"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Comunicado à Comissão de Paz do Congresso


Havana, 28 de novembro de 2012

À
Comissão de Paz do Congresso da República.
Bogotá.

“A soberania do pové a única autoridade legítima das nações
Simón Bolívar     

Compatriotas:

Recebemos com imensa satisfação a vontade de levantarem as vozes do povo colombiano até o cenário de Havana, onde se desenvolvem as conversações pela paz da Colômbia, que sem as basses que vocês constroem, não teriam a trascendência que merecem.

A participação popular, sempre o manifestamos com veemência, é a protagonista principal de um processo como esse que decidimos empreender. Por isso, nossa valoração das Mesas Regionais de Paz, como uma das tantas iniciativas do povo da Colômbia para participar e decidir sobre a paz com justiça social para a nossa nação comunera, não pode ter senão as portas abertas do coração dos que verdadeiramente anseiam a reconciliação e o encerramento da guerra.

Independentemente de qualquer restrição, as FARC – Exército do Povo, concordam com o trabalho que vocês têm desenvolvido para fazer chegar as vozes da vontade popular às nossas mãos. Com certeza a construção de vocês será insumo fundamental para elaborar as conclusões que indiquem o caminho rumo à reconciliação que anseia o povo colombiano.

De nossa parte fica aberto o convite para que pessolamente apresentem ante nós o universo de aspirações que com tanta dedicação têm recolhido com propósitos altruistas.

Tem sido muito importante a pluralidade dos participantes em cada uma das Mesas Regionais de Paz realizadas sob sua condução e, os chamamos a participar, com o mesmo entusiasmo, no Fórum sobre Política de Desenvolvimento Agrário Integral (Enfoque Territorial), que acontecerá em Bogotá, com o apoio das Nações Unidas (Colômbia) e o Centro de Pensamento da Universidade Nacional. Não se trata de um Fórum deliberativo, mas um catalizador de novas iniciativas, de novos empreendimentos, que devem aportar à configuração de insumos para a edificação da paz.

Nossa interlocução estará sempre aberta a toda inquietude que nos apresentem.

Atenciosamente,
Delegação de paz das FARC-EP


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Voto contra Palestina na ONU será sinal de que só luta armada funciona, diz OLP


Quatro dias antes de a ONU votar o reconhecimento da Palestina como estado observador, representantes de mais sete países europeus indicam que votarão a favor, dizem fontes da OLP. Para dirigentes palestinos, “um voto contra será um claro sinal para o povo palestino de que só a luta armada trará conquistas, e que a luta diplomática está condenada ao fracasso desde o princípio”. O artigo é de Amira Hass.

Quatro dias antes que as Nações Unidas votem pelo reconhecimento da Palestina como Estado observador, a Organização para a Libertação da Palestina está esperando uma “grata surpresa” na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. De acordo com fontes da OLP, representantes de mais sete países indicaram que vão votar para admitir a Palestina como estado observador. Cinco outros países europeus já anunciaram que apoiarão a proposta e o ministro de Relações Exteriores, Laurent Fabius, já divulgou que a França votará a favor.

“Até umas duas semanas estávamos temendo porque só três países tinham dito que votariam a favor”, disse um quadro da OLP ao Haaretz. Fontes da OLP afirmam que a Inglaterra já desistiu de pedir aos palestinos para adiarem sua proposta. “O Estados Unidos, que estavam ocupado com as eleições, contrataram a Inglaterra para fazer pressão, o que não deu certo”, disse a fonte. A OLP disse que também estava feliz com o fato de que a Alemanha, que provavelmente iria se opor à moção, ao menos não tenha usado seu poder para dissuadir outros países a darem um voto a favor.

“Quem não votar a favor é um covarde e um imoral, esta é a nossa mensagem”, disse um outro membro do time diplomático palestino, que nos últimos dois meses tem travado o que chamou de “uma luta diplomática e política” nas capitais europeias, tentando convencê-los de que votar pelo status da Palestina como estado observador era dar um voto para a solução dos dois estados no marco das fronteiras de 1967.

Depois do cessar-fogo na Operação Pilar de Defesa, que os palestinos veem como uma vitória do Hamas, a equipe diplomática palestina disse que “um voto contra será um claro sinal para o povo palestino de que só a luta armada trará conquistas, e que a luta diplomática está condenada ao fracasso desde o princípio”.

O corpo diplomático palestino consiste de jovens diplomatas do Ministro das Relações Exteriores da Palestina, da Comissão Fateh para as Relações Internacionais, liderada por Nabil Saath, e por quadros do departamento de negociações da OLP. Para o dia da votação, nesta quinta-feira, os palestinos esperam convencer o máximo de países europeus que for possível, ao menos a se absterem.

A resolução é certo que passará, mas de importância particular para os palestinos são os votos dos países que não estão entre os 136 que já reconheceram a Palestina como estado desde 1988, especialmente os países europeus. A comunidade cristã palestina já tomou parte nos esforços diplomáticos, publicando um comunicado no qual registram a responsabilidade histórica da Europa em assegurar os direitos dos palestinos.

Tradução: Katarina Peixoto

Eduardo Galeano: Operação chumbo impune



Para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que essa carnificina de Gaza que, segundo seus autores, quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los.

Por Eduardo Galeano, em Página/12.

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma ratoeira sem saída desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições, em 2006. Algo parecido havia acontecido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e desde então viveram submissos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelita usurpou. E o desespero, à beira da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel; gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há anos, o direito à existência da Palestina.

Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel vai apagando-a do mapa.

Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa.

Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel engoliu outro pedaço da Palestina, e os almoços continuam. A devoração se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as decisões dos tribunais internacionais, o que burla as leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros.

Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não conseguiu bombardear impunemente o país basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico pôde devastar a Irlanda para liquidar o IRA. Será que a tragédia do Holocausto implica uma política de impunidade eterna? Ou essa luz verde provém da potência mais poderosa, que tem em Israel o mais incondicional de seus súditos?

