O NOVO ARCO-IRIS DA COLÔMBIA
Por ANNCOL
Paralelamente à recente ofensiva militar ‘contrainsurgente’ das Forças Armadas colombianas, com o apoio de armas e dinheiro do governo dos EUA, apareceu no cenário outra ofensiva mediática do regime através de uma série de relatórios, analises, cartas abertas e opiniões variadas dos chamados “violentólogos” ou “pazologos”, cujo propósito é bem conhecido: Aumentar a nevoa de guerra, para justificá-la. ANNCOL dá as boas vindas à discussão ao mesmo tempo em que participa e estimula, convencidos como estamos de que não há solução militar no histórico conflito social-armado colombiano, mas a sua solução definitiva é e será, de qualquer forma, política e diplomática.
Há dois temas da ofensiva mediática: primeiro, a questão transcendental da História da Colômbia, tratado de forma acomodada e superficial pelo pilar ideológico e político do revisionismo soviético na Colômbia, o professor de história (revesionista) Medófilo Medina, que sem constrangimento, assim como a quadrilha dos uribistas, responsabiliza pelas desgraças do povo colombiano “à combinação de todas as formas de luta”. Felizmente, apesar da grande publicidade dada a Medófilo pelo jornal espanhol El Tiempo, também uma série de comentários o desmascararam e o colocaram ao lado dos ex-comunistas Lucho e Angelino Garzón. Entretanto, a recomendação de ANNCOL para as novas gerações de colombianos que começas a luta e a resistência popular, é continuar aprofundando seriamente o estudo da nossa verdadeira e rica História.
A segunda questão é a dos números da guerra em artigos sobre a guerra no departamento de Cauca, como os do “Pazologo” Eduardo Pizarro, ou os do velho dinossauro militar Valencia Tovar, que com sua senilidade ainda acredita que está na guerra da Coréia lutando contra o comunismo sob as ordens de generais gringos, que descreve o departamento de Cauca como “o escudo frontal de uma área de gravitação estratégica (da guerra), ou seja, de uma região onde convergem fatores de ruptura de primeira grandeza”, e aqueles que concordam com a criação de batalhões de alta tecnologia e mais soldados especializados para avançar a nova estratégia militar de “Casas Arrasadas” anunciada pelo presidente Santos. Nada de reforma agrária, respeito às comunidades indígenas e afrodescendentes, ou mudanças sociais mínimas contra o desastre social.
Assim como o relatório sobre a situação das FARC (17.07.2011) pendurado no portal da Corporação Novo Arco Íris, que em suas conclusões deita por terra a velha lenda de que no fim do verdadeiro arco íris está o pote de ouro; quando o que se observa é que no fim do Novo Arco Íris está agachado o alto escalão militar da Colômbia, com sua aspiração de que no país “haverá guerra por muito tempo”, e cuja justificativa não é a imposição geoestratégica imperialista do Plano Colômbia, mas que os responsáveis são as FARC, pois, sob a orientação e comando do comandante Alfonso Cano, sofreram uma surpreendente transformação que a levou não somente a assimilar os golpes militares das mortes de Marulanda, Raúl Reyes, Mono Jojoy e Iván Rios, mas a recompor sua organização e suas táticas de resistência, demonstraram que o Fim do Fim das FARC, vociferado pelos generais de Uribe Vélez e seu ministro da defesa, J.M. Santos, não foi mais do outro balão de propaganda militarista e imperialista.
O relatório da Novo Arco Íris assinado pelos ‘violentologos’ León Valencia e Ariel Ávila, é abundante em dados numéricos, mas pobre em analise e complexidade. Suas seis conclusões: 1) Não se baixou a guarda. 2) Mudou de estratégia 3) O ‘Fim do fim’ não está próximo. 4) Guerra em três cenários. 5) A marca de Alfonso Cano. 6) Corrupção e legitimidade; trazem a tona novamente várias “verdades jornalísticas” mil vezes repetidas, com as quais tem se tentado explicar mediaticamente o prolongamento da guerra na Colômbia.
