"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 28 de junho de 2012

DECLARAÇÃO FINAL CÚPULA DOS POVOS NA RIO+20 POR JUSTIÇA SOCIAL E AMBIENTAL EM DEFESA DOS BENS COMUNS, CONTRA A MERCANTILIZAÇÃO DA VIDA

Movimentos sociais e populares, sindicatos, povos e organizações da sociedade civil de todo o mundo presentes na Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, vivenciaram nos acampamentos, nas mobilizações massivas, nos debates, a construção das convergências e alternativas, conscientes de que somos sujeitos de uma outra relação entre humanos e humanas e entre a humanidade e a natureza, assumindo o desafio urgente de frear a nova fase de recomposição do capitalismo e de construir, através de nossas lutas, novos paradigmas de sociedade.


A Cúpula dos Povos é o momento simbólico de um novo ciclo na trajetória de lutas globais que produz novas convergências entre movimentos de mulheres, indígenas, negros, juventudes, agricultores/as familiares e camponeses, trabalhadore/as, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, lutadores pelo direito a cidade, e religiões de todo o mundo. As assembléias, mobilizações e a grande Marcha dos Povos foram os momentos de expressão máxima destas convergências.

As instituições financeiras multilaterais, as coalizões a serviço do sistema financeiro, como o G8/G20, a captura corporativa da ONU e a maioria dos governos demonstraram irresponsabilidade com o futuro da humanidade e do planeta e promoveram os interesses das corporações na conferência oficial. Em constraste a isso, a vitalidade e a força das mobilizações e dos debates na Cúpula dos Povos fortaleceram a nossa convicção de que só o povo organizado e mobilizado pode libertar o mundo do controle das corporações e do capital financeiro.

Há vinte anos o Fórum Global, também realizado no Aterro do Flamengo, denunciou os riscos que a humanidade e a natureza corriam com a privatização e o neoliberalismo. Hoje afirmamos que, além de confirmar nossa análise, ocorreram retrocessos significativos em relação aos direitos humanos já reconhecidos. A Rio+20 repete o falido roteiro de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global. À medida que essa crise se aprofunda, mais as corporações avançam contra os direitos dos povos, a democracia e a natureza, sequestrando os bens comuns da humanidade para salvar o sistema economico-financeiro.

As múltiplas vozes e forças que convergem em torno da Cúpula dos Povos denunciam a verdadeira causa estrutural da crise global: o sistema capitalista associado ao patriarcado, ao racismo e à homofobia.

As corporações transnacionais continuam cometendo seus crimes com a sistemática violação dos direitos dos povos e da natureza com total impunidade. Da mesma forma, avançam seus interesses através da militarização, da criminalização dos modos de vida dos povos e dos movimentos sociais promovendo a desterritorialização no campo e na cidade.

Avança sobre os territórios e os ombros dos trabalhadores/as do sul e do norte. Existe uma dívida ambiental histórica que afeta majoritariamente os povos do sul do mundo que deve ser assumida pelos países altamente industrializados que causaram a atual crise do planeta.

O capitalismo também leva à perda do controle social, democrático e comunitario sobre os recursos naturais e serviços estratégicos, que continuam sendo privatizados, convertendo direitos em mercadorias e limitando o acesso dos povos aos bens e serviços necessários à sobrevivencia.

A atual fase financeira do capitalismo se expressa através da chamada economia verde e de velhos e novos mecanismos, tais como o aprofundamento do endividamento público-privado, o super-estímulo ao consumo, a apropriação e concentração das novas tecnologias, os mercados de carbono e biodiversidade, a grilagem e estrangeirização de terras e as parcerias público-privadas, entre outros.

As alternativas estão em nossos povos, nossa história, nossos costumes, conhecimentos, práticas e sistemas produtivos, que devemos manter, revalorizar e ganhar escala como projeto contra-hegemônico e transformador.

A defesa dos espaços públicos nas cidades, com gestão democrática e participação popular, a economía cooperativa e solidária, a soberania alimentar, um novo paradigma de produção, distribuição e consumo, a mudança da matriz energética,  são exemplos de alternativas reais frente ao atual sistema agro-urbano-industrial.

A defesa dos bens comuns passa pela garantia de uma série de direitos humanos e da natureza, pela solidariedade e respeito às cosmovisões e crenças dos diferentes povos, como, por exemplo, a defesa do “Bem Viver” como forma de existir em harmonia com a natureza, o que pressupõe uma transição justa a ser construída com os trabalhadores/as e povos. A construção da transição justa supõe a liberdade de organização e o direito a contratação coletiva e políticas públicas que garantam formas de empregos decentes.

Reafirmamos a urgência da distribuição de riqueza e da renda, do combate ao racismo e ao etnocídio, da garantia do direito a terra e território, do direito à cidade, ao meio ambiente e à água, à educação, a cultura, a liberdade de expressão e democratização dos meios de comunicação, e à saúde sexual e reprodutiva das mulheres.

Fortalecimento de diversas economias locais e dos direitos territoriais garantem a construção comunitária de economias mais vibrantes. Estas economias locais proporcionam meios de vida sustentáveis locais, a solidariedade comunitária, componentes vitais da resiliência dos ecossistemas. A maior riqueza é a diversidade da natureza e sua diversidade cultural associada e as que estão intimamente relacionadas.

Os povos querem determinar para que e para quem se destinam os bens comuns e energéticos, além de assumir o controle popular e democrático de sua produção. Um novo modelo enérgico está baseado em energias renováveis descentralizadas e que garanta energia para a população e não para corporações.

A transformação social exige convergências de ações, articulações e agendas comuns a partir das resistências e proposições necessárias que estamos disputando em todos os cantos do planeta. A Cúpula dos Povos na Rio+20 nos encoraja para seguir em frente nas nossas lutas.

Rio de Janeiro, 15 a 22 de junho de 2012.
Comitê Facilitador da Sociedade Civil na Rio+20 - Cúpula dos Povos

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Intelectuais e artistas defendem asilo político para Assange

Noam Chomsky, Michael Moore, Tariq Ali, Oliver Stone e Danny Glover, entre outros, entregaram segunda-feira (26) carta à embaixada do Equador em Londres, pedindo que seja concedido asilo político a Julian Assange, fundador do Wikileaks. Os signatários da carta defendem que se trata de um caso claro de ataque contra a liberdade de imprensa e contra o direito do público de conhecer verdades importantes sobre a política externa, além de uma séria ameaça à saúde e ao bem-estar de Assange (no caso de uma extradição para os Estados Unidos).


Nova York - Um amplo leque de intelectuais, artistas, cineastas e escritores de várias partes do mundo solicitaram ao governo do Equador que conceda asilo a Julian Assange, Fundador do Wikileaks, que se encontra refugiado na embaixada desse país em Londres.

Noam Chomsky, Michael Moore, Tariq Ali, Oliver Stone, o ator Danny Glover, o comediante Bill Maher, Daniel Ellsberg, ex-analista militar famoso por divulgar os Papeis do Pentágono durante a guerra do Vietnã, e Denis J. Halliday, ex-secretário geral assistente da Organização das Nações Unidas, entre dezenas de outras personalides, assinaram a carta de apoio ao pedido de Assange de asilo político, a qual foi entregue segunda-feira (26) à embaixada do Equador em Londres.

Afirmaram que por se tratar de um caso claro de ataque contra a liberdade de imprensa e contra o direito do público de conhecer verdades importantes sobre a política externa, e porque a ameaça à saúde e ao bem-estar é séria, pedimos que seja concedido asilo político ao senhor Assange.

O fundador do Wikileaks ingressou na sede diplomática equatoriana a semana passada para evitar sua extradição para a Suécia. Os signatários da carta entregue ontem concordam com o agora fugitivo (rompeu as condições de sua detenção domiciliar ao entrar na sede diplomática) que há razões para temer sua extradição, pois há uma alta probabilidade de que, uma vez na Suécia, seja encarcerado e provavelmente extraditado para os Estados Unidos.

O governo de Barack Obama realizou um processo conhecido como grande júri para preparar uma possível acusação legal criminal contra Assange, ainda que o procedimento seja secreto até emitir sua conclusão. Além disso, meios de comunicação relataram que os departamentos de Defesa e de Justiça investigaram se Assange violou leis penas com a divulgação de documentos oficiais.

Os signatários sustentam que esta e outras evidências mostram a hostilidade contra Wikileaks e seu criador por parte do governo estadunidense, e que se ele fosse processado conforme a Lei de Espionagem nos Estados Unidos poderia enfrentar a pena de morte. Além disso, acusam o tratamento desumano ao qual foi submetido Bradley Manning, o solado acusado de ser a fonte dos documentos vazados para Wikileaks.

“Reivindicamos que seja outorgado asilo político ao senhor Assange, porque o ‘delito’ que ele cometeu foi o de praticar o jornalismo”, afirmam na carta. Assange revelou importantes crimes contra a humanidade cometidos pelo governo dos Estados Unidos. Os telegramas diplomáticos revelaram as atividades de oficiais estadunidenses atuando para minar a democracia e os direitos humanos ao redor do mundo, acrescentam.

A carta, entregue por Robert Naiman, diretor da organização estadunidense Just Foreign Policy, autora da iniciativa, foi acompanhada de outra petição assinada por mais de 4 mil estadunidenses que solicitam que o governo do Equador conceda asilo a Assange.

A íntegra da carta pode ser vista em justforeignpolicy.org/node/1257.
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Com apoio de Carta Maior

domingo, 24 de junho de 2012

Declaração Pública Em torno da paz e da solução política ao conflito interno

Juan Manuel Santos, numa nova mostra de desespero, expressou ante o país no passado 11 de junho, na Escola Militar José María Córdoba, que se as guerrilhas estávamos falando de paz era graças à contundência das Forças Armadas. E acrescentou outra manifestação que diz muito de seu compromisso com a reconciliação e a paz democrática: só se produzirá a possibilidade de diálogos quando se tenha a segurança de que estes se realizarão “sob nossas condições e nosso domínio”.

Tão disparatada interpretação da realidade põe de presente a concepção que inspira o discurso oficial. A via pacífica, democrática, dialogada, para solucionar o gravíssimo conflito que aflige a Colômbia tem sido a bandeira das FARC desde seu nascimento. Levantou-a o movimento agrário de Marquetalia ao conhecer-se em 1962 a projetada agressão oficial. A guerra, o esmagamento violento da organização popular e a oposição política têm sido o histórico mecanismo de dominação da oligarquia colombiana e seu amo imperialista.
A intolerância do regime se corresponde com os interesses hegemônicos do grande capital transnacional, expressados para nosso continente desde o chamado Consenso de Washington. Livre comércio, privatizações, flexibilização laboral, abertura total à inversão estrangeira direta, isto é, a mais pura ortodoxia neoliberal no campo da economia, requer para sua imposição a absoluta dominação ideológica e cultural no campo da política.
O extraordinário esforço de Santos por entregar em lotes o território nacional às corporações mineiras e agroindustriais, seu desprezo pelas condições de vida das comunidades e das condições laborais da mão de obra colombiana, seus reiterados privilégios ao grande capital em detrimento do meio ambiente e da produção nacional foram convertidos em dogmas sagrados. A ninguém se lhe permite colocá-los em dúvida ou discuti-los. Se trata nem mais nem menos que dos direitos do capital, muito mais importantes que os direitos da sociedade, os direitos humanos ou qualquer outra categoria de direitos.