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, a cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam-se milhares de mutilados, vítimas da tecnologia de desmembramento humano, que a indústria militar está testando com sucesso nesta operação de limpeza étnica.

E, como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense.

Gente perigosa, adverte outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a crer que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as 200 bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada comunidade internacional, existe?

É algo mais do que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos se colocam quando fazem teatro?

Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha novamente. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações em volume altissonantes, as posições ambíguas, prestam homenagem à impunidade sagrada.

Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E, como sempre, os países europeus estão esfregando as mãos.

A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma e outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça aos judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antissemitas. Eles estão pagando, com sangue, uma conta alheia.

 (Este artigo é dedicado a meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latino-americanas que Israel assessorou).

Noam Chomsky: como é tentar sobreviver na maior prisão a céu aberto do mundo






Impressões de uma visita a Gaza


Na Faixa de Gaza, a área de maior densidade populacional do planeta, um milhão e meio de pessoas estão constantemente sujeitas a eventuais e amiúde ferozes e arbitrárias punições, cujo propósito não é senão humilhar e rebaixar a população palestina e ulteriormente garantir tanto o esmagamento das esperanças de um futuro decente quanto a nulidade do vasto apoio internacional para um acordo diplomático que sancione o direito a essas esperanças. O artigo é de Noam Chomsky.

