"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 20 de março de 2011

Escuta aqui Ianque!


Senhor Barack Hussein Obama, presidente dos Estados Unidos da América:


Senhor Presidente: Simón Bolívar escreveu, em 05 agosto de 1829: “Os EUA parecem destinados pela providência para infestar a América de misérias em nome da liberdade”. Uma profecia confirmada mil vezes, até os nossos dias. A advertência do Libertador tornou-se realidade não só na América Latina e no Caribe, condenado por sua proximidade geográfica e suas enormes riquezas a sofrer a pilhagem dos EUA e suas legiões de marines. A partir da Segunda Guerra Mundial, a voracidade depredadora do novo império tornou-se universal e continua a cometer crimes contra a humanidade invocando a liberdade e os direitos humanos de suas vítimas. Seu país, Senhor Presidente, que forjaram patriotas exemplares inspirados em nobres princípios republicanos, se tornou um império cruel, desalmado e voraz, odiado e temido no mundo.

Guerras e invasões, bombardeios das populações civis, golpes de Estado, conspirações e assassinatos políticos, tortura em prisões secretas, terrorismo, sabotagem, campanhas de propaganda e dinheiro para desestabilizar os governos, mentiras para justificar a ocupação de países ricos em petróleo, gás e outros minerais, bloqueios de alimentos e remédios para submeter a soberania e dignidade de nações pequenas e fracas, e acima de tudo, o seu desenfreado espírito de rapina, transformaram os EUA em odioso símbolo do escárnio ao direito dos povos. Como está longe seu país hoje do nobre espírito que animou a Declaração de Independência em 1776! A proclamação de Jefferson e seus colegas de que “todos os homens nascem iguais”, se perdeu na escuridão da traição. O senhor representa algo completamente diferente do país que sonharam os Pais Fundadores. O senhor é o chefe de um império que ameaça o mundo com sua busca desesperada por matérias-primas e recursos energéticos para alimentar uma economia que não reconhece outro limite que o lucro máximo. Esta irresponsabilidade está empurrando a humanidade à fome e ao desastre. O desprezo da sua nação pelas leis da natureza ameaça a existência do planeta e atropela as normas de solidariedade ambiental que garantem a presença do ser humano na Terra. Seu governo, senhor presidente, tem continuado as políticas que fazem dos EUA um império belicista. Mais do que um país, o seu é uma fortaleza militar. Isso pode ser comprovado pelo orçamento de defesa deste ano de 553 bilhões de dólares e um adicional de 117,8 bilhões para apoiar a guerra no Afeganistão e no Iraque.

O senhor não fala em nome dos 155 milhões de norteamericanos que querem um mundo em paz. Muito menos o faz pelos milhares de sindicalistas e jovens que têm se mobilizado nestes dias em Wisconsin, Ohio e outros estados para protestar contra leis que reduzem os salários e aposentadorias. O senhor fala em nome dos 400 norteamericanos que Michael Moore já disse que “têm a mesma quantidade de riqueza que a metade do total dos norteamericanos”. Esse gordo formidável e incansável, que tem feito a sua parte para divulgar a realidade dos EUA, afirma também: “Temos entregado a nossa preciosa democracia para uma elite financeira. Wall Street, os bancos e Fortune são os que governam esta república” (1). Esta realidade – a do capitalismo – também se vive no Chile. Somos pouco mais do que 17 milhões de uma população mestiça que, no entanto, discrimina os indígenas, morenos e negros. Nosso país sofre das mesmas distorções que afetam o seu, entre outras razões porque se esforça em imitar. Também no Chile, uma elite exerce o poder. Seus membros possuem fortunas imensas e constam do quadro de honra da Forbes . Íris Fontbona, viúva de Luksic, possui 19,2 bilhões de dólares. Horst Paulmann, 10,5 bilhões, a familia Matte, proprietários de florestais e usinas de energia, 10,4 bilhões; e o Presidente da República, Sebastián Piñera, aumentou sua fortuna aumentou para 2,4 bilhões no ano passado. Esta minoria insaciável controla os meios de comunicação e a educação privada, onde se educam a maioria das crianças e jovens chilenos. Consegue assim o mesmo engano massivo que Moore menciona em seu discurso de Madison: que os pobres “votem no partido que protege os ricos, porque ‘um dia você poderá ser um deles”. O apoio social da elite governante no Chile é uma suposta classe média, alienada pelo consumismo e que se equilibra no cartão de crédito. Isto facilita o acesso a automóveis, eletrodomésticos, telefones celulares, viagens e entretenimento, cuja profusão permite criar a ilusão de uma sociedade igualitária. Por trás do pano escondem-se três milhões e meio de pobres e indigentes e quase 700.000 jovens que não estudam nem trabalham. Uma parte considerável da população é prisioneira da droga. O Chile – como o senhor sabe – é um dos dez países com maior desigualdade do mundo. Como o senhor pode ver, senhor Presidente, no Chile vai se sentir em casa. De certa forma – poderá perceber se o espesso muro de segurança permitir – nosso país é uma tosca imitação do seu. Mas vocês são o império e nós, a colônia. O modelo econômico e social que nos foi imposto pelo terrorismo de Estado dos militares e empresários em conluio com as empresas multinacionais, foi o prêmio maior da intervenção norteamericana. A oligarquia que ajudou a deflagrar o golpe é a mesmo que hoje governa o país. Nunca o deixaram de fazer, em nenhum momento durante quase 40 anos. Para isso utilizou, indistintamente, de militares e políticos de direita e de “centro-esquerda”. Estes últimos governaram por 20 anos e nem sequer despentearam o modelo neoliberal. Pelo contrário, acabaram por transferir para o setor privado o pouco que sobrava da área pública.