Se até hoje, apesar dos sucessivos espaços conquistados pela luta popular para falar de paz nos últimos 30 anos de história, foi impossível chegar a um acordo de solução dialogada, foi precisamente pela negação das classes dominantes a admitir a mínima variante em seus projetos de dominação econômica e política. Isso volta a pôr-se de presente com o atual governo. O que o regime pretende à custa das FARC e dos direitos da imensa maioria de compatriotas é relegitimar ante o concerto mundial seu modelo terrorista de Estado. Apagar de uma canetada a horrível e longa noite de crimes e horror mediante a qual o grande capital e os terratenentes, representados nos poderes públicos, acumularam fortunas e propriedades para fomentar seus gigantescos projetos de enriquecimento. Por isso se escuda hipocritamente numa suposta intervenção da justiça internacional contra seus levantados.
Não são os guerrilheiros colombianos que devem responder pelas práticas atrozes e genocidas que o Estado colombiano, por mão de suas forças armadas oficiais e paramilitares, sob a orientação das agências de inteligência norte-americanas e do Pentágono, se encarregou de praticar de modo sistemático contra sua população durante muitas décadas.
Não vai ser à custa de acusações infamantes e gratuitas contra a luta popular que os gorilas e monstros que têm ensanguentado e semeado de tumbas a Colômbia vão salvar sua responsabilidade, como de modo cínico se consagra no chamado marco legal para a paz. A desfaçatez do Congresso que o expede se reforça com a vergonhosa reforma judicial recém aprovada nas instâncias do governo.
A retórica de Santos põe cada dia mais a nu seu verdadeiro conteúdo. O único acordo de paz que espera é um contrato de adesão, no qual uma guerrilha arrependida e chorosa se rende de joelhos ante o grande capital, agradecida de ter sido perdoada como o filho pródigo. Um ícone econômico, militar, ideológico, político e cultural para selar materialmente sua dominação de classe ante a sociedade inteira, o triunfo hegemônico do capitalismo selvagem.
Tão elitista e soberba é sua atitude oligárquica, que pretende centrar o debate em se o Comandante das FARC pode ser ou não congressista, como se se tratasse de que a luta do povo colombiano e a insurgência apontassem apenas para uma simples reinserção ao seu apodrecido regime político.
Agora, se tenta pôr o senhor Uribe a desempenhar o papel que em seu tempo jogara o senador Álvaro Gómez Hurtado, como uma espécie de símbolo da ultra direita ao qual havia que manejar com cuidado e contentamento, assim não se estivesse de acordo com ele em tudo.
O Partido Liberal compartilhava o poder com o filho de Laureano, tal e como faz Santos com seu apregoado rival hoje. O povo colombiano aprende da história, a oligarquia parece que não, e insiste em repeti-la estupidamente.
Mais claro não podemos falar. A solução política ao conflito colombiano é parte inseparável de nosso acervo ideológico e político, não é produto de nenhuma pressão militar. As FARC-EP somos povo colombiano em armas, seguimos combatendo e seguiremos combatendo até que desapareçam as causas que deram origem e seguem alimentando o conflito colombiano. Nossa vontade de paz se insere nesse critério elementar. O regime político, o manejo econômico e social do país requerem profundas reformas que devem nascer do debate aberto e democrático com todas as forças do país. Não entendemos por que, sim, Santos deseja tanto a paz se tem tanto temor a isso.
Agora fala de drones e outras loucuras, como se o que a Colômbia precisasse fosse de mais mortes e esbanjamentos. O que a nação colombiana está reclamando aos gritos em ruas e praças é que se abram as portas do diálogo e da reconciliação, que se lhe dê a real oportunidade e o direito a falar, a expor, a mobilizar-se e decidir acerca do futuro do país.
 
SECRETARIADO DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
Montanhas de Colômbia, 22 de junio de 2012
 

domingo, 17 de junho de 2012

Desmontar a mentira para combater a alienação e dinamizar a luta

Por Miguel Urbano Rodrigues

 
A compreensão pelos povos da estratégia exterminista do imperialismo que os ameaça é extremamente dificultada pela ignorância sobre o funcionamento do sistema de poder dos Estados Unidos e pela imagem falsa que prevalece a respeito da sociedade norte-americana não apenas na Europa mas em muitos países subdesenvolvidos.
Esquema padrão de escalada, agora aplicado na Síria.Repetir evidências passou a ser uma necessidade no combate à alienação das grandes maiorias, confundidas e manipuladas pelos responsáveis da crise de civilização que atinge a humanidade.

Talvez nunca antes a insistência em iluminar o óbvio oculto tenha sido tão importante e urgente porque a falsificação da História e a manipulação das massas empurra a humanidade para o abismo.

Essa tarefa assume um carácter revolucionário porque as forças que controlam o capitalismo utilizam as engrenagens do sistema mediático para criar uma realidade virtual que actua como arma decisiva para a formação de uma consciência social passiva, para a robotização do homem.

A compreensão pelos povos da estratégia exterminista do imperialismo que os ameaça é extremamente dificultada pela ignorância sobre o funcionamento do sistema de poder dos Estados Unidos e a imagem falsa que prevalece a respeito da sociedade norte-americana não apenas na Europa mas em muitos países subdesenvolvidos.

UM MITO ROMÂNTICO 

Não obstante serem inocultáveis os crimes cometidos pelos EUA nas últimas décadas em guerras de agressão contra diferentes povos, uma grande parte da humanidade continua a ver na pátria de Jefferson e Lincoln uma terra de liberdade e progresso. O mito romântico dos pioneiros do Mayflower é difundido por uma propaganda perversa que insiste em apresentar o povo e o governo dos EUA como vocacionados para defender e liderar a humanidade. Os males do capitalismo seriam circunstanciais e a grande república, presidida agora por um humanista, estaria prestes a superar a crise que a partir dela alastrou pelo mundo.

Não basta afirmar que estamos perante uma perigosa mentira. Desmontar o mito estado-unidense é, repito, uma tarefa prioritária na luta contra a alienação das maiorias. O político negro cuja eleição desencadeou uma vaga de esperança entre oprimidos da Terra engavetou os compromissos assumidos com o povo e ao longo do seu mandato deu continuidade a uma estratégia de dominação mundial, ampliando-a perigosamente.

Diferentemente de Bush júnior, Obama soube construir uma máscara de estadista sereno e progressista. A sua reeleição, não tenhamos dúvidas, será facilitada porque o candidato republicano que o enfrentará, Mitt Romney, é um político ultra reaccionário, sem carisma.

AS GUERRAS IMPERIAIS 

No Iraque a violência tornou-se endémica, milhares de mercenários substituíram as tropas de combate e um governo fantoche actua como instrumento das transnacionais do petróleo.

No Afeganistão a guerra está perdida. Após onze anos de ocupação, as forças da NATO e as dos EUA somente controlam Cabul e algumas capitais de província. Todas as ofensivas contra a Resistência (que vai muito alem dos Talibãs) fracassaram e nos quartéis e nos Ministérios os recrutas matam com frequência os instrutores estrangeiros, americanos e europeus.

A retirada antecipada das tropas francesas do país colocou um problema inesperado ao Pentágono. Em Washington poucos acreditam que o presidente cumpra o acordo sobre a evacuação do exército de ocupação antes do final de 2014.

Em declarações recentes, Obama, já em campanha eleitoral, retomou o tema da defesa dos "interesses dos EUA no mundo". Essa política implica a existência de centenas de bases militares em mais de uma dezena de países. Na Colômbia, por exemplo, foram instaladas mais oito.

Numa inflexão estratégica, o presidente informou que está em curso uma deslocação para Oriente do poder militar norte-americano. O secretário da Defesa esclareceu que dois terços da US Navy serão deslocados para o Pacifico. Ficou transparente que o objectivo inconfessado é cercar por terra e mar a Rússia e a China.

Vladimir Putin interpretou correctamente a mensagem. Consciente de que na sua escalada agressiva os EUA teriam de reforçar a sua hegemonia no Médio Oriente, abatendo o Irão, antes de definirem aqueles países como "inimigos" potenciais, o presidente russo num discurso firme advertiu Washington de que está a ultrapassar a linha vermelha.

Contrariamente ao que afirmam alguns analistas que cultivam o sensacionalismo, a iminência de uma terceira guerra mundial é, porém, uma improbabilidade. Mas isso graças à firmeza da Rússia. Putin não esqueceu Munique. Usou palavras duras, recordando a agressão ao povo líbio, para lembrar a Obama que já foi longe demais e que não tolerará uma intervenção militar USA--União Europeia na Síria, qualquer que seja o pretexto invocado.

ASSASSINAR À DISTÂNCIA 

O belicismo de Obama é, alias, tão ostensivo que até um jornal do establishment, o New York Times (que o tem apoiado), sentiu a necessidade de revelar que a lista de "terroristas" e dirigentes políticos a aniquilar pelos aviões sem piloto (os famosos drone) é submetida à aprovação do chefe da Casa Branca. Matar a longa distância, numa guerra electrónica de novo tipo, tornou-se uma rotina graças aos progressos da ciência. Leon Panetta, o actual secretário da Defesa, não somente a aprova como a elogia, assim como o general Petraeus, o director da CIA.

O prémio Nobel Obama aprova previamente os alvos humanos seleccionados cujas biografias lhe são enviadas . A esse nível se situa hoje o seu conceito de ética.

Os homens do presidente chegaram à conclusão de que essa modalidade de assassínio não tem suscitado grandes protestos internacionais e evita a perda de pilotos.

O principal inconveniente é a imprecisão desses ataques. No Paquistão, dezenas de aldeões foram mortos em bombardeamentos dos drones nas áreas tribais da fronteira afegã. O erro (assim lhe chamam no Pentágono) gerou uma crise nas relações com o Paquistão quando 26 soldados daquele país foram abatidos por um avião assassino. O governo de Islamabad proibiu a partir de então a travessia da fronteira pelos caminhões que carregam alimentos e armas para as tropas dos EUA e da NATO.

Não obstante os "inevitáveis danos colaterais", os generais do Pentágono definem como revolucionária a guerra barata na qual basta carregar num botão, por vezes a centenas de quilómetros de distância, para atingir alvos humanos seleccionados em gabinetes nos EUA e aprovados pelo Presidente.

A esmagadora maioria dos estado-unidenses tem um conhecimento muito superficial do que se passa nas guerras asiáticas do seu país. Mas no Exército alastra um difuso mal-estar. No ano corrente registou-se um record de suicídios de militares.

