulho de pertencer ao grupo de colaboradores que viabilizará o projeto ENFF.

Para obter mais informações sobre como participar e contribuir, procure a secretaria executiva: Rua da Abolição nº 167 – Bela Vista – São Paulo – SP – Brasil – CEP 01319-030
Telefones: (55.11) 3105-0918– 99454-9030
associacao@amigosenff.org.br
www.amigosenff.org.br

Conflito colombiano só será superado com mudanças políticas, econômicas e sociais


  Entrevista exclusiva de Carlos Lozano ao Tribuna Popular (jornal do Partido Comunista Venezuelano)

A classe dominante ataca o conflito restringindo a democracia. É preciso erradicar as causas que originaram o conflito. As garantias democráticas devem ser também para a esquerda e para os setores democráticos. É necessário que se abra caminho para a Constituinte. É fundamental a pressão popular e internacional para que Santos permaneça na mesa. O processo de paz não pode ser refém das eleições. A Marcha Patriótica se formula como opção de poder.
 
Tribuna Popular.- No marco de uma visita realizada a Caracas, por convite do Comitê de Solidariedade Internacional (COSI) da Venezuela, para promover o apoio ao processo dos diálogos de paz na Colômbia, Carlos Lozano Guillén – Membro do Comitê Executivo Central do Partido Comunista Colombiano (PCC), Diretor do semanário VOZ e porta-voz do movimento Marcha Patriótica –, de 20 a 22 de junho, cumpriu uma intensa agenda de trabalho.
Um momento especial na viagem foi sua visita à Sede Nacional do Partido Comunista da Venezuela (PCV), onde, por cerca de quatro horas, se reuniu com uma ampla delegação do Birô Político, encabeçada por Oscar Figuera, Secretário Gera do PCV, numa profunda e fraternal troca de impressões sobre a situação política de nossos países e as iniciativas para o estreitamento das relações entre os dois Partidos.
Carlos Lozano Guillén concedeu uma entrevista exclusiva ao Tribuna Popular, órgão do Comitê Central do PCV, na qual detalha a análise e a visão do PCC sobre o conflito colombiano e o processo de paz, que reproduzimos adiante na íntegra:
 
TP: –No povo colombiano e na América Latina existe muita expectativa pelos diálogos que estão se desenvolvendo em Havana pelo processo de paz na Colômbia. Qual é o significado destes novos diálogos?
CLG: –Têm um duplo significado, o que é muito importante para a Colômbia. Porque os diálogos de paz significam a busca de uma solução política, democrática, do longo conflito colombiano, de colocar um ponto final à guerra de mais de seis décadas, que deixou imensas tragédias e que, é claro, se converteu numa espécie de espada de Dâmocles para nosso país, não só pelo drama da confrontação, mas também pela precariedade da democracia, cada vez mais restrita, na medida que a classe dominante colombiana acredita que a melhor forma de atacar o conflito é restringindo a democracia, precarizando as condições e as liberdades públicas do povo colombiano.
 
As forças revolucionárias vem caracterizando o conflito colombiano como social e político. Os diálogos de paz apontam a solução das razões que deram origem ao conflito social e político?
Tem que ser assim. Ou seja, o conflito colombiano não é apenas militar. Possui sua origem econômica, social e política. Por isso, para superar o conflito, é preciso que se erradique as causas da origem do mesmo. É preciso consistir numa abertura da democracia e para as melhores condições do povo colombiano. Por isso é que nós falamos de paz com democracia e com justiça social.
 
