"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Reyes: aqui na Colômbia o que há é um narco-Estado

Entrevista com o comandante das FARC Raúl Reyes. “...Também uma enorme hipocrisia na classe política colombiana porque vendem o conto que eles querem combater o narcotráfico. Eles vão aos Estados Unidos pedir apoio para lutar contra o narcotráfico. E eles vão à União Européia pedir apoio para lutar contra o narcotráfico. Eles organizam foros, seminários para a luta contra o narcotráfico, quando são eles mesmos os narcotraficantes e beneficiários do narcotráfico. Então esta é uma hipocrisia em grau extremo, não?

Raúl Reyes


[Garry Leech]
http://www.colombiajournal.org/colombia259.htm


As Forças Amadas Revolucionárias da Colômbia (FARC-EP), um exército guerrilheiro com base no campesinato e com um número estimado de 18.000 combatentes, vem desenvolvendo uma guerra contra o governo colombiano por mais de 40 anos. Nos anos recentes, o presidente colombiano Álvaro Uribe e o presidente George W. Bush dos EEUU intensificaram seus esforços para derrotar as FARC como parte da chamada guerra contra o terror. Não obstante, apesar de haver recebido mais de US$ 4.5 bilhões em ajuda dos EEUU nos últimos seis anos, o governo colombiano ainda não logrou uma vitória militar. Em junho, viajei a um remoto acampamento na selva para me reunir com o comandante das FARC Raúl Reyes. Durante uma entrevista de duas horas, Reyes comentou sobre o escândalo da para-política, a luta revolucionária, a guerra suja, meninos soldados, o polêmico uso pela FARC de morteiros e minas terrestres caseiras, o Plano Colômbia, o Plano Patriota, o neoliberalismo e as perspectivas de paz na Colômbia.


P: Qual é a importância do escândalo da para-política para a Democracia na Colômbia?


Reyes: O escândalo que há da para-política é o resultado de muitos anos da incidência do narcotráfico na política colombiana. Dinheiros que circulam ao nível do governo, dos aparelhos do Estado, de todas as instituições governamentais. Os dinheiros do narcotráfico levaram à presidência vários presidentes. Porém fora esse dinheiro para as candidaturas presidenciais, estão os dinheiros para eleger congressistas tanto da Câmara como do Senado. Muitos processos judiciais são comprados com dinheiro do narcotráfico. Os dinheiros do narcotráfico penetraram dentro da polícia, dentro do exército, dentro do DAS, da SIJIN [Nota da Revisão: Sección de Policía Judicial e Investigación], ou seja, dentro de todos os componentes da segurança estatal. O presidente está comprometido com esses dinheiros. Esses dinheiros estão também na indústria, no comércio, na indústria farmacêutica, na indústria química, em tudo isso.


Daí que a situação da Colômbia é grave. Aqui na Colômbia de verdade alguns dizem que o que há é uma narcodemocracia. Eu creio que há um narcoestado, uma narcoeconomia, porém há uma hipocrisia muito grande na classe política colombiana porque vendem o conto de que eles querem combater o narcotráfico. Eles vão aos Estados Unidos pedir apoio para lutar contra o narcotráfico. E eles vão à União Européia pedir apoio para lutar contra o narcotráfico. Eles organizam foros, seminários para a luta contra o narcotráfico, quando são eles mesmos narcotraficantes e beneficiários do narcotráfico. Então essa é uma hipocrisia em grau extremo, não?


P: Como afetou as FARC a desmobilização dos paramilitares?


Reyes: A desmobilização dos paramilitares não existe, é uma farsa. É um engodo do governo de Uribe, tanto para os colombianos como para a Comunidade Internacional. A intenção de Uribe é legitimar o para-militarismo e o narcotráfico na Colômbia. As estruturas desses criminosos seguem funcionando, por isso seguem assassinando gente. Agora eles usam outros nomes, as “Novas Autodefesas” ou as “Águias Negras”, porém são os mesmos. O negócio consistiu em chamar os narcotraficantes, que em muitos casos compraram delinqüentes, pagando-lhes um soldo para que usem uniformes e apareçam como paramilitares. É um engodo, não? Não se sabe até quando isso possa se sustentar, porque a Comunidade Internacional não é tola, a Comunidade Internacional sabe perfeitamente o que acontece, a população colombiana é testemunha de tudo isso.