Noam Chomsky

Uma noite encarcerado é o bastante para que se conheça o sabor de estar sob total controle de uma força externa. E dificilmente demora mais de um dia em Gaza para que se comece a perceber como é tentar sobreviver na maior prisão a céu aberto do mundo. Na Faixa de Gaza, a área de maior densidade populacional do planeta, um milhão e meio de pessoas estão constantemente sujeitas a eventuais e amiúde ferozes e arbitrárias punições, cujo propósito não é senão humilhar e rebaixar a população palestina e ulteriormente garantir tanto o esmagamento das esperanças de um futuro decente quanto a nulidade do vasto apoio internacional para um acordo diplomático que sancione o direito a essas esperanças.
O comprometimento a isso por parte das lideranças políticas israelenses foi ilustrado expressivamente nos últimos dias, quando eles advertiram que ‘enlouqueceriam’ se os direitos palestinos fossem reconhecidos, mesmo que limitadamente pela ONU. Essa postura não é nova. A ameaça de ‘enlouquecer’ (‘nishtagea’) tem raízes profundas, lá nos governos trabalhistas dos anos 1950 e em seus respectivos “complexos de Sansão”: “se nos contrariarem, implodimos as paredes do Templo à nossa volta”. À época, essa ameaça era inútil; hoje não é mais.
A humilhação deliberada também não é nova, apesar de adquirir novas formas constantemente. Há trinta anos, líderes políticos, inclusive alguns dos mais notórios ‘falcões’ (sionistas mais conservadores), apresentaram ao primeiro-ministro um relato detalhado de como colonos regularmente violavam palestinos da forma mais vil e com total impunidade. A proeminente analista Yoram Peri notou com repugnância que a tarefa do exército não é a de defender o Estado, mas de “acabar com os direitos de pessoas inocentes somente porque são araboushim (uma ofensa racial) vivendo numa terra que Deus nos prometeu”.
O povo de Gaza foi selecionado para punições particularmente cruéis. É quase miraculoso que eles suportem tal existência. Raja Shehadeh descreveu como eles o fazem num eloquente livro de memórias, A Terceira Via, escrito há 30 anos. O texto relata seu trabalho como advogado empenhado na tarefa de tentar proteger direitos elementares num sistema legal feito para ser insuficiente, além de sua experiência como um resistente que vê sua casa tornar-se uma prisão por ocupantes violentos e nada pode fazer além de “aguentar”.
A situação piorou muito desde o texto de Shehadeh. Os acordos de Oslo, celebrados com muita cerimônia em 1993, determinaram que Gaza e a Cisjordânia eram uma só entidade territorial. Os EUA e Israel puseram sua estratégia de separá-los para funcionar já naquela época, de forma a barrar um acordo diplomático e punir os araboushim em ambos os territórios.
A punição aos moradores de Gaza tornou-se ainda mais severa em janeiro de 2006, quando eles cometeram um crime hediondo: votaram no “lado errado” na primeira eleição do mundo árabe, elegendo o Hamas. Demonstrando seu "amor" pela democracia, os EUA e Israel, apoiados pela tímida União Europeia, impuseram um sítio brutal e ataques militares ostensivos logo de cara. Os norte-americanos também imediatamente recorreram ao procedimento operacional padrão para momentos em que populações desobedientes elegem o governo errado: prepararam um golpe militar para restabelecer a ordem.
O povo de Gaza cometeu um crime ainda pior um ano depois. Barraram a tentativa de golpe, levando a uma forte escalada do sítio e das ofensivas militares. Isso culminou, no inverno de 2008-9, na Operação Chumbo Fundido, um dos mais covardes e perversos exercícios de poder militar na memória recente, na qual uma população civil sem defesa e enclausurada ficou sujeita à implacável ofensiva de um dos mais avançados sistemas militares do mundo, que conta com o apoio das armas e da diplomacia estadunidense. Um testemunho inesquecível do morticínio – infanticídio, nas palavras deles – é o livro Eyes in Gaza, de dois corajosos doutores noruegueses, Mads Gilbert e Erik Fosse, que à época trabalhavam no principal hospital de Gaza.
O Presidente Obama não foi capaz de dizer uma palavra além de reiterar sua sincera simpatia pelas crianças sob ataque – na cidade israelense de Sderot. A investida minuciosamente planejada foi levada a cabo justamente antes do empossamento de Barack, assim ele pôde dizer que era hora de vislumbrar o futuro, não o passado.
Obviamente, havia pretextos – sempre há. O de costume, apresentado assim que necessário, é a “segurança”: neste caso, os foguetes caseiros de Gaza. Como de costume, também, o pretexto carecia de credibilidade. Em 2008, estabeleceu-se uma trégua entre Israel e o Hamas. E o governo israelense reconheceu formalmente que o Hamas cumpriu a trégua. Nenhuma bomba do Hamas foi disparada até que Israel rompeu a trégua encoberto pelas eleições presidenciais norte-americanas de 4 de novembro de 2008, invadindo Gaza por motivos ridículos e matando meia-dúzia de membros do Hamas. O governo de Israel foi aconselhado por suas mais altas autoridades de inteligência de que a trégua poderia ser retomada por suavizar o bloqueio criminoso e acabar com as ofensivas militares. Mas o governo de Ehud Olmert, por reputação um “pombo” (termo para os sionistas “moderados”), preferiu rejeitar estas opções e lançar mão de sua enorme vantagem no quesito violência: a Operação Chumbo Fundido.
O modelo de bombardeio da Operação Chumbo Fundido foi analisado cuidadosamente pelo respeitado defensor dos direitos humanos Raji Sourani, natural de Gaza. Ele aponta que o bombardeio concentrou-se ao norte, mirando civis indefesos nas áreas de maior densidade populacional, sem qualquer desculpa do ponto de vista militar. O objetivo, ele sugere, talvez tenha sido mover a população intimidada para o sul, próximo à fronteira com o Egito. Mas, apesar da avalanche terrorista, os resistentes não se moveram.
Outro objetivo provavelmente era movê-los para lá da fronteira. Desde o início da colonização sionista dizia-se que os árabes não tinham motivo para estar na Palestina. Eles podiam continuar felizes noutro lugar e deveriam ser “transferidos” de maneira educada, sugeriam os pombos. Esta, que claramente não é uma preocupação menor do governo egípcio, talvez seja a razão pela qual o Egito não abre sua fronteira seja para civis, seja para os suprimentos dos quais o país necessita desesperadamente.
Sourani e outras fontes dignas de reconhecimento notam que a disciplina dos resistentes oculta um barril de pólvora que pode explodir inesperadamente, como aconteceu na primeira Intifada em Gaza em 1989, após anos de repressão indigna de qualquer interesse ou nota.
Só para mencionar um dos inumeráveis casos, pouco antes da eclosão da Intifada, uma menina palestina, Intissar al-Atar, foi assassinada no pátio da escola pelo morador de um assentamento judeu próximo. Ele era um dos milhares de colonos israelenses trazidos para Gaza, o que violava leis internacionais, sob proteção da enorme presença de um exército que assumiu o controle das terras e da escassa água da Faixa.
O assassino da estudante, Shimon Yifrah, foi preso. No entanto, foi solto rapidamente quando o tribunal determinou que “o delito não foi severo o suficiente” para justificar a detenção. O juiz comentou que Yifrah só pretendia assustar a garota por atirar na direção dela, não matá-la, assim, “o caso não é o de um criminoso que deve ser punido com um aprisionamento”. Yifrah recebeu uma pena suspensa de 7 meses, o que levou os outros colonos presentes à sala de tribunal a dançar e cantar. E o silêncio, pra variar, reinou. Afinal, a rotina é essa.
Assim que Yifrah foi libertado, a imprensa israelense reportou que uma patrulha armada atirou no pátio de um colégio para meninos de 6 a 12 anos num campo de refugiados da Cisjordânia, ferindo cinco crianças. O ataque só pretendia “assustá-los”. Não houve punições e o evento, para variar, não atraiu atenção. Era só mais um episódio do programa de “analfabetismo como punição”, disse a imprensa israelense, programa que incluía o fechamento de escolas, uso de bombas de gás, espancamento de estudantes a coronhadas, bloqueio de auxílio médico para vítimas; e para além das escolas predominou a mesma brutalidade, que até asseverou-se durante a Intifada, sob ordens do Ministro da Defesa Yitzhak Rabin, outro bem conceituado “pombo”.
