"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 25 de maio de 2011

As FARC em ação

Dois jornalistas viveram uma semana nas planícies do leste da Colômbia com a Coluna "Jorge Briceño" da guerrilha e, mostram a sobrevivência nômade obrigada pelas Forças Armadas, mas também como a forma de prosseguir a formação, recebendo armas, combatendo e até mesmo fazendo atividades em favor do povo e, em memória de seu Comandante.


Tiros de canhão de um metralhadora russa. Fuzis de assalto se unem ao combate. Guerrilheiros das FARC e soldados colombianos trocam tiros de um lado para o outro em um terreno de apenas 100 metros de mata. Granadas fazem eco ao explodirem.


É difícil com toda essa lama, disse um guerrilheiro apelidado de Adrián enquanto abraça sua metralhadora M-60. “Isso é para retardar o avanço deles (o exército). Dentro de dois ou três dias assumem novas posições e voltam para lutar. O campo de batalha nesse dia era uma pequena colina de El Porvenir, uma vila perto da cidade de La Julia. O combate durou cerca de uma hora. Foi mais um de uma série de batalhas anônimas que raramente chegam às manchetes da imprensa.


No campo, nenhum dos 54 jovens combatentes da Companhia Marquetalia - parte do Bloco Oriental - falam em rendição.


Vem a morte do Mono (Jojoy) e todo o mundo morreu. A morte vem ao camarada Manuel (Marulanda), e todo o mundo morreu. Isso é o que eu penso, mas não é ", diz Jagwin, comandante do recém formada “Companhia Marquetalia. “Sente-se muito, acrescenta, porque o Mono era praticamente o nosso pai. É como acontece em casa quando o pai morre, mas tem que haver um irmão que trabalhe no desenvolvimento da pequena propriedade.


Como Jagwin, Willinton 40, o segundo no comando da Companhia, estava próximo ao acampamento de Briceño na noite que foi bombardeado. De igual maneira negou que o ataque fora o anúncio da morte das FARC:


Para as Forças Armadas e para o resto do mundo, as FARC estão no final do final, após a mortdo camarada Jorge (Mono Jojoy). Mas para nós não é assim. Nós somos uma organização com hierarquia e quando morre um Comandante ou um guerrilheiro, outro o substitui.


A conversa para abruptamente. O som das hélices de um helicóptero de artilharia Blackhawk ecoa

em cima. Enquanto persegue a coluna móvel da guerrilha descarrega suas metralhadoras calibre 50. A “Companhia Marquetalia já está em retirada tática, combatentes de outras duas unidades também se retiram da área de combate.


No momento em que o helicóptero Blackhawk deixa a floresta, batizado pelos rebeldes de Arpía, volta-se a ter visão. “Fiquem quietos. Vem para cá, são foguetes, avisa Faiber, um dos sob-comandantes da Companhia. Um míssil atinge um alvo invisível e uma chuva de balas castiga a terra. “Me sinto normal. Chega a hora na qual a gente perde o medo, diz Faiber, ordenando seus companheiros a continuarem a marcha.


Nessa noite, o acampamento foi erguido sobre uma plantação. Aviões das forças militares patrulhavam constantemente. Comandantes rebeldes ordenaram um apagão total e confiscaram as lanternas dos combatentes. Todas as conversas eram sussurros, só.


Enquanto escutavam o barulho sobre as suas cabeças falavam sobre “la exploradora referindo-se

a um avião de reconhecimento, a “la Marrama um avião de artilharia e equipado com sofisticados sensores noturnos. Suas vidas dependem da observação destes aviões a tempo de evitar serem detectados.


Embaixo de um telhado de zinco de uma cabana de camponeses abandonada, Jagwin explica como sobreviveu a um bombardeio.


O último recurso que nós tínhamos, recorda, era a trincheira. Quando veio um bombardeio nos enterramos nela. E no momento do desembarque (de tropas) íamos saindo. "


Willington, 40, também sentiu a fúria das missões aéreas. Ele ofereceu poucos detalhes, mas confessou que ele e outros sobreviventes tiveram de abandonar os mortos e feridos - um tabu para qualquer força militar. “É difícil ter que abandonar uma zona de combate ou bombardeio deixando companheiros feridos ou mortos. São companheiros e haviam compartilhado uma vida de guerrilha com eles. Eles são os que haviam posto o peito às balas na linha de fogo.


Por essa razão, nessa noite como todas as noites, os comandantes instruíram os guerrilheiros sobre as rotas de evacuação em caso de bombardeio. Eles ordenaram usar canos pouco profundos e pequenas trincheiras escavadas perto de suas entradas para se protegerem contra uma possível chuva de estilhaços. E, finalmente, antes de deitar, elaboraram os planos de combate em caso de terem que enfrentar um ataque noturno.


Os dois dias seguintes foram uma série de marchas cansativas. Enquanto a Companhia avançava, os membros de pelo menos outras duas colunas e outras três Frentes das FARC apareceram para guiá-los ou simplesmente saudá-los. A rede de comunicações da guerrilha estava funcionando eficazmente apesar das versões governamentais sobre as FARC que haviam perdido o "comando e o controle - ou seja, a capacidade das diferentes unidades comunicarem-se e coordenar entre si.


A época de chuvas havia chegado atrapalhando a meta da “companhia Marquetalia que avançava menos de dois quilômetros por hora.


No caminho, ninguém tinha muito animo para falar.


