"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Adolfo Péres Esquivel alerta para crise ambiental na América Latina


A revista "Otro Viento” visitou, recentemente, as instalações do Serviço de Paz e Justiça (Serpaj) para entrevistar o presidente do Conselho Honorário da entidade na América Latina e Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel. Para ele, a política de direitos humanos na AL é difícil e perigosa, já que, por um lado, ainda há países em que se encontra uma forte perseguição àqueles que defendem os direitos humanos, como México, Honduras, Colômbia e Paraguai. "Em Honduras, há mais de 100 jornalistas mortos, muitos estão exilados e outros tantos presos, tudo por defender a liberdade de informação”.


Na entrevista aos jornalistas Pablo Frías Aramis Lascano, Esquivel observou que o exemplo mais grave é o da Colômbia, que tem mais de 50 anos de conflito armado, envolvendo basicamente as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o governo. "Há outros grupos, como os ‘parapoliciais’, ‘paramilitares’ e o exército dos Estados Unidos”. Segundo ele, nesse país, há mais de 6 milhões de pessoas desalojadas, de quem foram tiradas as terras para entregá-las a empresas multinacionais, que não vêm para promover políticas de desenvolvimento, mas de exploração. "Eles vem para saquear tudo o que podem. Aqui na Argentina, no Chile, ou em qualquer país latino-americano”.


Os governos, mesmo os ditos mais populistas, estão fazendo acordos secretos com multinacionais, como a Monsanto, que, segundo Esquivel, foi expulsa de diversos países do mundo, mas que "o governo argentino trata como heróis”.


Além das expropriações de terras, essas grandes empresas trazem outro grande problema: a exploração ambiental. Casos como as plantações de soja, que causam a desertificação do solo, e das plantações de pinho e eucalipto, que consomem muita água. "Os pinhos e os eucaliptos, quando são árvores adultas, passando dos 15 anos, absorvem entre 60 e 70 litros de água por dia. Quando se corta uma dessas árvores e a leva num caminhão, há de se calcular o quanto de água também está sendo levado. Multiplique essa quantidade de litros por 365 dias, por 15 ou 20 anos. E eu estou falando de apenas uma árvore. Então, quando passamos por quilômetros de hectares dessas plantações, percebemos o absurdo de água que é gasta”, assinalou.


O Nobel também relatou que há vários países no mundo que sofrem com a falta de água, 32 deles já quase não dispõem mais. Falta água para as coisas mais básicas. Além disso, essa água ainda é utilizada de outras formas mais preocupantes, como é o caso do "Fracking”. Esta é uma técnica para se extrair gases naturais de rochas profundas, injetando água a fortes pressões para causar rachaduras nessas rochas e liberar os gases. "Há alguns anos, meu amigo Fidel ([Fidel Castro, ex-presidente cubano] me disse: ‘tenham cuidado com o fracking’, eu nem sabia o que era isso, e ele me explicou”. Essas perfurações, se mal feitas, podem contaminar os lençóis freáticos e prejudicar muita gente, pois esses gases causam diversas doenças, como o câncer.


O argentino Adolfo Pérez Esquivel iniciou, nos anos 1970, um trabalho com organizações e movimentos dos direitos humanos na AL. Posteriormente, participou dos movimentos de não-violência e, em 1973, publicou o periódico Paz e Justiça para difundir essa filosofia. Em 1980, recebeu o prêmio Nobel da Paz por seu compromisso com a democracia e os direitos humanos por meios pacíficos frente às ditaduras militares na América Latina

Fonte: Adital

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A Paz no el centro do debate


-->

Fonte: www.anncol.eu


No passado 19 de novembro, se cumpriu um ano do processo de paz entre o governo de Juan Manuel Santos e a insurgência das FARC-EP, após apresentar ante a opinião pública o acordo geral para a terminação do conflito e a construção da paz estável e duradoura. Igual que em anteriores tentativas de diálogo, os inimigos da paz se têm feito presentes. Neste caso, sem ainda haver conseguido seu objetivo. De forma simultânea, cresce o movimento social e popular que exige justiça social como elemento fundamental da paz que se acorde. O balanço é positivo, neste lapso de tempo as partes apresentaram como resultado a firma de acordo em dois dos seis pontos da agenda de diálogo e negociação, acordos parciais nos pontos da problemática agrária, terra e território e participação política.


No entanto, durante este ano de processo de paz o governo teve um duplo discurso: se mantém na mesa de diálogo em Havana –Cuba-, enquanto na Colômbia aprofunda a agenda neoliberal e a política de guerra.


Em meio a esta contradição governamental, os inimigos da guerra, que outrora estavam escondidos, querem pescar em rio revolto; pretendem voltar completamente ao governo em 2014. Sob o pretexto de manter a guerra, se atrevem a alçar bandeiras próprias do campo popular e de esquerda do país. Tal tem sido o oportunismo que em alguns protestos tem pousado de estar ao lado do interesse de setores populares, como do campesinato e da saúde. O discurso guerreirista se mantém no interior do governo. Setores visíveis do estabelecimento se atracam em cadeiras ministeriais como a do Ministério de Defesa. A guerra total é seu melhor negócio, lhe tem sido rentável para a acumulação de riquezas e de poder, e pretendem perdurá-la no tempo.


O movimento popular e democrático se mobiliza em respaldo ao processo de paz e em rechaço à agenda continuísta de Juan Manuel Santos. Grandes mobilizações têm dado um forte apoio aos diálogos com a guerrilha das FARC, ao tempo em que têm reivindicado o início do diálogo com o Exército de Libertação Nacional –ELN. O processo de paz deve incluir necessariamente a estes dois exércitos guerrilheiros. A vontade popular expressada nas ruas está a favor do processo, insiste na paz como sinônimo de justiça social, e para conquistar este anseio popular se requer uma ruptura com o modelo econômico imposto nas duas últimas décadas no país e uma necessária democratização da vida nos campos sociais, políticos e culturais.


O povo conseguiu, apesar das dificuldades, mediante a mobilização e o protesto, demonstrar que vem tomando o controle da chave da paz. A paz não será conquistada por concessão dos setores do estabelecimento, não são nem os Santos nem os Uribes, pelo contrário, só poderá ser uma conquista popular. Em tal perspectiva, a unidade popular e democrática, a ação decidida e coordenada e a exigência de uma nova Constituição política da Colômbia, através de uma Assembleia Nacional Constituinte, uma Constituinte que ratifique os acordos de paz aos quais se chegue na mesa de diálogo, e ademais oriente o marco constitucional para a democratização, a justiça social e a soberania, são os elementos que estão no centro do debate atual.
Marcha Patriótica 


Tradução: Joaquim Lisboa Neto

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Manuel Zelaya: "se necessário, o povo defenderá nas ruas a sua vitória nas urnas"


Deposto por um golpe militar patrocinado pelos EUA em 2009, Zelaya enfatizou que "as urnas falaram em defesa de uma mudança profunda".


Por Leonardo Wexell Severo, de Honduras


Exigimos que se respeite a decisão do povo de que Xiomara Castro seja a sua presidenta. Não importa o que façam, porque esse processo se iniciou e ninguém vai pará-lo”, afirmou o coordenador do Partido Livre (Liberdade e Refundação), Manuel Zelaya. Junto a centenas de militantes, o ex-presidente destacou durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (25) em Tegucigalpa que, “se necessário, o povo defenderá nas ruas a sua vitória nas urnas”.