Estes diálogos estão avançando com base numa agenda que foi acordada pelo governo de Juan Manuel Santos e as FARC-EP, em agosto do ano passado. Nesta agenda se encontra condensada a solução dos problemas econômicos, sociais e políticos do povo colombiano?
Existe um acordo geral que contém uma agenda que apresenta seis pontos, entre eles o tema agrário, o da participação política, o tema das vítimas, o marco jurídico que se chama de justiça transicional, o tema do cessar fogo, os direitos humanos. No segundo tema, sobre participação política, cujas negociações começaram agora, as FARC fizeram dez propostas que contemplam temas fundamentais políticos, para poder avançar rumo à melhores condições em matéria de liberdades públicas, do estatuto da oposição, dos direitos de participação cidadã e das garantias, não somente para as insurgências que se beneficiam com os processos de paz, mas para a esquerda e os setores democráticos, de que vão ter um tratamento de igualdade ante a lei para efeitos dos espaços políticos e eleitorais.
Os temas econômicos e sociais têm que estar contemplados. De fato, uma parte deles já o estão, no tema agrário. Porém, o tema de participação política e os temas superiores relacionados à agenda, serão aprofundados, por exemplo, o modelo econômico, o tema dos direitos trabalhistas. Sem dúvida que, na estreita relação com o modelo, tem que se incluir o tema da saúde, que está totalmente privatizada e está precarizando as condições de vida.
Então, esses temas estão na agenda, possuem relação com o conflito, estão reconhecidos no preâmbulo e no contexto do acordo geral que fala de que o conflito colombiano só pode ser superado se existirem mudanças de natureza política, econômica e social. Isso foi acordado pelo governo que, no entanto, agora diz que esses pontos não estão na agenda, porque separa a agenda do preâmbulo e do contexto. Porém, sem dúvida, isso tem que ser levado em consideração e, se querem a paz, têm que incluir os temas sociais, econômicos e político que possuem espaço na agenda. O que acontece é que o governo, em sua visão estreita, acredita que tudo pode ser resolvido dizendo à guerrilha que seus dirigentes poderão ser senadores, congressistas, que poderão aspirar aos cargos de eleição popular...
 
Uma barganha?
Sim, uma barganha. E, certamente, isso é importante, pois se as FARC e o ELN, as guerrilhas, conquistam a paz, aspirarão um espaço de participação. No entanto, eles dizem que isso não é o fundamental, porque o que será resolvido em Havana são problemas da sociedade colombiana, de todo o país e, por isso, caso se queira a paz, a paz com democracia e com justiça social, são fundamentais as mudanças sociais, econômicas e políticas.
 
O Estado colombiano e o governo têm uma identidade capitalista e as FARC, historicamente, se reivindicam como marxistas-leninistas. Portanto, possuem um projeto socialista. Como podem se acordar forças que possuem projetos de país absolutamente antagônicos?
Aí, o importante é que tanto as FARC como o governo saibam colocar os limites existentes nessa mesa de diálogo. Porque não se pode aspirar uma revolução por contrato, não se pode fazer isso numa mesa de diálogo. As revoluções são feitas pelos povos, são feitas pelas massas populares e creio que isso é perfeitamente compreendido pela guerrilha das FARC.
Então, ali na mesa de diálogos de Havana, o alcance das mudanças é relacionado aos problemas que originaram o conflito, que são os que estão contemplados nessa agenda contida no acordo geral. Ou seja, não são marximalistas, são mudanças muito concretas e, por isso insisto, do que se fala é de paz com democracia e com justiça social, não estamos falando de paz com socialismo ou paz sem capitalismo. Isso não se está negociando.
Uma vez que se conquiste a paz com democracia e justiça social, o desafio para a esquerda, incluindo as forças insurgentes que se beneficiam com o processo de paz, é a acumulação de forças para a construção de caminhos para uma transformação revolucionária da sociedade colombiana. Isso está claro, ou seja, a esquerda unitária deve converter-se numa opção real de poder popular na Colômbia. Uma abertura democrática pode ajudar esse projeto, justamente, por conta do fato de que a esquerda não ter avançado o suficiente na Colômbia não se deve apenas aos erros – porque eles existem, é claro –, porém não se deve só e exclusivamente aos erros da esquerda. O fundamental foi o vazio da democracia, a guerra suja, a intimidação, as campanhas de extermínio, a estigmatização da esquerda, que é o que conseguiu enfraquecê-la, quase aniquilá-la em muitos episódios trágicos da história colombiana.
Aqui se trata é de ganhar um espaço democrático suficiente para que essa esquerda e os setores democráticos possam atuar no cenário político em pé de igualdade, sem intimidações, sem que se afete a vida e a existência dessas organizações de esquerda, de tal maneira que possam atuar no espaço político, no panorama nacional com opção de poder.
 