Estavam cansados, com suas mochilas de 30 quilos, com rifles e morteiros. Suas botas de borracha estavam cheias, metade com água morna do rio e a outra metade com o suor. Enormes raízes formavam passos naturais para baixar as bordas lamacentas. Borboletas de um azul elétrico voavam pelo mato. Os macacos balançavam-se entre as copas das árvores, atirando galhos ao chão de vez em quando.


Com poucas exceções as idades dos guerrilheiros na Companhia variava entre 20 e 30 anos.


Eram jovens, em bom estado físico e de famílias pobres - um perfil comparável aos soldados rasos de qualquer unidade de infantaria, que seja do exército colombiano ou tropas estadunidenses no Iraque ou no Afeganistão.


Hospital ambulante


O destino para a “Companhia Marquetalia após dois dias de marcha foi uma cabana de madeira escondida na selva. Na parede, se via um cartaz escrito à mão com as palavras “Brigada cívico- militar Jorge Briceño Suárez.


Guerrilheiros de uma unidade irmã, a “Companhia Ismael Ayala, haviam instalado uma clínica para oferecer tratamento odontológico e pequenas cirurgias aos camponeses e suas famílias. Ponchos camuflados serviam as vezes de paredes ao redor da sala de odontologia. Outro poncho marcava a entrada a outra sala onde os médicos das FARC estavam prontos para operar utilizando anestesia local.

Uma mãe havia levado seus três filhos. Sua tentativa anterior de procurar tratamento com um dentista civil em La Julia - a mais ou menos três horas de distância - acabou por ser uma viagem perdida. "Fui com eles, mas a enfermeira que retirou os dentes não estava nesse dia, então tive que trazê-los de volta para casa."


Ela, como outros que esperavam na clínica das FARC, disse que a atenção na vila é gratuita mas de baixa qualidade. Mas, se algum paciente não está registrado no plano de saúde, um dentista particular lhe cobraria 25.000 pesos para arrancar um dente. Embora o custo mais alto seja para pagar a viagem de ida e volta à cidade.


Enquanto, as clínicas de guerrilha como esta podem ser consideradas uma solução momentânea para os camponeses, não representam uma solução de longo prazo para as condições precárias de saúde destas comunidades isoladas.


Claramente é uma campanha de guerrilha para ganhar os “corações e mentes do povo. Yesid, um dos médicos rebeldes, conta: “O que diariamente estamos procurando é ganhar as massas. Porque o que ganha as massas ganha a guerra. Também o fazemos porque somos do povo e trabalhamos para o povo.


É uma tática comum de qualquer força militar, especialmente aquelas envolvidas em uma guerra irregular. O exército colombiano tem suas próprias brigadas civis e militares igual ao exército norteamericano no Iraque e Afeganistão.


A clínica havia funcionado apenas uma hora naquele dia e uma dúzia de civis haviam se reunido. De repente, chegou a notícia de que o exército estava se aproximando. As consultas deveriam ser

suspensas imediatamente.


O confronto anunciado entre as duas forças nunca aconteceu. Os líderes da guerrilha não tinha uma idéia clara de quantos soldados havia nem para onde estava se mobilizando.


Assim, a “Companhia Marquetalia optou por mudar seu acampamento e manobrar para evitar os seus oponentes. Jagwin explica: “Na guerra de guerrilha se escolhe o campo de batalha, dizemos, podemos lutar aqui ou ali, ou lá podemos esperar.


Essa decisão foi um exemplo de como as unidades de combate das FARC tem absorvido as lições de suas últimas derrotas. Estão revigorando a Guerra de Guerrilhasna qual a mobilidade torna-se sua principal vantagem. É também outro sinal de que esta guerra de baixa intensidade poderia prolongar-se indefinidamente, pelo menos aqui no campo.


Um dia depois, a clínica da guerrilha estava de volta e funcionando em outro lugar a vários quilômetros. Desde o início 17 adultos e algumas crianças haviam sido registrados para receber tratamento. Não há eletricidade na região. Somente alguns com sorte tem plantas ou painéis solares.


Por esta razão, observar uma extração de dente ou um corte de bisturi na pele, especialmente quando se trata de um vizinho, cria-se um espetáculo melhor do que um “show na televisão.


Uma menina observava um homem que ela conhecia como “don Luis, enquanto lhe operavam de

uma hérnia. Raios de luz penetrando através das fendas das paredes de madeira. Yesid, o médico, e seus três assistentes que trabalham sob a luz baixa de lanternas montadas sobre as suas cabeças. A mesa de operações era uma tábua de madeira montada parcialmente em um tronco de árvore.

Uma vez que a cirurgia começou, os médicos disseram que não tinham opção a não ser continuar, inclusive se o exército montasse um ataque surpresa. “Se começarem a cair bombas ou chumbo - anota Yesid, estamos onde estamos e não podemos deixar o paciente aberto


Apesar das tentativas por parte de políticos de rechaçar a guerra de guerrilha como uma tática em

desuso no século XXI, o modelo claramente segue vigente em todo o mundo.


E um olhar para a Companhia Marquetalia mostra que a guerra de guerrilhas tem sobrevividotambém na Colômbia. E uma nova geração de combatentes em seus vinte anos e tem quase uma década de experiência no campo de batalha.


As Farc estão acabadas? De maneira nenhuma. Todos os presidentes desde 1964 têm dito que vão acabar com as Farc, segundo Jagwin. “Não há dúvidas de que vamos chegar ao poder, acrescentou Willinton. “Mas, se o governo desse ao povo tudo o que é necessário certamente não haveria guerrilha. Não teríamos um propósito para lutar.