Minha impressão inicial, depois de uma visita de alguns dias, foi de admiração ao povo palestino. Não só pela habilidade de levar a vida, mas também pela vitalidade da juventude, particularmente a universitária, com a qual eu passei um bom tempo numa conferência internacional. Mas também fui capaz de perceber que a pressão pode tornar-se grande demais. Relatos apontam que entre a população masculina jovem há uma frustração crescente e o reconhecimento de que, sob comando dos EUA e de Israel, o futuro não é promissor.
A Faixa de Gaza parece uma típica sociedade de terceiro mundo, com bolsões de riqueza rodeados por uma pobreza medonha. Não é, entretanto, um lugar “subdesenvolvido”. Na verdade, é “des-desenvolvido”, e de maneira muito sistemática, pegando emprestado um termo de Sara Ray, a maior especialista acadêmica em Gaza. Gaza poderia ter se tornado uma região mediterrânea próspera, com rica agricultura, uma promissora indústria pesqueira, praias maravilhosas e, como descobriu-se há dez anos, a perspectiva de uma extensa reserva de gás natural dentro dos limites de suas águas. Coincidentemente ou não, foi há uma década que Israel intensificou seu bloqueio naval, levando navios pesqueiros em direção à costa.
As perspectivas favoráveis foram frustradas em 1948, quando a Faixa tornou-se abrigo da enxurrada de refugiados palestinos que fugiram ou foram expulsos à força do que hoje é Israel.
Na verdade, eles continuaram sendo expulsos quatro anos depois, como informou no periódico Haaretz (25.12.2008) o estudioso Beni Tziper. Ele afirma que, já em 1953, “avaliava-se necessário varrer os árabes da região”.
Isso foi em 1953, quando a necessidade de militarização ainda não se insinuava. As conquistas israelenses de 1967 ajudaram a administrar os golpes posteriores. Vieram então os terríveis crimes já mencionados, que continuam até hoje.
É fácil notar os sinais de tais crimes, mesmo numa visita breve. Num hotel perto da costa pode-se ouvir as metralhadoras israelenses empurrando pescadores para fora das águas de Gaza, em direção à própria costa. Assim, eles são levados a pescar em águas que estão poluidíssimas porque norte-americanos e israelenses não permitem a reconstrução dos sistemas de esgoto e energia que eles próprios destruíram.
Os Acordos de Oslo planejavam duas usinas de dessalinização, imprescindíveis em função da aridez da região. Uma, instalação muito avançada, foi construída – em Israel. A segunda é em Khan Yunis, sul da Faixa de Gaza. O engenheiro encarregado de tentar obter água potável para a população explicou que essa usina foi projetada de forma tal que é incapaz de usar água do mar, ela depende de reservas subterrâneas, um sistema mais barato que, no entanto, degrada o aquífero já deficiente. Mesmo assim, a água é limitadíssima. A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), que cuida dos refugiados (mas não dos outros moradores de Gaza), recentemente lançou um relatório advertindo que os danos ao aquífero podem em breve tornar-se “irreversíveis”, e que, sem ações reparadoras, Gaza talvez deixe de ser um “local habitável” em 2020.
Israel permite a entrada de concreto para projetos da UNRWA, mas não para os palestinos comprometidos com as enormes necessidades de reconstrução. O equipamento pesado permanece ocioso a maior parte do tempo, já que Israel não permite materiais para reparo. Tudo isso é parte do programa descrito por Dov Weisglass, conselheiro do primeiro-ministro Ehud Olmert, depois de os palestinos terem deixado de seguir certas ordens na eleição de 2006: “a ideia”, disse ele, “é aplicar uma dieta aos palestinos, mas não deixá-los morrer de fome”. Não seria de bom tom.
O plano está sendo seguido conscienciosamente. Sara Roy nos dá vasta evidência disso em seus estudos. Recentemente, após anos de esforços, a Gisha, organização israelense pelos direitos humanos, conseguiu obter uma ordem judicial exigindo que o governo divulgue os planos da “dieta”. Jonathan Cook, jornalista em Israel, assim os resume: “oficiais de saúde forneceram cálculos do número mínimo de calorias que Gaza precisa para que os 1.5 milhão de habitantes não fiquem desnutridos. Esse número traduziu-se no número de caminhões de comida que Israel supostamente permite a cada dia, uma média de apenas 67 caminhões – bem menos do que a metade do requerido. E que se compare com isso os 400 caminhões diários de antes do bloqueio”. Segundo relatórios da ONU, mesmo essas estimativas são bastante generosas.
O resultado da imposição da dieta, observa o especialista em Oriente Médio Juan Cole, é que “cerca de 10% das crianças palestinas com menos de cinco anos tiveram seu crescimento atrofiado pela desnutrição. Além disso, a anemia hoje afeta dois terços das crianças mais jovens, 58,6% das crianças em idade escolar e mais de um terço das grávidas”. Os EUA e Israel querem ter certeza de que nada além da mera sobrevivência seja possível.
“O que devemos ter em mente”, diz Raji Sourani, “é que a ocupação e o encerramento absoluto é um ataque em andamento contra a dignidade humana do povo de Gaza em particular, e contra os palestinos em geral. É degradação, humilhação, isolamento e fragmentação sistemática do povo palestino”. Essa conclusão é confirmada por muitas outras fontes. Em um dos mais importantes periódicos médicos do mundo, The Lancet, um físico de Stanford, horrorizado com o que viu, descreveu a Faixa de Gaza como um tipo de “laboratório de observação da completa ausência de dignidade”, condição que tem efeitos “devastadores” sobre o bem-estar físico, mental e social da população. “A constante vigilância vinda do céu, punições coletivas por bloqueios e isolamentos, invasão de lares e de sistemas de comunicação, além de restrições aos que tentam viajar, casar ou trabalhar, tornam difícil viver de maneira digna em Gaza”.
Havia esperanças de que o novo governo egípcio de Mohammed Mursi, menos servil à Israel do que a ditadura de Mubarak, pudesse abrir a Travessia de Rafah, única saída de Gaza que não está sujeita a controle israelense direto. Até houve uma pequena abertura. A jornalista Leila el-Haddad escreve que a reabertura sob Mursi “é simplesmente um retorno ao status quo de anos anteriores: somente os palestinos portadores de identidades de Gaza aprovadas por Israel podem usar a Travessia”, o que exclui inclusive a família da jornalista.
Ademais, continua Leila, “Rafah não leva à Cisjordânia e não permite o transporte de bens, restrito às travessias controladas por Israel e sujeito às proibições a materiais de construção e exportação”. A restrição à Travessia de Rafah não muda o fato, também, de que “Gaza permanece sob apertado sítio marítimo e aéreo e fechada para qualquer capital cultural, econômico ou acadêmico que venha do resto dos territórios palestinos, o que viola as obrigações dos EUA e de Israel segundo o Acordo de Oslo˜.
Os efeitos disso são dolorosamente evidentes. No hospital de Khan Yunis, o diretor, que também é cirurgião-chefe, descreve enfurecido tanto a falta de remédios para aliviar o sofrimento dos pacientes quanto a dos equipamentos cirúrgicos mais simples.
Relatos pessoais dão vivacidade à corrente aversão à obscenidade da ocupação. Um exemplo é o testemunho de uma jovem que desesperou-se quando seu pai, que se orgulharia ao saber que sua filha foi a primeira mulher do campo de refugiados a receber um diploma avançado, “faleceu após seis meses de luta contra o câncer, aos 60 anos. A ocupação israelense negou que ele fosse aos hospitais de Israel para tratar-se. Eu tive de suspender meus estudos, meu trabalho e minha vida para ficar ao lado de sua cama. Todos nós, incluindo meu irmão e minha irmã, sentamo-nos ao lado de meu pai, assistindo seu sofrimento impotentes e sem esperança. Ele morreu durante o desumano bloqueio a Gaza no verão de 2006, com pouquíssimo acesso a serviços de saúde. Sentir-se impotente e sem esperança é o sentimento mais terrível que alguém pode ter. É um sentimento que mata o espírito e quebra o coração. Podemos lutar contra a ocupação, mas não podemos lutar contra o sentimento de impotência. Não se pode nem dissolver esse sentimento”.
Aversão à obscenidade combinada com culpa: nós podemos acabar com esse sofrimento e permitir aos resistentes a vida de paz e dignidade que eles merecem.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

