"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Conspiração Paramilitar em toda a Colômbia


Comissão de Direitos Humanos do Senado da República


CONSTANCIA PÙBLICA




Plenária do Senado da República


Terça-feira, 12 de Agosto de 2008


Conspiração Paramilitar em toda a Colômbia.

No dia de hoje quero denunciar, à Plenária daCorporação e a opinião pública nacional e internacional, em minha condição de cidadão e Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado da República, a existência na Colômbia de uma conspiração nacional que realiza ações simultâneas entre grupos encobertos e paramilitares a serviço de grandes blocos de poder ligados aos interesses de transnacionais, grandes fazendeiros e empresários legais e ilegais. Ultimamente eles atreveram-se, de de forma temerária e criminosa, a ameaçar de forma gravíssima às comunidades indígenas, camponesas e mineradoras, às organizações de mulheres e de direitos humanos, aos trabalhadores e suas organizações gremistas e sindicais em todo o território nacional.


Na segunda-feira, 11 de Agosto de 2008, enquanto transcorriam as Comissões Conjuntas de Direitos Humanos da Câmara e do Senado no Município de Barrancabermeja, veio a público uma covarde ameaça contra o Conselho Regional Indígena de Cauca (CRIC) e a Associação de Líderes Indígenas do Norte de Cauca (ACIN) que representam todas as autoridades tradicionais dos povos Nasa na região norte do departamento de Cauca. Um comunicado extra-oficial, assinado por uma organização autodenominada "Campesinos Embejucaos da Colômbia", ameaçava abertamente com execuções, terror e destruição às comunidades indígenas nos departamentos de Cauca, Vale, Tolima, Putumayo e o Huila, utilizando uma linguagem sinuosa e traiçoeira que reproduz à risca e encontra eco nas declarações do comandante da 3ª Brigada do Exercito Nacional, Geral Jaime Esguerra Santos. Essas declarações também surgem em um contexto no qual o próprio Presidente da República e porta-vozes da sua bancada de apoio no Congresso colombiano se referem às comunidades indígenas no departamento de Cauca e suas autoridades tradicionais como invasores, apesar deles exercerem jurisdição prevista pela Constituição sobre os territórios onde vivem. Essa ameaça aberta contra as comunidades e suas autoridades tradicionais em Cauca revela uma conspiração de setores ocultos, de fazendeiros e paramilitares daquele departamento, que ostentam um insólito discurso anti-indígena visível nas declarações oficiais do Governo Nacional e que só pode abrigar as mais perigosas e criminosas intenções.


Nesse mesmo sentido, no dia de ontem, em sessão conjunta e audiência pública das comissões de Direitos Humanos de Câmara e Senado no município de Barrancabermeja, foi denunciada uma nova invasão do município por três destacamentos avançados de paramilitares e de grupos de narcotráfico, que têm ameaçado e intimidado às organizações sociais, sindicais, camponesas, de direitos humanos e de mulheres no porto petroleiro. Um clima de violência crescente, no qual o número de mortes violentas no porto petroleiro duplicou-se em relação às ocorridas no ano passado. Desse contexto de terrível violência surgiram sérias ameaças de grupos paramilitares que utilizam como codinomes "Águias Negras"; "Heróis de Castaño" e autodenominam-se "comandantes paramilitares" contra a Federação Agromineira do Sul de Bolívar, a Organização Feminina Popular, a União Sindical Operária, a Corporação Semear, Credhos, e a Associação de Familiares de Vítimas do 16 de Maio de 1998. Também chegou à Comissão de Direitos Humanos do Senado a denúncia da realização de operações de grupos paramilitares nos últimos 60 dias nos bairros populares de Barrancabermeja, operações irregulares realizadas para intimidar permanentemente às comunidades. Soma-se a isso um clima de revoltante impunidade sobre numerosos assassinatos de cidadãos e cidadãs da região do sul de Bolívar, realizados muitas vezes por membros da polícia. Na audiência pública em Barrancabermeja foram denunciadas outras ações muito graves envolvendo unidades policiais dos Batalhões de Nova Granada, Nariño, Calibio e as brigadas 15ª e 4ª do Exército Nacional.

Denúncias que serão disponibilizadas para o conhecimento do Sr. Procurador-Chefe da Nação para sua investigação e esclarecimento. Denúncias que surgiram em um período e região na qual foram concedidos 200.000 hectares à transnacional Anglo Gold Mine Ashanti para a exploração das maiores reservas de ouro da América Latina. Em um longo conflito com os pequenos mineradores e as comunidades camponesas desta região, que lutam para sobreviver em seu próprio território cercado pelo narcotráfico, megaprojetos em carvão, petróleo, agrocombustíveis e o ressurgimento de grupos paramilitares.

Tudo isso sem uma política de segurança pública capaz de conter e garantir os direitos da população envolvida no conflito. Mesmo assim, no município de San Onofre, Sucre, foram gravemente ameaçados os ativistas do movimento de Vítimas, Adil Meléndez e Adriana Porras, que têm sido ativos defensores da resistência da população daquele município na luta para alcançar efetivas respostas do Governo Nacional no sentido de reparar integralmente os graves crimes cometidos por grupos paramilitares.


Ambos foram ameaçados por paramilitares que hoje enfrentam investigações na jurisdição de Justiça e Paz por graves crimes cometidos entre 2002-2005 nesta localidade. Da mesma forma, essas ameaças contra a população se produzem em um período no qual a Comissão Nacional de Reparação tenta realizar nessa zona do departamento de Sucre um programa piloto de indenizações. Além disso, no último dia 4 de Agosto de 2008, o município de Palmira, que fica no departamento do Vale de Cauca, passou por momentos de pânico ocasionados por dois homens armados que trafegavam em duas motocicletas no bairro Zamorano, prejudicando o trabalho do meu assessor e integrante da Unidade Técnica Legislativa, Juan Pablo Ochoa, no instante em que ele se preparava para concluir uma reunião com um grupo de trabalhadores do setor canavieiro que haviam apresentado uma Declaração Única de Exigências dos trabalhadores da indústria Canavieira, diante de órgãos representativos do desse setor. Esse fato, que foi levado ao conhecimento das autoridades competentes, não só é uma grave provocação contra os trabalhadores da cana, que lutam por seus direitos no Vale do Cauca, mas também é uma grave agressão aos trabalhos do Congresso da Colômbia e da integridade física de seus funcionários.


Finalmente, quero assinalar que o sociólogo, cronista e colunista ALFREDO MOLANO pode se tornar um bode expiatório no processo que ele responde perante o 4º Juizado Penal de Bogotá por parte da família Araújo. O que ocorreu com o jornalista ALFREDO MOLANO é um grave atentado à liberdade de expressão na Colômbia. A criminalização da sua coluna Araújos (El Espectador, Bogotá, 25 de fevereiro de 2007) pode conseguir que Alfredo Molano perca a liberdade de escrever na Colômbia. A acusação de calúnia e injúria contra Molano procura criar uma jurisprudência que restabeleça o crime de opinião na Colômbia.


Faço um chamado ao Governo Nacional para que atue para proteger às comunidades indígenas em todo o território nacional e em particular para que se tomem todas as medidas que garantam a integridade dos chefes indígenas e a da população no norte do Departamento de Cauca. E que com isso se possa prevenir as ações que se anunciaram contra os líderes indígenas, seus porta-vozes e suas comunidades, com especial ênfase na zona norte do departamento de Cauca.


Da mesma forma, que se tomem todas as medidas que permitam garantir a proteção dos movimentos sociais, de direitos humanos e de vítimas em geral em Barrancabermeja, Santander, São Onofre, Sucre e em Palmira, Vale de Cauca. E que se garanta a integridade das comunidades camponesas e mineradoras em toda a região do sul de Bolívar.


Faço também um chamamento público ao Sr. Procurador-Geral da Nação para que sejam investigadas todas as ameaças contra as organizações indígenas sociais, de direitos humanos e de vítimas no sul de Bolívar, no departamento do Cauca e na localidade de São Onofre, em Sucre.


Faço ainda um apelo à comunidade internacional, ao sistema de proteção aos direitos humanos das Nações Unidas e à delegação da Organização dos Estados Americanos (OEA) na Colômbia, para que eles se pronunciem diante do Governo da Colômbia exigindo ações eficazes contra a contínua presença de grupos e ações ocultas de responsabilidade paramilitar e que hoje ameaçam às comunidades e movimentos sociais em toda a Colômbia.


Assinado.


Alexander López Maya


- Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado da República.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

7.200 PRESOS POLÍTICOS: UMA REALIDADE OCULTA

*YVKE Mundial– Venezuela*


Caracas. No último ano, o conflito colombiano percorreu o mundo inteiro
através das páginas dos mais importantes jornais do planeta. As trocas
humanitárias e a libertação da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt,
como símbolo dos reféns nas mãos das Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia (Farc), têm movido uma campanha liberdade de todos os reféns e pela
desarticulação da guerrilha.

Porém, o conflito colombiano não gera sofrimento só de um lado, pois a
realidade tem duas caras. Frente aos mais de 700 reféns nas mãos das Farc,
encontram-se os 7.200 presos políticos do Estado, que enfrentam acusações
por "rebelião ou ligações".

O Comitê de Solidariedade com os Presos Políticos Colombianos (Cspp),
defensor dos direitos humanos e permanentemente em alerta sobre a situação
que vivem estes detentos, afirma que são constantes as violações das
garantias dos presos por parte do Estado.

"Ainda que o Instituto Nacional Penitenciário e Carcerário (Inpec) diga que
nas cadeias não há distinção de presos, que todos são iguais e são enviados
a qualquer prisão, na prática existe diferença de tratamento do preso
político do réu social e do paramilitar", indicou Carolina Rubio,
representante do Cspp em Santander, numa conversa com Últimas Noticias. Para
Rubio, a política do Inpec é só parte da estratégia governamental para
ignorar o conflito armado que vive a Colômbia.

*Crime: ser camponês*

O Cspp divide em dois grupos a população penal que atende: aqueles que
formam parte da insurgência armada, e os que dentro da vida civil fazem
oposição ao Estado na busca por uma transformação social.

Os primeiros representam uns 1.500 detentos e os segundos, entre os quais se
encontram estudantes, sindicalistas, defensores dos direitos humanos,
familiares dos membros da guerrilha, mães e camponeses, totalizam os 5.700
presos políticos restantes. E dentro deste grupo, a maioria é camponesa.

"O camponês está preso porque a insurgência vive em sua área. Milite ou não
milite, pense igual ou não, é preso.", afirma Rubio.

Segundo explica, depois da decisão do Governo de gerar um movimento nacional
de informantes contra a guerrilha, com um sistema de recompensa, foram
criados casos de falsas acusações contra camponeses, baseadas em diferenças
entre vizinhos e em ódios pessoais. Além do mais, comentou Rubio, os juízes
não pedem provas pelas acusações para condenar o acusado. Somente lhes basta
sua apreciação subjetiva sobre a veracidade dos fatos e a confiança no
testemunho de, ao menos, duas pessoas.

*Sistema penal*

Como parte de sua política penitenciária, o Estado colombiano estabeleceu
acordos com os Estados Unidos e o Serviço Federal de Prisões, criando um
conjunto de centros de alta segurança, que funcionam à imagem e semelhança
das cadeias norte-americanas. A respeito disso, o Cspp manifesta que este
modelo carcerário aniquila o ser humano e, dentro dele, se tornam
vulneráveis os direitos humanos dos réus.

Todos os presos políticos são enviados a estas prisões de máxima segurança.
Condenados ou acusados, todos compartilham da mesma sorte. O Código Penal da
Colômbia (CPC) previa, até 2005, uma pena de seis a nove anos por rebelião,
a qual podia ser reduzida a três anos por bom comportamento. Em 2006, a pena
foi aumentada de nove a doze anos.

Metade dos detentos por rebelião são acusados por cometer só este crime. No
entanto, devido aos atrasos no sistema judicial, podem chegar a ficar presos
até três anos e, logo depois, serem postos em liberdade. "Em uma família,
detiveram a mãe e o pai, deixando seus dois filhos sozinhos, e os absolveram
15 dias antes de cumprir três anos", disse Carolina Rubio. "E isso é muito
normal. Com os camponeses é normal, com as pessoas dos movimentos sociais
isso é normal", acrescentou.

Ainda que o CPC defina rebelde como a pessoa que através das armas faz
oposição ao Estado, os civis que se opõem e buscam uma transformação social
expressando suas idéias, totalizam quase 80% dos presos políticos da
Colômbia.

SOLIDARIEDADE A CARLOS LOZANO

O PCB (*Partido Comunista Brasileiro*) vem a público manifestar sua
irrestrita solidariedade ao jornalista *Carlos Lozano*, diretor do semanário
colombiano A VOZ, que vem sendo perseguido pelo governo fascista da
Colômbia, por ser um dos principais defensores da democratização do país e
por uma saída política negociada para o conflito colombiano.



*Carlos Lozano* está sendo processado por delito de rebelião, acusado de ter
tido contato com as FARC-EP. O absurdo reside no fato de que o jornalista
teve contatos com o grupo insurgente exatamente porque foi designado, pelo
próprio Estado colombiano, como membro de uma Comissão de Notáveis, com a
tarefa de intermediar negociações que, aliás, foram interrompidas, em 2002,
pelo próprio atual governo, ao qual não interessa o fim do conflito.



É evidente que se trata de um processo meramente político, anti-democrático,
que deve ser vigorosamentre repudiado. Em verdade, é mais uma tentativa de
intimidar e calar a oposição colombiana e, neste caso, um dos jornais mais
corajosos em oposição ao governo Uribe, servil aliado do imperialismo.