 
Deposto por um golpe militar patrocinado pelos EUA em 2009, Zelaya enfatizou que “as urnas falaram em defesa de uma mudança profunda” e denunciou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) age em função dos interesses da oligarquia vende-pátria, representada pelo candidato Juan Orlando Hernández, do Partido (Anti) Nacional.


O Tribunal não está contabilizando 1.900 atas, cerca de 400 mil votos, de zonas em que o Partido Livre ganhou amplamente. Estamos prontos para comparar as atas que temos com as que chegaram do TSE. Que eles demonstrem o contrário, que perdemos. Nunca poderiam fazê-lo”, acrescentou Zelaya, aplaudido de pé.


Segundo Zelaya, a disposição do Partido Livre não é a de “conclamar a sublevação, mas de garantir direitos, que não se negociam”. “Por que o Tribunal aparta 20% das urnas em seu resultado? Basta ter um mínimo de inteligência para explicar”, condenou o ex-presidente, com a militância respondendo em coro: “vamos às ruas!”.


A presidenta eleita, Xiomara Castro, dedicou a vitória aos “homens e mulheres que entregaram sua vida por esta causa, aos jovens que doaram seu sangue pela liberdade da Pátria e de todo o povo hondurenho”. “Os dados que recebemos de todo o país com a contagem das atas eleitorais confirmam que sou a presidenta da Honduras. Não vou decepcionar, cumpriremos da primeira a última palavra empenhada”, agradeceu.


Rechaço à fraude


O candidato do Partido Anti-Corrupção (PAC), Salvador Nasralla, também rechaçou a fraude: “Os resultados estão dramaticamente violentados e não correspondem à realidade”. Nasralla, um apresentador de televisão, asseverou que o partido governista utilizou dois call centers para produzir e escanear atas falsas. Elas seriam enviadas ao centro de apuração, adulterando os resultados. “Tenho todas as provas e já apresentei uma denúncia à fiscalização. Além disso, o partido do governo comprou muitos dos representantes de mesa do meu partido, para que se retirassem do centro de votação e não defendessem nossos votos”, disse.


Reforçando esta denúncia, a TV Globo de Honduras divulgou entrevistas com inúmeros fiscais que comercializaram suas credenciais partidárias para o Partido Nacional. A reflexão é elementar: pela legislação eleitoral, as mais de 16 mil urnas necessitariam de pelo menos 32 mil pessoas de cada partido, entre fiscais e suplentes. Tais agremiações deveriam ter, portanto, pelo menos esses dois votos. Abertas as urnas, os partidos que atuaram como legenda de aluguel, todos juntos, não somaram sequer 1% dos votos. Formados para isolar o Partido Livre, seus “representantes” atuaram para controlar as mesas eleitorais e armar a fraude.


"Graves evidência de fraude"


Foi o que viu a delegação de observadores da Confederação Sindical Internacional (CSI), que apontou a existência de “graves evidências de uma fraude eleitoral”. “Durante todo o dia recebemos denúncias de diversas formas de manipulação e compra de votos, ameaças e outros atos de violência contra os fiscais e os eleitores do Livre”, informou a CSI, ressaltando que “alguns deles foram testemunhados pelos representantes da missão, assim como pelas várias organizações internacionais aqui vindas para observar as eleições”.


Também nesta segunda-feira à tarde, no Comitê de Familiares de Detidos e Desaparecidos de Honduras (Cofadeh), a canadense Laura Carter, dirigente do Industrial Global Union, apontou a existência de “uma série de irregularidades, que podem ter impacto determinante nos números divulgados pelo TSE". Laura informou que na zona de São Miguel, na região metropolitana de Tegucigalpa, que conta com 50 mil votantes, força expressiva de Xiomara, nada menos do que 400 eleitores apareceram como "mortos" - sendo retirados da lista, sem poder votar - e outros mil simplesmente "desapareceram do registro".


Marcelina Samaniego, representante da Internacional dos Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM), denunciou “a sonegação de informações e o não envio das planilhas de votação”. Como na região de San Pedro Sula, onde Xiomara liderava, esclareceu Marcelina, o jovem que manejava o computador e centralizava o processo lhe disse ter "orientações claras" para atrasar o envio de urnas desfavoráveis. "Nós não podíamos ter acesso e a Força Pública e a Militar estavam ali para respaldar o que eles dissessem", acrescentou.


Denis Roberto Aguilar Gomez, fiscal do Partido Livre na Escola Tomas Alvarez na mesa 9357, no bairro Nova Esperança, na região metropolitana de Tegucigalpa, foi agredido por 20 fascistas do Partido Nacional. Quando foi denunciar aos policiais militares acabou sendo detido ilegalmente e agredido, por ser de oposição. "Me torturaram dentro da escola", relatou, mostrando as marcas da agressão.


Perseguição e intimidação


Às vésperas das eleições de domingo (24), o governo hondurenho utilizou policiais militares e da migração para perseguir e intimidar observadores internacionais, identificados como simpatizantes de Xiomara. Personalidades como Rigoberta Menchú, prêmio Nobel da Paz, foram impedidas até de entrar no país. Ao mesmo tempo, os golpistas convidaram 23 organizações de extrema direita para acompanhar o pleito.


Na cidade de El Progreso, próxima a San Pedro Sula, um dos principais polos da resistência ao golpe contra Zelaya, cinco soldados da Migração, fortemente armados, entraram no centro de capacitação da Igreja em busca de “salvadorenhos”. Terceira principal cidade do país, El Progreso é o berço de Roberto Micheletti, ditador alçado ao poder em 2009.


Na capital, Tegucigalpa, prefeitos e parlamentares da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), que governa El Salvador, também foram abordados e constrangidos por policiais a poucos metros do Honduras Maya, hotel em que estamos hospedados.


Nesta segunda, soldados fortemente armados voltaram a cercar o hotel, tentando impedir um protesto pacífico contra a fraude eleitoral, condenada em coro como um novo golpe. “Mídia vendida, conta-nos bem, não somos um, não somos cem”, alertaram os manifestantes, repudiando a manipulação dos grandes conglomerados de comunicação em favor dos golpistas.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Defender o "Mais Médicos" é defender a valorização do SUS, uma conquista da sociedade


-->


Por: Marize Muniz


O presidente da CUT, Vagner Freitas, defendeu o programa "Mais Médicos" do governo Federal em audiência no Supremo Tribunal Federal, nesta segunda-feira, 25, em Brasília.

"Defender o "Mais Médicos" é defender a valorização do SUS - Sistema Único de Saúde, uma conquista importante da nossa sociedade, fundamentalmente, dos trabalhadores e das trabalhadoras ; é defender mais investimentos na saúde, na qualificação dos/as trabalhadores e na melhoria das condições dos locais de trabalho".

A audiência, convocada pelo ministro Marco Aurélio, tem como objetivo buscar informações junto a especialistas e também saber a opinião da sociedade sobre o Programa Mais Médicos, para subsidiar o julgamento da matéria pelo STF. O processo será liberado para julgamento assim que o procurador-geral da República encaminhar ao supremo seu parecer sobre o programa.

