"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 29 de abril de 2012

Colômbia: da arte de vender um país

Apesar de ser o aliado mais leal e servil aos interesses dos Estados Unidos na América do Sul, a Colômbia carece – e muito – de recursos. Agora, ele trata de atrair mais dinheiro da Espanha, que já é o terceiro maior investidor estrangeiro no país. Em um fórum de investimentos e cooperação empresarial Espanha-Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos deu uma estocada na Argentina e disse: "Se for bom para os empresários, será bom para nós. Aqui, nós não expropriamos". O artigo é de Eric Nepomuceno, direto de Bogotá.

Eric Nepomuceno, de Bogotá

Bogotá - Certas mulheres costumam aparecer ao cair da noite em determinadas esquinas e começar a rodar sua bolsinha oferecendo-se ao melhor pagante, sem se importar muito com aquilo a que terá de submeter-se. Certos presidentes costumam aparecer a qualquer hora do dia em determinadas reuniões e começar a rodar sua bolsinha oferecendo ao melhor pagante não o próprio corpo, mas o próprio país, sem se preocupar com a submissão que for. É o que anda fazendo Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, sem o menor vislumbre de pudor.

É evidente que qualquer país, ainda mais nos dias de hoje, precisa atrair investimentos e estabelecer leques cada vez mais amplos em suas relações comerciais com o resto do mundo. É natural que haja esforço e até mesmo disputa quando se trata de atrair capitais destinados a investimentos produtivos.

Mas como em tudo nesta vida, é preciso agir com um mínimo de dignidade, exigir um mínimo de respeito, impor limites e observar regras mínimas de convivência – mesmo quando se trata de competir por um mesmo objetivo, que neste caso especifico se resume numa só palavra: dinheiro. Ou seja, investidores de qualquer latitude.

Agora mesmo Juan Manuel Santos deu um verdadeiro espetáculo da não tão nobre arte de vender um país a qualquer preço. Dia desses foi realizado em Bogotá o fórum de investimentos e cooperação empresarial Espanha-Colômbia. Anote-se: embora realizado na capital colombiana, não foi um fórum Colômbia-Espanha, porque, também nesse caso, a ordem dos fatores alteraria o produto.

Neste raro momento da história contemporânea sul-americana em que a maioria dos países da região busca linhas de ação conjuntas, entendendo que desunidos somos presa fácil da avidez dos grandes centros econômicos, uns poucos governos – e o colombiano é exemplo cabal disso – preferem atuar por conta própria.

Em Bogotá, o presidente anfitrião lascou, de saída, uma peculiar frase de boas-vindas ao chefe de governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy: “Aqui, nós não expropriamos”. Uma piscadela despudorada à Espanha, país submergido numa crise de proporções dramáticas, e uma alusão deselegante, provocadora e desnecessária à decisão da Argentina de re-estatizar a petroleira YPF, controlada até agora pela espanhola Repsol.

Bastante razão tem Juan Manuel Santos para procurar investimentos externos. Apesar de ser o aliado mais leal e servil aos interesses dos Estados Unidos na América do Sul, a Colômbia carece – e muito – de recursos. Agora, ele trata de atrair mais dinheiro da Espanha, que já é o terceiro maior investidor estrangeiro no país.

“Se for bom para os empresários, será bom para nós”, disse Juan Manuel Santos. Não explicou quem seria esse “nós”. Disse que só pede “responsabilidade ambiental e social”. Não explicou como se daria essa responsabilidade. Mas afirmou que a troco oferece “regras de jogo estáveis, segurança jurídica”. São expressões que aos ouvidos empresariais têm o som de Brahms ou Beethoven.

O Banco Mundial diz que, na América Latina, a Colômbia ocupa o primeiro lugar na proteção aos investidores estrangeiros. No mundo todo, ocupa o quinto lugar.

As taxas de crescimento da economia são firmes e elevadas, na média de 4% anuais ao longo dos seis últimos anos, com marca impressionante em 2011: expansão de 6% no PIB, de 43% nas exportações e de 59% no volume de investimentos estrangeiros.

Mas a Colômbia é também um dos países de maiores e mais gritantes diferenças sociais neste continente de injustiças. A dívida social do Estado diante dos cidadãos tem dimensões de escândalo.

O presidente colombiano faz questão de dizer que cumpre todos os deveres de casa e não comete rebeldias como as da Argentina (onde, aliás, a pobreza extrema foi reduzida a 6% da população, menos de um terço da registrada na Colômbia). Reiterou que seu país vive aquilo que classificou de “processo espetacular de transformação econômica”. Anunciou a existência de um plano de desenvolvimento para dez anos, com ênfase em projetos de infra-estrutura.

Também disse que o país sofre enormes carências que significam, ao mesmo tempo, excelentes oportunidades para empresas estrangeiras. A troco dos recursos necessários – e que se situam na casa dos cem bilhões de dólares – seu governo jura fidelidade irrestrita aos sócios estrangeiros.

Diz, com relação ao Mercosul, que ‘essa idéia de acordos em bloco são coisas fora de moda’. Para o seu governo, a ordem é cada um por si e ninguém por todos. Para ele, bom mesmo é acatar a velha ordem estabelecida: Quem paga, manda.

A América Latina cresce e cresce, e continua sendo um dos continentes mais desiguais do planeta. Nesse quadro de grandes distâncias sociais, as da Colômbia são cada vez mais nítidas. Não é por acaso que, em seus esforços para vender o país, Juan Manuel Santos mencione de passagem a necessidade de combater essa desigualdade. De passagem e apenas roçando a superfície, sem aprofundar nada.

Ele foi ministro de Comercio Exterior no governo liberal de César Gaviria, foi ministro da Fazenda no governo conservador de Andrés Pastrana, foi ministro de Defesa no governo liberal de Álvaro Uribe. Transitar com essa leveza entre dois partidos tão radicalmente enfrentados como o Liberal e o Conservador pode ser entendido como dedicação às grandes causas nacionais, acima das diferenças partidárias. E também pode ser entendido como artimanhas de um trânsfuga sem escrúpulos.

Enfim, que fique bem claro: em seus pronunciamentos aos empresários, Juan Manuel Santos não fez uma única menção a programas de combate à desigualdade que assola seu país. Disse e redisse aos espanhóis: “Aqui, não expropriamos nada”.

Não perguntou nada nem disse nada aos milhões de colombianos expropriados de seu próprio país. Aos que tiveram e têm sua esperança expropriada.

(tomado de Carta Maior)

Assassinado o camarada responsável pela segurança de Carlos Lozano, diretor do Semanário Voz



Nota do Secretariado Nacional do PCB:



O Partido Comunista Brasileiro repudia energicamente a ofensiva do estado terrorista colombiano em face do avanço do movimento de massas no país.

Ao mesmo tempo, solidarizamo-nos com o camarada Carlos Lozano, com o Partido Comunista Colombiano e com todas as forças que compõem a Marcha Patriótica, cuja fundação o PCB apoiou com a presença de uma expressiva delegação.





28 de abril de 2012 7:55 am

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Nas últimas horas foi assassinado, no bairro de Bochica de Bogotá, Mao Enrique Rodríguez, chefe da escolta de Carlos Lozano, diretor do Semanário Voz.

Segundo informou o próprio Carlos Lozano, na rádio 1070 AM, o fato ocorreu no sul de Bogotá, quando motoqueiros surpreenderam Rodríguez na porta de uma casa, onde esperava para abrir.

O assassino disparou à queima roupa, causando a morte de Rodríguez, conforme Lozano, que acrescentou o fato de que, nos últimos dias, a vítima estava oferecendo proteção a Alfonso Castillo, Presidente da Associação Nacional dos Sem-Terra (Asociación Nacional de Desplazados).

“Estamos averiguando bem os fatos, com serenidade, com calma”, disse o diretor do Semanário Voz, denunciando que o assassinato está relacionado com as acusações feitas contra o Movimento Marcha Patriótica.

“Não tenho a menor dúvida de que tem relação com toda essa onda de acusações, com todo esse ambiente de terror psicológico que está sendo gerado no país por conta do surgimento da Marcha Patriótica e pelo próprio fato de que eu seja um dos principais porta-vozes”, acrescentou Lozano.

Por esta razão, fez uma exigência ao Governo Nacional, reivindicando garantias para que o movimento continue seu trabalho no espaço social, político e democrático da vida do país.

“Os fatos que ocorreram se referem ao surgimento desse novo partido político e foram exclusivamente baseados nas acusações arbitrárias, dificultando ainda mais os processos de paz”, explica. Lozano também aponta o temor de que aconteça com o movimento o mesmo que se passou com os membros da extinta União Patriótica.

Para ele, a guerrilha colombiana não possui as suficientes garantias para iniciar um processo de paz exitoso, a partir do momento que fatos como estes continuam acontecendo.

“Nós não vamos nos desesperar, não vamos nos deixar intimidar. Vamos permanecer trabalhando. Acreditamos que é possível avançar neste tipo de organização e vamos continuar trabalhando com o Polo Democrático Alternativo. Numa situação como esta, a esquerda colombiana deve se fortalecer ainda mais”, pontuou Lozano.

Para o ativista, a Marcha Patriótica continuará “trabalhando no protesto pacífico, organizado, contra todas as medidas antipopulares, contra a reforma das pensões, a nova reforma tributária, as novas ameaças de privatização por parte do Governo Nacional. Elas realmente não são gestos de paz, mas parte da injustiça social desta administração e do neoliberalismo”.

Mao Enrique Rodríguez, de 42 anos, foi o responsável pela segurança de Carlos Lozano por vários anos, depois de ter trabalhado na imprensa do partido comunista, onde se imprimia o Semanário Voz. Era casado e tinha três filhos.



Informação de David Mauricio Vanegas Duarte.



Fonte: http://www.radiosantafe.com/2012/04/28/acribillado-el-coordinador-de-la-escolta-de-carlos-lozano-director-del-semanario-voz/



Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

sábado, 28 de abril de 2012

TORTURADORES DA DITADURA CHILENA SÃO IDENTIFICADOS...


Advogados dos direitos humanos destacaram hoje (12 de abril) que, pela primeira vez, tenham se identificados numerosos agentes da policia secreta de Augusto Pinochet, o que permitirá aprofundar as investigações sobre as violações dos direitos humanos cometidos durante a ditadura chilena (1973-1990). Os nomes foram revelados na última segunda-feira 9 de abril, numa denuncia apresentada pelo Agrupamento de Familiares de Detidos Desaparecidos (AFDD) contra uns 1.500 exmilitares que pertenceram à Direção de Inteligência Nacional – DINA.



A denuncia busca que a justiça investigue esses supostos agentes e que, independentemente dos crimes que tenham cometido ou não, os condene pelo delito de associação ilícita criminosa, explicou a Efe o advogado denunciante Boris Paredes.

Os nomes constam de uma lista oficial que o Exército entregou em 28 de agosto de 2008 ao juiz Alejandro Solís, no contexto de uma investigação sobre crimes cometidos na Vila Grimaldi, um antigo centro de detenção e tortura clandestino.

Nessa lista, de 40 páginas, à que Efe teve acesso, figuram conhecidos personagens da vida pública na atualidade, entre eles um deputado, um prefeito e Augusto Pinochet Hiriart, filho mais velho do ditador.

Segundo se estabeleceu, no final de 2007 um selecionado grupo do Exército chileno se deu a tarefa de construir, pela primeira vez, uma lista de oficiais e suboficiais que pertenceram à DINA.

O resultado ficou estampado em um documento “secreto”, datado de 28 de agosto de 2008, assinado pelo então Chefe do Estado Maior do Exército, general Alfredo Ewing Pinochet, que contem a lista de oficiais e suboficiais que “cumpriram missão extra institucional no Comando Geral do Exército, designados na DINA, entre 11 de setembro de 1973 e dezembro de 1977”.

Entretanto, o documento permaneceu guardado em algum arquivo do poder judiciário até agora.

Para o advogado Paredes, resulta “relevante que na lista exista uma grande quantidade de nomes que, até agora, desconhecia-se pertencerem à DINA”.

“Quiçá eles possam apresentar novos antecedentes do que aqueles membros mais conhecidos da DINA que já foram processados ou estão cumprindo pena e se negaram a proporcionar”, acrescentou a Efe.

Enquanto isso, o também advogado e deputado comunista Hugo Gutiérrez, informou que a listagem “é um documento fundamental para que os que nela constam forneçam a informação que possuem sobre o destino dos detidos desaparecidos e também daqueles casos de assassinato cujos corpos foram entregues às suas famílias”.

Segundo números oficiais, durante a ditadura de Pinochet mais de 3.200 chilenos morreram em mãos de agentes do Estado, sendo que cerca de 1.200 ainda estão desaparecidos, mais de 38.000 foram torturados e sofreram prisão política e varias centenas de milhares tiveram de se exilar.

