Declaração de fim de ano das FARC-EP ao povo colombiano
Terça-feira, 27 dezembro, 2011
Do Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Comunicado:
Com a chegada do ano novo, as FARC-EP convidam o povo colombiano a um momento de reflexão sobre o futuro da nossa pátria. O que pode nos importar mais do que o destino de nossos filhos e do bem-estar das gerações futuras. De fato, as coisas no país não vão como para comemorar. Os reis magos desta vez não vêm para trazer a boa fortuna e carregados de tesouros, mas chegam gananciosos para levar quanta riqueza encontrarem em seu caminho.
Além disso, chegam escoltados por gigantescos aparatos militares de repressão e supressão. Defendidos por uma casta política antipatriótica, corrupta e entreguista que só pensa em seu bolso. Cheios de soberba, porque contam ao seu favor com o poderoso aparato mediático de propaganda e publicidade que representam os monopólios informativos com seus jornalistas e colunistas pagos.
A louvada retomada da economia
Quando a burguesia colombiana comemora seus recentes números do crescimento econômico, com os que quer fazer crer que os rios de leite e mel correm caudalosos por toda a nação, oculta dos colombianos que as toneladas de carvão, petróleo e gás que empurram o PIB, representam o maior saque já realizado neste solo. Poderosas empresas transnacionais aliadas com a oligarquia colombiana são os únicos beneficiários.
O aumento do investimento na agricultura não significa uma recuperação para a economia camponesa nem um alívio para o campesinato violentado, mas a expansão da agroindústria dos biocombustíveis, propriedade dos grandes monopólios. Até a tradicional classe pecuarista sofre o embate dos tratados de livre comércio que ofuscam o seu futuro. Fala-se de extrair das entranhas da terra ouro, prata, platina e urânio, entre outros, mas por grandes corporações multinacionais que exigem como pré-requisito a aniquilação da média e pequena empresa de mineração artesanal representada por centenas de milhares de famílias humildes.
O extraordinário crescimento em infra-estrutura e construção anunciado por Santos, não tem outro propósito que a criação das bases materiais para o funcionamento da expropriação dos nossos recursos e o fortalecimento dos polvos financeiros nacionais e estrangeiros. Enquanto que mais de metade da população colombiana sobrevive graças ao trabalho informal pela total ausência de oportunidades de emprego. Está demonstrado, historicamente, que as economias baseadas na mineração não geram bem-estar algum. Os postos de trabalho gerados são precários e sujeitos às mais vis formas de exploração, a única coisa que nos deixaram serão os buracos e crateras.
A desigualdade social do regime
A escandalosa aceleração da injustiça social tem sido formalmente reconhecida com o penúltimo lugar em termos de desigualdade social mundial. E isso reflete na miséria e na pobreza que invadem todos os espaços urbanos e rurais habitados, em contraste com os bairros exclusivos e fazendas pertencentes às altas esferas, ou áreas destinadas ao turismo, comercio ou sistema financeiro com as quais se pretende comparar-nos ao primeiro mundo.
A crise hospitalar generalizada, produto da privatização da saúde; as graves deficiências na educação, originadas no propósito de reduzi-la a um negócio rentável, que gere ovelhas em vez de homens e apenas as máquinas humanas insensíveis e robotizadas necessárias para aumentar os lucros dos grandes empresários; o vergonhoso déficit na habitação e condições dignas de moradia; a situação cada vez mais grave dos camponeses amedrontados pelo paramilitarismo e por hordas de soldados profissionais que ocupam ameaçadoramente extensos territórios e que não será solucionada por leis de terras concebidas para beneficiar os expropriadores e não os expropriados, constituem todas chagas que demonstram a hipocrisia das classes dominantes na Colômbia.
A cada mês, anuncia-se aos colombianos, através de alardeadas pesquisas favoráveis ao governo, que o preço da gasolina e outros combustíveis aumentarão, de forma que pagamos o litro mais caro entre os países produtores e não-produtores, apesar de extrair quase um milhão de barris de petróleo por dia do nosso solo. Por sua parte, os péssimos serviços públicos e, por acréscimo, em crise por causa do inverno e da apatia oficial, sobretaxam os usuários com altíssimas tarifas, especialmente nos itens água e energia elétrica, a ponto de causar, por obra do desespero, repetidas agressões contra as empresas prestadoras destes serviços em muitas partes do país.
