45º Aniversario das FARC-EP
por Estado-Maior Central
"As circunstâncias políticas são propícias para o acionar do Movimento armado e do Movimento Bolivariano"
Manuel Marulanda Vélez
Neste pensamento de Manuel está retratada a alma das FARC como bandeira ao vento. Há 45 anos surgimos nas alturas de Marquetalia, a montanha da resistência dos povos, buscando a paz para a Colômbia, a justiça e a dignidade. Desde então somos a resposta armada dos despossuídos e dos justos às múltiplas violências do Estado.
A paz é a nossa estratégia e o acionar do Movimento armado empunhando a bandeira da alternativa política é a táctica para chegar a ela. Dizemo-lo também com a palavra de fogo de Bolívar: "a insurreição anuncia-se com o espírito de paz. Resiste ao despotismo porque este destrói a paz e não empunha as armas senão para obrigar os seus inimigos à paz". Por ela deram a sua vida Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas, Efraín Guzmán, Raúl Reyes, Iván Ríos e toda essa invencível legião de comandantes e combatentes aos quais hoje recordamos com veneração. Para todos eles, honra e glória neste aniversário das FARC.
"Aquele que assegura a sua honra – dizia o Libertador – dedicando sua vida ao serviço da humanidade, à defesa da justiça e ao extermínio da tirania, adquire uma vida de imortalidade ao deixar o âmbito da matéria que o homem recebe da natureza. Uma morte gloriosa triunfa sobre o tempo e prolonga a sublime existência até à mais remota posteridade" ... É o que ocorre com todos eles, que apesar de haverem partido continuam vivos nos fuzis e no projecto político das FARC, com Bolívar a combater pela Nova Colômbia, a Pátria Grande e o Socialismo, ombro a ombro com o povo e seus guerrilheiros.
Queremos o país vislumbrado pelo Manifesto das FARC e pela Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia. Queremos que ele surja de um Grande Acordo Nacional rumo à Paz rubricado por todas as forças dispostas a protagonizar a mudança das estruturas injustas e anacrónicas, sem exclusões. Emanado de um pacto social rodeado de povo que instrumente a articulação de uma alternativa política com vistas à conformação de um novo governo nacional, patriótico democrático, bolivariano, rumo ao socialismo. Sim, rumo ao socialismo, que é justiça e redenção dos povos, a arca de salvação da humanidade frente ao afundamento do sistema capitalista mundial.
A dignidade da Colômbia e o resgate do sentimento de pátria reclamam uma nova liderança que privilegie a unidade e o socialismo ao avançar rumo ao futuro. Um novo grito de independência nos convoca, mostrando-nos o campo de batalha de Ayacucho do século XXI onde flameja a certeza do triunfo da revolução continental, a de Bolívar e dos nossos próceres.
É hora de superar a vergonha nacional que representa um governo ilegítimo e ilegal, gerador de morte e pobreza. Um governo que, apoiado pelo de Washington, só actua para perpetuar a guerra e a discórdia enquanto garante a sangue e fogo a segurança investidora às transnacionais que saqueiam os nossos recursos. Um regime apátrida que, apesar do alto número de tropas norte-americanas que intervêm no conflito interno da Colômbia, permite que o nosso solo sagrado seja espezinhado por mais tropas estrangeiras, as expulsas de Manta, permitindo aos Estados Unidos operarem nesta terra uma base de agressão para o assalto aos povos irmãos do continente. Um governo desavergonhadamente narco-militar, que já não se importa perante as contundentes confissões de capos paramilitares que asseguram, como "Don Berna", haver financiado com dólares da cocaína as campanhas presidenciais de Álvaro Uribe Vélez. Um governo e um presidente que converteram o Palácio de Nariño em escuro antro de conspiração entre mafiosos para desestabilizar os Tribunais, obstruir a justiça e deixar sem efeito a independência dos poderes públicos. Que extraditou para os Estados Unidos dos cabecilhas paramilitares quando estes começaram a vincular o séquito de Uribe, os generais, os empresários e os ganadeiros à estratégia paramilitar do Estado que sangra a Colômbia.
O país não sai do assombro perante o autismo da Promotoria, que prefere enterrar a sua cabeça na areia a fim de não empreender qualquer acção de responsabilidade penal contra as empresas Chiquita Brand – a mesma do massacre das bananeiras em 1928 –, a Drummond, Postobón, Brasilia, Carbones del Caribe..., denunciadas pelo chefe paramilitar Salvatore Mancuso como financiadoras do paramilitarismo. O mesmo cabecilha revelou que o massacre da Gabarra, no qual foram assassinados 40 camponeses, perversamente atribuído à guerrilha a fim de desprestigiá-la, foi realmente executado pelos paramilitares, pelo exército e pela polícia.