Os casos de desaparecimentos ocorreram, na grande maioria, entre 11 de setembro de 1973 e dezembro de 1977, período de operação da DINA, substituída depois pela Central Nacional de Informações (CNI).

O documento de Exército, além da lista de agentes, revela que a DINA existiu desde o mesmo 11 de setembro de 1973, data do golpe contra o governo de Salvador Allende.

Entre os agentes incluídos na lista figuram Augusto III Osvaldo Pinochet Hiriart, filho mais velho do ditador; o atual prefeito de Providencia, bairro de Santiago, Cristián Labbé Galilea, que foi instrutor de agentes no período de formação da DINA e membro da guarda pessoal do governante de fato.

Também aparece o nome do deputado do partido Renovação Nacional (RN), Rosauro Martínez Labbé, que há pouco tempo declarou a Efe não ter pertencido à DINA.

“Eu nunca fui agente da DINA, ainda que estivesse destinado ao Comando Geral do Exército. Jamais estive envolvido em nada com a DINA. Se meu nome está nesse documento deveria se perguntar ao Exército qual foi a missão que cumpri na DINA”.

Como oficial, Martinez recebeu instrução na Escola das Américas, onde o Exército dos EUA formava militares latinoamericanos na área da contrainsurgência. Em agosto de 1989 começou sua carreira política, ao ser nomeado prefeito da cidade de Chillán pelo próprio Pinochet.

O nome de Jaime Guillermo García Covarrubias, ex subsecretário geral de Governo e atualmente professor de Assuntos de Segurança Nacional do Centro de Estudos Hemisféricos para a Defesa dos EUA, ligado ao Pentágono, também aparece na lista.

Além desses nomes, constam também os de Pablo Gran López, atual vicepresidente da Associação Cartográfica Internacional (ACI), representando o Instituto Geográfico Militar, do Exército do Chile; o tabelião Hernán Blanche Sepúlveda e o empresário Sergio Ojeda Bennet, entre outros.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Movimento Político Marcha Patriótica Declaração Política

1 – Com convicção e firmeza, partindo dos mais distantes pontos da geografia nacional, confluiu para a cidade de Bogotá a Marcha da Esperança, da Alegria, da Dignidade. Desde as montanhas, planícies, serras e encostas, recebemos mais de 1700 organizações e, com espírito deliberativo e construtivo, hoje avançamos um passo a mais na edificação da Segunda e Definitiva Independência. Na mais profunda fraternidade e solidariedade dos povos que lutam por soberania e autodeterminação, delegados e delegadas da América Latina, Europa, Austrália e América do Norte têm acompanhado solidariamente a realização do Conselho Patriótico Nacional que declara, de maneira decidida:

2 – Anunciamos às pessoas e ao povo colombiano em geral, assim como à comunidade internacional, que, durante os dias 21 e 22 de abril de 2012, encontramo-nos para constituir o Movimento Político e Social Marcha Patriótica, com o propósito de contribuir com a mudança política requerida nosso país, superando a hegemonia imposta pelas classes dominantes, de avançar na construção de um projeto alternativo de sociedade e obter a segunda e definitiva independência. Precisamente nos momentos em que o capitalismo se encontra em uma de suas maiores crises, mostrando seus limites históricos cada vez mais evidentes.

3 – A Marcha é o local de encontro de múltiplos processos de organização, resistência e luta que decidiram fazer seu o exercício da política e aspira a ser uma expressão organizada do movimento real das resistências e lutas das pessoas comuns e dos setores sociais e populares que, quotidianamente, em todos os rincões do país, e, em que pese as adversidades, atuam, de forma heroica, por uma pátria grande, digna e soberana.

4 – Em que pese o fato do governo de Santos ter se empenhado em aparecer como renovador e modernizante, na Marcha consideramos que isto representa uma continuidade do projeto hegemônico e de tentativas de rearranjos do bloco de poder, precisamente para garantir esta continuidade. Sem deixar de perceber conflitos e diferenças entre as facções que conformam tal bloco, promovidos por setores mais belicosos e ultradireitistas, ligados ao narcoparamilitarismo, não se aprecia – para além da retórica – o surgimento de novas condições que permitam afirmar que se está a caminho de superar as estruturas autoritárias, criminosas, mafiosas e corruptas que caracterizam o regime político colombiano. Tendências recentes dos acontecimentos legislativos em diversos campos parecem reforçar ainda mais o manto de impunidade que prevaleceu no país, buscam institucionalizar o exercício da violência contra a população, ao mesmo tempo pretendem perseguir e criminalizar os protestos e a mobilização social.

5- O governo de Santos aprofundou o processo de neoliberalização da economia e da sociedade, iniciado há mais de duas décadas. Este continuísmo favorece essencialmente o capital financeiro transnacional e os grandes grupos econômicos que, pensando exclusivamente em seu afã de lucro, impuseram um modelo econômico empobrecedor. Tal modelo desindustrializou o país, afundou, numa profunda crise, a produção agrícola, especialmente a produção de alimentos, propiciou a terceirização precarizante, estimulou ao extremo a especulação financeira e promoveu - especialmente durante a última década - a intensa exploração das nossas riquezas em hidrocarbonetos, minerais e fontes de água, acompanhados pela produção de biocombustíveis, exploração florestal e megaprojetos infra-estruturais. O desenvolvimento deste modelo foi projetado dentro de um quadro jurídico-institucional e militar que protege os interesses do grande capital e que vem se aprimorando no atual governo, através de múltiplas reformas no âmbito constitucional e legal. A entrada em vigor do Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, e de outros tratados de conteúdo similar, é uma boa demonstração disso.

6 – Este modelo econômico conduziu a uma crescente degradação da soberania, a uma maior concentração e centralização da riqueza, ao aumento da desigualdade social, à precarização e pauperização do trabalho, à depredação socio-ambiental, assim como à contínua apropriação da riqueza social e dos frutos do trabalho mediante a migração e o deslocamento forçado da população. Também, propiciou uma mercantilização extrema e profunda de toda a vida social. Constituiu-se numa fonte de apropriação de dinheiro público, mediante a implantação generalizada de estruturas corruptas.

7 – Na Marcha Patriótica assinalamos a necessidade de produzir uma mudança política no país que defina as bases para a derrota do atual bloco hegemônico de poder e gere as condições para as transformações estruturais econômicas, políticas, sociais e culturais reclamadas pelas pessoas e pelo povo colombiano em geral. A Marcha coloca seu acúmulo e suas projeções a serviço deste propósito, chama à mais ampla unidade do povo colombiano e, em especial, dos diferentes processos sociais e populares existentes, tais como o Pólo Demcorático Alternativo e outros partidos e organizações políticas da esquerda, o Congresso dos Povos, a Minga Social e Indígena, a Coordenação Nacional de Movimentos e Organizações Sociais e Políticas, o COMOSOC, a MANE, bem como as demais forças políticas, econômicas e sociais que assim se consideram, pela construção de acordos programáticos que permitam avançar até a superação do modo de vida e de produção imperantes no país, a transformação estrutural do Estado, da economia e da cultura.

8 – Na Marcha Patriótica manifestamos a decisão política de lutar por um novo modelo econômico, de Estado e da sociedade, permitindo a transformação estrutural do modo de vida e de produção, que permita garantir e realizar os direitos humanos integralmente, dignificar e humanizar o trabalho, reparar integralmente as vítimas da violência e do terror estatal paramilitar, organizar democraticamente o território, realizar reformas agrária e urbana integrais, realizar as correspondentes transformações sócio-culturais, dignificar a arte e a cultura, lutar por uma nova ordem internacional baseada nos princípios da soberania, da não intervenção, da autodeterminação e do internacionalismo dos povos, contribuindo para a integração da Nossa América. Tudo isso, na direção da construção de um projeto alternativo que supere a atual organização capitalista da sociedade. A Marcha Patriótica se compromete com o desenvolvimento de sua plataforma programática com a mais ampla participação das pessoas comuns e, em geral, dos setores sociais e populares. Para conseguir isso, os Conselhos ficarão abertos.

9 – Na conjuntura atual, tendo em vista a dinâmica das lutas, assim como as tendências de políticas governamentais em curso, a Marcha Patriótica considera de vital importância e de suma urgência estabelecer acordos entre os diferentes processos políticos e organizacionais do campo popular, assim como com as demais forças políticas, econômicas e sociais interessadas, para fazer o enfrentamento e construir alternativas relacionadas à política de terras, a defesa do território, a reivindicação de trabalho, o ensino superior, a saúde e a seguridade social, os tratados de livre comércio, entre outros. Em todos os casos, trata-se de unir esforços e avançar na construção de um acúmulo de mobilização como o principal meio de ação coletiva e para a realização de uma grande greve cívica nacional.

10 – Apesar da retórica governamental que, com alguma frequência, assinala considerar a necessidade de paz para o nosso país, parece que este propósito é concebido em termos de uma solução militar, para o que pressionam, de forma contínua e persistente, os setores militaristas e de ultradireita. A política atual de contra-insurgência se fundamenta em um crescente intervencionismo militar estrangeiro, com o que, além de tentar induzir uma mudança no equilíbrio estratégico da guerra, corresponde aos interesses geopolíticos e econômicos do imperialismo dos EUA para garantir o acesso a recursos estratégicos, proteger investimentos transnacionais e conter quaisquer ameaças contra esses propósitos, sejam estas dos movimentos sociais ou insurgentes, ou de Estados soberanos na região.

11 – A política da solução militar encontra sua atual expressão no Plano Espada de Honra, que se liga a outras experiências do passado recente, todas inscritas no âmbito do Plano Colômbia e suas diferentes fases de execução. Com ela se busca a rendição e a desmobilização da insurgência. A experiência de nosso país, durante os últimos cinquenta anos, ensina, no entanto, que propósitos similares não têm sido mais do que iniciativas falidas que acabaram imprimindo novas dinâmicas e formas de expressão para o confronto. E não pode ser de outra forma, dadas as raízes históricas e a natureza política, econômica e social do conflito colombiano, assim como a dinâmica específica de uma guerra irregular e assimétrica.

12 – Uma prorrogação indefinida do conflito social e armado, bem como o que ele representa em termos de sofrimento da população e do contínuo aumento dos gastos da guerra que poderiam muito bem ser destinados para atender as necessidades das pessoas em geral, conduz à perigosa militarização da vida política, econômica, social e cultural. A Marcha Patriótica manifesta seu compromisso ético e político com a busca de uma solução política para o conflito social e armado. Considerando que deve ser socialmente apropriada, a Marcha manifesta a sua decisão de impulsionar os processos constituintes locais e regionais pela solução política e pela paz com justiça social, tendendo para a realização de uma Assembleia Nacional. Propõe também a todas as forças políticas, econômicas e sociais, a união de esforços para construir caminhos que permitam tornar realidade os anseios de paz das pessoas e do povo colombiano em geral. Isso pode ter uma expressão inicial na criação de um encontro nacional pela solução política e pela paz com justiça social.

13 – A Marcha apresenta suas saudações solidárias a todas as mobilizações, resistências e lutas populares; e manifesta o seu compromisso de acompanhá-las, assumi-las como próprias e participar ativamente delas. Saúda igualmente todos os homens e mulheres que, nos campos e cidades, dão o melhor de suas vidas para contribuir para o bem viver das classes subalternas, oprimidas e exploradas. Chama a atenção para a situação dos prisioneiros de guerra e manifesta a sua solidariedade com os presos políticos e de opinião. Além disso, declara sua vocação internacionalista e seu apoio irrestrito a todos os lutadores e lutadoras que, no mundo e na Nossa América, buscam a superação do modo de vida e de produção imposto pelo capitalismo.

14 – Na Marcha temos chegado aos patriotas para afirmar a existência de sonhos coletivos; para traçar rotas de dignidade; para abrir portas de esperanças realizáveis. Seguindo o legado dos libertadores e das libertadoras da Primeira Independência e dos lutadores populares das resistências em nossa nação, somos partícipes deste novo capítulo da história a ser forjado na mais ampla unidade popular. Saímos convencidos de que o sonho não só existe, mas é realizável em um trabalho coletivo de cada organização e na proposta coletiva que seguimos construindo. Entregamos ao país este aporte de esperança decidida, convidando a marchar, a caminhar, a lutar e a construir.

A marchar pela solução política!

A marchar pela soberania e integração dos povos!

A marchar pela unidade popular e pela Segunda e definitiva independência!

Bogotá, 22 de abril.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

A Marcha Patriótica transbordou

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24 de abril de 2012 | 07:04 AM. | Noticias

Por: Rodrigo López Oviedo

Não sei quantas pessoas cabem na Plaza de Bolívar de Bogotá e, tampouco, quantas vezes ela foi totalmente ocupada. Acredito que devem ter sido muito poucas e nenhuma comparável à multidão e ao entusiasmo presentes em 23 de abril passado. Os organizadores da Marcha Patriótica pela Segunda Independência tinham previsto a participação de umas 80 mil pessoas e, para isso, prepararam três colunas, que partiriam de três lugares distintos da cidade. Porém, apenas com uma das colunas foi suficiente lotar a Plaza. Quando os outros dois grupos quiseram entrar no local, se depararam com uma praça completamente lotada pelos primeiros marchantes. É a comprovação do tamanho do êxito alcançado no lançamento deste movimento social e político!