Tanto as FARC como outras organizações revolucionárias ressaltaram que o diálogo de paz não pode resumir-se à mesa de Havana e estimulam Fóruns, Encontros, espaços de debate e discussão, elaborando propostas para o estudo das partes em diálogo. Este chamado à participação é para o conjunto da sociedade ou para uma parte dela?
É justamente gerar o espaço de participação. Como dizíamos antes, em Havana não se vão resolver os problemas da guerrilha ou do governo, mas problemas da sociedade. Então, essa sociedade, que é heterogênea, tem que garantir esse espaço de participação. Um deles são os Fóruns nacionais convocados pela mesa, que são organizados pelas Nações Unidas e pela Universidade Nacional, as mesas regionais, que são organizadas pelo Congresso. Porém, além disso, as próprias iniciativas das organizações populares, democráticas também estão ocorrendo. A Marcha Patriótica, por exemplo, está promovendo as Constituintes Regionais, Territoriais e Temáticas em todo o país, que são expressões da vontade do povo de construir uma opção própria para respaldar o processo de Havana e, também, de fazer suas próprias propostas, apresentar quais são suas iniciativas, que enriquecem o debate de Havana.
 
Essa iniciativa de Constituintes Regionais está inserida na proposta feita pelas FARC sobre a necessidade de uma Assembleia Nacional Constituinte?
Sim. De fato, as Constituintes Regionais estão, porque são propostas pela Marcha Patriótica e convocam todas as organizações populares. De toda a maneira tratam-se de exercícios pedagógicos do que pode ser uma Assembleia Nacional Constituinte (ANC) e têm como objetivo principal promover a ANC, já que a mesma precisa ser um acordo entre as partes, legitimado e legalizado pelo próprio Congresso da República.
Então, as Constituintes Regionais são um peso real na vida nacional, na medida que contribuem para abrir caminho à ANC, que é a vontade do eleitorado, que é a participação cidadã, com o entendimento de que é múltipla. Ou seja, aí estarão as organizações populares, democráticas, os sindicatos, os Partidos políticos de direita ou de esquerda, os diferentes estamentos que compõem a sociedade, por alguns chamada de “sociedade civil”.
 
Na Colômbia, legalmente, como se pode convocar uma ANC?
A ANC é convocada pelo Congresso da República, como proposta do governo nacional ou de um grupo representativo de cidadãos. Neste caso, certamente seria uma proposta do governo ao Congresso como parte do acordo da mesa de Havana.
 
As FARC preveem que o governo faça a proposta ao Congresso e que este faça essa convocatória e estabeleça a forma de integração da ANC?
Prevê isso ou sua alternativa, que um grupo numeroso, conforme dito na Constituição, de cidadãos e cidadãs, o solicite, mediante um documento público. Ou seja, caso o governo se negue a fazê-lo, seria possível utilizar essa alternativa. Claro, como é uma mesa de negociação, o que se pretende é que o governo a aceite e a apresente ao Congresso, tendo em vista que o governo possui a maior quantidade de parlamentares. Através de sua coalisão de governo, chamada “Unidade Nacional”, tem 92% do Congresso. Portanto, não pode dizer que não têm força suficiente para isso.
É um pouco o que dizia um dos dirigentes das FARC, Pablo Catatumbo, numa entrevista em que falava que o governo necessita de capacidade de manobra, governabilidade. Porque, na realidade, o que se vê é que, apesar de controlar o Congresso, existem demasiadas fissuras, inclusive no próprio governo, pois enquanto Santos diz uma coisa, o Ministro de Defesa diz outra. Então, quando reclamamos ao governo e ao presidente que faça coesão no governo, o que Santos explica é: “ah, é que existem uns Ministros que saem da linha do governo”. Não, um governo não pode ter duas linhas e a solução ele tem. Para que exista apenas uma linha, aqueles que não se submeterem, têm de sair.
 
