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Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 18 de maio de 2013

O quê foi injetado em Pablo Neruda? Dihidropiridina, Dipirona ou Dolopirona?






Por Mario Casasus


Mexico,DF – Em entrevista telefônica desde Viña del Mar, Chile, um médico chileno analisa o Caso Neruda, acrescenta dados desconhecidos sobre os seus contemporâneos e duvida que o medicamento aplicado a Pablo Neruda em 1973,  na Clinica Santa Maria: “Acho que deveriam procurar Nifedipina (Dihidropiridina) nos restos mortais do poeta que estão sendo examinados no Chile e nos EUA. Os laboratórios da Universidade da Carolina do Norte deveriam estender a busca para saber o que foi injetado em Neruda no dia 23 de setembro de 1973: Dihidropiridina, Dipirona, Dolopirona, ou outro componente tóxico. A vermelhidão da barriga após a injeção, como foi relatado, também é produzido pelo fármaco Dihidropiridina ao dilatar os vasos sanguíneos. Uma dose elevada pode ter matado Neruda”.

Depois de ver fotografias da época, de ouvir os antecedentes que combinam com o suposto assassinato de Neruda, após um par de videoconferências com o Colégio Médico e confirmar a identidade do médico, resolvi entrar em contato telefônico com o seu consultório. Devido à natureza da informação o médico chileno pediu anonimato. Confesso que, depois de mais de 400 entrevistas publicadas em clarín.cl, é a primeira vez que manterei em sigilo o nome do entrevistado e me faço totalmente responsável pela informação aqui apresentada. A identidade do entrevistado está confirmada e os indícios que ele apresenta poderiam esclarecer o Caso Neruda.

MC- Doutor, não acha estranho que a Clinica Santa Maria tenha perdido a ficha médica do paciente Pablo Neruda?

Dr. – Sendo a Clinica Santa Maria um estabelecimento ocupado militarmente, todos os funcionários estavam sob  “as ordens” da direção dos ocupantes – não necessariamente médicos - , isso ocorreu em todos os hospitais e clinicas após o golpe de Estado. Portanto, a documentação e o histórico clinico obtido durante essa ocupação, principalmente as fichas que eram do interesse da ditadura – nunca seriam arquivadas nas clinicas. Se a ficha médica de Neruda estiver em algum lugar, esse lugar é um arquivo militar e não nos arquivos da Clinica Santa Maria. O mais lamentável disto, se a hipótese do suposto assassinato de Neruda for correta, é pensar que o poeta involuntariamente entrou na boca do lobo acreditando que seria tratado em uma clinica segura.

MC -  O senhor conheceu alguma enfermeira do Caso Neruda?

Dr. – Lembro que uma enfermeira me disse que tinha sido designada para a Clinica Santa Maria proveniente do Hospital Militar e que, em 1974, a ditadura recompensou os seus serviços “herdando” a ela o apartamento mobiliado do Dr. Eduardo Paredes localizado na Av. Diagonal Paraguay, Edifício Torre San Borja. O Dr. Paredes foi detido em 11 de setembro de 1973 no Palácio de La Moneda e a viúva do Dr. Paredes foi desalojada e partiu para o exílio. Nunca esqueci a conversa com aquela enfermeira do Hospital Militar – ainda guardo as fotografias da época. Se investigarem os registros públicos de imóveis ou os endereços das enfermeiras da Clinica Santa Maria entenderam o que estou falando, pelo menos uma delas está ocultando seus vínculos com o Hospital Militar.  

MC -  De quem o senhor está falando?

Dr. – Eu lhe entrego os dados e as fotografias e vocês terão que investigar por exemplo: o que fazia a enfermeira na Clinica Santa Maria imediatamente após o golpe militar? Por que foi transferida do Hospital Militar? Quem era seu superior? Quem paga a sua aposentadoria? É imprescindível obter a lista completa das enfermeiras, médicos, auxiliares de limpeza e administradoresin que trabalharam na Clinica Santa Maria em setembro de 1973.

MC – O senhor conheceu o Dr. Sergio Draper?

Dr.- Não, ele diz que começou a trabalhar na Clinica Santa Maria em 20 de setembro de 1973, sendo que Neruda deu entrada no dia 19. Estranho não acha? Draper diz que deixou o seu paciente aos cuidados do “Dr. Price”, mas não se lembra do prenome do “Dr. Price”. Mas, insisto: conheci a enfermeira que recebeu como recompensa por seus serviços, o apartamento do Dr. Paredes que foi assassinado pela ditadura depois da sua detenção em 11 de setembro em La Moneda.

MC. -  O doutor Sergio Draper tem um consultório na Av. Salvador nº 130 – 3º andar, bairro de Providência, telefone 366-2000. O senhor gostaria de lhe fazer algumas perguntas?

Dr. – Não. Isso é da alçada da Policia de Investigações que deve esclarecer qual foi o papel de Sergio Draper no assassinato do presidente Eduardo Frei Montalva e no suposto assassinato de Neruda.

MC. – Nas três universidades chilenas da época, onde se podia estudar medicina, não existem registros de nenhum “doutor Price”, segundo a descrição de Sergio Draper, “Price” poderia se Michael Towley (agente da CIA). Como se pode localizar o “doutor” Price?