Jamais se pode pensar em que haja um processo de paz entre onde não tem havido guerra. É que nunca houve guerra do Estado colombiano com os paramilitares, porque os paramilitares são um apêndice, uma extensão do Estado. Eles têm estado é lutando para defender o mesmo Estado, eles nunca levantaram armas contra o Estado por um novo regime, por um novo sistema. Seu argumento tem sido que o estado é tão débil que se necessita reforçá-lo e então nós vamos ajudar o Estado.


Agora, como nos afeta como FARC? Pois nos afeta na medida em que somos povo, povo em armas; afeta-nos na medida em que isso é uma grande mentira, um grande engodo; nos afeta na medida em que Uribe quer mostrar que os bandos de paramilitares e nós somos iguais; porém na prática não nos afeta. Afeta a população, por que estes tipos que aparentemente se desmobilizaram seguem assassinando gente e fazendo desaparecer gente, seguem fazendo seus negócios.


Porém, isso também se reverteu contra Uribe, porque com o tempo se evidenciou que seu governo é um governo espúrio, ou seja, um governo ilegítimo, porque chegou à presidência por comprar votos, produto dos dinheiros do narcotráfico. Sua presidência é um produto da fraude eleitoral. A chamada coalizão uribista, resulta que estes senhores são traficantes e paramilitares. Daí que a ilegitimidade deste governo é imensa. O que não se entende é por que os outros governos decentes sigam tendo relações, conhecendo todo esse componente que o fez presidente.


P: Alguns afirmam que as FARC não são mais que uma organização criminosa, que não é política ou ideológica. Que pensa destas afirmações?


Reyes: É uma campanha vinculada à guerra, isto não é mais nem menos que uma das formas da guerra. Com isso querem é deslegitimar a luta revolucionária. Esta campanha tem tomado força a partir de 11 de setembro, certo? Quando caem as torres gêmeas nos Estados Unidos e todo mundo começou a falar do terrorismo o governo colombiano começou a chamar as FARC e todas as organizações revolucionárias da Colômbia e do mundo de “terroristas”. Então podia liquidá-las, intimidá-las e obrigá-las a renunciar à luta revolucionária. E isto incrementou a guerra no mundo. Porém os resultados, a nosso juízo, não favorecem em nada aos Estados Unidos, nem ao senhor Bush, por isso tem hoje uma credibilidade bastante baixa. A popularidade do senhor Bush não é a melhor neste momento, pela guerra contra o Iraque. Álvaro Uribe, para vergonha dos colombianos, é o único governante da nossa região, da América do Sul, que aparece apoiando essa guerra. Então eu creio que o povo estadunidense tomará medidas a fim de que não continue esta equivocada política do governo. Afortunadamente se vê algumas expressões disto agora. Alguns democratas que começam a dizer, “Não, não vamos apoiar mais a estadia das nossas tropas no Iraque, que têm que regressar aos Estados Unidos o quanto antes. Não vamos mais aprovar pressupostos de guerra. Tampouco vamos aprovar mais dinheiros sem controle para o Plano Colômbia. Não vamos firmar TLC com um governo como o colombiano, que é um governo narcoparamilitar, um governo corrupto, um governo que tem como fim a guerra contra os colombianos”. Não pensamos que esta seja a solução, porém é um passo importante que nós das FARC valorizamos. Que pelo menos comecem uns setores pensantes nos Estados Unidos a entender este fenômeno e a trabalhar para desmontar essa maquinaria de guerra.


