"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Comandante Pastor Alape, FARC-EP: “Acreditamos na imensa capacidade de mobilização do povo para impor a saída política ao conflito”.


No mês de junho passado, o comandante Pastor Alape, integrante do Secretariado Nacional das FARC-EP, concedeu ao diário alternativo Periferia a entrevista que lerão a seguir. Em poucas linhas, o comandante Alape expõe ao país sua visão sobre os Diálogos de Paz que adianta nossa organização, ao mesmo tempo em que ratifica a unidade das FARC-EP e sua inflexível vontade política em torno da busca da paz e da reconciliação para os colombianos.

Através da comissão negociadora das FARC, em Havana, Cuba, Periferia obteve entrevista com um dos membros do Secretariado das FARC. Desconhecido para muitos, Pastor Alape é um guerrilheiro curtido por mais de 30 anos de militância nessa organização. Compartilhamos com nossos leitores a visão de mais um comandante do Secretariado.
Qual é a leitura das FARC do contexto atual no processo de paz?
Há uma crise do modelo imperante que se aprofunda a cada dia por causa da voracidade com que esse modelo esgota os recursos naturais, deteriora o meio ambiente, explora de forma impiedosa os trabalhadores e acelera o consumismo, empurrando para o fim da sobrevivência no planeta, aumentando as desigualdades sociais. A fome e a miséria impostas por esse modelo açoitam brutalmente a mais de 30 milhões de compatriotas.
Se restringe com fúria os direitos políticos, econômicos, sociais e culturais. Há uma sociedade que tem sido sistematicamente atemorizada e violentada por todas as formas de terror que o Estado estabeleceu, porém é uma sociedade que vem ascendendo em consciência política e que vem se mobilizando contra o terror e a opressão impostos pela oligarquia colombiana.
A busca da solução política ao conflito social e armado que a Colômbia vive é parte de nossa estratégia política. Não fazemos a guerra pela guerra. Fomos lançados a participar na resistência armada que historicamente se desenvolveu na Colômbia e, agora, novamente estamos atuantes na mesa de conversações pela paz da Colômbia com o governo de Juan Manuel Santos, com a convicção de que o futuro do país é a paz com justiça social.
Este é um processo de negociação ou de diálogos?
Concebemos como um processo de busca da solução política, onde o porto de chegada obrigatoriamente tem que ser um tratado sério, que limpe os caminhos da reconciliação e da reconstrução da nação, para construir a paz com justiça social.
Estão as Farc dispostas a desmobilizar-se?
Estamos dispostos a fazer o necessário para que possamos, em união de todos os anseios de paz que se manifestam poderosamente no país, construir uma nova esperança para a pátria, que permita aos oprimidos enterrar a injustiça, a desigualdade, o terror e a violência secular impostos pelas elites governantes.
Como joga a experiência da UP em sua aposta de participação política?
O tratado de paz tem que estabelecer as garantias que permitam o exercício pleno de todos os direitos políticos dos colombianos, afirmar uma verdadeira democracia, começando por estabelecer um mecanismo eleitoral substancialmente democrático e participativo, que desmonte o ninho de corrupção que o caracteriza.
Que garantias são requeridas para que isso possa suceder?
O desmonte de todos os mecanismos de terror para-institucional que o regime implementou para aniquilar a oposição política; participação efetiva em igualdade de condições de todas as forças políticas nos mecanismos comunicacionais; estabelecer um novo regime eleitoral que garanta a participação de todos os setores políticos em igualdade de condições e erradique os vícios e a corrupção que caracterizam o vigente; desmonte da doutrina de segurança do Estado e que se proscreva a concepção do inimigo interno, que se descriminalize e se descriminalize o protesto social e o direito a fazer oposição.
Quais são os aspectos que estão dispostos a acordar com o governo?
A construção do caminho da paz está na dependência da capacidade de mobilização da nação para obrigar os promotores da guerra a abrir as portas da paz. O governo tem defendido na mesa sua estratégia de paz dentro do esquema de submissão e desmobilização da insurgência, porém, na medida em que o diálogo avança, pudemos conquistar acordos no primeiro ponto, no que tem que ver com a terra e o mundo da ruralidade.
Ainda há desacordos que, consideramos, podemos superar. Somos otimistas e acreditamos que todos os pontos pactuados na agenda serão resolvidos com resultados positivos para a construção da paz. Não queremos entregar mensagens desanimadoras, colocando barreiras, ou ameaças, como tem sido o costume do governo na voz de seus funcionários; cremos que o fato de estar na mesa compromete as duas partes a um grande esforço por encontrar as fórmulas de como superar as causas que originaram e alimentado o conflito. O que, sim, deixamos claro é que não estamos na mesa para pactuar nossa rendição.
Se há acordo, que vai passar doravante com a luta política das Farc?
Todos os esforços são por conquistar um verdadeiro tratado de paz, que abra o horizonte da justiça social, a participação política em igualdade de condições de todos os atores políticos nacionais, de garantias para as lutas sociais e do movimento popular, de equidade informativa e comunicacional, do direito à sindicalização de todos os trabalhadores, de democratização das forças armadas e de polícia, desligando-as da corrupção e do paramilitarismo, tornando-as respeitosas dos direitos humanos. Nessas condições, a atividade política das FARC-EP será ampla, no cenário público, orientada a buscar as transformações reclamadas pelos humildes da pátria.
Se não se chega a nenhum acordo, que farão ante uma eventual ofensiva do regime?
