"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 3 de novembro de 2012

Cecilia Magni, a “comandante Tamara”








“Eu sou chefe e tenho homens sob as minhas ordens”



Os melhores cães de caça a procuraram sem parar.

Nascida em uma familia burgesa, aos seis meses de ter começado a faculdade de Sociologia, na Universidade de Chile, começou a participar nas manifestações contra o régime militar. Quase ao mesmo tempo ingressou nas fileiras da Juventude Comunista, organização banida pela ditadura. Sua família só soube após dois anos e da sua própria boca: “sou membro do Partido Comunista. Sou comunista”(1). As relações com seu pai, que adorava, ficaram tensas, pois nessa família o general Augusto Pinochet era aplaudido.

Pouco tempo depois ingressou à guerrilha do Frente Patriótico Manuel Rodriguez, FPMR, depois de tomar a decisão mais difícil da sua vida: deixar de compartilhar o dia-a-dia com sua filha de dois anos. O pai da menina, que a apoiava no seu compromisso, assumiu a criança. Diante das criticas, ela repetia à sua irmã: “Não posso sofrer por uma única criança que é a minha filha e que amo, quando vejo sofrer a milhares de crianças que não têm direito a nada”. Deixar as outras coisas não era problema: a comodidade e o prestigio que a riqueza da sua família podia dar. “Ingressei nisto porque acreditava numa sociedade diferente, mais justa e este caminho é mais realista e válida para mudar o rumo do país”, disse à revista HOY desde a clandestinidade em 1987.

De olhos vivos, bela, encantadora, muito terna e de grade ímpeto, opunha-se à mediocridade: “Mesmo que sejas varredor de rua, deves ser a melhor”, repetia para a sua irmã mais nova. Esta incansável leitora foi batizada de Tamara pelos seus companheiros, como homenagem à memória da revolucionária que lutou ao lado do Ché, Tamara Bunke.

Começou na luta militar participando do ataque contra uma ponte ferroviária e assalto de uma casa de cambio, de onde escapou a bala pilotando uma moto. Conseguiu uma ascensão vertiginosa na organização guerrilheira, até chegar a ser a única mulher que obteve o grau de “comandante” na fechada direção da Frente. Ocorre que as suas capacidades políticas e militares eram inatas, além de ser uma grande conspiradora. Sempre tratou com carinho àqueles que estiveram sob suas ordens, preocupando-se até pelos seus problemas pessoais, como deve ser num dirigente.

A meados de 1986, Cecilia Magni, já convertida na “comandante Tamara”, participou do reduzido grupo de dirigentes que planejou a ação mais arriscada que, até aquela data, o FPMR já realizara. Foi a operação “Século XX” e seu objetivo era matar o ditador Pinochet. Apesar dos seus protestos, foi decidido no último momento que ela não participaria da emboscada, dada a probabilidade de que os guerrilheiros fossem mortos. E a sua experiência na logística era indispensável para o Frente. Em 7 de setembro daquele ano, Pinochet regressava para a capital após um final de semana de descanso, quanto vinte membros do FPMR abriram fogo contra a caravana de Pinochet. Após oito minutos da intrépida operação, cinco seguranças da escolta estavam mortos e onze feridos. Pinochet escapou ileso pois o foguete lançado contra seu carro não explodiu: ao ser atirado de curta distancia não houve tempo para ser ativado o que era necessário para poder atravessar a blindagem do carro. Nenhum guerrilheiro morreu. A responsabilidade de Tamara na obtenção de automóveis e casas para resguardar o grupo, bem como o transporte do armamento, foi irretocável. A ação foi destacada pela ditadura como “uma perfeita operação de inteligência”.

Em 21 de outubro de 1988, juntamente com o máximo dirigente do FPMR, Raúl Pellegrín, dirigiu a tomada militar do quartel dos Queñes, na região central do país. Os órgãos da repressão iniciaram uma caça implacável contra o casal, até conseguir capturá-los. No dia 29 desse mês ela foi encontrada na beira de um rio. No seguinte Pellegrin foi capturado. A ditadura afirmou que “morreram afogados”, mas seus corpos mostravam terríveis marcas de tortura, inclusive com ruptura da coluna vertebral de Cecilia. Sua captura foi obtida através de traição. Cecilia “Tamara” Magni tinha 31 anos.   

Pellegrin não era somente um camarada político mas era o homem da sua vida. O pai da sua filha disse, tempos depois: “Cecilia, no amor e na política, foi fiel e leal até as últimas consequências”

Seu pai afirmou que se ele soubesse que ela morreria assim, “jamais na minha vida teria brigado com ela”. Enquanto que a sua filha, já adolescente, disse: “As decisões das pessoas valem, quando as tomam valem, e eu não posso invalidá-la, seria faltar com o respeito”

En la entrevista que le realizara la revista HOY a la Comandante Tamara en 1987, también dijo: “Yo soy jefe y se me subordinan hombres. He estado a cargo de tropas, masculinas por supuesto. Nunca he tenido problemas. Te aseguro que mis subordinados difícilmente ven en mí a una mujer. Una vez me vieron con las armas encima. Me vieron con granadas, con revolver. Y ésa fue la única vez que me han dicho “qué linda estás”.”

Na entrevista dada pela comandante Tamara à revista HOY em 1987, também disse: “Sou chefe e homens foram subordinados a mim. Tenho sido encarregada de tropas, masculinas é claro. Nunca tivemos problemas. Meus subordinados dificilmente vêm em mim uma mulher. Certa vez viram-me com armas, granadas e revolver. Essa foi a única vez que me disseram ‘como está linda’”.



Hernando Calvo Ospina – jornalista e escritor. Colaborador de Le Monde Diplomatique. Este texto faz parte de um livro, ainda não editado, chamado “Flores Rebeldes Latinoamericanas”.

1) Salvo as duas citações tomadas da revista HOY, as outras pertencem ao documentário “Cecilia Magni Camarada Tamara”. Televisão Nacional do Chileão Nacional do Chile. Programa “Informe Especial”.