"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A paz en Colômbia?



Por: Nestor Kohan

Fonte: www.marchapatriotica.org

Nos pedem uma opinião sobre o processo de paz em Colômbia.
Resulta difícil desde tão longe. Sempre recordamos aquela lúcida
advertência do velho historiador argentino Rodolfo Pulggrós, quem se
ria da petulância portenha afirmando que, como os revolucionários
argentinos não pudemos tomar o poder nem fazer nossa própria
revolução socialista, andamos pelo mundo inspecionando revoluções
alheias. Feita esta exceção, cremos que, como integrantes da Pátria
Grande latino-americana, ainda que não sejamos colombianos,
podemos ao menos opinar ou dar nosso ponto de vista.

Na Colômbia há guerra social. Este é o ponto de partida. Uma guerra
de longa data, não só conjuntural como também estrutural.



Não há um grupo de delinquentes que alguma vez foram rebeldes
idealistas e hoje estão sedentos de sangue e enlouquecidos pela
cocaína, como têm querido pintar a insurgência desde o poder.



Tampouco existe um elenco de políticos prolixos e honestos
e empresários empreendedores que têm dificuldades para
desenvolver um capitalismo sério porque os terroristas não
querem viver em paz e harmonia, como têm querido mostrar
os grandes monopólios de comunicação à classe dominante
colombiana, tanto no plano político como na esfera econômica.



De igual modo, os militares oficiais da Colômbia [pelo menos
seus quadros dirigentes e altos oficiais] não são gente patriótica,
apegados à lei, defensores do mundo livre, da liberdade do
pensamento e das tradições altruístas e pluralistas do ocidente.



Finalmente, os assessores norte-americanos e israelenses,
o pessoal ianque nas bases militares, os aviadores que
bombardeiam população civil, os espiões que falam inglês
[ou hebraico] e os senhores do Pentágono que elaboram os
planos de guerra contra insurgente não são gente boa, doce e
pacífica, excelentes pais de família, como aparecem nos filmes de
Hollywood de um sábado à tarde.

Não. As coisas por seu nome. Ao pão, pão; ao vinho, vinho.

Em Colômbia há guerra social. Começou em 1948, com o assassinato
de Jorge Eliécer Gaitán por parte da classe dominante local e com
intervenção da inteligência ianque, ainda que as matanças e os
genocídios contra o povo são muito anteriores [basta recordar o

massacre das bananeiras em 1928 em mãos da empresa tristemente
célebre United Fruit]. Essa guerra enfrenta, desde há mais de 60
anos, o campo popular em suas diferentes expressões [civis e
político-militares] contra a classe dominante nativa e estrangeira. As
Forças Armadas oficiais, as mais belicosas e sangrentas de Nossa
América, estão dirigidas diretamente pelo Pentágono e pelo Comando
Sul das Forças Armadas norte-americanas. Seus chefes falam inglês,
não espanhol. Nesse conflito social de mais de seis décadas, houve
uma quantidade enorme de desaparecidos [muitíssimo maior que nas
ditaduras militares genocidas do cone sul], de torturados, de
mutilados com a motosserra. Não os assassinou a insurgência, mas
sim os militares e paramilitares a serviço do empresariado [como
seus próprios chefes declararam publicamente quando a
desagradecida classe dominante colombiana pretendeu
desembaraçar-se de seus sicários e pistoleiros]. Não há equidistância
possível entre opressores e oprimidos, entre bases militares e
ianques e insurgência, entre o terrorismo de estado e a resposta
popular da rebeldia insurgente.

A “segurança democrática” não é mais que a velha e apodrecida
doutrina [norte-americana] da Segurança Nacional, reciclada agora
com parlamento e títeres civis.

Isso existe na Colômbia. Pode parecer óbvio, porém não o é.
Insistimos: as coisas por seu nome.

Nesse contexto histórico e numa correlação de forças internacionais,
onde o governo colombiano se encontra isolado dentro da Unasul e
em toda a América Latina, aparecem estes diálogos de paz. São os
primeiros? Não. Houve muitos antes. Como terminaram todos? Com
o bombardeio sistemático por parte do terrorismo de estado. Porque
a manutenção da guerra permite à burguesia lúmpen que governa
a Colômbia manter e reproduzir seus negócios lúmpens. A guerra é
um bom negócio para os milionários. Na guerra morrem os indígenas,
os mulatos, a gente pobre de pele escura, os filhos do povo. Os ricos
fazem dinheiro em nome da “liberdade” e da “segurança”.

O complexo militar-industrial dos Estados Unidos [e seus servis
peões colombianos] necessita recriar a guerra periodicamente. O
capitalismo parasitário de nossa época transformou as atividades
anteriormente marginais e noturnas em seu quefazer central e em
seu modus vivendi em plena luz do dia. Guerra, drogas e prostituição
constituem fontes estruturais e centrais de acumulação capitalista no
mundo contemporâneo. Por isso, não vão desaparecer com um tímido
e inoperante cartaz da UNESCO ou uma propaganda televisiva do
UNICEF.

Terá futuro a paz na Colômbia a partir destes diálogos? Por parte do
governo e do estado colombiano... definitivamente NÃO. Seria bobo e
até perverso depositar esperanças em gente que tem não só as mãos

manchadas de sangue como também suas polpudas contas bancárias,
suas fazendas, suas firmas e empresas. A insurgência só poderá
impor a paz [sim, porque a paz com justiça social nunca chegará
alegremente e sozinha, deve-se impô-la, como antigamente fizeram
os vietnamitas ou os argelinos] se o conjunto do campo popular se
mobiliza, descoloca e faz cambalear as estruturas de dominação
político-midiáticas do estado terrorista colombiano.

Impor a paz à burguesia colombiana, obrigá-la a aceitar que a longo
prazo é inviável a manutenção da guerra é uma tarefa dura, um
desafio quase impossível, dificílimo. Porém, a insurgência colombiana
tem um apoio popular indubitável. O simples fato de ter obrigado
o governo a aceitar as mesas de diálogo – com o qual o estado
reconhece que a insurgência não constitui “um grupo de facínoras,
bandoleiros e narcotraficantes sem ideologia”, mas sim uma força
beligerante, político-militar – já é um avanço notável.

As duas violências [estatal e insurgente] não são equiparáveis, não
são homologáveis. Na medida em que os movimentos sociais logrem
evitar e superar essas falsas dicotomias que respondem à cooptação
das tramposas e envenenadas ONGs [que recebem vultosas somas
de euros e dólares sob a condição de que condenem por igual “ambas
violências, venham de onde venham”, igualando falsamente o
terrorismo de estado com a rebeldia popular organizada], poderão
somar-se ao processo de paz.

O futuro deste processo de paz não se resolverá na televisão, já
de por si a favor do regime terrorista como coluna vertebral da
guerra psicológica contra insurgente. A possibilidade de impor
o fim da guerra e a conquista da paz dependerá da capacidade
dos movimentos sociais para desafiar a “segurança democrática”,
para enfrentar a repressão estatal [disfarçada de “democracia”]
e as manipulações do governo de Santos. O futuro de uma nova
Colômbia plenamente integrada à América Latina e já sem burguesia
dominante virá, não há dúvida, da unidade da insurgência e dos
movimentos sociais.