Quem está por traz do Facebook, o Portal dos Amigos?
Por Pascual Serrano, oito de fevereiro de 2008
O programa de internet Facebook é uma simpática ferramenta de comunicação social, um instrumento que permite contatar e arquivar os endereços e outros dados dos amigos e familiares que conhecemos. Mas, também se constitui numa mina de informação para os órgãos de inteligência que exploram estes dados e, que graças ao Facebook, sabem tudo sobre você. Reproduzimos a seguir um artigo muito pertinente sobre o Facebook.
Em 4 de fevereiro [2008] celebrou-se em todo o mundo uma mobilização contra a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – FARC-EP. Os meios de comunicação destacaram a espontaneidade da iniciativa, especialmente porque se originava de uma rede social da Internet chamada Facebook.
Jornais como El País, insistiam em que tudo partia de “um engenheiro civil de 33 anos convertido em técnico de informática e morador da cidade de Barranquilla”. Sua ingenuidade era assim apresentada pelo jornal: “Até um mês atrás não tinha tido participação na política do seu país a não ser a de exercer seu direito de voto. Chama-se Oscar Morales e nunca pensou que a idéia de convocar uma manifestação teria uma repercussão tão grande. Morales, que trabalhava no Serviço Nacional de Aprendizagem (SENA), uma instituição pública que adotou a rede social Facebook como ferramenta de comunicação entre os estudantes”. E o promotor declara: “Facebook tem uns 70 milhões de associados no mundo e somente dois milhões na Colômbia. Em quatro de janeiro decidi incluir no Facebook.com a campanha “Um milhão de vozes contra as FARC”. Somente pretendia recolher assinaturas. Nunca imaginei um êxito semelhante”.
Segundo o jornal, e como prova de espontaneidade, “no primeiro dia juntaram-se 1.500 pessoas à sua proposta. No segundo, 4.000. E no terceiro, Carlos Andrés Santiago, internauta de Bogotá, propôs converter o protesto numa grande manifestação na Colômbia. Estabeleceram o prazo de um mês: a manifestação percorreria as ruas colombianas em 4 de fevereiro. Depois, começaram a chegar mensagens de muitos países”.
A esquerda colombiana, organizações de Direitos Humanos e familiares de detidos pelas FARC criticaram duramente essa mobilização que qualificaram de belicosa e partidarista, pois negava uma solução dialogada ao conflito, ignorava os crimes cometidos pelos paramilitares e o exército além de apostar em uma solução exclusivamente armada ao gosto do governo de Uribe, dos setores militares, da empresas de armamento e do governo dos EUA.
Por sua parte, os promotores, segundo El País, “foi a cidadania que se manifestou, e isto não vai se deter agora. A sociedade colombiana despertou, até que enfim, da indiferença em que estava mergulhada”. Desde Bogotá, o jornal não para de recolher testemunhos que insistem na juventude e espontaneidade da iniciativa que nasceu no portal Facebook: “Os promotores éramos jovens, mas compareceu gente de todas as idades. A partir de hoje inicia-se um novo caminho”.
Quem é o Facebook? Quem está por traz desse projeto? É tão espontâneo com dizem? Obedece só a iniciativas cidadãs sem nenhuma ideologia por traz?
É apresentado na Wikipedia como um site de redes sociais. Os usuários podem participar em uma ou mais redes dependendo da sua situação acadêmica, de trabalho ou região geográfica.
O jornalista Tom Hodgkinson o pesquisou e forneceu muitas senhas no jornal britânico The Guardian em janeiro de 2008. A maior parte das informações a seguir é oriunda deste trabalho.
O Facebook afirma ter 59 milhões de usuários ativos, incluindo sete milhões no Reino Unido, o terceiro cliente em tamanho depois dos EUA e Canadá. Segundo Hodgkinson seriam 59 milhões de ingênuos que ofereceram sua informação de identidade e suas preferências de consumo para um negocio norteamericano do qual nada sabem. Neste momento dois milhões de pessoas são acrescidos por semana. O Facebook terá mais de 200 milhões de usuários ativos daqui a um ano.
Entre os grupos de usuários temos “Um milhão de vozes contra as FARC” (130.000 inscritos), “Mil pessoas que odeiam Hugo Chavez” (1.300 abonados) e “Eu também quero ver morto os das FARC” (8.200 usuários), o que nós dá uma idéia de sua linha ideológica no que se refere à Colômbia.
Segundo informou uma fonte especializada que pediu anonimato, descobriu-se que o Facebook é uma arma militar de espionagem e desestabilização, criada pelos setores mais extremistas da direita (os sinistros “neocons” ou neoconservadores) para obter informação dos usuários e manipulá-los com fins geopolíticos e estratégicos.