Quem duvida que continuam existindo vínculos diretos e orgânicos entre as Forças Armadas da Colômbia e os Narcoparamilitares, chamadas pelos “violentólogos” do regime de Bacrim? Quem duvida da corrupção imperante e gigantesca no seio das Forças Armadas como o ‘Tolemaida Resort’, o clube Militar, as aquisições e fundos rotativos? Quem duvida de que o Fim do Fim das FARC, com as desmobilizações em massa de guerrilheiros do Dr. Ternura, não foram mais do que outras farsas propagandísticas da oligarquia militarista colombiana transnacionalizada? Quem não sabe na Colômbia que os três cenários de guerra apresentados pelo Novo Arco Íris, depois da inclusão de territórios que há quatro anos não estavam em confronto como o litoral do Pacífico, a Guajira e EL Chocó; reduz-se a um só: Todo o território e toda a geografia da Colômbia.
Assim, das seis conclusões podemos ficar com duas: uma, e esta é o fundo do relatório; as Forças Armadas da Colômbia ante o desastre dos números que não passam do estritamente militar do confronto e que os pesquisadores advertem serem parciais, devem reconhecer que o cansaço e o desgaste da guerra não tem nada de econômico, nem político, nem jurídico, mas que “as Forças Armadas não baixaram a guarda e, sobretudo, NÃO estão desmoralizadas”.
E dois, que a reorganização das FARC não tem sido um processo longo, planejado e coletivo, onde milhares de homens resistentes têm participado e pode-se ver no gráfico apresentado no relatório, cujo pico, no ano de 2002, não é explicado em nenhuma parte como resultado da ruptura do processo de paz de El Caguán.
Senão, obedece à ação individual de “um antropólogo ermitão, marxista ortodoxo, fumador que lê muito, mimetiza-se com óleo queimado, tem somente cachorros para companhia, não dorme nunca duas vezes na mesma caverna e cuja sobrevivência depende da fidelidade de várias mulheres. Sua morte séria um golpe estratégico para as FARC, ainda que não acabe com a guerra”.
Vejamos a sugestiva novela de Inteligência Militar que escrevem León Valencia e Ariel Ávilla no seu relatório para preparar o terreno para a baixa do Comandante Cano, que está sendo cercado por 8.000 soldados profissionais armados até os dentes com a última tecnologia de guerra gringa por terra, ar e mar e por cuja cabeça o governo Santos oferece 5 milhões de dólares:
...”A quinta conclusão permite-nos dizer que a Colômbia está vivendo uma nova etapa de violência, ou melhor, uma nova etapa onde se articula a guerra no campo com fenômeno da criminalidade urbana. Ainda que esta etapa guarda laços importantes com a anterior, esta tem novas facetas. A descentralização criminosa, o subemprego em nível urbano e uma nova forma operativa das diferentes estruturas criminosas que atuam na Colômbia são os itens característicos. As FARC não estão alheias a esta nova etapa da violência, esta é a “Era Cano” do grupo guerrilheiro.
‘Alfonso Cano’ chegou ao posto mais alto das FARC com um grande desafio: reverter a tendência que o confronto armado levava até esse momento e criar uma estratégia militar destinada a contrapor o desenvolvimento do conflito. O Plano 2010, concebido em 2008, é o modelo de ‘Cano’ para a guerra, dai que os primeiros resultados positivos para o grupo guerrilheiro viram-se refletidos nas estruturas sob a direção de ‘Cano’. Quer dizer, o Comando Conjunto do Ocidente e o Comando Conjunto Central, enquanto que no Bloco Oriental o Comandante Jorge Briceño apenas em 2011 conseguiu adquirir este formato operativo.
De tal forma que uma possível baixa de ‘Cano’ significaria um retrocesso militar importante à luz da nova estratégia militar do grupo guerrilheiro, já que este Plano 2010 permitiu que as FARC melhorassem sua posição no terreno de combate. Mas, não significaria nem o fim das FARC e muito menos a sua desestruturação. Os processos acelerados de descentralização permitiram às FARC adaptar-se e assimilar rapidamente os golpes contra os comandantes do grupo guerrilheiro.
