"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O outro, invisível do sistema



Por Raul Fitipaldi
Os refugiados da Europa não estão na moda. Os refugiados no Mundo e na história da humanidade não estão na moda. O que mostra a grande mídia são vítimas reais do sistema numa encenação involuntária que justificaria mais uma guerra de roubo e genocídio. Neste caso, os países centrais, com Alemanha na vanguarda, precisam obter uma vênia mundial para destruir a Síria, como já destruíram o Afeganistão, o Iraque, a Líbia e massacram diariamente o Iémen, através dos seus sócios árabes, demonstrando, com clareza, que o capitalismo não tem raça, credo, etnia ou gênero. O capitalismo neoliberal é um sistema de morte global.
Todas as raças e todos os credos tiveram ou tem seus genocidas, seus imperialistas, sicários e mercenários. Forma parte da estagnação civilizatória da humanidade. François “Papa Doc” Duvalier e “Baby Doc” Duvalier no Haiti; George Bush e George Bush filho, no Império atual; Margaret Tatcher no velho império; Mohamad Reza Pahlavi no Irã pro imperial; Fulgêncio Batista, Pinochet, Videla, Stroessner por aqui; Ne Win na Birmânia, Pol Pot em Camboja, Idi Amin Dada na Uganda, Ariel Sharon no Estado artificial e criminoso de Israel. Tem para todos os gostos, só mencionando os que vêm a nós da memória próxima e contemporânea. Todos produziram refugiados, emigrações forçosas, cometeram genocídios em maior ou menor escala e todos, absolutamente todos, contaram com o beneplácito das transnacionais imperialistas e do sistema capitalista. Há também líderes étnicos que se agregam a esta deplorável lista de carniceiros em diversos continentes. Todas as “intervenções humanitárias” (não confundir com solidária, como é a participação a cubana), produziram mais morte, mais dor, mais destruição, miséria e escravidão, e produziram alegria só à indústria armamentista, petroleira e aos fabricantes de medicamentos de Ocidente e comida lixo.
Fazer discriminações entre os refugiados por suas características religiosas, étnicas, etárias, nacionais ou de gênero é mais um ato em favor do divisionismo maquiavélico que propõem os países centrais. O divisionismo dos povos é estratégico para continuar seu interminável saqueio de riquezas naturais, culturais e civilizatórias, com a finalidade de aprofundar a visão única, deforme, militarista, patriarcal e classista da humanidade. Visão que é sua razão de ser doentia e, que subsiste, sejamos práticos, porque os beneficia materialmente. Os países centrais têm uma história enferma, possivelmente desde as Cruzadas, talvez já de antes. O sistema capitalista foi sua criação mais perversa e, nela, O OUTRO NÃO EXISTE. O outro pode existir só em condição de inferior, escravo, servil, incondicional e invisível.
Em algum momento da vida todos podemos ser o outro. Fui discriminado no colégio católico por muito pobre e filho de líder grevista. Discriminaram-me na adolescência quando a família do meu primeiro amor não queria que sua filha fosse namoradinha de um asmático. Mais tarde na juventude fui discriminado por deixar a igreja e virar comunista, “ateu confesso”. Fui discriminado por não ser judeu e banquei dois abortos indesejados. Discriminaram-me na categoria jornalística por ser livre e não trabalhar jamais para os monopólios. Me discriminaram por ser pai mãe e por deixar de sê-lo. Fui discriminado por ser hetero, por não beber, por não fumar, por estrangeiro, por e por e por. Por ser do PT e por não ser mais há 13 anos. 60 anos de discriminação. Fui esse “outro” para muitos, refugiado nas ideias, emigrante involuntário. Sei um pouco da dor do outro. Mas, é pouco mesmo pois tive o privilégio de comer, estudar e partilhar uma moradia.
Esse OUTRO que o sistema torna invisível e infame, só se transforma em humano quando toleramos, acolhemos, procuramos entender, aceitamos esse outro distante que criamos ou nos introjetaram com o veneno do diferente. Quando somos visíveis para o outro tomamos uma dimensão distinta e com ele construímos o presente, sonhamos o futuro. Quando o outro desaparece dentro de nós, para ser ele, ela, com nome e sobrenome, o outro pode ser haitiano, sírio, sudanês, senegalês, armênio, semita, guarani, esquimó, basco, será o que é e assim, como e pelo que é, desaparecerá e será NÓS. Nós contra essa nova guerra de Ocidente contra Síria. Nós contra as invasões humanitárias dos cascos azuis e da Minustah. Nós contra os exércitos, as armas, a discriminação. NÓS como Classe Trabalhadora, nós civilizadamente para esse Outro Mundo Possível e Urgente que, novamente, parece que se escapa entre os dedos, como um novo torrente de sangue.