TORTURADORES DA DITADURA CHILENA SÃO IDENTIFICADOS...
Advogados dos direitos humanos destacaram hoje (12 de abril) que, pela primeira vez, tenham se identificados numerosos agentes da policia secreta de Augusto Pinochet, o que permitirá aprofundar as investigações sobre as violações dos direitos humanos cometidos durante a ditadura chilena (1973-1990). Os nomes foram revelados na última segunda-feira 9 de abril, numa denuncia apresentada pelo Agrupamento de Familiares de Detidos Desaparecidos (AFDD) contra uns 1.500 exmilitares que pertenceram à Direção de Inteligência Nacional – DINA.
A denuncia busca que a justiça investigue esses supostos agentes e que, independentemente dos crimes que tenham cometido ou não, os condene pelo delito de associação ilícita criminosa, explicou a Efe o advogado denunciante Boris Paredes.
Os nomes constam de uma lista oficial que o Exército entregou em 28 de agosto de 2008 ao juiz Alejandro Solís, no contexto de uma investigação sobre crimes cometidos na Vila Grimaldi, um antigo centro de detenção e tortura clandestino.
Nessa lista, de 40 páginas, à que Efe teve acesso, figuram conhecidos personagens da vida pública na atualidade, entre eles um deputado, um prefeito e Augusto Pinochet Hiriart, filho mais velho do ditador.
Segundo se estabeleceu, no final de 2007 um selecionado grupo do Exército chileno se deu a tarefa de construir, pela primeira vez, uma lista de oficiais e suboficiais que pertenceram à DINA.
O resultado ficou estampado em um documento “secreto”, datado de 28 de agosto de 2008, assinado pelo então Chefe do Estado Maior do Exército, general Alfredo Ewing Pinochet, que contem a lista de oficiais e suboficiais que “cumpriram missão extra institucional no Comando Geral do Exército, designados na DINA, entre 11 de setembro de 1973 e dezembro de 1977”.
Entretanto, o documento permaneceu guardado em algum arquivo do poder judiciário até agora.
Para o advogado Paredes, resulta “relevante que na lista exista uma grande quantidade de nomes que, até agora, desconhecia-se pertencerem à DINA”.
“Quiçá eles possam apresentar novos antecedentes do que aqueles membros mais conhecidos da DINA que já foram processados ou estão cumprindo pena e se negaram a proporcionar”, acrescentou a Efe.
Enquanto isso, o também advogado e deputado comunista Hugo Gutiérrez, informou que a listagem “é um documento fundamental para que os que nela constam forneçam a informação que possuem sobre o destino dos detidos desaparecidos e também daqueles casos de assassinato cujos corpos foram entregues às suas famílias”.
Segundo números oficiais, durante a ditadura de Pinochet mais de 3.200 chilenos morreram em mãos de agentes do Estado, sendo que cerca de 1.200 ainda estão desaparecidos, mais de 38.000 foram torturados e sofreram prisão política e varias centenas de milhares tiveram de se exilar.
Os casos de desaparecimentos ocorreram, na grande maioria, entre 11 de setembro de 1973 e dezembro de 1977, período de operação da DINA, substituída depois pela Central Nacional de Informações (CNI).
O documento de Exército, além da lista de agentes, revela que a DINA existiu desde o mesmo 11 de setembro de 1973, data do golpe contra o governo de Salvador Allende.
Entre os agentes incluídos na lista figuram Augusto III Osvaldo Pinochet Hiriart, filho mais velho do ditador; o atual prefeito de Providencia, bairro de Santiago, Cristián Labbé Galilea, que foi instrutor de agentes no período de formação da DINA e membro da guarda pessoal do governante de fato.
Também aparece o nome do deputado do partido Renovação Nacional (RN), Rosauro Martínez Labbé, que há pouco tempo declarou a Efe não ter pertencido à DINA.
“Eu nunca fui agente da DINA, ainda que estivesse destinado ao Comando Geral do Exército. Jamais estive envolvido em nada com a DINA. Se meu nome está nesse documento deveria se perguntar ao Exército qual foi a missão que cumpri na DINA”.
Como oficial, Martinez recebeu instrução na Escola das Américas, onde o Exército dos EUA formava militares latinoamericanos na área da contrainsurgência. Em agosto de 1989 começou sua carreira política, ao ser nomeado prefeito da cidade de Chillán pelo próprio Pinochet.
O nome de Jaime Guillermo García Covarrubias, ex subsecretário geral de Governo e atualmente professor de Assuntos de Segurança Nacional do Centro de Estudos Hemisféricos para a Defesa dos EUA, ligado ao Pentágono, também aparece na lista.
Além desses nomes, constam também os de Pablo Gran López, atual vicepresidente da Associação Cartográfica Internacional (ACI), representando o Instituto Geográfico Militar, do Exército do Chile; o tabelião Hernán Blanche Sepúlveda e o empresário Sergio Ojeda Bennet, entre outros.