"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 30 de abril de 2014

Mensagem ao Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia



Neste 14º aniversário do lançamento do Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia, enviamos uma saudação sincera a todos os que com seu trabalho diário constroem organização e mobilização patriótica nos diversos setores da nossa nação.


Os bolivarianos e bolivarianas de coração completamos mais um ano de esforço e trabalho pela unidade do povo da Colômbia, pela paz, pela democracia e pela justiça social. Esta é, portanto, uma data de alegria pelos êxitos alcançados, pelas vitórias grandes e pequenas que conseguimos ao marcharmos pela liberdade e pela soberania. É, também, data de reflexão e auto-crítica em torno das nossas responsabilidades individuais e coletivas e dos enormes desafios que nos traz o porvir.


Este novo aniversário vale para ratificar nosso compromisso com o legado de Alfonso Cano, o qual assentou as bases para a práxis do Movimentoi Bolivariano e foi seu fundafor, ideólogo e primeiro Chefe Nacional. Os homens e mulheres do MBNC devemos estudar sua obra e aplicar seus ensinamentos em nosso que fazer militante diário.


A leitura do momento político ratifica a justeza do nosso Movimento porquanto amplo, patriótico, democrático, includente, mas estritamente clandestino pelas condições impostas pela oligarquia.


Hoje a luta pela paz e soberania nacional estão na vanguarda do debate público. E é ali, na luta de massas, nas manifestações públicas, na defesa dos interesses do povo pobre em que se devem destacar os que nos consideramos filhos e filhas de Bolívar; é na busca para conseguir a soberania da pátria e do bem viver para o nosso povo; é na defesa da paz dialogada e dos processos de paz com as guerrilhas, na luta contra o fascismo paramilitar e na batalha diária de ideias que nos levará a uma Assembleia Nacional Constituinte para a reconciliação, a democracia e a paz sobre bases sólidas para que seja duradoura.


Não devemos perder de vista o horizonte de que vivemos momentos de altíssimo valor histórico para o futuro da nossa pátria, momentos nos quais o Movimento Bolivariano deve saber estar à altura dos desafios que nos impõe a história na defesa dos interesses do nosso povo.


Agora mais do que nunca precisamos de maior dedicação, de maior compromisso, de maior sacrifício de todos e de cada um de nós, qualquer que seja seu lugar e seu posto de luta. Agora mais do que nunca devemos tornar efetiva a nossa atividade como revolucionários e construirmos um novo país no qual caibam todas as aspirações de toda a Nação.

Bolivarianos e bolivarianas, Avante na construção da Nova Colômbia!
Pela Paz democrática e com justiça social, Pela Assembleia Nacional Constituinte!

Pablo Catatumbo
Chefe Nacional do Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia

terça-feira, 29 de abril de 2014

'O ELN e as Farc estão trabalhando plenamente para concretizar os Diálogos de Paz'



Nossa organização adotou uma definição e tem claro que busca a saída política para o conflito”, define sem meias palavras o comandante Juan Carlos Cuellar, porta-voz do Exército de Libertação Nacional –ELN - desde seu lugar de reclusão. O Resumo Latino-Americano* teve acesso à prisão de Bellavista e conversou com os guerrilheiros que integram o Movimento de Presos Políticos "Camilo Torres Restrepo” sobre a conjuntura colombiana, a relação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a situação dos presos e a saída política para o conflito armado. Apresentamos a seguir um adiantamento da extensa reportagem, que será publicada na edição impressa do Resumo Latino-Americano do mês de maio.


A penitenciária de Bellavista se encontra na periferia de Medellín. Lá nos recebeu um grupo de presos políticos da guerrilha camilista, liderados por Juan Carlos Cuellar, que foi comandante da Frente de Guerra Sul-Ocidental, quando o capturaram em 2008. Atualmente, Cuellar é porta-voz do ELN e interlocutor ante diversos setores populares, entre os quais se destaca o espaço Clamor Social pela Paz.


O encontro derivou em uma conversa amena. A busca de uma saída política implica a concretização da esperada Mesa de Diálogo entre o ELN e o governo, que se some à que protagonizam as Farc em Havana? O quanto há de certo nas versões que dizem que esses diálogos já estão ocorrendo, e, se é assim, por que não são públicos? As respostas a essas perguntas poderiam comprometer possíveis gestões, nos explicam os guerrilheiros com amabilidade. Ainda assim Cuellar reconhece: "Sei das versões dadas inclusive por funcionários do governo. Podem ser certas ou não, se eles afirmam isso terão suas razões”. E acrescenta: "O comando do ELN já definiu para seus porta-vozes para essa instância, que estão prontos. São membros do Comando Nacional e comandantes de região”.


Cuellar foi o principal animador de uma das tantas tentativas prévios de diálogo com o Estado em 2006, quando o ELN impulsionou as "Casas de Paz”, que buscaram envolver setores sociais nas conversações. "A organização tem uma experiência não apenas durante o governo anterior, quando se puseram em marcha as Casas de Paz”, relata o líder guerrilheiro”. Antes havia impulsionado os Diálogos de Tlaxcala [México, 1992, com o presidente César Gaviria], o Encontro e Diálogo em Maguncia [Alemanha, 1998, sob a presidência de Ernesto Samper], com [o presidente Andrés] Pastrana, em Río Verde [Colômbia, 1998], ou em Cuba [2002, presidência de Uribe]. De todas essas experiências saem conclusões, aprendizagens”, afirma. O ELN crê nas intenções do presidente Santos? Cuellar explica: "A organização está convencida que tem que haver uma saída política, mas isso não quer dizer que o governo queira o mesmo. Nessa peleja estamos. Há reparos quando se vê que no passado não se pôde concretizar um processo de Paz, mas hoje a sociedade está mais madura. Ainda assim é preciso ver que atitude o governo toma”.


Conjuntura eleitoral ou participação popular para a saída política ao conflito


"Hoje, a saída política para o conflito está atravessada pela conjuntura eleitoral”, analisa o dirigente guerrilheiro. "Para Santos, é vital mostrar avanços imediatos por essa conjuntura, para o ELN, isso não é o determinante. Como disse Iván Márquez [porta-voz das Farc em Havana]: ´O que nós dizemos nos diálogos será usado na conjuntura eleitoral´. Mas o certo é que a direita busca ratificar o modelo extrativista de acumulação, destruindo a economia própria de nossas comunidades, e para reverter isso é necessária a participação da sociedade”, ressalta Cuellar, e interpela os delegados sociais e religiosos presentes: "É necessário ver como se articula essa intenção da insurgência com a dinâmica própria do movimento social. Parar essa guerra, reclamar o cessar bilateral do fogo,impulsionar dinâmicas humanitárias, esses têm que ser as amarrações do processo de paz com a agenda do movimento popular”.


* Versão completa na edición impresa de Resumen Latinoamericano del mes de mayo.


* Reportaje realizado conjuntamente con la Agencia de Comunicación de los Pueblos Colombia Informa, www.colombiainforma.info



segunda-feira, 28 de abril de 2014

O governo nega intenção de criminalizar os campesinos




O ministro de Defesa da Colômbia, Juan Carlos Pinzón, indicou neste sábado que nem tudo relacionado com os protestos anunciados para os próximos dias no país tem tons ilegais e que o Governo dessa nação sul-americana “sob nenhuma circunstância pretende criminalizar os campesinos”.


Em declarações oferecidas em Bogotá, capital do país, Pinzón agregou que os organismos de segurança do Estado haviam detectado organizações criminosas infiltradas e, em alguns casos, a coparticipação em sua organização, referindo-se à paralisação agrária convocada para esta segunda-feira 28-A na Colômbia.


O funcionário afirmou que o Governo “pretende protegê-los, trabalhar com eles, e a Força Pública está aí para acompanhá-los e para cumprir com seu dever de seguir atendendo qualquer necessidade que tenham os cidadãos e, em particular, os campesinos”.


Expressou, ademais, que o Governo da Colômbia e as autoridades respeitam o livre protesto, porém têm o dever de assegurar-se que este se faça no marco da lei. “Que não haja uma violação dos direitos dos demais cidadãos, que não se atente contra a vida, a honra e a tranquilidade dos cidadãos em geral”, concluiu.