Para o presidente da CUT, não há dúvida de que o Brasil ainda carece e muito de serviço público de qualidade, em especial na saúde, área de vital importância para a população que não pode pagar por serviços privados. No entanto, ressaltou que é essencial defender o SUS, "uma conquista importante da sociedade brasileira, que nem mesmo o povo dos EUA tem".

"Não podemos admitir que faltem médicos para atender trabalhadores em muitos municípios e regiões das periferias das grandes cidades, como ocorre atualmente, sem pensar em uma solução. Porém, não basta contratar médicos. É preciso investir e muito na saúde", pontuou Vagner.

Segundo o dirigente, o problema da saúde no Brasil não se resume apenas a ter mais médicos. "É preciso contratar médicos, brasileiros ou estrangeiros, que queriam ir para esses locais para onde a maioria da categoria se recusa a ir, mas também continuar a investir em condições de trabalho, equipamentos, qualificação dos trabalhadores na saúde", argumentou Vagner lembrando que: "não podemos deixar de dizer é que tudo se inicia com o médico. Se tivermos equipamentos, unidades, medicamentos, excelentes condições de trabalho e não tivermos médicos, não vai adiantar absolutamente nada".

Vagner lembrou também de tudo que sido feito nos últimos dez anos para resgatar a qualidade dos serviços públicos no país, depois de anos de descaso, falta de investimentos em equipamentos e em pessoal. Para ele, Lula e Dilma estão fazendo um verdadeiro resgate histórico dos direitos da população e dos trabalhadores investimento em serviços públicos de qualidade.

"É preciso que fique claro que não concordamos na demonização da categoria médica. Para nós o que está claro é que é preciso iniciar a melhoria da saúde dos brasileiros colocando mais médicos onde precisa e, depois, complementar a medida com muitos outros investimentos na saúde", concluiu o presidente da CUT.

A audiência pública sobre o Mais Médicos começou pela manhã quando apresentaram argumentos favoráveis ao programa os representantes do governo: o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que defenderam o programa Mais Médicos na forma como foi implantado, bem como o secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, Paulo Speller (Sesu/MEC).



Também falaram partes contrárias ao programa como o presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto Luiz d’Ávila, o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino de Araújo Cardoso Filho, e o representante do Ministério Público do Trabalho (MPT), Sebastião Vieira Caixeta.


O ministro Marco Aurélio é o relator das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 5035 e 5037, que contestam dispositivos da Medida Provisória (MP) 621/2013, que instituiu o programa, o ministro afirmou que “o debate é salutar para um bom desfecho das ADIs”.
Ele informou aos participantes da audiência pública que todas as explanações estão sendo gravadas e servirão para instruir o julgamento que vai analisar a vinda de médicos de fora para o Brasil, ou seja, a abertura maior das fronteiras brasileiras no setor da saúde.

 

Em sua explanação Vagner fez questão de elogiar a audiência pública. Segundo ele, é importante poder exercer o legítimo direito democrático que o espaço aberto pelo STF permitiu.
É bom que existam esses espaços na nossa democracia, onde possamos debater e defender os pontos de vista dos trabalhadores." Somos totalmente favoráveis ao programa Mais Médicos porque queremos que a saúde chegue a todos e todas".

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

BASES MILITARES NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE.


O imperialismo estadunidense tem mantido, ademais da submissão econômica, um domínio militar em todo o continente, para o qual promoveu invasões diretas, golpes de Estado, eleições presidenciais fraudulentas...

 
Governos surgidos dessa maneira são incondicionais a suas políticas, submissos aceitam a instalação de bases militares em nossos países, sem importar-lhes que sejam violadoras da soberania nacional e sirvam para agredir aos vizinhos ou a povos de outros continentes.

 
Os primeiros a sofrer a humilhação foram Porto Rico e Cuba, esta última com a base de Guantánamo, que hoje em dia serve de cárcere para os prisioneiros acusados de terrorismo e que foram sequestrados em diversos países. Os que tiveram a desgraça de chegar ali recebem tratamento de inimigo e não têm direito algum, nem sequer o da legítima defesa. A tortura é exercida abertamente, sem que muitos governos e organismos internacionais se atrevam a condená-la publicamente. É uma afronta à comunidade internacional e uma mancha indelével que jamais poderá apagar a “injustiça norte-americana”.

 
Ante o avanço dos processos democráticos e da unidade latino-americana e caribenha, ao mesmo tempo em que se consolidam processos como: MERCOSUL, UNASUL, CARICOM, ALBA e a CELAC, o império prossegue sem pausa a ocupação militar.

 
Assim, na atualidade se encontram 36 bases militares disseminadas por todo o continente, ocupando posições estratégicas na região. O pretexto: a luta contra o narcotráfico e o terrorismo.

 
O caso colombiano é muito significativo. O presidente Álvaro Uribe Vélez [2008-2010] entregou todo o território nacional aos falcões da guerra. Se reconhece a existência de 7 bases militares, porém, na realidade, há doze e os Estados Unidos dispõem de permissão para usar, caso “necessário”, todos os portos e aeroportos do país com fins bélicos.

 
Colômbia ficou coberta militarmente, porém as operações militares não são só para a Colômbia. A base de Palanquero foi modernizada para receber aviões de guerra de última geração, com capacidade de operar em toda a parte sul do continente, controlar o oceano Atlântico e intervir em países africanos.

 
Ao anterior, há que somar-lhe o desdobramento da Quarta Frota e então nos encontramos com o que os EUA atuam ameaçadoramente para dissuadir ou intervir em qualquer nação do continente com uma supremacia absoluta e com uma velocidade assombrosa. Em minutos, podem desembarcar milhares de soldados em quaisquer das bases na Colômbia. Suas avançadas estão em posição. Dispõem de inteligência estratégica tática e sobre objetivos militares a ser aniquilados ou neutralizados.

 
Colômbia tem a força militar mais numerosa da América do Sul, 500 mil soldados, homens e mulheres, treinados para a guerra, com armamento moderno, aviões de combate, drones equipados com mecanismos de espionagem da mais alta tecnologia, satélites com sensores que detectam luz, calor, fumaça e presença de seres humanos; dispõem de equipamentos de fotografia que podem captar uma pessoa a muitos quilômetros de distância. Com a particularidade que esta tecnologia é manejada diretamente por pessoal estadunidense e, em muitas dessas bases, há lugares nos quais está restrito o acesso ao pessoal de nacionalidade colombiana.

 
Na Colômbia, a vida civil se militarizou. Os gerentes, administradores, funcionários públicos, profissionais liberais, têm recebido formação militar e graus militares, que os acreditam como capitães, majores ou coronéis da reserva que, num dado momento, podem entrar a dar ordens a militares de menor escalão.

 
Em muitas áreas do país, os assessores e pessoal militar estadunidense circulam livremente. É indigno e antipatriótico ver como militares colombianos se acostumam a realizar operações sob suas ordens. São vários os casos reportados de pilotos norte-americanos que morreram em acidentes ou seus aviões serem derrubados pela guerrilha.

 
Nenhuma destas notícias chega à imprensa, devido ao cerco informativo que se exerce sobre o tema.

 
Igualmente, está passando por todo o continente. As oligarquias no poder, alinhadas com esta política, nem se incomodam, nem criticam, nem denunciam a instalação de bases em El Salvador, Honduras, Costa Rica, Panamá, Peru, Paraguai, Chile, Haiti, Porto Rico, Bolívia, Brasil e outras.