A Marcha Patriótica é a mais ampla confluência de organizações que veem com vergonha a prostração de nosso país aos ditames do império e aos extremos desequilíbrios formados como consequência de políticas que só visam os interesses oligárquicos. Assim, todo o entusiasmo mencionado é uma evidência clara das imensas forças que lutam para encontrar soluções para tão grave problemática, ainda que haja o custo de sofrer a experiência de tantos lutadores, sacrificando sua liberdade e até sua vida, para alcançar transformações que façam a vida mais justa e amável para todos os colombianos.

Por isso, não temos dúvidas em qualificar como exitosa sua realização, como satisfatória a conformação de seu organismo de direção, o Conselho Patriótico Nacional. O Governo nacional deve ver nisto uma notificação de repúdio por sua política de favorecimento às transnacionais. São elas as maiores beneficiadas pelas “locomotoras” do plano de desenvolvimento. São os empresários da guerra, que lucram com os multimilionários orçamentos de defesa. São os setores financeiros, que mais se beneficiam com o estado de coisas vigente.

Porém, também devem sentir-se aludidos aqueles setores de esquerda que parecem ver reduzido todo seu compromisso político às urnas. Os 120 mil colombianos que estiveram na Plaza de Bolívar, somados aos quatro mil delegados que, em representação de mais de 2000 organizações de massas, assinaram a declaração final, dizem a tais dirigentes que estes vacilam entre ser e não ser revolucionários. Afirmam a existência de processos que se dão, inclusive, contra o querer de seus líderes. O melhor é animar tais processos com entusiasmo antes que os mesmos se voltem contra eles. Essa participação entusiasta é a melhor maneira de nos aproximarmos do grande sonho do Libertador Simón Bolívar: alcançar o maior grau de felicidade para nosso povo!

Fonte: http://www.pacocol.org/index.php?option=com_content&task=view&id=12632, 24-04-12

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Quem está por traz do Facebook, o Portal dos Amigos?

Por Pascual Serrano, oito de fevereiro de 2008


O programa de internet Facebook é uma simpática ferramenta de comunicação social, um instrumento que permite contatar e arquivar os endereços e outros dados dos amigos e familiares que conhecemos. Mas, também se constitui numa mina de informação para os órgãos de inteligência que exploram estes dados e, que graças ao Facebook, sabem tudo sobre você. Reproduzimos a seguir um artigo muito pertinente sobre o Facebook.

Em 4 de fevereiro [2008] celebrou-se em todo o mundo uma mobilização contra a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – FARC-EP. Os meios de comunicação destacaram a espontaneidade da iniciativa, especialmente porque se originava de uma rede social da Internet chamada Facebook.

Jornais como El País, insistiam em que tudo partia de “um engenheiro civil de 33 anos convertido em técnico de informática e morador da cidade de Barranquilla”. Sua ingenuidade era assim apresentada pelo jornal: “Até um mês atrás não tinha tido participação na política do seu país a não ser a de exercer seu direito de voto. Chama-se Oscar Morales e nunca pensou que a idéia de convocar uma manifestação teria uma repercussão tão grande. Morales, que trabalhava no Serviço Nacional de Aprendizagem (SENA), uma instituição pública que adotou a rede social Facebook como ferramenta de comunicação entre os estudantes”. E o promotor declara: “Facebook tem uns 70 milhões de associados no mundo e somente dois milhões na Colômbia. Em quatro de janeiro decidi incluir no Facebook.com a campanha “Um milhão de vozes contra as FARC”. Somente pretendia recolher assinaturas. Nunca imaginei um êxito semelhante”.

Segundo o jornal, e como prova de espontaneidade, “no primeiro dia juntaram-se 1.500 pessoas à sua proposta. No segundo, 4.000. E no terceiro, Carlos Andrés Santiago, internauta de Bogotá, propôs converter o protesto numa grande manifestação na Colômbia. Estabeleceram o prazo de um mês: a manifestação percorreria as ruas colombianas em 4 de fevereiro. Depois, começaram a chegar mensagens de muitos países”.

A esquerda colombiana, organizações de Direitos Humanos e familiares de detidos pelas FARC criticaram duramente essa mobilização que qualificaram de belicosa e partidarista, pois negava uma solução dialogada ao conflito, ignorava os crimes cometidos pelos paramilitares e o exército além de apostar em uma solução exclusivamente armada ao gosto do governo de Uribe, dos setores militares, da empresas de armamento e do governo dos EUA.

Por sua parte, os promotores, segundo El País, “foi a cidadania que se manifestou, e isto não vai se deter agora. A sociedade colombiana despertou, até que enfim, da indiferença em que estava mergulhada”. Desde Bogotá, o jornal não para de recolher testemunhos que insistem na juventude e espontaneidade da iniciativa que nasceu no portal Facebook: “Os promotores éramos jovens, mas compareceu gente de todas as idades. A partir de hoje inicia-se um novo caminho”.

Quem é o Facebook? Quem está por traz desse projeto? É tão espontâneo com dizem? Obedece só a iniciativas cidadãs sem nenhuma ideologia por traz?

É apresentado na Wikipedia como um site de redes sociais. Os usuários podem participar em uma ou mais redes dependendo da sua situação acadêmica, de trabalho ou região geográfica.

O jornalista Tom Hodgkinson o pesquisou e forneceu muitas senhas no jornal britânico The Guardian em janeiro de 2008. A maior parte das informações a seguir é oriunda deste trabalho.

O Facebook afirma ter 59 milhões de usuários ativos, incluindo sete milhões no Reino Unido, o terceiro cliente em tamanho depois dos EUA e Canadá. Segundo Hodgkinson seriam 59 milhões de ingênuos que ofereceram sua informação de identidade e suas preferências de consumo para um negocio norteamericano do qual nada sabem. Neste momento dois milhões de pessoas são acrescidos por semana. O Facebook terá mais de 200 milhões de usuários ativos daqui a um ano.

Entre os grupos de usuários temos “Um milhão de vozes contra as FARC” (130.000 inscritos), “Mil pessoas que odeiam Hugo Chavez” (1.300 abonados) e “Eu também quero ver morto os das FARC” (8.200 usuários), o que nós dá uma idéia de sua linha ideológica no que se refere à Colômbia.

Segundo informou uma fonte especializada que pediu anonimato, descobriu-se que o Facebook é uma arma militar de espionagem e desestabilização, criada pelos setores mais extremistas da direita (os sinistros “neocons” ou neoconservadores) para obter informação dos usuários e manipulá-los com fins geopolíticos e estratégicos.

Segundo essa fonte, participam no Facebook todos os 16 serviços de inteligência dos EUA, começando pela CIA, o Pentágono e o Departamento de Defesa. “Coletam e guardam tudo. Nada lhes escapa: fotos, e-mails, conversas, imagens, música, etc. Com isso estabelecem um ‘perfil’ psicológico, sociológico e político de cada pessoa e assim os mantêm sob vigilância. Uma vez que a pessoa ingressa, não a deixam sair, e se esta consegue, toda a informação privada fica armazenada lá”.

Na área da exploração comercial e consumo, segundo The Guardian, encontram-se comerciantes sem escrúpulos de Silicon Valley, Coca Cola, Microsoft, Blockbuster, Sony Pictures, Verizon, e Conde Nast, entre outras.

“È um serviço que fomenta o individualismo para manter um maior controle da massa. Geralmente, faz os imbecis acreditar que eles são importantes e os levam a cometer qualquer ato que os verdadeiros interessados desejem sem ter uma participação direta que os implique. Se coloco uma boa foto minha com uma lista das minhas coisas favoritas, posso construir uma representação artificial de quem sou. Também estimula uma competitividade inquietante na amizade: pareceria que com os amigos a qualidade não conta e a quantidade é rainha”, acrescenta Tom Hodgkinson.

“Não se necessita muito cérebro para fazer parte do grupo e sempre se incentiva a recrutar mais ‘amigos’, acrescenta. A pessoa vale pelo número de ‘amigos’ que recruta. Não é a toa que os EUA, Canadá e Reino Unido são os países com maior número de participantes”, casualmente são os que mantêm mais tropas de ocupação no Iraque e Afeganistão.

Facebook é um projeto bem financiado, por trás dele encontra-se um grupo de capitalistas de risco de Silicon Valley, com uma clara e definida ideologia que refletem em seu portal e esperam difundir pelo mundo. Como PayPal, é uma experiência social, uma expressão de uma classe particular de neoconservadores. No Facebook pode-se ser tão livre quanto se queira, sempre que não importa sofrer um bombardeio de publicidade das maiores marcas do mundo. Como no caso de PayPal, as fronteiras nacionais são coisa do passado.

Ainda que o projeto fosse concebido inicialmente pela estrela das capas nos meios de comunicação, Mark Zuckerberg, a verdadeira pessoa por trás do Facebook é o capitalista de risco e filosofo futurista de Silicon Valley, Peter Thiel. Apenas três membros integram o conselho do Facebook, são Thiel, Zuckerberg e um terceiro investidor chamado Jim Breyer, de uma empresa de capital de risco chamada Accel Parteners. Thiel investiu 500.000 dólares quando os estudantes de Harvard Zuckerberg, Chris Hughes e Dustin Moskowitz foram visitá-lo em São Francisco, em junho de 2004, pouco depois de lançar o site. Dizem que Thiel possui, atualmente, 7% do Facebook, o que corresponde a um bilhão de dólares.

Thiel é geralmente considerado em Silicon Valley e no cenário do capital de risco dos EUA como um gênio liberal, no sentido econômico do termo. É co-fundador e presidente do sistema bancário virtual PayPal, que vendeu o EBay por 1,5 bilhões de dólares, embolsando pessoalmente 55 milhões. Também dirige um fundo de risco de 3 bilhões de dólares chamado Clarium Capital Management e um fundo de capital de risco chamado Founders Fund.

A revista Bloomberg Markets recentemente o chamou de “um dos gerentes de maior êxito no ramo de fundos de risco do país”. Ganhou dinheiro apostando no aumento do preço do petróleo e predizendo corretamente que o dólar se debilitaria. Ele e seus colegas de uma riqueza insultante de Silicon Valley foram qualificados recentemente como a “máfia de PayPal” pela revista Fortune, cujo jornalista também assinalou que Thief tem um assistente uniformizado e um automóvel McLaren de 500.000 dólares.

Mas Thiel é mais do que um capitalista astuto e avarento. É um filosofo futurista e um ativista neoconservador. Graduado em filosofia em Stanford, é coautor de um livro de 1998 chamado “O mito da diversidade”, um ataque detalhado à ideologia progressista e multicultural que dominava em Stanford. Afirmou que a “multicultura” supunha uma diminuição das liberdades individuais.

Quando estudante de Standford, Thiel fundou uma revista de direita, que ainda existe, chamada The Stanford Rewiev. É também membro de TheVanguard.org, grupo de pressão neoconservador que opera na Internet e que foi estabelecido para atacar MoveOn.org, grupo de pressão progressista que trabalha na rede. Thiel se autodenomina “muito liberal”, na expressão econômica do termo.

TheVanguard é dirigido por Rod D. Martin, um filosofo capitalista consideravelmente admirado por Thiel.

Resumo do seu site na Internet a seguir dá uma idéia de sua visão do mundo: “TheVanguard.org é uma comunidade on-line de norteamericanos que acreditam em valores conservadores, o livre mercado e o governo limitado como o melhor meio de levar esperança e cada vez mais oportunidade a todos, especialmente aos mais pobres entre nós. Seu objetivo é promover políticas que redesenhem os EUA e o planeta”. TheVanguard descreve suas políticas como “reaganista/thatcherista”. A mensagem de seu presidente diz: “Hoje ensinaremos a MoveOn, Hillary e aos meios da esquerda algumas lições que nunca imaginaram”.

Claramente, o Facebook é outra experiência supercapitalista: pode se ganhar dinheiro com a amizade? Podem se criar comunidades livres de fronteiras nacionais e depois vender-lhes Coca-Cola?

O terceiro membro do conselho do Facebook é Jim Breyer. É sócio da empresa de capital de risco Accel Partners, que investiu 12,7 milhões de dólares no Facebook em abril de 2005. Membro também do conselho de gigantes norteamericanos como WalMart, de reconhecida trajetória de abusos trabalhistas, e Marvel Entertainment. Também foi presidente da Associação Nacional de Capital de Risco (NVCA).

