DOCUMENTO OFICIAL DA FORÇA AÉREA DOS EUA REVELAM AS VERDADEIRAS INTENÇÕES POR TRÁS DO ACORDO MILITAR COM A COLÔMBIA
Emir Sader
Um documento oficial do Departamento da Defesa dos EUA revela que a base militar de Palanquero, Colômbia “garante a oportunidade de realizar operações de espectro total na América do Sul”. Essa afirmação contradiz as explicações do presidente Álvaro Uribe e do Departamento de Estado dos EUA sobre o acordo militar assinado em 30 de Outubro, entre Washington e Bogotá. Os governos da Colômbia e dos EUA mantiveram publicamente que o acordo militar trata apenas de operações militares e as atividades dentro do território da Colômbia para combater o tráfico de drogas e o terrorismo interno. O presidente Uribe tem reiterado várias vezes, até mesmo na reunião da Unasul em Bariloche, na Argentina, que o seu acordo militar com Washington não afetará seus vizinhos. No entanto, o documento da Força Aérea norteamericana confirma o contrário e indica que as verdadeiras intenções e objetivos por trás do acordo são poder realizar operações militares a nível regional para combater “a ameaça constante... de governos antiamericanos".
O acordo militar entre Washington e Colômbia autoriza o acesso e utilização de sete instalações militares: Palanquero, Malambo, Tolemaida, Apíay Larandia, Cartagena e Málaga. Além disso, o acordo permite “o acesso e utilização das demais instalações” em todo o território colombiano, sem restrições. Junto com a imunidade total que este acordo dá aos militares, civis e empreiteiros norteamericanos que entrarão em território colombiano nos termos do convênio, a autorização para que os EUA utilizem qualquer instalação no país, incluindo aeroportos comerciais, significa a entrega total da soberania colombiana.
O documento da Força Aérea salienta a importância da base militar de Palanquero e fala da necessidade de investir 46 milhões de dólares para redimensionar a pista de pouso, rampas e outras instalações da base para convertê-la numa CSL ou Localidade de Cooperação em Segurança, dos EUA. “Estabelecendo uma CSL em Palanquero apoiará a Estratégia de Postura do Teatro de Comando Combatente (COCOM) e demonstrara o nosso compromisso com o relacionamento com a Colômbia. O desenvolvimento deste CSL nos dá uma oportunidade única para as operações de espectro completo numa subregião crítica em nosso hemisfério, onde a segurança e estabilidade estão sob a ameaça constante de insurgências terroristas financiadas pelo tráfico de drogas, os governos antiamericanos, a pobreza endêmica e os frequentes desastres naturais...”.
Não é difícil imaginar o que os governos da América do Sul são considerados por Washington como “antianorteamericanos”. Suas constantes declarações agressivas contra a Venezuela, Bolívia e, inclusive o Equador, demonstram que são os países do ALBA que são percebidos por Washington como uma “ameaça constante”. Classificar um país de "antinorteamericano” é considerá-lo como um inimigo dos EUA. Neste contexto, é lógico pensar que os EUA reagiriam diante de uma região repleta de “inimigos” com a agressão militar.
A luta contra o narcotráfico é secundária
Segundo o documento, “O acesso à Colômbia irá aprofundar a relação estratégica com os EUA. A forte relação de cooperação em segurança também oferece uma oportunidade para realizar operações de espectro total na América do Sul, incluindo suporte para as capacidades de combater o narcotráfico”. Aqui está claro que a luta contra o narcotráfico é uma questão secundária. Este fato contraria as explicações dos governos da Colômbia e Washington que tentaram fingir que o principal objetivo do acordo militar é o combater ao narcotráfico. O documento da Força Aérea prioriza as operações militares continentais necessárias para combater “ameaças constantes”, como os governos “antinorteamericanos” na região.