Brasil, agosto de 2008

Comissão Política Nacional

Partido Comunista Brasileiro

Soa o gongo. Vai logo, anda..


...e vem outro pior. Com a particularidade de pertencer à 'fina flor' da oligarquia. Uribhitler se vai porque assim decidiu o seu 'amo gringo'.

ANNCOL


Os gringos já tocaram o gongo para o narcotraficante-paramilitar presidente colombiano. Os editoriais de importantes diários desse país são bastante reveladores. Basicamente eles dizem que Uribhitler, o miniführer, não vá mais...

Mesmo que eles digam que seu governo - o de Uribhitler- é uma sorte de bondades, o certo é que os colombianos sofreram o indizível com suas políticas de “segurança democrática” - que não é segurança, como foi demonstrado pelos recentes episódios de violência (a menos que tenham sido feitos pelos próprios agentes da “segurança”), nem democrática, porque se fosse assim não existiria-, Plano Colômbia, etc, além do desastre econômico que mergulhou 70% da população na Desnutrição, ou fome, e numa crescente informalidade. Da mesma forma que o desastre institucional que engoliu o país diante da narco-para-política e yidis-política, que obrigou até a Corte Penal Internacional a ficar de olho na Colômbia. Isso porque em nosso país denúncias como a de Sergio Caramagna, sobre a existência de 147.000 vítimas dessa gestão dá uma mostra do quadro de horror que submeteu o o povo colombiano.

Quadro de horror de horror antecipado pelo Terrorismo de Estado, na sua forma fasci-mafiosa (culpado de 10.282 vítimas não-combatentes entre 2002-2006) pelas forças militares-narcoparamilitares. Uma “política” desenhada nos centros de poder de Washington, que contou com o finaciamento de multinacionais na Colômbia, em uma – outra - mostra de como fazem business os 'amos' do Norte.

Mas como a prática comum de fazer negócios é a corrupção, "uma sondagem de um capítulo escrito pela Transparência Internacional acerca da Colômbia revela que os subornos, o tráfico de influência política e os presentes estão entre os procedimentos mais utilizados pelos empresários para aceitar suas atividades", diz a publicação Novo Século. Por algum motivo assim o diz. Porque seu atuante ministro de Interior e Justiça está até a medula comprometido com o narcotráfico, ou, sendo mais 'justos', seu irmãozinho Guillermo estava em 'acordos' com 'Dom Mario' e Fabio não sabia nadica de nada disso, assim como não sabia também não o general Óscar 'cocaína' Naranjo que seu irmãozinho traficava cocaína na Alemanha.

Casos que nos demonstram o grau de conivência da oligarquia com o narcotráfico, ou melhor dito, de aproveitamento do submundo do tráfico de drogas, porque o tráfico de drogas é um produto do capitalismo, é uma mercancia máscomo o são a saúde, os produtos tradicionais e até a vida mesma que a vendem ao melhor licitante, mas a vida dos outros.

E a coisa está já definida. Uribhitler não vai mais porque assim o disse 'o amo' gringo. Que vá..., que vá... E ponto. Já está escolhido o sucessor. É igual ou pior que Uribhitler, com a única particularidade desse sim ser da “fina flor” da oligarquia e ser muito mais aberrante que seu predecessor. Agora com a aliança dos herdeiros do império espanhol. Por isso o vimos “com o rabo entre as pernas” quando retornou dos Estados Unidos e descarregou sua raiva contra todos os seus contestadores.

O povo colombiano terá que se preparar para seguir suportando o Inri, a cruz que a oligarquia o tem obrigado a levar, e preparar-se para a matança que se avizinha contra o Pólo Democrático Alternativo (PDA) -como suportou a União Patriótica no momento certo e ainda contra o PCC -, mas com o crescente acúmulo de experiências e forças que o têm levado a ver que assim como a oligarquia 'combina todas as formas de luta', assim ele terá que 'combinar adequadamente todas as formas de luta', sem desprezar nenhuma.

Razão têm as FARC em seu último comunicado no qual chama à discussão da 'Plataforma Bolivariana' todo o povo colombiano para construir um Novo Governo que semeie e colha a paz com justiça social nesse país. Unidade, Unidade, Unidade. Podem haver um, dois, dez Pólos, mas todos devem caminhar e lutar para construir a Nova Colômbia. Sem sectarismos de qualquer espécie e sem nenhuma mesquinharia. Porque definitivamente 'só o povo salva o povo'.

ALP

Os arquivos de Carlos Castaño : O governo dos Estados Unidos (EUA) e os paramilitares colombianos

Por Paúl Wolf


Hoje (18 de agosto de 2008), o jornalista independente Jeremy Bigwood fez uma solicitação de acesso aos arquivos de Carlos Castaño através do Acta para la Libertad de Información (FOIA - em inglês) na Corte Federal do Distrito de Columbia, na cidade de Washington D.C, indo contra a Agência de Inteligência para a Defesa (DIA) dos EUA. Ele quer obter acesso a milhares de documentos em poder da dita agência relacionados ao outrora chefe paramilitar Carlos Castaño, morto em 2004.

No transcorrer da última década os paramilitares de extrema-direita da Colômbia, conhecidos por suas siglas, como a AUC, e que ganharam a reputação de figurar entre as organizações mais criminosas e impiedosas da América do Sul - muitas vezes usaram e usam machados e motosserras para desmembrar, mutilar e esquartejar a suas vítimas, a maioria civis inofensivos. A AUC é considerada pelo Departamento de Estado dos EUA como uma Organização Terrorista Estrangeira e muitos dos seus líderes foram extraditados aos EUA com acusações de tráfico de entorpecentes.

Carlos Castaño, precisamente o sujeito da demanda interposta por Bigwood através da FOIA é reconhecido - com seus irmãos Fidel e Vicente – como um dos fundadores da AUC no início dos anos 90. A organização a princípio foi dirigida por Fidel, até que ele foi assassinado. Dali em adiante Carlos assumiu a chefia da AUC, expandindo-a nacionalmente até que ele mesmo também foi assassinado em 2004, em circunstâncias até hoje não esclarecidas. As AUC se financiavam com atividades do narcotráfico, com o financiamento de fazendeiros e grandes agricultores endinheirados, por pelo menos uma corporação transnacional e também aparentes financiadores governamentais. Alguns remanescentes das AUC continuam operando principalmente em vastas zonas rurais da Colômbia, apesar dos relatórios sobre a morte do terceiro irmão (Vicente) mais recentemente.

Sobre Carlos Castaño noticiou-se amplamente que ele teria amplos e estreitos contatos com os militares, policiais colombianos e representantes e senadores eleitos e talvez teria contatos com agências do governo dos EUA. Ele menciona na sua autobiografia que foi treinado militarmente em Israel. Muitos líderes do AUC que se desmobilizaram admitiram que ele ordenou o assassinato de milhares de pessoas. Assim, percebe-se que a história de Castanho - e de qualquer conexão que sua organização criminosa tenha com o governo dos EUA - ainda não é conhecida.

O jornalista independente Jeremy Bigwood é representado por Paul Wolf, um advogado que atende em Washington D.C. Ele também representando mais de duas mil famílias vítimas dos assassinatos das AUC. É um caso que já recebeu muita atenção, tanto dos meios de comunicação de língua inglesa quanto em língua espanhola, pois é contra o gigante bananero Chiquita Brands International. A empresa já admitiu ter ajudado a financiar a AUC desde os primeiros dias da sua formação. "Este caso representa a oportunidade de trazer à luz esse crucial momento da História Colombiana", comentou Wolf. "Dizer a verdade é uma parte importante do processo de reconciliação que atualmente é levado a cabo na Colômbia, e também porque o público de EUA deve estar a par de como foram usadas contribuições ao governo da Colômbia, o que se faz através dos impostos dos contribuintes ". acrescentou Wolf. .

A DIA admite possuir mais de 4 mil documentos sobre Carlos Castaño. O jornalista Bigwood, que usou a FOIA como ferramenta de investigação por mais de uma década, disse: "É impressionante a quantidade de documentos que a DIA afirma possuir, e além disso há o fato de que não foi entregue relatório algum em mais de sete (7) anos. Isso claramente mostra que a DIA oculta algo. Se não lhes interponho uma demanda judicial, duvido que o público norte-americano fosse conhecer algum dia o que realmente ocorreu na Colômbia durante o reino de terror dos irmãos Castaño."

Para maiores informações, favor entrar em contato com Paul Wolf. Telefone: (1).202.674.9653. Se preferir, use o e-mail: paulwolf@icdc.com

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

COMUNICADO DAS FARC-EP

MANTEMOS A PROPOSTA DE INTERCÂMBIO HUMANITÁRIO


A detenção do senador Carlos Garcia Orjuela, presidente do uribista partido da U, como conseqüência de seus inocultáveis nexos com Eduardo Restrepo "O Sócio", narcotraficante promotor, financiador e chefe das bandas paramilitares que massacraram centenas de colombianos durante os últimos dez anos, acrescenta outro notável do Estado Maior do uribismo à longa lista de criminais presos pela chamada narco-política, benévola denominação de aquilo que é Terrorismo narco-paramilitar, em favor da ultra direitista gestão do atual governo.

Seguramente, o parlamentar Garcia Orjuela, como seus colegas Mario Uribe, Mauricio Pimiento, Jorge Caballero, Ricardo El Cure, Alfonso Campo, Miguel de la Espriella, Reginaldo Montes, Jorge Merlano, Alfredo Cuello, Rubén Darío Quintero, Álvaro Araújo e, demais congressistas paramilitares que realizam uma intensa atividade política desde o cárcere, mantendo suas cotas burocráticas dentro da estrutura do Estado, estão se esforçando para que seja aprovada a reforma da Justiça proposta por Álvaro Uribe, em sua estratégia de impôr um modelo de Estado unanimista e totalitário, que arrase qualquer dissenso, seja revolucionário ou meramente democrático, como acontece atualmente com a Corte Suprema de Justiça.

A verdade é que na base do conflito colombiano existe uma relação funcional entre governos, chefes políticos, donos do grande capital, latifundiários, hierarquia da Igreja, Força Pública e paramilitares, atualmente estimulados com dinheiro do narcotráfico, relação que cavalga sobre a prática impune do Terrorismo do Estado, no marco de uma estratégia neoliberal, que enriquece cada vez mais os ricos às custas do empobrecimento do povo colombiano.

Com a ajuda e sob a proteção imperial da Casa Branca, pretende-se perpetuar na Colômbia o atual regime ditatorial, mantido por uma Força Pública que viola sistematicamente os Direitos Humanos e, que tem sido transformada no mais poderoso partido político oficial ultra direitista e principal suporte do regime, com quase o dez por cento do orçamento nacional à sua disposição, além de negócios e investimentos multimilionários à vontade, a maior maquinária burocrática do país para pagar favores e manter o clientelismo, um aparato de propaganda que tem centenas de emissoras de freqüência modulada por todo o território nacional e um mecanismo de dois milhões de civis informantes, denominados "rede de apoiadores" que recebem dinheiro (recompensas) dos incontroláveis fundos secretos do Estado, partido político cujos chefes se rendem diariamente os mais poderosos meios de comunicação.

Porta-vozes oficiais e propagandistas oficiosos do governo anunciam o ingresso do país ao período do pós-conflito como se os abismos sociais não se houvessem aumentado ao invés de acabarem, ou como se o Terror do Estado fosse algo do passado e não estivesse aumentando. Ainda hoje, o número de sindicalistas mortos e de camponeses assassinados pelos esquadrões da morte, que logo disfarçam de guerrilheiros, como se houvessem cessado os bombardeios em áreas povoadas, ou os deslocamentos forçados, como se a caça às bruxas montada a partir da Casa de Nariño, contra seus opositores não estivesse aumentando, como se os paramilitares chamados Águias Negras, não fossem "o mesmo cachorro com coleira diferente", de similares e inclusive mais estreitos laços com políticos e com o Alto Comando militar, que os atores do Ralito.

Como se a chamada "Yidis política" não fosse demonstração plena do alto e crescente nível de corrupção dos costumes políticos na Colômbia nos mais importantes escritórios da Administração, o Poder Público e da mesma Presidência.

Como se a ingerência ianque nos assuntos internos do país não se tivesse multiplicado até a indignidade, em detrimento de nossa soberania.

Como se as terras despojadas aos camponeses nos últimos 40 anos, as melhores e mais produtivas, não estivessem sendo concentradas nas mãos de umas poucas famílias, como uma sinistra repetição do acontecido na década dos anos cinqüenta. Como se a estratégia narco-paramilitar não se mantivesse encrustada na cúpula do Estado Colombiano.

O febril triunfalismo midiático desatado pelo governo logo da fuga de 15 prisioneiros de guerra o passado dois de julho, carece de conotações a largo prazo. Foi, simplesmente, um golpe de mão dirigido por serviços de inteligência de Israel e executado a partir da traição de dois comandos guerrilheiros, episódio nada excepcional em qualquer confrontação militar, que não afeta a estratégia nem a concepção, nem muito menos as causas do conflito, como não têm afetado a estratégia outros golpes de mão, e outras fugas realizadas no passado na Colômbia e em outras partes do mundo, por exércitos oficiais ou forças insurgentes.

Respeitamos profundamente o sentimento majoritário das pessoas que marcharam o passado 20 de julho pela paz e a liberdade, sem permitir o manuseio do governo nem a manipulação re-elecionista, daquele que quer se perpetuar no poder como ditador. Nessa luta pela conivência democrática andamos há 44 anos, todos os integrantes das FARC, enfrentando o terror do Estado e das chamadas "instituições", verdadeira essência da violência contra o povo, da corrupção político-administrativa e do ajoelhamento servil diante de Washington.