Dr.- Essa deve ser respondida por Sergio Draper, o “doutor” Price poderia ser um piloto de sobrenome Rose-Price, ou um coronel dos Carabineiros chamado Eduardo Price Quinteros, enfim, não sei. Mas insisto: a Clinica Santa Maria, como todos os postos de saúde, sofria a intervenção da ditadura, depois de lera descrição de “Price” e estudar as raras circunstâncias em que Pablo Neruda morreu, eu não descartaria uma investigação do doutor Harmut Hopp, patriarca da Colônia Dignidad, já que sabemos que Hopp tinha voltado dos EUA, tinha entre 28 e 29 anos e se “movia” livremente em clinicas, hospitais e laboratórios universitários tratando da documentação para revalidação do seu diploma, graças à sua posição de médico. Também tenho suspeitas contra o doutor Manfred Jurgensen Caesar (colaborador da Central Nacional de Inteligência). Lembro-me dele e encaixa perfeitamente na descrição do “doutor Price” e doeu ver o seu nome na lista dos médicos a serviço da ditadura, era uma pessoa simpática, mas tenho conhecido hipócritas piores. Ambos médicos – Hopp e Jurgensen – pareciam com o “doutor Price” e ambos trabalharam para a ditadura.     

MC. – O doutor Sergio Draper, em entrevista à revista Ñ (06/09/2011), declarou que injetou “dipirona” em Neruda; entretanto, Matilde Urritia disse ao jornal La Opinión que a injeção foi de “dolopirona” (05/05/1974). Qual medicamento produz os sintomas que aceleraram a morte de Neruda?

Dr. – Eu suspeito da substância Nifedipino – que na época era conhecida por uma sigla do laboratório Bayer: “Bay a 1040”. Em muitos lugares do mundo, incluído o Chile, o Nifedipino era injetado no abdome de animais de laboratório para obter dados científicos, antes de ser comercializado, com o nome Adalat, para determinar as doses via oral que não causem perigo a pacientes hipertensos. É um medicamento excelente, mas desde aquela época se sabia que matava quando as doses fossem elevadas. No Chile, os estudos com a substância injetável foram realizados em laboratórios universitários e, segundo sei, foi na Universidade Católica. Se as minhas suspeitas estiverem corretas, posso acrescentar que considero um truque das testemunhas ao falar em injeção de “Dipirona”; quiçá para argumentar um equivoco, pois o “Bay a 1040” tem um nome químico parecido: Dihidropiridina. Acredito que deveriam procurar Nifedipina (Dihidropiridina) nos restos mortais que estão sendo examinados no Chile e nos EUA, os laboratórios da Universidade da Carolina do Norte deveriam estender a busca para saber o que foi injetado em Neruda em 23 de setembro de 1973: Dihidropiridina, Dipirona, Dolopirona ou outro componente tóxico. A vermelhidão na barriga após a injeção, como foi dito, também é produzida pela substância Dihidropiridina ao dilatar os vasos sanguíneos e uma dose elevada pode ter matado Neruda.   

MC. – O que pensa dos primeiros exames forenses e a comunicação da metástase do câncer de Neruda?

Dr. – Pablo Neruda sofria de câncer de próstata, ninguém duvida do diagnostico de entrada à Clinica assinado pelo Dr. Vargas Salazar; o poeta foi operado duas vezes na França quando era Embaixador e, ao voltar ao Chile recebeu 56 sessões de radioterapia com cobalto ao longo de três meses ( no inicio de 1973), apesar da metástase Neruda podia viajar ao México em 24 de setembro, não havia razão para dizer que estava agonizante quando a sua esposa o deixou para ir buscar vários pertences em Isla Negra em 23 de setembro; o exílio no México já estava decidido e organizado. O que interessava aos supostos assassinos era impedir que Neruda saísse do Chile, porque haveria consequências que os militares queriam evitar. O importante é descobrir, depois de comprovar que os restos mortais são de fato de Neruda, se ainda é possível detectar substâncias que, injetadas no seu abdome, provocassem um choque – irreversível se não fosse tratado de imediato – como informou o jornal El Mercúrio em 24 de setembro de 1973. Mario, você diz que El Mercúrio retomou a informação do Boletim Médico da Clinica Santa Maria datado de 23 de setembro à noite, isso tem sentido, o estranho é que o Atestado de Óbito foi emitido no dia seguinte (24), assinado pelo Dr. Vargas Salazar que não estava de plantão na noite do dia 23, a Clinica não emitiu o Atestado de Óbito na noite do dia 23 e não informa o mesmo que o Boletim Médico da Clinica Santa Maria, retomado por El Mercúrio, La Tercera e La Prensa, todos de Santiago.  

MC. – È necessário comprovar que os restos mortais pertencem a Neruda? Isso não é obvio?

Dr. – A determinação do DNA é muito importante, os militares poderiam ter obtido um cadáver com metástase óssea; não é suficiente identificar os restos exumados de Neruda pela roupa ou pela cor do féretro.

MC. – Finalmente, o senhor estaria interessado em estudar os resultados da exumação de Neruda?

Dr. – Sim, os resultados dos exames são de interesse geral, pelas suas implicações judiciais e históricas; para os médicos os resultados serão matéria de estudo por anos, haverá que esperar um par de meses para que acabem as pesquisas forenses.