O FANTASMA DA AL QAEDA 

São qualificados de especialmente satisfatórios os bombardeamentos frequentes a tribos "terroristas" do Iémen e da Somália. Se a CIA informa que uma tribo perdida nas montanhas da outrora chamada Arábia Feliz é acusada de ligações suspeitas com a Al Qaeda, envia-se um drone da base de Djibuti para liquidar o seu chefe. Obama dá o seu aval à operação.

New York Times, no editorial citado, reconhece com pesar que o actual poder decisório presidencial de assassinar "terroristas" em regiões remotas "não tem precedentes na história presidencial". Monstruoso, mas real: Obama comporta-se como um ciber-guerreiro.

Nessa estratégia criminosa, a invocação da Al Qaeda como a grande ameaça à segurança dos EUA é permanente, obsessiva.

Somente em Março pp. o Google registou 183 milhões de entradas em busca de informações sobre a organização.

Os EUA planearam e executaram a morte de Ben Laden numa operação obscura de forças especiais, violadora da soberania do Paquistão. Mataram já ou afirmam ter assassinado os principais dirigentes da Al Qaeda. Mas o fantasma da Al Qaeda sobreviveu, e é esse dragão, invisível, medonho, que motiva os bombardeamentos dos drones, a guerra electrónica assassina.

O mito da Al Qaeda, o inimigo número 1, tornou-se um pilar da estratégia "anti-terrorismo" dos EUA.

Quantas pessoas, mundo afora, sabem que Ben Laden foi um aliado íntimo dos EUA durante a guerra contra a Revolução Afegã? Poucas.

E poucas são também as que têm conhecimento das relações estreitas que a CIA e a inteligência militar dos EUA mantiveram e mantêm com organizações fundamentalistas islâmicas.

A necessidade de aniquilar a Al Qaeda foi o argumento básico que Bush filho brandiu para justificar o Patriot Act e a invasão e ocupação do Afeganistão, numa cruzada "antiterrorista" em defesa "da liberdade, da democracia, da paz…"

Obama, usando um discurso diferente, muito mais hábil, aprofundou a estratégia de poder dos EUA.

Ao assinar a lei da Autorização da Segurança Nacional, o presidente dos EUA tripudiou sobre a Constituição, transformando o país num Estado militarizado que exibe uma fachada democrática. Internamente subsistem algumas liberdades e direitos, mas a politica externa é a de um estado terrorista.

RÚSSIA E CHINA AMEAÇADAS 

A engrenagem imperial está em movimento. Primeiro foi o Iraque, depois o Afeganistão, depois a Líbia. Agora o alvo é a Síria.

A máquina mediática trituradora das consciências repete o método utilizado na campanha que precedeu o ataque armado à Líbia. A CIA e o Pentágono prepararam e financiaram grupos de mercenários que instalaram o caos nas grandes cidades sírias. O presidente Bachar al Asad foi demonizado e, inventada uma realidade virtual – uma Síria imaginária – uma campanha massacrante tenta persuadir centenas de milhões de pessoas de que intervir militarmente naquele pais seria "uma intervenção humanitária" exigida por aquilo a que chamam "a comunidade internacional". Mas o projecto de repetir a tragédia líbia está a esbarrar com a oposição, até hoje inultrapassável, da Rússia.

Insisto: compreender o funcionamento da monstruosa engrenagem montada pelo imperialismo para anestesiar a consciência social e criar um tipo de homem robotizado é uma exigência no combate dos povos em defesa da liberdade, da própria continuidade da vida.

Não exagero ao definir como tarefa revolucionária essa luta.
Vila Nova de Gaia, 13/Junho/2012
O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=2516 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

CIA e MOSSAD unem grupos sionistas, anticastristas, neonazistas e de extrema direita para realizarem manifestações na Rio+20 contra Ahmednejad e líderes progressistas da América Latina.

Por ZÓBIA SKARTINNI e KATHARINA GARCIA.

 INTERPRESS: RJ\SP\ BR Em 14\06\12-p\ZS e JC: Reunião realizada um mês atrás em São Paulo, entre membros da comunidade judaica do Brasil, Argentina e EUA, além de agentes do MOSSAD (Serviço Secreto de Israel) e da CIA (organismo de Inteligência estadunidense) decidiram organizar protestos contra a presença do Presidente Ahmednejad, do Irã, durante a realização do evento, além de apoiar outros grupos que queiram organizar protestos contra a presença de lideres cubanos, venezuelanos, bolivianos, equatorianos, nicaraguenses e outros de esquerda aliados da causa palestina.

Este mesmo grupo, segundo foi descoberto, estaria encarregado, além de organizar protestos contra o líder iraniano, incentivar, através das redes sociais e com o apoio da mídia televisiva, jornais e revistas de grande circulação nacional, manifestações de protestos contra a presença também de líderes como Raul Castro, Rafael Correa, Cristina Fernandez Kristner, Evo Morales, Daniel Ortega e principalmente Hugo Chávez, se este decidir comparecer a Rio+20.

O principal grupo brasileiro que deve aparecer como coordenador dessas atividades de protestos contra Ahmednejad é o Centro Wiesenthal, organização judaica ortodoxa de direita e ainda os braços religioso e cultural de Israel no Brasil, no caso, a Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e a Federação Israelita do Estado de São Paulo, além de grupos de extrema direita com fortes ligações com os serviços secreto de Israel e dos Estados Unidos.

Segundo informações obtidas por organizações populares, através de militantes que sem saber as razões das reuniões realizadas foram convidados, compareceram e tomaram conhecimento de alguns detalhes, depois passando ás suas direções, e alguns órgãos de segurança responsáveis pela Rio+20, já chegou ao conhecimento das autoridades que a CIA e o MOSSAD estariam por trás dessas ações, e que as mesmas estariam sendo financiadas pela Agência Central de Inteligência (EUA) e provavelmente a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília e pelo MOSSAD, órgão da inteligência israelense, que é quem coordenará as ações através de seus agentes infiltrados e que ocupam cargos de direção nas entidades e ONGs que são criadas para este fim desenvolverem tais ações.

Uma das organizações recém-criada e que age através de agentes da CIA e do MOSSAD especificamente para estes casos e se infiltrarem nos movimentos sociais brasileiros simpáticos a causa palestina principalmente, é uma tal Frente pela Liberdade do Irã, composta apenas por sete pessoas, dentre eles dois agentes do MOSSAD, dois a serviço da CIA e três das entidades judaicas, sendo uma do Brasil, um dos EUA e outra representando as entidades do restante da América Latina.

Na reunião que decidiu pela “criação” da FLI, Frente de Libertação do Irã, ficou decidido que uma manifestação deve acontecer, domingo próximo, 17 de junho, as 11h, na Praça dos Arcos (final da Av. Angélica), Ato Público contra a presença de Mahmoud Ahmadinejad na Rio + 20.

Com um orçamento de quase hum milhão de reais, supostamente liberados pela CIA para esse tipo de manifestação, os grupos de extrema direita tentam envolver organizações e grupos populares assim como membros dos movimentos negro, dos homossexuais, professores universitários, advogados, mulheres, além das comunidades Bahai e evangélica, militantes de direitos humanos e ambientalistas dentre outras, buscando dá certa legitimidade popular, sem que tais grupos sociais venham a saber, que estão agindo a serviço da CIA e do MOSSAD.

Da mesma forma setores da direita, presentes a Rio +20 e ligados a grupos empresariais de direita, numa aliança “estratégica” com o movimento sionista brasileiro promoverá outra passeata na Praia de Ipanema, no posto 8 ( em frente à Rua Rainha Elizabeth), em direção ao Jardim de Alá, também dia 17, domingo.

Vários grupos de extrema-direita no mundo, financiados pelos Estados Unidos através do Departamento de Estado, do Pentágono e da CIA, ou as vezes diretamente pela Casa Branca, como o Grupo de Miami, que financiam o terrorismo contra Cuba, e outros com estreitas ligações com a oposição venezuelana do candidato oposicionista a Hugo Chávez, também estão se articulando na Rio+20 para agirem contra os setores progressista que devem ser hegemônicos na Cúpula dos Povos e dominarem os debates políticos.

Os recursos liberados pelos Estados Unidos para financiar tais operações será para cobrir despesas com transporte, hospedagem, alimentação e até diárias para pessoas contratadas exclusivamente para os referidos atos. Suspeita-se que até uma empresa de modelo e manequins, com homens e mulheres “ de bôa aparência e bonitos” foi contratada para fazer número e segurar faixas e cartazes nas manifestações.

Fonte: MIDIA SEM FRONTEIRAS – INTERPRESS – AGNOTMUNDO IMPDIPLOMACIA – ZS\KG – RJ\\SP-13062012.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Não mintam mais sobre o conflito interno