Em uma confrontação tão intensa como a atual, onde se apresentam centenas de combates dia a pós dia e milhares de ações de guerra, por todo o território nacional, é entendível que se apresentem, além de mortes, capturas de integrantes das forças em luta, e é lógico, que também nós e as famílias dos guerrilheiros presos, ansiamos sua liberdade, longe do opróbrio e da humilhação dos cárceres ianques e dos calabouços de segurança máxima da Colômbia.

Por isso, mantemos a proposta de Intercâmbio Humanitário. Em qualidade de prisioneiros de guerra, hoje permanecem em nossos acampamentos:

Capitão Edgar Yesid Duarte Valero/ 2. Tenente Elkin Hernández Rivas/ 3. Sargento Luís Alberto Erazo Maya/ 4.Cabo Segundo José Libio Martínez Estrada/ 5. Cabo Segundo Pablo Emilio Moncayo Cabrera/ 6. Intendente Álvaro Moreno/ 7. Soldado William Yovani Domínguez Castro/ 8. Parlamentar Óscar Tulio Liscano/ 9. Deputado Sigifredo López/ 10. Ex-governador Alan Jara/ 11. Cabo Primeiro Luís Alfredo Moreno/ 12. Cabo Primeiro Luís Alfonso Beltrán/ 13. Cabo Primeiro Luís Arturo García/ 14. Cabo Primeiro Robinsón Salcedo/ 15. Sargento Segundo César Augusto Lazo/ 16. Cabo Primeiro José Libardo Forero/ 17. Subtenente Jorge Humberto Romero/ 18. Subtenente Carlos José Duarte/ 19. Subtenente Wilson Rojas Medina/ 20. Subtenente Jorge Trujillo/ 21. Coronel Luis Mendieta Ovalle/ 22. Tenente William Donato Gómez/ 23. Capitão Enrique Murillo Sánchez/ 24. Capitão Guillermo Solórzano/ 25. Sargento Segundo Arvey Delgado Argote/ 26. Cabo Primeiro Salin Antonio San Miguel Valderrama/ 27. Policial Juan Fernando Galicio Uribe/ 28. Policial José Walter Lozano Guarnizo/ 29. Policial Aléxis Torres Zapata.

Sobre estes quatro últimos (dois polícias e o Cabo), o governo não tem informado à opinião pública nem feito reclamo algum, já que por não ter patente, pouco servem para a propaganda. Qualquer aproximação do processo que surja à procura da concretização do Intercâmbio ou de acordos Humanitários que protejam à população dos perigos da confrontação deve contar com plenas garantias e com a participação e presença de países e governos que ofereçam total confiança. A estas alturas dos acontecimentos, diante dos olhos de simples estranhos, é evidente que o regime colombiano, mas especialmente o atual governo, mentem, enganam, deturpam, violam compromissos e normas em meio do maior cinismo e da mais vergonhosa impunidade. Para eles, "seu fim justifica qualquer meio" e praticam a "guerra sem regras", diante de uma lassitude quase cúmplice da chamada comunidade internacional.

O presidente Uribe autorizou o seqüestro de Rodrigo Granda no centro de Caracas, capital de Venezuela, e depois afirmou que tinha sido preso na fronteira dos dois países; invadiu militarmente o território equatoriano violando todas as normas interncionais no dia primeiro de março e, imediatamente após desse crime chamou o Presidente Rafael Correa para mentir-lhe com cinismo; para a fuga recente, autoriza a utilização do emblema da Cruz Vermelha, de meios de comunicação e de organizações não governamentais de outros países em operações militares, mas não responde por isso. Foi às suas costas! Parafraseando a um ex-presidente norte-americano poderíamos dizer que "o êxito teve muitos pais, mas a violação das normas internacionais ficou órfã".

A nossos presos enviamos-lhes um saúdo revolucionário, solidário e cálido. Continuaremos lutando pela sua libertação. Aos nossos amigos e simpatizantes nacionais e internacionais, com o nosso otimismo de sempre, transmitimos-lhes nossa confiança no triunfo deste enorme esforço popular pelas transformações sociais em favor das maiorias de nosso povo. Agradecemos as enormes mostras de solidariedade que recebemos com motivo do falecimento de nosso Comandante em Chefe, Manuel Marulanda Vélez. Dele aprendemos, também, a ser incondicionalmente solidários com todos os processos revolucionários do mundo e profundamente respeitosos dos caminhos que cada povo soberanamente decide transitar em procura de seu bem-estar. Esse princípio seguirá sendo guia de nossas relações internacionais. Jamais os processos revolucionários têm sido planos e em uma só direção. As FARC temos claro o norte do processo, confiamos em nossas orientações e, no trabalho que fazermos sentimo-nos fortes, apesar da ofensiva de Bush e Uribe que tentam golpear-nos visando desestimular as lutas dos povos pelas mudanças. Ampliaremos a cobertura da discussão em torno de nossa Plataforma Bolivariana com a convicção profunda que Colômbia será capaz de conquistar um Novo Governo, de unidade, em paz com democracia plena e que resgate nossa refundida soberania nacional.


Pela Nova Colômbia, a Pátria Grande e o Socialismo!

Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP

Montanhas da Colômbia, Agosto de 2008

As FARC e as ligações com o Brasil

Por Elaine Tavares - jornalista no Instituto de Estudos Latino Americanos/UFSC

Ventilam em toda imprensa brasileira informações sobre supostas ligações do governo de Lula com as FARC, na Colômbia. Aparecem nomes como o de José Dirceu, o chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, e até o ministro Celso Amorim. As informações, requentadas por jornalistas brasileiros, foram divulgadas pela revista colombiana Cambio, do grupo editorial El Tiempo, que tem entre seus diretores membros da família do atual Ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos. O ministro é o mesmo que deu em primeira mão, para o jornal El Tiempo, também da sua família, a informação de que haviam confiscado o computador pessoal de Raul Reyes, do ataque no qual o mesmo resultou morto. Desde então, este super computador tem servido de cornucópia de informações sobre praticamente todos os inimigos da política estadunidense que, por incrível coincidência, estavam listados na máquina do guerrilheiro.

É importante lembrar que as Forças Armadas Colombianas formam um grupo insurgente e popular que luta pela soberania daquele país desde os anos 60, quando em toda a América Latina pipocaram dezenas de movimentos de libertação. Alguns deles foram vitoriosos, como o caso dos sandinistas na Nicarágua, outros foram sendo destruídos pelas forças dos governos ditatoriais em parceria com mercenários estadunidenses. As FARCs vem resistindo a todos os embates com os governos de seu país e ao complexo e anti-nacional Plano Colômbia fechado em Washington por dirigentes colombianos, em 1992. Já o grupo editorial El Tiempo é formado por poderosos grupos da oligarquia que sempre esteve no poder na Colômbia, controlando a maioria dos meios de comunicação que funcionam como usinas ideológicas a serviço do status quo. Logo, fica bastante difícil confiar nas informações que são divulgadas pelos seus veículos, sejam eles impressos, televisivos, radiofônicos ou distribuídos na internet. Pior ainda se a fonte for o ministro do governo Uribe, que é filho do editor do jornal e digno representante da elite colombiana.

Assim, é totalmente inverossímil que alguns jornalistas, ditos sérios, possam cair no conto de que estas "supostas ligações" tenham sido descobertas no computador de Raul Reyes, o líder guerrilheiro assassinado pelas forças colombianas no território do Equador. E acaba sendo surpreendente perceber que poucos "escribas" nacionais falem sobre a ação criminosa de Álvaro Uribe - invadindo um país soberano - mas desperdicem papel especulando sobre os famosos correios eletrônicos que Reyes teria em seu computador, e dos quais não se têm qualquer prova a não ser a palavra do ministro.

Raul Reyes era um intelectual, um homem das letras. Ele sabia muito bem que, na guerra, o elemento mais valioso é a informação. Sendo assim fica difícil acreditar que ele deixaria arquivado num computador todos os nomes e telefones de pessoas que possam ter algum dia ajudado a guerrilha. Também parece pouco provável que numa ação de guerra tão feroz como foi o ataque feito na selva equatoriana, apenas o computador "indestrutível" do líder das FARC sobraria intacto para que a inteligência colombiana pudesse descobrir os emails.

A história do computador de Raul Reyes, que armazenava correios desde a metade dos anos 90, quando a Internet ainda era um instrumento quase que exclusivamente acadêmico, é tão espetaculosa que só mesmo num livro de Garcia Marques poderia ser verossímil. Ao que parece pelo menos isso os militares colombianos têm de bom. Conhecem muito bem o realismo fantástico de seu compatriota e supõe que: se Macondo é possível, porque não um "super/mega/power computador" e um líder néscio o suficiente para registrar tudo em detalhes? Também é importante ressaltar que a Interpol, que supostamente teria conseguido recuperar as informações, violou todas as regras de investigação comumente definidas para este tipo de questão, tornando igualmente pouco crível a história.

O fato é que toda a história de computador, ligações perigosas e terrorismo é uma ação ideológica do estado colombiano para desviar a atenção daquilo que verdadeiramente importa, ou seja, a crescente ocupação do território colombiano por marines estadunidenses que buscam dar fim às lutas de libertação popular em vigor desde o final dos anos 60.

Para melhor compreender o que são as FARC é preciso voltar no tempo e estudar a história da Colômbia. Um país que entrou em convulsão social no ano de 1948 deixando sua população totalmente desprotegida diante da barbárie. Por conta disso as comunidades precisaram se armar para defender suas vidas e seus lares. Como os governos que se sucederam não atacaram as causas da violência endêmica, alguns grupos, alinhados politicamente com as idéias de socialismo e libertação, principiaram um processo revolucionário e desde então vêm lutando no país. A questão do narcotráfico apareceu muito depois e sempre teve o apoio da inteligência estadunidense, porque desta forma poderia ser um bom motivo para levar a cabo o processo de ocupação do país.

A Colômbia é um país que, ocupado pelos marines, serve como porta de entrada para uma das maiores riquezas do planeta: a região amazônica. Daí o interesse estratégico dos governos estadunidenses. Quando em 1999 o presidente colombiano Andrés Pastrana foi a Washington com um projeto de combate ao tráfico de cocaína, este projeto foi totalmente remodelado pelos assessores do presidente Clinton – de olho na Amazônia - e é nesta época que se inicia a ocupação militar estrangeira no país. Os grupos armados, de natureza socialista, como as FARC e o Exército de Libertação Nacional (ELN), o que têm feito é lutar para que a soberania do povo colombiano seja recuperada. É certo que a guerrilha, passados mais de 40 anos de luta renhida, está fragmentada e muitas são as correntes de pensamento e ação dentro dos grupos insurretos, mas isso não os torna terroristas ou narcotraficantes.

O tráfico de drogas existe, é real, e tem ramificações poderosas em todos os setores da sociedade colombiana, inclusive junto aos paramilitares, nas fileiras governamentais e no poder judiciário. Nem mesmo o presidente do país escapa das capilares malhas. O jornal estadunidense New York Times divulgou em 02 de agosto de 2004 -

(http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9507E3DF163CF931A3575BC0A9629C8B63) - uma reportagem na qual mostra o atual presidente Álvaro Uribe como um dos integrantes da lista (blacklist) dos implicados com o narcotráfico, feita pelo poderoso Departamento de Combate a Drogas dos Estados Unidos. A matéria fala de Uribe como sendo uma pessoa muito próxima de Pablo Escobar, o famoso narcotraficante que consolidou o papel da Colômbia como uma dos maiores produtores de cocaína do mundo. Portanto, imputar às FARC ou a ELN o rótulo de terroristas e traficantes nada mais é do que inverter a lógica, trocar os papéis.

A ação militar que se leva a cabo hoje na Colômbia, com o uso ilegal de mercenários a soldo estadunidense, esta sim é terrorista. É o chamado terrorismo de estado, perpetrado pelo próprio governo. Ao povo, resta a defesa e aí, as guerrilhas são a mais clara expressão desta defesa. Porque essa gente luta por uma Colômbia livre, soberana e capaz de gerir seus próprios problemas, sem precisar da intervenção do exército estadunidense e muito menos dos assassinos paramilitares. Agora, daí a crer que estas informações sobre pessoas da esquerda do mundo todo estejam saindo do computador sobrevivente do bombardeio clínico efetuado por soldados dos Estados Unidos, já é muito realismo mágico para nossas cabeças de simples mortais. Seria bom que os jornalistas cortesãos pudessem estudar mais. Porque dizer isso ou é completo desconhecimento da história, ou o pior, é ser agente de propaganda de um sistema falido e comprovadamente criminoso.

Se todas estas informações que o jornal do pai do ministro diz que foram encontradas no computador de Raul Reyes são reais e verdadeiras, porque o governo de Álvaro Uribe não encaminha um relatório completo e oficial a todos os países integrantes da OEA? Essa seria sua primeira obrigação. Mas, o que se vê é um governo dirigir sua política externa a partir de chantagens, nominando esta ou aquela liderança latino-americana, de preferência as que incomodam ao sistema, e acusando-as, sem qualquer prova, de terrorismo ou de co-participação nos processo de guerrilha. Quem em sã consciência pode crer num governo que usa o terrorismo de estado, que apóia mercenários, e que faz acusações a partir de um computador que ninguém viu? Não será ele filho da mesma escola que inventou provas inexistentes de armas químicas no Iraque?

Os jornalistas deveriam ser um pouco mais perguntadores, como ensinava o grande Marcos Faermann.