Em horas da manhã deste sábado, os campesinos colombianos, representados no grupo de Dignidade Agropecuária, ratificaram que nesta segunda-feira retomarão a paralisação iniciada em agosto do ano passado após não conseguir um consenso com o Ministério de Agricultura.


Os dirigentes agrários assinalaram que, após várias reuniões com o Governo, não houve acordos com o ministro da pasta, Rubén Darío Lizarralde, para tratar de evitar o protesto. Ratificaram que seguirão em conversações com o Executivo.


O líder de Dignidade Agropecuária, César Pachón, disse à imprensa que nesta reunião se deixou claro que não políticas agropecuárias nem de meio ambiente nem para o transporte.


Sustentou que os cafeicultores, arrozeiros, cacauicultores, leiteiros, batateiros e plantadores de cebolas trabalham com altos custos em insumos, adubos e praguicidas, com a incursão mineiro-energética e o abuso contra os páramos.


No 18 de março passado, pelo menos 12 mil pessoas protestaram em Bogotá para exigir do governo Juan Manuel Santos o cumprimento de suas promessas para a melhoria do setor agrícola, que reclama ter sido prejudicado pelos Tratados de Livre Comércio [TLCs] com os EUA e alguns países da Europa.


O tema agrário foi o primeiro ponto de acordo entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia [FARC] nos diálogos que iniciaram em novembro de 2012 em Cuba para pôr fim ao conflito que golpeia o país desde há 50 anos. Ambas as partes pactuaram uma reforma agrária para distribuir zonas de cultivo aos campesinos sem-terra, mediante a criação de um grande fundo de terras.


Fonte: telesurtv.net


domingo, 27 de abril de 2014

“Comissão para o esclarecimento da origem do conflito interno colombiano": uma necessidade para a conquista da paz

Havana, sede dos diálogos e paz, 26 de abril de 2014.


O pai Libertador Simón Bolívar nos ensinou que a verdade pura e limpa é a melhor maneira de persuadir e nos disse Cícero que os povos que esquecem sua história estão condenados a repeti-la. De forma simples, com essas duas certeza respaldadas com um cúmulo de experiências irrefutáveis queremos reiterar que a construção dos fundamentos de uma paz estável e duradoura tem como condição ineludível e inobjetável, uma aproximação às complexas condições históricas que originaram o conflito interno colombiano, assim como às causas e fatores que explicam sua tendência e persistência. Tudo isso dentro de um critério de verdade; dentro de uma regra que nos permita estabelecer julgamentos que coincidam com a realidade. Ter um critério de verdade é ter a possibilidade de discernir e de julgar. Por que a quem julgar? Sobre quem colocar as responsabilidades do dessangre nacional se não se estabelece a verdade do que tem sido a história da confrontação que nos impuseram durante tantas décadas?

As FARC-EP queremos reiterar no começo do ciclo 24 das conversações de Paz em Havana, a decisão de fazer todos os esforços para conseguir uma solução política para a longa contenda que tem dessangrado o país e produzido centenas de milhares de vítimas em relação às quais, de maneira prioritária, fundamental, deveremos reivindicar seus direitos plenamente, o que deve ser um propósito maior que implica o ineludível esclarecimento da origem e da verdade da história do conflito. Tal esclarecimento deverá obrigar os diferentes atores envolvidos a recoinhecerem suas responsabilidades e, a quem couber, pedir perdão a toda a sociedade pelo dano causado nesta confrontação imposta pelo regime. De nossa parte jamais, como gente do povo e revolucionários que somos, recusaremos nossas responsabilidades.

Nesse sentido repetimos com convicção e determinação que não viemos a Havana "pactuar impunidades". Pelas convicções do ideário revolucionário que temos defendido ao longo de cinco décadas de luta política e armada, entendemos que a sociedade colombiana em seu conjunto e, de maneira especial, as vítimas do conflito interno, têm todo direito de reclamar a construção de uma verdade histórica que explique a complexidade do acontecido, reconheça os impactos sobre a vida e o direitos do nosso povo, esclareça o papel desempenhado na contenda pelos múltiplos atores políticos, econômicos e sociais e contribua para assentar as bases para superar as condições e as causas sistêmicas originadoras e reprodutoras da violência e permita reparar as vítimas do conflito ao prover garantias reais e materiais de não repetição. Essa é a nossa decisão e isso é assunto prioritário dos nossos empenhos, sem que com isso consideremos que iniciar o caminho iluminado da verdade, o caminho do exercício da honestidade, da boa fé, da sinceridade humana, da coerência da consciência com os fatos, com as coisas, com as relações certas desse todo que tem sido nossa existência em meio ao caos da violência que por décadas nos tem condenado as elites governantes, seja uma desculpa para as dilações do processo de conversações. Ao contrário, pois depois de nove meses de insistirmos no estabelecimento de uma Comissão de Esclarecimento cujos resultados deviam dar-se em seis meses, acreditamos que os obstáculos se apresentarão se não se tem a sensatez de oferecer a possibilidade de nos debruçar sobre aquilo que está para além das aparências e das mentiras, ao assumirmos a história como essência mesma da memória.

Nesse sentido é que propomos a formação de uma "Comissão para o esclarecimento da origem e da verdade da história do conflito interno colombiano" que estabeleça algumas conclusões de índole política, que se transformem no marco conceitual e histórico a partir do qual se trabalhe a necessária Comissão da Verdade, que permita às vítimas conseguir também justiça, reparação e lhes sejam oferecidas garantias de não repetição. Propomos, portanto, que a "Comissão de Esclarecimento" estabeleça um relato histórico com conclusões e efeitos políticos, diferenciados do imprescindível efeito jurídico que deve ter a Comissão da Verdade. Desse modo, a Comissão de Esclarecimento da História é um assunto que, no que se refere ao marco conceitual, é determinante para o processo e a Comissão da Verdade, com implicações jurídicas, como derivação, é outro, tão importante como a primeira.

Como isso estamos mostrando nossa disposição de assumir as responsabilidades políticas que se depreendam de uma verdade construída com os instrumentos das ciências sociais e, em especial, das disciplinas da História e da Sociologia, no entendimento de que neste conflito, além da violência gerada pela ordem sócio-econômica e política dominante, tem havido uma multiplicidade de atores intervenientes que devem responder de acordo, sem perder de vista que não são combatentes - guerrilha e forças militares do Estado - os principais responsáveis desta violência, ma sim entendemos que a responsabilidade é dos agentes políticos, sociais e econômicos - incluídos os poderes econômicos transnacionais - que geraram o conflito e tem se servido dele e, através dele têm obtido benefícios, enquanto que o paramilitarismo e as forças militares têm sido o instrumento utilizado pelos citados agentes para assegurarem a obtenção desses benefícios.

Pretender reduzir as origens e a história do conflito a decisões ou determinações das FARC-EP - ou de outras expressões prévias da insurreição armada que apelaram ao direito à rebelião dos povos contra as injustiças, direito reconhecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos, não é o caminho da reconciliação. O esclarecimento histórico da verdade sobre o conflito constitui um elemento imprescindível para consolidar a perspectiva de uma solução política e para assentar definitivamente a Paz na Colômbia. Dentro dessa visão, nossa proposta de estabelecer essa Comissão foi feita não só ao governo mas sim a todos os setores políticos, sociais, acadêmicos, de vítimas e à Pátria em geral com a finalidade de nos dar a todos, nas palavras de García Márquez, uma segunda oportunidade sobre a terra.


DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP

Perto de concluir tema das drogas, EUA atrapalham paz das Farc.



As Forças Armadas Revolucionária da Colômbia (Farc) e o governo colombiano voltaram à mesa de negociações, em busca de uma solução ao conflito que já dura mais de meio século. As partes discutem a questão das drogas – terceiro ponto da agenda e 24º ciclo de diálogos – e avançam na reconciliação. No entanto, em declarações à imprensa, a delegação do grupo guerrilheiro denunciou que, mesmo em meio ao processo de paz, os EUA seguem oferecendo uma recompensa pela captura de líderes das Farc.