O PCC é otimista sobre as possibilidades reais deste diálogo?
O Partido Comunista é moderadamente otimista. Não somos pessimistas, mas tampouco exageradamente otimistas. Somos conscientes das contradições do presidente Santos, de suas veleidades, de suas vacilações, das concessões que faz ao militarismo. Então, esse vaivém pode levar a um determinado momento em que adote uma linha distinta da que vem mantendo até agora.
Santos não é uma pessoa de confiança. Nós o reconhecemos como uma pessoa audaz, para chamá-lo de alguma maneira, por ter se sentado numa mesa de diálogo com as FARC, mas também reconhecemos suas profundas debilidades. Uma delas é que ele é indeciso, faz concessões, se deixa levar pelas mudanças de ânimo, pelas pesquisas. Quando as pesquisas mostram sua popularidade muito baixa, ele busca uma maneira de subi-la, fortalecendo, às vezes, a linha militar para aproximar-se da direita ou promovendo qualquer outro tipo de concessão. Então, numa dessas veleidades dele, repentinamente, pode terminar rompendo o processo. Essa é uma possibilidade. Certamente, aqui é fundamental a pressão popular na Colômbia, a pressão internacional, para que este senhor fique na mesa, pois ele nunca se comprometeu em permanecer ali, qualquer que seja a situação que se dê. Em contrapartida, a delegação das FARC sempre disse: daqui não nos levantamos. Se vai romper, que rompa o governo.
 
Para 2014, estão previstas, na Colômbia, as eleições legislativas em março e presidenciais em maio. As FARC apresentaram a ideia de que se adiem as eleições. Santos e o governo imediatamente responderam negativamente a essa possibilidade. Ajudaria aos diálogos de paz adiar as eleições por um ano?
Nós somos partidários de discutir o assunto. Acreditamos que está fundamentado, a delegação de paz das FARC apresentou a proposta com argumentos, com argumentos orientados a continuar pressionando o governo quanto aos tempos fatais, que são os tempos eleitorais, e aos tempos de mandato, dizendo: o tempo da atual legislatura se esgotará e não serão introduzidas mudanças que requeridas no país...
 
O processo de paz deve ser ligado aos períodos eleitorais?
O processo de paz não pode ser refém das eleições e nem do tempo de mandato. O processo de paz possui sua dinâmica. É que estamos falando de um conflito de seis décadas, de profundas contradições. É, justamente, por isso que estão sentados, negociando, porque são partes que não pensam igual e que, sobre alguns temas, pensam de maneira diametralmente oposta. Construir acordos sobre essa base não é fácil: requer tempo, requer a busca de consensos. Aqui tem que ser com base em consensos, é a forma como vão se definir os caminhos. Então, o processo de paz não pode depender de prazo. A proposta das FARC foi orientada um pouco nesse sentido: bom, se esse é o problema, prolonguemos o tempo. Isso também não agrada o país. Além disso, não sei, a partir do ponto de vista legal, o quão fatídico seria, o quão ajustado à lei e à Constituição. Seria necessário analisar, falar com os especialistas nestes temas. Ainda que na Colômbia os advogados, eu também o sou, são especialistas em buscar brechas... se diz “feita a lei, feita a armadilha”.
 
O processo de paz colombiano e estes diálogos em particular, não têm prazo, não se sabe o quanto vão durar?
O governo vem violando o acordo geral, pois o acordo geral não contempla tempo, o acordo geral fala de um tempo razoável. O que é um tempo razoável? O tempo que não é indefinido, que não é eterno, mas que é estritamente indispensável para resolver um assunto, um problema. É disso que se trata, que o processo de diálogo tenha o tempo estritamente indispensável para ele. Além disso, o acordo agrega uma metodologia e diz a cada período é necessário apresentar um balanço quanto o andamento do diálogo, a fim de dinamizar o processo, de fazer os ajustes que sejam necessários. Em nenhuma parte se defende que tais acordos transcorram de maneira lenta. Então, o governo pode romper. Não, muito pelo contrário. Quando se diz que é preciso fazer um balanço para dinamizar o diálogo, o objetivo é que, se descoberto que o mesmo não segue num bom ritmo, seja colocado o ritmo e não para romper. Então, o governo incorre em duas violações do acordo: a primeira, estabelece um tempo arbitrariamente, o que, de fato, não consta no acordo. A segunda, ameaça com a ruptura, quando não está tampouco prevista a ruptura no acordo. No acordo, o que se diz é que o objetivo é a paz estável e duradoura, não a ruptura.
 