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terça-feira, 19 de agosto de 2008

Os assassinos que faltavam no Ayití: o exército colombiano de “férias” no Caribe

por José Gutierrez Dantón / Reproduzido de: Anarkismo.net

Como se o povo ayisien[1] já não tivesse sofrido bastante com os furacões da última temporada, com a fome causada por anos de imposição da ortodoxia neoliberal e com a ocupação militar que sofre desde 2004 por parte da ONU (a chamada MINUSTAH), agora soubemos que, para completar ainda mais a desgraça, que o exército colombiano está pensando seriamente em fazer suas malas e tomar o rumo de Porto Príncipe[2]. A Colômbia, diga-se de passagem, não é absolutamente alheia à MINUSTAH, como é de se supor devido ao absoluto silêncio desta sobre esta ocupação de duvidosa natureza humanitária. Na verdade, a Colômbia já tem policiais em Ayití desde o começo da missão em junho de 2004[3], mas até o momento não tem enviado tropas. Essa é a novidade. As tropas colombianas são, na verdade, os únicos makoutes que faltavam na paródia de missão “humanitária” que é a MINUSTAH, da qual participam a soldadesca chilena, brasileira, argentina, jordana, nepalesa, marroquino, peruana, nigeriana, paquistanesa, e a de outros tantos países com exércitos igualmente “respeitosos” dos direitos humanos - como o do Sri Lanka, por exemplo...

E digo paródia porque é muito curiosa uma “missão de paz” que, em pouco mais de um ano, conseguiu assassinar 10 mil ayisien e tem vários massacres em seu currículo. Na verdade, a ONU e sua missão supostamente humanitária serviram de fachada para um Golpe de Estado sui generis, já que ocorreu em um país sem exército. Lembremos que em 1995 o presidente Aristide tinha dissolvido o exército, pois, em sua história, este somente se dedicara a fazer golpes de Estado, mas jamais impedira uma só intervenção estrangeira[4]. Os fatos que levaram a este Golpe sui generis ocorreram assim: no começo de 2004 um grupo armado de ex-militares e policiais a serviço das ditaduras de Duvalier e Cedras, financiado pela CIA e treinado na República Dominicana, começa uma série de ataques no norte de Ayití, enquanto grupos financiados pelos EUA implementavam um plano de desestabilização, semelhante ao usado no Chile na época de Allende, com o objetivo de derrubar o regime populista de Aristide que não agradava Washington (e ao qual já tinham derrubado em 1991). Os pistoleiros assalariados da CIA conseguiram derrubar Aristide com o apoio de um comando dos EUA que seqüestrou Aristide e o exilou na República da África Central, mas não podiam participar do governo, pelo qual, após uma breve ocupação organizada pelos EUA, França, Canadá e Chile, uma missão da ONU se encarregou de garantir segurança ao regime pós-golpe de uma maneira em nada diferente daquela em que um exército exerce o poder político numa ditadura militar. Com o objetivo de manter a ditadura dos 3% mais ricos em um país sem exército, não restou alternativa aos nostálgico de Duvalier senão recorrer a uma ocupação estrangeira[5].

Melhor seria que a face pública desta ocupação não fosse assumida pelos EUA, muito maculado por suas aventuras no Oriente Médio, nem à França, com um passado colonial muito oneroso. Foi então que saltaram os 'chapolins colorados' da América Do Sul, demonstrando que quando o Tio Sam não pode cumprir totalmente a sua tarefa de controle do hemisfério, suas marionetes locais podem fazê-lo. Com isso, criaram o terrível precedente da ocupação de cunho imperialista operada por países latino-americanos, isto é, ocupações “terceirizadas”. Claro, cada um obtém o seu quinhão nessa da ocupação, pois Ayití há muito tempo não é mais que carniça para qualquer abutre esfomeado.

Vale destacar que todos os exércitos que participam desta ocupação têm um histórico grave de violações de direitos humanos, o que, na verdade, não deveria nos surpreender diante dos resultados desta missão. Visto deste modo o exército colombiano não estará, como diz uma expressão criolla, como um “porco na missa”, isto é, fora do seu ambiente, mas entraria como sócio majoritário do “seleto” clube da MINUSTAH. Sabemos que o Exército colombiano é o grande responsável pelo drama do deslocamento na Colômbia, que força 313 mil colombianos para fora dos seus lares anualmente, que envenenam povoações camponesas inteiras com os programas de fumigação de coca (mesmo que o cultivo tenha crescido 27% no último período segundo relatórios da ONU), que seus soldados recebem dias livres e outros benefícios por “guerrilheiro morto” (prática que redundou nos chamados “falsos positivos”, isto é, o assassinato de camponeses que nada têm a ver com o conflito e que são assassinados e apresentados como “guerrilheiros mortos em combate” –dos quais cerca de 1.000 morreram no governo de Uribe), que juntamente com os paramilitares são responsáveis pela morte de pelo menos 70 mil membros de organizações populares desde o começo dos anos 90 e pelo desaparecimento de aproximadamente 30 mil no mesmo período (uma recente entrevista do paramilitar desmobilizado conhecido como HH joga alguma luz sobre este horror[6]) que, ao proibir a passagem de alimentos a certos setores com o fim de causar fome nas guerrilhas, o que fazem é matar de fome a comunidades inteiras, e que, por fim, que onde chega um batalhão começam as violações de mulheres e menores de idade. Vemos, então, que ao Exército colombiano não faltam méritos para integrar a MINUSTAH.

Mas não somente o exército colombiano não se acha fora do lugar entre os gorilas que têm como pares na MINUSTAH: o regime de Uribe na Colômbia tem uma grande semelhança com o regime de Duvalier (salva-se a cor da pele). Ambos utilizaram o suborno e o terror de seus partidários para ganhar as eleições; ambos modificaram a legislação a seu bel-prazer para exercer um caudilhismo autoritário e voraz; ambos recorreram à ajuda de forças ilegais para fazer o trabalho sujo (makoutes em Ayití, paramilitares na Colômbia); ambos contaram com a sacrossanta vênia de Washington e construíram uma ideologia de segurança nacional ante a ameaça latente dos vizinhos “comunistas” e seus aliados “apátridas” locais; e sobretudo, ambos utilizaram e manipularam uma ideologia patriotista, nacionalista e beata com o fim de apresentar-se como a encarnação do bem, dos valores eternos da pátria e da graça divina.

Posso imaginar o ministro Santos e Uribe tomando um chá com os Duvalier, com Papa Doc e com Baby Doc, enquanto falam de narco-terrorismo, de comunismo, de confabulações estrangeiras, de apátridas e das virtudes de rezar o Pai Nosso dez vezes por dia. Papa Doc, ditador de 1957 até 1971, produziu um “catecismo” de seu regime cheio de imagens religiosas, bandeiras e odes a si mesmo, uma das quais rezava o seguinte:

“Doc nosso que está no Palácio Nacional eterno, santificado seja Teu nome pelas gerações presentes e futuras. Faça-se a tua vontade, assim em Porto Príncipe como nas províncias. Venha a nós um novo Haiti e nunca perdoes as maldades dos antipatriotas que cospem diariamente em nosso país; deixa-lhes cair em tentação e sob o peso de seu rancor, não lhes livres de nenhum mal...”[7]

Amém. É só mudar as citações de Doc por “Uribe”, o Palácio Nacional pela Casa de Nariño e a oração vira a cópia de um artigo dos colunistas lambe-botas do uribismo. Poderia até ser um editorial do El Tiempo ou do Caracol.

Portanto, rapazes, ao encomendar suas malas e passagens para o Caribe, as tropas colombianas tornam-se “turistas com fuzis”, como sabiamente chama o povo ayisien aos capacetes azuis de MINUSTAH. Aí vai a Colômbia junto atrás dos EUA, como Robin atrás de Batman, auxiliando o seu amo na missão de Ayití (e também do Afeganistão, aliás). Que não fique nenhuma dúvida do compromisso que a Colômbia tem de servir aos interesses superiores de seus amos em Washington nem da sua hostilidade para tudo o que cheire a causas populares. Que ninguém suspeite que o governo do presidente Uribe não está pronto para satisfazer aos caprichos de seu patrão e auxiliá-lo na sua cruzada global de dominação. É péssimo: todos ganham algo com o drama do Ayití: assim como o Brasil está utilizando esta missão como moeda de troca para um posto permanente no Conselho de Segurança da ONU, a Colômbia parecesse utilizar sua participação na ocupação como uma forma de ganhar créditos para que o Congresso dos EUA decida, por fim, assinar o NAFTA. Como se vê, todos têm algo a ganhar. Todos, menos os ayisien.

Então, presidente Uribe, não se flagre tacanho ou preguiçoso: não mande somente as tropas. Mande também a contraparte necessária dela: mande seus “Rastrojos”, seus “Águilas Negras”, seus “Paisas”, seus “Nueva Generación”, seus “Jorge 40”, seus "Mancusos" etc. Mande todos os seus paramilitares para que complementem o trabalho, e na base da motosserra ensinem a todos esses “pretos de merda” em Ayití que porcaria é a democracia, tal qual eles têm ensinado por décadas a esses outros “pretos de merda” que vivem em Chocó e na Costa Caribe da Colômbia. Segurança Democrática também no Ayití! Além disso, não se pode ficar esta tarefa civilizatória pela metade, já que, depois dos massacres, alguém terá que sumir com os presuntos, ou não?

Também mande seus amigos do Instituto Gallup ensinarem a MINUSTAH a manipular pesquisas, para ver se dessa forma conseguem convencer o mundo de que a MINUSTAH é apoiada por 84% dos ayisien, que a Preval (Presidente Velando as Eleições Vigiadas por Meio de Ocupação) é defendida por 91% dos cidadãos e que o ex-presidente Aristide não é mas um vulgar “narcotraficante-terrorista” sem idéias políticas e somente interessado em Ayití como uma rota para o tráfico de cocaína que, via Venezuela, passa para o mundo civilizado.

Enquanto isso o povo ayisien, silenciosamente, seguirá na árdua tarefa de construir o seu destino apesar tudo: os furacões, a fome, o neoliberalismo e a ocupação. E sim, saberá seguir construindo seu destino apesar dos makoutes colombianos. Ayibobo![8].

José Antonio Gutiérrez D

11 de Agosto de 2008



NOTAS

[1] Prefiro sempre utilizar Ayití para Haiti e ayisien para haitiano. Essa é a maneira original de escrevê-lo e dizê-lo na língua nativa de Ayití, o kréyol ayisienM.

[2] http://www.elespectador.com/impreso/politica/articuloim...e=0,0

[3] http://www.un.org/depts/dpko/missions/minustah/facts.html

[4] O artigo citado do jornal colombiano El Espectador, http://www.elespectador.com/impreso/politica/articuloim...e=0,0, é uma boa amostra do quanto é frouxo e desacreditado o jornalismo colombiano ao dizer que uma das tarefas da MINUSTAH é “apoiar ao exército haitiano”. Desconhecem um dado tão básico, como o de que o exército haitiano não existe! Disso já dá pra desconfiar do resto do material jornalístico que não pode ser muito “profissional”. O que mais se pode esperar desta imprensa lambe-botas?

[5] Escrevi vários artigos de análise da crise haitiana. Entre eles pode analisar sobre a crise mesma: “Ayití, uma cicatriz no rosto da América” - http://www.anarkismo.net/article/1063 - e “Ayití, entre a liberação e a ocupação” - http://www.anarkismo.net/article/4651. Sobre os soldados chilenos e sua natureza ditatorial foi publicado no Haiti Tribune o artigo “Macoutes et opportunistes du Chili exportés no Haiti” http://www.anarkismo.net/article/2161

[6] http://www.elespectador.com/impreso/judicial/articuloim...e=0,1

[7] Cit. em “The Haiti Files – Decoding the Crises” ed. James Ridgeway, Essential Books, Azul Editions, 1994, p.20.

[8] Equivalente a “Amém!” nos rituais voduístas.

As Notas da Anncol

Na edição de domingo, 10 de agosto de 2008, o programa Noticias Uno nos surpreendeu com as imagens do juiz Baltazár Garzón de férias na Colômbia, mais exatamente na ilha de Barú. É estranho, pois o juiz que preside a ação do governo colombiano contra a cidadã espanhola, Remedios García Albert, entra de férias e e vai gozá-las justamente no país cujo governo é uma das partes de um processo sob sua responsabilidade.


Por Juan Carlos Vallejo *


Baltazar Garzón incorre em conflito de interesses



Na edição de domingo, 10 de agosto de 2008, o programa Noticias Uno nos surpreendeu com as imagens do juiz Baltazár Garzón de férias na Colômbia, mais exatamente na ilha de Barú.




Confira aqui:


http://noticiasuno.com/emisiones/domingo.html


Mesmo que a nota do telejornal estivesse na seção “Top Secret”, que se interessa nas estrelas de farândola – categoria em que se insere perfeitamente o “juiz-estrela” Garzón -, é notável que um juiz que está analisando o caso do governo colombiano contra a cidadã espanhola, Remedios García Albert, ao entrar de férias procure precisamente o país que é parte nesse processo.


Mas esta grave falta à ética e imparcialidade que deve ter todo magistrado não para aqui. Como se não bastasse, o juiz se hospedou na ilha de Barú, onde a oligarquia colombiana, principal interessada em calar todas vozes oposicionistas ao regime narcodemocrático instaurado, apropriou-se a sangue e fogo das terras dos nativos, como denunciou no momento certo o portal Indymedia (28 de maio de 2005) e que, como conseqüência, causou o assassinato da advogada que defendia os interesses dos nativos de Barú, assassinada junto com seu filho. Crime que está impune e que tem como principais suspeitos os influentes consórcios hoteleiros e “proprietários” das luxuosas residências da ilha. Confira aqui:


http://colombia.indymedia.org/news/2005/05/26470_comment.php

Estou seguro de que o juiz Garzón não estava antecipando nenhuma investigação sobre a morte da advogada, Mauricia Lafont Espriella, nem de seu filho, Carlos Enrique Gómez; também não averiguava como os “investidores” e famílias poderosas da Colômbia se apoderaram de Barú. Daí pergunto: Então por que o juiz tinha que escolher precisamente a Colômbia como destino para suas férias? E mais, exatamente no lugar onde, segundo a revista Semana, citada por Indymedia, “o presidente Alvaro Uribe se orgulhou do maior projeto turístico do país”?