Sob a acusação de envolvimento com o narcotráfico internacional, o Departamento de Estado norte-americano oferece em seu site uma recompensa de cinco milhões de dólares por Timoleón Jimenez (Timoshenko) e outros líderes das Farc, incluindo delegados que participam dos diálogos de paz. Contudo, nem mesmo o governo da Colômbia considera a guerrilha uma organização de tráfico de drogas.

"O governo dos Estados Unidos não ajuda para o processo de reconciliação da Colômbia com as suas falsas representações dos fatos sobre a questão do narcotráfico que está sendo discutido nas negociações de paz" declarou o negociador-chefe das Farc, Iván Márquez, no Palácio de Convenções em Havana, onde acontecem as reuniões entre as partes desde 2012.

"É contraditório que, enquanto o presidente (Barack) Obama expressa apoio ao processo (de paz), os porta-vozes do Departamento de Estado atuam contra essa finalidade", oferecendo recompensas para a captura dos líderes das Farc, acrescentou Marquez.

"Os Estados Unidos mentem", afirmaram representantes da guerrilha em um comunicado de imprensa, que também destaca que Washington "tem feito vista grossa para o comércio internacional de drogas para desestabilizar governos legítimos".

Avanços

Andrés París, membro da delegação insurgente, adiantou que ao término deste 24ª ciclo as partes “poderiam registrar avanços importantes”. Ele informou que houve um avanço significativo no tema das drogas ilícitas e ressaltou que tantos as Farc quanto os representantes do governo compartilham a vontade de evoluir os diálogos de paz.

París criticou, porém, alguns candidatos eleitorais, que fazem ataques constantes ao processo de paz em suas campanhas (a eleição presidencial na Colômbia está marcada para o próximo dia 5 de maio). O membro das Farc classificou-os como “inimigos dos diálogos”. “Todos buscam uma classificação política nesta reta final da campanha eleitoral”, afirmou.

Jesús Santrich, também delegado guerrilheiro, também falou sobre o consenso entre as partes no terceiro ponto da agenda. Ele disse que as discussões a respeito dos cultivos e do uso ilícito de drogas como a maconha, papoula e a folha de coca estão a ponto de serem concluídas. “Os avanços são bastantes substanciais, talvez tenhamos mais de 20 páginas redigidas”, expressou Santrich, que informou que o maior debate é em relação ao tema do narcotráfico.

Théa Rodrigues, da redação do Vermelho,
Com informações da
Prensa Latina e de agências de notícias

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Gustavo Petro: Se acataram as medidas da CIDH que protegem Bogotá hoje


O prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, quem foi restituído nesta quarta-feira 23 em seu cargo, disse que o ocorrido com seu caso em que “finalmente o presidente acatou as medidas cautelares da Comissão Interamericana de Direitos Humanos”, que agora, sim, protegem os bogotanos e beneficiam o programa que leva adiante.
Ante a dúvida de se a Procuradoria ou outro ente público poderiam apelar contra as tutelas interpostas pela defesa no Tribunal, Petro disse que seu Governo está blindado até as novas eleições municipais e que sua restituição tem validade.

Assim se caia a tutela, as medidas cautelares continuam vigentes e só se o presidente [Juan Manuel Santos] decide pela terceira vez não acatá-las, coisa que não creio que passe porque é pouco pertinente, poderia ocorrer uma nova destituição que não creio factível”, sustentou o prefeito bogotano.

Por outro lado, Petro referiu que seu programa Bogotá Humana e ao plano de coleta de lixo, pelo qual foi acusado em dezembro passado e destituído em março, estão dentro do marco constitucional e formavam parte das decisões políticas do prefeito designado por Santos, Rafael Pardo, após sua saída do gabinete.

O presidente da Colômbia anunciou nesta quarta-feira 23 sua decisão de restituir a Gustavo Petro como Prefeito de Bogotá, cargo para o qual foi eleito popularmente, após a tutela a seu favor emanada pelo Tribunal Superior de Bogotá.

Santos afirmou que sua decisão se deve a que, como mandatário, está obrigado a cumprir as leis da Colômbia. “Disto trata a democracia e o respeito pelas leis e quem tem que dar o exemplo em primeira instância é o Presidente da República”.

Vale recordar que, no passado 19 de março, o mandatário colombiano firmou a destituição de Petro e designou a Pardo como encarregado, após aprovar a decisão decretada pela Procuradoria da República.
teleSUR/och-GP

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Belo exemplo bolivariano para América Latina: Governo venezuelano editará biblioteca de Gabriel García Márquez


O presidente Nicolás Maduro anunciou que o Ministério para a Cultura editará a biblioteca Gabriel García Márquez, em homenagem ao Nobel colombiano, que conterá várias obras do escritor e será distribuída gratuitamente ao seu povo.





Assim informou na terça-feira o presidente Nicolás Maduro desde seu programa radiofônico Em Contato com Maduro, trabalho que o Ministério da Cultura realizará.


Vamos editar vários milhares de bibliotecas do Gabo para entregá-las grátis às famílias venezuelanas e que cada família tenha uma biblioteca que passe de geração em geração, de mão em mão, para que toda essa luminosa literatura que expressa o que somos possa permanecer no tempo”, manifestou.


Além disso, o Executivo organizou uma jornada de leituras coletivas e simultâneas das obras de García Márquez em todas as praças Bolívar do país a partir do meio-dia desta quarta-feira.


O Presidente ressaltou o legado de Gabo para a literatura, porque, através de suas obras, “expressou a realidade do que éramos [...] Desde Venezuela, sempre recordaremos a Gabo, que tanto fez para a construção do que hoje somos em todo o continente”.


Foi autêntico e consequente com cada coisa que fez, com cada letra, com cada compromisso”, acrescentou.


Referiu em seguida que enviou à família do Nobel “uma carta muito sentida com as condolências, o amor e o agradecimento de todo o povo venezuelano que sente o Gabo como um dos seus”.


O escritor, romancista, contista, roteirista e jornalista colombiano Gabriel García Márquez morreu nesta quinta-feira 17 aos 87 anos de idade, depois de um quadro de pneumonia que o manteve hospitalizado por uma semana.


O Nobel de Literatura marcou um divisor de águas na história criativa da América Latina, ao criar, com seu realismo mágico, Macondo, um povoado que, com seus personagens, passou a formar parte de uma das obras mais lidas na região e no mundo, Cem anos de solidão, que retrata a vida da estirpe Buendía.


Fonte: www.telesurtv.net

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Advogados democratas de 56 países se solidarizam com os prisioneiros políticos na Colômbia



Com delegados de 56 países, finaliza o 18º Congresso da ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE JURISTAS DEMOCRATAS – AIJD, respaldando o processo de paz na Colômbia e exigindo liberdade e tratamento digno para os prisioneiros políticos na Colômbia.

O plenário geral do 18º Congresso da Associação Internacional de Juristas Democratas, reunido na cidade de Bruxelas, Bélgica. Considerando que o Estado Colombiano é membro da Organização das Nações Unidas, da Organização de Estados Americanos e da Convenção Interamericana de Direitos Humanos e observando que o povo colombiano tem expressado um desejo genuíno de alcançar uma paz duradoura através das atuais conversações de paz, resolve:


  1. Fazemos um chamado às partes para manter o espírito de diálogo e não levantar-se da mesa de negociação até conquistar a paz.
  2. Solicitamos às partes, como gesto de paz, iniciar um cessar-fogo que permita construir um clima de confiança e minimizar as atuais sequelas da guerra sobre civis e combatentes.
  3. Solicitamos ao governo colombiano que proporcione as garantias devidas à oposição política para exercer seus direitos civis e políticos, cessando a perseguição e criminalização do movimento social colombiano.
  4. Manifestamos nossa preocupação pela alarmante cifra de prisioneiros políticos nas prisões colombianas, suas condições de vida indignantes e a falta de garantias processuais. Exigimos respeito aos DDHH dos prisioneiros políticos e um tratamento digno e humanitário a toda a população carcerária como contemplam a constituição colombiana e os tratados internacionais ratificados pela Colômbia.
  5. Sugerimos que, como gesto de paz do governo colombiano, se outorgue a liberdade aos prisioneiros políticos que se encontrem em grave estado de saúde, com enfermidades terminais ou incapacitados; que tenham uma idade superior aos 65 anos e, além disso, permitir-lhes o acesso aos benefícios jurídicos, todos estes direitos contemplados no ordenamento legal colombiano.


AIDL- Bruxelas-Bélgica 20 de abril de 2014

CONCEIÇÃO LEMES, 33 ANOS DE ESTRADA: RESPOSTA EM PÚBLICO A O GLOBO


Nessa segunda-feira 13, uma repórter de O Globo enviou-nos um e-mail:


“Estou fazendo uma matéria sobre a entrevista que o ex-presidente Lula concedeu a blogueiros na semana passada. Gostaria de conversar contigo por telefone”.


Pedi que enviasse as perguntas por e-mail. Hoje, às 12h27 elas foram encaminhadas:

Nada contra a repórter. Embora não a conheça, respeito-a profissionalmente como colega.

Já a empresa para a qual trabalha, não merece a nossa consideração.

Com essas perguntas aos blogueiros, O Globo parece estar com saudades da ditadura, quando apresentava como verdadeira a versão dos órgãos de repressão.  
Exemplo disso foi a da prisão, tortura e assassinato de Raul Amaro Nin Ferreira, em 1971, no Rio de Janeiro.

Com essas perguntas, O Globo parece querer promover uma caça aos blogueiros progressistas. Um macartismo à brasileira.

O marcartismo, como todos sabem, consistiu num movimento que vigorou nos EUA do final da década de 1940 até meados da década de 1950.  Caracterizou-se por intensa patrulha anticomunista, perseguição política e dersrespeito aos direitos civis.

O interrogatório emblemático daqueles tempos nos EUA:
Mr. Willis: Well, are you now, or have you ever been, a member of the Communist Party? (Bem, você é agora ou já foi membro do Partido Comunista?)

A sensação com as perguntas de O Globo é que voltamos à ditadura. Agora, a ditadura midiática das Organizações Globo. É como estivéssemos sendo colocados numa sala de interrogatório.

Afinal, qual o objetivo de saber se pertencemos a algum partido político?

Será que O Globo faria essa pergunta aos jornalistas de direita, travestidos de neutros, que rezam pela sua cartilha?

E se fossemos nós, blogueiros progressistas, que fizessemos essas perguntas aos jornalistas de O Globo?

Imediatamente, seríamos tachados de antidemocratas, cerceadores da liberdade de expressão, chavistas e outros mantras do gênero.

Como um grupo empresarial que cresceu graças aos bons serviços prestados à ditadura civil-militar tem moral de questionar ideologicamente os blogueiros que participaram da entrevista coletiva?

Liberdade de imprensa e de expressão vale só para direita e para a esquerda, não?

Como uma empresa que tem no seu histórico o colaboracionismo com a ditadura, o caso pró-Consult, o debate editado do Collor vs Lula, ter sido contra a campanha Pelas Diretas,  pode se arvorar em ditar normas de bom Jornalismo e ética?

Como uma empresa que deve R$ 900 milhões ao fisco tem moral para questionar outros brasileiros?

Como um grupo empresarial que recebe, disparadamente, a maior fatia da publicidade do governo federal pode criticar os poucos blogs que recebem alguma propaganda governamental?

O Viomundo, repetimos, não aceita propaganda dos governos federal, estaduais e municipais. É uma opção nossa. Mas respeitamos quem recebe. É um direito.

No Viomundo, não temos nada a esconder.  Só não admitimos que as Organizações Globo, incluindo O Globo, com todo o seu histórico, se arvorem no direito de fiscalizar a blogosfera.

Por isso, eu Conceição Lemes, que representei o Viomundo na coletiva, não respondi a O Globo. Preferi responder aos nossos milhares de leitores.  Diretamente. E em público.

Seguem as perguntas de O Globo e as minhas respostas.


Qual a sua formação acadêmica?
Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).

Qual a sua atuação profissional antes do blog? Já cobriu política por outros veículos?

Sou editora do Viomundo, onde faço política, direitos humanos, movimentos sociais. Toco ainda o nosso Blog da Saúde.

No início da carreira, fiz um pouco de tudo: economia, política, revistas femininas, rádio…

Há 33 anos atuo principalmente como jornalista especializada em saúde, tendo ganho mais de 20 prêmios por reportagens nessa área. Entre eles, o Esso de Informação Científica, o José Reis de Jornalismo Científico, concedido pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), e o Sheila Cortopassi de Direitos Humanos na área de Comunicação, outorgado pela Associação para Prevenção e Tratamento da Aids e Saúde Preventiva (APTA) com apoio do Unicef.

Conquistei também vários prêmios Abril de Jornalismo, a maioria por matérias publicadas na revista Saúde!, da qual foi repórter, editora-assistente, editora e redatora-chefe.

Em 1995, fui  premiada pela reportagem “Aids — A Distância entre Intenção e Gesto”, publicada pela revista Playboy. O projeto que desenvolvi para essa matéria foi selecionado para apresentação oral na 10ª Conferência Internacional de Aids, realizada em 1994 no Japão.

Pela primeira vez um jornalista brasileiro teve o seu trabalho aprovado para esse congresso. Concorri com cerca de 5 mil trabalhos enviados por pesquisadores de todo o mundo. Aproximadamente 300 foram escolhidos para apresentação oral, sendo apenas dez de investigadores brasileiros. Entre eles, o meu. Em consequência, fui ao Japão como consultora da Organização Mundial da Saúde.

Tenho oito livros publicados na área.

O mais recente, lançado em 2010, é Saúde – A hora é agora, em parceria com o professor Mílton de Arruda Martins, titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, e o médico Mario Ferreira Júnior, coordenador de Centro de Promoção de Saúde do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Em 2003/2004, foi a vez da  coleção Urologia Sem Segredos, da Sociedade Brasileira de Urologia, destinada ao público em geral.

Os primeiros livros foram em 1995. Um deles, o Olha a pressão!, em parceira com o médico Artur Beltrame Ribeiro.

O outro foi a adaptação e texto da edição brasileira do livro Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV, do professor John G. Bartlett, da Universidade Johns Hopkins, nos EUA. A tradução e supervisão científica são do médico Drauzio Varella.


Você é filiada a algum partido político?
Não sou nem nunca fui filiada a qualquer partido político.

Mas me estranha muito uma empresa que apoiou a ditadura, cresceu devido a benesses do regime e hoje se alinhe com todos os espectros da direita brasileira, questione a filiação partidária de um jornalista.

Quer dizer de direita, tudo bem, e de esquerda, não?

Como você definiria os “blogueiros progressistas”? Existe uma linha política?

Somos de esquerda.

Defendemos:

Melhor distribuição da renda no país.

Reforma agrária.

Os movimentos sociais por melhores condições de moradia, trabalho, defesa do meio ambiente, saúde e educação.

Regulamentação dos meios de comunicação.

Valorização do salário mínimo.

Política de cotas raciais nas universidades.

Direitos reprodutivos e sexuais das mulheres brasileiras.

Combate à discriminação e promoção dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais

Imposto sobre grandes fortunas.

Financiamento público de campanha.

Reforma política.

Fortalecimento da Petrobras.

Sistema Único de Saúde.

Como você foi chamada para a entrevista? Recebeu alguma ajuda de custo do instituto?
Por e-mail. Nenhuma ajuda.

O que você achou da seleção de blogueiros para a entrevista? Incluiria, por exemplo, representantes da mídia ninja ou blogueiros “de oposição”, como Reinaldo Azevedo?
O Instituto Lula tem o direito de chamar para entrevistar o ex-presidente quem ele quiser.

Engraçado O Globo perguntar isso. De manhã à madrugada, de domingo a domingo, todos os veículos das Organizações Globo privilegiam, ostensivamente, sem o menor pundonor, vozes do conservadorismo brasileiro e internacional. Pior é que travestido de uma falsa neutralidade.

Por que O Globo pode chamar quem quiser e o ex-presidente Lula, não?

Por que as Organizações Globo não dão espaços iguais à esquerda e à direita, garantindo a pluralidade de opiniões?

No dia em que as Organizações Globo garantirem efetivamente a pluralidade de opiniões, respeitando a verdade factual, aí, sim, seus profissionais poderão questionar os nomes escolhidos por Lula.


Qual foi o ponto mais relevante da entrevista para você?
Ter falado três horas e meia com os blogueiros. Uma conversa em que nenhum assunto foi proibido. Tivemos liberdade plena de perguntar o que queríamos. Uma lição de democracia.

O instituto arcou com os seus custos de deslocamento?
Não. Fui de táxi. Paguei do meu próprio bolso.

Por que você acredita ter sido escolhida para a entrevista?
Quantos jornalistas brasileiros têm o meu currículo profissional? Quantos repórteres da mídia tradicional e da blogosfera produziram tantos furos jornalísticos quanto nós no Viomundo nos últimos cinco anos?

Por isso, deixo essa pergunta para você e os leitores do Viomundo responder.


O que você acha do movimento “Volta Lula”?
Quem tem de achar é a população e os militantes dos partidos da base de apoio do governo.

Sou apenas repórter. Cabe a mim, portanto, retratar o que presencio.


Qual nota você daria ao governo Dilma? Por quê?
O Globo tem fetiche por nota. Quem tem de dar a nota é o eleitorado. Sou repórter e minha opinião neste caso é irrelevante. A não ser que O Globo pretenda usá-la para fazer o que costuma fazer: manipular informação com objetivos políticos, em defesa de interesses da direita brasileira.

terça-feira, 22 de abril de 2014

“No segundo turno os colombianos vão decidir por nossas teses”



Aída Avella Esquivel, fórmula vice-presidencial da candidata à presidência da República Clara López, assegura em diálogo com La Nación que não tem pensado em fazer alianças.

Filha de mãe oriunda do município de Campo Alegre, estado do Huila, e pai do estado de Boyacá, Aída Avella Esquivel é a fórmula vice-presidencial da candidata à presidência pelo Polo Democrático, Clara López.

Após muitos anos no exílio, esta militante da Unión Patriótica voltou porque pensou que era o momento de fazê-lo. Apresentou seu nome à Presidência pela coletividade, porém, depois de muitas aproximações, suas ideias se fundiram com as de López e agora são duas mulheres aspirando a mudar o rumo do país.

Para Avella Esquivel, é claro que na Colômbia chegou a hora de tomar outro rumo em que, segundo assinala, a corrupção não tem espaço enquanto a conservação do meio ambiente, a educação e a saúde serão prioridade.
Como anda o ambiente de campanha para a esquerda?

Bem. Há muito entusiasmo em todo o país, muita gente tem nos recebido em muitas regiões do país. Causou muito impacto esta fórmula de duas mulheres que propõem uma mudança de modelo econômico. As mulheres e muitos homens também se aproximaram porque falamos outra linguagem e temos sérios compromisso para dar outro rumo e uma mudança que o país inteiro pede aos gritos.

O que vocês estão propondo?


Muitas coisas que os outros candidatos não propõem. Primeiro, a mudança de modelo econômico, porque pensamos que a democracia tem que ser participativa, na qual os cidadãos tenham opinião. Uma das coisas que se lhes deve consultar é se estão de acordo com a exploração de minerais em suas regiões, porque o que encontramos em zonas como Casanare é que o povo está se opondo às explorações. Porém não só ali, o povo deve ser consultado com seus planos de desenvolvimento, inclusive os prefeitos e governadores têm que dar a conhecer ao seu povo o que é que vão fazer com os recursos que chegam do nível central. Ninguém fala do mar e para nós é uma fonte de riqueza e de trabalho que há que conservar para reindustrializar o país como um dos mecanismos da mudança do modelo econômico.


Você tocou num tema como o da consulta que se deve fazer aos cidadãos sobre a exploração de seus recursos, que se propõe nesse caso, se aqui em Neiva seus moradores estão atravessando uma problemática com a bacia do rio Las Ceibas?


Para nosso governo, a prioridade será a água. É incrível que neste país o que se está tocando são nossas fontes hídricas, e nós proibiríamos que as fontes de água sejam tocadas para a exploração mineira, porque prioriza a saúde dos colombianos. É que não é só em Neiva, um terço do país está sendo tocado como o Páramo de Santurbán, em Bogotá já começam a fazer exploração na parte baixa do páramo de Sumapaz, e se se toca isso, se toca a Orinoquía, e isso é mudar o sistema ecológico de toda esta região. Estão secando a laguna de Tota em Boyacá porque estão explorando petróleo e isso é muito grave. Por isso, acreditamos que há que revisar as concessões mineiras que vão contra a saúde dos cidadãos, declarar zonas de reserva.


Qual é a proposta para enfrentar a mudança climática?


Os países, têm que pôr-se de acordo porque não é problema de um só. Cremos que na regulação está a selva amazônica que compartilhamos com Brasil, Equador e parte do Peru, e há que fazer muito trabalho para conservá-la. Porém, todo o tema do meio ambiente demandará o esforço de todos os colombianos, e os indígenas que estão dedicados a cuidar dessas selvas necessitam uma retribuição por parte do Estado, porém também se requer gente especializada para apoiar este trabalho.


Porém, com base nessa política mineira que vocês propõem, como fazer para que as empresas estrangeiras não se espantem ou o investimento se vá?


Nós não nos opomos ao investimento estrangeiro, ao que nos opomos é a exploração selvagem dos recursos. Neste momento, em quase todos os países da América Latina estão pagando 25 por cento pela riqueza extraída, porém aqui as empresas que estão levando o petróleo nos estão pagando entre oito e nove por cento. Com o ouro e a prata nos estão pagando entre 3.2 e cinco por cento e isso não é possível. Porém, não vão se espantar porque em toda a América Latina estão pagando no mínimo 17 por cento, e os governos colombianos fizeram péssimos negócios com os recursos públicos e muito bons com as questões pessoais. Então, isto tem que ser distribuído de uma maneira diferente, e se não lhes serve, pois, não se pode fazer porque este é um país que necessita pagar umas dívidas sociais muito grandes.


Essas propostas soam muito bonitas e alvissareiras, porém, dá para fazer tudo isso em apenas quatro anos?


Veja, neste país, o que faz falta é um pouco de autoridade para fazer as coisas. Não é possível que um estado tão rico como Casanare não tenha rodovias, que Arauca, que recebeu milhões de regalias, não tenha um só município com água potável, como na Guajira, que tem uma mina de carvão que não nos deixa quase nada. Isso se pode fazer não só em quatro anos e menos, o que passa é que esta casa há que organizá-la, porque há muito dinheiro, porém os corruptos o levaram, e esses corruptos têm que saber que se acabou sua vez. As mulheres, vamos pôr ordem neste país e não só há que arrumar a casa, como também colocá-la decente, este país tem que saber que os 46 milhões de colombianos têm direito a aceder à riqueza nacional, e não só os de sempre. Aqui há dinheiro para todos, porém, em muitas das obras que se fazem na Colômbia, 90 por cento são roubados e só 10 por cento ficam para investimento. Vamos acabar com isso.


Bem, também se necessita mais acesso à educação...


Claro, se necessita, antes que repressão, mais professores, construir escolas aos montões. Nossas crianças devem estar todo o dia na escola, aprendendo. Propomos aula durante todo o dia, reforço em determinadas áreas como a científica, as matemáticas, sem descuidar das humanidades, as belas artes e os idiomas. A ideia é que, ao terminar o nível médio, nossas crianças e nossos jovens saiam falando outro idioma, no mínimo. E o dinheiro para a educação, vamos tirá-lo das regalias que estão se perdendo, todo esse dinheiro que o Estado deixou escapar de forma irresponsável. E que, entre outras coisas, deveriam ser julgados por isso, porque não pode ser que sigam dando dinheiro às transnacionais. Quatro anos seria mais que suficientes para entregar um país diferente em saúde e educação que são direitos, não ofertas.


Porém, uma vez no poder, vocês não gostariam de se candidatar à reeleição?


Isso depende. Se este país crê que fomos bons, e nos dizem vamos reelegê-los, pois, vamos para a reeleição. É que aqui há que acostumar as pessoas a serem decentes, este é um país afundado na corrupção e em que se consegue dinheiro não importa como. Temos que reverter estes valores, porque esses valores são outros como a honestidade, pensar nos demais, fazer a paz porque, se chegamos nós [à presidência], a paz será um fato. O Fundo Monetário Internacional nos exige que não subsidiemos nossos campesinos, porém faz apenas três semanas que nos Estados Unidos duplicaram os subsídios de seus campesinos. Eles podem exportar trigo e cevada a uns preços que aqui não são compatíveis. Por isso, primeiro nós temos que resgatar nosso trabalho nacional, o de nossos operários e campesinos. Temos que reindustrializar o país com todo o trabalho que não só nos dá o mar, como em outras regiões. É que não entendo como Arauca ou o Meta não têm refinarias quando têm que despachar entre 1.700 e 2.000 carretas com petróleo cru até Barrancabermeja. É uma responsabilidade histórica que nos demonstra que este país não tem tido governantes.


E que lhes faz pensar que o país está preparado para eleger um governo de esquerda?


O mundo mudou. Este país leva dominado mais de dois séculos pelos partidos tradicionais, ponham-se o rótulo que ponham: Cambio Radical, Centro Democrático... todos são os mesmos. Porém, nós sabemos que o povo está inconformado, está cansado de tanta corrupção, porém não somente isso, de tanta ingovernabilidade, não se sabe governar e, ademais, isto está repleto de corrupção. Neste país todo mundo rouba, aqui chegam prefeitos pobres e saem milionários. E não se necessita ser inteligente para saber que ninguém se enriquece com um salário de prefeito ou de governador, inclusive de congressista. Essas coisas, o país tem que vê-las. Não estamos dizendo que o modelo que estamos propondo é o super eficiente, porém, sim, lhe garanto que será mais eficiente que outros. É fundamental que os cidadãos comecem a dar-se conta de que podem ser atores e beneficiários também. As estradas e as vias têm que ser feitas pela gente de cada povoado, é um dos requisitos para que não comecem a roubar outra vez as coisas. Antes, nos municípios se contratava a gente do povo, a maquinaria e as ruas ficavam asfaltadas, como sucedeu em alguns lugarejos em Arauca onde, hoje em dia, depois de 25 anos, as ruas estão perfeitas. Isso sucede porque não se dá a “contratitis” dos grandes senhores que passeiam por todo o país oferecendo dinheiro aos políticos para que continuem comprando votos. E isso é o que queremos acabar na Colômbia.


Num eventual governo de vocês, o processo de paz continuaria em Havana?


Haveria paz. Pela simples razão de que não somente se continuariam os diálogos em Havana como também que se incluiria o ELN nas conversações. E vamos até onde seja possível porque, veja, o problema da terra não é um problema difícil de resolver. Temos uma lei que não aplicamos e é a das Reservas Campesinas. É que este Congresso é especializado em fazer leis para que não se regulamentem como sucede com muitas outras.


Vocês insistem em revisar os Tratados de Livre Comércio?


Já o disse Clara López, o primeiro que faríamos no dia sete de agosto será instalar a comissão que revise os Tratados de Livre Comércio [TLCs], porque isso tem impedido que este país se desenvolva e tem feito com que muitos colombianos fiquem sem trabalho.


Têm pensado em fazer alianças para um segundo turno?


Não temos pensado em alianças. Pensamos que chegamos a um segundo
turno, e nesse segundo turno muitos colombianos vão se decidir por nossas teses porque são simples, fáceis de executar, desde que haja vontade política. Isso é o que tem faltado neste país para muitas coisas, como para fechar as veias da corrupção ligadas à “contratitis” e isso vai ter que se acabar.


...[Nós], As mulheres, vamos pôr ordem neste país e não só há que arrumar a casa, como também colocá-la decente, este país tem que saber que os 46 milhões de colombianos têm direito a aceder à riqueza nacional, e não só os de sempre. Aqui há dinheiro para todos, porém, em muitas das obras que se fazem na Colômbia, 90 por cento são roubados e só 10 por cento ficam para investimento. Vamos acabar com isso”.


...Neste país todo mundo rouba, aqui chegam prefeitos pobres e saem milionários. E não se necessita ser inteligente para saber que ninguém se enriquece com um salário de prefeito ou de governador, inclusive de congressista. Essas coisas, o país tem que vê-las. Não estamos dizendo que o modelo que estamos propondo é o super eficiente, porém, sim, lhe garanto que será mais eficiente que outros”.

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Equipe ANNCOL - Brasil
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Países da América Latina criarão mercado comum para impulsionar economias


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Mercosul, Unasul, ALBA, Celac e Petrocaribe fazem parte da iniciativa, que pretende incentivar produção sustentável na região


Países da América Latina, que compõem o Mercosul (Mercado Comum do Sul), a Unasul (União das Nações Sulamericanas), a Alba (Aliança Bolivariana para os Povos Americanos), a Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e a Petrocaribe criarão um mercado comum, na tentativa de impulsionar maior independência econômica para os países membros. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (21/04) pelo ministro do Comércio Venezuelano, Dante Rivas. 

A iniciativa pretende incentivar a produção sustentável na região, fazendo da América Latina um mercado potente e facilitando as importações e exportações. “Vamos desenvolver um mercado Alba-Mercosul-Celac-Petrocaribe-Unasul potente e com grandes desafios positivos. Ajustamos mecanismos para consolidar as relações comerciais, nos fortalecendo, levando à prática a visão continental de Simón Bolivar”, disse Rivas.


O ministro também ressaltou, durante a reunião, a necessidade de impulsionar a participação da pequena e média indústria, para facilitar a independência produtiva, econômica e comercial da região. “Estamos iniciando uma etapa decisiva e madura, onde as experiências da última década se capitalizaram em todas as nações”, disse. Rivas também afirmou que esse passo é inevitável e que levará a um “destino seguro e feliz para todos”.


Entre as metas do projeto, está a necessidade de diminuir as diferenças entre ricos e pobres. Para Rivas, é preciso “encurtar as dramáticas brechas entre ricos, cada vez mais ricos, e os pobres que surgem formando uma potente classe média trabalhadora”. 

Durante a primeira reunião de ministros da Economia, Comércio e Indústria da Celac, realizada em abril deste ano, a Venezuela já havia proposto o desenvolvimento de uma produção sustentável na América Latina, recordou Rivas. Segundo ele, a utilização do poder de compra do Estado será um mecanismo para desenvolver as pequenas e médias indústrias.

domingo, 20 de abril de 2014

O enigmático Hugo Chávez


Considerado um dos escritores mais importantes do século 20, o colombiano Gabriel García Márquez nasceu em Arataca, em 1927, e teve destacada atuação como jornalista. O artigo que reproduz sua conversa com Hugo Chávez foi originalmente publicado na revista Cambio, em fevereiro de 1999, publicação da qual foi um dos proprietários. O autor de Cem Anos de Solidão, uma das obras mais lidas e traduzidas em todo o mundo, recebeu o Nobel em 1982



Durante voo entre Havana e Caracas, Gabriel García Márquez conversa com Hugo Chávez, recém-eleito presidente


Ao entardecer, Carlos Andrés Pérez desceu do avião que o trazia de Davos, na Suíça, e se surpreendeu ao ver na plataforma o general Fernando Ochoa Antich, seu ministro da Defesa. "O que est acontecendo?", perguntou-lhe intrigado. O ministro o tranquilizou, com argumentos tão confiáveis que o presidente não foi para o Palácio de Miraflores, e sim para a sua residência oficial, La Casona. Começava a dormir quando o mesmo ministro da Defesa o despertou por telefone para informá-lo de um levante militar em Maracay. Mal havia chegado a Miraflores quando explodiram as primeiras descargas de artilharia.


Era o dia 4 de fevereiro de 1992. O coronel Hugo Chávez Frías, com seu culto litúrgico pelas datas históricas, comandava o assalto de seu posto improvisado no museu histórico La Planicie. Prez compreendeu então que seu único recurso era o apoio popular e se dirigiu aos estúdios da Venevisión para falar ao país. Duas horas depois o golpe militar tinha fracassado. Chávez se rendeu, com a condição de que também permitissem a ele dirigir-se ao povo pela televisão.


O jovem coronel mestiço, com sua boina de paraquedista e seu admirável talento de orador, assumiu a responsabilidade pelo movimento. E seu discurso foi um triunfo político.



Cumpriu dois anos de prisão até ser anistiado pelo presidente Rafael Caldera. Entretanto, muitos partidários — e inimigos políticos — compreenderam que seu discurso da derrota foi o primeiro da campanha eleitoral que o levou à Presidência da República menos de nove anos depois.


O presidente Hugo Chávez Frías me contava essa história no avião da Força Aérea venezuelana que nos levava de Havana a Caracas, há algumas semanas. Havíamos nos conhecido três dias antes em Havana, durante sua reunião com os presidentes Castro e Pastrana, e a primeira coisa que me impressionou foi o poder que emanava de seu corpo de granito. Tinha a cordialidade espontânea e a graça mestiça de um autêntico venezuelano. Ambos tentamos nos ver outra vez, mas isso não fora possível devido aos compromissos; foi, portanto, no avião para Caracas que conversamos sobre sua vida e seus projetos.


Foi uma experiência enriquecedora para um repórter de folga. À medida que me contava sua vida, eu ia descobrindo uma personalidade que não correspondia em nada à imagem de déspota que tínhamos formado através dos meios de comunicação. Era outro Chávez. Qual dos dois seria o real?


O principal argumento contra ele durante a campanha de 1998 havia sido seu passado recente de conspirador e golpista. Mas a história da Venezuela digeriu mais de quatro. Começando por Rómulo Betancourt, lembrado — com ou sem razão — como o pai da democracia venezuelana, que derrubou Isaías Medina Antarita, um antigo militar democrata que tentava limpar seu país dos 36 anos da ditadura de Juan Vicente Gómez. Seu sucessor, o escritor Rómulo Gallegos, foi derrubado pelo general Marcos Pérez Jiménez, que ficaria quase 11 anos no poder. Este, por sua vez, foi derrubado por toda uma geração de jovens democratas, o que inaugurou o período mais longo de presidentes eleitos.


Escapulário da sorte


O golpe de fevereiro de 1992 parece ser a única coisa que saiu mal para o coronel Hugo Chávez Frías. No entanto, ele o viu por um lado positivo, como um revés providencial. É sua maneira de entender a sorte, ou qualquer coisa que emane do sopro mágico que tem comandado seus atos desde que veio ao mundo em Sabaneta, estado de Barinas, a 28 de julho de 1954, sob o signo do poder: Leão. Chávez, católico convicto, atribui sua sorte ao escapulário de mais de cem anos que leva ao pescoço desde pequeno, herdado de um bisavô materno, o coronel Pedro Pérez Delgado, um de seus heróis tutelares.


Seus pais sobreviviam a duras penas com salários de professores primários, e ele teve que ajudá-los desde os nove anos, vendendo doces e frutas nas ruas. Às vezes ia de burro visitar sua tia materna em Los Rastrijos, um povoado vizinho. A seus olhos, era uma verdadeira cidade porque tinha uma rede elétrica que fornecia duas horas de luz no início da noite, e uma parteira que trouxe ele e seus quatro irmãos ao mundo. Sua mãe queria que ele fosse padre, mas ele só chegou a coroinha e tocava os sinos com tanta graça que todo o mundo o reconhecia por seu jeito de fazê-los repicar. “Esse que toca é Hugo”, diziam. Entre os livros de sua mãe encontrou uma enciclopédia providencial, cujo primeiro capítulo o seduziu de imediato: “Como vencer na vida”.


Era, na realidade, um receituário de opções, e ele tentou quase todas. Fã das pinturas de Michelangelo e de seu David, ganhou seu primeiro prêmio como pintor aos 12 anos, numa exposição regional. Como músico, tornou-se indispensável nas festas de aniversário e nas serenatas, tanto por seu talento com o violão como por sua voz. Como jogador de beisebol chegou a ser um catcher [apanhador] de primeira. A opção militar não estava na lista, nem a ele havia ocorrido por sua própria conta, até que lhe contaram que o melhor modo de chegar às grandes equipes de beisebol era ingressando na academia militar de Barinas.


Estudou ciência política, história do marxismo e leninismo. Apaixonou-se pelo estudo da vida e da obra de Bolívar, seu “leão” maior, e aprendeu todos os seus discursos de cor. Seu primeiro conflito com a política real foi por ocasião da morte de Allende, em setembro de 1973. Chávez não entendia porque os militares deviam depor Allende, se os chilenos o haviam eleito. Pouco depois, o capitão de sua companhia lhe deu a tarefa de vigiar um filho de José Vicente Rangel, que acreditavam ser comunista. “Veja as voltas que a vida dá”, disse Chávez, com uma gargalhada. “Agora, o pai dele é meu ministro das Relações Exteriores!”


Mais irônico ainda é que em sua formatura Chávez recebeu o sabre de oficial das mãos do presidente que, 20 anos depois, tentaria derrubar: Carlos Andrés Pérez. “Além disso”, disse eu, “você esteve a ponto de matá-lo”. “De maneira nenhuma”, protestou Chávez. “A ideia era instalar uma Assembleia Constituinte e voltar aos quartéis.”


Desde o primeiro momento, dei-me conta que era um narrador nato. Um produto íntegro da cultura popular venezuelana, que é criativa e poética. Tem um grande sentido do tempo e uma memória quase sobrenatural, que lhe permite recitar de cor poemas de Neruda ou Whitman, e páginas inteiras de Rómulo Gallegos.


Desde muito jovem, descobriu por acaso que seu bisavô não fora um assaltante de estradas, como dizia sua mãe, e sim um guerreiro lendário dos tempos de Juan Vicente Gómez. Foi tal o entusiasmo de Chávez que ele decidiu escrever um livro para purificar sua memória. Vasculhou arquivos históricos e bibliotecas militares e percorreu a região de povoado em povoado para reconstituir os itinerários do bisavô através de depoimentos dos sobreviventes. Desde então o incorporou ao altar de seus heróis e começou a levar o escapulário protetor que havia sido seu.


Início do movimento


Num desses dias, Chávez atravessou a fronteira, sem se dar conta, pela ponte de Arauca, e o capitão colombiano que revistou sua bagagem encontrou inúmeras razões para acusá-lo de espionagem: levava uma câmera fotográfica, um gravador, papéis secretos, fotos da região, um mapa militar com gráficos e duas pistolas do Exército. Os documentos de identidade, como ocorre com os espiões, podiam ser falsos.


A discussão se prolongou por várias horas num posto militar onde o único quadro era um retrato de Bolívar a cavalo. “Eu já não aguentava mais”, me contou Chávez, “pois quanto mais explicava, menos ele entendia”. Até que lhe ocorreu a frase salvadora: “Veja como é a vida, meu capitão: há menos de um século éramos um mesmo exército e esse que nos está olhando neste quadro era o chefe de nós dois. Como posso ser um espião?”. Comovido, o capitão começou a dizer maravilhas da Grande Colômbia e os dois terminaram a noite bebendo cerveja de ambos os países num bar em Arauca. Na manhã seguinte, com uma dor de cabeça mútua, o capitão devolveu a Chávez seus instrumentos de pesquisa e se despediu com um grande abraço na metade da ponte internacional.


Foi nessa época que comecei a compreender que alguma coisa de errado se passava na Venezuela”, disse Chávez. Tinha sido designado comandante de um pelotão de 13 soldados e uma equipe de comunicação na província de Oriente, para liquidar os últimos redutos guerrilheiros. Numa noite em que chovia muito, um coronel do serviço secreto com uma patrulha de soldados e alguns supostos guerrilheiros — famintos e esqueléticos — pediu-lhe para pernoitar na caserna. Por volta das dez da noite, quando Chávez começava a dormir, ouviu do quarto contíguo gritos dilacerantes. “Eram os soldados que estavam batendo nos presos com bastões de beisebol envoltos em trapos para que não ficassem marcas”, contou Chávez. Indignado, exigiu que o coronel lhe entregasse os presos ou que se fosse imediatamente dali. “No dia seguinte me ameaçaram com um inquérito e corte marcial por desobediência”, disse, “mas acabaram só me mantendo por um tempo sob observação”.


Alguns dias mais tarde teve outra experiência ainda mais marcante. Um helicóptero militar aterrissou no pátio do quartel com um carregamento de soldados recém-feridos numa emboscada da guerrilha. Chávez carregou nos braços um soldado com várias balas no corpo, apavorado. “Não me deixe morrer, tenente”... dizia-lhe. Só deu tempo para o colocar numa ambulância. Outros sete morreram. Nessa noite, desacordado em sua rede, Chávez se perguntava: “O que é que eu faço aqui? De um lado, camponeses vestidos de militares torturam camponeses guerrilheiros, e do outro, camponeses guerrilheiros matam camponeses vestidos de militares. A essas alturas, com a guerra terminada, não tem o menor sentido ficarem uns atirando contra os outros”. E aí concluiu, no avião que nos levava a Caracas: “Foi essa a minha primeira crise existencial”.


Discurso de improviso


No dia seguinte, acordou convencido de que seu destino era fundar um movimento. E o fez aos 23 anos, com um nome evidente: Exército Bolivariano do Povo da Venezuela. Seus membros fundadores: cinco soldados e ele, com a patente de subtenente. “Com que finalidade?”, perguntei. Muito simples, disse ele: “Com a finalidade de nos preparamos se acontecesse algo”. Um ano depois, já como oficial paraquedista de um batalhão de blindados em Maracay, começou a conspirar seriamente. Mas fez questão de frisar que usava a palavra conspiração só no sentido figurado: convocar voluntários para uma tarefa comum.


Essa era a situação a 17 de dezembro de 1982, quando ocorreu um episódio inesperado que Chávez considera decisivo em sua vida. Era já capitão no 2º Regimento de paraquedistas e oficial do serviço secreto. Quando menos esperava, o comandante do regimento, Ángel Manrique, o escalou para pronunciar um discurso diante de 1.200 homens, entre oficiais e tropa. À uma da tarde, com o batalhão já reunido no campo de futebol, o mestre de cerimônias o anunciou. “E o discurso?”, perguntou o comandante do regimento ao vê-lo subir à tribuna sem papel. “Eu não escrevi”, respondeu Chávez. E começou a improvisar. Foi um discurso breve, inspirado em Bolívar e Martí, mas com um toque pessoal sobre a situação de injustiça na América Latina, 200 anos após a independência.


Os oficiais o escutaram impassíveis. Entre eles, os capitães Felipe Acosta Carle e Jesús Urdaneta Hernández, simpatizantes de seu movimento. Irritado, o comandante repreendeu-o: “Chávez, você parece um político”. Felipe Acosta, que estava a dois metros de distância, dirigiu-se ao comandante: “O senhor está equivocado, meu comandante. Chávez não é um político. É um capitão da nova geração, e quando alguns poderosos corruptos o escutam, mijam-se nas calças”.


Depois disso, Chávez foi a cavalo com os capitães Felipe Acosta e Jesús Urdaneta até Samán del Guere, a dez quilômetros de distância, onde repetiram o juramento solene de Simón Bolívar no monte Aventino. “No final, é claro que fiz algumas mudanças”, disse. Em lugar de “quando tivermos quebrado as correntes que nos oprimem pela vontade do poder espanhol”, disseram: “Até que tenhamos quebrado as correntes que nos oprimem e oprimem nosso povo por vontade dos poderosos”.


Desde então, todos os oficiais que se incorporavam ao movimento secreto tinham que fazer esse juramento. Durante anos fizeram congressos clandestinos, com representantes militares de todo o país. “Durante dois dias fazíamos reuniões em lugares escondidos, estudando a situação do país, fazendo análises e contatos com grupos civis, de amigos. Em dez anos”, diz Chávez, “conseguimos fazer cinco congressos sem sermos descobertos”.


A tragédia do Caracazo


Para o comandante Chávez, o acontecimento mais importante de sua vida foi o Caracazo, a sublevação popular que devastou Caracas em 1989. Ele sempre repete: “Napoleão disse que uma batalha se decide num segundo de inspiração do estrategista”. A partir desse pensamento, Chávez desenvolveu três conceitos: um, o momento histórico; o segundo, o minuto estratégico; e três, o segundo tático.


Aconteceu um drama tremendo, e eles não estavam preparados. “Ou seja”, conclui Chávez, “o minuto estratégico nos surpreendeu”. Referia-se à insurreição popular de 27 de fevereiro de 1989: o Caracazo. Carlos Andrés Pérez acabava de assumir a presidência com uma votação caudalosa e era inconcebível que, em apenas 20 dias, se pudesse produzir uma revolta tão violenta. “Na noite do dia 27, eu ia para a universidade, onde fazia um curso de doutorado, e parei na caserna de Tiura para abastecer o carro”, me contou Chávez minutos antes de pousar em Caracas. “Vi a tropa saindo e perguntei a um coronel: ‘Para onde vão esses soldados?’. Estavam levando os homens da Logística, que não estão treinados para combate, muito menos para combate de rua. Eram recrutas assustados com seus próprios fuzis. Por isso insisti com o coronel: ‘Para onde vai essa gente?’. E o coronel respondeu: ‘Para a rua. A ordem é acabar com os tumultos do jeito que for, e eu vou fazê-lo’. E então eu disse: ‘Mas, coronel, o senhor já pensou o que pode acontecer?’. E ele respondeu: ‘Escute bem, Chávez, trata-se uma ordem e não há nada para fazer. Seja o que Deus quiser’”.


Chávez se lembra que estava com muita febre naquela noite por causa de uma crise de rubéola. Quando ligou o carro, viu um soldado que vinha correndo com o capacete caído, o fuzil dependurado e a munição desarrumada. “Aí eu parei e o chamei”, conta Chávez. “Ele entra, todo nervoso, suando, um jovenzinho de 18 anos. E eu pergunto: ‘Para onde você está correndo?’. ‘Eu perdi o meu pelotão. Eles vão ali na frente, naquele caminhão. Me ajude, major, me leve até lá.’ Alcancei o caminhão e perguntei ao motorista: ‘Para onde vocês estão indo?’. E ele disse: ‘Eu não sei de nada. Acho que ninguém sabe’”.


Chávez respira fundo e quase grita, asfixiando-se na angústia da lembrança daquela noite terrível: “Você sabe, eles mandam os soldados para a rua, assustados, com um fuzil e quinhentos cartuchos. Eles atiravam sobre tudo que se movia. Varriam as ruas à bala, as favelas, os bairros populares. Foi um desastre! Milhares de mortos! Entre eles, Felipe Acosta. E meu instinto me diz até hoje que o mandaram matar”, afirma Chávez. “Foi o minuto que esperávamos para agir.” Desde então, começaram a preparar o golpe de Estado que fracassaria três anos depois.


O avião pousou em Caracas por volta das três da manhã. Vi pela janela o lago de luzes daquela cidade inesquecível. O presidente se despediu com um grande abraço caribenho e um convite implícito: “Nos vemos aqui em 2 de fevereiro” [dia da posse do primeiro mandato de Chávez].  Enquanto se afastava, rodeado por militares condecorados e amigos de primeira hora, tremi com a inspiração de que havia viajado e conversado à vontade com dois homens diferentes. Um, a quem a sorte oferecia a oportunidade de salvar seu país. E o outro, um ilusionista, que poderia passar à história como apenas mais um déspota.


* Tradução por Le Monde Diplomatique