 
Tem sido um trabalho lento, porém seguro; nenhum país está em capacidade de responder militarmente ao império, porém, sim, de obrigá-lo a sair de seu território, como o fez Rafael Correa com a Base de Manta, no Equador. Isto demonstra que, enquanto haja governos democráticos e povos erguidos, o império não as tem todas consigo.
 

O despertar de Nossa América é inegável, hoje contamos com governos patrióticos que levantam as bandeiras da dignidade e do anti-imperialismo, a mobilização e o protesto social crescem cada vez mais e, entre suas palavras de ordem, aparece a luta contra o Império, o capitalismo, o neoliberalismo; pela autodeterminação dos povos, da defesa da soberania nacional e do repúdio à presença militar ianque no continente; palavras de ordem de todos os revolucionários, democratas e patriotas, estamos obrigados a agitar para que acendam na consciência popular e assim fazer abortar os planos de dominação continental.

 
Tarefa urgente e necessária é organizar uma campanha simultânea em todos os países de América Latina e Caribe contra as bases norte-americanas.

 
Fora as bases militares estadunidenses de nosso continente!
Viva a Pátria Grande e o Socialismo!
Contra o Imperialismo; pela Pátria.
Contra a oligarquia, pelo povo. 

 
Comissão Internacional das FARC-EP.
La Habana, Novembro de 2013.

Mulheres relatam suas experiências como vítimas do conflito armado


Por Mateus Ramos

Em meio a uma guerra que perdura há décadas na Colômbia, muitas mulheres são vítimas de violência e maus tratos. Humilhadas e muitas vezes desamparadas pela justiça, muitas delas esconderam suas histórias e sentimentos. Situação que começa a ser revelada com o lançamento do relatório "A verdade das mulheres. vítimas do conflito armado na Colômbia”, no último dia 14 de novembro.


Lançado pela Ruta Pacífica de las Mujeres, movimento feminista que trabalha pelo fim dos conflitos armados na Colômbia e para tornar visíveis os efeitos desses conflitos na vida e nos corpos das mulheres, o relatório mostra as histórias das mulheres vítimas de violência em meio ao conflito armado.


O desenvolvimento do relatório teve início no começo de 2010 com uma metodologia de investigação inédita, apresentando as experiências vividas por mais de 1 mil mulheres vítimas e nove casos coletivos. São as vozes das mulheres que se expressam nesse relatório, inédito no mundo.


A metodologia empregada na realização do relatório foi a de uma investigação participativa, onde se dá ênfase à interpretação e a narração dos fatos pelas próprias mulheres desde sua subjetividade. A pergunta não é "por que aconteceu?”, mas sim "por que aconteceu com você?”. Foram colhidas informações desde o primeiro momento até o último, o que aconteceu com as mulheres e as consequências para suas vidas, além das formas de enfrentamento.


Para as mulheres envolvidas nesse relatório, a busca da verdade, de suas memórias, experiências e sentimentos significa desconstruir a dor que sentem, "esse é um espaço para a gente expressar nossas verdades, porque aqui só se tem escutado a verdade dos nossos algozes”.


As violações dos direitos humanos dessas mulheres provocaram experiências traumáticas, no sentido em que causaram uma ruptura na continuidade da vida, criando um marco, um antes e um depois do que aconteceu. Segundo o estudo, as pessoas mais afetadas foram aquelas que perderam entes queridos. Além disso, outro trauma é o sentimento de injustiça, já que apenas 18% dos casos denunciados estão sendo investigados.


Apesar da impunidade, mais de 60% das mulheres fizeram algum tipo de denúncia; outras alegaram que, além da falta de confiança na justiça, sentem medo de represálias.


Para as mulheres vítimas de violência, a única coisa que pode amparar suas dores é a justiça. Elas desejam que seus algozes sejam julgados e condenados pelo que fizeram. Elas também buscam um país menos impune, que evite que esses atos de violência ocorram. Para elas, a justiça é responsabilidade do Estado, que deve, por obrigação, investigar os casos de violação dos direitos das pessoas e condenar os culpados.


Números


Segundo informações do relatório, cada mulher entrevistada sofreu mais de quatro casos de violência de vários tipos e três em cada quatro foram deslocadas de suas casas contra suas vontades. Além disso, mais de 80% das mulheres entrevistadas foram vítimas de alguma forma de tortura física e mais da metade sofreram agressões psicológicas.


Outro dado mostrado foi em relação à violência sexual, segundo o estudo, cerca de 14% das mulheres que participaram do desenvolvimento do relatório, sofreram abusos sexuais. Segundo o relatório, uma em cada oito mulheres também alegou violações da liberdade pessoal, tais como serem presas de forma arbitrária e mantidas como reféns.


Mais informações em www.pnud.org.co


domingo, 24 de novembro de 2013

Um mihão de mulheres marcham em Bogotá por paz e democracia


Comunicado de Mujeres por la paz [Mulheres pela paz]:
Bogotá, 22 de Novembro de 2013.
 

A esperança de uma saída política ao conflito social e armado segue evidenciando-se na torrente da mobilização social e popular; neste contexto, as mulheres convocamos a todas e todos à mobilização nacional no dia 22 de novembro, para reafirmar a necessidade de unirmo-nos, protestar, exigir e propor cessar a guerra, dispor-nos à construção de paz, e reivindicar as profundas transformações econômicas, culturais, sociais e políticas necessárias para fazer frente à desigualdade social, às injustiças, violências e guerras públicas e privadas, porque desejamos ter um presente livre de violências e uma sociedade em paz onde sejamos reconhecidas como sujeitas deliberantes e decisórias num novo pacto social e sexual.
 

Por estas múltiplas razões, nós, Mulheres que apostamos na paz: sujeitas políticas, forjadoras e construtoras históricas da paz, com vozes, corpos e rostos concretos, desde múltiplas diversidades, Convocamos as mulheres que habitam nos territórios de nossas planuras orientais até nossas exuberantes selvas do Pacífico, do Urabá às savanas e vales do Caribe, da Sierra Nevada até a imensa Amazônia, passando pelas cordilheiras que irrigam o coração do país, para que façamos um chamamento a todas e todos, de todas as etnias, em todas as línguas, nos territórios, veredas, municípios, cidades, para que nos unamos a manifestar a exigência da tão desejada paz com justiça social.
 

Assumimos hoje, no marco do avanço do processo de diálogo entre o governo e a insurgência, a busca e construção da PAZ, por isso, exigimos às partes manter a vontade política para não levantar-se da Mesa, assim como a sociedade colombiana e suas diferentes formas de resistência a comprometer-se a gerar propostas para um país que possa ir junto conosco para a justiça e a democracia, um país que se disponha a viver em paz.
É assim que as Mulheres comprometidas com a construção do bem sublime da paz desde a diversidade de propostas: políticas, sociais, religiosas, culturais, artísticas, profissionais, laborais, juvenis, chamamos ao conjunto das forças sociais e populares a somar-se ao compromisso de proteger e acompanhar os diálogos que se desenvolvem em Havana, mais ainda frente à ofensiva de setores contraditores da paz; que pelo caminho da guerra pretendem sustentar seus interesses econômicos e políticos, a fim de usufruir do poder fundamentalmente patriarcal, não só desde a lógica paramilitar e de recrudescimento do conflito, como também desde o cenário eleitoral.
 