Um político sensato

Ron Paul foi pré-candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano. Não teve muitos colaboradores, o que era normal, mas ganhou admiradores de outras correntes porque tinha algo que falta a muitos políticos: É sincero e sensato.

Numa aberta oposição ao Congresso dos Estados Unidos, que proferiu uma Resolução contra a China pela situação dos direitos humanos, Ron Paul qualificou a medida como “hipócrita”.


"Expresso minha oposição a esta resolução, que constitui outra condenação sem sentido e provocadora à China. Trata-se do tipo de patriotada que conduziu a uma opinião muito negativa dos Estados Unidos no exterior. Em vez de abordar estas e dezenas de outros assuntos prementes sobre os quais temos jurisdição, preferimos gastar nosso tempo criticando um governo estrangeiro sobre o qual não temos autoridade e sobre política interna estrangeira sobre a qual temos informação pouco precisa”.


Paul considerou “irônico” que na Resolução se exigisse da China iniciar conversações imediatas com o Dalai Lama ou seus representantes.

"Em lugar de repreender à China, onde sem dúvida há problemas como em toda parte, sugiro que coloquemos nossa atenção nas ameaças muito reais nos Estados Unidos, onde nossas liberdades civis e direitos humanos são atacados de forma sistemática", afirmou, referindo-se tacitamente ao governo de seu partido.


O despertar do urso russo

A reação russa ao ataque calculado da Geórgia à Ossétia do Sul foi perfeitamente entendida pela intelectualidade internacional, apesar da imediata reação manipuladora desses feitos por parte da imprensa ocidental, a União Européia e as organizações “humanitárias” como a ONU e a Cruz Vermelha, que só se pronunciaram quando a Rússia respondeu de forma efetiva ao fantoche Mikheil Saakashvili, mas se calaram nas primeiras horas do ataque georgiano contra a pequena população de Ossétia.


Os pronunciamentos de Mikhail Gorbachev e Eduard Shevardnadze, reconhecidos pró-ocidentais e responsáveis pela “queda do comunismo”, deixaram mais uma vez em evidência a errática política externa de George Bush. Política que é seguida por várias marionetes na Colômbia (onde o narcopresidente Uribe não teve cerimônia para violar a soberania da Venezuela e do Equador), Peru, República Tcheca, Polônia, Afeganistão e Iraque, para citar só alguns exemplos.


Foi Cuba, tão digna como sempre, a primeira a dar seu apoio à ação russa e denunciar a arrogância do imperialismo que havia passado dos limites para colocar contra a parede o governo de Dimitri Medvédev.


Aqui mostraram-se as presunções do império e seu mascote, Saakashvili. A resposta russa foi uma advertência clara de até onde pode ir a paciência. Ela seguramente chegará ao limite novamente quando Irã e China chegarem ao seu momento histórico.


Orlando Fals Borda

Expresso minhas sinceras condolências à família do professor Fals Borda, a seus ex-alunos, entre os quais tenho vários bons amigos, e a seus colegas do Pólo Democrático Alternativo. Quando mais a Colômbia necessitava se foram Eduardo Umaña Luna e Orlando Fals Borda.


Feliz aniversário, FIDEL!

Aí está você, farol luminoso, consciência da América Latina. Tão vivo, tão lúcido como ninguém mais. Que bom que você está aí, Fidel!


Feliz aniversário!


* Escritor e analista político internacional

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Uribe paga favores a preços inimagináveis

A solidariedade é agora um alvo militar e policialesco

Por Juan Cendales, Rebelión

No Parlamento Europeu mais da metade dos eurodeputados lhe deu as costas quando ele tomou a palavra. Em Estocolmo, Buenos Aires, Madri, Londres, Quito, Berlim, Genebra, Caracas, Washington, Bruxelas e outras capitais foi recebido com atos de rejeição e protestos. Muitos lhe gritaram: “Uribe fascista o senhor é o terrorista!”. E essas manifestações lhe queimaram o espírito. Subiu nitidamente ao seu rosto o rubor da raiva e do ódio. Vociferou contra os manifestantes. Acusou-lhes de serem amigos, cúmplices e porta-vozes de guerrilheiros.

Os ameaçou.
E agora começa a cumprir as ameaças.

Com a cumplicidade de grandes empresas que fazem o que querem em um país que foi posto à venda, iniciaram a “caça às bruxas” na Europa. A desculpa é a desarticulação das redes da insurgência. É de fato uma desculpa, e esfarrapada. A verdade é que trata-se de uma ação revanchista contra os ativistas da solidariedade. Contra os que revelaram ao mundo a monstruosidade do terrorismo de Estado e a guerra suja na Colômbia. Contra os que narraram a tragédia de um povo que suporta a mais violenta e sanguinária das oligarquias latino-americanas. Graças ao trabalho deles soube-se que a Colômbia não era “à Suíça latino-americana”. Que não era a democracia perfeita. Que ali, sob a beleza de uma natureza exuberante, em um país cheio de cores e cheiros, festas e carnavais, risos e de abraços, se sentia diariamente o cheiro da morte. Dos torturados e dos desaparecidos. Dos massacrados. Soube-se dos cinco mil mortos da UP e do Partido Comunista. Dos quatro milhões de desabrigados. O mundo, graças ao trabalho generoso e a denúncia persistente, inteirou-se dos sindicalistas assassinados. E dos indígenas. E dos estudantes. E dos defensores de direitos humanos. E de tanta gente, dezenas de milhares de homens e mulheres anônimos vítimas do holocausto. Conheceram seus nomes e suas histórias. De dor, mas também de resistência.

Por isso agora o alvo é o auxílio no exterior. Uribe lhes permite uma nova colonização e eles lhe permitem exportar o seu modelo de repressão. Negócios, apenas negócios. Oportunamente isso serve também na tentativa de aplacar os que poderiam liderar mobilizações de resistência aos demitidos que surgiram com a crise econômica. O objetivo das transnacionais são os partidos de esquerda e os Foros Sociais. Ao fazê-lo, tentam atingir a guerrilha e encontrá-la.

Por isso não é hora de calar. Nem de isolar-se. É a hora da solidariedade antifascista. Não é a hora de fugir do contato com as vítimas. Como se estivessem contagiados. Ao contrário. É a hora de chamar. De visitar. De rodear.

É o momento de ampliar a denúncia. De ampliar a solidariedade. De seguir contando e recontando as tragédias e dores até que se cansem de não escutar e nos escutem.

E dizer com a Pasionaria,
Não passarão.

Enquanto isso...

Um batalhão de militares colombianos reforçará o Exército espanhol no Afeganistão. É o preço que Uribe paga pelo silêncio e a impunidade diante do terrorismo de Estado na Colômbia. E para que lhe permitam estender na Europa as suas garras. À entrega do país às transnacionais se soma o mercenarismo servil. Definitivamente Uribe desceu as calças - e alguns gringos e europeus estão dispostos a tudo.

Frustrados

“Êxitos” que se transformam em amargura e frustração. Brigas entre Uribhitler - e Mario Montoya – Contra Santos e Freddy Padilla.
O que os leva à imensa frustração da relação entre “frustrados” e à luta entre o velho e o novo.



ANNCOL


A frustração do regime narcotraficante-paramilitar só cresce. É que, além das capturas diárias pela narco-parapolítica, continuam as da yidis-política, e assim a frustração de Uribhitler e Santos - que brigam com unhas, dentes e o resto do corpo pela pela vaga presidencial em 2010 - é aplicável o ditado popular “não há felicidade completa”, especialmente porque essas pessoas fazem da gestão mafiosa a sua marca pessoal e da mentira o seu jeito de governar.

Por conta da “operação xeque” encontram-se em “Xeque” e talvez daí se derive um “Xeque-Mate”, pois o partido já busca acabar com um oponente - o governo - astucioso, gatuno, chantagista. Principalmente porque todas as suas “operações” caem ao chão por seus próprios enredos. Todos sabem que do assassinato de Raúl Reyes e mais 20 pessoas - entre elas civis equatorianos e mexicanos - nasceu a maior crise diplomática que se tem conhecimento na história colombiana, ainda sem solução devido à galhardia do presidente equatoriano Rafael Correa, a quem dói a violação da soberania de seu país como doeria a qualquer patriota.

Por isso, o sabor amargo dos “sucessos” lhes retornam como um rápido bumerangue, acertando-os em cheio. Juan Mag-gne 'La Hiena' Santos protege o general Freddy Padilla (“protegidos” pelos gringos) para dizer que ambos não viram o “vídeo” completo, e o Uribhitler protege o general Mario Montoya para dizer que ambos também não viram, e mais, que não “toleram a mentira”. Assim estão delimitados os campos rivais. Sergio Fajardo intercede para dizer que Uribhitler “é inteligente e por isso não cogitará a reeleição”, evidenciando com isso quem precisa sair do caminho. Esse amargor nas palavras vai se tornando um mal maior que, dizem os que sabem, é a frustração. E todos sabemos que a “frustração” é a causa de uma série de problemas orgânicos que podem se manifestar, por exemplo, quando o doente fica 'out' em relação à realidade.

O ministro Santos está “frustrado” porque as FARC não cedem às suas provocações para que realizem um atentado contra ele. Por isso ele os inventa (isso é ficar 'out'). Inventa que pretendem matá-lo - “o que se deve, se teme” -, que querem matar o seu 'priminho', o 'Ladroño' [1], etc. Também o narcotraficante-paramilitar presidente Uribhitler, além de sua 'labirintite', nota-se que o estresse o tem carcomido e até mesmo a sua face é afetada, de modo que começaram a surgir manchas, talvez em manifestação de que algo anda muito errado nas glândulas supra-renais. O diagnóstico é do meu médico, e, ainda segundo ele, são as glândulas supra-renais que produzem os hormônios perpetuadores do estresse.

Essa história de estar frustrado parece extremamente contagiosa. Por isso dizem que “o medo é contagioso”. Caso pensem o contrário, basta perguntar a Bush Jr. por que a mídia terrorista colombiana - Paracol, RCN (Radio Caçadora Narcoparamilitar), a W (AUC), Semana, Cambio, etc - todos os dias diz que foi “frustrado um atentado em tal parte”, que foi frustrado “um atentado em outra parte”, que foi desmontado um plano terrorista em Bogotá, que foi “localizado um plano terrorista em uma escola” etc etc.

O governo todos os dias manifesta a sua “frustração” de que as FARC estejam escondidas, tranqüilas, organizando suas forças, provavelmente aguardando os melhores momentos para agir ou talvez à espera de um novo governo que tenha plena disposição para realizar o Intercâmbio Humanitário e de buscar uma saída política ao conflito social e armado que vive a Colômbia por culpa de uma oligarquia submetida aos interesses do império norte-americano.

Por outro lado, talvez as FARC estejam aplicando a “arte da guerra” de Sun Tzu, que diz em “a arte do engano” que uma força militar deve mostrar-se estar débil quanto mais forte estiver e que quando estiver forte deve agir de forma suficiente não para destroçar o inimigo, exterminando-o, mas para impor as suas idéias. Por isso estão tão frustrados os Uribhitler, os Santos e CIA narcotraficante-paramilitares. Simplesmente não podem com as FARC. E as FARC demonstraram que sabem disso, pois na verdade esse regime não sabe viver sem as FARC, mas as FARC podem sim viver sem ele. O velho necessita do novo para sobreviver, mas o novo sobrevive por si. Assim será quando a Nova Colômbia tornar-se uma realidade.

Enquanto isso o povo segue obstinado na construção de um Novo Governo que nos leve à Nova Colômbia por meio da luta do novo contra o velho e da luta contra a velha ordem. O novo sobrevive por si...
______________________


[1] Nota do tradutor: Referência ao ex-ministro Fernando Londoño, cujo escândalo noticiamos em: http://anncol-brasil.blogspot.com/2007/04/o-ex-ministro-fernando-londoo-deveria.html

Seis anos perdidos para a Paz

... e mais de 30 bilhões de dólares dilapidados na guerra. 10.282 assassinados “fora de combate”. No futuro dos colombianos, o futuro não pode ser a guerra civil.


ANNCOL


7 de Agosto de 2008. 6 anos perdidos para a paz dos colombianos. Milhares de mortos, a maioria assassinada pelas forças militares-narcoparamilitares do Estado colombiano que pratica o Terrorismo de Estado na sua variante mafiosa.


Em uma certa ocasião o comandante-em-Chefe das FARC, Alfonso Cano, disse que poderiam ter sido evitadas 5 mil mortes. Hoje podemos dizer que a paz tivesse sido buscada teríamos evitado 143 mil mortes. Todas evitáveis, pois a insurgência guerrilheira, especialmente as FARC, sempre buscaram e apostaram na Paz.


Mas a oligarquia não quer. Sempre pretendeu impor o seu esquema de “diálogos”: o de vencer a insurgência armada pelas armas. Acham absurdo tentar ganhar na mesa o que não alcançaram no campo de batalha. Na sua visão tentam passar que o outro foi derrotado sem sê-lo, de fato, porque a a paz significa abordar as causas que permitiram o nascimento das guerrilhas na Colômbia: exclusão política, corrupção econômica e social em um abismo que se aprofunda cada vez mais.