Por: Joaquín Gómez, Integrante do Secretariado Nacional das FARC-EP

Tem sido prática histórica dos diferentes governos colombianos tergiversar, mentir e silenciar sobre os fatos relacionados com a ordem pública, quando os resultados não são favoráveis a suas forças. Assim sempre foi, convencidos, como seguem hoje, de que o desejo, a impotência e a mentira são armas suficientes para destruir o adversário e ganhar guerras injustas, esquecendo que a verdade, acima de tudo, é objetiva, obsessivamente teimosa e fiel amiga do tempo, a que, graças a ele, termina sempre reinando.
Entre muitos, me referirei somente a 5 fatos:
Durante os sangrentos combates de El Billar, em El Caguán, as cifras oficiais sobre o número de fardados mortos foram criminosamente adulteradas, divulgando um número menor de vítimas, buscando minimizar o duro golpe recebido, quando estes fatos nas guerras prolongadas favorecem de maneira alternativa a cada uma das partes enfrentadas. Esta inveterada prática no Estado colombiano e seus diferentes governos foi a causa de que 10 dos cadáveres dos desventurados compatriotas mortos nos combates de El Billar ficaram por fora do registro oficial do número de vítimas. As FARC, através da Cruz Vermelha, enviamos a razão ao Exército, expressando nossa disposição a propiciar as condições necessárias para o levantamento destes cadáveres, dignos de sagrada sepultura. A resposta que o Exército deu foi que isso era uma cilada das FARC, que todo esse terreno estava minado. Os corpos destes infortunados militares terminaram sendo festim das aves de rapina. Nos surge uma pergunta: será que a Instituição militar comunicou aos familiares a morte de seus parentes? Duvidamos. Será que figuram na lista dos militares agora reclamados pelo Exército às FARC? É muito possível.
A 26 de fevereiro de 2011, à 01:50h, unidades da coluna Teófilo Forero do Bloco Sul das FARC assaltaram uma patrulha de contraguerrilha do Exército em Riecito, jurisdição do município de Puerto Rico [Caquetá], com um saldo de 10 militares mortos e a recuperação de uma metralhadora. A ação durou 7 minutos. Absoluto silêncio por parte do Ministério de Defesa! Será que comunicaram a sorte destes infortunados militares a seus familiares?
Em 18 de outubro de 2011, unidades do Bloco Sul assaltaram uma patrulha do Exército adscrita à Brigada 27, que cuidava do poço petroleiro “Yurilla”, na vereda Nueva Arabia, jurisdição do município de Puerto Caicedo [Putumayo], com o resultado de 8 militares mortos e 5 feridos. Recuperadas todas as armas de apoio: metralhadora, morteiro de 60 mm e um lança granadas MGL de 40 milímetros. Próprios, sem novidade! Hermetismo total de parte do Ministério de Defesa! Comunicariam aos familiares destas vítimas os fatos e circunstâncias do falecimento destes desgraçados militares?
No dia 26 de fevereiro do ano em curso, em combate sustentado por unidades do Bloco Sul com uma patrulha da Força de Tarefa Omega, adscrita à Brigada 27, na vereda Aguas Negras do município de Puerto Guzmán [Putumayo], houve 14 militares mortos e 3 feridos. Recuperado abundante material de guerra, entre eles, uma metralhadora calibre 2,23. Próprios, dois guerrilheiros mortos. O comunicado oficial do Ministério de Defesa ao país foi de 4 militares mortos e 5 guerrilheiros. E [com] os outros militares mortos, que passou?
Nos recentes fatos de 28 de abril do presente ano, em combate que se prolongou por 7 horas entre unidades da Frente 15 e uma patrulha mista conformada por Exército e Polícia, na vereda “La Libertad” da inspeção da Unión Peneya, jurisdição do município de La Montañita [Caquetá], houve 17 mortos e 12 feridos entre soldados e policiais, mais um prisioneiro de guerra de nacionalidade francesa, que vinha há mais de 11 anos atuando como jornalista e soldado.
Desde o mesmo campo de combate, um militar comprometido nos enfrentamentos comunicou ao general Navas, Comandante das Forças Militares, que as vítimas oficiais eram 15, e este assim o declarou publicamente. Uma repórter caquetenha, questionando a versão do comunicado oficial de Pinzón afirmando que os mortos eram só 4, dizia: “Aqui mesmo onde eu estou, há 6 cadáveres, e outros tantos vão ser transladados”. No entanto, ante todo o país e contra todas as evidências, se impôs a “verdade oficial”: o número de mortos que lhe convinha aceitar ao governo Santos era somente 4 [um sargento, dois soldados profissionais e um policial], e assim foi como subordinaram a realidade às conveniências subjetivas do alto governo. Puro Macondo! No dia seguinte, toda a mídia e todos os repórteres em uníssono repetiam que os mortos haviam sido somente 4. Pobre Navas! Pinzón o fez ficar ante o país como um sapato!
É a forma como continuam galopando sobre o tempo e falsificando a história com mentiras completas, meias verdades, êxitos efêmeros e fracassos ocultos; semeando triunfalismos sobre terras estéreis, para colher surpresas indesejáveis e decepções previstas. Tecendo fios de teia de vitórias com multicoloridos fios de mentiras.
Não é que nós, com estas alusões, estejamos reclamando litros de sangue. Tampouco estamos assumindo o papel de urubus, nem nos vangloriando pelas ações em referência, porque sabemos por experiência própria que a característica mais marcante de Belona é a infidelidade. Ademais de ser conscientes que o povo humilde é o que põe todas as vítimas deste conflito, chamem-se soldados ou guerrilheiros, nesta esquisita guerra onde não haverá nem vencidos nem vencedoras, senão uma só perdedora, a Colômbia.
Unicamente estamos exigindo que ao país se diga toda a verdade, por crua e descarnada que seja, sobre a magnitude que alcançou o conflito interno que estamos vivendo; que não se manipulem as cifras, que não se silenciem os fracassos, que não se tergiversem os fatos, nem se chore de alegria pela morte do adversário; que não se adote uma atitude maniqueísta como o fazem muitos, quando festejam a morte de dezenas de guerrilheiros pelos bombardeios da Força Aérea, porém, quando os mortos são da força pública, os qualificativos dessas mesmas pessoas contras as FARC não se fazem esperar: terroristas, assassinos, dementes, covardes... enfim; catalogam um fato de bom ou mau, não pelo fato em si, mas sim pelo bando que o tenha executado. Que desgraça, os vesgos sempre opinam enviesados! Como não pensar que tanto os guerrilheiros como os soldados são filhos da Colômbia; igualmente, têm pais, mães, irmãs, filhos e sonhos; a morte de cada um deles em algo diminui a estatura humana de todos nós.
Enquanto se siga mentindo ao país sobre o conflito, a paz seguirá sendo esquiva. Que se diga toda a verdade! Que não se minta ao povo! E veremos como, bem breve, nos rumaremos para a solução política do conflito social e armado que, por quase 5 décadas, fragiliza a Colômbia.
Fazemos um respeitoso chamado aos jornalistas honestos, de sã e honrada consciência e julgamentos sensatos, “fabricantes e indutores de opiniões”, a que reflitam e analisem a responsabilidade que lhes assiste neste conflito; a que investiguem bem os fatos e não tomem como única fonte as “verdades oficiais reveladas”; porque, na maioria das vezes, são oficiais, porém não verdades; não sigam, alguns de maneira consciente, fazendo o jogo de todos aqueles que têm feito da guerra um negócio lucrativo; servindo-lhes de instrumentos para aprofundar o conflito, distorcendo os fatos e cultivando ódios, em troca de aplausos e vultosos salários e prebendas de parte dos usufrutuários da injustiça social.
A Juan Manuel Santos, se verdadeiramente quer passar à história como um Presidente benfeitor do povo e não da oligárquica classe a que pertence, que renuncie à demagogia e ao populismo e que não siga usurpando a chave da paz, porque esta chave pertence não ao que manda os filhos do povo morrerem na guerra, mas sim ao que pare os filhos que morrem na guerra, que é o povo. Que não esqueça as palavras de Abraham Lincoln: “Se pode enganar a todo o povo parte do tempo, se pode enganar parte do povo todo o tempo, porém o que não se pode é enganar a todo o povo por todo o tempo”. 

A desinformação permanente e as guerras anunciadas


Por Vicky Peláez


Um planeta vazio de fé, amor, de todo o puro, sagrado, generoso, verdadeiro e desinteressado – é simplesmente uma casca do mundo dispersa entre as estrelas do universo depois de afastar-se de seu destino mais nobre desenhado por seu Criador (Maria Corelli, “Barrabas – Um Sueño de la Tragedia del Mundo”, 1893).
 
 
O século XXI entrará na história como um período de crucificação da verdade e da exaltação da mentira e da guerra como símbolos do desenvolvimento da humanidade e da paz.
Vemos diariamente nas telas da TV, nas páginas dos jornais, no Twitter, no Facebook, no cinema e há que ter um determinado nível de conhecimento para discernir a verdade entre a avalanche de informação que persegue cada ser humano em todas as partes do planeta. Parece que a humanidade vive simultaneamente em dois universos paralelos: um real e outro criado pelos meios de comunicação globalizada de acordo com as orientações que recebem dos ricos e poderosos do nosso globo terrestre.
Os direitos humanos, segundo o filósofo italiano Constanzo Preve, representa “uma ideologia de variável geometria porque os que decidem o que é humano e o que não é são oligarcas econômicos dando ordens a seus executivos: professores universitários e os jornalistas”, isso são os que se encarregam do conteúdo da informação que a sociedade deve saber para poder manipulá-la. Já em 1928, o pai das relações públicas modernas, o austríaco judeu de nascimento e norte-americano nacionalizado Edward L. Barnays escreveu um ensaio “La Propaganda” [A Propaganda], que não só se converteu no livro de cabeceira do ministro de propaganda nazista Joseph Goebbels como também de todos os assessores dos presidentes norte-americanos e europeus.
Na página 4 de seu livro, dizia Bernays que “a manipulação consciente e inteligente dos hábitos e opiniões das massas é um importante elemento na sociedade democrática. Os que manipulam este mecanismo oculto da sociedade constituem um governo invisível que exerce verdadeiro poder real no país. Estas pessoas que nos governam e das quais nunca ouvimos falar, moldam nossas mentes, definem nossos gostos e determinam nossas ideias. Assim está organizada cada sociedade democrática”.
Com todos estes esclarecimentos, é fácil entender porque os governos democráticos da União Europeia e dos EEUU nunca condenaram nem declararam que foi um massacre a morte de 170 civis na província de Helmand, Afeganistão, depois do bombardeio das forças aliadas, nem tampouco foi um crime o assassinato de 60 crianças na aldeia de Azizabad em 2008 ou a morte de 100 civis no dia 5 de maio de 2009 em Bala Baluk pelas bombas da OTAN. Para os meios de comunicação globalizada foi um simples “erro” militar e os falecidos eram “vítimas colaterais”. No entanto, a recente matança em Hula, Síria, até agora não esclarecida e condenada pelo mesmo governo deste país, de 108 civis e, deles, 49 crianças e 34 mulheres foi denunciada em seguida pela EU e pelos EEUU como um “massacre” perpetrado a propósito pelo governo sírio sob o mando de Bashar al-Assad. E, para agravar a acusação, a cadeia britânica BBC News usou uma foto tomada no Iraque em 2003 apresentando-a como um testemunho do massacre na localidade de Hula.
A imagem foi posteriormente retirada pela BBC, porém a indignação que produziu na opinião pública mundial contra o regime de Bashar al-Assad já produziu seu efeito na mente dos espectadores e facilitou a condenação dos países membros da OTAN e sua predisposição à intervenção militar na Síria. A nenhum dos escrevedores globalizados se lhes ocorreu recordar-se da famosa declaração do general aposentado norte-americano Wesley Clark em maio de 2011, quando revelou que, já nos fins dos anos 1990, os Estados Unidos tinham planejado invadir sete países: Iraque, Líbia, Somália, Líbano, Síria e Irã. Síria, para o poder globalizado, não somente representa a porta de entrada ao Irã, mas também à Ásia. Por algo, dizia a imperatriz russa Catarina a Grande que, a partir da Síria, terá em suas mãos “a chave da Casa Rússia”.
Ainda há algo mais. Segundo o Washington Institute for Near East Policy, a bacia do Mediterrâneo detém grandes depósitos de gás, três quartos dos quais pertencem à Síria. Dali se esclarece o panorama e a declaração de Barack Obama durante a última reunião em Davos do Grupo 20 de que “Bashar al-Assad deve deixar o poder”. Para acelerar este processo, o Ocidente está armando a guerrilha através de Qatar, Arábia Saudita e Turquia, segundo a publicação israelense Debkafile, com os mísseis antitanques 9K 115 – 2 Mets – M e Kornet E e com explosivos IED para instalar nas rodovias. Também já estão operando ali as forças especiais da OTAN, cuja palavra de ordem oficial é “De Opresso Liber” [Liberar aos Oprimidos], 13 dos quais pertencentes às forças francesas foram capturados pelo exército sírio em março de 2012.
Tudo isto está silenciado pela imprensa, assim como a última ideia da OTAN de mandar 5.000 soldados armados sob a bandeira da ONU com o pretexto de proteger os depósitos de armas químicas e bacteriológicas das mãos da al-Qaeda, que já está operando na Síria. A DEBKAfile cita em sua publicação de 21 de maio que, supostamente, Barack Obama comentou durante uma de suas conversações com Vladimir Putin que se um barril de antrax chega aos terroristas que operam no Cáucaso, milhões de russos poderiam morrer.
Assim opera a propaganda, criando insegurança e medo ao terror, tanto a nível individual como coletivo para poder lograr seus propósitos. Por enquanto, tanto a China como a Rússia rechaçam unanimemente qualquer possibilidade de intervenção militar na Síria, esperando Barack Obama de convencer a Vladimir Putin de suavizar a posição russa a respeito de Bashar al-Assad durante seu próximo encontro em junho no México, na Cúpula do G20. Ninguém sabe o que pode passar, porém tanto a Rússia como a China sabem que qualquer ação bélica da OTAN tratando de reproduzir a variante líbia na Síria afetaria dramaticamente os interesses nacionais destes países e os fragilizaria em termos geoestratégicos.
O mundo inteiro, incentivado pela desinformação programada, está observando e, em especial, na América Latina o desenvolvimento dos acontecimentos na Síria porque sabe que cada avanço da OTAN, que representa o poder globalizado, no Oriente Médio pelo domínio de recursos energéticos, faz aproximar mais a possibilidade das futuras intervenções na América Latina, cujas riquezas naturais superam com sobras as do Oriente Médio. Por isso, nunca cessa a campanha propagandística contra os países da ALBA. Há anos, a obsessão da imprensa globalizada foi a morte de Fidel Castro. Agora, deixaram-no em paz relativa, transladando sua atenção sinistra para Hugo Chávez e a Venezuela.
Tal é o grau de cálculo dos manipuladores da informação, que até conseguem convencer a jornalistas sérios e com mais de 50 anos de experiência, como o norte-americano Dan Rather, que já agourou que o atual presidente da Venezuela morrerá nas vésperas das próximas eleições presidenciais.
A máquina propagandística nunca para e o único antídoto para a desinformação é o conhecimento.