Muitos pensam que todo estadunidense, pelo fato de ser de lá, é um imperialista. Daí que as FARC fizeram dois ou três documentos assinalando que nós respeitamos profundamente e admiramos o povo estadunidense, porém temos profundas diferenças e estamos afetados pelas políticas do Estado norte-americano. Desde antes da agressão contra Marquetalia em 1964, a embaixada dos Estados Unidos aportou dinheiro para a guerra contra as FARC e sempre tem estado financiando os governos colombianos para que mantenha a guerra contra as FARC. E nós recordamos o que passou nos diálogos de San Vicente Del Caguán com Pastrana. O primeiro que começou a ser contra os diálogos foi o governo de Clinton, e é Clinton o pai do Plano Colômbia. Isso o mundo tem que saber e não o podemos esquecer na Colômbia porque é parte da nossa história. E que vimos que fizeram com o Plano Colômbia? Seguiu sendo uma estratégia de guerra, não somente contra os colombianos, mas contra a região. Os Estados Unidos buscam expandir-se sobre esta região onde está a maior biodiversidade do mundo: no chamado pulmão do mundo. Há interesses geo-estratégicos que os Estados Unidos pretendem conseguir a custa do crime, do assassinato, da calúnia, da mentira.


P: Porque você pensa que os membros do Pólo Democrático não foram massacrados no mesmo grau que os membros da União Patriótica?


Reyes: Eu penso que o massacre que fez o Estado colombiano contra a União Patriótica, os comunistas, importantes dirigentes sindicais e revolucionários custou muito à Colômbia. Sobretudo significou assassinar a direção do Partido Comunista. Naquela época havia um Partido Comunista grande, com quadros muito bem desenvolvidos, muito bem formados. Basta recordar, entre outros, o candidato à presidência Jaime Pardo Leal e Manuel Cepeda Vargas, diretor do jornal VOZ e senador da república. Eles os assassinaram a todos. Nenhum deles havia estado na guerrilha, nunca. Os que eram guerrilheiros, que as FARC enviaram para ajudar no trabalho da União Patriótica, uma vez se viu essa caçada de assassinatos, lhes ordenou que viessem. E todos vieram, entre eles Iván Márquez, que hoje é membro do Secretariado, naquela época era Representante à Câmara. A direção do Partido seguiu porque é um partido legal, então os seguiram assassinando um por um.


Agora, com o Pólo Democrático é outra coisa. Dentro do Pólo está o Partido Comunista, porém já é um partido bastante reduzido, um partido que mantém a mesma linha política, porém dificilmente a pode desenvolver porque está reduzido, está aterrorizado, está golpeado por toda essa orgia de sangue que provocou o genocídio contra a União Patriótica. E dentro do Pólo, pois há distintos setores. Dentro do Pólo está desde a direita, a social-democracia, e a esquerda – o Partido Comunista Colombiano, o Partido Marxista-Leninista e outras expressões revolucionárias, alguns Trotskistas, porém, todos, demasiado pequenos, sem muita incidência na vida política colombiana. Quem mais presença tem dentro do Pólo são os setores da social-democracia, e que estão antes de tudo atrás de aproveitar o Pólo para chegar à presidência da república; para chegar à importantes posições dentro do governo, dentro do Estado. Aí estão vários dos desmobilizados do M-19, está Navarro, está Gustavo Petro, entre outros. E também alguns que saíram do Partido Comunista e se foram para a social-democracia e se proclamam a “esquerda democrática”. Aí está Lucho Garzón, Angelino Garzón, entre outros. Então esses personagens são consentidos do oficialismo, do Estado, porque calculam um cálculo equivocado, que atrás deles vão atrair a esquerda revolucionária. E resulta que a esquerda revolucionária não pode ser atraída pela social-democracia porque somos conscientes de que a social-democracia termina favorecendo a direita, a burguesia.