COMUNICADO CONJUNTO Nº 5 - Mesa de Conversações


FORÇAS ARMADAS REVOLUNIONÁRIAS DA COLÔMBIA – EXÉRCITO DO POVO

A seguir, o texto do Acordo celebrado no dia de hoje entre as FARC-EP e o Governo da República da Colômbia para convocar o Forum denominado Política de Desenvolvimento Agrário (enfoque Territorial) para o qual se autoriza à Organização de Nações Unidas em Colômbia e o Centro de Pensamento e Seguimento ao Diálogo de Paz da Universidade Nacional para que convoquem, organizem sejam relatores no dito Encontro Nacional em Bogotá.


COMUNICADO CONJUNTO Nº 5

 Havana, 25 de novembro de 2012

As delegações do Governo da República de Colômbia e das Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia-Exército doPovo, informam que:

Em cumprimento do Acordo Geral para o encerramento do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura têm convencionado pôr em marcha o primeiro espaço de participação da Mesa de Conversações, mediante a convocatória do Forum denominado Política de Desenvolvimento Agrário Integral (Enfoque Territorial), na cidadde Bogotá nos dias 17, 18 e 19 de dezembro próximo, com o objetivo de que a Mesa receba insumos e propostas provenientes da participação cidadã de relevância para a discussão do primeiro ponto da Agenda.

A Mesa de Conversações tem pedido à Organização de Nações Unidas na Colômbia e à Universidade Nacional – Centro de Pensamento e Seguimento ao Diálogo de Paz, que convoquem, organizem e sejam relatores dos debates e das conclussões que entregarão à Mesa de Conversações em 8 de janeiro de 2013.
Nos próximos dias entrará em funcionamento a Página Web da Mesa de Conversações.




As elites vão fazer conosco o que fazem com os habitantes de Gaza


Elites Will Make Gazans of Us All 

Chris Hedges* 

Traduzido e comentado por Baby Siqueira Abrão

Comentário da tradutora:
 Quem me conhece sabe que penso exatamente como Hedges. Infelizmente, não tenho seu talento e meu artigo sobre esse assunto está só na forma de esboço.

É preciso ler este texto para entender por que os sionistas estão pressionando tanto o FSMPL (Fórum Social Mundial pela Palestina Livre)-- trata-se de uma pedra no sapato de quem, como eles, vêm mostrando as garras na América Latina e dominando nossos governos. 
É preciso ler este texto para saber por que insisto tanto num foco de luta mais amplo, contra o sionismo.

Vamos deixar como está ou vamos reagir?

Gaza é a janela de nossa futura distopia. A crescente divisão entre a elite do mundo e sua miserável massa de humanidade é mantida por meio de uma violência em espiral. Muitas regiões empobrecidas do planeta, que caíram no abismo econômico, começam a assemelhar-se a Gaza, onde 1,6 milhões de palestinos vivem no maior campo de concentração do planeta [1].

Essas zonas de sacrifício, cheias de pessoas deploravelmente pobres, presas em favelas miseráveis ou em aldeias cujas casas têm paredes de barro, cada vez mais vêm sendo sitiadas por cercas eletrônicas, monitoradas por câmeras de vigilância e drones, e rodeadas por guardas de fronteira ou unidades militares que atiram para matar.
Ilustração: Mr. Fish
Essas distopias de pesadelo se estendem da África subsaariana ao Paquistão e à China. Nesses locais, assassinatos propositais são executados, ataques militares brutais são feitos a pessoas deixadas sem defesa, sem exército, sem marinha e sem força aérea. Todas as tentativas de resistência, embora ineficazes, deparam com a carnificina que caracteriza a moderna indústria da guerra.

No novo cenário global, como nos territórios ocupados por Israel e nos projetos imperialistas dos EUA no Iraque, no Paquistão, na Somália, no Iêmen e no Afeganistão, massacres de milhares de inocentes indefesos são classificados como “guerra”.

A resistência é denominada provocação, terrorismo ou crime contra a humanidade. O respeito às leis, assim como as mais básicas liberdades civis e o direito à autodeterminação, é uma ficção usada como relações-públicas para aplacar a consciência de quem vive nas zonas de privilégio.

Prisioneiros são rotineiramente torturados ou “desaparecidos”. A falta de alimentos e de suprimentos médicos são uma tática de controle aceita. Mentiras permeiam as ondas eletromagnéticas (rádios e TVs). Grupos religiosos, raciais e étnicos são demonizados. Chovem mísseis sobre casebres de alvenaria, unidades mecanizadas atiram em aldeões desarmados, canhoneiras esmagam campos de refugiados com bombardeios pesados, e os mortos, incluindo crianças, enfileiram-se em corredores de hospitais aos quais faltam eletricidade e medicamentos.

O colapso iminente da economia internacional, os ataques ao clima e suas consequências, como secas, alagamentos, declínio rápido de safras e aumento no preço dos alimentos estão criando um universo onde o poder se divide entre elites restritas, que têm nas mãos sofisticados instrumentos de morte, e massas enraivecidas.

As crises vêm incentivando uma guerra de classes que sobrepujará tudo aquilo que Karl Marx poderia ter imaginado. Elas estão construindo um mundo onde a maioria terá fome e viverá com medo, enquanto poucos irão se empanturrar com delícias em fortins protegidos. E mais e mais pessoas serão sacrificadas para manter esse desequilíbrio.

Por ter poder para isso, Israel – assim como os Estados Unidos – desrespeitam
 [2] o direito internacional para manter na miséria uma população dominada. A presença continuada das forças de ocupação israelenses [nos Territórios Palestinos Ocupados- TPOs] desafia quase cem resoluções do Conselho de Segurança da ONU pedindo sua retirada [dos TPOs].