Segundo essa fonte, participam no Facebook todos os 16 serviços de inteligência dos EUA, começando pela CIA, o Pentágono e o Departamento de Defesa. “Coletam e guardam tudo. Nada lhes escapa: fotos, e-mails, conversas, imagens, música, etc. Com isso estabelecem um ‘perfil’ psicológico, sociológico e político de cada pessoa e assim os mantêm sob vigilância. Uma vez que a pessoa ingressa, não a deixam sair, e se esta consegue, toda a informação privada fica armazenada lá”.
Na área da exploração comercial e consumo, segundo The Guardian, encontram-se comerciantes sem escrúpulos de Silicon Valley, Coca Cola, Microsoft, Blockbuster, Sony Pictures, Verizon, e Conde Nast, entre outras.
“È um serviço que fomenta o individualismo para manter um maior controle da massa. Geralmente, faz os imbecis acreditar que eles são importantes e os levam a cometer qualquer ato que os verdadeiros interessados desejem sem ter uma participação direta que os implique. Se coloco uma boa foto minha com uma lista das minhas coisas favoritas, posso construir uma representação artificial de quem sou. Também estimula uma competitividade inquietante na amizade: pareceria que com os amigos a qualidade não conta e a quantidade é rainha”, acrescenta Tom Hodgkinson.
“Não se necessita muito cérebro para fazer parte do grupo e sempre se incentiva a recrutar mais ‘amigos’, acrescenta. A pessoa vale pelo número de ‘amigos’ que recruta. Não é a toa que os EUA, Canadá e Reino Unido são os países com maior número de participantes”, casualmente são os que mantêm mais tropas de ocupação no Iraque e Afeganistão.
Facebook é um projeto bem financiado, por trás dele encontra-se um grupo de capitalistas de risco de Silicon Valley, com uma clara e definida ideologia que refletem em seu portal e esperam difundir pelo mundo. Como PayPal, é uma experiência social, uma expressão de uma classe particular de neoconservadores. No Facebook pode-se ser tão livre quanto se queira, sempre que não importa sofrer um bombardeio de publicidade das maiores marcas do mundo. Como no caso de PayPal, as fronteiras nacionais são coisa do passado.
Ainda que o projeto fosse concebido inicialmente pela estrela das capas nos meios de comunicação, Mark Zuckerberg, a verdadeira pessoa por trás do Facebook é o capitalista de risco e filosofo futurista de Silicon Valley, Peter Thiel. Apenas três membros integram o conselho do Facebook, são Thiel, Zuckerberg e um terceiro investidor chamado Jim Breyer, de uma empresa de capital de risco chamada Accel Parteners. Thiel investiu 500.000 dólares quando os estudantes de Harvard Zuckerberg, Chris Hughes e Dustin Moskowitz foram visitá-lo em São Francisco, em junho de 2004, pouco depois de lançar o site. Dizem que Thiel possui, atualmente, 7% do Facebook, o que corresponde a um bilhão de dólares.
Thiel é geralmente considerado em Silicon Valley e no cenário do capital de risco dos EUA como um gênio liberal, no sentido econômico do termo. É co-fundador e presidente do sistema bancário virtual PayPal, que vendeu o EBay por 1,5 bilhões de dólares, embolsando pessoalmente 55 milhões. Também dirige um fundo de risco de 3 bilhões de dólares chamado Clarium Capital Management e um fundo de capital de risco chamado Founders Fund.
A revista Bloomberg Markets recentemente o chamou de “um dos gerentes de maior êxito no ramo de fundos de risco do país”. Ganhou dinheiro apostando no aumento do preço do petróleo e predizendo corretamente que o dólar se debilitaria. Ele e seus colegas de uma riqueza insultante de Silicon Valley foram qualificados recentemente como a “máfia de PayPal” pela revista Fortune, cujo jornalista também assinalou que Thief tem um assistente uniformizado e um automóvel McLaren de 500.000 dólares.
Mas Thiel é mais do que um capitalista astuto e avarento. É um filosofo futurista e um ativista neoconservador. Graduado em filosofia em Stanford, é coautor de um livro de 1998 chamado “O mito da diversidade”, um ataque detalhado à ideologia progressista e multicultural que dominava em Stanford. Afirmou que a “multicultura” supunha uma diminuição das liberdades individuais.
Quando estudante de Standford, Thiel fundou uma revista de direita, que ainda existe, chamada The Stanford Rewiev. É também membro de TheVanguard.org, grupo de pressão neoconservador que opera na Internet e que foi estabelecido para atacar MoveOn.org, grupo de pressão progressista que trabalha na rede. Thiel se autodenomina “muito liberal”, na expressão econômica do termo.