Este é o tipo de gente que provoca muitos dos acontecimentos econômicos dos EUA porque investem nos novos jovens talentos, os Zuckerberg e gente do tipo. A mais recente ampliação de capital do Facebook foi dirigida por uma empresa chamada Greylock Venture Capital, que investiu a soma de 27,5 milhões de dólares. Um dos principais sócios da Greylock chama-se Cox, outro ex-presidente da NVCA, que também está presente no conselho da In-Q-Tel.

O que é In-Q-Tel? Bem, acreditem ou não (e comprove no seu site de Internet), é a ala de capital de risco da CIA. Depois do 11 de setembro, a comunidade dos serviços de inteligência ficou excitada tanto com as possibilidades de novas tecnologias e das inovações que estavam ocorrendo no setor privado, que em 1999 estabeleceu seu próprio fundo de capital de risco, In-Q-Tel, que “identifica e associa-se com companhias que desenvolvem tecnologias de vanguarda para ajudar a levar essas soluções para a CIA e a comunidade de inteligência dos EUA para executar suas missões”.

O departamento de defesa dos EUA e a CIA amam a tecnologia porque facilita a espionagem. “Temos que encontrar novas formas de dissuadir novos adversários”, disse o secretário de defesa Donald Rumsfeld em 2003. “Temos que dar o salto para a era da informação, que é o fundamento critico de nossos esforços de transformação”, acrescentou. O primeiro presidente da In-Q-Tel foi Gilman Louie, que prestou serviços no conselho da NVCA com Breyer.

Outra personagem chave na equipe da In-Q-Tel é Anita K. Jones, ex-diretora de pesquisa e desenho da defesa para o departamento de defesa dos EUA e, junto com Breyer, membro do conselho da BBN Technologies. Quanto Jones deixou o departamento de defesa dos EUA, o senador Chuck Robb lhe fez a seguinte homenagem: “Ela juntou as comunidades da tecnologia e de operações militares para desenhar planos detalhados para sustentar o domínio dos EUA no campo de batalha no próximo século”.


BARRAS E ESTRELAS

Entretanto, mesmo que não se aceite a idéia de que Facebook seja uma espécie de extensão do programa imperialista norteamericano cruzado com um instrumento de coleta de informação em massa, não há como negar que como negocio, é puramente genial. Alguns ingênuos da rede sugeriram que a sua valorização de 15 bilhões de dólares é excessiva, mas o jornalista do The Guardian, Tom Hodgkinson, a considera muito modesta. Segundo ele, o seu potencial de crescimento é virtualmente ilimitado. “Queremos que todos possam utilizar o Facebook”, diz a voz impessoal do ‘grande irmão’ no site da Internet.

E foi o enorme potencial do Facebook que levou à Microsoft a comprar 1,6% do negocio por 240 milhões de dólares. Um boato recente diz que o investidor asiático Lee Ka-Shing, o nono homem mais rico do mundo, comprou 0,4% do Facebook por 60 milhões de dólares.

De tal forma que tudo isto é o que há por traz da “espontânea” mobilização pela Internet contra as FARC-EP: dinheiro e CIA. Ou seja, o mesmo de sempre!


[1] Hodgkinson, Tom With friends like these... The Guardian. 14-1-2008

terça-feira, 24 de abril de 2012

AGENDA COLÔMBIA BRASIL SAÚDA O LANÇAMENTO DO MOVIMENTO POLÍTICO MARCHA PATRIÓTICA

“porque lo que él no dejó hecho, sin hacer está hoy: porque Bolivar tiene que hacer en América todavía” José Martí A Agenda Colômbia-Brasil, processo de construção de solidariedade política entre os povos, organizações sociais, movimentos populares e partidos de esquerda do Brasil e da Colômbia, saúda e comemora o lançamento do Movimento Político Marcha Patriótica e a constituição de seu Conselho Patriótico Nacional. A Agenda Colômbia-Brasil é um espaço social e político que busca tornar visível a realidade colombiana e gerar solidariedade política entre os povos com o objetivo de apoiar as lutas dos colombianos e colombianas, de lutar pelo reconhecimento dos direitos humanos e políticos tanto de pessoas quanto de organizações que se opõem ao caráter excludente do governo, que tem prevalecido ao largo da história do Estado colombiano. Militam pessoas e organizações engajados na bandeira pela solução política do conflito, que já dura mais de 6 décadas e que é consequência das agravantes condições sociais, políticas e econômicas. Como organização, a Agenda Colômbia-Brasil é autônoma, horizontal, caracterizando-se pela igualdade de gênero, pela direção coletiva e pela formação permanente. Acredita na solidariedade entre os povos e trabalha por ela, principalmente entre os povos da América Latina. Luta contra o imperialismo, a militarização e a violação dos direitos humanos. É francamente favorável à livre determinação dos povos, à paz no mundo, à justiça social, ao fim da impunidade, ao resgate e preservação da memória e, especialmente, à superação da grave situação social e política em que vive o povo colombiano. A Agenda Colômbia-Brasil faz parte do Movimento Político Marcha Patriótica porque somos homens e mulheres pertencentes ao povo colombiano e que tivemos de sair de nossa Pátria em busca de oportunidades de vida que, na Colômbia, nos são negadas pela adoção de políticas econômicas exploradoras, injustas e excludentes; ou ainda, porque nossas opiniões políticas foram perseguidas pelo Estado e pelos grupos de extrema direita que silenciam e criminalizam o pensamento crítico e qualquer intenção social oposicionista. Somos homens e mulheres que ainda vivem na Colômbia, porém em situação de refugiados, dentro do território nacional, para protegerem suas vidas, pessoas que não só perderam suas terras e outros bens e agora lhes retiram a capacidade de exigir seus direitos mais elementares. Somos homens e mulheres brasileiros que compartilhamos a nossa luta e nossos anseios de transformação do Estado colombiano numa verdadeira democracia, com paz e justiça social, pela liberdade dos povos. Todos e todas, colombian@s e brasileir@s, estamos em Marcha pela Segunda e Definitiva Independência Americana, que nos permita construir a Pátria Grande, sonhada por Bolívar, na qual José Inácio de Abreu e Lima lutou e pela qual muitas pessoas, homens e mulheres, têm lutado e vivido. Como Agenda Colômbia-Brasil nos comprometemos publicamente a construir a Marcha Patriótica no Brasil, como luta popular e a construção de poder alternativo. Para construirmos unidade e lutar juntos com o povo brasileiro solidário pela construção de uma nova Colômbia, onde caibam todos e todas, por um Brasil melhor e por uma América livre e soberana. Por isso, saudamos o lançamento da Marcha Patriótica como movimento político, bem como a constituição de seu Conselho Patriótico Nacional, sua luta política e social, a sua busca de uma verdadeira democracia e o seu compromisso com a defesa das causas populares e de todas as pessoas afetadas pelas políticas capitalistas e neoliberais. Comemoramos esse momento com todas as pessoas que já fazem parte da Marcha Patriótica, com sua organização que nasce desde as bases e de todos os rincões da Colômbia. Que cresce, se fortalece e se converte em uma verdadeira alternativa de transformações democráticas e de poder popular para o povo colombiano e para a luta continental americana. Por isso dizemos, como Pablo Neruda à Bolívar: “em direção à esperança a tua sombra nos conduz, (…) tua voz nasce de novo, a tua mão outra vez nasce (…)”. A Marcha está nascendo como movimento político e nela lutaremos pela segunda e definitiva independência da Colômbia e dos povos da América. Continuaremos dizendo até que seja concretizado: “(…) Libertador um mundo de paz nasceu em teus braços. /A paz, o pão, e o trigo de teu sangue nasceram,/ de nosso jovem sangue vindo de teu sangue/ sairão paz, pão e trigo para o mundo que construiremos…” Viva a Solidariedade entre os Povos do Brasil e da Colômbia! Viva a Pátria Grande Americana! Viva o Conselho Patriótico Nacional! Viva a Marcha Patriótica pela segunda e definitiva independência! Agenda Colombia-Brasil A Solidariedade é dos Povos //////////////////////////////// com apoio do PCB

domingo, 22 de abril de 2012

A Marcha Patriótica propõe ao povo e à sociedade colombiana em seu conjunto a seguinte Plataforma que guiará seu acionar político:

1.    Solução política do conflito social e armado 2.    Democratização da sociedade, do Estado e do modelo econômico 3.    Modo alternativo de vida e de produção e, novas forma de poder e economia 4.    Garantia efetiva e materialização dos direitos humanos integrais 5.    Dignificação e humanização do trabalho 6.    Reparação integral às vítimas da violência estatal e paramilitar 7.    Organização democrática do território e reformas agrária e urbana integrais 8.    Cultura para a solidariedade e a transformação da ordem social 9.    Integração latinoamericana, internacionalismo e continuidade das lutas pela independência 1.    Solução política do conflito social e armado A Marcha Patriótica propugna pela solução política do conflito social e armado. Entendemos essa solução como um processo rumo à superação das causas e fatores econômicos, políticos e sociais que geraram sua existência e, levam a que se prolongue de forma indefinida. Em consequência, busca deixar atrás entendimentos que reduzem o conflito exclusivamente a uma contenda militar e limitam as possibilidades de sua solução a uma saída militar, ou a um acordo entre as partes diretamente comprometidas nessa contenda. A Marcha considera que o diálogo e a negociação, com a mais ampla participação social e popular, de todos os setores interessados da sociedade e, da comunidade internacional, se constituem em um imperativo ético e político para avançar na construção da paz democrática com soberania popular e justiça social. Da mesma forma, faz suas as vozes pela humanização da guerra, a aplicação das normas do Direito Internacional Humanitário, incluindo o tratamento que devem receber os prisioneiros de guerra. A Marcha anseia a superação da intervenção militar estrangeira e a crescente militarização da vida política, econômica, social e cultural, assim como das formas de domínio e controle que de eles se derivam. De maneira especial a Marcha manifesta seu compromisso de dar continuidade aos inúmeros esforços sociais e populares de comunidades campesinas, indígenas e afrodescendentes e de amplos setores da sociedade, encaminhados à realização de constituintes regionais e locais e de uma Assembleia Nacional de Constituintes regionais e locais pela solução política e a paz. 2.    Democratização da sociedade, do Estado e do modelo econômico A Marcha Patriótica propugna por uma transformação estrutural da sociedade e do Estado tendente à sua organização democrática, real, direta e autogestionária, que supere em forma definitiva seu caráter autoritário, suas atuais configurações criminais e mafiosas, assim como o agenciamento reiterado de interesses imperiais e transnacionais e, de grandes poderes financeiros e latifundiários locais. A organização democrática compreende todos os âmbitos da vida social, o regime político, o sistema político e de partidos, todos os poderes públicos, incluídas as forças militares e de polícia; igualmente, todas as instituições e instâncias do aparato estatal comprometidas com o desenho e a execução das políticas, em especial, do planejamento, do orçamento para o desenvolvimento da nação e, da banca central. Estas, ademais de serem expressivas dos interesses do povo trabalhador, devem estar concebidas para resolver seus principais necessidades e disseminar suas potencialidades nos diferentes âmbitos da vida social, com a mais ampla participação direta e uma inteira capacidade de decisão. A Marcha Patriótica busca a superação estrutural do predominante modelo neoliberal em todas suas dimensões políticas, econômicas, sociais e culturais, assim como da política econômica que ,o sustenta, em particular, em sua forma econômica atual de mercantilização extensa e profunda de toda a vida social, de crescente endividamento estatal e privado, de exploração intensiva e destruidora das fontes e dos elementos naturais, energéticos, minerais e da biodiversidade; quer dizer, de uma economia que só deixa o buraco e, aumenta a especulação financeira que debilita a atividade produtiva e se acompanha da tercerização precária, ao mesmo tempo, que deteriora as condições de vida e de trabalho da classe trabalhadora e do povo em geral, para favorecer um punhado de corporações transnacionais e de grupos econômicos locais. Todo isso, sob o império de capital financeiro e de uma política econômica estatal de proteções e incentivos extremos e de subsídios ao grande capital, que castigam a pequena e meia produção, acentua a histórica relação de dependência diante dos poderes imperiais e ofende a soberania nacional. A Marcha é a favor da superação da crescente submissão das economias domésticas, das atividades produtivas e da própria atividade estatal através à hegemonia e à especulação do capital financeiro transnacional e local. A Marcha propõe o fortalecimento da atividade produtiva, industrial e agrária, considerando de maneira especial a pequena e meia produção e as diversas formas de economia popular, visando propiciar novas condições que levem à autonomia e à soberania econômicas, para assim satisfazer as necessidades do povo e também, dimensionar ao máximo suas potencialidades. 3.    Modo alternativo de vida e de produção e novas formas de poder e de economia A Marcha Patriótica tem o firme propósito de lutar pela superação da organização capitalista do modo de vida e produção, em especial, das atuais formas neoliberais que, baseadas na precarização do trabalho, a privatização, o despojo e a depredação da natureza, têm concentrado de forma extrema a propriedade e a riqueza social para o usufruto e exclusivo beneficio de uns poucos, mas poderosos, grupos econômicos. A Marcha busca a reapropriação social da propriedade e da riqueza privatizadas, expressada principalmente nos bens públicos e comuns, com miras a transformar a estrutura das condições de produção e de distribuição e garantir seu usufruto para o melhoramento das condições de trabalho e do melhor-estar do povo em geral. Nesse sentido, a reapropriação social de bens públicos e comuns, como a educação, a saúde, a cultura, o esporte, as fontes e os elementos naturais e de biodiversidade, a água, o meio ambiente, os espaços urbano e rural, entre outros, constituem referentes fundamentais da política que promoverá la Marcha. La Marcha Patriótica propugna por um relacionamento não destruidor nem predador com a natureza; assume que ela deve ser concebida como fonte de vida antes que de exploração de recursos e considera que as relações a construir devem basear-se nos princípios da sustentabilidade, da integralidade da biodiversidade e da reprodução de suas condições. As transformações sociais que impulsiona Marcha são, ao mesmo tempo, transformações socioambientais, que levem à redefinição do modo de produção e de vida. Tal redefinição se encontra na crítica da concepção de desenvolvimento imposta pelo capitalismo, do consumismo e da produção do desperdiço; portanto, na erradicação das condições de mercantilização extrema e de de gradação do trabalho imperam na sociedade. Em função desse propósito, a Marcha apoia e promove todas as formas de organização autônoma e autogestionária da política, do poder e da economia, através das organizações dos povos indígenas, processos constituintes locais, congressos ou juntas e assembleias populares, entre outras, ou de economias alternativas e de resistência, que se orientem mediante referentes distintos aos da economia do lucro pelo lucro. De maneira particular, a Marcha acompanha formas de organização e de cooperação coletivas da vida e da economia das comunidades camponesas, indígenas, afrodescendentes, raizaís e quilombolas. Em todas elas vê possibilidades para a construção alternativa da política, do poder e da economia. 4.    Garantia efetiva e materialização dos direitos humanos integrais A transformação estrutural da sociedade, do Estado e do modelo econômico neoliberal predominantes, constitui-se no fundamento do estabelecimento de uma ordem material alternativo do poder e do direito, baseado na garantia efetiva dos direitos políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais desde uma concepção de integralidade e indivisibilidade dos direitos, com um enfoque de gênero, diferencial, intercultural e pluriétnico. Considerando a profunda desigualdade e os elevados níveis de pobreza, a Marcha reivindica de maneira especial os direitos que comprometem as condições materiais da vida e da existência da população, tais como os direitos ao trabalho, educação, saúde, segurança social, moradia, cultura, ao esporte; propugna por sua desmercantilização e demanda a pela responsabilidade do Estado sobre princípios de universalidade, gratuidade e devida atenção, acompanhada da correspondente disposição de recursos, o qual supõe uma modificação substancial da estrutura atual do orçamento público. A Marcha declara seu compromisso com os direitos das mulheres, das crianças e dos jovens, dos aposentados e, em geral, dos adultos, das comunidades camponesas, indígenas, afrodescendentes, raizais e quilombolas, assim como da comunidade LIGTI. A Marcha faz sua toda produção de direito tendente ao melhoramento do modo de vida e de produção e ao relacionamento não predador com a natureza, como é o caso dos direitos coletivos emergentes ao água, ao território, aos serviços públicos e à identidade genética, entre outros. 5.    Dignificação e a humanização do trabalho A Marcha Patriótica, busca uma transformação estrutural das condições de trabalho e de ingresso da classe trabalhadora e, em geral, de todo o povo, tanto das áreas rurais quanto dos centros urbano, com miras à sua dignificação e humanização. Nesse sentido, luta pela erradicação definitiva de todas as formas contratuais civis e comerciais que contribuem a sua precarização e sobre-exploração e propiciam o trabalho informal dos camelos. A Marcha será contra as práticas de desmotivar a vinculação dos operários à organização sindical e contra o assassinato de dirigentes sindicais e ativistas. A Marcha aspira ao estabelecimento de um regime de direitos trabalhistas individuais e coletivos que garante o trabalho digno e o melhor-estar da classe trabalhadora e, em geral da população. A Marcha manifesta se compromisso de contribuir aos processos de organização e politização da classe trabalhadora e da mais ampla unidade de suas organizações. O trabalho digno deve se fundamentar igualmente na geração de condições para ter o direito ao conhecimento científico e técnico e aos saberes ancestrais e populares. Assim mesmo, supõe a organização e disposição do sistema educativo, de formação e de capacitação para superar a dependência científica e tecnológica e propiciar usos do conhecimento tendentes à transformação do modo de vida e de produção. A Marcha manifesta seu compromisso com políticas educativas e de ciência e tecnologia, encaminhadas a esses propósitos. A Marcha impulsionará políticas de Estado tendentes a reverter a redistribuição regressiva do ingresso imposta pelo neoliberalismo e a superar as condições estruturais, que gerem a desigualdade social e produzem a pobreza, a fome e a miséria. Nesse sentido, considera indispensável uma política de tributação direta, progressiva e equitativa, baseada no princípio de que quem mais rendas e patrimônio têm, mas impostos devem pagar, com miras a financiar as obrigações sociais do Estado, incluso o trabalho e o ingresso dignos. 6.    Reparação integral das vítimas da violência estatal e paramilitar A Marcha Patriótica faz suas as exigências e reivindicações das vítimas do exercício estrutural da violência estatal, ocasionadas pelo acionar da máquina de extermínio e terror conformada pelas forças do Estado, grupos narcoparamilitares e setores do empresariado local e transnacional para desatar o ciclo de violência das últimas três décadas, produzir o deslocamento forçado e a expropriação massiva de terras e propriedades, mais grande de nossa historia recente, eliminar formas de resistência e de oposição social e política e, garantir assim o modelo neoliberal e a chamada confiança inversionista. A Marcha acolhe os requerimentos pela verdade, a justiça, a reparação integral, as garantias da não repetição e a reconstrução da memória histórica; exige o pleno esclarecimento dos crimes de Estado. Igualmente, assume como suas as demandas da população expropriada e deslocada de forma forçada pela restituição de suas terras e demais propriedades, a indenização pelo não usufruto e, o estabelecimento, derivado do retorno, de condições dignas de vida, trabalho e existência. Nesse sentido, a Marcha assinala a plena responsabilidade do Estado na materialização dessas demandas, assim como na correspondente disposição de recursos públicos para efetivá-las. Igualmente, chama a atenção sobre o desenvolvimento de marcos normativos que pretendem legalizar o despojo, reduzir a reparação integral à restituição e decretar formalmente o fim de um ciclo de violência que não tem concluído e, dado o modelo econômico que impera, mantém intactas as estruturas de expropriação e despojo. De maneira específica, a Marcha reivindica o direito das vítimas ao reconhecimento e a reconstrução popular de sua memória histórica, assim como o resgate de sua dignidade. 7.    Organização democrática do território e reformas agrária e urbana integrais A Marcha Patriótica declara a defesa da terra e do território como uma prioridade e confirma sua decisão de lutar por uma produção social do território que garante o melhor-estar do povo. A Marcha faz sua as causas das forças políticas e sociais e dos movimentos socioterritoriais que se proponham enfrentar a decisão política da classe dominante de propiciar um processo de reprimarização empobrecedora da economia, baseado na acumulação especulativa transnacional que leva à exploração intensiva dos recursos naturais, especialmente mineiros e hidrocarbonetos, à implantação de megaprojetos infraestruturais e de geração de energia hídrica, à produção de agrocombustíveis e, à exploração indiscriminada da floresta. Todo isso, acompanhado de impactos socioambientais imensos. Frente às pretensões da política estatal de terras, que promove a maior concentração latifundiária, da propriedade, a compra massiva por parte de investidores transnacionais e a especulação financeira, mediante a ativação dos dispositivos do mercado de terras, a Marcha reafirma a aspiração histórica dos camponeses colombianos de uma Reforma Agrária Integral, baseada na democratização da propriedade com a consequente erradicação do latifúndio, o estímulo à pequena e media produção agrícola e a geração de condições para garantir a autonomia, a soberania e a segurança alimentar, assim como o melhoramento das condições de vida da população rural. A Marcha propõe uma organização democrática do território que privilegie relacionamentos não predadores com a natureza, garante a articulação do universo populacional rural com o urbano, com fundamento no princípio de justiça territorial e promova a produção de alimentos com seu sistema de coleta, transporte, centros de armazenamento e venda, ao tempo que possibilite os avanços tecnológicos da pequena e meia mineração, assim como a mineração artesanal com sustentabilidade socioambiental e, por fim, ofereça aos plantios proscritos alternativas distintas às pulverizações aéreas. A Marcha assume como sua a defesa dos territórios e dos planos de vida das comunidades camponesas, indígenas, afrodescendentes, raizais e quilombolas e, apoia firmemente os processos de zonas de reserva camponesa, os resguardos indígenas e os conselhos comunitários e demais formas existentes e, e respalda toda iniciativa em favor da produção coletiva, autônoma e autogestionária do território. A Marcha defende uma organização democrática da cidade, do governo e do espaço urbanos; se opõe, portanto, a toda produção do território que se fundamente na segregação e a discriminação socioeconômicas e conceba a cidade como centro de serviços e de provisão de força de trabalho e infraestrutura em função exclusiva dos grandes negócios e de fluxos do capital transnacional. Nesse sentido, defende um ordenamento urbano que garanta o aceso e desfrute de serviços públicos em cada moradia e, de transporte, assim como de todos os direitos necessários para o melhor-estar do povo. A Marcha acompanha todos os movimentos, processos e expressões da organização do povo nos setores urbanos, que visem a transformação democrática, política, econômica, sociocultural e artística da cidade e da sociedade em geral. De maneira específica manifesta seu compromisso com as causas do movimento dos estudantes, dos jovens, e em geral, do povo, por uma educação soberana, digna e popular. A Marcha Patriótica, propõe uma reforma urbana integral que acabe com a especulação dos terrenos urbanos e garante o aceso e a preservação das moradias dignas para o povo, superando em forma definitiva o submetimento dos moradores urbanos através do crédito hipotecário à dinâmica especulativa do capital financeiro. 8.    Cultura para la solidariedade e a transformação da ordem social A Marcha Patriótica propugna por uma transformação cultural do modo de vida e de produção imposto pelo neoliberalismo. Em contraposição à exaltação do individualismo e a competência a qualquer custo, a Marcha tem como referente os valores da solidariedade, a cooperação e a fraternidade. Sua proposta é essencialmente humanizadora, humanista e descolonizadora. Assim mesmo, reivindica a defesa da soberania cultural, assim como da cultura popular e, em particular, dos povos ancestrais, indígenas e afrodescendentes. A Marcha considera necessária uma redefinição substancial do processo educativo, em todos seus níveis e modalidades, sobre a base da promoção de pedagogias para a emancipação. Propugna pela democratização da propriedade sobre os meios de comunicação, erradicando sua atual concentração. O mesmo é válido para a produção de informação e de opinião. Nesse sentido, apoia e promove a produção social e popular de informação, opinião e comunicação, assim como os processos de construção de sentido e de referentes simbólicos do povo em geral. A Marcha concebe a construção cultural e artística como um componente fundamental da transformação da ordem social. Por isso, promove sua democratização em todas suas expressões e confirma seu compromisso com todas as expressões culturais e artísticas do povo, dos jovens, das mulheres, dos trabalhadores, das comunidades camponesas, indígenas, afrodescendentes, numa palavra, do povo em geral. 9.    Integração latinoamericana, internacionalismo e continuidade das lutas pela independência A Marcha Patriótica é partidária da superação da hegemonia imperial coletiva, que se sustenta no poderio econômico, tecnológico, militar e cultural; rechaça o domínio do capital financeiro transnacional baseado nos poderes corporativos, as qualificadoras de risco, os organismo multilaterais e os dispositivos normativos supranacionais protetores dos investimentos transnacionais. A Marcha Patriótica se entende assim mesma como parte de todos os processos, esforços e iniciativas que em diferentes regiões do planeta, a partir de diversos entendimentos teóricos e ideológicos e os mais variados projetos políticos, propugnam pela superação dos limites históricos da organização econômica e social capitalista, expressados de maneira descarnada na atual crise mundial A Marcha Patriótica luta pela construção de uma nova ordem mundial, político, econômico, cultural, alimentício, socioambiental, militar e de segurança, sustentado nos princípios do respeito à soberania, a não intervenção, a autodeterminacão e o internacionalismo dos povos. Igualmente, se encontra comprometida com o sonho bolivariano de integração dos povos. Por isso, acompanha todos os processos que promovem a dignidade, a solidariedade, a cooperação e a integração regional. A Marcha apoia os processos políticos impulsionados pelos governos e lutas sociais e populares em nível mundial, e de forma especial em Nossa América, tendentes à transformação socioeconômica e cultural, à consolidação das condições que possam garantir o melhor-estar do povo e, à superação da organização capitalista até agora predominante. A Marcha busca o encerramento definitivo e para sempre das relações de dependência de nosso país com o Imperialismo e pretende com isso restabelecer a soberania e a dignidade nacional. Nesse sentido a Marcha rechaça os Tratados de Livre Comércio e, em geral, todos os tratados, acordos ou normas que violentem a soberania nacional, especialmente de aqueles de alcance militar, cultural e econômico. Se compromete a sua revisão, denuncia ou desconhecimento, segundo o caso. A Marcha Patriótica se inscreve dentro das trajetórias de rebeldia e de gestas emancipadoras e independentistas do povo colombiano e dos povos de Nossa América e, dentro das experiências de construção de projetos de sociedade alternativos ao capitalismo. Reivindica as lutas de todos os homens e mulheres que, através de nossa história, em campos e cidades têm oferendado sua vida pela libertação e a independência de nosso povo. A Marcha Patriótica faz seu o ideário do Libertador Simón Bolívar e de todos os pensadores de Nossa América que têm contribuído a conceber a Pátria Grande, digna e soberana, assumindo um compromisso ético e político pela definitiva independência.