Nessa luta por “a Nova Colômbia, a Pátria Grande e o Socialismo”, estamos assinalando que qualquer mudança importante na vida colombiana, para a busca da paz definitiva e duradoura, da paz sem fome, da paz com justiça social, da paz com liberdades, a paz com dignidade e com respeito à nossa soberania deve contar com a presença das FARC e de toda a esquerda revolucionária. Porque estes setores da social-democracia com presença em um Pólo querem vender a idéia de que eles são chamados a resolver os problemas do país, excluindo a esquerda para fazer um favor à direita. Daí que nós não vemos grande diferença entre a social-democracia e a direita liderada por Álvaro Uribe Vélez.


Porém resulta que o compromisso não é com o povo mas sim que o compromisso é com os mesmos que aparentemente combatem para que lhes dêem possibilidades de escalar novas posições dentro do governo. Não obstante, no Pólo seguem fazendo uma grande luta para que se mantenha um pouco à esquerda. Alguns dizem que se o Pólo não pode manter-se à esquerda, depois não vão saber diferenciar se é do Partido Liberal ou se é do Pólo, porém vai ser uma luta muito dura.


Então eu creio que, por todas essas razões, o Estado colombiano não tenha como a força, não tenha como a disposição de comprometer-se em assassinatos, como os que ocorreram naquela época. Porém, não obstante, é bom realçar que seguem assassinando gente, porém são assassinatos seletivos da gente que de verdade é da esquerda, São líderes sindicais, líderes campesinos, mestres que se destacam na luta reivindicatória em favor dos povos. Os assassinam e como sempre não aparecem os responsáveis, porque é o Terrorismo de Estado que os assassina.


P: Por que as FARC continuam usando morteiros caseiros em ataques contra estações de polícia quando estas armas causam repetidamente vítimas civis?


Reyes: Há duas coisas nisso. Uma coisa é a utilização do cilindro contra a Força Pública, que é com o fim com que se usam. As FARC não têm armamento pesado. As FARC, como você sabe, não foram reconhecidas como força beligerante ainda e não podem conseguir o armamento que deveriam possuir como um exército. Então desenvolve muito o armamento caseiro para usá-lo conta a Força Pública: polícia, exército, DAS, marinha, força aérea. Muitas vezes o que ocorre é que há erros de quem opera estes aparelhos, os cilindros ou outras armas. De pronto, por apontar para a estação de polícia disparam para uma casa vizinha. Isso tem ocorrido poucas vezes. Lamentável desde logo; Não tem nenhuma justificativa. Porém são falhas humanas, de pronto pelo nervosismo de quem o vai lançar. Ou por alguma falha na própria estrutura do cilindro. Esta é uma falha que se tem cometido e que se tem buscado como corrigir, para que não se cometa esses erros que afetam a população. Porém outras vezes não é bem assim. Por exemplo, há um combate contra a estação de polícia e chega a força aérea – aviões e helicópteros – e metralham e bombardeiam tudo, atingem as casas, a igreja e tudo mais, e depois dizem que foi a guerrilha que destruiu.


P: Algumas organizações de Direito Humanos afirmam que as FARC recrutam meninos, algumas vezes ferozmente. Como respondem a essas acusações?


Reyes: O que eu penso é que há desinformação aí, porque nas FARC se ingressa de 15 anos a 30 anos, essa é a norma. Nunca nas FARC alguém ingressa pela força, seria completamente contrário às normas de segurança. Porque como se iria entregar uma arma a alguém que se traz à força e logo dizer-lhe, “olha, você tem que ser meu guarda-costas. Você vai montar guarda aí”, pois com essa mesma se pode eliminar alguém. Essas são desinformações destas organizações. Isso não se faz nunca. O que causa essas desinformações? Em muitos casos há garotos e garotas que ingressam e depois, por distintas razões, decidem ir-se. Que a vida aqui se lhe fez muito dura, que há que cumprir uma disciplina. Talvez tinham uma família que não podiam ver, com o filho ou com a filha, ou o noivo, ou a noiva. Ou eles pensavam que esta luta é tão fácil e que não implica em sacrifício e se vão. E se são jovens, refiro-me a menos de 20 anos, então em muitos casos vão dizer que os obrigaram, pensam que com isso vão se defender da polícia, da repressão, porém em muitos casos também diante de suas famílias.