A verdadeira natureza do conflito
Além de tudo é o nosso país em guerra. Esta não é mais do que o produto da decisão oficial de solução violenta, a sangue e fogo, para os graves problemas sociais e políticos que afligem vida nacional. Toda vez que o dizemos, nossos inimigos caem sobre nós com suas mídia paga, taxa-nós de querer parecer como mansas e inocentes vítimas. Não se trata de nós.
Trata-se dos 400 mil mortos enterrados para sempre na impunidade concertada pelo Frente Nacional, dos cinco milhões de desalojados e despojados de suas terras nos últimos 30 anos, dos cinco mil dirigentes, ativistas e simpatizantes da União Patriótica que serviram para destruir essa nova opção política, das mais de 200 mil vítimas do paramilitarismo fomentado pelas Forças Armadas, dos milhares e milhares de colombianos desaparecidos, torturados, encarcerados ou exilados por obra da intolerância demencial que se enraizou na Colômbia, em beneficio de um pequeno grupo de latifundiários, capitalistas, mafiosos e empresários estrangeiros.
Trata-se de todas essas vítimas do terrorismo de Estado imposto pela prática da Segurança Nacional, que ultimamente tem sido chamada de Segurança ou Prosperidade Democrática. A resistência popular e heróica luta armada guerrilheira são a expressão mais digna e elevada da rebelião e da dignidade de um povo que se recusou a aceitar docilmente o destino imposto pelos poderes dominantes.
Essa resistência e essa tem sido alvo dos maiores assaltos militares e de toda ordem por quase cinco décadas. E ainda continuam de pé, combatentes, apesar dos bilhões de dólares fornecidos pelos norteamericanos, da sua grosseira intervenção, seus recursos tecnológicos, das centenas de milhares de homens treinados para matar sem piedade, dos bombardeios devastadores, do seu fustigamento e desembarques.
Isso é o que os deixa desesperados de ódio contra nós. O que alimenta as suas mentiras e ultrajes. Que uma força de camponeses, índios, negros, estudantes e profissionais, mulheres e homens do povo mantenham suas verdades e convicções em meio ao todo poderoso domínio do grande capital transnacional e os seus regimes de morte. É por isso que se recusam a considerar a possibilidade de um diálogo sincero para a paz. Eles sabem que aqui não vão encontrar traidores dispostos a se vender, por isso insistem em suas ameaças de extermínio.
O ano que termina e o significado do que começa
Em 2011, como o previmos, foi um ano de grandes jornadas populares. Demolindo o muro do medo, da dissuasão criminoso do terrorismo de Estado, o povo se levantou contra a política neoliberal, a corrupção, a entrega da soberania, e os excessos do poder.
As vitimas do inverno, com a água no pescoço, questionaram a demagogia e a negligência do governo. Os camponeses bloquearam estradas em protesto contra as fumigações indiscriminadas e irresponsáveis que arrasaram seus cultivos. Os garimpeiros resistiram à entrega da exploração do ouro para as transnacionais. Os indígenas marcharam exigindo respeito por seu território e identidade. Organizações camponesas exigiram a restituição de terras e indenização para as vítimas da expropriação e clamaram pela paz e solução política do conflito. Caminhoneiros colocaram o governo em xeque pelo não cumprimento dos acordos para suas reivindicações. O país inteiro se indignou com a vergonhosa pilhagem dos recursos para a saúde e pelos escandalosos roubos da terceirização.
Aumentou a irritação e insatisfação pela inoperância dos serviços públicos nos setores populares, porque eles foram transformados em atividades privadas. Os cortadores de cana-de-açúcar se levantaram contra a nova escravidão que significa a chamada flexibilização trabalhista. Os petroleiros entraram em confronto com a Pacífico Rubiales que, com a cumplicidade do governo, pretende avançara na imposição da precariedade e incerteza trabalhista. O movimento estudantil, com suas portentosas marchas conseguiu frear o absurdo de Santos de privatizar a educação. Sem dúvida, o ano que termina marcou o despertar, a ascensão da luta e da mobilização do povo pelos seus direitos.