A máscara caiu. A Uribe ronda-o insistente o fantasma de Fujimori, condenado no Peru a 25 anos de prisão por crimes de lesa humanidade. Prevê que os covardes assassinatos de civis não combatentes, estimulados pela insânia de mostrar a todo transe resultados com sangue da sua política fascista de segurança, não ficarão na impunidade. Clamam justiça ao céu o deslocamento forçado de mais de 4 milhões de camponeses, o despojamento das suas terras, as milhares de fossas comuns e a vinculação do presidente a massacres de cidadãos indefesos. O chefe paramilitar que denunciou a responsabilidade directa de Uribe no espantoso massacre de El Aro, Antioquia, acaba de se assassinado para satisfação do tirano do Palácio de Nariño. Ele sabe que, cedo ou tarde, terá que responder pelos seus crimes.
Deve ser revogado o mandato de um presidente que impôs o desonroso recorde de ter mais de 90% da sua bancada parlamentar vinculada ao processo da narco-parapolítica; que mantém como ministros de Estado delinquentes subornados; que utiliza o poder para enriquecer os seus filhos, que converte o serviço diplomático em refúgio de assassinos como o tantas vezes denunciado general Montoya, e que promove referendos inconstitucionais para perpetuar-se no poder como mecanismo de fuga à justiça. Uribe é um verdadeiro bandido que se ampara por trás da faixa presidencial.
Quantos problemas internacionais gerou a sua absurda pretensão de transnacionalizar a política fascista de segurança com a qual o governo da Colômbia arroga-se o direito de actuar extraterritorialmente no desenvolvimento da sua visão particular e da sua estratégia contra-insurgente, por cima dos povos e dos seus governantes, pisoteando a soberania das nações e desestabilizando a região, sempre apoiado pelo governo de Washington.
Quer incendiar o país indefinidamente com o fogo da guerra e da violação dos direitos humanos, aferrado à quimera do triunfo militar. Com inconsequência nega a existência do conflito político e social, mas coloca a sua ilusão enfermiça no Plano Patriota do Comando Sul do Exército dos Estados Unidos, crendo inutilmente que a inconformidade social pode ser abatida a tiros e a tecnologia militar de última geração.
Incrementar a base de força a mais de 450 mil efectivos por conta da maior ajuda militar dos gringos no hemisfério não o manterá no poder, porque assim o diz a experiência história e o bom senso. "Os povos que combateram pela liberdade exterminaram por fim os seus tiranos". Mas além disso um governo desprestigiado, atado à ilegitimidade e acossado pela crise do capitalismo mundial é um governo condenado ao fracasso.
A Colômbia de hoje não quer o guerreirismo ultramontano do governo. Quer soluções para o desemprego e a pobreza crescentes. Reclama o investimento social, sacrificado no altar da guerra. Pede educação, habitação, saúde, água potável, direitos trabalhistas, terra, estradas, electricidade, telefonia e comunicações, comércio de produtos, renacionalização das empresas que foram privatizadas, castigo da corrupção, soberania do povo, protecção do meio ambiente, democracia verdadeira, liberdade de opinião, libertação de presos políticos, fim à extradição irracional de nacionais que mantém de joelhos a soberania jurídica, informação veraz, relações internacionais de respeito recíproco entre as nações, integração e Pátria Grande, justiça social e paz.
Uribe teme, como o diabo à água benta, o clamor crescente dos que pedem paz, castigo aos crimes de Estado e novo governo. Por isso exige com angústia que o tema da paz seja proscrito do debate eleitoral que se avizinha. É a loucura e o absurdo transfigurados num mandatário que quer encadear o país aos seus ódios e ressentimentos. Ninguém poderá desligar de um projecto de nova sociedade e novo governo a paz a que anelam as maiorias nacionais. Ela é a bandeira que unirá os colombianos contra a tirania, a guerra e a injustiça.
Devemos estar todos alerta para impedir a manobra uribista de mudar o actual Registrador Nacional por um dos seus serventuários. A única esperança do guerreirismo desgrenhado perante o anseio das maiorias é a fraude. E é o que devemos impedir agora, uma vez que este foi amo e senhor das eleições de 2002 e de 2006. A reeleição de Uribe é um asqueroso monumento à fraude e ao roubo erguido pelo ex-director do DAS, Jorge Noguera, e pelo capo narco-paramilitar Jorge 40. Nas 4 milhões de assinaturas recolhidas pelos uribistas em favor do referendo com apoio de dinheiros de DMG estão estampadas as assinaturas de um milhão e meio de mortos. Isso é fraude e roubo.
