"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 19 de agosto de 2014

Escrito por Yira Castro, integrante da Delegação de Paz das FARC-EP
Por ocasião do recebimento e das boas-vindas à primeira delegação de vítimas do conflito, o segundo segmento do ciclo 27 de conversações de Paz para Colômbia começou com uma sessão especial da Mesa de Conversações de Havana.
Foi uma recepção solene, respeitosa, muito aberta ao diálogo e a encontrar os caminhos que conduzam à solução das origens, das causas e dos efeitos da confrontação, com vistas a buscar a reconciliação, o fim do conflito e a construção da Paz.
A jornada desenvolvida no dia de ontem começou às 9 da manhã, hora em que chegaram as vítimas ao Salão de Protocolo del Laguito. Minutos antes, haviam-no feito os integrantes das delegações do Governo e das FARC-EP, os quais se prepararam para receber os visitantes. A sessão foi confidencial e se estendeu até às 15 horas. No meio da jornada, os assistentes destinaram tempo para compartilhar um almoço-bufê num ambiente de total distensão.
O encontro da delegação de vítimas do conflito com os meios de comunicação em Havana
As flores significam memória, as flores significam esperança em que este processo de Paz culmine”, disse uma das participantes ao lhe perguntarem por que o recinto estava decorado com tantas flores.
Meios internacionais como Al-Jazira, a Agência Reuters e TeleSUL, entre outros, ademais dos meios nacionais como Caracol, o portal Las 2 Orillas e a equipe de imprensa das FARC-EP se fizeram presentes no lugar que se adequou para a rodada de imprensa convocada pelos organizadores para que as vítimas fossem ouvidas publicamente.
A rodada de imprensa iniciou às 18:00 e teve lugar numa das salas do Salão de Protocolo.
A primeira intervenção foi feita pelo representante da Organização das Nações Unidas em Colômbia, Fabrizio Hochschild, com a apresentação de um comunicado redigido pelos organizadores do encontro, uma síntese arrojada da reunião fechada entre as partes com as vítimas.
Por sua parte, as vítimas iniciaram sua intervenção com um comunicado, o qual foi elaborado depois do encontro com as delegações das FARC-EP e do Governo colombiano, segundo contaram.
No comunicado lido a várias vozes, o primeiro grupo de vítimas do conflito considera como um gesto de reconhecimento em favor da Paz, da reconciliação e da garantia dos direitos das vítimas terem sido convidadas a participar no encontro.
De igual forma, apreciaram o esforço realizado por Nações Unidas, Centro de Pensamento e Seguimento ao Diálogo da Universidade Nacional, Conferência Episcopal Colombiana, pelos países garantidores Noruega e Cuba, e os países acompanhantes Chile e Venezuela, ao tempo em que ressaltaram a hospitalidade de Cuba como país anfitrião.
Por outro lado, deram fé de disporem de total liberdade no momento de expressar suas experiências, explicações e propostas; também deixaram claro que não pretendem representar o total das vítimas; porém garantiram, sim, “terem compartilhado o compromisso pela verdade como base da Paz”, disse uma delas.
A comissão de vítimas do conflito social e armado fez um reconhecimento às demais vítimas e as convidou a unir-se numa causa comum. Ao mesmo tempo, manifestaram sua decisão de continuar trabalhando arduamente para que todas sejam ouvidas; de igual maneira, demandaram o acompanhamento da sociedade em seu conjunto na reivindicação de seus direitos como vítimas e pela consecução da Paz.
Também exigiram das partes, dos meios de comunicação e dos demais estamentos da sociedade envolvidos na solução do conflito o respeito pela atividade que eles como vítimas vêm desenvolvendo; do mesmo modo, exigiram garantias de segurança “evitando tergiversações, infâmias e estigmatizações”.
A comissão de vítimas celebrou o ambiente de respeito e a apreciação de sua participação por parte das duas delegações, Governo e FARC.
Finalmente, disseram ficar à espera da materialização do compromisso expressado pelas partes no sentido de estabelecer um mecanismo de seguimento que dê respostas, ao mesmo tempo que faça efetiva a materialização das diferentes propostas e explicações apresentadas pelo grupo.
Rodada de intercâmbio com os meios de comunicação
Uma reflexão para os militares e o ministro de Defesa: “Umas forças armadas defensoras dos Direitos Humanos não necessitam foro militar, não têm nada que esconder. Estabelecer o foro militar é um reconhecimento de que são vitimários”, disse uma das vítimas do Estado.
Na sessão de intercâmbio entre a comissão de vítimas do conflito e os meios informativos, pudemos ver um grupo de pessoas conscientes da urgente necessidade de que a sociedade assimile melhor o momento histórico pelo qual atravessa o país e se envolva decididamente na construção da Paz com Justiça Social como único meio de reparar as injustiças geradoras da esteira de violência que tem golpeado a Colômbia durante décadas.
Pessoas respeitosas, propositivas e plenas de dignidade. Uma delas expressou: “[...] Viemos com propostas, não só com dor... viemos com anseios de verdade, de esclarecimento”. Deste modo, consideram fundamental a criação da Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas.
Em virtude de que, infelizmente, a verdade tem sido uma das principais afetadas em Colômbia, não só como consequência do conflito como também pelo interesse de setores em particular da sociedade colombiana por tergiversar a origem, as causas e as consequências do mesmo, gerando um esquema de pensamento e de incompreensão funcional à reprodução da guerra em Colômbia”, pontualizou um dos participantes.
Viemos propor uma Subcomissão da Verdade sobre os Desaparecimentos Forçados, que as partes nos digam onde estão as tumbas, as fossas clandestinas, que nos digam o que fizeram com eles e elas”, disse uma mulher com voz firme.
Todos coincidem em que a dor das vítimas é uma só, seja qual seja o ator, em que se estabeleça a verdade e a justiça real. Expressaram também que existe uma possibilidade, ainda não explorada, de compor um movimento único de vítimas como movimento social no país, o que demandaria a firma de um acordo de Paz em Colômbia, “uma democratização real que garanta a estes movimentos poder manifestar-se sem ser reprimidos”.
Da mesma maneira, insistem na unidade, já que “todas as mobilizações dos trabalhadores, dos campesinos, dos afros, em Colômbia estão repletas de vítimas... esta é uma muito boa oportunidade para que neste espaço se reconheça o papel de organizações e movimentos de vítimas que existem no país aos quais nós reconhecemos e representamos”.
Chegamos com medo, com angústia, com frustração, porém vimos esse grande afeto de parte deles em ouvir-nos, isso é um grande passo para conquistar a paz. É um primeiro passo na forma como eles se dirigiram para as vítimas”. “As vítimas somos o fundamento do processo de paz em Colômbia, as vítimas somos visíveis, temos voz, temos dignidade e fomos ouvidas de uma forma muito respeitosa. Vimos um ato esperançador”, manifestaram.
Fica claro que, ainda que as vítimas estão unidas pelo mesmo sentimento de dor, que coincidem em que seu único anseio não é só encontrar a verdade, mas também parar a violência em todas as suas manifestações, cada um tem pontos de vista diferentes quanto ao ressarcimento e a justiça que deve ser aplicada.
Este foi um certame histórico.