"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

VALE A PENA SEGUIR EM LA HABANA?



Por Alberto Pinzón
O aperto de mãos de 23 S/2015 entre JM Santos e Timoshenko, sustentado energicamente pelo presidente do Conselho de Estado cubano Raúl Castro, felizmente soltou a imaginação ilimitada dos colombianos e, bem, também de alguns outros “estrategistas” do Marxismo nossoamericano. É um fato muito positivo que a imaginação tome o espaço de um “pós acordo de Havana” para Colômbia e, ademais, que esse acordo já se dê por firmado.
Uma análise bastante realista e objetiva dos 4 pontos, até agora pactuados entre o Governo de JM Santos e as Farc, realizada pelo economista e professor universitário Jairo Estrada, lhe permite apresentar a sugestiva hipótese de que:
.........) a alta probabilidade de transitar para cenários de paz em Colômbia incidirá favoravelmente sobre o atual campo de forças, imprimindo-lhe um novo impulso ao processo de mudança política, socioeconômica e cultural democrática em Nossa América, em momentos em que este mostra sinais de esgotamento nuns casos e de declínio em outros, como resultado dos limites que em forma desigual e diferenciada registram os projetos políticos de conteúdo popular, reivindicatórios da soberania e da autodeterminação, empreendidos há um pouco mais de três lustros em diferentes países da Região e também daqueles definidos como progressistas. Tudo isso, desde logo, sem deixar de considerar que o que suceda em Colômbia poderia ter os alcances de uma “revolução passiva”, se não se consegue desatar –com um importante respaldo social e popular –a potência transformadora que tem um [eventual] Acordo de paz. Nesse sentido, a tendência do processo político colombiano não difere substancialmente do que é válido para o conjunto dos países de Nossa América e para a Região em geral: se encontra em disputa [………] https://anncol.eu/index.php/colombia/politica-economia/item/2139-algunas-consideraciones-sobre-el-momento-actual-los-alcances-y-la-potencia-transformadora-del-proceso-de-paz-en-colombia
Hipótese que envolve dois conceitos complexos profundamente imbricados: um, o de revolução passiva, e outro o de potência transformadora, ambos apoiados num condicional básico e hipotético de “se se consegue um importante respaldo social e popular”.
Considero que o professor Estrada é consciente de que, tomado o acordo de Havana em sua “totalidade” de 6 pontos pactuados como agenda [não como o estão analisando alguns somente pelo último ponto em questão da Justiça Transicional] se abrirá uma etapa “reformista” de adequação, reacomodação e modernização da dominação na formação social capitalista dependente da Colômbia, onde, muito provavelmente e apesar das limitações persistentes, os setores democrático-populares teriam uma maior possibilidades de participar ativamente.
No entanto, não há que esquecer, como o mesmo Estrada o diz em breve, que:
[...] “A classe dirigente e dominante considera que a guerra já cumpriu sua função de expropriação violenta para consolidar o regime extrativista de acumulação e o que continua é sua institucionalização, a qual se apresenta, ademais, como democrática e modernizante do capitalismo”. [...]
Pois precisamente esta consideração é o que hoje mantém dividida e enfrentada às diferentes frações do capitalismo transnacional existentes dentro do que genericamente se deu em denominar como “a classe dominante e dirigente colombiana apoiada pelos EUA”.
- O setor Santista [que aglutina financistas e terra-tenentes não exaltados] considera que a guerra já cumpriu o objetivo mencionado e prefere continuar avançando sem guerra. Enquanto o setor extremista de Uribe Vélez [que também aglutina financistas e terra-tenentes exaltados] sustenta a necessidade de continuar a guerra de despojo e avanço capitalista até a destruição final ou extermínio total do campesinato pobre e dos trabalhadores agrícolas, classes sociais que têm suportado e resistido com um verdadeiro espírito heroico os mais de 70 anos de guerra capitalista exterminadora contra eles. Este é o elemento central de todo o assunto em discussão.
Qual destes dois setores da Oligarquia se imporá num futuro próximo? De momento, parece ser que, apesar das flutuações, indecisões e guinadas e sussurros típicos do presidente Santos, e graças também à flexibilidade da comandância das Farc para não deixá-lo chutar a mesa de Havana, o setor Uribista, apoiado também por um setor político dos EUA, está algo freado, ainda que continue intacto em sua teimosia militarista e leguleio.
E é então quando, para aprofundar na análise da conjuntura, devemos recorrer à especificidade da experiência na história da luta de classes da Colômbia [não de Guatemala, El Salvador ou África do Sul etc, que querem nos pôr como modelos a seguir] para pôr em relevo três fatos fundamentais que, possivelmente, sejam irrepetíveis em qualquer outra história da luta de classes mundial:
  1. Mais de 70 anos de luta armada de resistência do campesinato pobre e trabalhadores agrícolas ao extermínio capitalista, impulsado pela Oligarquia colombiana com a sustentação irrestrita em todos os níveis de parte do governo dos EUA; que tem encantado ao mundo não tanto por sua duração como por sua extensão e profundidade. [Hobsbawm, 1994]