Fraude à opinião pública é também a peregrina fábula da derrota militar da guerrilha, argumento falacioso, parente dos "falsos positivos", utilizado no fundo para justificar os terríveis desaforos do Estado contra a população civil. Como sempre quiseram com Manuel Marulanda Vélez, quiseram matar as FARC com os fuzis do desejo e o ensurdecedor matraquear das rotativas. Nenhuma guerrilha pode ser exterminada com disparos de tinta. Não há era do pós-conflito senão no sonho delirante do guerreirismo sem futuro de um regime em decadência.
Das montanhas da resistência, como temos vindo a fazer desde há 45 anos, convocamos os colombianos a mobilizarem-se resolutamente pela paz, a paz que nos negaram os santanderistas e o império washingtoniano quando mataram Bolívar e a Colômbia da unidade dos povos em 1830. O passado conta na construção da sociedade futura. Ninguém nos pode desligar do destino assinalado pelo Libertador nas origens da República. A incitação do senador Álvaro Gómez Hurtado em princípios da década de 60 a submeter a sangue e fogo o que considerou "República Independente de Marquetalia" não foi suficiente para entender que os problemas nacionais não se solucionam através da violência do Estado. Há que construir uma Nova Colômbia sobre o sólido cimento da paz concertada.
O Grande Acordo Nacional Rumo à Paz deve ter como norte estratégico a formação de um novo governo que garanta ao povo "a maior soma de felicidade possível, a maior soma de garantias sociais e a maior soma de estabilidade política", como exigia o Libertador. Um governo patriótico, democrático, bolivariano, rumo ao socialismo, como assinala da Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia.
Como garantia de paz e de soberania nacional devemos erigir novas Forças Armadas compenetradas da doutrina militar bolivariana que inculca o amor ao povo e o ódio à tirania. Não devemos esquecer que o exército patriota foi o criador da Colômbia e da República nas fulgurantes vitórias de Boyacá e de Carabobo, e que seu comandante Bolívar definiu-o como "defensor da liberdade", acrescentando que "as suas glórias devem confundir-se com as da república, e sua ambição deve ficar satisfeita ao fazer a felicidade do seu país". Assim devem ser as novas Forças Armadas e estamos seguros de que muitos dos actuais oficiais sonham desempenhar esse papel.
Solidarizamo-nos com a luta justa das famílias dos soldados regulares que reclamam o direito de não serem obrigados a entrar em combate mortal com a guerrilha. A guerra que o governo nega para não reconhecer o carácter político da insurgência que luta pelo poder, apenas no mês de Março produziu 297 militares mortos e 340 feridos. Conclamamos aos soldados a que não se deixem utilizar mais como carne de canhão defendendo interesses que não são os seus e sim de uma oligarquia podre e criminosa, insolidária, que muito pouco faz por eles se caem prisioneiros ou ficam mutilados. Estados seguros que os seus familiares também quiseram gritar ao governo, com o professor Moncayo, que os seus filhos não foram paridos para a guerra da oligarquia.
Para alcançar o objetivo da Nova Colômbia é necessário reorganizar o Estado na base da soberania do povo, tal como concebeu o Libertador em Angostura. Aos três ramos do poder público devemos acrescentar os poderes moral e eleitoral, instituindo a revogação do mandato em todas as instâncias de eleição popular. Não mais cópias de leis estrangeiras para resolver os nossos assuntos internos. Não mais sistema penal acusatório. Exigimos um novo governo que castigue exemplarmente a corrupção e feche espaços à impunidade, que proscreva a política neoliberal que causa nossas desgraças económicas e sociais. O país e o governo que sonhamos devem assegurar o controle dos ramos estratégicos, estimular a produção em suas diversas modalidades, fazer respeitar a nossa soberania sobre os recursos naturais. Tornar realidade a educação gratuita em todos os níveis, levar justiça ao campo com uma verdadeira reforma agrária que gere emprego e soberania alimentar e semear a infraestrutura do progresso nacional. Os contratos com as transnacionais que sejam lesivos para a Colômbia devem ser revistos, assim como os pactos militares, os tratados e convénios que manchem a nossa soberania devem ser anulados. Neste mesmo sentido o país não tem porque pagar a dívida externa naqueles empréstimos viciados de dolo em qualquer das suas fases. Solução não militar nem repressiva ao problema social da narco produção. A nossa política internacional deve reorientar-se rumo à integração solidária dos povos da Nossa América na Pátria Grande bolivariana, e o Socialismo.
A etapa definitiva da luta pela paz começou. O povo colombiano não pode afrouxar até que seja concretizado este direito.
Com Bolívar, com Manuel, com o povo, ao poder! Manuel vive na luta do povo colombiano.
Juramos vencer e venceremos.
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP Montanhas da Colômbia, Maio de 2009