O bloqueio israelense a Gaza, estabelecido em junho de 2007, é uma forma brutal de punição coletiva que viola o artigo 33 da IV Convenção de Genebra, que determina as regras para a “proteção de civis em tempo de guerra”.

O bloqueio transformou Gaza num pedaço de inferno, num gueto administrado por Israel onde milhares morrem, incluindo os 1,4 mil [são quase 1,5 mil] civis assassinados na incursão israelense de 2008. Com 95% das fábricas fechadas, a indústria palestina virtualmente parou de funcionar. Os restantes 5% operam com 25% a 50% de sua capacidade. Até o setor pesqueiro está moribundo. Israel recusa-se a permitir que os pescadores ultrapassem três milhas náuticas da costa, e dentro desse limite os barcos pesqueiros com frequência são alvo dos tiros israelenses.

As patrulhas de fronteira israelenses confiscaram 35% das terras cultiváveis de Gaza para criar nelas zonas-tampões
 
[3].

O colapso da infraestrutura e o confisco israelense dos aquíferos fazem com que em muitos campos de refugiados, como Khan Yunis, não haja água corrente.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) estima que 80% de todos os habitantes de Gaza dependem, atualmente, de ajuda alimentar. E a alegação israelense de autodefesa esconde o fato de que Israel mantém uma ocupação ilegal e viola o direito internacional ao impor a punição coletiva aos palestinos.

Foi Israel que escolheu aumentar a violência quando, durante uma incursão a Gaza no início do mês, suas forças mataram um garoto de 13 anos. À medida que o mundo se arrebenta, este se torna o novo paradigma: senhores da guerra modernos se inundam com tecnologias e armas aterrorizantes, que matam povos inteiros.

Fizemos [os estadunidenses] o mesmo no Afeganistão, no Iraque, no Paquistão, no Iêmen e na Somália.

As forças do mercado e os mecanismos militares que protegem essas forças são a única ideologia que governa os Estados industriais e o relacionamento dos seres humanos com o mundo natural. É uma ideologia que resulta em milhões de mortos e outros milhões de desalojados no mundo moderno. E a espantosa/abominável álgebra dessa ideologia significa que essas forças irão, eventualmente, também desencadear-se sobre nós.

Aqueles que não são úteis para as forças do mercado são considerados descartáveis. Não têm direitos nem legitimidade. Sua existência, seja em Gaza, seja em cidades pós-industriais doentes como Camden, Nova Jersey, é considerada dejeto da eficiência e do progresso. Essas pessoas são vistas como refugo. E como refugo não têm voz nem liberdade, e podem ser extintas ou aprisionadas à vontade. Este é um mundo onde apenas o poder corporativo e o lucro são sagrados. É um mundo de barbárie.

Ao dispor do poder de trabalho humano, o sistema disporia, incidentalmente, da entidade “ser humano” sob os pontos de vista físico, psicológico e moral”, escreveu Karl Polanyi
 
[4] em The Great Transformation[A grande transformação].

E continua:
Privados da cobertura protetora de instituições culturais, os seres humanos pereceriam diante dos efeitos da exposição social; morreriam como vítimas de deslocamentos sociais agudos em consequência do vício, do crime e da fome.
A natureza seria reduzida a seus elementos, com vizinhanças e paisagens violadas, rios poluídos, segurança militar ameaçada, poder de produzir alimentos e matéria prima destruído.
Finalmente, a administração do mercado de compra de poder periodicamente liquidaria empresas comerciais porque a escassez e a fartura de dinheiro provariam ser tão desastrosas para os negócios como os alagamentos e as secas para as sociedades primitivas.
Sem dúvida, os mercados de trabalho, da terra e do dinheiro são essenciais para uma economia de mercado. Mas nenhuma sociedade pode aguentar os efeitos desse sistema de ficções brutas, nem mesmo pelo menor período, a menos que sua substância humana e natural, assim como sua organização de negócios, estejam protegidas contra os estragos desse moinho satânico.

Existem 47,1 milhões de estadunidenses que dependem de auxílio-alimentação para comer. As elites estão tramando acabar com esse auxílio, assim como com outros programas de “direitos” que evitam que os pobres se tornem miseráveis.

O ímpeto de trilhões de dólares do MedicareMedicaid e de outros programas sociais, dado o impasse político em Washington e o aumento do “abismo fiscal”, agora parece incerto.

Há 50 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, mas porque a linha da pobreza é tão baixa – US$ 22.350 para uma família de quatro pessoas – esse número nada significa. Acrescente-se a isso as dezenas de milhões de estadunidenses de uma categoria chamada “próxima à pobreza”, incluindo as famílias que tentam viver com menos de US$ 45 mil por ano e ter-se-ão ao menos 30% do país na pobreza.

Assim que essas pessoas perceberem que não haverá recuperação econômica, que seu padrão de vida continuará a cair, que foram enganadas, que a esperança no futuro é uma ilusão, elas se tornarão tão furiosas como os manifestantes da Grécia e da Espanha ou os militantes de Gaza ou do Afeganistão.

Os bancos e outras corporações financeiras entregaram trilhões em empréstimos sem juros do Federal Reserve, enquanto acumulavam US$ 5 trilhões, em grande parte pilhados do Tesouro dos EUA. Quanto mais essas disparidade e desigualdade mundiais forem perpetuadas, mais as massas se revoltarão e mais depressa replicaremos internamente o modelo israelense de controle doméstico – drones acima de nossas cabeças, todos os dissidentes criminalizados, equipes SWAT rompendo pelas portas, força mortal como modo aceitável de subjugação, alimentos usados como armas e vigilância constante.

Em Gaza e em outras partes doentes do globo vemos essa nova configuração de poder.

