CHILE: A reta final da eleição
Eduardo Contreras
El Siglo.cl
Os cães de guarda da direita estão soltos, a matilha late forte, indignados com os avanços da justiça e não entendem que, como continuará a acontecer por anos, os ecos da morte da ditadura não se apagarão e enquanto houver neste país um coração justo, a luta pela verdade e pela justiça não se deterá.
A direita está desesperada e os meios de comunicação que controlam desenvolvem a teoria macabra de o que aconteceu em matéria de direitos humanos nada mais é do que uma “manobra eleitoral”. A burguesia é incapaz de perceber o profundo sentimento de amor e de justiça que estava presente na alma dos milhares de pessoas que acompanharam Victor Jara no seu histórico funeral. Os reacionários não têm alma, têm carteiras. Seus pasquins, rádios e TV minimizaram a magnitude do Adeus ao grande criador e revolucionário.
Agora a direita qualifica de "aproveitamento político" o julgamento de alguns dos assassinos de Frei Montalva (pai do atual candidato Frei Tagle-Riuz), como se o juiz fosse obrigado a aguardar o resultado das eleições deste domingo para decidir se julgado ou não. Agora falta que os civis culpados também respondam. Sergio Fernandez era o ministro do Interior na época e a DC anuncia ser parte. Ética e juridicamente deve-se dirigir o processo criminal contra os autores intelectuais do crime. Esperamos tenham a coragem de encarar a Fernandez.
Na semana passada, foram presos vários oficiais da reserva da marinha e dos Carabineiros por crimes cometidos no navio da morte, "La Esmeralda" (veleiro usado como navio escola), incluindo os vice-almirantes Mackay, Barra, Riesco e Lopez. Quando os policias da Brigada de DDHH da PDI os conduziam ao interior do Tribunal um repórter de uma rádio local perguntou, ao vivo, ao outrora poderoso vice-almirante Mackay a sua posição sobre estas decisões judiciais. O réu respondeu: "Um saco!”. Sua resposta não foi elegante, mas foi sincero. Os torturadores do passado e seus cúmplices da direita não suportam ser julgados, pois mais leve que seja a mão dos tribunais. Covardes como o são, amam a impunidade.
Tudo isto acontece a algumas horas da eleição, em uma campanha eleitoral em que as questões importantes, como o das Forças Armadas e os Direitos Humanos, não foram tratados com a profundidade necessária. Na realidade, ficaram à margem e estiveram ausentes dos discursos. E se trata de assuntos de futuro e de alta incidência na estabilidade democrática do país. Como também é o tema do Museu da Memoria, uma boa iniciativa, mas com um desenvolvimento cheio de interrogações. O que fazem ai os representantes da direita? Por que não uma há ninguém das organizações de direitos humanos, ou parentes das vítimas ou das forças que sofreram as violações e que lutaram pela democracia?
Por que o nepotismo nos cargos e até executivos “vitalícios” pagos por todos os chilenos? Para onde aponta o palácio de La Moneda? Por que não fazem parte os representantes internacionais dos direitos humanos? Por que a presidenta diz que ali poder-se-á ver criticas ao socialismo real? Bem, e da ditadura de Pinochet, o quê? Ou se trata de fazer algo morno que não incomode a delicada epiderme das Forças Armadas? Falar-se-á ali da resistência popular contra a tirania, os protestos ou o heroísmo da FPMR, ou isso foi "terrorismo"?
Mostrarar-se-ão realmente os crimes e roubos dos golpistas de 73? Haverá um espaço para Sola Sierra, para Gladys Marín, para o padre Maroto, para Clotário Blest, para Sebastian Acevedo, para o sacerdote Aldunate e outros homens da igreja como ele, ou para os advogados como Andrés Aylwin, José Galiano, ou Chela Alvarez?
Não resgatar a história real será um insulto às vítimas. Deve-se ter em conta nestas horas e especialmente no domingo. Os setores que apoiam a candidatura de Piñera são os mesmos que apoiaram a ditadura. São aqueles que estavam por trás da mão que disparou contra Victor, ou das que torturaram no La Esmeralda, ou da que se dispôs matar a Frei Montalva. Somente a esquerda, a única que existe, e seu candidato Jorge Arrate, representam toda a honra da luta pelo respeito aos direitos humanos e para impedir o retorno do pinochetismo ao poder político.