Principalmente quando o atual regime narcotraficante-paramilitar de Uribhitler e 'La Hiena' Santos falam de paz, mas nunca nem a quiseram nem a buscaram de fato. Puro blá-blá-blá sobre a paz enquanto gastam milhões de dólares diários na guerra.


$ 13,15 milhões de dólares diários em 2003; $ 15 milhões de dólares diários em 2004; $ 17,53 milhões de dólares diários em 2005; $18,9 milhões de dólares diários em 2006; $20 milhões de dólares diários em 2007; e 6,5% do PIB gastos na guerra em 2008, PIB que é o segundo em toda a América Latina, perdendo apenas para o do Brasil.


Com semelhantes despesas de guerra, e a intromissão e ingerência norte-americana, é impossível buscar a paz. Jamais. Principalmente porque o atual regime é mentiroso, mafioso. Ele recorre a tudo, baseado na ética de que 'os fins justificam os meios'.


Regime que pretendeu exportar a guerra. Violou a soberania nacional do Equador para assassinar o comandante das FARC, Raúl Reyes, e mais de 20 pessoas incluindo civis equatorianos e mexicanos, o que produziu uma crise diplomática que ainda hoje, cinco meses depois, não se solucionou.


Crises diplomáticas com a Nicarágua. Ataques de todo tipo à Revolução Bolivariana da Venezuela. Chegou-se ao ponto da Colômbia tornar-se a 'ponta de lança do império'.



Um regime que utiliza o princípio fascista de que 'uma mentira repetida muitas vezes transforma-se em verdade'. Em todas as suas atitudes está presente a mentira, como ficou patente em sua mais recente jogada, a 'operação xeque', que pôs em 'Xeque', na verdade, o narcotraficante-paramilitar presidente Uribhitler, o ministrinho 'La Hiena' Santos e a cúpula militar, especialmente os generais Mario Montoya e Óscar 'Cocaína' Naranjo. E ainda há os mentirosos, covardes que, esguios, tiram o corpo e escondem a sua parcela de culpa.


As 'sanções' contra os militares pela 'filtragem do vídeo' da 'operação xeque' não podem ser somente pela mera 'filtragem' do vídeo, e sim pelos delitos deliberados e próprios de toda a operação, pois os seus seus responsáveis, isto é, os que estão conseguindo tirar de si essa responsabilidade, não podem ser considerados 'marginais': o presidente, o ministro Santos e a cúpula militar.


Agora surge a manobra da manipulação pública. “O Ministério da Defesa confirmou na quarta-feira que uma missão viajou ao Afeganistão para avaliar o possível envio de um batalhão de engenheiros e de especialistas em destruição de minas”. As notícias disseram que “As autoridades evitaram uma escalada subversiva na capital do país” ao capturar guerrilheiros que “iam colocar cargas explosivas contra o canal RCN e contra o Batalhão de Saúde do Exército, segundo informou o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos”, completa-se a mentira e tenta-se complementar a primeira com a segunda.
Voltamos a repetir. A comissão de delitos, ao realizar uma operação militar, desvirtua os objetivos dessa operação. Além disso um delito não apaga outro.


7 de agosto de 2008. 6 anos perdidos para a paz. 10.282 assassinados “fora de combate” durante os primeiros quatro anos da administração Uribhitler, 85% deles realizados pelas forças militares-narcoparamilitares do Estado colombiano. Mas, aqui na ANNCOL, nós seguiremos insistindo na necessidade de um Intercâmbio Humanitário de Prisioneiros de Guerra e na busca de uma solução política ao conflito político, social e armado na Colômbia. O futuro da Colômbia não pode ser a guerra civil. Por isso persistimos na construção da Nova Colômbia.

domingo, 17 de agosto de 2008

Discurso de posse de Fernando Lugo


Paraguaios e paraguaias.

Compatriotas de América e cidadãos do Mundo.


A digna estirpe Paraguaia acorda novamente.




Muito obrigado, irmãos e irmãs de minha terra, muito obrigado, Presidentes das Nações amigas pela sua generosidade, muito obrigado,o Príncipe, vice-presidentes e dignitários todos, que hoje vêm a cultivar conosco a semente de um novo projeto de Paraguai.




Em cada milímetro de nosso ser, hoje se agita uma convocatória: reconstruir o sonho de José Gaspar Rodríguez de França, desde o mérito da solidariedade, a equidade social e a identidade que nos abraça.




Pese a que os tempos que correm se obstinam em demonstrar-nos que o passado é uma construção sem aportes para o que deve vir nos queremos encontrar seus valores e seus signos para que na semiótica do futuro se encontrem nítidas as motivações que clamam por um amanhã que confirme as conquistas e não repita os erros.




No Paraguai queremos retomar a nítida mensagem dos López, para somar nossa Nação ao desenvolvimento de suas potencialidades humanas, produtivas e estratégicas.




Queremos resgatar aquele valor dos governos que conjugaram honestidade e austeridade como equação do supremo sacrifício pela Pátria.




Em 20 de abril, quando alcançamos um triunfo histórico em Paraguai, assumimos um compromisso com os homens e mulheres de nossa historia, que nos interpelam hoje a não desperdiçar o esforço, a não falhar no rumo, a não tirar seus sonhos do supremo altar da esperança.




É tempo de olhar para frente e trabalhar sem poupar esforços a ENGENHARIA coletiva do futuro de Paraguai. Não será tarefa fácil. A trilha estará empedrada de obstáculos que permanentemente pretenderão cegar a gente com ilusões falsas do recente passado ditatorial, que tem infiltrado nossa cultura neutralizando atitudes que, no entanto, retomamos e que marcaram a Vitória de Abril, como a capacidade associativa, a consciência crítica, a inegociável dignidade.




É importante que vosso Presidente deixe claro um dado: A mudança não é uma questão eleitoral; a mudança no Paraguai é uma aposta cultural, quiçá, a mais importante em toda sua história.




Portanto, não se trata de um processo que tenha vencedores nem vencidos, nem proprietários exclusivos. Essa mudança é a oportunidade que termos uns e outros, em nossa querida Nação, de assumir a co-propriedade do processo que não requer outra coisa que a intenção de produzir aportes desde a gestão que exerçamos para alcançar essa mudança, a qual passa pelo encerramento da interminável transição e nossa incorporação plena ao universo das democracias consolidadas do mundo.




Hoje termina um Paraguai exclusivo, um Paraguai secretista, um Paraguai com fama de corrupto, hoje se inicia a história de um Paraguai cujas autoridades e moradores serão implacáveis com os ladrões de seu povo, com as ações que nublem a transparência e, com aqueles poucos donos feudais de um raro país de ontem, encravado no presente.




Gostaríamos que Rafael Barret, com seu "Dor Paraguaio" e Augusto Roa Bastos com sua "Ilha rodeada de terra" descansem já tendo a certeza de uma herança redimida; queremos que saibam Barret e Roa Bastos, que João, Maria, Felipe, Roberto, decidiram um dia fechar as paginas de um Paraguai irreal e farsante e despertar para um Paraguai real, histórico e sem marcha atrás na sua empreitada rumo à alvorada de felicidade tão postergada.


Gostaria que outros que cantaram ao mundo nossa história de dignidade seqüestrada, como ELVIO ROMERO, saibam que estou aqui, fiel a sua visão, "com os de meu caminho; com o justo, o pobre, o perseguido e rebelde". E que "de parte alguma vem minha voz, mas deles mesmos".




Eis me aqui, querido ELVIO, com os de meu caminho.




A vida deste humilde paraguaio, de um belo canto do Sul tem na fé uma contribuição muito importante.




Neste instante, me parece importante resgatar a paisagem social que me inspirou um dia o caminho do sacerdócio, lá nos alvores de uma Igreja nova, comprometida em calçar as sandálias que caminham junto às tribulações e alegria de nosso povo.




Quando escolhi o exercício pastoral, minha opção preferencial foi por aqueles que a história tem jogado nos marginais cenários da exclusão e da miséria.




Quando encontrei a palavra de Leonardo Boff e de Gustavo Gutiérrez, entre outros, percebi claramente que era essa a Igreja destinada a nutrir de esperança ativa os seres humanos, irmãos sumidos no discurso opressor de tantas ditaduras que marcaram a história de nossa Pátria Americana.




Por isso estive ali, por eles estou aqui e, por isso mesmo, este leigo eternamente agradecido com sua Mãe Igreja, permanecerá firme na sua fé solidária até o fim de sua humilde história.




Compatriotas:




Iniciemos hoje a intensidade da nossa tarefa.




Liderança coletiva.




Nossa bandeira da campanha.




Liderança coletiva supõe derrotar o proceder próprio dos caudilhos que perfurou os cimentos da mesmíssima coesão social do Paraguai.




A conquista de um processo de desenvolvimento, uma economia sustentável e com equidade social pretende construir seus mais nobres cimentos, neste qüinqüênio que nos ocupa como Presidente.




Alto pensamento estratégico, altíssima competitividade, leitura pontual dos fenômenos mundiais que regulam o mercado, incorporação tecnológica de ponta, inversões, não serão suficientes se não inserimos como transversal e concreto uma educação para o câmbio social.




Paraguai deve inaugurar uma ATITUDE diante os desafios de seu tempo.




A economia sustentável encontra o ar de coerência que respira, na equidade socioeconômica.




Sonhamos com um Paraguai socialmente justo. Onde nunca mais exista tanta iniqüidade que converte a uns em adversários de outros.




Tanta iniqüidade que gera saciedade e fome ao mesmo tempo.




E me apoio em uma frase de Josué de Souza, para anunciar que eu renuncio a viver em um País "onde uns não dormem porque têm medo e outros não dormem porque têm fome".




Nossa resposta será a ação redutora dos fatores que geram a pobreza estrutural, a instalação de condições adequadas para que o Estado some à assistência os setores de maior vulnerabilidade, as estratégias de solução estrutural; e por sobre tudo, queremos que a responsabilidade social não seja só um discurso cosmético de pequenos empreendimentos, mas que essa grande responsabilidade construa um grande cenário onde o Estado dialogue com os atores sociais e empresariais, a fim de alcançar um Pacto Social que promova ações, atitudes e, o mais importante, que aqueles que hoje são uns e outros, recuperem a visão de um futuro compartilhado.




Os novos modelos de desenvolvimento agrícola por sua intensidade, capacidades tecnológicas e alto rendimento supõem uma expectativa interessante de geração de vendas internacionais, o qual fortalece cada vez mais o desenvolvimento desses empreendimentos.




Ao mesmo tempo, tem-se visto como constante que os aportes macroeconômicos substanciais e importantes, não transferem reditos sociais. Isso se observa em vários cenários: uma visível miséria de alguns setores imediatamente próximos de essas explorações e um agressivo deslocamento que acrescenta ao dado econômico e social uma dívida com a dignidade, a fraternidade e a solidariedade que nós pretendemos saldar.




Nós queremos um Paraguai no qual cresçam TODOS.




É de nosso interesse, sublinhar a linha da segurança alimentaria, caracterizada, no só desde a reafirmação de um espaço e de oportunidades de produção mediante a autogestão, mas também, em sua dimensão CULTURAL E SOBERANA que consolide nossa identidade.




Dentro deste mesmo conceito assumimos o compromisso do projeto político denominado ALIANÇA PATRIÓTICA PARA A MUDANÇA, integrado por corajosos homens e mulheres de diversas origens partidárias e sociais, que em menos de um ano de existência viraram a página de uma história de 60 anos.




Essa ALIANÇA tem dialogado com a comunidade e desde tal espaço, compartido tem surgido sempre como uma inquietude, a necessidade de um maior impacto socioeconômico dos empreendimentos energéticos, compartilhados atualmente com os povos irmãos de Brasil e Argentina.




Obedientes ao mandado, acudiremos ante nossos pares para, no afã de encontrar que estas "causas nacionais" se transformem em "Causas Binacionais", de objetividade, solidariedade e consciência de um futuro compartilhado.




A propósito, nosso projeto acredita na Integração, na poesia da Pátria sem muralhas, acredita obstinadamente na equação de fronteiras férteis antes que oclusivas.




Por isso mesmo, convocamos à busca de soluções concretas a problemas menos vinculados aos marcos jurídicos e declamatórios de nossas legitimas intenções, focando o rumo à atenção de questões cotidianas que motivam certa desconfiança em muitos mercosulianos, pese a que se abraçam e se querem. E a melhor demonstração é oferecida pelos povos fronteiriços vizinhos que têm sabido escrever suas micro-histórias de integração pelo caminho dos feitos culturais, sociais, solidários e humanistas.




Damos as bem-vindas e o respaldo aos diversos esforços de integração já vigentes ou em processo, que tenham à pessoa humana como sujeito direto de seu benefício. Nunca esqueçamos a SALVADOR ALLENDE e seus jovens cem anos, clamando como o primeiro dia que "muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão as grandes alamedas, por onde passará o homem livre para construir uma sociedade melhor".




Hoje, essas grandes alamedas estão abertas e firmes, porque não se cobrem com o indolente asfalto, mas com a matéria que constitui os sonhos dos Próceres da Pátria Grande.




Paraguai tem seus filhos no mundo. Hoje, ao tempo de agradecer a hospitalidade dos países do mundo que os acolhem, nos comprometemos a dar início às ações que restituam ao Paraguai essa oportunidade de receber todos os sonhos propriedade de irmãos e irmãs que um dia saíram do país em procura deles.