  1. A necessidade [histórica e social como classes sociais] do campesinato pobre e dos trabalhadores do campo como sustentáculos fundamentais e mais numerosos desta confrontação armada, os quais tomaram consciência ao longo desta espantosa e cruel forma da luta de classes, para seguir adiante sustentando seu Programa Democrático, não o da democracia genocida da oligarquia pró Ianque, mas sim dessa Democracia Popular que antecede [assim seja por minutos] ao socialismo puro sonhado pelo destacado chefe bolchevique criador do Exército Vermelho.


E
  1. A transformação durante todo este sanguinário processo de seus tradicionais inimigos, “a Oligarquia e o Imperialismo”, num compacto e muito soldado Bloco de Poder Contra Insurgente [BPCI], conceito científico sustentado no rigoroso e prolixo livro de 567 páginas de Vilma Liliana Franco “Ordem contra insurgente e dominação.2009” [e cujos 10 componentes ou rodas dentadas não me cansarei de repetir, pois parece que não se lhe tem dado importância analítica como fenômeno excepcional no Mundo], o qual está conformado sobre o eixo de aço da dominação geoestratégica Imperialista norte-americana, sobre o qual giram as rodas dentadas do exército do meio milhão de homens e 5,5% do PIB. Os 80 grupos de Paramilitares oficiais. Os grupos econômicos ou cacaus. As multinacionais. A economia subterrânea de lavadores de dólares e narcotraficantes. O oligopólio midiático. A “Justiça impune” do contrato para meus amigos e a lei para meus inimigos. E os cooptadinhos das classes subalternas.
Definitivamente, “a pior inépcia de um ser humano é não aprender da experiência”, sentenciava no século XVI o filósofo inglês Francis Bacon, e passar por alto esta sentença que não tem sido reavaliada no todo pode nos induzir a equivocar-nos nas conclusões e na prospectiva.
O processo de Havana, segundo expressa a última declaração da delegação das Farc na ilha, entrou numa etapa decisiva para a paz devido à brusca mudança de opinião do presidente Santos e ao grosseiro desconhecimento da palavra pactuada internacionalmente.
Se trata de uma última manobra “eleitoreira” de JM Santos, quem equivocadamente supõe que, lançando-se para trás em Havana, vai tirar votos de seu rival Uribe nas eleições de outubro?
Ou acaso é uma imposição do agradável comissionado de paz Humberto de la Calle, quem pessoalmente tem “certas preocupações” por suas “omissões” como ministro de governo de Cesar Gaviria entre 1990 e 1993, quando se realizaram os piores massacres Paramilitares reconhecidos por sentenças judiciais como a de Trujillo Valle do Cauca [março e abril de 1990] ou as ocorridos no Urabá?
Ou acaso é que o setor de Uribe conseguiu seu objetivo de destruir a Mesa de Havana?
Não o sabemos ainda. O que, sim, sabemos com certeza é que, segundo a experiência democrática popular acima citada, se deve e se tem que continuar [com quem seja o governante da Colômbia] na Mesa de Havana até concluir o acordo geral dos 6 pontos pactuados com o Estado colombiano na agenda inicial, para que a prolífica imaginação dos colombianos e nossoamericanos com suas esperanças e ilusões voltem a pôr-se em marcha. O demais: a combinação do marxismo de manobras e o marxismo de posições já se comprovará na práxis.
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Equipe ANNCOL - Brasil