"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Carta do Padre Javier Giraldo ao Padre John Dear sobre o convite ao ex-presidente Uribe para ser catedrático da Georgetown University

6 de setembro de 2010

Prezado John:

Recebe um fraternal e carinhoso abraço.

Escrevo muito preocupado pelo fato de que na nossa universidade jesuíta de Georgetown tenham vinculado como docente ao ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe Vélez. Não termino de receber mensagens de pessoas e grupos que sofreram enormemente durante seu governo, que reclamam e questionam a atitude da nossa Companhia ou a sua falta de discernimento ético ao tomar esse tipo de decisão.

É possível que a direção de Georgetown tenha recebido opiniões positivas de colombianos de altas posições econômicas ou políticas, mas é difícil que ignorem ao menos as profundas controvérsias éticas que levantou seu governo e os questionamentos e sanções que recebeu de muitos organismos internacionais que tratam de proteger a dignidade humana. O simples fato de que durante sua carreira política, desde quando era Governador do Departamento de Antioquia (1995-1997) tivesse fundado e protegido tantos grupos paramilitares, chamados eufemisticamente de “Convivir”, que assassinaram e desapareceram a milhares de pessoas e deslocaram multidões cometendo muitas outras atrocidades, implica em uma exigência de censura ética para encomendar-lhe qualquer responsabilidade no futuro. Mas não somente continuou patrocinando esses grupos paramilitares, mas os manteve e os complementou com um novo modelo de paramilitarismo legalizado, como são as redes de informantes, as redes de cooperantes e o novo tipo de empresas de segurança privada que envolve vários milhões de civis em atividades militares relacionadas com o conflito armado interno, enquanto mentia à comunidade internacional com uma falsa desativação dos paramilitares.

Além disso, foi escandalosa durante seu governo a prática dos “falsos positivos” consistente em assassinar civis, principalmente camponeses, e depois de mortos vestirem-los de combatentes para justificar a sua morte. Com isso pretendia mostrar falsas vitórias militares sobre os rebeldes e eliminar aos ativistas dos movimentos sociais que lutam pela justiça.

A corrupção durante seu governo foi mais do que escandalosa, não só pela presença de narcotraficantes nos cargos públicos, mas porque o Congresso e muitos cargos de governo foram ocupados por delinquentes. Hoje há mais de cem congressistas envolvidos em processos criminais, todos eles do entorno eleitoral mais próximo do ex-presidente Uribe.
Foi escandalosa a compra de consciências para manipular os aparatos de justiça, o que terminou destruindo, em níveis muito profundos, a consciência moral do país. Também foi escandalosa a corrupção com que seus ministros mais próximos manejaram a política agrária para favorecer os mais ricos com os dinheiros públicos, enquanto impedia e estigmatizava os projetos sociais. A corrupção dos seus filhos, para se enriquecer às custas das vantagens de poder, escandalizou em seu momento a toda a nação. Também utilizou o organismo de segurança que estava diretamente sob seu controle (Departamento Administrativo de Segurança) para espionar mediante controles telefônicos clandestinos, às Cortes de Justiça, aos políticos da oposição, aos movimentos sociais e de direitos humanos.

Foram extremamente escandalosos os mecanismos corruptos dos quais se utilizou para conseguir a sua reeleição à Presidência em 2006, o que têm levado a ministros e colaboradores próximos ad-portas da cadeia. O manejo que fez de coordenação entre o Exército e os grupos paramilitares levou a que durante seu período houvesse 14.000 execuções extrajudiciais. Suas estratégias de impunidade para quem desde o Estado ou o Para-estado perpetraram crimes de lesa humanidade, passarão à historia por seu atrevimento.

A decisão dos jesuítas de Georgetown de oferecer uma cátedra a Álvaro Uribe, não só ofende profundamente aos colombianos que ainda conservam princípios éticos, mas põe em alto risco a formação ética dos jovens que frequentam a nossa universidade em Washington. Onde fica a ética da Companhia de Jesús?

Escrevo estas linhas porque estou certo que compartilhas nossas preocupações e talvez possa fazê-las chegar aos jesuítas de Georgetown e a outros círculos de opinião do teu entorno de simpatizantes pela justiça.

Recebe um forte abraço.

Javier Giraldo Moreno, S. J.