Sobre os 90 anos do Partido Comunista Brasileiro, por Miguel Urbano Rodrigues

Recordei lutas, recordei camaradas que contribuíram para me tornar comunista. Todos hoje mortos: Luiz Carlos Prestes, Gregório Bezerra, Luís Maranhão, Mario Schemberg, Dias Gomes, Jorge Amado, Fernando Santana, João Saldanha, Giocondo Dias, Caio Prado, Mário Lago e muitos outros. O renascimento do PCB foi lento, difícil. É ainda um pequeno partido num país de 200 milhões de habitantes. Mas a actual linha revolucionária, traçada por uma direcção marxista-leninista e sustentada por quadros de grande qualidade, proporcionou-lhe em poucos anos um grande prestígio. Raras vezes um partido comunista se recuperou após uma crise profunda que, no desenvolvimento de uma estratégia e uma táctica incompatíveis com princípios e valores do marxismo-leninismo, implique na prática a renuncia ao objectivo principal: a tomada do poder rumo à construção do socialismo. A desagregação da URSS e a restauração do capitalismo na Rússia contribuíram decisivamente para que a social democratização de muitos partidos comunistas e em alguns casos para o seu desaparecimento ou transformação em partidos da burguesia neoliberal. Nesse panorama sombrio, o Partido Comunista Brasileiro emerge como excepção que reconforta. À beira do abismo, após mais de uma década de vida letárgica, renasceu em 1992, reconstruiu-se como organização marxista-leninista e retomou a sua vocação de partido revolucionário e internacionalista. Essa realidade ficou transparente nas jornadas que assinalaram as comemorações no Rio de Janeiro do 90º aniversário da sua fundação. Num breve artigo como este não é possível proceder a uma balanço mesmo superficial dessas comemorações e do seu significado. A dificuldade é maior porque o Seminário «PCB 90 Anos de Lutas», pelo objectivo, estilo, originalidade e nível ideológico de muitas intervenções foi diferente de tudo o que se podia esperar de uma iniciativa com tais características. Durante três dias, no salão do Sindicato dos Professores do Rio, alguns dos oradores não se limitaram nas suas comunicações a evocar fases da história do Partido. Foram mais longe, inovaram ao romper tabus na reflexão sobre acontecimentos polémicos, na abordagem pública de temas ocultos por um manto de silêncio. Representantes de três gerações, identificados com essa aspiração, iluminaram páginas de uma história épica e dolorosa, mal conhecida, contribuindo assim para a sua desejada concretização. Alguns derrubaram barreiras com coragem e desassombro. Ivan Pinheiro, o secretário-geral, apontou o caminho ao afirmar que se «acertamos muito (…) também já erramos muito.» Na mesa em que Anita Prestes e ele falaram sobre «O reformismo e a tentativa de liquidação do PCB», a filha de Luiz Carlos Prestes, hoje historiadora prestigiada, orientou o discurso sobretudo para o prolongado choque do seu pai com a maioria do Comité Central que defendia um desenvolvimento capitalista autónomo e democrático do Brasil, estratégia que acorrentou o partido a uma aliança tácita com sectores da burguesia nacional supostamente antiimperialitas. Mauro Iasi, Edmilson Costa e José Paulo Neto foram brilhantes na descida às raízes da política que distanciou o PCB da sua vocação revolucionária. Com estilos diferentes, valorizaram a resistência das bases e de muitos dirigentes à estratégia reformista da conciliação, resistência que, finalmente, tornou possível o renascimento do Partido que, na fidelidade aos princípios, reafirma hoje com firmeza, olhos num futuro sem data, que a meta da Revolução Brasileira – a que lhe imprime o carácter - é a construção do socialismo. A HISTÓRIA ESQUECIDA Foi com emoção que acompanhei esses debates e intervim no Seminário internacional que se seguiu ao dedicado aos temas nacionais. Vivi em São Paulo, exilado, de l957 até à Revolução portuguesa e, como militante do PCB, tive a oportunidade de participar modestamente das lutas do povo brasileiro. Por decisão do ministro da Justiça um livro meu foi apreendido. Detiveram-me algumas vezes e fui submetido a prolongado interrogatório por um inspector da famigerada Operação Bandeirantes, a criminosa organização militar- terrorista da ditadura. Vivi como internacionalista as crises que então atingiram o PCB. Elas são evocadas num lúcido artigo dos camaradas Ricardo Costa, Milton Pinheiro e Muniz Ferreira, publicado na edição especial de «Imprensa Popular», órgão do Partido e no seu sítio na internet (www.pcb,org,br) Esse trabalho, abarcando sobretudo as décadas de 50 e 60, é uma página de história. Os autores, membros do actual Comité Central, despojam de secretismos as sucessivas e complexas disputas internas surgidas no PCB a partir do relatório secreto de Krutchov ao XX Congresso do PCUS. Todas envolveram a definição da estratégia e da táctica correctas a adoptar para a construção da alternativa socialista. Da primeira crise surgiu o PC do B, uma dissidência que, empolgada pelas teses maoistas da «guerra prolongada», iniciou uma guerrilha heróica mas romântica nas selvas do Pará, destruída pelo exército em autêntica chacina. Posteriormente aderiu ao «marxismo albanês» de Enver Hoxha e, finda a ditadura, optou pela via institucional, integrou a coligação que elegeu Lula e actualmente apoia a política de Dilma Roussef em cujo governo participa. Após o Acto Institucional nº5, em 1968, a ditadura assumiu facetas de fascismo castrense e a repressão abateu-se sobre as forças progressistas numa onda de barbárie. O PCB foi golpeado por novas cisões inseparáveis da sua política de conciliação. A mais importante foi liderada por Carlos Marighela, o fundador da Acção Libertadora Nacional-ALN, um revolucionário comunista que contou com o apoio de Cuba e teve morte trágica. A linha hesitante do Partidão - assim era conhecido - na definição de uma estratégia de confronto claro com a burguesia contribuiu para a proliferação de mini- partidos e organizações que preconizavam sob múltiplas formas a luta armada. A maioria optou pela guerrilha urbana. Na luta contra o terrorismo de estado alastrou a confusão numa juventude generosa, disponível para a luta, mas despreparada ideologicamente. Foi a época dos sequestros de embaixadores estrangeiros, de aventuras como a do capitão Lamarca, um revolucionário ingénuo, voluntarista. Cada organização, cada grupo, cada partido pretendia ser detentor da estratégia adequada para derrotar a ditadura e levar adiante a Revolução Brasileira. Todos invocavam o marxismo, mas com frequência os textos em que condensavam a sua opção revolucionária eram uma caldeirada de teses de Mao, de Trotsky, do Che, com tempero de disparates extraídos do livrinho irresponsável de Regis Debray, editado clandestinamente no Brasil. Nesses anos trágicos, o PCB resistiu aos apelos do aventureirismo guerrilheiro. As divergências na direcção não impediram o consenso no tocante a uma questão fundamental: a prioridade da luta de massas no combate à ditadura, com recusa de qualquer modalidade de guerrilha. Mas essa opção não se traduziu numa estratégia e numa táctica revolucionárias. A crise que se instalou no campo socialista no final dos anos 80 e culminou com a reimplantação do capitalismo na Rússia aprofundou a tendência capituladora e liquidacionista de influentes membros do Comité Central. A maioria desse Comité Central, impondo uma linha reformista, levou o PCB à beira da extinção. A exigência da reconstrução revolucionária principiou quando a maioria do CC aboliu o centralismo democrático, e mudou o nome do Partido, criando uma organização social-democrata, o Partido Popular Socialista, que hoje tem um perfil de centro-direita. Mas não conseguiu acabar com o PCB que não deixou de existir um dia sequer, ao contrário do que na Europa foi afirmado inclusive por intelectuais marxistas. A LENTA RECONSTRUÇÃO Há dias, ao escutar as intervenções de camaradas da nova geração sobre problemas do mundo contemporâneo, foi para os pioneiros da reconstrução do Partido, iniciada em 1992 que voou o meu pensamento. Recordei lutas, recordei camaradas que contribuíram para me tornar comunista. Todos hoje mortos: Luiz Carlos Prestes, Gregório Bezerra, Luis Maranhao, Mario Schemberg, Dias Gomes, Jorge Amado, Fernando Santana, João Saldanha, Giocondo Dias, Caio Prado, Mario Lago e muitos outros. O renascimento do PCB foi lento, dificil. É ainda um pequeno partido num país de 200 milhões de habitantes. Não tem deputados no Congresso e nas Assembleias dos Estados, nem representantes (quem sabe?) municipais. São transparentes as suas insuficiências. Mas a actual linha revolucionária, traçada por uma direcção marxista-leninista e sustentada por quadros de grande qualidade, proporcionou-lhe em poucos anos um grande prestígio. Enquanto pelo mundo outros partidos comunistas se social-democratizaram, ele volta a desempenhar um papel de crescente importância nas lutas do povo brasileiro e no cenário internacional em todas as frentes onde o combate ao imperialismo estadounidense se tornou exigência revolucionária. Esse apreço transpareceu nas saudações fraternas que pelo seu aniversário recebeu de personalidades como Óscar Niemeyer, Isztvan Meszaros e James Petras, e nas intervenções dos representantes dos Partidos Comunistas que participaram no Seminário Internacional que se seguiu ao nacional, nomeadamente os da Grécia, da Venezuela e do México. Cito esses três precisamente porque se destacam pela firmeza ideológica no combate ao reformismo e ao oportunismo. «SOMOS E SEREMOS COMUNISTAS» Os actos comemorativos do aniversário do PCB ocuparam quase uma semana. No Seminário Nacional, além das já citadas, houve intervenções de nível elevado pelo rigor da abordagem histórica e riqueza conceptual. Entre elas as de Virginia Fontes, Marcos del Royo e Eduardo Serra. No Seminário Internacional participaram delegados dos partidos comunistas da Argentina, do México, da Grécia, da Venezuela, de Cuba, do Uruguai e do Colombiano e do Peruano, o secretário-geral do Partido Comunista Sírio e um representante da Frente Popular da Palestina. Como convidados intervieram também o argentino Atílio Borón, a libanesa Leila Gahnen, os embaixadores de Cuba e da Síria no Brasil e o autor deste artigo. Mesas especiais foram dedicadas à Revolução Cubana, ao povo colombiano, vítima de um regime neo-fascista, e à condenação das guerras imperialistas no Médio Oriente. Foi emocionante a visita de brasileiros e estrangeiros, numa jornada de camaradagem, ao lugar onde, a 25 de Março de 1922, foi fundado na cidade de Niterói o Partido Comunista Brasileiro. Nenhum dos presentes havia ainda nascido, mas a corrente da fraternidade formou-se instantaneamente na evocação do punhado de revolucionários – eram apenas nove - que numa casa hoje desaparecida se reuniu para desafiar o futuro. O encerramento da semana de comemorações teve por cenário a sala do plenário da Câmara Municipal de Niteroi. Ali se reuniu o actual Comité Central com a presença dos convidados estrangeiros e de velhos militantes e elementos da juventude do Partido. Ali abracei a camarada Zuleide Faria de Melo, ex- presidente do Partido. As estrofes da Internacional soaram no anfiteatro de uma instituição da burguesia enquanto se bradava em coro uníssono: «Fomos, somos e Seremos Comunistas!» Vila Nova de Gaia, Abril de 2012

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Comissão Nacional de Direitos Humanos Marcha Patriótica