Chamamos não só a mobilizarmo-nos, como também a concretizar um grande acordo e diálogo pela democracia, a paz e a justiça social para todas e todos, que mobilize e gere um cenário de debate e reflexão onde milhares de colombianas e colombianos participemos, para proteger política e socialmente os acordos de Havana com uma retroalimentação desde o movimento social, sendo indispensável que se somem e ponham sobre a Mesa e publicamente as propostas que as mulheres vimos construindo, já que somos força vital deste país, e agentes primordiais para a mudança social.
 

A PAZ E A DEMOCRACIA COM AS MULHERES, SIM, VÃO.
Todas e todos por um acordo de paz com justiça social
JUNTE-SE A NÓS E SE MOBILIZE CONOSCO PARA BOGOTÁ EM 22 DE NOVEMBRO
CONVOCA: MUJERES POR LA PAZ… [MULHERES PELA PAZ]


Tradução: Joaquim Lisboa Neto

Atilio Borón: Latino-América é chave para segurança dos EUA


Publicado em Contrainjerencia

Os Estados Unidos consideram que a América Latina tem que ser preservada para garantir sua segurança, pelo que não duvida em sustentar ditaduras ou empresas que devastam o meio ambiente, afirmou o politicólogo argentino Atílio Borón. Ao surgir governos capazes de pensar e atuar por si sós, aparecem os conflitos de interesses, pois essa nação tem na América Latina a reserva estratégica, assegurou em entrevista com o canal televisivo CNPlus.
Borón desmentiu aqueles analistas que concebem que esta região do mundo com 17 milhões de quilômetros ocupa o quinto lugar de prioridade para a Casa Branca. Disse: “está em primeiríssimo lugar, muito mais que qualquer outra região do planeta”.
Assinalou que os países latino-americanos têm que atuar responsável e firmemente na defesa de nossos interesses.
A autodeterminação de nossos povos está em vias de consolidação”, considerou, porém –disse- assistimos a uma ofensiva do país nortenho que põe em risco a nações como Bolívia, Venezuela, Argentina e Equador.
Washington semeou bases militares por toda a região, pois há 76 enclaves, de diferentes magnitudes, prestes a arrancar recursos ou a desestabilizar governos, indicou o especialista em temas internacionais.
Tradução: Joaquim Lisboa Neto

sábado, 23 de novembro de 2013

Rafael Correa e a mudança de época


Por Emir Sader



Assim que foi eleito, em 2007, Rafael Correa anunciou que o Equador se somava ao processo de saída da longa noite de trevas do neoliberalismo e que não se tratava apenas de um uma época de mudanças, mas de uma mudança de época.  Depois de ter 5 presidentes derrubados sucessivamente por mobilizações populares, o Equador escolhia um jovem economista para dirigir o país, apoiado em imensas mobilizações populares.


Políticas que puderam manter-se na base de enganos e de atitudes antidemocráticas por parte de seus beneficiários, com apoio total de organismos multilaterais, que disfarçaram de ciência a uma simples ideologia”- assim Correa caracterizava as políticas neoliberais que haviam predominado por tres décadas em todo o continente. O que caracterizava efetivamente a essas políticas era que “beneficiavam ao grande capital e sobretudo ao capital financeiro”.


No Equador, depois de uma grave crise que viveu o país, em 1999, produto das políticas de desregulamentação da circulação do capital, houve uma grave crise financeira, que destruiu a moeda nacional e a conclusão do neoliberalismo era de que o problema era ter uma moeda nacional. E em 2000 o Equador eliminou sua moeda nacional, substituída pelo dólar.


Paralelamente se satanizava o Estado e a política, substituídos pelo mercado e por técnicos, supostamente neutros. “E assim se elevou a sumos sacerdotes aos economistas, a tecnocratas, e esse é um dos mais graves erros que se podem cometer, as decisões tem que se tomadas por homens políticos, com uma visão integral: em outras palavras, não deem muita importância aos economistas, que temos só uma visão parcial das coisas.”


Burocratas, do país e de fora, se reuniam três dias em algum hotel de cinco estrelas e decidiam o que era bom e o que era ruim para nossos países, “faziam o diagnóstico” davam soluções, “porque nós éramos tontos e eles, sim, eram iluminados”. Fracassavam e organizavam um novo seminário, no mesmo hotel de cinco estrelas, durante três dias, para ver porque tinham fracassado e tentar de novo. “No final de contas, não eram eles que pagavam as consequências dos seus erros, nós é que pagávamos.”


Correa afirma que está convencido de que “as decisões de política pública devem ser tomadas por mulheres e homens políticos, com uma visão integral e com legitimidade democrática, plenamente responsáveis por seus atos; à luz do dia e não nos suntuosos escritórios dos organismos multilaterais”.


Coincidem os anos em que começaram as recessões e as depressões que afetaram a países como oa EUA, a Grã Bretanha e a França, entre outros, para ver que são os momentos m que maior rentabilidade tem o capital especulativo. Suas previsões de que o livre comercio acelera o crescimento econômico foram desmentidos frontalmente pela realidade concreta.


A América Latina e todos os países do Sul do mundo sentiram os efeitos dessas políticas na conta comercial pela redução da demanda de bens primários e pela remessa, sem contrapartida de lucros para o Norte. Na conta de capitais, pela repatriação dos astronômicos recursos requeridos pelos planos de salvamento propostos pelos governos do Norte.


Mas a diferença política é que “a esquerda hoje não está em minoria” na América Latina. Muitas vezes parece que “a esquerda se acostuma a estar na oposição e não entende que no poder, desde o executivo, temos que governar e temos que gerar mãos para governar e muitas vezes nossos próprios companheiros de esquerda parecem ser nossos principais opositores, continuam mantendo essa dinâmica de quando, insisto, éramos minoria, tínhamos governos neoliberais, governos entreguistas”.


Este é um ponto importante de reflexão: o pragmatismo que deve acompanhar a nova esquerda”, ressalta Correa. “Como dizia Pepe Mujica, esse querido amigo Presidente do Uruguai:  ‘essa esquerda do tudo ou nada é a melhor aliada do status quo’, porque se queremos o tudo ou nada, vai dar no nada, podem estar seguros...”


Ganhar as eleições na América Latina, como em quase todas as partes do mundo, até mesmo nos Estados Unidos, não é ganhar o poder, é ganhar uma parte do poder. Os poderes reais continuam vivos: os poderes econômicos, os poderes sociais, o poder informativo, “esse terrível adversário que tem os governos progressistas da América Latina: empresas de comunicação que tomam o lugar dos partidos de direita em decadência, fazem política descaradamente e tratam de desestabilizar e conspirar diariamente”. Esse poder está muito vivo, junto a poderes religiosos e às ingerências internacionais.

Mas há um ressurgimento da esquerda na nossa região, que representa ao mesmo tempo um ressurgimento e o despertar dos nossos povos. “Mas devemos ser uma nova esquerda, uma esquerda que não repita os erros da esquerda tradicional, que é preciso reconhecê-los, temos que ser autocríticos. Se satanizou no passado a palavra  “revisionista”, mas temos que revisar-nos dia a dia, inventar-nos dia a dia. Isso é  o que busca o socialismo do século XXI, o socialismo do bom viver que praticamos no Equador”.