‘Alfonso Cano’, caracterizado pelo seu pragmatismo ideológico, conseguiu dar ao grupo guerrilheiro uma nova estratégia militar e um novo rumo político. Este antropólogo, apesar de suas raízes urbanas, pode coordenar as FARC, composta majoritariamente por camponeses e, em geral, não houve nenhum tipo de descoordenação dos diferentes blocos das FARC.
Diferentemente de ‘Manuel Marulanda’ ou do ‘Mono Jojoy’, ‘Cano’, como descrito por um guerrilheiro desmobilizado próximo dele, parece um ermitão. ‘Cano’ se move com poucos homens, não permanece mais de dois dias num mesmo acampamento, parece um homem invisível, além de falar pouco, ainda que fume muito. Nestes últimos anos, apesar da violenta perseguição desatada pela Força Pública, através da Operação Fuerte, ‘Cano’ tem conseguido uma atualização acadêmica, os livros de Toni Negri, Zizek, Chomsky já fazem parte da bibliografia atual do mais alto comandante das FARC.
Esta abertura ideológica, se bem que não modificaram a forma de ver a vida desde o marxismo ortodoxo, deu esse novo rumo político as FARC. Mesmo que não fale muito com sua guarda pessoal e, inclusive, fala pouco com os comandantes que o rodeiam, a lealdade de seus homens e mulheres é o que lhe tem possibilitado a sobrevivência.
A chegada de ‘Cano’ ao departamento de Sul do Tolima não foi uma casualidade. Durante os diálogos em El Caguán não foi um participante ativo, ao contrário, sempre desconfiou dos mesmos e criticava as FARC por participar deles. Para ele a única possibilidade era a tomada do poder pela força, e isso o levou a abandonar El Caguán um ano antes do fim dos diálogos, e de lá, durante uns meses, operou pela área de Santa Rosa, Cauca, no altiplano. Em fins de 2002 começou uma grande operação militar, que conseguiu evitar, por sorte. Nesse momento ‘Manuel Marulanda’ iniciou uma analise para saber para onde enviar a ‘Cano’. Sabia que era um homem urbano e necessitava protegê-lo.
Em 2003, após a Plenária do Estado Maior, Marulanda o enviou para o Sul do Tolima, ao coração das FARC, para que ali adquirisse a experiência necessária, assim como proteção para os anos que chegavam. ‘Cano’ levou esta aprendizagem ao extremo que besunta sua roupa com óleo queimado para evitar ser detectado por ar, e se movimenta pela noite. A situação atual no território onde ‘Cano’ se move lhe é adversa, isto se deve à baixa recente de ‘Jeronimo Galeano’, que morreu no norte de Huila, após uma operação de assalto das forças especiais do Exército. Galeano era quem preparava os movimentos de ‘Cano’ e quem, in loco, coordenava as operações militares do Comando Conjunto Central, assim com a morte de ‘Galeano’ a Força Pública queria cortar o cordão que ligava a tropa com o centro.
Analises pouco profundas mostram que a morte de ‘Cano’ acabaria com as FARC ou as debilitaria e as obrigaria a negociar. É claro que o Plano Bolha agride as forças ilegais e proporciona altos índices de popularidade, votos e boa imagem do governo, mas não é suficiente para subjugar e acabar com as BACRIM, FARC, ELN e outras organizações de delinquência comum; a tese segundo a qual cortando a cabeça se mata a cobra, não se aplica para as estruturas ilegais que operam no país. A situação é mais complexa.
O mapa mostra a situação das FARC para o primeiro semestre de 2011. Nota-se como na área do departamento de Magdalena Médio surgiram novamente três estruturas que no ano anterior estavam praticamente desaparecidas...
Quem é que assim não ganha prêmios literários e edições milionárias na Espanha e em seus jornais na Colômbia?