Justamente, falando sobre essas possibilidades de ruptura e de ações que sabotam os diálogos, o presidente Santos recebeu em Bogotá o ex-candidato presidencial Capriles Radonski. Qual é a apreciação do PCC com respeito a esta ação e o impacto do papel que o governo venezuelano tem jogado no processo de paz?
O Partido Comunista repudiou essa reunião, além de qualificá-la como um ato de inimizade e desleal do presidente Santos com o governo bolivariano da Venezuela, porque Capriles não é o chefe da oposição simplesmente. Como explica Santos: “a qualquer país que vá, eu me reúno com a oposição”, e alguns dizem: ah, Piedad Córdoba ia à Venezuela, se reunia com Chávez e agora se reúne com Maduro. Porém, esse não é o ponto. O senhor Capriles não é um líder da oposição, é um líder dos golpistas, dos que querem minar a democracia na Venezuela e que desconhece os resultados legítimos, constitucionais, democráticos de um processo eleitoral, desconhece o governo bolivariano. Então, é um ato no qual se está favorecendo não a um chefe da oposição, mas a um perturbado, a um golpista.
E o outro é o ato de deslealdade com quem serviu à causa da paz na Colômbia. O presidente Chávez foi definitivo para que funcionasse a mesa de diálogo e, hoje, o é o presidente Maduro. Isso foi dito pelo próprio chefe da delegação do governo, o Doutor de la Calle Lombana: a Venezuela foi fundamental para que possamos chegar a um final feliz. O mesmo foi repetido por Iván Márquez, representante da delegação de paz das FARC. Aqui Santos se equivocou. Eu não acredito que tão de boa fé, não acredito que tenha sido ingênuo nisto, porque essa decisão de Santos resultou depois da visita do Vice-presidente dos EUA à Colômbia. Foi então que recebeu Capriles e quando anunciou, inclusive, o ingresso à OTAN, que é um pacto militarista, agressivo.
 
A OTAN protagonizou invasões e agressões imperialistas em distintos países. Qual é a opinião do PCC sobre a proposta de Santos de incorporar a Colômbia nessa organização militarista?
Essa é a questão: o que tem a ver a Colômbia com um pacto agressivo-militarista como a OTAN? Inclusive, os próprios europeus que fazem parte da OTAN disseram que, geograficamente, a Colômbia não cabe na organização. Os EUA disseram que eles poderiam ajudar para que a Colômbia estivesse no Pacto da OTAN, porque têm interesse no território colombiano para instalar suas bases militares, ameaçando todo o continente e, certamente, intervindo mais diretamente no conflito colombiano, mais do que vem fazendo não ao longo destes últimos anos, mas ao longo de todo o conflito colombiano.
 
Durante os dois mandatos presidenciais de Uribe, se dizia muito no mundo que o governo colombiano era o Israel da América Latina. E com Santos, continua sendo assim?
Claro, é o Caim da América. Não é um problema de presidentes, é um problema da classe dominante colombiana. Concordemos que foi em Bogotá onde se fundou a OEA, o ministério de colônias ianques, como dizia o comandante Fidel Castro em seu tempo, e o primeiro Secretário Geral foi o Chanceler Lleras Camago, que era um símbolo dos norte-americanos, uma personalidade colombiana. A classe dominante colombiana, a oligarquia colombiana sempre foi servil, submissa aos interesses do imperialismo. Para eles o tempo não passou, continuam sem a dignidade de se colocarem em sintonia com as novas realidades que existem hoje na América Latina, de se colocarem próximos à CELAC, à UNASUL e à ALBA. Não, a Colômbia continua olhando pelos olhos de Washington e, por isso, não é coincidência que Mister Biden chegue a Bogotá e que, três dias depois, Santos receba Capriles e faça o anúncio da OTAN, que é um velho sonho dos EUA: converter a Colômbia num território de Bases norte-americanas.
 