Então há casos em que estão lutando para que os recebam na guerrilha e muitas vezes os pais não querem que ingressem, por que o papai quer ter seu filhinho aí e sua mamãe e sua filhinha aí. Não querem que ingresse. E persistem em que os recebam, e muitas vezes se retiram de casa, se vão, e aparecem muitas vezes nos postos de guarda. Resulta que às FARC se ingressa voluntariamente. Porém, muitas vezes, quando eles saem, então vão e dizem ao papai e à mamãe que os trouxeram à força e então o papai e a mamãe acreditam. E, depois, vem uma investigação das autoridades e os pais dizem que seu filho ou filha foram levados à força, então essas são as informações que de pronto recolhe a Anistia Internacional ou outros. Porém, reitero, não há política nas FARC de ingresso de meninos nem de ingresso de ninguém pela força.


P: Por que as FARC usam minas anti-pessoas quando elas causam vítimas civis?


Reyes: As FARC utilizam os minados é contra a Força Pública. Isso quando se utilizam campos minados contra a Força Pública, jamais contra a população civil, nunca. Apresentam-se casos em que de repente há um minado sobre este caminho e em qualquer momento passa um civil, que não tem como saber que ali há um minado e, por algum descuido dos guardas, ou não sei por que fracassa. Esses casos sempre acontecem, lamentavelmente. Porém, a norma é que há que controlar isso também, para que ali não entre nenhum civil.


P: O governo Uribe afirma que o Plano Patriota está tendo êxito em derrotar as FARC e trazer o território sob o controle estatal. Como o Plano Patriota afetou as FARC e os campesinos na região?


Reyes: Eu estou a cargo de analisar as conseqüências do Plano Patriota, de que forma golpeou o exército revolucionário, as FARC, e em que forma golpeou a população civil, em que forma golpeou as organizações sociais, populares e aos revolucionários não armados. E resulta que encontramos que quem menos tem sofrido golpes somos os armados. Mesmo que haja diferenças porquanto nós não possuímos as armas que tem o Estado, nem muito menos a ajuda nem a assessoria que tem o Estado por parte dos Estados Unidos, porém, ao final são duas forças armadas, dois exércitos. Um com muito poderio, com muitos homens, com muita técnica, com apoio aéreo, com a marinha, com assessores que melhor dito sabem de tudo. Com um objetivo muito claro: liquidar as FARC, assassinar seus principais dirigentes e encarcerá-los, recuperar pela força os prisioneiros e forçar os sobreviventes a firmar o que Uribe quiser. Esse tem sido e é o objetivo do Plano Patriota.


Resulta que isso não o conseguiu, não logrou conseguir nenhum dos principais dirigentes das FARC, não logrou debilitar as FARC, não conseguiu recuperar os prisioneiros de guerra. Porém, em troca, golpeou a população civil, naquela teoria de que “o amigo de meu inimigo também é meu inimigo”. Eles mostraram quantidades de guerrilheiros capturados em determinadas regiões. Resulta que não eram guerrilheiros e sim população que considerava amiga da guerrilha. Recordo agora o que passou em Cartagena do Chairá, aí estão os registros da imprensa, capturados 80 guerrilheiros do 14 Frente. Que se deixem capturar 80 guerrilheiros, assim, isso não ocorre jamais. Porém essa foi a notícia, isso foi o que restou à gente em sua imaginação. Porém resulta que nenhum era guerrilheiro, era população e depois tiveram que soltar todos porque não era certo. Porém quando os soltaram ninguém disse “o exército se equivocou”. Em algum momento disseram 200 guerrilheiros das FARC mortos em Cañón do Duda. Não era certo. Porém quem vai provar isso?