16 de abril de 2012 Boletim de Direitos Humanos nº 001 A Marcha Patriótica por uma segunda e definitiva independência é um processo de articulação das diversas expressões da luta social e política do povo colombiano que propõe a criação de novas ocasiões de unidade com o ânimo de trazer à tona as problemáticas de nossos distintos setores sociais e políticos, dos inconformados e dos despossuídos, a partir da mobilização, do protesto social e da ação política. Nosso processo organizativo foi convocado e alimentado por organizações sociais, populares, estudantis, sindicais, camponesas, indígenas, afro-colombianas, de mulheres, trabalhadores, desempregados, operários e vendedores, além de personalidades democráticas e progressistas, dando lugar a uma iniciativa que toma corpo no calor da comemoração dos 200 anos da luta pela independência. O avanço do movimento social na construção de uma pátria digna e justa é uma realidade palpável que o governo da autodenominada “Unidade nacional” quis ocultar e ignorar através de perseguições, estigmatizações, repressão e assassinatos planejados para nos amedrontar e nos calar. Estão muito longe disso. Pelo contrário, estas ações nos unem e fortalecem cada dia mais, convencidos da justiça de nossas lutas, em que pese o fato destas ações se incrementarem nos dias que antecedem a Constituição do Conselho Patriótico Nacional. A COMISSÃO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS DA MARCHA PATRIÓTICA põe em conhecimento da opinião pública nacional e internacional os seguintes fatos: Região Nordeste Desde o começo do mês de março ocorreram no departamento de Santander, Nordeste Antioqueño, Magdalena Medio e a região do Catatumbo, graves fatos em matéria de direitos humanos, contra as organizações que impulsionam a constituição do Movimento Político Marcha Patriótica. No distrito de Laguna de Ortices, os defensores de direitos humanos da Marcha Patriótica foram identificados como subversivos por agentes da polícia e das autoridades municipais, como consequência das denúncias feitas pela grave problemática da mineração que vem se apresentando e que afeta diretamente a permanência no território de certas comunidades camponesas do Nordeste Antioqueño. No 11 de março, na ocasião da conformação dos Conselhos Patrióticos e comemoração do Dia Internacional da Mulher, no povoado Caño Tigre, unidades do Exército Nacional esteve presente dentro dos estabelecimentos comerciais de Campo Bijao, onde se encontrava a população civil e menores de idade. No departamento do Norte de Santander apresentaram-se, desde meados do mês de fevereiro de 2012, ataques e perseguições dos grupos armados ilegais no município de Tarra, o que sem dúvidas também afeta a população civil. No departamento de Arauca, no 1 de março de 2012, foram retidos pela polícia dois integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Marcha Patriótica, pertencentes à Mesa da Unidade Cívica Agrária e Popular do Oriente Colombiano. Os agentes tentaram confiscar a publicidade do lançamento do Movimento Político sob o argumento de não haver sustentação legal para o porte de tal material. Região Sudoeste No município de Miranda, departamento de Cauca, desde o começo do mês de março tiveram lugar múltiplos enfrentamentos entre insurgentes e militares da Força-Tarefa Conjunta Apolo. No meio dos enfrentamentos, o grupo de militares, além de usar indiscriminadamente toda sorte de artefatos de guerra, entrincheirou-se entre as casas de camponeses, mantendo os habitantes como escudos humanos. Adicionalmente, helicópteros e aviões de artilharia metralharam e bombardearam indiscriminadamente o local, afetando várias casas. No município de Caloto, desde meados do mês de fevereiro até a presente data, um grupo de militares da Brigada Móvel nº 14 e integrantes do Batalhão de Montanha nº 1, instalaram um posto móvel sobre a via que comunica o co-regimento El Palo com o município de Toribio. O posto móvel está instalado em frente a uma zona povoada de El Palo, onde existem casas de onze famílias e um Lar de assistência social. Neste posto havia 24 menores de idade. Há registro de que o grupo de militares entra quando bem entende nas casas dos cidadãos, afetando a privacidade dos ocupantes. Neste município, em 20 de fevereiro de 2012, enfrentaram-se integrantes da Brigada Móvel nº 14 e do Batalhão de Montanha nº1 contra integrantes da sexta frente das FARC-EP. O grupo de militares que se encontrava no posto móvel se deslocou para a área urbana local. Porém os problemas são ainda maiores: além de usar as casas de civis como trincheiras, postaram três tanques de onde disparam até a parte alta do lugar. Ante a intensidade dos combates, os habitantes realizaram uma concentração massiva preventiva na vila El Nilo. Foram, pois, identificados pelo grupo de militares como se fossem guerrilheiros ou simpatizantes da guerrilha. Além disso, manifestaram seu descontentamento pelos civis os terem deixados sozinhos e vulneráveis aos ataques da insurgência, ratificando a atitude das tropas em criar escudos humanos. Esta atitude das forças militares e da polícia se repete permanentemente em todos os enfrentamentos, tal como ocorreu em 29 de fevereiro de 2012, na região de El Mango do município de Argelia, em meio à população. Os policiais dispararam indiscriminadamente tiros e granadas de fragmentação. Além de perseguir diretamente os habitantes: Por volta das 4:40 da tarde, o cidadão HUMBERTO BENITEZ CADENA MORALES, se encontrava com seu filho EDWIN EDISON CADENA TORO de onze anos e outros trabalhadores do lugar, na fazenda Vila Hermosa, de propriedade do senhor WILDER DAZA. Foram atacados por agentes da polícia nacional que dispararam suas armas e lançaram seis granadas de fragmentação contra o prédio. Uma das granadas feriu HUMBERTO BENITEZ CADENA MORALES, afetando sua perna. Outra das granadas de fragmentação fez voar por vários metros o menor de idade EDWIN EDISON CADENA TORO, causando danos nos ouvidos. Outra forma de amedrontar as comunidades é através de homens à paisana que interceptam os camponeses e, enquanto os interpelam, retém seus documentos e tiram fotos. Região Sul No departamento de Putumayo, a partir de 8 de fevereiro de 2012, mais de duzentos agentes de combate à coca marcam presença nas comunidades do Valle de Guamuez e na vila La Campiña (San Miguel). Estas pessoas acompanhadas pela Polícia antinarcóticos e do exército nacional que opera nesta zona, advertem as comunidades sobre os perigos que se aproximam com a chegada das tropas. Na última sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012, entre as 10 e 12 da tarde, ocorrem duros enfrentamentos entre a força pública anti-narcóticos, exército nacional e força aérea contra membros da guerrilha das FARC. Nestes enfrentamentos foram atacadas as casas de várias pessoas, cujos bens foram destruídos com rajadas de fuzil e granadas que caíram a menos de trinta metros das casas. Na terça-feira, 21 de fevereiro de 2012, houve enfrentamentos entre o exército, a polícia e a guerrilha. Os antinarcóticos, apoiados pelo exército nacional por terra e pelo ar, dispararam indiscriminadamente contra as casas e os camponeses, com bandeiras brancas, fugiam do enfrentamento. O helicóptero disparou contra os camponeses que se encontravam sobre a estrada que liga LA CABAÑA – SAN ANTONIO DEL COMBOY – EL ALTO COMBOY, deixando ferido o senhor MARTIN ALVARES, membros da comunidade AWA do cabildo ALTO COMBOY. Poucos minutos depois destes fatos, a comunidade do local foi submetida a um registro geral e seus membros foram assinalados como colaboradores da Guerrilha. INSTAMOS OS ORGANISMOS DE DIREITOS HUMANOS E ORGANIZAÇÕES POPULARES A MANTEREM-SE ATENTOS, ALERTAS, E A ATUAREM ANTE A SITUAÇÃO CRÍTICA DOS DIREITOS HUMANOS - AFRONTANDO AS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E POPULARES QUE INTEGRAM A MARCHA PATRIÓTICA -, ASSIM COMO ANTE O PERIGO PERMANENTE A QUE ESTÃO SUBMETIDOS OS HABITANTES DA ZONA DE CONFLITO. COMISSÃO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS MARCHA PATRIÓTICA 16 DE ABRIL DE 2012 INSTITUIÇÕES A QUE SE DIRIGIR: JUAN MANUEL SANTOS CALDERÓN Presidente de la República Carrera 8 No. 7 -26 Palacio de Nariño Bogotá Fax. 5662071 Fax: (+57 1) 566.20.71 E-mail: comunicacionesvp@presidencia.gov.co ANGELINO GARZÓN Vicepresidente de la República Carrera 8 No.7-57 Bogotá D.C. JUAN CARLOS PINZÓN coorbicentenario@gmail.com www.marchapatriotica.org Ministro de la Defensa Avenida El dorado con carrera 52 CAN Bogotá D.C. siden@mindefensa.gov.co, infprotocol@mindefensa.gov.co, mdn@cable.net.co GERMÁN VARGAS LLERAS Ministro del Interior Carrera 9a. No. 14-10 - Bogotá, D.C. e-mail: german.vargas@mij.gov.co, ministro@minjusticia.gov.co PBX (+57) 444 31 00 Ext. 1820 EDUARDO MONTEALEGRE Fiscal General de la Nación Diagonal 22B No. 52-01 - Bogotá, D.C. Teléfonos: 570 20 00 - 414 90 00 contacto@fiscalia.gov.co, denuncie@fiscalia.gov.co WOLMAR ANTONIO PEREZ ORTIZ Defensor del Pueblo Calle 55 # 10-32, Bogotá Fax: (+571) 640.04.91 E-mail: secretaria_privada@hotmail.com, agenda@agenda.gov.co, defensoria@defensoria.org.co ALEJANDRO ORDOÑEZ MALDONADO Procurador General de la Nación Cra. 5 No.15 – 80F Bogotá D.C. anticorrupción@presidencia.gov.co, reygon@procuraduría.gov.co OFICINA EN COLOMBIA DEL ALTO COMISIONADO DE NACIONES UNIDAS PARA LOS DERECHOS HUMANOS Calle 114 No. 9-45 Torre B Oficina 1101 Edificio Teleport Bussines Park – Bogotá, Colombia Teléfono PBX (57-1) 629 3636 (57-1) 629 3636 Fax (57-1) 629 3637 E-mail: oacnudh@hchr.org.co

Sem mais ases sob a manga, Santos

É sabido que o talante conservador de Aristófanes, o grande dramaturgo ateniense, o levou a satirizar Sócrates, cujas reservas sobre os valores gregos tradicionais lhe pareceram perigosas para o Estado. Apesar disso, grande parte de sua obra é uma condenação à guerra, em particular às chamadas guerras do Peloponeso travadas longamente entre sua cidade natal e Esparta. Acontecimentos recentes trazem à lembrança sua comédia La Paz [A Paz] e põem no presente sua vigência.

Trigeo, nativo de Atmón, vinhateiro honrado, inimigo de pleitos e delações, como se apresenta ante Hermes nas portas do Olimpo, decide, na ausência de Zeus e aproveitando que o artífice das guerras dorme, executar a audaz façanha de desenterrar La Paz, a deusa perseguida que foi confinada na profundidade de uma caverna sob os maiores penhascos, onde a custodia, ademais, Cerbero, o feroz e monstruoso cão de três cabeças.

Para consegui-lo, se vê obrigado a aplacar a fúria de Hermes, disposto a cumprir a ordem de Zeus de assassinar a quem ousar tentar. Para isso se apoia no Coro, conjunto virtual de vozes que representam o sentimento de grande parte dos habitantes da Grécia. O resgate de La Paz resulta numa experiência reveladora acerca das verdadeiras origens da guerra, os pretextos que se buscam para fazê-la e as ambivalentes posições de muitos que afirmam desejar a concórdia quando, na realidade, a odeiam.

Convém revelar que grandes negócios têm logrado ocultar-se detrás da guerra em Colômbia. Para referenciar um só deles, convém ler a recente crônica de Alfredo Molano intitulada Paramilitarismo e palma no Catabumbo. Uma certeza parece dançar no seu pano de fundo. Quando o empresário palmero Carlos Murgas atuou como ministro da Agricultura de Andrés Pastrana, esse governo decidiu implementar um projeto nacional de expansão da agroindústria da palma.

Para isso, criou o Banco Agrario e inventou as alianças produtivas. Na mesma Administração se cumpriu a incursão de Salvatore Mancuso e suas hordas assassinas ao Catatumbo. Após assassinar, ameaçar e desterrar a milhares de campesinos e famílias, com evidente cumplicidade policial e militar, esses bandos criminosos passaram a controlar a propriedade da terra em amplas zonas do Norte de Santander. Sobreveio, então, o leilão por atacado de pequenos e médios prédios. Isto ocorria em tempos do despeje.
Disposta por Uribe a desmobilização paramilitar, as empresas palmeiras do senhor Murgas se convertem em principais adquirentes dessas terras. Também nos montes de María, onde havia ocorrido o mesmo. Aceleram intensamente seus projetos agropecuários, fortalecidos por decretos que impõem que vinte por cento do combustível usado no país deve conter biocombustível derivado da palma, assegurando assim o mercado e o benefício aos pacíficos e ecologistas empresários.