Em abril do ano passado lançou-se um movimento denominado Marcha Patriótica, do qual faz parte o PCC. O que é a Marcha Patriótica e qual é sua perspectiva?
 A Marcha Patriótica é uma organização social e política que é integrada fundamentalmente por organizações de base, agrárias, sindicais, estudantis, de mulheres, de trabalhadores, de pessoas ligadas à cultura, de todos que representam o espectro da sociedade colombiana ávida de mudanças, de transformação. É isso que representa a Marcha Patriótica. E, portanto, também de organizações políticas, como o Partido Comunista, como o grupo liberal Poder Cidadão, de Piedad Córdoba, outros grupos menores que saíram do Polo e que fazem parte da Marcha Patriótica.
A Marcha Patriótica tem uma dupla finalidade dentro de sua premissa fundacional, que é: 1 – trabalhar pela paz, defender o processo de paz de Havana, construir um caminho para a saída política, democrática, do conflito colombiano; 2 – a Unidade, a unidade da esquerda e dos setores democráticos. Não só a unidade revolucionária, mas a unidade democrática também, para formular uma opção de poder, que é a que pode consolidar a paz. Um poder popular e democrático na Colômbia pode iniciar a mudança para o Socialismo. Não podemos aspirá-lo na mesa de Havana. Em Havana, ocorrerá uma abertura democrática para que se alcance o objetivo final, que é o que desejamos. Porém, isso tem que ser complementado com um movimento muito amplo, muito forte, influente, alternativo no país. Um movimento de movimentos populares que possa capturar o poder para produzir as mudanças e abrir caminho para o Socialismo, para uma nova realidade de uma Colômbia nova, possível.
 
Para o PCC continuam vigentes os postulados do fundamentais do marxismo-leninismo na luta pelos Socialismo e o Comunismo?
Disso não resta a menor dúvida. Nós fizemos nosso Congresso Nacional no ano passado, onde reafirmamos o caráter marxista-leninista do Partido Comunista e nossa concepção socialista e comunista para uma nova sociedade. Para isso trabalhamos. Portanto, dentro desse conceito, adotamos nossa tática e tudo isto que estamos fazendo hoje, de construir um conceito de unidade popular, muito amplo, com opção de poder, vai na direção de gerar as condições para que possamos avançar rumo esse desafio socialista, rumo esse desafio revolucionário.
 
Nesse contexto, qual é o papel que está cumprindo o semanário VOZ?
O VOZ cumpre o papel de ser uma ferramenta ideológica no campo da comunicação e da batalha de ideias. O VOZ, é claro, é um meio de comunicação expressamente ligado à vida e à existência do Partido Comunista Colombiano, porém vai mais além do Partido Comunista. É uma espécie de ponte entre o PCC e o movimento popular, o movimento sindical, os setores mais avançados. Por isso, nos preocupamos muito que nosso discurso, nossa mensagem, interprete essa realidade, sem abandonar nossos princípios, sem abandonar nossa condição militante e comunista. No entanto, também devemos entender que nossa mensagem transcende os limites do Partido.
Então, nesse sentido, o periódico é uma ferramenta para a luta ideológica, para a luta popular, para a luta de massas e, por isso, insistimos. O periódico expressa a plena vigência do conceito leninista de ser um organizador, um educador, um agitador, um propagandista, um organizador da luta popular, nossa mensagem tem que ser muito direto e tem que ir nessa direção. Reclamamos sempre o direito que temos de fazê-lo. Não caímos na hipocrisia da imprensa burguesa de dizer que somos neutros. Não, nós não somos neutros. Nós, ao contrário, estamos alinhados com uma política, com uma concepção, com uma ideologia revolucionária e com ela trabalhamos e não a ocultamos e não a negamos.
A única condição que colocamos para tornar mais eficaz nosso trabalho é nos apoiarmos na verdade, isso sim. Não inventamos nada. Não descontextualizamos as propostas que fazemos, nos baseamos em conceitos reais, verídicos, em coisas que existiram, em fatos históricos que se dão e que nos auxiliam na formulação de nossos projetos teóricos, nossos projetos ideológicos e que são parte de nossa contribuição a esta luta revolucionária na Colômbia.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)