Por algo, disse Sócrates: “só há um bem: o conhecimento. Só há um mal: a ignorância”.



quinta-feira, 14 de junho de 2012

A terceira crise do capitalismo


Frei Betto

O sistema é um gato de sete fôlegos. No século passado, enfrentou duas grandes crises. A primeira, no início do século XX, nos primórdios do imperialismo, ao passar do laissez-faire (liberalismo econômico) à concentração do capital por parte dos monopólios. A guerra econômica por conquista de mercados ensejou a bélica: a Primeira Guerra Mundial. Resultou numa "saída" à esquerda: a Revolução Russa de 1917.

Em 1929, nova crise, a Grande Depressão. Da noite para o dia milhares de pessoas perderam seus empregos, a Bolsa de Nova York quebrou, a recessão se estendeu por longo período, com reflexos em todo o mundo. Desta vez a "saída" veio pela direita: o nazismo. E, em consequência, a Segunda Guerra Mundial.

E agora, José?

Essa terceira crise difere das anteriores. E surpreende em alguns aspectos: os países que antes compunham a periferia do sistema (Brasil, China, Índia, Indonésia), por enquanto estão melhor que os metropolitanos. Neste ano, o crescimento dos países latino-americanos deve superar o dos EUA e da Europa. Deste lado do mundo são melhores as condições para o crescimento da economia: salários em elevação, desemprego em queda, crédito farto e redução das taxas de juros.

Nos países ricos se acentuam o déficit fiscal, o desemprego (24,3 milhões de desempregados na União Europeia), o endividamento dos Estados. E, na Europa, parece que a história –para quem já viu este filme na América Latina– está sendo rebobinada: o FMI passa a administrar as finanças dos países, intervém na Grécia e na Itália e, em breve, em Portugal, e a Alemanha consegue, como credora, o que Hitler tentou pelas armas – impor aos países da zona do euro as regras do jogo.

Até agora não há saída para esta terceira crise. Todas as medidas tomadas pelos EUA são paliativas e a Europa não vê luz no fim do túnel. E tudo pode se agravar com a já anunciada desaceleração do crescimento de China e consequente redução de suas importações. Para a economia brasileira será drástico.

O comércio mundial já despencou 20%. Há progressiva desindustrialização da economia, que já afeta o Brasil. O que sustenta, por enquanto, o lucro das empresas é que elas operam, hoje, tanto na produção quanto na especulação. E, via bancos, promovem a financeirização do consumo. Haja crédito! Até que a bolha estoure e a inadimplência se propague como peste.

A "saída" dessa terceira crise será pela esquerda ou pela direita? Temo que a humanidade esteja sob dois graves riscos. O primeiro, já é óbvio: as mudanças climáticas. Produzidas inclusive pela perda do valor de uso dos alimentos, agora sujeitos ao valor de compra estabelecido pelo mercado financeiro.

Há uma crescente reprimarização das economias dos chamados emergentes. Países, como o Brasil, regridem no tempo e voltam a depender das exportações de commodities (produtos agrícolas, petróleo e minério de ferro, cujos preços são determinados pelas transnacionais e pelo mercado financeiro).

Neste esquema global, diante do poder das gigantescas corporações transnacionais, que controlam das sementes transgênicas aos venenos agrícolas, o latifúndio brasileiro passa a ser o elo mais fraco.

O segundo risco é a guerra nuclear. As duas crises anteriores tiveram nas grandes guerras suas válvulas de escape. Diante do desemprego massivo, nada como a indústria bélica para empregar trabalhadores desocupados. Hoje, milhares de artefatos nucleares estão estocados mundo afora. E há inclusive minibombas nucleares, com precisão para destruições localizadas, como em Hiroshima e Nagasaki.

É hora de rejeitar a antecipação do apocalipse e reagir. Buscar uma saída ao sistema capitalista, intrinsecamente perverso, a ponto de destinar trilhões para salvar o mercado financeiro e dar as costas aos bilhões de serem humanos que padecem entre a pobreza e a miséria.

Resta, pois, organizar a esperança e criar, a partir de ampla mobilização, alternativas viáveis que conduzam a humanidade, como se reza na celebração eucarística, "a repartir os bens da Terra e os frutos do trabalho humano".

(Reproduzido da Adital) – Jornal Granma em 25/5/2012

terça-feira, 12 de junho de 2012

A partir de setembro se instalarão os Conselhos Patrióticos Internacionais


Por Eliécer Jiménez Julio
 
Balanço da excursão pelo dirigente Carlos García Marulanda
 
Como de positiva e altamente exitosa foi qualificada a primeira excursão de socialização que realizou durante um mês pela Europa o dirigente do Movimento Marcha Patriótica, Carlos García Marulanda. A mesma se levou a cabo de 6 de maio a 7 de junho e envolveu 8 países (Suíça, França, Bélgica, Suécia, Irlanda, Itália, Alemanha e Espanha) e 14 cidades europeias muito importantes no trabalho da solidariedade com o povo colombiano (Genebra, Lausanne, Berna, Zurique, Grenoble, Lyon, Paris, Bruxelas, Estocolmo, Dublin, Milão, Dusseldorf, Sevilha e Madri). Antes de seu regresso a Colômbia, entrevistamos o dirigente García Marulanda.
 
— Qual é o balanço desta primeira excursão de socialização da Marcha Patriótica pela Europa?
O balanço da excursão pela Europa do novo Movimento Político e Social MARCHA PATRIÓTICA é altamente positivo, porquanto permitiu avançar num primeiro momento com a socialização dos aspectos políticos e das conclusões emanadas da reunião do CONSELHO PATRIÓTICO NACIONAL que promoveu sessões nos dias 21 e 22 de abril, com a participação de mais de 4.500 delegados em representação de organizações sociais, políticas e populares do país e de apresentação dos principais momentos da multitudinária mobilização de 23 de abril, a qual contou com mais de 100.000 marchantes provenientes de diversas regiões; nessa mesma ordem de ideias avançamos em vários espaços de encontros a partir de conversações com organizações sociais e populares europeias, partidos políticos de esquerda, parlamentares europeus, comitês de solidariedade com a Colômbia e contatos com colombianos na qualidade de refugiados políticos.
A excursão realizada em 8 países da Europa nos permitiu expor a complexa situação que vive nosso país em matéria de violação de Direitos Humanos e do nível de afetação social a partir da implementação de políticas do atual governo que limitam e oprimem direitos adquiridos, ao mesmo tempo que nos possibilitou renovar uma série de contatos com organizações e pessoas que têm uma alta sensibilidade frente à problemática da Colômbia, concretizando-se, desta maneira, a conformação de espaços de solidariedade e acompanhamento com as lutas do nosso povo.
O amplo intercâmbio na Europa nos deu a possibilidade de demonstrar como tem sido o processo de conformação e construção coletiva da Marcha Patriótica, como manifestação de acumulação de luta e níveis de resistência do povo a partir da emergência de espaços de mobilização e protesto do movimento social e popular, os quais entenderam a necessidade de avançar em cenários de UNIDADE local, municipal e estadual, na perspectiva de uma grande convergência nacional e pontos de encontro a partir de suas próprias realidades, dinâmicas de luta e identidade política e programática expressadas no novo movimento político e social; dita caracterização nos tem permitido enfrentar as campanhas de perseguição, desqualificação e estigmatização que, desde o alto governo, paira sobre esta nova expressão alternativa na Colômbia.
 
— Que projeções para o trabalho ficam para a Marcha Patriótica na Europa no futuro próximo a curto e médio prazo?
A excursão pela Europa deixa experiências de contato com amplos setores alternativos e organizações de esquerda, os quais, em suas intervenções, manifestaram seu apoio decidido às diversas dinâmicas de luta social e expressaram sua solidariedade e acompanhamento com a Marcha Patriótica a partir de três iniciativas básicas:
a)   Conformar as brigadas internacionalistas solidárias. [acompanhamento permanente de voluntários de organizações sociais europeias aos dirigentes e ativistas que registrem um risco por sua atividade política e social.]
 
b)   Iniciar com um processo de incidência a partir do impulso da diplomacia política. [reuniões com parlamentares europeus e organizações políticas que têm expressado seu trabalho solidário.]
 
c)   Ampliação da denúncia imediata e oportuna. [a partir da criação de uma base de dados e rede internacional de comunicação alternativa que socialize e reproduza as denúncias que a partir da Colômbia se projetem em função da violação de direitos humanos.]

