"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 30 de abril de 2015

A responsabilidade do Estado, um reconhecimento necessário para alcançar a paz



La Habana, sede dos Diálogos de Paz, 28 de abril de 2015

Um total de 19 defensores de direitos humanos foram assassinados em Colômbia durante o primeiro trimestre deste ano e outros 249 foram ameaçados, segundo a ONG Somos Defensores. 295 defensores de direitos humanos foram vítimas de algum tipo de agressão nesse período, multiplicando-se por 3 os casos de ameaças e incrementando-se o número de homicídios em relação ao mesmo período do ano de 2014. O [acima] citado informe atribui a paramilitares e integrantes do Exército a responsabilidade da totalidade dos assassinatos.

Citando um informe do Escritório de Coordenação Humanitária das Nações Unidas em Colômbia [OCHA], o Coordenador Residente da ONU em Colômbia afirmou a 9 de abril que: “Nas partes mais isoladas da Colômbia, nas regiões rurais, nos últimos anos os homicídios seletivos de defensores de Direitos Humanos e líderes sociais foram baixando. Neste ano, nos primeiros meses vimos um aumento muito significativo...”

Se somamos que no desenvolvimento dos combates contra a insurgência em trégua unilateral as forças institucionais não respeitam o princípio de distinção, este panorama tende a agravar-se e, como é habitual em nosso país, a totalidade dos responsáveis pelos anteriores crimes permanece na impunidade. Todo o qual demonstra que a responsabilidade do Estado, por ação umas vezes e outras por omissão, em consequência da perpetração de graves crimes internacionais, continua sendo uma realidade incontornável.

Conforme a legalidade aplicável no contexto internacional, a responsabilidade penal internacional dos agentes do Estado, ainda no caso de ser eficazmente exigida –o que não parece ser o caso em Colômbia- não constitui uma desculpa para desativar a responsabilidade agravada do Estado, tanto pelos atos criminais de seus funcionários como pela omissão em sua perseguição.
A Resolução sobre a Responsabilidade do Estado por fatos internacionalmente ilícitos [A. G. NN.UU.], 28 janeiro 2002] estabelece claramente que se dá um fato internacionalmente ilícito do Estado quando há um comportamento consistente numa ação ou omissão.

Em nenhum outro país do mundo se conheceu presidentes que organizaram e dirigiram exércitos de narco paramilitares ou que proclamaram abertamente ante as câmaras de televisão ter cometido crimes de guerra ao ordenar executar sumariamente a líderes rebeldes capturados e fora de combate, aos quais nunca se lhes fez comparecer ante um tribunal.

É evidente, então, que o Estado em Colômbia é um Estado Infrator que, apesar de estar sentado na Mesa de Diálogos há mais de dois anos com o propósito de pôr fim a um conflito social político e armado de longa data, continua mantendo seu inveterado costume de descumprir com sua obrigação de respeitar seus compromissos e suas próprias leis.

As FARC-EP estamos empenhados em firmar um acordo de paz estável e duradouro. Porém, isso só será possível se com o concurso do povo soberano, o Governo, -máximo responsável por garantir os direitos dos cidadãos-, abre passagem à erradicação definitiva do Estado Infrator, e dá garantias plenas de não repetição.


DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP



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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Balanço do processo de paz de La Habana.


Santos y Uribe, que são a mesma coisa, cada um com suas bravatas, ameaças e intrigas, querem chantagear a Mesa de Paz de Havana e a plenipotenciária da resistência campesina para impor a paz dos vencidos, da injustiça social, do massacre, das masmorras e das tumbas neoliberais. Querem meter medo. Pretendem que prevaleça seu apodrecido regime oligárquico. Santos nunca mais. Uribe nunca mais.
Os combates próprios do prolongado conflito social e armado, ocorridos na semana anterior no Norte do Cauca, onde ocorreram cruentos enfrentamentos entre os atores em combate [contraguerrilha anticomunista e guerrilha revolucionária]; e, simultaneamente, os cruéis massacres de indígenas executados por grupos paramilitares, acompanhantes das forças contra insurgentes das brigadas militares Apolo do governo de Santos, perfilaram uma “conjuntura crítica”, uma encruzilhada política, que nos indica, novamente, a clausura de um ciclo histórico e a abertura de outro, na qual as ações e omissões dos sujeitos resultam tendo espaços e possibilidades de remontar condicionamentos estruturais e cujo desenlace terá importantes consequências de médio e longo prazo no cenário político nacional, como a necessária convocatória de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Não é demais reiterá-lo, os graves acontecimentos de guerra ocorridos no município de Buenos Aires são a direta consequência da estratégia oficial de negociar o fim do conflito em meio à guerra. Mais pontualmente, do disparate santista elaborado pelo sionismo israelense de conversar em Havana ignorando a guerra nacional e continuar a guerra como se em Cuba não ocorresse nada. Um verdadeiro ex abrupto liberal que se elaborou como artimanha para levar vantagens e impor os enfoques do bloco oligárquico dominante que se empenha numa paz com injustiça social e democracia neoliberal.
Tentemos um balanço do processo de paz de Havana que se abriu desde o ano de 2011 com aproximações e conversações reservadas entre as Farc e Santos.
Primeiro. A Mesa de Conversações de Havana foi o resultado da constante potência militar e política, desdobrada pelas Farc e demais grupos insurgentes desde fins de 2007, que colocou na defensiva o bloco dominante da oligarquia, obrigando-a a descartar sua estratégia de guerra final e de extermínio absoluto da resistência campesina e popular.
Segundo. O Acordo especial para a terminação do conflito e a Agenda temática refletiu a correlação de forças existente em seu momento. O preâmbulo, as regras do jogo, a organização da mesa, o papel dos garantidores internacionais, os temas e o mecanismo constituinte de referenda resumiam plenamente a força e capacidade acumulada pelo movimento popular e a guerrilha.
Terceiro. Em plena globalização, o cenário cubano se torno ótimo para a delegação plenipotenciária das Farc, pois o ambiente agradável dos diálogos permitiu o pleno exercício do conhecimento, da inteligência, epistemologia e sabedoria que se emanam da estratégia revolucionária socialista. Nada de pressões e armadilhas dos trapaceiros oficiais, acostumados a jogar com cartas marcadas. Transcendental que o contexto de Cuba socialista fosse o espaço da Mesa, pois o exemplo das conquistas populares tem sido um estímulo crucial ao papel histórico das massas populares colombianas.
Quarto. Três acordos em assuntos cruciais: terra, democracia ampliada e cultivos de uso ilícito são indicadores da seriedade com que se desenvolveram os diálogos. Da mesma maneira, consensos em temas como o desminado e a desescalada do conflito, pactuados entre comandantes guerrilheiros e oficiais do exército são provas contundentes dos avanços da Mesa de Havana.
Quinto. A trégua unilateral determinada pelas Farc, desde novembro de 2014, mostrou ao país a vontade de avançar na superação da guerra. Nunca antes se havia dado um fato desse nível e os efeitos estão à vista com a diminuição substancial da violência.
Sexto. Santos não foi recíproco e seu aparelho militar prosseguiu as ações ofensivas assassinando líderes guerrilheiros, assaltando acampamentos, desaparecendo militantes populares e promovendo e instalando novos grupos paramilitares por todo o território nacional. Em Colômbia, diz J. A. Gutiérrez, todo o tempo se bombardeia acampamentos guerrilheiros em meio ao sono, mesmo em meio a tréguas unilaterais da insurgência; se arranca campesinos de suas camas, com sacos na cabeça, para em seguida dar sumiço neles, torturá-los, ou assassiná-los e apresentá-los como guerrilheiros “mortos em combate”; se dá sistematicamente tratamento de guerra ao protesto popular, como o demonstra o recente caso do norte do Cauca.
Sétimo. A sabotagem, com o jogo duplo santista do Min uribista Pinzón, ao processo de paz foi uma constante durante os últimos 30 meses. Uribe Vélez construiu uma corrente militarista que envolve generais, oficiais e paramilitares, para bloquear e estigmatizar os diálogos. Para mudar a correlação de forças a seu favor. Altos oficiais, com o consentimento presidencial e ministerial, têm danificado, infiltrado, desqualificado e macartizado a saída negociada ao conflito. Desse jogo fazem parte os dois delegados militares em Havana. O mais recente episódio nesse sentido foi a confusão de Rangel Mora, quem, prática, terminou deslocando De La Calle e Jaramillo como chefes do grupo. Foi uma espécie de “golpe suave” à paz, em cumplicidade com os porta-vozes jornalísticos e da Acore do uribismo.
Oitavo. Como o modelo neoliberal não se negocia, segundo a determinação de Santos, até o momento o governo não se comprometeu em nada que possa afetar seu regime social e o das multinacionais. Pelo contrário, a Casa de Nariño tem seguido adiante com sua agenda neodesenvolvimentista, embutida no Plano Nacional de Desenvolvimento que reúne descaradamente o receituário neoliberal da OCDE e demais organismos multilaterais como o FMI e o Banco Mundial.
Nono. O funcionamento da Mesa de Diálogos tem sido um descomunal pivô da luta popular e da ação coletiva. As grandes ações campesinas de 2013, 2014 e as que se desdobrarão a partir do próximo 22 de abril recebem o estímulo da potência emancipadora da resistência campesina revolucionária. Surgiram novas subjetividades associadas com a paz e grandes mobilizações, ligadas à memória histórica, enriqueceram o espaço público democrático. No entanto, o processo de paz e a luta pelas mudanças exigem uma ação direta, no quente, dos movimentos sociais, com suas reivindicações e exigências. Os desfiles e marchas simbólicas não podem substituir o alcance radical das ações como as dos indígenas do Cauca, os levantamentos operários, as greves estatais, os bloqueios de rodovias, as paralisações de professores e as greves campesinas. O levantamento popular deve chegar a novos níveis de ação política evitando, claro está, a claudicação e conciliação das Mesas que terminaram subsumidas no transformismo ministerial da revolução passiva de terceira via do senhor Santos e seus assessores agrícolas.
Décimo. A mercê dos diálogos de paz, o Polo Democrático ressurgiu do abismo em que o haviam colocado em Bogotá. Clara López e Ainda Abella, com a bandeira da reconciliação e da terminação da guerra, receberam o respaldo de mais de 2 milhões de colombianos, que nelas votaram com entusiasmo e independência como candidatas nas eleições presidenciais de 2014. Estas duas líderes, junto ao senador Ivan Cepeda, alcançaram a envergadura de verdadeiras referências progressistas, com enormes potenciais para conduzir um grande movimento de mudanças nos meses vindouros, particularmente nas próximas eleições de autoridades locais infiltradas desde já pela corrupção e pelo clientelismo da partidocracia sistêmica. A Mesa de paz de Havana terá uma grande influência no processo político de 25 de outubro.
Em igual sentido, os referidos líderes terão um papel destacado na Assembleia Constituinte pela paz que terá que se convocar para sair da enorme crise orgânica e sistêmica que agita ao regime político dominante.
Onze. Os meios de comunicação e a denominada opinião pública predeterminada por estes têm sido e continuam sendo um obstáculo perverso para o processo. As grandes máquinas midiáticas refletem e reproduzem os interesses de reconhecidos oligarcas como Sarmiento Angulo [El Tiempo], família Santo Domingo [El Espectador], Grupo Prisa de Espanha [Caracol], Ardida Lule [RCN e NTN24], família Santos [Revista Semana] e os monopólios imobiliários regionais [Vanguarda Liberal, El Heraldo etc], família Lloreda [El País], paramilitarismo do estado de Antioquia [El Colombiano, El Mundo], que fazem uma sabotagem sistemática, com mentiras e tóxicos, à Mesa de Havana.
Os pseudo analistas políticos, os e as [como certa filósofa] colunistas de opinião, favorecidos com salários e cheques de seus eminentes patrões, constroem sofismas e narrativas arbitrárias para impor a cosmovisão das classes dominantes acérrimas inimigas de qualquer mudança democrática na vetusta sociedade colombiana.
Doze. A recente Cúpula do Panamá constituiu um importante apoio ao processo de Havana, pois registrou o triunfo da Cuba socialista e do bloco anti-imperialista latino-americano liderado pela Venezuela Bolivariana e chavista. Obama, representante de um império em retirada a mercê do contrapoder geopolítico oriental, teve que admitir os erros, arbitrariedades e equívocos cometidos contra o povo cubano durante mais de 60 anos. É o que Santos não viu, não leu, nem escutou, pois, como representante do bloco contra insurgente do poder oligárquico, continua com a mesma mentalidade violenta de há 60 anos. Este tipo ficou na guerra fria, no anticomunismo selvagem, no ódio ao povo, no domínio clientelista, na mesma corrupção.
Treze. A paz só pode avançar se se dá uma mudança profunda nos aparelhos militares e de inteligência do governo. Se os generais anticomunistas continuam com sua sabotagem traiçoeira à Mesa de Havana, o término das conversações terá muito mais complicações e obstáculos.
Quatorze. A paz express, a desesperada enteléquia santista, com datas pontuais é uma falácia governamental que pretende entreter o verdadeiro debate para chegar a um consenso definitivo.
Quinze. A paz não será uma realidade se Santos pretende resolver a atual grave crise econômica ocasionada pela queda dos preços do barril de petróleo, afetando as condições sociais de milhões de colombianos mergulhados na pobreza. Que os ricos paguem a crise, não os frágeis da sociedade.
Dezesseis. A agenda política da delegação revolucionária em Havana faz parte de uma estratégia revolucionária para derrubar o regime oligárquico imperante no Estado. Faz parte da luta pela democracia avançada, pelo socialismo e pelo fim da sociedade mercantil neoliberal.
Dezessete. Há que manter a firmeza frente às fanfarronadas de Santos e seu compadre Uribe Vélez. Os revolucionários não vacilam nem se deixam intimidar. A oligarquia é covarde, não tem boa-fé nem vontade de paz no sentido puro do termo.
Se a oligarquia quer 100 anos mais de guerra, guerra popular prolongada terão. Foram 500 anos de guerra colonial, de violência contra os indígenas, contra os escravos afro, contra os campesinos e os operários e a luta se mantém. Essa é a grande lição de Cuba, a de Venezuela e a do restante dos povos de nosso continente.
Dezoito. Santos nunca mais!!! Uribe Vélez nunca mais!!!!! Oligarquia putrefata e assassina nunca mais!!!!!

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Equipe ANNCOL - Brasil

Venezuela sem fome sem analfabetos

Por Luis Britto García/ Resumen Latinoamericano/ 27 de Abril de 2015.-

1
O capitalismo investe em negócios, o socialismo na pessoa. O investimento social em relação ao PIB era de 11,3% em 1998, e quase se duplica elevando-se a 19,2% em 2013. O referido investimento social em relação à Renda Nacional era de 37,2% em 1988, em 2013 ascende aos 60,7%. O governo ataca a pobreza conjuntural e estrutural mediante o Sistema Nacional de Missões e Grandes Missões, estabelecido em agosto de 2013 para satisfazer necessidades de emprego, saúde, educação, habitação e melhoramento do habitat com o apoio de organizações do Poder Popular.
2
Em 1998 21% da população padecia de subnutrição. Entre 1999 e 2001, quatro milhões de pessoas sofriam de fome no país. Em 2014 a subnutrição diminui 19 pontos, e só aflige a 3,37% da população, superando amplamente a Meta do Milênio de 5%. 95,4% dos venezuelanos comem 3 ou mais vezes ao dia. Mais de 4 milhões de meninos e meninas consumem duas refeições e uma merenda nas escolas Bolivarianas.
900 mil pessoas recebem pelo menos uma refeição diária em 6.000 casas de alimentação. Segundo a Pesquisa Nacional de Consumo de Alimentos, os venezuelanos estão consumindo em média 2.285 Kcal diárias. Em 2014 se ajustou o Tíquete de alimentação à Unidade Tributária máxima, isto é, 0,50 U.T para 0,75 U.T, por dia de trabalho. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura [FAO], em Venezuela 4.717.372 pessoas deixaram de padecer por fome. Estes resultados foram autenticados pela FAO, e no entanto um diário de circulação nacional mente no dia 23 de abril de 2015 em primeira página que “80 de cada cem venezuelanos não podem comer satisfatoriamente”. Pelo contrário, a melhoria alimentícia determina que 37% dos venezuelanos apresentem sobrepeso.


3
Na Venezuela atual a taxa de alfabetização é de 98,8% para cidadãos entre 15 e 24 anos, o qual significa a erradicação do analfabetismo, reconhecida pela UNESCO. Durante os anos escolares 1990-91 a 1999-00 a taxa de escolaridade se situou ao redor dos 87%. Só 70 de cem crianças concluíam a educação primária. Porém, a matrícula no primário para o período escolar 2011-12 se eleva significativamente até 92,20%. Para o período escolar 2005-06 ao 2010-12, 85% dos alunos concluíram a educação primária no tempo regulamentar. Ao considerar os que concluem este nível educativo em sete ou oito anos, esta proporção se incrementa até chegar a 97 de cada 100 menin@s.


4
Entre 1998 e 2014, a política educativa apresentou os seguintes resultados:
Aumento da Matrícula de Educação Inicial de 43% [737.967 pessoas] para 77% [1.605.391 pessoas]. Aumento da Matrícula de Educação Primária de 86% [3.261.343] para 93% [3.473.886]. Aumento da Matrícula de Educação Média de 48% [400.794] para 76% [1.620.583]. A Educação Universitária se incrementou de 862.862 estudantes no ano 2000 para 2.629.312 em 2013. Quase um de cada dez venezuelanos cursa educação superior. Em linhas gerais, estas cifras indicam que um de cada três venezuelanos está estudando.
5
A assistência escolar de pessoas entre os 3 e 16 anos passou de 84,4% em 1997/1998 para 91.3% em 2013/2014. Os anos de escolaridade média da população de 25 anos e mais aumentaram de 7,35 anos em 1998 para 9,57 em 2014, No mesmo período, Venezuela criou 16 novas universidades de acesso gratuito, entre elas uma das Artes e outra da Segurança.
6
Melhoras educativas melhoram os hábitos culturais. Segundo pesquisa do Centro Nacional do Livro em 2012, 82% dos venezuelanos lê qualquer tipo de materiais; 50% deles, livros, que agora são abundantes e acessíveis, o qual nos converte no terceiro país leitor da América Latina. Em Venezuela funcionam uns 29.000 plantéis educativos nas diversas ramificações da educação, em sua maioria públicos e gratuitos. O governo distribuiu uns três milhões e meio de Canaimitas, computadores com os programas educativos incorporados, e instalou wi-fi gratuito em todos os plantéis públicos. Se levanta uma geração cada vez mais informada e informatizada, melhor preparada para as provas da sabotagem interna e a agressão imperial.
Tradução: Joaquim Lisboa Neto



terça-feira, 28 de abril de 2015

As mulheres, a guerra e a paz


Por Rubin Morro
Integrante da Delegação de Paz das FARC-EP
As mulheres sempre estiveram na luta política e nas vitórias dos povos pela emancipação, justiça e liberdade. Sua presença tem sido permanente no protagonismo social, político, cultural e econômico, ainda que seu reconhecimento e visibilidade nessa grande empreitada tem sido ofuscada, inclusive excluída do desfrute das conquistas, por padrões patriarcais existentes.
Pelo contrário, continuam em sua vida cotidiana com o duplo papel, a dupla jornada de trabalho. Constitui esta uma das facetas mais excludentes e impositivas que tem levado a mulher à mais horrível exploração e discriminação.
É um odioso e profundo empecilho que temos os humanos levado por milhares de anos arrastando como uma pesada carga, é uma enfermidade terminal que devemos combater com uma nova concepção da vida e das relações entre as pessoas, sem importar nossa condição de classe, raça, credo, sexo e outras realidades diversas de identidade.
Como se fosse pouco, se lhes destinou especificamente a reprodução, os trabalhos domésticos; e na vida trabalhista se lhes recompensa com um salário que está abaixo do que pagam aos homens por cumprir o mesmo trabalho. No entanto, apesar da existência de normas legais para vinculá-la ao processo produtivo, depois de fazê-lo, terminam em responsabilidades secundárias, impondo-se o homem acima dela, exclusivamente por sua condição masculina.
As guerras convencionais e os conflitos internos fizeram das mulheres suas principais vítimas: foram assassinadas, deslocadas, ameaçadas, são milhares as viúvas e órfãs; milhões as que padeceram de violências de todas as maneiras e tipos possíveis.
Em meio a semelhante adversidade, as mulheres continuam construindo seus sonhos e desejos, através de suas lutas pela igualdade de gênero e social, pela conquista plena de seus direitos, pelo reconhecimento como sujeitos sociais e políticos. Daí seu protagonismo no processo de paz que se desenvolve em Havana.
Porque é claro que em Colômbia não haverá paz sem o concurso criador e massivo da mulher, sem sua participação ativa. A inclusão das mulheres em todas as etapas de construção da paz é um requisito essencial para a sustentação da mesma.
Um informe da ONU assinala que em processos de paz, desde 1992 até a presente data, a participação das mulheres tem sido baixa; no entanto, nestes processos a violência sexual contra elas tem sido referenciada no debate. Na década de 1990, na República de El Salvador na Mesa de Negociação com a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional [FMLN], as mulheres propuseram um plano de reparação.
Na Irlanda do Norte, as mulheres asseguraram a participação de uma representante na Mesa de paz criada em 1997, ao constituir uma agrupação política de mulheres de distintos partidos que participou na reconciliação e reintegração dos presos políticos. Na República da África do Sul, em meados da década de 1990, a Comissão Nacional da Mulher pediu que a metade dos multipartidaristas fossem mulheres, e conseguiu com que um de cada dois representantes de cada partido também fosse uma mulher, participantes no processo de negociação.
Na República de Guatemala, as mulheres influíram de maneira significativa nas conversações que conduziram ao acordo de paz de 1996. Em Asha Hagi Elmi constituiu o Sexto Clã de mulheres na República da Somália nas conversações de paz onde se havia excluído as mulheres. Em Burundi, as mulheres apresentaram sua lista de recomendações ao facilitador das negociações, Nelson Mandela, e mais da metade das referidas propostas ficaram recolhidas no acordo de paz.
É apenas uma mostra dos esforços que as mulheres fizeram por alcançar seu espaço na sociedade, por serem ativas construtoras de paz.
Em 26 de agosto de 2012, o Governo e as FARC-EP firmaram um “Acordo Geral para a terminação do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura”. Cabe aqui relembrar que nos recentes processos de paz levados a cabo em Colômbia as mulheres não foram incluídas como deveriam ser; no entanto, na Delegação de Paz das FARC-EP quase a metade são mulheres e nas instâncias da Mesa de Conversações em Havana se criou a Subcomissão de Gênero para dar um enfoque de gênero aos acordos, para dialogar com representantes de organizações de mulheres, das quais marcaram presença 16 lideranças e 2 representantes da comunidade LGBTI. As conclusões das três audiências realizadas serão recolhidas e levadas em conta nos acordos pactuados a partir da perspectiva de gênero.
Definitivamente, devemos tod@s, sem exceção, desenvolver uma campanha de visibilidade, reconhecimento do papel e dos direitos das mulheres, com medidas afirmativas temporais, enquanto isso seja necessário, que permitam alcançar a igualdade de gênero. Deve ser um compromisso dos homens junto a elas avançar neste necessário e urgente objetivo de vida e de esperança para o futuro da sociedade.


Tradução: Joaquim Lisboa Neto

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Equipe ANNCOL - Brasil

segunda-feira, 27 de abril de 2015

EUA imperialista: decadência e isolamento


Por Sérgio Barroso.

O Secretário Assistente do Tesouro do governo Reagan, Paul Craig Roberts tem insistido sistematicamente sobre o que chama de passagem ao “subdesenvolvimento” dos Estados Unidos da América. Analisa o economista – como inúmeros pesquisadores – que o transportar da manufatura da grande empresa americana especialmente à Ásia (“outsourcing”) acelerou fortemente o fenômeno da desindustrialização do país.

Ironizando as fantasias de neoliberais das universidades de Harvard e do MIT (Centro Industrial e Tecnológico de Massachussets), Roberts reforça suas opiniões relembrando que os centros industriais dos EUA se tornaram “cascas” daquilo que simbolizavam: Detroit perdeu 25% da sua população, assim como Gary Indiana 22%, Flint Michigan 18%, e St. Louis 20% dela!

Noutro longo e veemente enfoque (“
O futuro dos Estados Unidos será a ruína”) [1], Roberts afirma que os EUA instalaram um nível de corrupção e manipulação na sua economia, assim como sua política externa, atualmente, que simplesmente seriam impossíveis em outros tempos, quando a ambição e Washington era conter a União Soviética. “A ganância pelo poder hegemônico fez de Washington o governo mais corrupto do planeta”, diz.

Ao ser explícito em que nenhum outro país no mundo entrega a “um bando de vigaristas e crápulas de
Wall Street” a direção de sua economia e sua política externa, bem como o domínio completo de seu Banco Central e de seu Tesouro – “a serviço de 1% da população” -, o economista vai bem além: todos deveriam agradecer ao presidente russo Vladimir Putin, pois ele tem o poder de destruir a OTAN e todo o sistema financeiro ocidental inteiro quando quiser.

Bastaria anunciar que, “como a OTAN declarou guerra econômica contra a Rússia, a Rússia não mais venderá energia para os membros da OTAN”. Isso porque – sublinha Roberts – imediatamente ocorreria “a dissolução da OTAN, pois a Europa não pode sobreviver sem os suprimentos energéticos da Rússia. Seria o fim do império de Washington” (Roberts, idem). E Putin não tem aceito as provocações da OTAN, complementa Roberts.
Pobreza cresce e se expande no império

Simultaneamente à desindustrialização escancarada, novos dados sobre a trágica decadência do império norte-americano revelam que no início deste ano já somavam 3,5 milhões de pessoas sem moradias, o que significa o triplo desse número desde 1983; estão sem teto 1,5 milhões de crianças das 15 milhões de crianças que passam fome. Igualmente triplicou nesse período para 18 milhões as casas-fantasmas (vazias e sem moradores!). A própria UNICEF (ONU) descreve atualmente os EUA como um país que menos protege suas crianças, em cuja lista aparece (inacreditavelmente) abaixo da Grécia e ficando apenas duas posições acima da Romênia. Eram 60 mil os sem tetos no último inverno, sendo a metade crianças. [2]

Já o cientista político e matemático Charles Ferguson, [3] entre 2001-2007, anos exatamente anteriores à detonação da crise financeira (das hipotecas subprime) de agosto de 2007, o 1% do topo da pirâmide das famílias americanas abocanhou metade do crescimento total da renda do país. Para o também autor do prestigiado documentário “Inside job” (“Trabalho interno”), no começo de 2014 a riqueza americana é ainda mais concentrada que a renda: 0,1% mais rico dos americanos possuem cerca de um terço de toda a riqueza líquida da população e mais de 40% de toda a riqueza financeira dos Estados Unidos. “Isso é mais que o dobro da parcela detida pela camada inferior de 80% da população” – assegura ele.

Fundamentos econômicos da decadência X extensão militarista


Sendo sempre necessário revisitar formulações centrais de Paul Kennedy e seu clássico “Ascensão e queda das grandes potências” (Campus, 1989), lá se lê que a história dos últimos 500 anos de rivalidade internacional mostra que apenas segurança militar não é suficiente “jamais”: no curto prazo pode até “conter ou derrotar rivais”, porém ao se estender demais “geográfica e estrategicamente”, e mesmo isso ocorrendo num nível “menos imperial” volta-se à “proteção” e menos ao “investimento produtivo”, provavelmente verá a redução de seu poderio econômico “tristes implicações para a sua capacidade de manter a longo prazo o consumo de seus cidadãos e sua posição internacional” (p. 511).

Noutras palavras, para Kennedy a história “sugere” claramente, “a longo prazo”, a ligação entre “a ascensão e queda econômica de uma grande potência militar (ou império mundial)” (idem, p.7-8). Ou como precisamente escreveu Eric Hobsbawm, acerca deste ponto, uma das fraquezas do império americano no século XXI é que “no mundo industrializado de hoje, a economia dos Estados Unidos já não é dominante com era antes”; além do que “o mundo é demasiado complexo para que um único país possa dominá-lo”, por óbvio ressaltando a proeminência militar deste imperialismo. [4]

Ademais, o declínio do imperialismo norte-americano passa cada vez mais da aparência (imediata) à essência na dialética da agressão-regressão. Seu endividamento público passou de 65% do PIB em 2007 para 106% no início de 2014(US$ 18,1 trilhões em março de 2015); embora o endividamento seja apenas parte do declínio econômico-social norte-americano e se dê na própria moeda ainda reserva principal, o dólar, o problema não tem solução no horizonte.

Por isso também, intitulando seu estudo sugestivamente de “A grande degeneração. A decadência do mundo ocidental”, o badalado conservador da Harvard Business School e da London Economics School, Niall Ferguson sentencia: “A dívida pública – declarada e implícita – tornou-se uma forma de a geração mais velha viver à custa dos jovens e dos que ainda estão por nascer”, o que tornou disfuncional a ponto de aumentar a fragilidade do sistema”. Ademais, “é remota” a perspectiva de que um avanço tecnológico comparável às “ferrovias poderia tirar os Estados Unidos da situação em que se encontra”.Taxativamente, para Ferguson a chamada “Grande recessão é meramente um sintoma de uma – mais profunda – Grande Degeneração”. [5]

Vão à mesma direção, quer dizer, a das razoes estruturais, as recentes interpretações acerca da situação da economia mundial, ainda epicentrada na hegemonia imperialista dos EUA. Um dos principais gurus da liberalização financeira, o ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers, quando declarou (novembro de 2013) que os EUA correm o sério risco de submergirem numa “estagnação secular”, isto é, a ideia de que a depressão econômica passe a ser a norma. Ou de vivenciarmos uma “nova mediocridade” (Cristine Lagarde, atual diretora-gerente do FMI).


O profundo contra-ataque sino-russo (a Nova Rota da Seda)

Em recentíssima visita a Moscou, Wang Yi, Ministro de Relações Exteriores da China, declarou que a política russa de “Olhar para o Leste” e a política chinesa de “Rumo ao Oeste” (essencialmente incluindo o projeto portentoso de Nova(s) Rota(s) da Seda) “criaram oportunidades históricas para incorporar as estratégias de desenvolvimento dos dois países”. A estratégia da Rússia de “Olhar para o Leste” advoga também sobre a integração eurasiana, assim como Moscou precisa também da Ásia-Pacífico para desenvolver a Sibéria Oriental e o Extremo Oriente da Rússia.

A refinada análise é de Pepe Escobar [6], para quem a aliança estratégica vem evoluindo e não tem a ver só com energia – a possibilidade de investimentos controlados pela China em projetos russos cruciais de petróleo e gás ou como na indústria da defesa: “é cada vez mais assunto de investimentos, banking, finança e alta tecnologia”.

O que envolve ainda a cooperação Rússia-China dentro da Organização de Cooperação de Xangai, até a participação Rússia-China no novo banco de desenvolvimento dos BRICS e o apoio russo ao Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura, BAII [orig. Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB)] liderado pelos chineses, passando pelo apoio russo à Fundação Rota da Seda de controle chinês.

Conforme disse ainda Wang, a Nova Rota da Seda desenvolverá uma “nova plataforma”, um corredor econômico trilateral unindo Rússia, China e Mongólia: planeja-se o corredor de transporte eurasiano, ou seja, uma nova Estrada de Ferro Transiberiana, “moderníssima, de alta velocidade, ao preço de US$ 278 bilhões”, que conectará Moscou e Pequim, além de tudo que haja entre uma e outra, em apenas 48 horas.

Bem além, Pequim e Moscou, com outros países BRICS, estão andando rapidamente em direção ao comércio independentemente do dólar norte-americano, usando suas próprias moedas. Paralelamente, estão estudando a criação de sistema alternativo ao sistema SWIFT de compensações internacionais, ao qual as nações europeias terão necessariamente de aderir, agora que já se integraram ao AIIB.
Cegueira imperialista e isolamento

Afinal, como é possível que isto suceda a um presidente inteligente que se enreda numa guerra sem fim na Mesopotâmia, e que na Eurásia persegue um objetivo que não tem o menor impacto direto para os interesses vitais estadunidenses ao mesmo tempo em que, debaixo do seu nariz, se desenvolve uma reconfiguração fundamental da dramaturgia asiática?

A certeira pergunta-resposta vem do ex-diplomata indiano M. Bhadrakumar. [7] O estrategista indiano revela ainda que a chanceler Angela Merkel afirmou (15 de Março de 2015), quando da inauguração da Feira de Hannover, que a economia alemã vê a China não apenas como parceira comercial, a mais importante fora da Europa, mas também como parceira no desenvolvimento de tecnologias complexas.

Noutras palavras, o amplo isolamento dos EUA é fato consumado e decorre de seu declínio relativo e cada vez mais acentuado, hoje!

[O próximo artigo incluirá criticas as posições (atrasadas) do marxista Perry Anderson na conclusão de seu novo livro sobre a teoria da política externa dos EUA e a situação atual desse imperialismo]
Notas
[1] Original em: http://www.paulcraigroberts.org/2015/01/16/ruin-future-paul-craig-roberts/ , Institute of Political economy, 16/01/2015.

[2] Ver: “O capitalismo nos país das maravilhas”, Antonio Santos, Avante!, 19/03/2015.

[3] Ver: “O sequestro da América. Como as corporações financeiras corromperam os Estados Unidos”, Zahar, 2013.

[4] Ver: “O império se expande cada vez mais”, in: “Globalização, democracia e terrorismo”, Companhia das Letras, 2007 [2003], pp. 156 e 158.

[5] Cf. Planeta, 2013, pp. 114, 113 e 15 respectivamente.

[6] Ver o excelente artigo de Escobar, “A nova Rota de Seda encontra a União Eurasiana”, em: redecastorFhoto

(http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/04/pepe-escobar-nova-rota-da-seda-encontra.html).

As informações que seguem, publicas, estão disponíveis nos artigos de Escobar, de M. Bhadrakumar e de Zhou Zhiwei (em: “Considerações estratégicas da adesão do Brasil ao BADII”, Diário do Povo Online, 16/04/2015).

[7] Em: “A Europa também vira... na direção da China”, M.K Bhadrakumar, 16/03/2015, (http://choldraboldra.blogspot.com.br/2015/03/a-europa-tambem-vira-na-direcao-da-china.html).


domingo, 26 de abril de 2015

Mujica prestará ajuda em diálogos de paz da Colômbia


O ex-mandatário uruguaio se ofereceu para participar no processo como mediador dos diálogos de paz da Colômbia que se desenvolvem em Havana. O ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, informou que em breve viajará a Cuba para prestar colaboração nos diálogos de paz que o Governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia [FARC] adiantam. Numa entrevista a um diário espanhol, Mujica informou que o propósito de sua visita é dialogar com o comando das FARC. “Eu terei poucos anos de vida e, uma pessoa tem que ter consciência, para mim o mais importante é respaldar e dar uma mão. Se posso ajudar em algo, vou ajudar a quem quer que seja. Agora, tenho que ir por um pedido do presidente da Colômbia a discutir algo com a direção das FARC”, explicou o ex-presidente uruguaio, quem é atualmente senador do Movimento de Participação Popular [MPP]. Mujica manifestou sua disposição desinteressada de contribuir com a paz da Colômbia. “Desde o ponto de vista pessoal, eu não vou [fazer] nada, porém contribuir para a paz da Colômbia ajuda. Então, o dever é ser aberto, desinteressado e apoiar tudo o que se possa positivamente”, assegurou o ex-presidente uruguaio. Mais tarde, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, publicou um tweet na rede social Twitter no qual agradecia a disposição de Mujica, porém esclareceu que não o nomeou mediador.

Este conteúdo foi publicado originalmente por teleSUR

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Carta aberta das FARC-EP ao Presidente Santos


No discurso de instalação da última sessão do Conselho Nacional de Paz, o senhor Presidente Santos manifestou que, pelos fatos ocorridos a 14 deste mês na vereda La Esperanza, município de Buenos Aires, Cauca, a bola fica do lado das FARC. Isto, certamente, referindo-se a que os comandantes guerrilheiros devem se manifestar e atuar. Isso, supomos.
A este respeito fomos claros ao manifestar, por ocasião da terminação do ciclo 35 das conversações de Havana, que o acontecido tinha sido uma tragédia. “E o foi [afirmamos] porque a guerra é uma enorme tragédia. Em nossa pátria uma tragédia de mais de meio século. Precisamente por isto nos encontramos em Havana”. E expressamos de maneira serena três interrogantes: “Que sucedeu?”, “Por que sucedeu?” e “Como sucederam os fatos do 14-A?”. Isto com a intenção de manifestar que situações de guerra da natureza que se deram há que evitá-las a todo custo. Por isso, no tópico seguinte insistimos em reiterar a decisão de manter o cessar unilateral e por tempo indeterminado de fogos e hostilidades. O país já pôde constatar os benefícios dessa iniciativa nossa, que, para desgraça da nação, foi recebida por alguns como “uma rosa cheia de espinhos”. Frase que, desde um começo, nos fez entender que qualquer situação crítica de guerra que pudesse ocorrer no caminho teria de ser cobrada sem considerações de tempo, modo e lugar. No entanto, continuamos sustentando a decisão política-militar já tomada. Porém, no lógico entendimento de que, suspenso unilateralmente o fogo sem ter-se solucionado ainda o conflito, se mantém o natural direito à legítima defesa. A quem está quieto, há que deixá-lo quieto.
Bem anotou o Presidente Santos que “é fácil, muito fácil, continuar falando de guerra sentados num escritório ou desde as trincheiras das redes sociais”. Magnífica frase para ser levada em conta quando qualquer contratempo que se apresenta no magno projeto da paz leva os inimigos escondidos e não escondidos da reconciliação, e os sábios de última hora em temas desconhecidos para eles a rasgar-se as vestes e a pedir que se mantenham suas comodidades ao preço de litros de sangue alheio.
As FARC-EP têm sido claras ao manifestarem que a paz é um imperativo. E que está em Havana para cumprir com o acordado com o governo em 26 de agosto de 2012. Seu conteúdo é claro. Está ao alcance de quem o queira conhecer ou ler nos meios eletrônicos de comunicação social. E o colocamos de presente porque comentaristas de ofício e vários burocratas, mais obcecados em agregar tempo a sua carreira para a aposentadoria que em buscar soluções ao conflito, pontificam tendo em conta seu próprio parecer sem nem sequer avaliar o sucedido em nossa pátria nos últimos sessenta anos.
O processo de paz, há que sacá-lo ao outro lado. E rápido. Sem recorrer a mecanismos manhosos e sem prorrogações injustificadas. O Acordo Geral para a Terminação do Conflito é claro. Na agenda se encontram os instrumentos requeridos para chegar à meta desejada. Já que a bola está do nosso lado, no dizer do doutor Santos, se propõe que aceleremos o processo no entendido, sim, de que há tempos dos quais não se pode escapar. A consecução da paz não se conquista com cronômetro na mão, mas sim solucionando temas. Se de celeridade se trata, desde o ciclo 34 de conversações temos todas as propostas referidas a vítimas sobre a mesa. Dito isto, consideramos então que se devem adiantar alguns passos que precipitem a terminação do conflito, para o qual há que deixar a subjetividade de lado e ser práticos.
1 – Sugerimos ao senhor Presidente, de maneira comedida, que o papel que vem assumindo de ativista da paz e fazedor da guerra corresponda mais a seu desejo de aplanar o caminho para uma solução possível de reconciliação e menos a sua necessidade de acender uma vela a deus e outra ao diabo. A política local não deve alterar sua rota. Reconhecemos que vem sendo provocado [para empregar um termo já utilizado por nós outros] e desafiado a partir de colunas de opinião, microfones, salões sociais, cenários políticos e ainda a partir de gabinetes públicos como a vice-presidência, de onde se atreveram a indicar-lhe como deve proceder. É indispensável a manutenção de sua serenidade.
2 – Não conseguimos entender por que na Mesa se prorrogam ou retardam decisões que deveriam ser tomadas há meses. Exigimos apressar a marcha quando se trata de assuntos de total obviedade. Desde que pusemos em consideração a criação da Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas até o momento de sua integração, transcorreu um ano e três meses. E, uma vez entregue o informe, tem sido impossível dar trâmite a suas conclusões. O desgaste para alcançar algo tão importante para o país e para o fim do conflito é inexplicável. Muito mais quando ex-presidentes, o próprio Chefe de Estado e aqueles que sabem de história da Colômbia reconhecem que o conflito tem se estendido por mais de 50 anos. Afirmam-no e o reiteram.
Não existe quem, conhecendo os informes dos comissionados –todos eles vindos de procedências díspares e de origens ideológicas contrapostas-, não conclua que se dá uma responsabilidade do Estado por ação ou por omissão, pela tragédia surgida há décadas e que ainda persiste. Dali que se fale de um número significativo de vitimários procedentes de setores diversos da sociedade colombiana.


Assim as coisas, propomos ao país:
  1. Que se difunda massivamente o aludido informe. Imperante esta necessidade. Urgente. Deve-se enviar a todos os rincões do país para seu estudo e consideração. Às universidades, colégios normais, para que assim se contra-arreste o fato de que o país retirou de seu pensum de formação acadêmica a história da Colômbia. Se não se conhece o que ocorreu na pátria nos últimos cinquenta ou sessenta anos, não se pode criar uma consciência e uma cultura de paz.


  1. Que o senhor Presidente conheça de maneira detalhada o referido documento denominado Contribuição ao Entendimento do Conflito Armado em Colômbia [Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas], de fevereiro de 2015, e convide seu gabinete ministerial e funcionários com capacidade de decisão a que se ocupem de sua leitura e estudo.


  1. A integração imediata pela Mesa de uma comissão de avaliação dos resultados do informe e do estudo dos alcances para a paz, da responsabilidade do Estado. Urge fazê-lo para estabelecer precisamente responsabilidades jurídico-políticas derivadas de seu consolidado conteúdo.


  1. A integração imediata de uma comissão que conduza ao cumprimento do sub ponto 7 do ponto 3 da Agenda sobre terminação do conflito que diz assim: “7. No marco do estabelecido no Ponto 5 [Vítimas] deste acordo se esclarecerá, entre outros, o fenômeno do paramilitarismo”. A comissão que se crie para informar sobre o fenômeno do paramilitarismo deve ser integrada na próxima rodada sem prorrogação alguma.


  1. Não se deu um processo de paz no mundo no qual não se tenha conhecido a verdade do ocorrido antes da firma do acordo final, para o qual, sem exceção que se conheça, se abriram previamente os arquivos dos diversos regimes. Por isso, pensando nas vítimas e no direito nacional e individual à verdade, solicitaremos todos os dias e seguiremos insistindo a cada vez que nos encontremos com os plenipotenciários do governo em que se abram os arquivos. Se devem dar a conhecer as atas dos conselhos de ministros que desde os anos vinte do século passado são guardadas em segredo, como se a história fosse necessária ocultá-la para que não se julgue. Que se abram os arquivos da polícia secreta, dos agentes de inteligência do Estado [SIC, DAS, força pública em geral, Ministério de Guerra, hoje de Defesa, no relacionado ao conflito interno, e de Governo, hoje do Interior]. Que se abram os arquivos! Pedimos aos plenipotenciários do governo e ao Presidente Santos que, em momentos em que buscamos conjuntamente a paz, não tenham temor à verdade. Que se abram os arquivos.


SECRETARIADO DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP


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Equipe ANNCOL - Brasil

Assim manipulam os meios de comunicação em Colômbia


A manipulação dos meios de comunicação aos colombianos e colombianas chega à beira do cinismo. Torna infame a forma de fazê-lo durante as 24 horas do dia sem que haja um controle ou pelo menos um chamado de atenção por parte do Ministério de Comunicações. Os polvos midiáticos atuam à vontade no marco do neoliberalismo. São deuses sem Deus e sem lei.
Durante os últimos dias não cessou o show midiático sobre a suposta ação militar da guerrilha no estado do Cauca, aproveitando a dor, o analfabetismo político da maioria do povo colombiano e seu alto grau de alienação e alheamento, não pararam de “vomitar” ódio, sectarismo, violência e predisposição do povo contra a insurgência e concretamente o processo de paz que se adianta em Havana [Cuba] entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Exército do Povo [Farc-EP] e o presidente Santos.
Há honestidade e sinceridade nos meios de comunicação? Sentem realmente a tragédia fruto da decomposição do regime capitalista? Querem realmente o fim do conflito armado em Colômbia? Nada disso. Pelo contrário. O interesse é o rompimento desses diálogos e que o país continue nesta dramática violência. Quem são os que estão por trás desses meios? Pois, a oligarquia e o imperialismo norte-americano, e eles existem em função da e graças à violência. Quer dizer, enquanto exista a oligarquia ou o imperialismo, existirá a violência. Por acaso, não é um fato violento e inumano explorar o povo em geral como se vem explorando por uma elite enquistada no poder? Por acaso, não é violência a fome, o desemprego, a corrupção e a exploração do homem pelo homem?
No entanto, por trás desse barulho hipócrita da mídia sobre este acontecimento doloroso, evidentemente, porque significa a perda de vidas humanas, há um interesse superior e mesquinho. Ocultar algo supremamente grave e significativo para este país governado por máfias do narcotráfico e da corrupção. A detenção de duas “vacas sagradas do estabelecimento”, como diria o escritor costumbrista Álvaro Salom Becerra, nada mais nada menos que dois esteios do tristemente célebre ex-presidente Álvaro Uribe Vélez: Sabas Pretel de la Vega, ex-ministro do Interior, e Diego Palacio, ex-ministro de Educação. Ambos foram condenados a somente cinco anos, porém, de todas as maneiras, foram condenados ou sentenciados, pelo caso da “Yidis política”.
Até agora, nem um só funcionário do senhor Uribe Vélez sai limpo, decente e com decoro. Não em vão se dizia que o palácio de Nariño durante esta nefasta administração foi convertido numa caverna de delinquentes e que a muitos lhes fez vir à memória a história de “Ali Babá e os 40 ladrões”. Pouco a pouco todos vêm caindo como o baralho; não obstante, o “rei” continua desafiando a justiça. Porém, como diz a propaganda: “Ele também cairá”, com certeza lhe chegará a hora de responder por seus numerosos crimes de lesa-humanidade como bem o vêm denunciando distintas ONGs de Direitos Humanos.
Essa grande notícia foi apresentada nas entrelinhas, às escondidas, foi calada deliberadamente. Quem fala hoje do tema? Ninguém. Por outro lado, sobre o combate se faz todo tipo de comentários com base na informação sensacionalista desses meios massivos de comunicação. E o fazem porque foram soldados a serviço das multinacionais e transnacionais os que caíram. Se tivesse sido o contrário, com toda certeza teria havido um simples comentário e alegria delirante como se a insurgência não fosse colombiana, seres humanos com familiares e dolorosos. Isso não é monstruoso? Isso não é indignante? Isso não nos deve chamar a atenção? 
Não há dúvida: O pior Valium no século XXI são os meios massivos de Comunicação, propriedade das multinacionais e transnacionais. Diariamente nos apresentam uma realidade virtual, totalmente diferente da realidade. Para a mostra, um botão…


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Equipe ANNCOL - Brasil

União Latino-Americana de Agências de Notícias rechaça agressão dos EUA contra Venezuela


Venezuela não é uma ameaça. O povo venezuelano é portador de uma tradição de solidariedade que os latino-americanos relembramos sempre com profundo afeto”, manifesta o texto, emanado da IV Assembleia da ULAN, realizada em Quito, Equador.

Além disso, as agências de notícias integrantes da instância ratificaram seu compromisso de “informar desde uma visão que reconhece como valores centrais a irmandade de nossos povos a defesa da democracia em toda a região, o respeito à soberania e a não ingerência nos assuntos internos de nossos países”.
A seguir, o texto na íntegra:
As agências de notícias integrantes da União Latino-Americana de Agências de Notícias reunidas na cidade de Quito [Equador], no marco da IV Assembleia da ULAN durante os dias 23 e 24 de abril de 2015, ratificamos nosso compromisso de informar desde uma visão que reconhece como valores centrais a irmandade de nossos povos, a defesa da democracia em toda a região, o respeito à soberania e a não ingerência nos assuntos internos de nossos países
Neste sentido, as agências de notícias reunidas em Quito rechaçamos a agressão do governo dos Estados Unidos contra a República Bolivariana de Venezuela.
Venezuela não é uma ameaça. O povo venezuelano é portador de uma tradição de solidariedade que os latino-americanos relembramos sempre com profundo afeto.
Entendemos que nossa responsabilidade como agências públicas se incrementa frente ao desafio que impõem novas práticas de forças distanciadas de valores democráticos que utilizam o poder de diferentes meios e redes sociais para realizar campanhas de desestabilização que também visam dividir e violentar aos povos de nossa região, como pudemos evidenciar em experiências vividas em países como Argentina, Bolívia, Brasil e Equador.
A ULAN agradece a recepção dispensada pelo secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, e expressamos nosso total acordo com seu chamado de atenção sobre a necessidade de preservar nossa região como um espaço de paz, livre de armas nucleares, e sobre a existência hoje de formas mais sutis de intervenção contra nossos povos.
Sob esta ótica, assumimos hoje a responsabilidade de abordar com maior profundidade os fenômenos de violência que afetam a setores populares de países como Brasil e México, que requerem enfoques jornalísticos inovadores, mais responsáveis e com capacidade a fim de contribuir para sua solução.
Em outra ordem, as agências que integramos a ULAN ratificamos nossa responsabilidade para fortalecer o sítio web ANSUR (ansur.am) como uma ferramenta fundamental no caminho da integração através da comunicação.
Finalmente, a ULAN felicita e agradece aos companheiros da agência Andes pela excelente organização e disposição para que a IV Reunião Executiva fosse exitosa. Ampliamos nosso agradecimento ao povo equatoriano pelo tratamento fraternal que proporcionou a nossas delegações.

Tradução de Joaquim Lisboa Neto