Essa gentalha, senhor Presidente, são seus amigos no Chile. Tenha cuidado com eles. É lamentável que o senhor trilhe a mesma estrada sinuosa que seus antecessores já percorreram. O senhor não corrigiu a aleivosa política para Cuba, que incrementaram os dez presidentes anteriores. O bloqueio contra a ilha – o senhor bem sabe – é uma arbitrariedade injusta que viola os direitos humanos do povo cubano, e que as Nações Unidas assinala todo ano, sem que seu país se faça de entendido. Isto é um insulto e uma afronta para toda a América Latina e o Caribe, porque atropela a soberania de uma nação irmã. Além disso, seu governo tem se feito de surdo ao apelo mundial de liberdade para os cinco cubanos presos nos EUA acusados de impedir as ações terroristas preparada contra a ilha. A atitude beligerante de seu governo contra a Venezuela é outro fato constrangedor desta política imperial. Suas tentativas de desestabilizar o governo do presidente Hugo Chávez, repetem o mesmo esquema de intervenção externa que o Chile viveu em 1973 e Honduras em 2009. O senhor parece não entender que, na América Latina e no Caribe, renasceu uma corrente política e social que demanda democracia participativa, justiça e igualdade. É um movimento de povos cansados de ficções democráticas na medida dos interesses oligárquicos. Sua demanda superior, como sempre, é a unidade e a integração da América Latina e do Caribe.

Isso é o que Hugo Chávez representa para o povo venezuelano e para os pobres e excluídos do continente. A Revolução Bolivariana tem uma linha de continuidade de dois séculos com a história política latinoamericana e caribenha. Vem dos libertadores que desafiaram e derrotaram o poder colonial, entre eles o nosso Bernardo O'Higgins que proclamou “mais vale morrer de pé do que viver de joelhos”. Esse foi o espírito de luta dos chefes e soldados indígenas e mestiços das primeiras lutas pela independência. É o mesmo espírito que renasceu em Fidel Castro e Salvador Allende, e que hoje percorre as planícies da Venezuela e as selvas e montanhas do Equador e da Bolívia. Em 1960, um grande norteamericano, o sociólogo C. Wright Mills, escreveu Escuta ianque. A Revolução Cubana. Foi uma tentativa de fazer os EUA compreender este acontecimento histórico. Mas os ianques não deram ouvidos. Oxalá o senhor preste atenção em norteamericanos valentes como Noam Chomsky, James Petras, Michael Moore e tantos outros intelectuais, artistas, cineastas, religiosos, cientistas, sindicalistas, etc, que com honestidade tentam que a sua nação acorde para a realidade. Se o senhor atender a essas vozes, compreenderá porquê o clássico grito “Yankees go home” continua sendo ouvido pelos presidentes norteamericanos até o dia do juízo final do imperialismo.

Atenciosamente,

MANUEL DONOSO CABIESES
diretor de "Punto Final"

(1) Discurso de Michael Moore em Madison, Wisconsin, 5/3/2011. (Ver http://www.rebelion.org/noticia.php?id=123832).