Estas iniciativas são, antes de tudo, a contribuição que, desde a comunidade internacional, se recolheram, correspondendo à Junta Patriótica Nacional, instância de direção política da Marcha Patriótica, analisar e avaliar as referidas propostas.
 
— Qual é a tarefa a seguir por parte dos membros, seguidores e simpatizantes da Marcha Patriótica na Europa, tanto colombianos quanto europeus?
A solidariedade expressada com a Marcha Patriótica determina, por parte dos integrantes e simpatizantes deste novo movimento político e social na Europa, avançar na concretização e no desenvolvimento das propostas apresentadas nas diversas reuniões realizadas na excursão, iniciando com a ampliação de contatos e relações com processos que ainda não abordamos na ideia de comprometê-los na preparação de encontros, atos e reuniões na próxima excursão a realizar-se no mês de setembro de 2012; de igual maneira, se expressou o interesse de conformar os CONSELHOS PATRIÓTICOS INTERNACIONAIS, como instância de articulação do trabalho da Marcha Patriótica na Europa; iniciativa que se estará precisando na medida em que a direção política da Marcha vá concretizando os critérios e definições organizativas na perspectiva do fortalecimento a nível internacional.
 
— Qual é o balanço da participação da Colômbia no eminário Conflito e Paz na Irlanda e que tarefas concretas seguem nessse ponto de busca da paz na Colômbia, que se possa contribuir desde a Europa?
A participação no Seminário Internacional sobre Conflito e Paz, realizado na Irlanda nos dias 24 e 25 de maio último, possibilitou conhecer e intercambiar experiências sobre os diversos esclarecimentos adiantados pelas organizações sociais da Colômbia, Sri Lanka e Curdistão frente às iniciativas populares em procura da busca da solução política e a concretização da paz sobre a base da superação das causas estruturais que originaram os conflitos nos referidos países, tendo em conta as particularidades e especificidades de cada processo.
Para o caso colombiano, a assistência ao referido evento permitiu socializar as diversas etapas do conflito social e armado que vive nosso país a partir da caracterização dos diversos governos que se sucederam com a aplicação de políticas e medidas antipopulares que colocam no centro do debate o tema da verdadeira vontade de paz, igual que a análise frente ao papel dos atores armados na perspectiva do início de conversações que favoreçam um ambiente favorável à paz, que assente as bases da solução política como único cenário possível que acabe com mais de 60 anos de confrontação e guerra, o ter compartilhado com o ministro de Relações Exteriores irlandês Joe Costello e muitos euro-parlamentares; consideramos de suma importância a RESOLUÇÃO adotada sobre a situação colombiana e o chamado à busca da solução política como uma das conclusões do Seminário Internacional e a perspectiva de deixar abertos espaços de debate e reflexão da referida problemática a partir da realização de um novo encontro internacional sobre a paz na Colômbia como contribuição decidida das organizações e dos setores políticos.
 

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Colômbia, o país com mais sindicalistas mortos em 2011

Pelo menos 76 pessoas foram assassinadas no mundo por suas atividades sindicais, delas 29 na Colômbia, revelou a Confederação Sindical Internacional [CSI] num informe divulgado nesta terça-feira. Mais da metade do total dos decessos ocorreram na América Latina, onde, além da Colômbia, a Guatemala [com 10 mortes] se converteu na nação mais perigosa para os sindicalistas. “Somente na América Latina se registraram 56 assassinatos, crimes cometidos com a mais absoluta impunidade”, assinalou o informe, que, ademais, advertiu que “o grupo mais vulnerável é constituído pelos cerca de 100 milhões de trabalhadores e trabalhadoras domésticos que há no mundo inteiro, muitas vezes mulheres jovens e migrantes que apenas conhecem seus direitos e não dispõem de nenhum meio para defendê-los, sofrendo umas condições opressoras e inclusive violentas”.

Segundo a secretária-geral da CSI, a australiana Sharan Burrow, “2011 foi um ano de enormes mudanças, com a Primavera Árabe anunciando novas oportunidades e novos desafios. Os sindicatos se viram reprimidos com mais dureza no Oriente Médio e no Norte da África, mais que em nenhum outro lugar do mundo”.

Um recente estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD] advertiu que a Colômbia é um dos países do mundo com piores índices, tanto de liberdade sindical como de direitos trabalhistas, com um registro de mais de 2.800 homicídios de sindicalistas e trabalhadores sindicalizados entre 1984 e 2011. De fato, esse pobre desempenho foi durante anos um dos principais impedimentos à ratificação do Tratado de Livre Comércio [TLC] entre a Colômbia e os Estados Unidos, que finalmente recebeu a aprovação legislativa no ano passado.

El Espectador, Bogotá, 5 de junho de 2012.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

“Los Urabeños” ordenam o assassinato de Carlos Lozano, diretor de VOZ


Comunicado de Imprensa

Segunda-feira, 4 de junho, recebi, por fonte digna de todo crédito, a informação de que o grupo narcoparamilitar “Los Urabeños”, pertencente a “Don Mario”, ordenou o meu assassinato. Para executar este ato criminoso, contrataram um grupo de matadores profissionais, cujos integrantes estão presentes em diversas localidades de Bogotá, tendo recebido US$200 mil e a ordem de fazê-lo o quanto antes.

Não tenho dúvida de que esta grave denúncia está relacionada à onda de coerções e intimidações provenientes da ultradireita e dos inimigos da paz. A elas inclui-se a ameaça revelada há poucos dias pela ex-senadora Piedad Córdoba, dirigente de “Colombianas e Colombianos pela Paz”. Infelizmente, tais atos desesperados do terrorismo narcoparamilitar são estimulados pelas declarações viscerais dos altos funcionários do Governo e membros da cúpula militar, que acusam a Marcha Patriótica de ser agente da subversão e aliada das FARC.

Espero que o Governo Nacional se atente a essas denúncias. O caminho mais aconselhável é o de fortalecer a democracia, oferecer garantias aos opositores e aos críticos do regime, possuidores de todo o direito de buscar mudanças e transformações progressistas para o país.

Além disso, preciso advertir aos criminosos que ordenaram meu assassinato que as ameaças não me intimidam. Eles não poderão silenciar-me. Nós permaneceremos firmes ao lado dos colombianos e das colombianas que anseiam um amanhã melhor para nossa pátria.

Carlos A. Lozano Guillén
Diretor de VOZ

Bogotá, junho de 2012

Fonte:http://www.pacocol.org/index.php?option=com_content&task=view&id=13080

terça-feira, 5 de junho de 2012

FARC: 48 ANOS DE LUTA REVOLUCIONÁRIA

Por Miguel Urbano Rodrigues

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército Popular (FARC-EP) comemoraram 48 anos no dia 27 de Maio.

O acontecimento foi festejado nas selvas e montanhas do país pelos milhares de combatentes que se batem por uma Colômbia independente, democrática e progressista.

Não há precedente na história da América Latina para uma saga revolucionária comparável. Fundada há quase meio século, a guerrilha das FARC-EP luta contra o mais poderoso exército do Sul do Hemisfério (300 000 homens), armado e financiado pelo imperialismo estadounidense.

Cedendo a pressões de Washington, as FARC-EP foram colocadas pela ONU e pela União Europeia na lista das organizações terroristas e os membros do seu Estado-maior Central têm a cabeça a prémio por milhões de dólares.

Uma campanha de âmbito mundial, montada pelo Pentágono e a CIA, colou às FARC-EP o rótulo infamante de «narcoguerrilha». Sucessivos governos anunciaram ao longo dos anos em Bogotá o seu fim iminente. Mas não há calúnia nem discurso dos presidentes e generais da oligarquia que possa esconder o óbvio: as FARC-EP, que se assumem como uma guerrilha-partido marxista leninista, prosseguem a luta em múltiplas Frentes rumo à conquista distante do poder, e todos os meses os comunicados do secretariado do seu Estado Maior Central tornam publicas acções de combate em que são infligidas pesadas baixas ao exército.

O actual presidente colombiano, Juan Manuel Santos, usando outro discurso, prossegue, no fundamental, a politica neofascista de Álvaro Uribe. A sua estratégia de «Segurança» dá continuidade a uma politica de repressão e terror; o Plano «Prosperidade para Todos» é um slogan de humor negro forjado para aumentar a desigualdade social em benefício da classe dominante. A adesão da Colombia ao Tratado de Livre Comercio com os EUA contribuiu para reforçar a situação de semi- colónia do país .

Oito novas bases militares dos EUA foram instaladas no país, que é, depois de Israel, o aliado que recebe de Washington a mais volumosa «ajuda» financeira. Não surpreende que os grandes media norte americanos definam hoje a Colombia como uma «democracia modelo», atraente para os investidores, e identifiquem nela um exemplo para a América Latina.

O presidente Obama voltou, alias, na Cimeira de Cartagena de Índias a elogiar «a politica de pacificação» e de «abertura ao diálogo» de Juan Manuel Santos. Sabe que mente. Na repressão desencadeada contra participantes na Marcha Patriótica pela Paz – 100 000 pessoas vindas de todo o país - ficou transparente a politica de violência do regime.

A desindustrialização avança, a miséria alastra, as máfias do narcotráfico actuam impunes, em alianças subterrâneas com o paramilitarismo e altas patentes das Forças Armadas.

Como era de esperar, a imagem que os porta vozes do Governo português transmitem da Colombia é a da «democracia modelo», a grande aliada dos EUA na América Latina. Em meados de Junho, o primeiro-ministro visitará Bogotá acompanhado de uma comitiva de empresários, esperançados em grandes negócios.

Passos Coelho e Juan Manuel Santos vão certamente entender-se maravilhosamente. Falam a mesma linguagem, têm o mesmo desprezo pelo povo. São frutos da mesma árvore.

A Colombia que respeito e admiro é outra, incompativel com a da oligarquia financeira e dos terratenientes, financiada e colonizada pelo imperialismo.

A minha Colombia é a sonhada por Bolívar, aquela cujos filhos se bateram em Boyacá e Ayacucho pela liberdade e pela independência, a Colombia que aprendi a conhecer e amar no convívio dos guerrilheiros das FARC-EP, num acampamento de Raul Reyes, algures nas selvas do Caquetá .

Já escrevi e repito que foi para mim um privilégio ter conhecido revolucionários com a têmpera dos comandantes Manuel Marulanda, Raul Reyes (assassinado no Equador em operação pirata, com a cumplicidade do Pentágono, da CIA e da Mossad), Alfonso Cano, Jorge Briceño (assassinados em bombardeamentos criminosos), Simon Trinidad (sequestrado em Quito e extraditado para os EUA).

No 48º aniversário das FARC-EP comunistas como eles inspiram-me comovida admiração. Encarnam bem a coragem, a esperança, a tenacidade e o espírito de luta dos povos da América Latina, oprimidos e humilhados pelo imperialismo estadounidense, hoje o grande inimigo da humanidade.