O que está acontecendo em Gaza, assim como o que ocorre com pessoas negras em comunidades marginais nos EUA, são o modelo. As técnicas de controle, sejam elas aplicadas por israelenses, sejam usadas por unidades de polícia militarizada nas guerras contra drogas de nossas cidades, sejam empregadas por forças militares especiais ou por mercenários no Paquistão, no Afeganistão ou no Iraque, são testadas primeiro e aperfeiçoadas nos fragilizados e nos despossuídos.

Nossa insensível indiferença ao apelo dos palestinos e das centenas de milhões de pobres empacotados em favelas urbanas na Ásia ou na África, assim como de nossa própria subclasse, significa que as injustiças cometidas contra eles serão cometidas contra nós. Ao falhar com eles, falhamos conosco.

À medida que o império dos EUA implode, as mais brutais formas de violência empregadas fora do império começam a migrar de volta para o país. Ao mesmo tempo, os sistemas internos de governança democrática calcificaram-se.

A autoridade centralizada está nas mãos de um setor executivo que serve, como escravo, aos interesses corporativos globais.
A imprensa e os poderes judiciário e legislativo tornaram-se desdentados e decorativos.

O espectro do terrorismo, como em Israel, é usado pelo Estado para desviar gigantescos gastos para a segurança do país, para a vigilância militar e interna.

A privacidade é abolida. A dissidência é traição. Os militares, com seu mantra de obediência cega e de força, caracterizam a ética sombria da cultura vasta. A beleza e a verdade são abolidas. A cultura é degradada em besteiras. A vida emocional e intelectual de cidadãs e cidadãos é devastada pelo espetáculo, pelo mau gosto e pela malícia, assim como por montões de analgésicos e narcóticos. A ambição cega, o desejo de poder e uma grotesca vaidade pessoal – exemplificadas por David Petraeus e sua ex-amante – são os motores do progresso.

O conceito de bem comum não faz mais parte do léxico do poder. Este, como a novelista J.M. Coetzee escreve, é a “flor suja da civilização”. É Roma sob Diocleciano. Somos nós. Os impérios, no final, decaem em regimes despóticos, assassinos e corruptos que enfim consomem a si mesmos. E nós, como Israel, agora tossimos sangue.
____________________
Chris Hedges*, cuja coluna é publicada às segundas-feiras em Truthdig, passou quase duas décadas como correspondente internacional na América Central, no Oriente Médio, na África e nos Bálcãs. Escreveu reportagens em mais de 50 países e trabalhou para The Christian Science MonitorNational Public RadioThe Dallas Morning News e The New York Times, para o qual foi correspondente internacional por 15 anos.

Notas de rodapé
[1]  Dada a vida que levam, em consequência do bloqueio e dos ataques genocidas de Israel, os habitantes de Gaza preferem usar a expressão “campo de extermínio”.
[2]  No original, flout, que também significa caçoar, zombar – termos mais apropriados ao que Israel e EUA fazem com o direito internacional.
[3] Zonas-tampões são terras palestinas que Israel confisca para manter, entre a linha de fronteira e Gaza (ou as vilas e cidades da Cisjordânia), uma área vazia, de acesso proibido aos palestinos, cercada e vigiada por soldados armados.
[4] Ver Karl Polanyi (em inglês). Embora o trecho citado neste texto seja interessante, é preciso manter um olhar crítico em Polanyi. Ele falhou exatamente onde o outro Karl, o Marx, acertou. Como filósofo, Marx foi fundo na ontologia para entender a formação da riqueza e do capital, ao passo que Polanyi não fez senão um sobrevoo nessas mesmas questões.

Fonte: PCB

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

CARTA A OBAMA


Havana, 23 de novembro de 2012

Senhor Presidente BARACK OBAMA
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA.

Respeitosa saudação.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Exército do Povo (FARC-EP), em nossa condição de organização política em confronto com o Estado colombiano, mas que hoje desenvolve um processo de diálogos em Havana (Cuba), visando resolver pelas vias incruentas o longo conflito político, social e armado que padece nossa pátria, saúda a realização recente dos comícios presidenciais no seu país, que definiram sua reeleição como primeiro mandatário dos Estados Unidos de América.

Valorizamos a capacidade do povo norteamericano em definir seus destinos pela vía do voto, e nesse plano desejamos os maiores êxitos a uma gestão que avance firme pela senda da paz mundial.

Dias antes de sua reeleição escutamos com atenção e expectativa suas palavras em função da paz na Colômbia, desejando o caminho da concórdia e a participação política das FARC-EP, coisa que agradecemos imensamente, em tanto o propósito mencionado tem sido nosso anseio constante.

Sempre tem sido difícil justificar o nosso direito de resistir às tiranias e ao mesmo tempo procurar a justiça e a democracia, pois como sabiamente expresa a Declaração de Indepêndencia dos Estados Unidos de 1776 “quando uma forma de governo vira destrutora desses princípios, o povo tem o direito de reformá-la, ou aboli-la, e instituir um novo governo que se sustente em ditos princípios e, organizar seus poderes na forma que a seu juizo oferecerá as maiores possibilidades de alcançar sua segurança e felicidade”

Nossa vocação de paz nos impele ao diálogo e a procurar que as razões de nosso alçamento se resolvam por as vias incruentas, para o qual esperamos seu concurso. Em tal sentido solicitamos ao Presidente dos Estados Unidos que, em uso de sua faculdade para indultar, permita que Simón Trinidad, delegado de paz das FARC-EP possa estar presente e participar na mesa de conversações de Havana. Imenso aporte à paz da Colômbia faria o governo dos Estados Unidos com esse gesto de humanidade.

Atenciosamente,

Delegação de Paz das Forças Armadas Revolucionárias da Colômba, Exército do Povo (FARC-EP).

“Pinzón Meninote da guerra e Santos da dupla moral”


Por Athemay Sterling Acosta

POPAYÁN / 20 DE NOVEMBRO DE 2012

Desde Popayán a esta hora da noite, após percorrer território Caucano,
me dei conta dos erros, por desinformação, ou o pior, querer sabotar o Inteligente
e Humanitário Cessar Fogo das FARC-EP, que os meios comerciais
de informação que os registre todos, têm atuado não como
comunicadores de ética real jornalísticos, mas sim como mansos ou
pagos apontadores das FFMM e deste Estado Corrupto, desinformador
e guerreirista.