“Que se abram cem flores”


-->

Por Alberto Pinzón Sánchez


Que se abram cem flores e compitam cem escolas do pensamento para promover o progresso nas artes e das ciências e de uma cultura socialista florescente em nossa terra”; foi uma das famosas frases pronunciadas por Mao Tsé-Tung no verão chinês de 1956, e que só como frase impactante bem traduzida pode ser relembrada na atual Colômbia.


Não foi possível [como haveríamos querido] separar na realidade social colombiana o processo de paz de Havana da campanha eleitoral parlamentar e presidencial que se avizinha. Pelo contrário, cada vez mais por efeito de que em nosso país mais que em qualquer outra formação social capitalista, tal e como o sentenciou Marx, “a ideologia da classe dominante é a ideologia dominante”, estes dois processos se fundiram e o anseio popular de viver em paz se converteu no centro dinamizador e ponto de referência da grande mobilização social passada e de campanha eleitoral futura:


A clase dominante colombiana ou Oligarquia Transnacionalizada, impregnada até os tutanos de neoliberalismo autoritário e sanguinário, finalmente concentrou neste ponto da paz as contradições havidas no seio de suas duas frações rivais representadas por JM Santos e por Uribe Vélez, aos quais não separa nenhum aspecto econômico. Assim, pois, que o denominado “santo-uribismo” atua como um só bloco no que a economia neoliberal se refere, porém tem uma visão totalmente enfrentada no que se refere à paz com a insurgência e à finalização do histórico conflito social armado colombiano. Diferenciação esta última à qual não se lhe tem dado a importância que tem, no momento de afinar ainda mais nossa análise concreta da realidade concreta.




LAS CLASSES SUBALTERNAS, por sua vez, intimidadas e massacradas durante muitos anos pelo ritual eleitoral “eleitoreirismo dos dominantes” e que ao largo nunca resolveu nem resolve nada; têm arraigada a ficção política criada durante tantos anos de subordinação pelo aparelho ideológico dos dominantes, de que as eleições celebradas na Colômbia [onde num mesmo dia se dão todos os delitos e crimes conhecidos e não conhecidos contra o sufrágio universal] são a “essência da democracia” e, uma vez mais, se dispõem a participar no jogo eleitoral, porém numa situação desta vez diferente, marcada primeiro pela grande mobilização social e popular que se está dando na Colômbia, e segundo pelas garantias políticas acordadas no segundo ponto da Mesa de Havana, já amplamente conhecidas pelo Povo Trabalhador, e isto é novo.


No setor da denominada “Esquerda colombiana”, que aspira a representar eleitoralmente esse Povo Trabalhador, há três concepções, não só do que deve ser a substituição ao neoliberalismo dominante, como também no que tange ao processo de paz que se está levando a cabo em Havana:


1 – O candidato presidencial Navarro e seu grupo não fizeram nenhuma proposta, nem séria nem de brincadeira, para a superação do neoliberalismo dominante que ajudou a implementar durante seu governo no estado de Nariño, e concebe a paz para Colômbia como uma réplica de sua desmobilização feita há 23 anos, quando sua guerrilha nacionalista foi derrotada.


2 – Clara López, candidata presidencial do partido Polo Democrático, se bem que tenha um excelente programa prático e teórico anti neoliberal e uma excelente palavra de ordem sobre a democracia com cultura de paz com justiça social e soberania [1], por efeitos das diversas tendências marxistas, maoístas, enver-hoxistas, trotskistas, anapistas, nacionalistas, social-democratas de direita e de esquerda e até liberais anti marxistas que compõem as bases desse partido, não pôde passar de uma formulação proteiforme de um apoio formal ao processo de paz de Havana e à formulação de que, se ganhasse a presidência da República, continuaria o processo de JM Santos, porém com uma insistência sua e própria [sugerida pelo Centro Carter] de recorrer necessariamente a uma “Mediação Internacional”.


3 – E como se se tratasse de salto inesperado de uma lebre no caminho, neste 18 de novembro um acordo que se vinha forjando com paciência e discrição, entre a ressuscitada Unión Patriótica, o Partido Comunista Colombiano, a Marcha Patriótica e outras organizações populares independentes, se lançou a candidatura Unitária e Popular de uma das vítimas mais destacadas do conflito colombiano, Aída Avella.


Suas primeiras declarações apontam, primeiro, à composição de uma necessária Frente Ampla pela Paz com Justiça Social, Democracia e Soberania; quer dizer, onde o ideal da paz, que ninguém rechaça, nem sequer Uribe Vélez, se materialize numa paz concreta, resultado de uma Solução Política do conflito social e armado colombiano, do qual se está pactuando só sua finalização na Mesa de Havana, e, sobretudo, resultado da mobilização do povo humilde, possuidor da chave da paz e em Marcha para sua segunda e definitiva independência. E segundo, que deve necessariamente implicar a superação “definitiva” do neoliberalismo sanguinário dominante.


HOUVERAM, NOS ÚLTIMOS 50 ANOS, várias tentativas de união da chamada esquerda colombiana, todas frustradas porque, ademais do anticomunismo, da repressão e do extermínio sanguinário por parte dos dominantes, ali também imperou a ideologia dominante do “muito cacique e pouco índio”, que faz transbordar os apetites pessoais e as ambições eleitoreiras dos seres humanos disfarçadas de “divergências ideológicas”. [2]


Experiências negativas pactuadas para fins puramente eleitorais, assim que tenham na teoria um maravilhoso programa político presidencial como a Unión Nacional de Oposición, Firmes, Frente Democrático, Polo Alternativo, Polo Democrático etc não se podem voltar a repetir, levando uma nova frustração ao povo humilde; pois não só seria não aprender da experiência o que, segundo o filósofo inglês Francis Bacon, é a maior ineptidão humana, senão que o momento histórico é outro, muito diferente.


Neste caso, seria melhor dar sentido à frase poética e até democrática de Mao Tsé-Tung com a qual iniciamos esta coluna: “Que se abram cem flores e que compitam cem escolas do pensamento”.

Tradução: Joaquim Lisboa Neto     


Notas:
(1) http://www.polodemocratico.net/index.php?option=com_content&view=article&id=5294:paz-democracia-soberania-y-justicia-social-ejes-fundamentales-del-programa-alternativo-de-gobierno-de-clara-lopez-&catid=75:noticias&Itemid=66

Fuente imagen Poder ciudadano.co

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Ricardo Téllez, FARC-EP: “Ao contrário de processos anteriores, hoje conhecemos com nome próprio os inimigos da paz”


Sobre o fim do ciclo 16 nas conversações de paz em Havana e o acordo parcial alcançado em torno do ponto dois da agenda sobre participação política, se escreveram inumeráveis artigos na “grande” imprensa e gerado declarações por parte de todos os atores políticos, empresariais, sociais e populares de nosso país.



Nesta entrevista, o comandante Ricardo Téllez, integrante do Secretariado do E.M.C. das FARC-EP, analisa desde a perspectiva da insurgência o real alcance do acordado. Com otimismo, porém com comedimento e responsabilidade, afirma: “É um avanço substancial, porém falta muito caminho para percorrer”.


1. Com o acordo alcançado em torno do ponto 2 da agenda sobre Participação Política, se pode afirmar que este é um processo irreversível? Quanto se avançou e o que falta?
Ricardo Téllez: O acordo parcial sobre o segundo ponto da agenda significa um avanço substancial que anima as partes a continuar adiante, porém ainda falta muito caminho para percorrer. As FARC-EP jamais pensaram em abandonar a Mesa. Somos conscientes da responsabilidade histórica que assumimos para trabalhar para uma saída política do conflito social e armado que o país vive, e entendemos que o governo colombiano, por fim, entendeu que a derrota militar da guerrilha é uma quimera. A parte que abandone a Mesa deve estar disposta a pagar um alto custo político e carregar com a responsabilidade de ter falhado com o povo da Colômbia e com os amigos da paz em escala internacional.


2. Ao otimismo dos colombianos pelo avanço do processo em Havana se soma uma ascensão da luta popular. Que relação existe entre a mobilização popular e a possibilidade de um acordo de paz?
Ricardo Téllez: O movimento popular na Colômbia foi submetido nas últimas décadas a uma repressão de proporções desconhecidas em outras partes do continente. Não pôde ser derrotado. Pagou um alo custo em vidas humanas, deslocamento, tortura, cárcere, exílio. Hoje, ressurge como a ave fênix para exigir seus direitos violados e se torna num ator político de primeira ordem. As multidões intuem que é possível derrotar definitivamente o terrorismo de Estado, conquistar a democracia e conseguir profundas mudanças estruturais para recompor o país. Passou da expectativa à ação, vê que na Mesa de diálogos de Havana há uma guerrilha que assume a defesa das propostas que tradicionalmente vem movendo o setor popular e isso anima a luta, ao mesmo tempo em que retroalimenta e proporciona contundência à Delegação de Paz da Insurgência; isso explica que algumas palavras de ordem sejam coincidentes e se exponham com igual força tanto na Colômbia como em Havana.
3. Que podem esperar as mulheres, os indígenas, os afrodescendentes, os jovens deste acordo?
Ricardo Téllez: A maior parte de suas reivindicações têm sido levadas em conta pela guerrilha. As têm lutado com particular interesse para vê-las plasmadas não só no acordo como também na realidade. Há que defendê-las no terreno e obrigar a seu imediato cumprimento. É uma dívida histórica que não dá demora em ser cancelada por parte do Estado. Desde logo, a luta não termina. Começa sob outros parâmetros. Bem tem entendido nosso povo que é a hora da unidade, da organização, da elevação da consciência de classe para conquistar as mudanças pelas quais vimos combatendo. As diversas ações de massas se colocam na ordem do dia, para fazer avançar as mudanças e conquistar a democracia.


4. Os inimigos da paz são poucos, porém muito poderosos. Estão isolados estes setores ou ainda têm a capacidade de sabotar o processo?
Ricardo Téllez: Para nada minimizamos o poder da extrema-direita fascista. A diferença com processos anteriores é que hoje se conhecem nomes próprios e os fins que buscam. Atuam abertamente. Antes, o faziam na sombra. Ninguém os denunciava e gozavam de plena impunidade. Hoje, atuam abertamente contra o processo, têm candidato presidencial e continuam manejando grupos paramilitares sem pudor algum; isto conhecem-no bem as autoridades que estão em atraso de atuar com contundência. Mais de duzentas investigações tem o ex-presidente Uribe. Muitas delas por paramilitarismo. Seu irmão Santiago foi citado pela promotoria para que responda pela criação do aparelho de morte que, sob o sugestivo nome de “OS DOZE APÓSTOLOS”, semeou de morte e desolação o norte de Antioquia.


Não descartamos tampouco que, em qualquer momento, realizem operações encobertas, nas quais são expertos, para imputá-las à guerrilha e pretender sabotar as possibilidades reais de uma saída política ao conflito colombiano.


Tradução: Joaquim Lisboa Neto

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O difícil caminho da consolidação do processo de diálogos e negociação.



Por Jairo Estrada Álvarez
Professor do Departamento de Ciência Política Universidad Nacional de Colômbia.


A possibilidade de uma solução política do conflito social e armado adquiriu um novo fôlego com a firma de um segundo acordo parcial entre a guerrilha das FARC-EP e o Governo nacional. Com efeito, ao anunciado acordo sobre o primeiro ponto da Agenda sobre “Política de desenvolvimento agrário integral”, se lhe soma agora o de “Participação Política”, correspondente ao segundo ponto.


Para o povo colombiano, que por décadas tem tido as legítimas aspirações de paz com justiça social, se trata de uma boa notícia, pois se colocou em evidência que forças antagônicas, as representadas pela insurgência armada, por uma parte, e as do Estado, liderado pelo governo de Santos, pela outra, avançam na construção de um acordo político que –se prosperar e chegar a um feliz termo- contribuirá, sem dúvida, para gerar novas condições para uma transição econômica, política e social do país.


O acordo anunciado possui maior valor se se considera que se conquista em meio à continuidade da confrontação armada e da mais feroz contenda política. Com efeito, não tem sido possível que se abra passagem a um cessar bilateral de fogos, devido à contínua negativa governamental com o argumento de não conceder supostas vantagens militares à guerrilha e apesar das reiteradas propostas nesse sentido de diversos setores políticos e sociais e das próprias FARC-EP. Sem dúvida, um cessar de fogos contribuiria para um melhor clima para as possibilidades da paz ao reduzir ao mínimo as notícias da guerra e os impactos que ela produz sobre a economia e a sociedade em seu conjunto e, por essa via, a gerar uma maior confiança entre as partes e, sobretudo, na opinião pública, tantas vezes manipulada pelos meios massivos de comunicação.


A continuidade das ações de guerra se tem compreendido pelo Governo como uma carta de negociação por fora da Mesa que pode produzir soluções frente ao que não se consiga acordar nela.


A ideia de que uma fragilidade do inimigo insurgente pode levá-lo à derrota e à submissão continua fazendo parte da estratégia governamental; representa, ao mesmo tempo, uma concessão aos falcões da guerra. Não obstante, até agora não há nada que indique que se está em presença de uma fragilidade estrutural ou de uma desarticulação da coesão interna e do comando do exército guerrilheiro, tal e como se propôs o “Plan Espada de honor” [Plano Espada de honra], o qual necessitou, entretanto, de um “relançamento”.


Pelo contrário, os últimos meses nos indicam uma intensificação do acionar insurgente com fundamento na “guerra de guerrilhas”, seu âmbito natural. Assim é que, neste campo, uma vez mais –como se mostrou ao longo da história do conflito- não se deve esperar que prospere a ambicionada solução militar, apesar da maior disposição de recursos de orçamento, da crescente disposição tecnológica e da intensificação das atividades de inteligência.


Nesse contexto, o cessar bilateral de fogos adquire, dia a dia, a condição de uma necessidade e demanda uma maior pressão e mobilização social para fazê-lo realidade.

A contenda política a favor de uma solução negociada não foi nem é uma tarefa fácil.

Aqui se trata de produzir uma complexa correlação social de forças que, por uma parte, consiga derrotar os setores militaristas e de ultra direita, obcecados numa fascista “solução final” de derrota e inclusive de extermínio do inimigo guerrilheiro, reivindicada hoje pela força política denominada Uribe Centro Democrático. E pela outra, no campo dos que afirmam acompanhar o processo de paz, gerar um entendimento e uma apreensão não reducionista da solução política, limitada à ordem vigente do direito [constitucional e legal] e de subordinação a este; o qual supõe que o processo de diálogos e negociação não é um simples alistamento de condições para a [re]inserção do movimento guerrilheiro na vida civil, elaborado sem seu concurso, como se pretende, por exemplo, com o chamado Marco jurídico para a paz ou o referendo constitucional em trâmite para a referenda de um eventual Acordo final.


Fortalecer o campo de forças a favor da solução política implica reconhecer que se está negociando com um poder subversivo alternativo ao poder do Estado, o qual implica transação e concessões, inclusive a respeito da ordem constitucional e legal imperante. Mais além da situação específica da guerrilha e de seus combatentes, o que se joga na hora atual na Colômbia é a possibilidade da democratização de um regime fechado e excludente.


O segundo acordo parcial representa um passo adiante no necessário isolamento dos inimigos abertos do processo, mas não sua derrota. Não se pode esquecer que se trata de forças possuidoras de um significativo poder econômico e territorial, com indiscutíveis características criminais e mafiosas, entronizadas estruturalmente no Estado e consolidadas através do exercício da violência. A elas se une a prosa guerreirista e empostada do Ministério Público. Deve-se esperar que tais forças desatem nos meses vindouros todos os seus brios para desprestigiar o processo e tentar recanalizar o país pelo único caminho da guerra. Sem dúvida, os ataques contra o processo de paz serão a principal bandeira eleitoral da ultra direita militarista. Nesse cometido, podem ser úteis as [aparentes] ambivalências do governo de Santos que persiste num [programado] duplo discurso: O dos estridentes tambores da guerra [liderado pelo loquaz ministro de Defesa] e aquele de seu compromisso com a paz.


Não obstante, o balanço pode inclinar-se a que Santos assuma com maior força o discurso da paz, pois este, ademais de produzir-lhe maiores rendimentos em sua aspiração reeleitoreira, pode
concitar um maior apoio de setores da população desejosos –ainda com impassibilidade- da consolidação da perspectiva da paz, conta com o apoio de setores modernizantes do empresariado capitalista e com uma boa recepção na comunidade internacional, incluídas instituições como a ONU e, em especial, nos países de Nuestra América que compreendem que uma solução política contribui para fechar a porta ao intervencionismo militar imperialista na Região.


Na alocução presidencial de análise do segundo acordo parcial, se lhe viu mais decidido a favor dos diálogos e da negociação.No campo dos que afirmam acompanhar o processo de paz, o espectro político e ideológico é heterogêneo. Nos partidos que conformam a coalizão de direitas no governo, se encontram tanto expressões próprias do oportunismo [a retórica da paz pode produzir dividendos políticos em tempos eleitorais], como também outras mais comprometidas com a ideia de umasolução política. Em organizações opositoras dentro do regime de democracia governável, como a Aliança Verde e o Polo Democrático Alternativo, se observam apoios mais decididos ao processo de diálogo e negociação, porém submetidas ao cálculo político eleitoral. Em todo este espectro de posições, persiste a ideia de uma saída política circunscrita aos projetos institucionais existentes.

No campo popular, movimentos políticos e sociais como a Marcha Patriótica, o Congresso dos Povos, processos regionais, ou de comunidades campesinas, indígenas e afrodescendentes, ou
movimentos setoriais de jovens e de mulheres, ainda que se mostrem muito mais definidos em seu respaldo ao processo de paz, no qual, ademais, consideram se deve incorporar o ELN, não conseguiram consolidar um movimento de massas que dê maior consistência e estabilidade às negociações, em parte pelas dificuldades para construir uma agenda política comum.


Em suma, o consenso implícito por uma solução política, que se vem construindo com dificuldade, não possui ainda a estabilidade e solidez necessárias para conceder-lhe a perspectiva da solução
política um caráter de irreversibilidade. Ainda que os avanços que se registrem pelos acordos entre a guerrilha e o governo são importantes, eles se tornam insuficientes. A irreversibilidade será possível quando o processo seja objeto de uma efetiva apropriação social e consiga sustentar-se num amplo movimento de massas a seu favor, independentemente da avaliação e dos alcances que as forças políticas e sociais lhe imprimam.


Neste ponto, é claro que, para os setores políticos representativos do regime político imperante, incluída a oposição dentro do sistema, a saída política se compreende no essencial em termos de uma reinserção da força guerrilheira na vida civil em forma similar aos processos de fins dos [anos] oitenta e primeiros anos da década de 1990. Daí sua distância frente às possibilidades de transformações estruturais que se pudessem desatar como fruto de um eventual Acordo final. Isso tem se expressado, entre outros, no debate sobre a Assembleia Nacional Constituinte [ANC].


No campo popular, a solução política se associa com as possibilidades que ela possa gerar para uma transição política para a real democratização econômica, política e social do país, com a perspectiva de novos projetos institucionais [constitucionais e legais], incluída a necessidade de uma ANC, não só para a referenda de eventuais acordos, como também para superar os evidentes limites da Constituição de 1991 e a crise institucional do Estado e seus poderes públicos. Deve-se reconhecer, não obstante, que ainda não há a suficiente articulação entre o que se debate em Havana e as demandas dos movimentos sociais e populares, apesar de que, em sentido estrito, existem indiscutíveis identidades.


Em qualquer circunstância, um eventual Acordo final transformará o mapa político do país e produzirá uma reacomodação das forças políticas e sociais e uma redefinição da contenda política.
Já existem vários efeitos demonstrativos desta afirmação. Primeiro, foi o anúncio do Acordo para o início dos diálogos, assim como a definição da Agenda que, mais além de suas aparentes
generalidades, contém aspectos fundamentais da formação econômica e social, se se lê eompreende integralmente. 


Seguidamente, foi o acordo parcial sobre o tema do “desenvolvimento agrário integral”, que esteve precedido por um magnífico foro nacional e um intenso debate público no
qual se exibiram todas as posições [desde as sustentadas pelo latifúndio improdutivo, passando pelas do empresariado dos agronegócios, até as dos trabalhadores do campo e das comunidades campesinas, indígenas e afrodescendentes] sobre um assunto deslocado do debate público e acadêmico. Nesse aspecto, os diálogos e a negociação desataram uma maior politização social.


E agora, com o segundo acordo parcial sobre “Participação política”, precedido por um foro nacional, se iniciou um debate –que haverá de expandir-se- acerca do caráter restringido do
regime político colombiano e de sua necessária abertura para a democracia real. Diz muito do valor da Mesa de diálogos que seja graças a ela que se encontre uma saída a temas que não contaram
com o mesmo destino em seu trâmite através da institucionalidade vigente e do regime parlamentar, depois de mais de duas décadas do ordenamento constitucional de 1991.


Ainda se encontram pendentes quatro pontos da Agenda: o da solução do problema das drogas de uso ilícito, o de vítimas, o relativo ao fim do conflito e o da implementação, verificação e
referenda, todos eles de grande complexidade. Os acordos parciais conquistados até agora indicam que é possível [e necessário] continuar transitando o caminho da solução política.


Desde o campo popular, num contexto de crise capitalista mundial, de uma evidente fissura das políticas neoliberais e de uma mobilização e protesto social em ascensão, a consolidação do processo de diálogos e negociação, ademais de constituir-se em necessidade, representa a possibilidade de desatar as forças para uma mudança política democrática que produza a correlação
requerida para empreender o caminho de uma Assembleia Nacional Constituinte.


Tradução: Joaquim Lisboa Neto