Vila Nova de Gaia, 30 de Maio de 2012

A desinformação dos media "de referência"

– Quando os respeitáveis se tornam extremistas e os extremistas se tornam respeitáveis
por James Petras

Por qualquer padrão histórico, quer envolva o direito internacional, convenções de direitos humanos, protocolos das Nações Unidas ou indicadores sócio-económicos padrão, as políticas e práticas dos regimes dos Estados Unidos e da União Europeia podem ser caracterizadas como extremistas. Com isso queremos dizer que as suas políticas e práticas resultam na destruição sistemática de vidas humanas, habitat e meios de vida em grande escala e a longo prazo que afectam milhões de pessoas através da aplicação directa de força e violência. Os regimes extremistas abominam a moderação, a qual implica a rejeição da guerra total em favor de negociações pacíficas. A moderação busca a resolução de conflitos através da diplomacia e do compromisso e a rejeição do terror de estado e paramilitar, a expulsão e deslocamento de populações civis e o assalto sistemático a sectores populares da sociedade civil.

Na primeira década do século XXI testemunhámos a adopção pelo Ocidente espectro completo do extremismo tanto em política interna como externa. O extremismo é uma prática comum dos auto-intitulados conservadores, liberais e sociais-democratas. No passado, ser conservador implicava preservar o status quo e, no máximo, efectuar ajustes com mudanças nas margens. Os "conservadores" de hoje exigem o desmantelamento por atacado de todos os sistemas de bem-estar social e a eliminação da protecção legal tradicional de trabalhadores e do ambiente. Liberais e sociais-democratas que no passado questionavam ocasionalmente sistemas coloniais estão agora na linha de frente de prolongadas guerra coloniais em múltiplas frentes, as quais mataram e deslocaram milhões de pessoas no Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria.

O extremismo, nos termos dos seus métodos, significado e objectivos, apagou as distinções entre políticos de centro esquerda, centro e direita. Moderados que se opõem às actuais políticas de subsidiar os grandes bancos enquanto empobrecem dezenas de milhões de trabalhadores, são agora etiquetados como "esquerda dura", "extremistas" ou "radicais".

No rastro das políticas extremistas de governo, os respeitáveis e prestigiosos media impressos empenharam-se nas suas próprias versões de extremismo [1] . Guerras coloniais, que devastam a sociedade civil e culturas estáveis enquanto empobrecem milhões no país colonizado, são justificadas, embelezadas e apresentadas como avanços legais e humanos em valores democráticos laicos. Guerras internas por conta de oligarquias e contra trabalhadores assalariados, as quais concentram riqueza e aprofundam o desespero dos esbulhados, são descritas como racionais, virtuosas e necessárias. As distinções entre os media prudentes, equilibrados, prestigiosos e sérios e os sensacionalistas, a imprensa amarela, desapareceram. A fabricação de factos, as omissões flagrantes e a distorções de contextos são encontradas tanto numa como noutra.

Para ilustrar o reino do extremismo entre o funcionalismo e a imprensa prestigiosa examinaremos dois estudos de caso. Eles envolvem as políticas dos EUA em relação à Colômbia e Honduras e as coberturas do Financial Times e New York Times dos dois países.

Colômbia: A "mais antiga democracia na América Latina" X "A capital mundial de esquadrões da morte"

A seguir a elogios absurdos do surgimento da Colômbia como modelo perfeito para a democracia na América Latina no número de Abril da revista Time, bem como do Wall Street Journal, New York Times e Washington Post, o Financial Times publicou uma série de artigos incluindo a inserção de um caderno especial sobre o "milagre" político e económico do país intitulado "Investir na Colômbia" [2] . Segundo o principal jornalista do FT na América Latina, John Paul Rathborne, a Colômbia é a "mais antigas democracia no hemisfério" [3] . A enlevada louvação de Rathbone do presidente Santos, da Colômbia, vai desde o seu papel como um "influente mediador emergente" para o continente sul americano, tornando a Colômbia segura para investidores estrangeiros e "provocando a inveja" de outros regimes na região com menos êxito. Rathbone dá destaque a um líder de negócios da Colômbia o qual afirma que a segunda cidade do país, Medellin, "está a viver os seus melhores tempos" [4] . Em acordo com a opinião da elite estrangeira e de negócios, o respeitável media da imprensa descreve a Colômbia como próspera, pacífica, amistosa para com os negócios, cobrando os mais baixos pagamentos de royalty de mineração do hemisfério e um modelo de democracia estável a ser emulado por todos os líderes progressistas.

No governo do presidente Santos, a Colômbia assinou um acordo de livre comércio com o presidente Obama, o seu mais estreito aliado no hemisfério [5] . Durante o mandato do antecessor de Obama, George W. Bush, sindicatos, grupos de direitos humanos e de igrejas, bem como a maioria democrata do Congresso tiveram êxito em bloquear qualquer acordo semelhante devido às violações contínuas de direitos humanos na Colômbia. Qualquer oposição semelhante da AFL-CIO e de legisladores democratas evaporou-se quando o presidente Obama adoptou o livre comércio, afirmando [haver] uma grande melhoria em direitos humanos e o compromisso do presidente Santos e acabar com assassinato de líderes sindicais e activistas [6] .

A paz, segurança e prosperidade da Colômbia, louvada pela elite do petróleo, mineração, banca e agro-business, são baseadas nos piores registos de direitos humanos da América Latina. De 1986 a 2011, mais de 60% de todos os assassinatos de sindicalistas no mundo tiveram lugar na Colômbia pelo conjunto de esquadrões da morte, militares, policiais e paramilitares, em grande medida às ordens de líderes corporativos estrangeiros e internos [7] . A "paz", tão entusiasticamente louvada por Rathbone e seus colegas no Financial Times, chegou a um preço pesadíssimo. Verificaram-se mais de 12 mil prisões, ataques, assassinatos e desaparecimentos de sindicalistas entre 1 de Janeiro de 1986 e 1 de Outubro de 2010 [8] . Nesse espaço de tempo cerca de 3000 líderes sindicais e activistas foram assassinados, centenas mais desapareceram e são considerados mortos. O actual presidente colombiano, Santos, era o ministro da Defesa no governo anterior do presidente Alvaro Uribe (2002-2010). Naqueles anos, mais de 762 responsáveis sindicais e activistas foram assassinados pelo estado ou por forças paramilitares aliadas [9] .

Sob os governos dos presidentes Uribe e Santos (2002-2012), mais de 4 milhões de camponeses e moradores rurais foram forçados ao exílio interno e os seus lares e terras foram tomados pelos grandes latifundiários, especuladores e narco-traficantes [10] . A estratégia de contra-insurgência do governo colombiano serve uma função dupla de reprimir a dissenção e acumular riqueza para os seus apoiantes. Os jornalistas do Financial Times encobrem este aspecto do "crescimento ressurgente" da Colômbia pois aplaudem os resultados da "segurança" dos esquadrões da morte, incluindo os mais de US$6 mil milhões de investimento estrangeiro em grande escala que em 2012 entrou nas regiões de mineração e petróleo – em áreas "antigamente perturbadas pela agitação" [11] .

Alguns importantes barões da droga, ligados claramente ao regime Uribe-Santos, foram presos e extraditados para os EUA. Eles testemunharam como financiaram e elegeram um terço dos membros do Congresso filiados ao partido de Uribe-Santos – que o Financial Times descreve como a "mais antiga" democracia da América Latina. Salvatore Mancuso, ex-chefe de 30 mil membros da Auto Defesa Unida da Colômbia (AUC), descreveu como se encontrou com o então presidente Uribe em diferentes regiões do país a fim de lhe dar dinheiro e apoio logístico para a sua campanha de reeleição de 2006. Mancuso, que liderou o maior exército paramilitar de esquadrões da morte da Colômbia (agora fragmentado mais ainda activo), também afirmou que corporações nacionais e multinacionais financiaram o crescimento e expansão dos esquadrões da morte.

O que Rathbone e seus colegas jornalistas do FT celebram como a ascensão da Colômbia a paraíso do investidor [NR] é feito evidentemente com o sangue e a tortura de milhares de camponeses colombianos, sindicalistas e activistas de direitos humanos. A história brutal do reinado de terror Uribe/Santos foi completamente apagada do presente relato da "história de êxito" da Colômbia. Registos pormenorizados da brutalidade das matanças e torturas dos esquadrões da morte patrocinados por Uribe/Santos, que descrevem a utilização de moto-serras para mutilar camponeses suspeitos de simpatias de esquerda, estão disponíveis para qualquer jornalista que queira consultar as principais organizações de direitos humanos da Colômbia [12] .

Os esquadrões da morte e os militares actuam combinados. Os militares colombianos são treinados por mais de um milhar de conselheiros das Forças Especiais dos EUA. Eles travam guerra de estilo contra-insurgente na Colômbia rural, chegando a aldeias em ondas de helicópteros fornecidos pelos EUA, encerrando num anel de segurança áreas alvo das guerrilhas e enviando as AUC e outros esquadrões da morte para destruir as aldeias, torturar e assassinar camponeses, camponesas e crianças suspeitas de serem simpatizantes da guerrilha e cometendo violações generalizadas. Esta campanha de terror com o patrocínio do Estado expulsou milhões de camponeses das zonas rurais permitindo que generais e barões da droga se apossassem da sua terra.

Advogados de direitos humanos (ADH) são frequentemente alvejados pelos militares e esquadrões da morte. Os presidentes Uribe e Santos habitualmente acusam previamente os trabalhadores de direitos humanos de serem colaboradores activos das guerrilhas devido ao seu trabalho de revelarem os crimes do regime contra a humanidade. Uma vez etiquetado, os ADHs tornam-se "alvos legítimos" para esquadrões da morte e os militares que operam com impunidade total. De 2002 a 2011 houve 1470 ataques contra ADH, com um número recorde de 239 em 2011, incluindo 49 mortes sob o presidente Santos [13] . Mais da metade dos trabalhadores de direitos humanos são índios e afro-colombianos.

O terrorismo de estado era e continua a ser o principal instrumento de dominação sob os governos dos presidentes Uribe e Santos. Os "campos da morte" colombianos, segundo a Procuradoria Geral, incluem dezenas de milhares de homicídios, 1597 massacres e milhares de desaparecimentos forçados de 2005 a 2010 [14] .

Membros corajosos da imprensa colombiana revelaram uma prática, conhecida como "falsos positivos", com numerosas ocorrências em que os militares sequestram secretamente camponeses jovens e rapazes urbanos forçando-os a vestirem-se como guerrilheiros, assassinando-os a sangue frio e a seguir exibindo os seus corpos à imprensa colombiana e internacional como "prova" do êxito do combate de Santos/Uribe contra as guerrilhas. Há 2472 casos documentados de assassínios de "falsos positivos" por militares [15] .

Honduras: o New York Times e o terrorismo de estado

O New York Times publicou um artigo sobre Honduras, onde enfatizava a "cooperação" do regime com a guerra estado-unidense às drogas [16] . O redactor do Times, Thom Shanker, descreve uma "parceria" baseada na expansão de três novas bases militares e no estacionamento de Forças Especiais dos EUA no país [17] .