Palanquero é a melhor opção para atingir todo o continente
O documento da Força Aérea explica que "Palanquero é sem dúvida o melhor lugar para investir no desenvolvimento de infraestrutura dentro da Colômbia. A sua localização central está dentro do alcance das áreas de operação... na região...e sua localização isolada ajudará...minimizar o perfil da presença militar dos EUA. A intenção é utilizar a infraestrutura existente...melhorar a capacidade dos EUA de responder rapidamente a uma crise regional e garantir o acesso e a presença dos EUA...Palanquero ajuda com a missão de mobilidade porque garante o acesso a todo o continente Sulamericano, com exceção do Cabo de Hornos...”
Espionagem e Guerra
Além disso, o documento da Força Aérea confirma que a presença militar dos EUA em Palanquero, Colômbia, aumentará as capacidades de espionagem e inteligência, e permitirá que as forças armadas dos EUA aumentem sua capacidade para executar uma guerra na América do Sul. “O desenvolvimento [da base de Palanquero] aprofundará a relação estratégica entre os EUA e a Colômbia e é do interesse de ambos os países... [A presença] também vai aumentar a nossa capacidade de realizar operações de inteligência, espionagem e Reconhecimento (ISR), vai melhorar o alcance global, apoiará os requisitos logísticos, melhorará as relações com os parceiros, melhorará a cooperação de teatros de segurança e aumentará a nossa capacidade de realizar uma guerra rápida”.
A linguagem de guerra deste documento evidência as verdadeiras intenções por trás do acordo militar entre Washington e Colômbia: preparam-se para uma guerra na América Latina. Os últimos dias têm sido tensos e cheios de conflitos entre Colômbia e Venezuela. Dias atrás, o governo venezuelano capturou três espiões do Departamento Administrativo de Segurança (DAS) da Colômbia – sua agência de inteligência e espionagem – e descobriu várias operações ativas destinadas à desestabilização e espionagem contra Cuba, Equador e Venezuela. As operações Fênix, Salomão e Falcão, respectivamente, foram reveladas por documentos encontrados em poder dos funcionários do DAS capturados. Duas semanas atrás, também foram encontrados 10 corpos no estado venezuelano de Táchira, na fronteira com a Colômbia. Após a realização das investigações correspondentes, o governo venezuelano descobriu que os corpos pertenciam a um grupo de paramilitares colombianos que haviam se infiltrado em território venezuelano. Esta perigosa infiltração paramilitar desde a Colômbia é parte de um plano de desestabilização contra a Venezuela que busca criar um paraestado dentro do território venezuelano e, assim, enfraquecer o governo do Presidente Chávez.
O acordo militar entre Washington e Colômbia somente aumentará esta tensão e violência regional. Agora, com a informação divulgada no documento da Força Aérea dos EUA, é evidente, além de qualquer dúvida, que Washington busca promover uma guerra na América do Sul, utilizando a Colômbia como base de operações. Diante desta declaração de guerra, os povos da América Latina devem mostrar unidade e força. A integração latinoamericana é a melhor defesa contra a agressão imperialista.
*O documento do Departamento da Força Aérea dos EUA foi elaborado em maio de 2009, como parte da justificação do orçamento para 2010 enviado pelo Pentágono ao Congresso. É um documento oficial da Força Aérea e reafirma a veracidade do Livro Branco: A Estratégia de Mobilidade Global do Comando Aéreo da Força Aérea dos EUA, que foi denunciado pelo Presidente Chávez durante a reunião da Unasul em Bariloche no final de agosto passado. Coloquei o documento e a tradução não oficial dos segmentos sobre a base de Palanquero na página Web do Centro de Alerta para a Defesa dos Povos, um espaço que estamos construindo para que denúncias e informações estratégicas fiquem disponíveis para que os povos possam se defender com contundência diante das constantes agressões imperiais.
Documento original em Inglês: http://www.centrodealerta.org/documentos_desclasificados/original_in_english_air_for.pdf
Tradução não oficial em espanhol: http://www.centrodealerta.org/documentos_desclasificados/traduccion_del_documento_de.pdf
evagolinger@hotmail.com
Fonte: http://www.aporrea.org/tiburon/a89582.html