Em 2011 foram assentadas as bases da rebeldia e dignidade para enfrentar as decisivas lutas sociais e políticas de 2012, que estremecerão os alicerces do sistema apátrida que está entregando a soberania e as riquezas do país às transnacionais do capital. O TLC e as chamadas locomotivas neoliberais de desenvolvimento, não vão passar. Em pé de luta, damos as boas-vindas ao novo ano com sua percentagem de descontentamento e os anseios uma Nova Colômbia.
Os caídos na guerra
Perante o altar sagrado da pátria, oferecemos o sangue revolucionário e amoroso do comandante Alfonso Cano, caído em combate, consequentemente, na defesa dos pobres e excluídos, e pela Nova Colômbia de seus sonhos. O sacrifício heróico de milhares de guerrilheiros e líderes sociais abatidos pela intransigência atávica do regime pró-ianque, é uma força poderosa, que se soma ao anseio popular de justiça e liberdade. O povo unido, insurreto resolutamente contra o sistema que o oprime, triunfará.
Foram-se os dias de manipulação mediática e do engano. Desde as montanhas da Colômbia, um abraço para o povo que em 06 de dezembro rejeitou a marcha do ódio e da guerra, idealizada pelo Senhor Juan Manuel Santos. Sem nenhum malabarismo, poderia o presidente iludir sua responsabilidade no trágico resultado. Foi ele quem ordenou o resgate militar dos prisioneiros no departamento de Caquetá, e foi o exército que penetrou, a sangue e fogo, no acampamento, como declarou o sargento Herazo.
As conversações de paz
Nosso povo anseia pela paz; a insurgência sempre tem reivindicado a solução política do conflito. Cada vez são mais aqueles que não engolem o mentiroso conto do Palácio de Nariño; o mesmo que agora proclama que não houve massacre em Mapiripán. Por isso, a pretendida marcha contra as FARC ficou melancolicamente diluída muito antes da chuva. Juntando vontades podemos isolar os belicosos de Washington e Bogotá. Como dizia o comandante Jacobo Arenas: o destino da Colômbia não pode ser a guerra. Apoiemos todos o primeiro passo para uma solução política, representado pela troca de prisioneiros entre as partes em disputa.
A marcha que a pátria requer é a grande marcha pela paz e pela justiça social.
Em uma eventual mesa de negociação com um governo que realmente aspire à paz e não a uma rendição incondicional, sempre apresentaremos as reivindicações de justiça, soberania popular, de independência, de adoção de uma doutrina militar bolivariana, de uma nova política econômica distanciada dos desiguais postulados neoliberais, de terra para os agricultores, o respeito pelos direitos indígenas, saúde e educação gratuita, defesa do meio ambiente, revisão dos contratos injustos que favorecem as transnacionais, política internacional que privilegia a fraternidade dos povos, sentimentos que fervilham no desejo centenário dos diversos setores sociais do país.
Que continue a marcha da pátria rumo à construção de alternativas que reafirmem a soberania e a justiça. As maiorias mobilizadas não poderão ser detidas por uma minoria de traidores atravessada no caminho das mudanças políticas e sociais.
Com esta saudação de ano novo, relembrando o compromisso que assumimos com a senadora Piedad Córdoba e o prestativo grupo de mulheres que trabalham pela paz na Colômbia, informamos os nomes de três dos seis prisioneiros de guerra sob a nossa guarda a ser entregues a elas assim que se acertarem os protocolos necessários. Trata-se dos subintendentes da Polícia Nacional Jorge Trujillo Solarte e Jorge Humberto Romero Romero, e do cabo primeiro, da mesma instituição, José Libardo Forero Carrero. Em breve anunciaremos a identidade dos outros três. Esperamos que o governo nacional e a cúpula militar não voltem a repetir o ocorrido no passado 26 de novembro em Caquetá.
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 27 de dezembro de 2011