Os campesinos de verdade em corpo e poncho que hoje sofreram
agressão das FFMM dirigidas pelo meninote Pinzón denunciaram ante
nós, Advogados Defensores dos Direitos que não havia ninguém das
FARC-EP por seus territórios, que só havia soldados disparando à
direita e à esquerda, e agora aqui em Popayán. Comparo a realidade
do nosso percorrido e as “notícias” desses meios comerciais de
informação, que não coincidem. E quando há um erro da linguagem,
há erro do pensamento e, portanto, um erro do conhecimento. E isso
sempre ocorreu na Colômbia.

Os Meios Oligárquicos Militares mentem, pois seus militares
escondem a incapacidade, seus crimes e as verdades no campo
militar e político.

Podemos dar fé em nosso giro que o Cessar ao Fogo sim, é real e,
por sua vez, legítimo por ter apoio da população e que as FFMM
estavam provocando e mentindo. Quando se mente no militar, é que
se está perdendo politicamente. E isso ocorre com o Governo e suas
maltratadas FFMM!

O pior é a infantilidade provocadora e desnecessária do mauricinho
Pinzón que, em aeronaves militares, vulnerou o Espaço Aéreo
de outros Países das Antilhas, propiciando vulnerar o Direito
Internacional Público e outra guerra desnecessária propiciada por
Colômbia à obsessão de Pinzón e suas FFMM em plena Decadência.

Porém, Santos não fica atrás de Pinzón, quando equivocadamente
deixa de ser Estadista para ser um vulgar Vulnerador do Direito
Internacional Público e cria falsas ilusões de fazer crer que pode
apelar à Justa Sentença Inapelável de Haia no desligamento do
Conflito colombo-nicaraguense, que Santos nem sabe o que passou.
Se Santos estudou, como Eu, em prestigiosas Universidades
Estrangeiras, Santos perdeu o estudo, foi mau aluno como seu
professor AUV, ambos vulneradores do Direito.

Por isso, lhes Denunciei Penalmente junto a Pinzón, pois os três
domesticados pombos dos EEUU são a Santíssima Trindade do
narco paramilitarismo e da agressão sistemática e permanente de
todos os Governos Colombianos à Oposição Política Colombiana e
ao Movimento Popular, que lutamos por um Estado de Novo Tipo e
seremos Senador Popular da República pelos Direitos e pela Paz com
Justiça Social, pois eu nem votei nem me sinto Representado em
Santos e seu Regime Político e Criminoso.

Hoje, por exemplo, quando estive em Santander de Quilichao, depois
de estar em várias regiões do Cauca, nos estranhou que a população
deste lindo Município tenha como Prefeito um Suposto Criminoso
que, bêbado nato, matou uma senhora grávida e, para supostamente
ficar livre, enredou como falsa homicida a sua escolta. Esta
corrupção desse Prefeito se sana pelo bem cidadão RENUNCIANDO e
apresentar-se às Autoridades Judiciais.

E se Santos tampouco pode, que RENUNCIE também e nós, o
movimento popular, assumimos desde já o Poder em Colômbia.

fonte: anncol.eu


Jornal Brasil de Fato

As elites bancam seus veículos de comunicação!

A classe trabalhadora precisa bancar sua imprensa!

Ajude a manter o Brasil de Fato!

Caro(a) amigo(a), leitor(a)

O nosso Brasil de Fato vai completar dez anos!

Embora nem pareça, mas já estamos chegando a uma década. Pois é, em 25 de janeiro de 2003, durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (RS), era lançada a edição zero do Brasil de Fato. Num belíssimo ato político-cultural, no ginásio Araújo Viana, cerca de 5 mil pessoas – militantes sociais, estudantes, artistas, intelectuais, profissionais da comunicação etc. – presenciaram a criação deste veículo – um semanário político, de circulação nacional, para contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país.
Assim nascia o Brasil de Fato, resultado das aspirações de milhares de lutadores de movimentos populares, intelectuais de esquerda, sindicatos, jornalistas e artistas que se uniram para formar uma ampla rede nacional e internacional de colaboradores.
Mas, como é do conhecimento de todos, custa muito dinheiro fazer um jornal. A burguesia mantém seus veículos com muito dinheiro das grandes empresas, inclusive, com recursos públicos, através de verbas publicitárias que deveriam ser distribuídas democraticamente com os meios alternativos. Mas não é. Então, imagine caro leitor(a), como para nós é muito mais difícil fazer uma imprensa alternativa, popular, independente do capital financeiro e das grandes transnacionais. Ou seja, torna-se quase impossível manter um jornal independente, sem a ingerência do poder econômico do grande capital.
Durante esses quase dez anos, fomos mantidos pela contribuição de militantes, de movimentos sociais, assinaturas e pelas parcas publicidades institucionais de empresas públicas e governos progressistas e de esquerda. E não temos dúvidas: uma imprensa popular, alternativa, independente, só sobrevive com independência se for mantida pelos movimentos populares, sindicais, estudantis. Enfim, pela classe trabalhadora, suas organizações e sua militância.
Portanto, agora que estamos próximos de completar dez anos – o que para nós é sem dúvida uma conquista histórica da classe trabalhadora – recorremos novamente aos amigos, companheiros, militantes e às organizações da classe trabalhadora.
Hoje o Brasil de Fato precisa de sua ajuda. Participe da manutenção deste importante instrumento de luta. Ajude-nos a manter esse projeto e seguirmos firmes rumo aos 10 anos, em janeiro de 2013. Assim manteremos nossa batalha contra os grandes meios da burguesia.

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Atenciosamente,

João Pedro Stedile – pelos movimentos sociais que articulam o Jornal Brasil de fato, e seus veiculos.

Nilton Viana – Editor-chefe
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