Acreditamos na imensa capacidade de mobilização do povo para impor a saída política ao conflito, acreditamos que a mobilização de todos os colombianos obrigará o regime a manter-se no caminho da solução política. Todas as saídas de ordem militar para aniquilar a insurgência fracassaram e seguirão fracassando, a guerra não é o caminho para abafar o inconformismo que ascende diariamente, já é hora de parar a guerra e passar para a arquitetura da paz com justiça social.
O eventual fracasso nos acordos poderia afetar a moral dos combatentes?
O combatente guerrilheiro cresce moralmente na confrontação, no sacrifício, e se se chegará a impor a vontade das poderosas minorias, que se alimentam do conflito, sobre as maiorias, que o padecem, a lógica insurgente se disparará para reafirmar que a esta oligarquia colombiana não a abandona a mesquinharia, que só lhe interessa aprofundar a barbárie. Porém, acima de qualquer adversidade, seguiremos desenvolvendo nossas ações em direção a conquistar a paz, não pararemos nesse esforço, porque é o clamor que recolhemos na interlocução com o povo.
Deve variar o papel da guerrilha tradicional num contexto como o de hoje?
A guerrilha é uma força revolucionária em constante crescimento de experiências políticas e transformação operativa e organizacional. É uma força que assimila radicalmente, revolucionariamente, seus erros e aprofunda em seus acertos, que se apega às esperanças das massas e responde a elas, que aprende a lutar com o povo e assume com humildade a crítica e a contribuição desse povo, que politicamente responde aos anseios de todos os despossuídos da Colômbia.
Como as FARC entendem a paz?
Simples. Um país onde o povo possa viver sem a preocupação constante de que vai ser detido, encarcerado, torturado ou assassinado porque pensa diferente dos governantes, ou ser ameaçado e deslocado da terra porque há poderosos que querem se beneficiar dela. Um país onde se viva sem a incerteza do que será o café da manhã porque não há um centavo no bolso, ou onde vai abrigar a família porque não tem moradia.
Onde não se veja as meninas e os meninos prostituídos ou mendicantes nas ruas sob o olhar indolente da sociedade e seus governantes, onde a angústia de não poder ter acesso a educação não acosse a juventude. Onde não tenha que mendigar numa longa fila para que lhe entreguem o mesmo comprimido de sempre, estabelecido pelo sistema de saúde imperante; onde a lavoura campesina tenha futuro e não esteja sob a ameaça de ser aniquilada pelos efeitos dos tratados de livre comércio; onde se possa sufragar livremente sem a coerção da promessa do posto de trabalho ou a ameaça de perdê-lo. Enfim, simplesmente, um país florescendo em justiça social.
Que papel joga aqui o movimento social e popular?
O movimento social e popular tem desafios muito grandes porque é quem, na prática, tem o poder para produzir as mudanças que a Colômbia necessita, porque representa os setores que sentem o peso do conflito em seus ombros, em sua existência diária, é quem enfrenta o terror das políticas econômicas, jurídicas e sociais que aplicam os diferentes governantes. Sua unidade e mobilização será uma das forças que permitirão avançar para uma paz verdadeira.
Como seria possível visibilizar as Farc sem instrumentalizar o movimento social e popular?
O movimento social e popular tem sua própria dinâmica e a formidável experiência que acumulou certamente lhe irá mostrando a urgente necessidade de tomar rotas de maior coordenação e unificação para uma poderosa frente contra o modelo imperante. Sempre respeitamos suas decisões, que quase sempre são guia de nosso quefazer político.
Por que as Farc e o ELN não têm podido adiantar acordos de unidade de ação?
É uma pergunta difícil, porque cada força argumentamos razões respeitáveis. Porém, sim, podemos afirmar que nos tem faltado maior visão; a imaturidade e o sectarismo nos afetaram seriamente. Por sorte, estamos fazendo grandes esforços em ambos os lados para despojar-nos destas deficiências tão asfixiantes e que tanto prejuízo têm feito às esperanças de mudança com que sonha a nação. Em muitas áreas se fortaleceu essa unidade desde a base, a confiança se tem nutrido e, se as bases seguem marchando nessa direção, para os dirigentes será mais fácil empreender ações para que se materialize o mandato da militância.
Se as Farc chegam a um acordo com o governo, que creem que lhe espera ao ELN?
Os companheiros têm sua própria experiência e compromisso de luta pela paz e não irão ficar de braços cruzados. Eles estão desenvolvendo sua própria dinâmica e certamente executarão as ações necessárias para que o processo chegue a um ponto de encontro. Nosso compromisso também vai nessa direção, porque a verdadeira paz terá que ser com todas as forças que confrontamos com o regime, do contrário a nação não alcançará o objetivo.
Estão as Farc unificadas ao redor do atual processo de paz?
A unidade nas FARC-EP é uma realidade inquestionável. A mentira de umas FARC atomizadas só está nos desejos da oligarquia.
Que mensagem dão as Farc aos colombianos frente a este processo de paz?
Todas as nossas energias, experiências e iniciativas estão à disposição da construção de uma nova nação. Nosso empenho é marchar com os marginalizados de sempre, os democratas e revolucionários, intelectuais, comunicadores, campesinos e trabalhadores da cidade e do campo, as mulheres e a juventude para a reconciliação e a reconstrução nacional. Estamos acompanhando todos os colombianos que se somam a todas as manifestações pela paz com justiça social que percorre o país, esperançados em que é possível sair desta longa e obscura noite de violência que nos impuseram os poderosos e convidamos a quem não se manifestou a fazê-lo com todas as energias que a pátria reclama.
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Agência de Notícias Nova Colômbia, ANNCOL

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