Agora que Santos fala de restituir terras às vítimas, está claro que os terceiros adquirentes de boa-fé que adiantam projetos agroindustriais não serão afetados de nenhuma maneira. Todos felizes com o negócio redondo. As FARC, que combatem com energia e coragem a avalanche militar e paramilitar, foram elevadas à oprobiosa categoria de [organização] de terroristas e narcotraficantes, e transformadas no inimigo número um do país e do progresso. Satã tinha seu ninho no Caguán.

Recordo agora a respeitável cacique Consuelo Araujo Noguera, cuja vida se perdeu no demencial intento militar por resgatá-la das mãos de uma frente das FARC. Quanto se disse e sentenciou contra nós. Muitíssimo, porém muitíssimo mais que o que se disse quando o país se inteirou que seu filho Hernandito, governador do Cesar, era um reconhecido chefe paramilitar. Ou quando se publicou que seu irmão, seus sobrinhos e seu cunhado estavam metidos até o pescoço com Jorge 40.

Eram os tempos em que o presidente Uribe não perdia oportunidade de viajar a Valledupar. Muito bem assistido por seu diretor do DAS, horroroso capítulo sobre o qual os poderes estabelecidos consideram haver conseguido jogar terra suficiente. Se equivocam. Um processo de paz com as FARC não pode ser secreto nem à revelia do país, há de ser o cenário no qual o povo colombiano possa voltar a denunciar e conseguir, por fim, justiça por tanta barbaridade sofrida.

A coisas assim as chamam com desprezo na grande imprensa, shows midiáticos, seguramente com a correspondente indicação das alturas. Cada vez que os de baixo pronunciamos as palavras democracia, justiça ou equidade social, se irritam furibundos os poderosos mercadores que assimilam o crescimento de suas fortunas à sorte geral dos demais nacionais. Se já tudo está logrado, repetem, gordos e zombadores. Isso, precisamente, é o que discutimos.

O enriquecimento desaforado e selvagem de uns quantos tem significado o aviltamento das condições de vida da maioria. E o aparelho estatal de governo, legislação, justiça e força desempenham o exclusivo papel de esmagar o inconformismo a qualquer preço. Por cima de tanta infâmia midiática, nenhuma outra causa produz a guerra que se trava em Colômbia. São essas as realidades que devem ser abordadas e situadas em vias de solução numa mesa de diálogos.

Com essa convicção, estamos dispostos a conversar sobre a paz com o atual governo. Para que não se diga depois que as FARC mentem ao país. Não tememos, em absoluto, debater e demonstrar que têm sido os grandes empresários do capital e da terra os que renovam uma e outra vez sua carniceira brutalidade, a fim de firmar grandes negócios sobre o sangue dos despossuídos. Se um importante setor de investidores mostra interesse em dar passagem para a paz, o acompanhamos. Isso sim, [mas] muito alertas.
No dia de sua posse, Santos tartamudeou acerca de sua intenção de diálogo com as FARC. Uns dias depois, esmagava a bombas o acampamento do Comandante Jorge Briceño. Durante mais de um ano abusou com sua ficção da chave, o que não excluiu o ataque mortal ao Camarada Alfonso Cano, o homem que levava mais a sério o assunto e movia o resto do Secretariado a possibilitar contatos. Santos sabia muito bem isso, o que não lhe impediu chorar emocionado. A dupla moral sempre foi imputada a nós.
De nossa parte, sentar-se a conversar não significa nenhum tipo de rendição e entrega. A reincorporação à vida civil implica e exige uma Colômbia diferente. O grande capital inversionista terá que assumir que a realidade posta no presente pela crise requer uma mudança profunda em seu modo de atuar, uma nova maneira de relacionar-se com os povos. Confiamos em que seja essa a vontade oficial. Assim, sem dúvida, poderemos entre todos desenterrar La Paz. Sem mais ases sob a manga, Santos.

Timoleón Jiménez
Comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas de Colômbia, 14 de abril de 2012

quinta-feira, 19 de abril de 2012

ANITA PRESTES SAÚDA A MARCHA PATRIÓTICA NA COLÔMBIA

É com grande emoção que saúdo a realização da Marcha Patriótica que se realizará na Colômbia entre os dias 21 e 23 de abril próximos. Num país como a Colômbia, onde há mais de 60 anos vigora uma política de Estado de extermínio sistemático dos mais diversos setores populares, o surgimento de um novo movimento social e político como a Marcha Patriótica é revelador da disposição de luta por uma solução política do conflito interno nesse país por parte de setores importantes da sociedade colombiana, que clamam por justiça e democracia.

Tanto o povo colombiano quanto seus irmãos latino-americanos querem paz, exigem a retirada de todas as bases militares norte-americanas dos nossos territórios e o fim de uma "democracia genocida" , responsável pelo extermínio de milhares de homens, mulheres e crianças.

Estou certa de que Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança do povo brasileiro, estaria neste momento solidário com a Marcha
Patriótica pela democracia e por uma paz justa na Colômbia. Tal solução é do interesse de todos nossos povos do Continente, é
necessária para o futuro dos nossos povos, para a garantia da independência da grande pátria latino-americana.

Por uma paz justa na Colômbia!


Anita Leocadia Prestes -historiadora e professora da UFRJ

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A legitimidade do socialismo em Cuba

Por Jesús Arboleya Cervera

Como analisar a legitimidade de um sistema político?

É democrático ser eleito por menos de 20% dos eleitores?

Recentemente, num de meus artigos para Progreso Semanal, afirmei
que a capacidade de resistência demonstrada durante meio século,
confirmava a vontade popular da maioria dos cubanos a favor do
socialismo. Ainda creio que esta é a melhor evidência; no entanto,
para alguns isto não é suficiente e argumentaram a suposta falta de
legitimidade de um regime que, em sua opinião, não cumpre com os
padrões democráticos exigidos no mundo.

Está claro que partimos de premissas distintas para analisar
a legitimidade de um sistema político. Não obstante, tratei de
adaptar-me a sua lógica para responder-lhes e então descobri que o
problema nem sequer radica nas premissas, mas sim na utilização de
parâmetros diferentes para avaliá-las. Decidi, então, empreender o
exercício teórico de comparar os instrumentos formais da democracia
cubana com a estadunidense, considerada por muitos a democracia
perfeita, aquela que os demais devem imitar, se não quiserem correr
o risco de que lhe caiam matando a canhonaços.

Para referendar o socialismo em Cuba, existe uma Constituição
votada mediante plebiscito por mais de 90% da população em 1976.
Ainda assim, alguns a consideram menos legítima que a Constituição
dos Estados Unidos, tão sagrada como a Bíblia, apesar de que foi
referendada por um pequeno grupo de pessoas, quando no país ainda
existia a escravidão e nunca foi objeto do escrutínio popular. Não
digo que, por isso, a Constituição norte-americana não seja legítima,
de fato, sua legitimidade está confirmada pela história do país, porém
o mesmo padrão deveria prevalecer para analisar a cubana.

O mesmo ocorre com as eleições, enquanto o prefeito de Miami-
Dade recentemente foi eleito com menos de 20% de participação
dos eleitores, em Cuba sempre supera os 80%. É certo que não
está estabelecido o voto direto para eleger o presidente de Cuba,

senão que isso é decisão da Assembleia Nacional do Poder Popular,
cujos deputados são eleitos pelo voto direto e secreto dos eleitores,
porém o mesmo ocorre nos Estados Unidos, onde um presidente pode
resultar eleito apesar de não contar com a maioria do voto poular e,
em várias ocasiões, tem sido assim, sem que isso seja considerado
uma demonstração de ilegitimidade.

Nem os piores críticos do sistema têm expressado que existe fraude
nos processos eleitorais cubanos. No entanto, é bastante comum nas
eleições norte-americanas, seja a nível local ou nacional, que alguma
das partes acuse ser vítima de fraude. Basta recordar o escândalo
monumental que constituiu a eleição de George W. Bush, em que
muito teve que ver, aliás, a maquinaria da extrema direita cubano-
americana. Ainda assim, na comparação perde Cuba, porque se aduz
que os eleitos são instrumentos do regime, como se Bush e tantos
outros, incluindo o popular Obama, sirvam a outra coisa que não seja
aos grandes interesses econômicos do país.

Não creio que o sistema político cubano esteja isento de
insuficiências, porém isso não radica na organização do sistema
eleitoral, nem na legitimidade dos eleitos. Quase ninguém se detém
a analisar que, mediante este sistema, se os opositores tivessem
respaldo popular, seus candidatos ganhariam facilmente em muitas
localidades. O problema reside em seu funcionamento, onde é
limitada a capacidade dos eleitos, sobretudo a nível de base, para
satisfazer as demandas de seus eleitores, algo por resolver, enquanto
se aspira a uma democracia popular com todos os seus atributos.
Não obstante, não estamos falando da demagogia que caracteriza os
políticos norte-americanos, algo tão normal que ninguém espera que
cumpram o que prometem em suas campanhas.

Tampouco, ante a opinião de seus críticos, para legitimar o socialismo
em Cuba, pode invocar-se o respaldo expressado em manifestações
ou consultas populares, nem sequer a participação do povo na defesa
do país. Se trata simplesmente de manipulações do governo ou
resultado da repressão imperante, como se os cubanos, que em
apenas um século fizemos quatro grandes revoluções armadas,
fôssemos uns covardes cordeirinhos, controlados por governantes
que nem sequer têm necessidade de nos tratar a pauladas, como
vemos frequentemente na televisão, por parte de governos
considerados perfeitamente legítimos.

Tampouco serve o argumento do desenvolvimento humano

alcançado, porque o acesso universal à educação, à saúde pública
e a proteção social, ainda que constituam aspirações fundamentais
de todos os povos do mundo, inclusive nos países desenvolvidos
e nos próprios Estados Unidos, no caso de Cuba são, quando
mais, reconhecidos como conquistas menores do sistema, que não
alcançam para explicar o apoio dos cubanos, já que parece que
também somos bastante idiotas.

Como para os fundamentalistas do capitalismo não são aceitáveis
estes argumentos, preferi, então, recorrer a um que provém de uma
fonte que me parece irrepreensível, por tratar-se do pior inimigo da
Revolução Cubana, a saber, o próprio governo norte-americano. E
refere-se a indagar a razão pela qual os Estados Unidos, que invadem
qualquer país, não se decidiu a invadir Cuba.

Uma razão é que estão convencidos da resistência que ofereceria
o povo cubano, validando meu principal argumento, porém,
ainda assim, é evidente que a capacidade militar cubana não é o
que contém as sempre dispostas e poderosíssimas tropas norte-
americanas, mas sim o impacto político que teria esta resistência
em escala mundial, como resultado da legitimidade da Revolução
em todas as partes. Isto não é o que replica a imprensa mundial e a
opinião de alguns expertos, porém, afortunadamente, os governantes
estadunidenses não dependem deles para fazer seus julgamentos e,
neste caso, têm sido bem aconselhados, até agora.

Como disse o reconhecido intelectual mexicano Pablo González
Casanova, o socialismo é um projeto que, como meta, se identifica
com o comunismo, diga-se, uma sociedade sem diferenças de
classes e, por sua vez, é um social para alcançar este cometido,
pelo que os erros, incongruências ou as dificuldades do processo
não deslegitimam a qualidade do projeto socialista. Claro está que
este raciocínio é válido para analisar qualquer outro projeto social,
inclusive o capitalismo, por isso, estamos na presença de um debate
ideológico a respeito do ideal de sociedade que se pretende alcançar.

Nisto reside a dificuldade para pôr-se de acordo os defensores de
uma e outra ideologia, assim como as manipulações interessadas em
adulterar a prática, com o fim de desqualificar a teoria. Sobretudo
quando se trata dos dogmáticos de qualquer partido, porque o
ideal se converte num ato de fé e isso os inabilita para analisar as
qualidades dos processos com a objetividade requerida, como ocorre
frequentemente no caso cubano.

Ainda assim, a solução não é evadir o escrutínio, porque a
legitimidade não é algo que só aporta a virtude da ideia, a história
de luta, nem sequer os benefícios alcançados, os quais justamente
são assumidos como direitos conquistados, formando parte da vida
cotidiana das pessoas, que sempre se propõe metas superiores.
Tampouco é uma condição imutável, mas sim dialética, que tem
que renovar-se dia a dia, avançando no desenvolvimento social e
construindo o consenso popular, sem o qual é insustentável o projeto
socialista, por sua própria natureza.

Montões de tropeços tem este caminho, porém a ideia de avançar
para esse ideal não está só nas palavras de ordem oficiais, muitas
vezes contraproducentes, porque simplificam a mensagem até
adulterá-la, senão que forma parte de uma consciência social
integrada à identidade do cubano atual. A cultura popular também
é um fator que aporta legitimidade ao socialismo em Cuba, porque
vive na mente dos cubanos, ainda que alguns não atinem para isso e
outros pretendam negá-lo.
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Tradução: Joaquim Lisboa Neto