Porém, de verdade a quem afetaram muito foi à população civil, aos campesinos. Muita gente se foi, acabaram seus negócios, deixaram suas terras abandonadas, pelo temor e, claro, como vêm os aviões e bombardeiam e metralham indiscriminadamente. E os outros afetados tem sido os sindicalistas e todos estes setores, porque eles dizem que todos eles são “terroristas, ou todos os que apóiem os “terroristas” são igualmente inimigos. Então os agarram, encarceram-nos. Então a gente é afetada pelo atual governo; é um governo ditatorial, fascista, que tem querido fazer da guerra a forma de governar e fazer da mentira e da calúnia uma forma de pressionar e de deformar o que está ocorrendo.


O Plano Patriota então é um verdadeiro fracasso para o governo. E é mais, não só é um fracasso para o governo colombiano como também um fracasso para o governo dos Estados Unidos. Porque são os Estados Unidos que financiam o Plano Patriota e os Estados Unidos dispôs numerosos assessores para a guerra contra nós. Uribe e as tropas colombianas estavam convencidas que com todo esse dinheiro e com toda essa assessoria iam lograr acabar com as FARC e resulta que não lograram. As FARC não foram debilitadas militarmente nem politicamente com o Plano Patriota.


Uribe persiste em seus objetivos e tem grande quantidade de tropas em todo o território colombiano. Há muitas tropas sobre todos os nossos blocos, sobre todas as frentes, as colunas, as companhias e essas tropas andam por todos os lados buscando ver como nos encontram e como nos aniquilam; por isso há combates permanentemente. E entre as tropas o Estado tem havido feridos e mortos. São eles que estão expondo suas vidas, não é Uribe, não é a oligarquia colombiana, não é o senhor Bush, mas a população colombiana. Eles estão no exército e na polícia para ganhar um soldo, porque com freqüência não podem conseguir trabalho em nenhuma outra parte nem ir à universidade. Eles estão defendendo os interesses dos exploradores dos colombianos, os interesses das multinacionais, os interesses do império; defendem esses interesses ao custo de suas próprias vidas.


P: O Plano Colômbia agora tem mais de seis anos e a administração Bush tenta continuá-lo por vários anos mais. Como o Plano Patriota afetou os campesinos colombianos?


Reys: O que faz o governo colombiano com o aval de toda a classe política é erradicar, é fumigar plantações. Com estas fumigações então já tem outro grande negócio, recebem dos Estados Unidos grande quantidade de milhões, proveniente do povo estadunidense, entregues por seu governo. Esses dinheiros aqui o utilizam em fumigar. Os mais afetados com as fumigações são os campesinos, porque não somente destroem as plantações de coca como também destroem tudo; porém ademais os animais domésticos, afetam as galinhas, os porcos e mesmo as pessoas. Há casos de meninos afetados pelo glifosato; mulheres grávidas que abortaram; enfermidades produtos disso; envenena-se o ambiente, a água, tudo, não? Sem que haja nenhum resultado certo na erradicação das culturas ilícitas, porque os campesinos vão, eles mesmos, desenvolvendo novas formas de resistir aos efeitos desse veneno em suas plantações. Então rapidamente eles resistem a isso, semeiam em outros lugares e o negócio segue. Continua porque eles têm quem lhes compre as drogas, porque há no mundo desenvolvido consumo. Um consumo sumamente grande e uns preços que lhes favorece, não aos campesinos, mas aos narcotraficantes, aos seus intermediários. As FARC, como têm presença em toda a Colômbia, conhece muito bem a situação dos campesinos. Sabem perfeitamente que os campesinos não semeiam coca ou papoula nas cordilheiras porque seja narcotraficante; não, o campesino colombiano não é narcotraficante. O campesino colombiano teve de recorrer a plantar estes produtos pelos efeitos predadores do modelo neoliberal. Porque é melhor trazer milho dos Estados Unidos ou de qualquer outro país, ou trazer gado, carne da Argentina, que produzir na Colômbia. Já é mais negócio trazer café do Vietnã que produzi-lo na Colômbia, porque não há subsídios. Então, o campesino o que faz? Buscar a forma de subsistir com algo, por isso planta coca.


Daí que a proposta que as FARC fizeram, quando dos diálogos de San Vicente do Caguán, foi a substituição das culturas de coca, buscando uma solução que possa acabar com o fenômeno do narcotráfico, porque nas FARC consideramos que é um câncer para a sociedade, para a humanidade, que há de se combater. Nós oferecemos toda nossa contribuição para que o município de Cartagena do Chairá se convertesse em um município piloto, ou seja, queríamos demonstrar nesse município que é sim possível combate o fenômeno da produção das matérias-primas da cocaína, não? Igualmente fizemos a proposta da legalização do consumo. Eu creio que este mal que nos afeta a todos os colombianos não é só responsabilidade dos colombianos; é responsabilidade dos países consumidores, a responsabilidade dos maus governantes que temos tido na Colômbia, a responsabilidade das políticas equivocadas do Fundo Monetário Internacional e da banca, dos países produtores dos precursores químicos, ou seja, em suma, dos equívocos do modelo neoliberal. Isto afetou muito a Colômbia. O modelo neoliberal também afetou os países desenvolvidos, como os europeus, com muita gente na rua pedindo esmolas, crianças limpando os pára-brisas dos carros, pois muito mais nos países subdesenvolvidos como a Colômbia, ou os países chamados do Terceiro Mundo, mais grave aqui.


P: Como é possível mudar as políticas neoliberais implementadas pelo presidente Uribe e governos anteriores na Colômbia?


Reyes: Para as FARC a única forma de mudar o modelo neoliberal e as políticas dos governos anteriores e do atual é mediante a tomada de poder. É começando com a conformação de um governo pluralista, patriótico, democrático, de reconciliação nacional, que comece a mudar o rumo do país, onde a verdade seja o povo, com seus dirigentes, que construam o futuro. Sem isso é impossível, porque a Colômbia vive 50 anos de guerra nos últimos tempos e cada um dos governos tem feito o mesmo, antes de que aparecesse o modelo neoliberal, sempre cumpriam as receitas do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial. E apareceu o modelo neoliberal e então se casaram com as políticas neoliberais. Isto foi desde antes de Uribe, pelos que lhe precederam na presidência. Todos desenvolveram o Terrorismo de Estado e este o incrementou.


Então nós pensamos que para que haja mudanças de verdade, que é o que está reclamando a maioria do povo colombiano se necessita conformar um governo completamente distinto do de Uribe e dos últimos governos. Ou seja, um governo que se comprometa com mudanças profundas, e que abra espaços à Democracia para poder construir a Nova Colômbia. Uma nova Colômbia onde não pode haver explorados, porém, desde logo, não deve haver exploradores. Porém, para chegar lá é tarefa de titãs, porque a Colômbia tem uma classe de governantes assassina, corrupta e mafiosa. E enquanto eles seguem dirigindo os destinos do nosso país vai ser muito difícil que o povo seja dono do seu próprio destino. E é a razão pára que as FARC sigam sua luta revolucionária.


Falávamos na pergunta anterior que assassinaram toda a União Patriótica e assassinaram os comunistas, e então com isto fecharam os espaços para a luta legal, e estamos recordando que seguem assassinado dirigentes populares, que seguem uns assassinatos seletivos. Nós pensamos que isto convalida a luta armada revolucionária, cujo fim não é a guerra. O fim da luta revolucionária que as FARC realizam é pela paz. Para nós, a paz é o fundamental. Nós entendemos que a paz é a solução dos problemas que afetam nosso povo. A paz a entendemos quando tenhamos na Colômbia verdadeira democracia. Não a democracia para os capitalistas e sim a democracia para o povo, que possa protestar, que possa participar, que tenha direito a viver, que tenha direito à saúde, à educação, que tenha direito às vias de comunicação, à eletrificação, que se faça reforma agrária, que se combata a corrupção, que fiquemos ajoelhados frente às potências estrangeiras, mas que sejamos um país livre, independente, soberano, com relações de respeito com todos os países por~em em igualdade de condições. Ademais, que não se utilize as armas do exército contra o povo, mas que se as tenha para a defesa da nossa soberania e nada mais. Lograr esse objetivo é o que nos leva a estar nesta selva. E na busca desse objetivo estamos dispostos a seguir o tempo que seja necessário.


E a proposta de “permuta de prisioneiros” que mantemos imodificável, com o gosto ou com o desgosto do senhor Uribe é com o ânimo de solucionar um dos fatores derivados do conflito, A Colômbia padece um conflito econômico, político, social e armado que nenhum dos governos tem querido resolver. Por isso, dizemos, a possibilidade de firmar o acordo de libertação dos prisioneiros das duas partes pode ser também a porta de entrada para o início de uns diálogos para a paz. Já lhe dizia, as FARC buscam a paz, porém não é a paz da rendição, não é a paz para se acomodar os dirigentes da organização e certos amigos, mas a paz para o povo. É a paz que reivindique a vida e a dignidade da nossa população.


P: Que se necessita fazer para alcançar uma paz justa na Colômbia e uma maior igualdade entre ricos e pobres?


Reyes: Para se lograr este se neessita que aja uma atitude. Que a classe governante entendesse que o melhor negócio é a paz. Que a paz é uma empresa e que essa empresa requer um investimento, porque a s grandes riquezas que a Colômbia tem, começando pela capacidade laboriosa do povo, pudera gerar muitas mais riquezas se houvesse paz. Porém como há uma guerra do estado contra o povo, então as riquezas são investidas é na guerra e não no benefício da população e por isso cada vez na Colômbia há mais pobres. As diferenças entre os ricos e os pobres cada vez mais crescem e nessa proporção cresce o descontentamento popular e assim o faz a repressão para aqueles que se atrevem a expressar seu descontentamento com as via legais. Muitas vezes são assassinados, obrigados ao exílio às fugas por ameaças, ou são expropriados de seus bens, então cresce a guerrilha, cresce a luta armada. No caso das FARC é uma luta político-militar. Uribe Vélez diz que não existe conflito interno na Colômbia. Essa é a primeira grande mentira que diz à Colômbia e ao mundo e, segundo esta grande mentira, na há nada a resolver aqui. Porém há uma confrontação onde há mortos permanentemente, onde o mesmo está pedindo ajuda por todos os lados a troca de hipotecar a soberania e a dignidade do povo colombiano. E alguém diz: “se não há conflito interno, então para que reclama ajuda? É completamente contraditório.


Tem que ter uma atitude da classe governante que diga: ”De agora em diante o melhor negócio para nós é a paz. Como o negócio para nós é a paz então vamos investir nisso. Vamos devolver parte do que temos tomado aos colombianos pobres investindo na paz”. Porém eu não creio que cheguem facilmente a essa determinação porque a essência do capitalismo é outra: é obter maiores lucros a custa do sacrifício da população. Dai que o que nos toca é incrementar a luta revolucionária. Nos toca é motivar cada vez mais a ação das massas populares, os protestos ao nível dos sindicatos, das organizações, porém igualmente acionar a guerrilha. E isto é o que nós chamamos “a combinação de todas as formas de luta”, porque as FARC não somente fazem a luta armada, sendo um exército revolucionário. Há que se caracterizar as FARC como uma organização político-militar. Sua direção é uma célula política. Todas as FARC são uma célula política. Por isso também se faz um trabalho na formação de guerrilheiros com a finalidade de fortalecer o nível político e ideológico, para que entendam que é uma luta pelas mudanças estruturais que requer o país e não para benefício particular de ninguém. E para que se entenda que esta luta implica sacrifícios, tem que deixar sua família, internar-se na selva e estar exposto 24 horas por dia a um assalto do inimigo. Nós sentimos que com esse sacrifício estamos aportando a luta revolucionária na Colômbia e nos demais povos do mundo.