"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 3 de maio de 2014

“Se não há avanço na Comissão da Verdade, aí param os diálogos”: FARC EP


Por Agência Pública de Notícias Andes www.andes.info.ec



O processo de paz com as FARC ficará suspenso se o governo colombiano se nega a formar uma comissão que investigue a origem do conflito e pretenda montar um “tribunal de Nuremberg” para julgar a guerrilha, advertiram negociadores rebeldes numa entrevista com Andes, na qual descartaram firmar um acordo que envie seus dirigentes para o cárcere.


Se não há avanço nesta comissão, aí param os diálogos”, notificou o negociador Andrés París em Havana, sede das conversações empreendidas em novembro de 2012 para pôr fim a uma guerra que começou há meio século como reflexo da violência dos partidos políticos tradicionais Liberal e Conservador.


É a primeira vez que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia [FARC, marxistas] advertem com a possibilidade de levantar-se da mesa, se bem que o processo viveu um princípio de crise em agosto de 2013 por diferenças sobre o mecanismo para ratificar um eventual acordo.


Estão preparando sua base midiática para mostrar-nos no ponto de vítimas como os responsáveis por 600.000 ou 700.000 colombianos mortos e desaparecidos ao longo desta guerra desde 1948”, acrescentou París, assinalando que as FARC surgiram mais tarde, em 1964, “como resposta à violência estatal” expressada num ataque militar contra uma colônia de campesinos comunistas levantados em armas no povoado de Marquetalia [centro].


Para o porta-voz insurgente, o governo do presidente Juan Manuel Santos tenta converter a mesa de negociação de Havana num “tribunal de Nuremberg para julgar guerrilheiros”, em alusão aos processos que se seguiram contra os nazistas após a Segunda Guerra Mundial.


Por isso, agregou, é necessário que aflore a verdade sobre perguntas como “quem iniciou o conflito e quem tem a maior responsabilidade”.


As FARC –a principal guerrilha colombiana- propuseram o dito comitê em agosto de 2013, aduzindo que é um passo-chave para abordar o quinto ponto da agenda, sobre as vítimas, que estimam como “definitório”.


As partes ainda discutem o terceiro item, de um total de seis, relativo à solução do problema das drogas ilícitas, após conseguir consensos “parciais” nos de desenvolvimento rural e participação política. As outras questões são abandono das armas e o instrumento para validar um futuro pacto, que a guerrilha exige que seja uma assembleia constituinte, em contraposição ao referendo que Santos propõe.


O tema das vítimas, “vamos enfrentá-lo com todo o peso da responsabilidade que cabe ao estabelecimento e a responsabilidade que caiba à insurgência”, indicou o também negociador Fidel Rondón, quem questionou um estudo do Centro de Memória Histórica, formado em 2005, por considerar que mostra as guerrilhas como únicos vitimários e deixa incólumes, por exemplo, os partidos e a Igreja católica.


Essa investigação, difundida no ano passado, contabilizou 220.000 assassinatos, 25.007 desaparecidos, 27.023 sequestrados e 5,7 milhões de deslocados entre 1958 e 2012.


O governo respalda a comissão proposta pelas FARC, porém quer que seja integrada após o desarmamento do grupo, que, segundo as autoridades, conta com uns 8.000 combatentes, ainda que este assegure que a cifra é superior.


Não a um acordo que implique prisão


As FARC descartaram, por outra parte, firmar um acordo de paz que implique a prisão para seus comandantes, condenados à revelia por múltiplos crimes, incluídos os de lesa-humanidade, que não prescrevem.


Não vão encontrar as FARC subscrevendo o fim do conflito e vendo seus dirigentes na prisão. Eu caminhei livremente desde a fronteira equatoriana às fronteiras brasileira e venezuelana e ninguém me capturou. Vamos renunciar a essa liberdade que nos dá nossa capacidade militar para terminar encarcerados?”, questionou París, um licenciado em ciências sociais que se alistou nas FARC há três décadas.


Santos sacou adiante uma reforma constitucional que permite a suspensão das penas aos rebeldes que se desmobilizem e sua participação em política; porém, ao avalizar este mecanismo de justiça transicional, a Corte Constitucional esclareceu que, para aplicá-lo, se deverá investigar os delitos de lesa-humanidade ou crimes de guerra cometidos de maneira sistemática e imputar os seus máximos responsáveis.


É necessário construir normas de trânsito da confrontação armada à participação política, porém essa juridicidade deve emanar da mesa, não de tratados internacionais que vêm impondo-se como conceito neste mundo unipolar”, afirmou París, destacando que o grupo não pode aceitar normas de submissão porque “não foi derrotado”.


Pode-se inventar muitas leis que podem impedir o acordo, porém a solução do conflito é política”, remarcou.


Santos utiliza o diálogo para sua reeleição”


Os negociadores acusaram, no entanto, Santos de utilizar o diálogo de paz para impulsionar sua campanha pela reeleição nos comícios do próximo 25 de maio, frente aos quais o mandatário de centro direita lidera as pesquisas, porém sem uma vantagem clara.


Se vê nesse otimismo rampante do presidente de utilizar a mesa de diálogo para sua reeleição. Não temos compromissos eleitorais com nenhum candidato, pensamos que o processo de paz é muito mais importante, transcende no tempo e nos anseios dos colombianos”, afirmou París, enquanto Rondón expressou que as FARC estão dispostas a seguir negociando com qualquer dos aspirantes que resulte vencedor.


Nosso candidato será a assembleia nacional constituinte, que terá que ser o mecanismo ratificador dos acordos para o fim do conflito e uma paz duradoura”, enfatizou París.


Preparados por igual para a política ou a guerra


Na iminência de cumprir 50 anos de luta contra o Estado, a 27 de maio, as FARC asseguram estar preparadas para converter-se num movimento político, porém também para continuar uma guerra que deixa, ademais, milhares de mutilados e no meio da qual sofreram os piores golpes nos últimos anos.


Estamos em condições de arrancar do estabelecimento soluções políticas se é que toca, ou estamos em condições de prolongar a luta guerrilheira por tempo indefinido se não se chega a acordos substanciais que tragam a paz com justiça social”, manifestou Rondón, um ex-vereador da União Patriótica que se refugiou na guerrilha em meio ao extermínio, nos anos 1980, de uns 3.000 militantes desse partido por parte de paramilitares e forças de segurança do Estado.