TheVanguard é dirigido por Rod D. Martin, um filosofo capitalista consideravelmente admirado por Thiel.
Resumo do seu site na Internet a seguir dá uma idéia de sua visão do mundo: “TheVanguard.org é uma comunidade on-line de norteamericanos que acreditam em valores conservadores, o livre mercado e o governo limitado como o melhor meio de levar esperança e cada vez mais oportunidade a todos, especialmente aos mais pobres entre nós. Seu objetivo é promover políticas que redesenhem os EUA e o planeta”. TheVanguard descreve suas políticas como “reaganista/thatcherista”. A mensagem de seu presidente diz: “Hoje ensinaremos a MoveOn, Hillary e aos meios da esquerda algumas lições que nunca imaginaram”.
Claramente, o Facebook é outra experiência supercapitalista: pode se ganhar dinheiro com a amizade? Podem se criar comunidades livres de fronteiras nacionais e depois vender-lhes Coca-Cola?
O terceiro membro do conselho do Facebook é Jim Breyer. É sócio da empresa de capital de risco Accel Partners, que investiu 12,7 milhões de dólares no Facebook em abril de 2005. Membro também do conselho de gigantes norteamericanos como WalMart, de reconhecida trajetória de abusos trabalhistas, e Marvel Entertainment. Também foi presidente da Associação Nacional de Capital de Risco (NVCA).
Este é o tipo de gente que provoca muitos dos acontecimentos econômicos dos EUA porque investem nos novos jovens talentos, os Zuckerberg e gente do tipo. A mais recente ampliação de capital do Facebook foi dirigida por uma empresa chamada Greylock Venture Capital, que investiu a soma de 27,5 milhões de dólares. Um dos principais sócios da Greylock chama-se Cox, outro ex-presidente da NVCA, que também está presente no conselho da In-Q-Tel.
O que é In-Q-Tel? Bem, acreditem ou não (e comprove no seu site de Internet), é a ala de capital de risco da CIA. Depois do 11 de setembro, a comunidade dos serviços de inteligência ficou excitada tanto com as possibilidades de novas tecnologias e das inovações que estavam ocorrendo no setor privado, que em 1999 estabeleceu seu próprio fundo de capital de risco, In-Q-Tel, que “identifica e associa-se com companhias que desenvolvem tecnologias de vanguarda para ajudar a levar essas soluções para a CIA e a comunidade de inteligência dos EUA para executar suas missões”.
O departamento de defesa dos EUA e a CIA amam a tecnologia porque facilita a espionagem. “Temos que encontrar novas formas de dissuadir novos adversários”, disse o secretário de defesa Donald Rumsfeld em 2003. “Temos que dar o salto para a era da informação, que é o fundamento critico de nossos esforços de transformação”, acrescentou. O primeiro presidente da In-Q-Tel foi Gilman Louie, que prestou serviços no conselho da NVCA com Breyer.
Outra personagem chave na equipe da In-Q-Tel é Anita K. Jones, ex-diretora de pesquisa e desenho da defesa para o departamento de defesa dos EUA e, junto com Breyer, membro do conselho da BBN Technologies. Quanto Jones deixou o departamento de defesa dos EUA, o senador Chuck Robb lhe fez a seguinte homenagem: “Ela juntou as comunidades da tecnologia e de operações militares para desenhar planos detalhados para sustentar o domínio dos EUA no campo de batalha no próximo século”.
BARRAS E ESTRELAS
Entretanto, mesmo que não se aceite a idéia de que Facebook seja uma espécie de extensão do programa imperialista norteamericano cruzado com um instrumento de coleta de informação em massa, não há como negar que como negocio, é puramente genial. Alguns ingênuos da rede sugeriram que a sua valorização de 15 bilhões de dólares é excessiva, mas o jornalista do The Guardian, Tom Hodgkinson, a considera muito modesta. Segundo ele, o seu potencial de crescimento é virtualmente ilimitado. “Queremos que todos possam utilizar o Facebook”, diz a voz impessoal do ‘grande irmão’ no site da Internet.
E foi o enorme potencial do Facebook que levou à Microsoft a comprar 1,6% do negocio por 240 milhões de dólares. Um boato recente diz que o investidor asiático Lee Ka-Shing, o nono homem mais rico do mundo, comprou 0,4% do Facebook por 60 milhões de dólares.
De tal forma que tudo isto é o que há por traz da “espontânea” mobilização pela Internet contra as FARC-EP: dinheiro e CIA. Ou seja, o mesmo de sempre!
[1] Hodgkinson, Tom With friends like these... The Guardian. 14-1-2008