"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 30 de dezembro de 2007

A morte do Libertador e seu labirinto

A ordem era simples e clara: Não deixe o Libertador sair com vida do território neo-granadino, pois corriam o risco de que sua espada voltasse a cavalgar pela América Latina. Bolívar vem “febril, pálido e grave”, caminha ao seu encontro definitivo com o boticário francês Próspero Reverand, que foi nomeado oficialmente seu médico, e previamente instruído pelo general venezuelano Mariano Montilla, inimigo declarado do Libertador desde sempre e partidário declarado do general venezuelano Paez, que está em guerra com o general Santander da Colômbia, para juntos destruir o projeto Bolivariano e ficarem cada um com sua “patriazinha”. Tembém vem rumo a Santa Marta, a galera de guerra Norteamericana ‘Grampus’, com o sirurgião militar Dr Night (Noite) à bordo.

Reverand (como agora sabemos), não era médico, apenas possuía alguns conhecimentos de cirurgia militar adquiridos na França e muitos, esses sim, sobre ingredientes farmacêuticos. Com isso montou um boticário particular para vender suas poções aos samários. No dia 01 de dezembro de 1830 examina o Libertador, olha seus olhos, vê seu semblante e diz para si mesmo, que o eminente paciente sofre de ‘uma convulsão’, então, de acordo com a orientação recebida, instaura o plano terapêutico: Pitadas de cantárida pulverizada, mesclada com arsênico, aplicados na nuca do paciente, pois a via oral é incerta e não pode controlá-la diretamente. O pó é absorvido pela pele, se sinergiza e não deixa muitas marcas. O boticário sabia que essa mistura magistral é conhecida desde a antiguidade romana, e que na idade média era o veneno utilizado pela família do papa Borgia e chamaram a “cantarela”. O apelidaram depois de pó da Toffana.

Pouco depois vem o cirurgião Norte-americano Night, examina o Libertador e diz a Reverand que sua palidez, seu estado febril correspondem a uma ‘anemia crônica’. O boticário insiste que era uma ‘convulsão’. Discutem, porém coincidem em duas coisas: Uma, que é uma doença ‘crônica’, ou seja, que o Libertador já havia começado a morrer faz tempo, quem sabe com ajuda das ‘curas arsenicais contra as queimaduras’ que o aplicaram vários médicos ingleses, o último foi Dr. Joly e a outra fundamental: Seguir com as pitadas na nuca. A razão ‘científica’ contra todos os conhecimentos médicos da época para tratar ambas as enfermidades e sobretudo, contra a realidade anatômica que ambos os cirurgiões conheciam muito bem; é um absurdo dizer que os líquidos perniciosos da cabeça (não dos pulmões), podem ser extraídos através da nuca com pitadas de cantárida. Nos 17 dias que o Libertador esteve nas mãos do boticário francês ; lhe aplica 8 vezes no total, inclusive sobre ferimentos abertos, com tal obstinação e persistência que o tornam ainda mais suspeito.

O cirurgião militar Norteamericano, seguro de que o Libertador não sairá vivo de Santa Marta, prepara a volta ao seu país e o navio de guerra yankee pouco depois desaparece misteriosamente para a história, no obscuro Triângulo das Bermudas. Enquanto na fazenda de Sanpedro alexandrino, o boticário francês redige 33 boletins sobre a evolução clínica do Libertador. Depois despedaça seu caráter, escreve e edita uma necropsia, onde descobre a razão: O Libertador morreu de anemia. Mas seu empirismo francês o entregou. Hoje, qualquer clínico geral pode nesses documentos escritos, constatar como os venenos aceleraram a morte do Libertador.

Para isso basta lê-los cautelosamente e agrupar seus símbolos e sintomas em dois grupos: 1- Urinários devido à uma intoxicação por cantárida: Urinas sanguinolentas seguidas de anemia, falha renal e insuficiência renal aguda. 2- Neurológicos e Gastro-intestinais, devidos à uma intoxicação por arsênico> letargia, confusão mental, delírio, inquietude extrema e coma. Vômitos, cólicas, diarréias, ‘estômago dilatado por um líquido amarelado, sem lesão’. Não descreve peritonite tuberculosa, mas sim pericardite; o Coração (apesar das cavernas pulmonares descritas), não sofreu nada particular, ainda que banhado por um líquido esverdeado contido no pericárdio’.

Duvido da confissão de Simon Bolívar ao bispo. E não acredito que tivesse clareza mental suficiente para ditar um testamento. Quem sabe o único instante de lucidez e realismo que o envenenamento lhe permitiu foi quando disse ao seu assistente mais próximo: - Como sairei desse Labirinto?

Não podia. Era um labirinto de 5 ângulos, ou pentágono, mais terrível e complicado que o deserto imaginado por Borges. Com escadas secretas, corredores e túneis fechados. Com portas que conduzem a cemitérios protegidos por muros impenetráveis e guardas armados de metralhadoras.

No dia 20 de Novembro de 1942, doze anos depois de sua famosa necropsia, Reverand com o olhar baixo e envergonhado, junto com o chefe político santanderista de Santa Marta, Manuel Ujueta, em uma tétrica exumação identifica o pó em que se tornou o Libertador. Joaquín Posada Gutiérrez em sua memória escrita (1865), deixa essa constância para a história: ‘o crânio serrado horizontalmente e a nuca cortada por ambos os lados obliquamente, os ossos da pernas e pés estavam cobertos por botas de campanha, a direita completa, a esquerda despedaçada. Ao lado de sua costela , pedaços de ouro deteriorado e listras de cor verde com metal oxidado, foram os únicos fragmentos de sua vestimenta que se encontraram; todo o resto havia se pulverizado’.

Como não estar de acordo com a identificação, esta sim científica, que fazem em Caracas os filhos de Bolívar, sobre os restos entregues pelo governo do general Santander ao governo da Venezuela? Porque não quere que se separe e se determine esse pó, se é arsênico do Labirinto, ou se é o verdadeiro pó sideral que nos ilumina e orienta? O que temem os Senhores do Labirinto, se o que brilha por luz própria não pode ser apagado?

enlace original: http://www.anncol.nu/index.php?option=com_content&task=view&id=127&Itemid=2