Como esse outro Paraguai lindo instalado, laborioso, que empeceu a construir os edifícios da Reina do Plata, Buenos Aires, na década dos anos 30, e hoje são gerações e gerações de connacionais sempre gratos –como nós- a esse país que os recebeu e lhes permitiu contribuir com seu esforço.




Quantos haverão cantado com Carlitos Gardel o VOLVER da saudade e quantas vezes não puderam regressar, então, se cobriram de novo com o abrigo solidário oferecido pelo vosso país, Presidenta Cristina. E que seja esta a histórica oportunidade para dizer um MUITO OBRIGADO.




Cumprimentamos desde aqui as migrações mais novas com destino à Europa e Estados Unidos, englobando aqui os connacionais que moram em diferentes Estados da terra e que dia após dia fazem o que melhor sabem: trabalhar.




Nosso abraço a esse Paraguai que mora além das fronteiras.




Em quanto construímos um ninho mais acolhedor para o vôo de volta, nos comprometemos a dialogar e volver a dialogar para que continue olhando no migrante, onde esteja, um irmão que chega, desde um atitude humanitária e hospitalaria, cuja carência nos faria duvidar da vigência de fatores dunfacionais de nossa convivência civilizada.




O Estado que nos comprometemos a edificar tem relação com as particularidades da demanda cívica expressada nas urnas o passado 20 de abril.




Uma primeira ação: Melhorar os níveis de institucionalidade de nossos escritórios do Estado Paraguaio. Desde seus valores. Sua Missão. Sua eficiência. O patriotismo do servidor púbico. Sua absoluta transparência. Sua responsabilidade como funcionário do Estado. E isto é importante porque não existem instituições corruptas, mas funcionários que se corrompem.




Derrotar o costume do secreto estatal para que nossas instituições façam a prestação de contas, e também, melhorar as capacidades de seus operários, são outras metas do Executivo.




Um sinal deste tempo novo será a austeridade. Daremos especial ênfase ao controle dos bens públicos, evitando que se eternizem os gastos suntuosos excessivos que uns ostentam, enquanto a grande maioria, o grande país, sofre diversas carências.




Os ajustes e a racionalização de recursos acompanharão este processo e serão parte do plano de austeridade que estamos propondo.




Queremos que durante este tempo as Forças Militares se dignifiquem e sejam amigas e companheiras da comunidade.




Desde as políticas desenhadas no Ministério respectivo, será efetivada uma substancial melhora nas capacidades da Policia Nacional, incluindo uma especial atenção às condições de vida de seus membros.




Igualmente, se deverão reduzir, o máximo possível, as estatísticas de corrupção nesta Força, a partir de uma maior consciência, um melhor controle e uma mais enfática resposta nas falta e delitos.




Acreditamos que as Forças Policiais têm um rol histórico que necessariamente devem assumir com ética e eficiência profissional, para demonstrar que, com a confiança e o estimulo da comunidade e suas instituições, são vitais co-participes da Mudança.




As Forças Armadas da Nação devem estar preparadas para a melhor experiência em tempo de paz vivida até o presente. Que fiquem longe, as operações tenebrosas destas Forças, para manter um regime repressivo. Nosso governo pretende que as Forças Armadas caminhem aliadas com a comunidade pela senda de suas aspirações de desenvolvimento.




Não queremos mais, um soldado que infunda temor, queremos um soldado que gere confiança.




Um soldado irmão está nascendo em Paraguai.




O enfoque da segurança terá as linhas necessárias que garantem sua integralidade. As melhoras financeira, tecnológica e logística são uma parte da estratégia que deverá se conjugar com ações convergentes no campo social, pois a maior diminuição das causas da pobreza, menor será a insegurança cotidiana. Obviamente, são processos que levarão algum tempo para serem estabelecidos totalmente.




Dedicaremos o esforço necessário para tirar o estereotipo de "zonas liberadas ou perigosas" a regiões como São Pedro ou los Banhados de Asunción, cujos moradores em sua absoluta maioria e na mesma proporção que em diversas regiões são honestos e laboriosos.




Nosso governo não perseguirá a ninguém por ser pobre....!

Será uma paixão a preservação dos bosques naturais e o meio ambiente em geral. Fatores claves como o Aqüífero Guarani, as umidades e particularmente a ÁGUA DOCE passarão a serem resguardadas aplicando conceitos de recursos estratégicos.




Ações regionais que apontem para este objetivo deverão ser apoiadas sem dúvida nenhuma.




As Nações originarias, os Paraguaios e Paraguaias são os primeiros proprietários do futuro de seus recursos naturais, de seu desfrute e incluso, de sua exploração produtiva nacional.




As Nações indígenas esperam na viera do caminho que alguém os convide a se re-apropriar de suas terras. Essas terras, a partir de agora, não só serão sagradas para sua cultura, mas sagradas para aplicação da lei.




Nenhum branco que negocie terra indígenas, que os humilhe ou os persiga terá a mesma impunidade que teve sempre.




O delito contra um indígena deve deixar de navegar nas águas da impunidade.




Trabalharemos dedicadamente por obter melhores condições de vida para os camponeses, com ou sem terra.




Desterrar esse velho mau humor social instalado pela iniqüidade forma parte de nossa ação desde os organismos respectivos do governo que hoje assume.




Necessariamente teremos que apontar para melhoras que acrescentem maior valor à produção, encontrando uma alternativa para a exportação de matéria prima.




Os empresários terão nosso mais pleno respaldo. Criaremos o melhor ambiente de trabalho, que irá melhorando aos poucos no marco da habilitação de postos de trabalho.




Uma indústria, uma exploração agrícola concebida com parâmetros de incidência social e resguardo do ambiente, empreendimentos empresariais em outros campos como a comunicação, a banca, os serviços, terão um decidido acompanhamento do governo.




Necessitamos que a empresa funcione em Paraguai!




Estamos trabalhando planos em SAÚDE E EDUCAÇÃO que derrotem para sempre a exclusão.




Devemos dizer-lo: A maior inversão social e política deste governo se reflexa em uma figura muito simples: UM MENINO SAUDÁVEL E BEM EDUCADO.




Haverá um outro ponto de partida que possa ser mais auspicioso que a semeada do futuro?




O Gabinete social de nosso governo integrado por Ministérios e Secretarias do ramo, acompanhará muito de perto este propósito simultâneo de assistir e mudar estruturas.




Não deixaremos que ninguém morra de fome por culpa de nossa abordagem estrutural nem eternizaremos a miséria com nossas ações assistencialistas.




Gostaria de deixar algo para os jovens. Esta autêntica maioria nacional.




Estamos já assumindo nosso governo e lembrarás que na Quinta, 17 de abril neste mesmo lugar, eu te pedi um favor. Vos me destes.




Eu te disse, lembre que tua única obrigação, teu único compromisso, teu único grande esforço deveria ser que fosses AUTENTICAMENTE FELIZ.




Vos, com um sorriso fostes às urnas no dia 20 e apagastes com seu voto toda a má onda de várias gerações.




Agora, eu te perco quase o mesmo. Se chegas a conquistar a felicidade, com estudo, com ações solidárias, com valores, TUA FELICIDADE fará mais grande este país....




Eu renuncio a um Paraguai com jovens tristes, eu anuncio, com a colaboração de todos, um Paraguai com jovens protagonistas de seu destino!




Hoje, quando este homem de fé e este laico comprometido com seu tempo, atravessava a cidade tem visto, mais uma vez, aquilo que nos enche de vergonha e causa pena: Os meninos de rua.




Pensava naqueles rostos que clamam visibilidade social, compreensão, mínima solidariedade.




E me perguntei: Quanto tempo tardaremos em dar respostas a essa situação? Não é prudente nem serio anunciar tempos para essa forma de iniqüidade que aproveita a luz vermelha do semáforo, do perigo, para encontrar as duas moedas do dia.




Nem sei quanto tempo. Não sei se alcançaremos tombar definitivamente o monstro da miséria que os condena, mas, saibam, esso sim: que ao igual que com a causa dos indígenas, as crianças em situação de miséria terão a mais das instituições destinadas para eles, a ocupação PESSOAL de vosso presidente.




Compariotas:




O Paraguai não mudará em 16 de agosto. Iniciará sua mudança paulatinamente o dia e a hora em que te somes aos que acudirão desde os primeiros cem dias a ganhar as ruas, diagnosticando, atuando, avaliando.




O edifício de nosso novo Paraguai tem um tijolo em tuas mãos. Aproxima-te não importa a filiação política, no Paraguai se acabaram as filiações para ganhar um cargo.




Muito obrigado a todos os protagonistas da Mudança.Obrigado, patriotas do 20 de abril. Obrigado aos que não deixam de acreditar!!!




Paraguai acorda.




Acorda Paraguai!!!!!

sábado, 16 de agosto de 2008

"Presidente Bush: Por que não te calas?"


Os neocons do regime Bush e dos media americanos ocupados por Israel estão a encaminhar o mundo inocente rumo a uma guerra nuclear.

por Paul Craig Roberts [*]


Nos anos Reagan o National Endowment for Democracy foi criado como uma ferramenta da guerra fria. Hoje o NED é um agente controlado pelos neocons para a hegemonia mundial dos EUA. Sua principal função é despejar dinheiro americano e apoio eleitoral às antigas partes constituintes da União Soviética a fim de cercar a Rússia com estados fantoches dos EUA.

O regime neoconservador de Bush utilizou o NED para intervir nos assuntos internos da Ucrânia e da Geórgia de acordo com o plano conservador a fim de estabelecer regimes políticos amigos dos EUA e hostis à Rússia nessas duas antigas partes constituintes da Rússia e da União Soviética.

O NED também foi utilizado para desmembrar a antiga Jugoslávia, com as suas intervenções na Eslováquia, na Sérvia e no Montenegro.

Em 1991, Allen Weinstein, o qual ajudou a redigir a legislação que estabelecia o NED, contou ao Washington Post que grande parte do que o NED faz "hoje era feito camufladamente 25 anos atrás pela CIA".

O regime Bush, tendo estabelecido um fantoche, Mikhail Saakashvili, como presidente da Geórgia, tentou trazer aquele país para a NATO.

Para os leitores demasiado jovens para saber, o Tratado da Organização do Atlântico Norte (NATO) foi uma aliança militar entre os EUA e países da Europa ocidental para resistir a qualquer movimento soviético em direcção à Europa ocidental [e para assegurar que os países europeus se alinhassem por trás dos EUA, e comprassem seus sistemas de armas]. Já não há qualquer razão para a NATO desde o colapso político interno da União Soviética há quase duas décadas. O neocons transformaram a NATO em outra ferramenta, tal como o NED, para a hegemonia mundial dos EUA. As administrações seguintes dos EUA violaram os entendimentos que o presidente Reagan havia alcançado como Mikhail Gorbarchev, o último líder soviético, e incorporaram partes da antiga União Soviética na NATO. O objectivo neocon de cercar a Rússia com uma aliança militar hostil já foi proclamado muitas vezes.

O membros da NATO da Europa ocidental recusaram a admissão de Geórgia, pois entenderam-na como uma afronta provocatória à Rússia, de quem a Europa Ocidental está dependente quanto a gás natural. Os europeus ocidentais também estão perturbados com as intenções do regime Bush de instalar defesas de mísseis balísticos na Polónia e na República Checa pois a consequência será os mísseis nucleares de cruzeiro russos alvejarem capitais europeias. Os europeus não vêem vantagem em ajudar os americanos a bloquearem uma retaliação nuclear russa contra os EUA a expensas da sua própria existência. Defesas de mísseis balísticos não são utilizáveis contra mísseis de cruzeiro.

Todo país está cansado de guerra, excepto os EUA. A guerra, incluindo a guerra nuclear, é a estratégia neoconservadora para a hegemonia mundial.

O mundo inteiro, excepto os americanos, sabe que o estalar do conflito armado entre forças russas e georgianas na Ossétia do Sul foi inteiramente devido aos EUA e seu fantoche da Geórgia, Saakashvili. Os americanos, só eles no mundo, estão inconscientes de que as hostilidades foram iniciadas por Saakashvili, porque Bush, Cheney e os media americano ocupados por Israel mentiram-lhes.

Toda a gente no mundo sabe que o instável e corrupto Saakashvili, o qual proclama a democracia e dirige uma polícia de estado, não teria enfrentado a Rússia com o ataque à Ossétia do Sul a menos que Washington lhe desse sinal verde.

A finalidade do ataque georgiano à população russa da Ossétia do Sul é dupla:

Para convencer os europeus de que a sua acção em retardar a entrada da Geórgia na NATO é a causa da "agressão russa" e de que para salvar a Geórgia deve-lhe ser dada a condição de membro da NATO.

Para limpar etnicamente a Ossétia do Sul da sua população russa. Dois milhares de civis russos foram alvejados e mortos pelo Exército georgiano equipado e treinado pelos EUA, e dezenas de milhares fugiram para a Rússia. Tendo atingido este objectivo, Saakashvili e seus mestres em Washington apelaram rapidamente a um cessar fogo e a um alto à "invasão russa". A esperança é de que a população russa ficará receosa de retornar ou possa ser impedida de retornar, removendo assim a ameaça secessionista.

Não há dúvida de que o regime Bush pode enganar a população americana, tal como fez com armas de destruição maciça iraquianas, ogivas nucleares iranianas e o próprio 11 de Setembro, mas o resto do mundo não está a embarcar nisto, nem mesmo os aliados europeus comprados e pagos pela América.