Shanker informou acerca do êxito da operação das Forças de Operações Especiais de Honduras sob a direcção de treinados das US Special Forces. Na cobertura de Shanker, uma delegação do Congresso dos EUA louvava as Forças de Operações Especiais hondurenhas quanto ao "respeito pelos direitos humanos", citando a descrição do embaixador dos EUA do regime de Honduras como "parceiros entusiastas e capazes neste esforço conjunto" [18] .

Há paralelos flagrantes entre a lavagem cerebral do NY Times do criminoso regime extremista em Honduras e a promoção bruta do Financial Times da democracia dos esquadrões da morte na Colômbia.

O actual regime extremista hondurenho, encabeçado pelo "presidente" Lobos, o qual convidou o Pentágono a expandir seu controle militar sobre enormes extensões do território do país, é um produto do golpe militar apoiado pelos EUA que derrubou um presidente liberal eleito democraticamente em 28 de Junho de 2009, um ponto histórico recente que Shanker evita na sua cobertura. Lobos, o presidente predador, mantém o controle através de matanças, prisões e torturas dos seus críticos, incluindo jornalistas, advogados de direitos humanos e juristas, bem como camponeses agora sem terra que exigem uma devolução das suas propriedades depois de terem sido tomadas violentamente por grandes latifundiários aliados de Lobos.

A seguir ao golpe militar, milhares de manifestantes hondurenhos em favor da democracia foram mortos, espancados e presos. Segundo estimativas conservadores do Observatório de Direitos Humanos, 20 dissidentes pró democracia foram assassinados abertamente pelos militares e a polícia [19] . De Janeiro de 2010 a Novembro de 2011 pelo menos 12 jornalistas, críticos do regime Lobos, foram assassinados.

Nas zonas rurais, onde o repórter Shanker do NY Times descreve um festival de amor entre as Forças Especiais dos EUA e os seus equivalentes hondurenhos, 30 trabalhadores agrícolas no vale de Bajo Aguan, no norte de Honduras, foram mortos por esquadrões da morte contratados por poderosos aliados de Lobos [20] . Nenhum militar, polícia ou esquadrão da morte assassino foi levado à justiça. O líder original do golpe, Roberto Micheletti e o seu sucessor, o presidente Lobos, atacaram reiteradamente manifestações a favor da democracia, particularmente aquelas lideradas por professores, estudantes e sindicalistas. Centenas de dissidentes políticos presos foram torturados. Durante o período dos artigos mais eufóricos do NY Times sobre as confortáveis relações entre os EUA e Honduras, o número de mortes entre advogados democratas subiu precipitadamente. Oito jornalistas e comentadores de TV foram mortos durante os primeiro quatro meses de 2012 [21] . No fim de Março e princípio de Abril de 2012 nove trabalhadores agrícolas e empregados foram assassinados por latifundiários apoiantes de Lobos [22] . Com a impunidade reinante no território centro-americano de bases militares dos EUA, nenhum foi preso por estes assassinatos. A cobertura do NYTimes segue a regra da omertà adoptada pela Máfia – silêncio e cumplicidade.

Síria: Como o Financial Times absolve terroristas da Al Qaeda

Quando terroristas islâmicos apoiados pelo Ocidente vitimam o regime laico da Síria, a imprensa ocidental, especialmente o Financial Times, continua a absolver a utilização de enormes carros bombas por terroristas, os quais mataram e mutilaram centenas de cidadãos sírios. Com cinismo brutal, repórteres ocidentais encolhem os ombros e papagueiam as afirmações dos propagandistas anti-regime baseados em Londres, de que o regime Assad estava a destruir as suas próprias cidades e a matar os seus próprios cidadãos e forças de segurança [23] .

Conclusão

Quando o regime Obama e seus aliados europeus abraçaram publicamente o extremismo, incluindo o terrorismo de estado, assassinatos direccionados e os carros bomba em bairros urbanos cheios de gente, a imprensa "respeitável" aderiu. O extremismo assume muitas formas – da recusa a informar honestamente acerca da utilização de forças mercenárias e a violência para derrubar mais um regime anti-colonial até a expulsão de milhões de camponeses e agricultores. As "classes educadas", o respeitável público leitor rico estão a ser continuamente doutrinadas pelos respeitáveis media ocidentais para acreditarem que o sorridente e pragmático presidente Santos na Colômbia e o eleito presidente Lobos em Honduras têm êxito em estabelecer a paz, a prosperidade com base no mercado, acordos de livre comércio mutuamente benéficos e concessões de bases militares aos EUA – mesmo quando estes dois regime actualmente lideram o recorde mundial de assassinatos de sindicalistas e jornalistas. Em 15 de Maio de 2012, a Comissão Hispânica do Congresso dos EUA concedeu a Lobos um prémio por liderança em democracia – no mesmo dia em que a imprensa hondurenha relatava o assassinato do director de noticiário da estação de rádio HMT, Alfredo Vilatoro, o 25º jornalista crítico morto entre 27 de Janeiro de 2010 e 15 de Maio de 2012 [24] .

A adopção do extremismo pela imprensa "respeitável" e a sua utilização de linguagem demonológica e vitriólica para descrever regimes opostos ao imperialismo vão a par da sua eufórica e efusiva louvação da brutalidade mercenária de estado e pró ocidental. O encobrimento sistemático de crimes pelo jornalismo extremista vai muito além dos casos da Colômbia e das Honduras. O repórter do Financial Times Michael Peel "cobriu" o assalto ao governo líbio de Kadafi sem mencionar a campanha de bombardeamento da NATO que destruiu o mais avançado estado previdência da África. Peel apresentou o surgimento das gangs armadas de fanáticos tribais e terroristas islâmicos como uma vitória da democracia sobre uma "ditadura brutal" [25] . A desonestidade e hipocrisia de Peel é evidente nas suas afirmações ultrajantes de que a destruição da economia líbia, a tortura em massa e os assassinatos com motivações raciais, que se seguiram à guerra da NATO, foram uma vitória para o povo líbio.

O viés totalitário da imprensa "respeitável" é uma consequência directa do seu servilismo duradouro a políticas extremistas seguidas pelos regimes ocidentais. Uma vez que medidas extremistas, como a utilização da força, violência, assassínio e tortura, tornaram-se rotina de presidentes e primeiros-ministros no exercício do cargo, os repórteres não têm opção senão fabricar mentiras para tornar "respeitáveis" tais crimes, cuspindo um fluxo constante de adjectivos altamente agressivos a fim de converter vítimas em carrascos e carrascos em vítimas. O extremismo em defesa de regimes pró EUA levou aos mais grotesco relatos imagináveis: os presidentes da Colômbia e do México são os líderes das mais perfeitamente economias narcotizadas do hemisfério mas eles são louvados pela sua guerra às drogas, ao passo que a Venezuela, o mais marginal produtor de qualquer droga, é estigmatizado como um grande narco-pipeline [26] .

Artigos sem base factual, os quais são inúteis como fontes de informação objectiva, levam-nos a procurar uma lógica subjacente. A Colômbia assinou um acordo de livre comércio, o qual beneficiará exportações estado-unidenses para a Colômbia num rácio de dois para um [27] . A política do acordo de livre comércio do México beneficiou o agro-business estado-unidenses e retalhistas gigantes num rácio semelhante.

Todas as formas de extremismo permeiam os regimes ocidentais e encontram justificação e racionalização junto aos media respeitáveis cujo trabalho é doutrinal a sociedade civil e transformar cidadãos em cúmplices acríticos do extremismo. Ao infindavelmente anteceder "reportagens" sobre o presidente Putin da Rússia qualificando-o como tirano autoritário da era soviética, os media respeitáveis evitam qualquer discussão da melhoria do padrão de vida russo e do triunfo eleitoral com mais de 60%. Ao exagerar um passado autoritário do presidente líbio assassinado, as suas vastas obras públicas, programas de bem-estar social, de generosa imigração e de ajuda à África sub-saariana podem ser relegadas ao esquecimento. O louvor da imprensa "respeitável" aos esquadrões da morte dos presidentes Santos e Lobos faz parte de uma mudança sistemática em grande escala e duradoura da pretensão hipócrita de seguir as virtudes de uma república democrática para a adopção aberta de um império virulento e assassino. No novo código dos jornalistas, o extremismo em defesa do império já não é vício.
26/Maio/2012

Notas
[1] Há um consenso geral de que os media respeitáveis incluem The Financial Times, The New York Times, The Washington Post e The Wall Street Journal.
[2] Financial Times (FT) 5/8/12; Ver também FT (5/4/12) " Colombia looks to consolidate gains in country of complexities"
[3] FT 5/8/12 (p. 1)
[4] FT ibid
[5] BBC News , May 5, 2012
[6] ibid
[7] Renan Vega Cantor Sindicalicidio! (Un cuento poco imaginativo) de Terrorismo Laboral Bogotá, Feb. 25, 2012.
[8] ibid.
[9] ibid.
[10] Inforrme CODHES Novembre 2010.
[11] FT 5/8/12 p. 4.
[12] Ver os Annual Reports of CODHES, Reiniciar and Human Rights Watch
[13] Claroscuro Informe Anual 2011; Programa Somos Defensores Bogota 2012; Corporacion Colectivo de Abogados. Jan. – March 2012.
[14] Fiscalia General. Informe 2012
[15] http://www.falsos.positivos.blogspot.com
[16] Thom Shanker "Lessons of Iraq Help US Fight a Drug War in Honduras" New York Times, May 6, 2012.6
[17] ibid
[18] ibid
[19] Human Rights Watch, World Report 2012
[20] Honduran Human Rights, May 12m, 2012.
[21] ibid
[22] ibid
[23] O infame encobrimento dos carros bomba é obra do jornalista-estrela do FT no Médio Oriente. Ver Michael Peel e Abigail Fielding-Smith "At Least 55 Die in two Damascus Explosions: Responsibility for Blasts Disputed", FT 5/11/12.
[24] Honduras Human Rights, April 24, 2012.
[25] Michael Peel, "The Colonels Last Stand" FT 5/12 – 13/12
[26] Um dos mais infames narco-traficantes paramilitares da Colômbia descreveu os estreitos laços financeiros e políticos entre os terroristas das Autodefesas Unidas da Colômbia e o regime de Uribe-Santos. Ver La Jornada 5/12/12.
[27] BBC News, 5/15/12. Segundo a US International Trade Commission as estimativas do valor das exportações dos EUA para a Colômbia poderiam subir a US$1,1 mil milhões ao passo que o crescimento das exportações da Colômbia podia crescer US$487 milhões.

[NR] O Estado português também promove o investimento na Colômbia. Ver Missão empresarial à Colômbia, 28 de Maio a 1 de Junho de 2012 , iniciativa da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP)

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=31056

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .