FIDEL E A RELIGIÃO
Pablo Mora
Rebelión
Em 1985 começou um famoso dialogo entre Fidel Castro e o frade dominicano Frei Beto que apareceria no antológico Fidel e a Religião, “livro que teve um grande impacto porque tirou o prejuízo dos comunistas e o medo dos cristãos, criou pontes nas duas margem de um mesmo rio”, diria Betto. A primeira vez que um líder comunista no poder falava positivamente da religião, diante de colocações provocativas. Fidel Castro oferece revelações sobre sua informação pessoal e discute com sinceridade sua visão sobre religião. O resultado foi uma extraordinária reconciliação entre religião e revolução. Fidel assinala: “Há 10.000 vezes mais coincidências entre o cristianismo e o comunismo que entre o cristianismo e o capitalismo”. E Frei Betto concorda em que “as sociedades socialistas que criam melhores condições de vida para seu povo estão, inconscientemente, cumprindo com o que nós, homens de fé, consideramos o projeto histórico de Deus”.
Por ocasião da segunda viagem do Papa Benedito XVI a América Latina, México e Cuba, reproduzimos alguns momentos do diálogo entre Fidel Castro e Frei Betto, em 1985. Ai está a carta de liberdade de religião no socialismo cubano, admitindo-se que esta também pode contribuir para mudar a realidade, revolucionar um país, derrubar a opressão e implantar a justiça. O que leva Frei Betto a afirmar: “O que falta aos Bispos cubanos é uma teologia que lhes permita entender o socialismo como uma etapa imprescindível no caminho rumo ao Reino de Deus”.
Frei Beto: “Em Medellín, em 1968, começaram muitas mudanças na Igreja no nosso continente; a Igreja se aproximou mais dos pobres... E eu costumo dizer que mais do que a Igreja fez em opção pelos pobres, por força da repressão, os pobres fizeram opção pela Igreja, ou seja, buscaram na Igreja um espaço para se manter organizados, articulados, conscientes e atuantes”.
Fidel Castro: “Você expressa realmente com muita beleza que os pobres invadiram a Igreja. Eu acho que a dor dos pobres invadiu a Igreja, a tragédia indescritível dessas massas invadiu a Igreja. Acredito que o grito de dor chegou até a Igreja, sobretudo aos pastores que estavam mais próximos do rebanho, que podiam ouvir mais de perto seus gritos, suas dores, seus sofrimentos”.
Frei Beto: “Certa vez o senhor disse que aquele que se distancia dos pobres se distancia de Cristo. Não sei se o senhor, possivelmente, tinha consciência de que esta frase não somente é uma frase muito famosa, diria eu que é o fundamento de toda a Teologia da Libertação. Mas, nesta frase, o senhor concordou com uma frase de João Paulo II em sua encíclica Laborem Exercens, que trata do trabalho humano, em que reafirma que a fidelidade da Igreja com Cristo se verifica pelo seu compromisso com os pobres”.
Fidel Castro: “De fato, certa vez, disse uma frase que posso reiterar hoje, essa que você mencionou: aquele que trai o pobre, trai Cristo... Sempre fizemos o possível para que não se pudesse desenvolver nenhum sentimento anti-religioso na Revolução, por uma questão de princípios, por respeito às crenças e porque são realidades as religiões e os sentimentos religiosos”.