Escrevendo no Asia Times, o embaixador M. K. Bhadrakumar, um antigo diplomata de carreira do Indian Foreign Service, nota a desinformação que está a ser propalada pelo regime Bush e pelos media dos EUA e informa que "quando estalou a violência, a Rússia tentou fazer com que o Conselho de Segurança das Nações Unidas emitisse uma declaração apelando à Geórgia e à Ossétia do Sul para deporem armas de imediato. Contudo, Washington esteve desinteressada".

O embaixador Bhadrakumar nota que o recurso dos americanos e georgianos à violência e propaganda pôs fim à crença do governo russo de que a diplomacia e a boa vontade podem levar a um ajustamento da questão da Ossétia do Sul. Se a Rússia quisesse, ela poderia terminar à vontade com a existência da Geórgia como um país separado, e não haveria nada que os EUA pudessem fazer quanto a isso.

É certo que a invasão georgiana da Ossétia do Sul foi um evento orquestrado pelo Regime Bush. Os media americanos e os think tanks neocon estavam prontos para os seus ataques de propaganda. Os neocons tinham pronto um artigo em favor de Saakashvili na página editorial do Wall Street Journal que declara "a guerra na Geórgia é uma guerra pelo Ocidente".

Confrontado com o colapso do seu exército quando a Rússia enviou tropas para proteger os ossetianos do Sul das tropas georgianas, Saakachvili declarou: "Isto já não é acerca da Geórgia. É acerca da América, dos seus valores".

A neocon Heritage Foundation em Washington, D.C., rapidamente convocou uma conferência que tinha o instigador de guerra Ariel Cohen como mestre de cerimónias, "Urgente! Evento: Guerra russo-georgiana: Um desafio para os EUA e o mundo".

O Washington Post abriu espaço para os tambores da guerra de Robert Kagen, "Putin Makes His Move".

Só um louco como Kagen poderia pensar que se Putin pretendesse invadir a Geórgia faria isso a partir de Pequim, ou que depois de enviar o exército georgiano com treino americano para as urtigas ele não continuaria e conquistaria toda a Geórgia a fim de por um ponto final nas maquinações americanas na fronteira mais sensível da Rússia, maquinações que provavelmente podem acabar em guerra nuclear.

O New York Times deu espaço às arengas de Billy Kristol, “Will Russia Get Away With It?” ("Será que a Rússia escapará impune?"). Kristol troveja contra "regimes ditatoriais, agressivos e fanáticos" que "parecem felizes de trabalhar em conjunto para enfraquecer a influência dos Estados Unidos e dos seus aliados democráticos". Kristol apresenta um novo eixo do mal – Rússia, China, Coreia do Norte e Irão – e adverte contra "retardamentos e falta de resolução" que "simplesmente convidam a ameaças futuras e perigos mais graves".

Por outras palavras: "ataquem a Rússia agora".

Dick Cheney, o insano vice-presidente americano, telefonou a Saakashvili para exprimir a solidariedade dos EUA no conflito com a Geórgia e declarou: "A agressão russa não deve ficar sem resposta". Só um idiota diria a Saakashvili qualquer coisa diferente de "pare imediatamente".

Qual será o efeito sobre os serviços de inteligência e os militares dos EUA da declaração propagandística e irresponsável de Cheney em apoio aos crimes de guerra da Geórgia? Será que alguém realmente acredita que a CIA ou qualquer serviço de inteligência americano disse ao vice-presidente que a Rússia iniciou o conflito com uma invasão? As tropas russas chegaram à Ossétia do Sul depois de milhares de ossetianos terem sido mortos pelo ataque georgiano e depois de dezenas de milhares de ossetianos terem fugido para a Rússia a fim de escapar ao ataque georgiano. Segundo os noticiários, forças russas capturaram americanos que estavam com as tropas georgianas a dirigirem seus ataques aos civis.

Os militares estado-unidenses certamentte não têm recursos para uma guerra contra a Rússia em acréscimo às guerras perdidas no Iraque e no Afeganistão e à guerra planeada com o Irão.

Com a sua aventura georgiana, o Regime Bush é culpado de uma nova série de crimes de guerra. Qual será a consequência?

Muitos responderão que tendo escapado do 11 de Setembro, Afeganistão, Iraque e com os seus preparativos para atacar o Irão, o Regime Bush escapará também da sua aventura georgiana.

Contudo, desta vez o Regime Bush possivelmente ter-se-á excedido.

Certamente a Rússia agora reconhece que os EUA estão determinados a exercer hegemonia sobre a Rússia e que a Rússia é o seu pior inimigo.

A China percebe a ameaça americana ao seu próprio abastecimento energético e, portanto, à sua economia.

Mesmo os aliados europeus da América, irritados no seu papel de fornecedores de tropas para o Império Americano, devem agora perceber que ser uma aliado americano é perigoso e não traz benefícios. Se a Geórgia se tornar um membro da NATO e renovar seu ataque à Ossétia do Sul, isto deve arrastar a Europa a uma guerra com a Rússia, um importante fornecedor de energia à Europa.

Além disso, se forem enviadas tropas russas que atravessem fronteiras europeias, não há nada que possa travá-las.

O que tem a América para oferecer à Europa, além dos milhões de dólares que paga para subornar líderes políticos europeus a fim de assegurar que eles traiam os seus próprios povos? Nada que se veja.

A única ameaça militar que a Europa enfrenta é ser arrastada para as guerras da América pela hegemonia americana.

Os EUA estão financeiramente em bancarrota, com défices orçamentais e comerciais que excedem os défices combinados de todo o resto do mundo em conjunto. O dólar murchou. O mercado consumidor americano está a morrer devido à deslocalização de empregos americanos e, portanto, rendimentos, e ao efeito riqueza dos colapsos do imobiliário e dos derivativos. Os EUA nada têm a oferecer à Europa. Na verdade, o declínio económico americano está a matar as exportações europeias fazendo subir o valor do euro.

A América perdeu no terreno moral há muito. A hipocrisia tornou-se a característica mais conhecida da América. Bush, o invasor do Afeganistão e do Iraque na base da mentira e do engano, troveja para a Rússia por vir em defesa das suas forças de manutenção da paz e dos cidadãos russos na Ossétia do Sul. Bush, que arrancou o Kosovo do coração da Sérvia e entregou-a aos muçulmanos, tomou uma posição firme contra outros movimentos separatistas, especialmente o ossetianos do Sul que pretendem ser parte da Federação Russa.

O neopilotado Regime Bush está furioso porque o urso russo não ficou intimidado com a agressão apoiada pelos EUA do seu estado fantoche, a Geórgia. Ao invés de aceitar a lei da hegemonia americana que o roteiro neocon exigia, a Rússia pôs o americanizado exército georgiano a fugir de medo.

Tendo fracassado com as armas, agora o Regime Bush desencadeia a retórica. A Casa Branca está a advertir a Rússia que se não se submeter à hegemonia americana isso poderia ter um "impacto significativo a longo prazo nas relações entre Washington e Moscovo".

Será que os idiotas que compõem o Regime Bush realmente não entendem que excepto um ataque nuclear de surpresa à Rússia não há nada que os EUA possam fazer a Moscovo?

O Regime Bush não possui qualquer divisa russa que possa afundar. Os russos possuem dólares.

O Regime Bush não possui títulos russos que possam afundar. Os russos possuem títulos dos EUA.

Os EUA não podem cortar quaisquer abastecimentos energéticos à Rússia. A Rússia pode cortar a energia dos aliados europeus da América.

O presidente Reagan negociou o fim da guerra fria com o presidente soviético, Gorbachev. Os neoconservadores, que Reagan despediu e afastou da sua administração, estavam furiosos. Os neocons esperavam vencer a guerra fria, portanto estabelecer a hegemonia americana.

O Establishment republicano reestabeleceu sua hegemonia sob Bush I, que fora perdida com Ronald Reagan. Com esta façanha, a inteligência foi afastada do Partido Republicano.

Os neocons projectaram o seu retorno com a Primeira Guerra do Golfo e sua propaganda, puras mentiras, de que tropas iraquianas cravaram baionetas em bebés em hospitais do Kuwait.

Os neocons fizeram um novo avanço com o presidente Clinton, a quem convenceram a bombardear a Sérvia a fim de permitir que movimentos separatistas se tornassem estados dependentes da América.

Com Bush II, os neocons tomaram o comando. A sua agenda, a hegemonia americana mundial, inclui a hegemonia israelense no Médio Oriente.

Até agora os esquemas destes ideólogos ignorantes e perigosos deram com os burros na água. O Iraque, antigamente nas mãos de sunitas seculares que eram uma barreira ao Irão, está, após a invasão e ocupação americana, nas mãos de religiosos xiitas aliados ao Irão.

No Afeganistão, o Taliban está a renascer, e há um grande exército NATO/EUA incapaz de controlar a situação.

Uma consequência da guerra afegã dos neocons foi a perda de poder do fantoche americano que preside o Paquistão, um país muçulmano armado com ogivas nucleares. O presidente fantoche agora enfrenta o impeachment, e os militares paquistaneses disseram aos americanos para parar de efectuar operações militares em território paquistanês.

Os fantoches americanos no Egipto e na Jordânia podem ser a próxima queda.

No Iraque, os xiitas, tendo completado a sua limpeza étnica dos sunitas das vizinhanças, declararam um cessar fogo a fim de contradizer a propaganda dos EUA de que a retirada americana levaria a um banho de sangue. Negociações sobre datas de retirada estão agora a caminho entre os americanos e o governo iraquiano, o qual já não se comporta como um fantoche.

No ano passado Hugo Chávez ridicularizou Bush perante as Nações Unidas. Putin da Rússia ridicularizou Bush como Camarada Lobo.

Em 12 de Agosto de 2008, o Pravda ridicularizou Bush, "Bush: Por que não te calas?".

Os americanos podem pensar que são uma super-potência diante da qual o mundo treme. Mas não os russos.

Aqueles americanos bastante estúpidos para pensar que o "super poder" da América defende os seus cidadãos do perigo precisam ler o desprezo total exibido pelo Pravda para com o presidente Bush:

"Presidente Bush,

Por que não te calas? Na tua declaração de segunda-feira respeitante às acções legítimas da Federação Russa na Geórgia deixaste de mencionar os crimes de guerra perpetrados pelas forças militares georgianas, apoiadas por conselheiros americanos, contra civis russos e ossetianos.

"Presidente Bush,

Por que não te calas? Teu fiel aliado, Mikhail Saakashvili, estava a anunciar um acordo de cessar fogo enquanto suas tropas, com os teus conselheiros, estavam a concentrar-se na fronteira com a Ossétia, a qual eles cruzaram sob o manto da noite e destruíram Tskhinvali, alvejando estruturas civis tal como as tuas forças fizeram no Iraque.

"Presidente Bush,

Por que não te calas? Teus aviões de transporte americanos deram uma boleia para casa a milhares de soldados georgianos do Iraque, directamente para a zona de combate.

"Presidente Bush,

Por que não te calas? Como podes tu explicar o facto de que entre os soldados georgianos que ontem fugiam do combate se podia ouvir claramente oficiais com pronúncia do inglês americano a darem ordens de "Voltem para cá" ("Get back inside") e como explicas o facto de que há informações de soldados americanos entre as baixas georgianas?

"Presidente Bush,

Por que não te calas? Será que realmente pensas que alguém dá alguma importância ao que quer que seja das tuas palavras após oito anos do teu regime e das tuas políticas criminosas e assassinas? Será que realmente acreditas que tens qualquer base moral e imaginas que haja realmente um único ser humano em qualquer lugar neste planeta que não levante o dedo médio cada vez que apareces num écran de TV?

Acreditas realmente que tens o direito de dar qualquer opinião ou conselho após Abu Ghraib? Após Guantanamo? Após o massacre de milhares de cidadãos iraquianos? Após a tortura por operacionais da CIA?

Acreditas realmente que tens qualquer direito de fazer declarações sobre qualquer assunto do direito internacional depois das tuas trombeteadas invenções contra o Iraque e a subsequente invasão criminosa?

"Presidente Bush,

Por que não te calas? Suponha que a Rússia por exemplo declare que a Geórgia tem armas de destruição em massa (ADM)? E que a Rússia saiba onde estão estas ADM, nomeadamente em Tíflis e Poti e no Norte, Sul, Leste e Oeste dali? E que isto deve ser verdadeiro porque há 'magnífica inteligência estrangeira tais como fotos por satélite de fábricas de leite em pó e de cereais para bebés que produzem armas químicas, as quais estão actualmente a serem 'transportadas em veículos pelo país'? Suponha que a Rússia declare por exemplo que 'Saakashvili empesteia o mundo' e 'já é tempo de mudar o regime'?

Impecável e simples, não é, Presidente Bush?

"Então, por que não te calas? Oh, e a propósito, envia mais alguns dos teus conselheiros militares para a Geórgia, eles estão a fazer um excelente trabalho. E todos eles parecem engraçados vistos à noite, todos verdes". [1]

Os EUA não são uma super potência. São uma farsa em bancarrota dirigida por imbecis que foram instalados [no governo] através de eleições roubadas amanhadas por Karl Rove [2] e pela Diebold [3] . São uma fonte de gargalhadas, que ignorantemente afronta e tenta intimidar um enorme país equipado com dezenas de milhares de armas nucleares.

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[1] Alusão aos binóculos de visão nocturna, em que as imagens aparecem verdes.
[2] Karl Rove: Ex chefe de equipe do presidente Bush, envolvido em escândalos. Demitiu-se em 2007.
[3] Diebold: fabricante de máquinas de votar electrónicas.

[*] Ex secretário assistente do Tesouro na administração Reagan. Foi editor associado da página editorial do Wall Street Journal e editor colaborador da National Review. É co-autor de The Tyranny of Good Intentions . Email: PaulCraigRoberts@yahoo.com

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/roberts08132008.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .