"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 24 de junho de 2012

Declaração Pública Em torno da paz e da solução política ao conflito interno

Juan Manuel Santos, numa nova mostra de desespero, expressou ante o país no passado 11 de junho, na Escola Militar José María Córdoba, que se as guerrilhas estávamos falando de paz era graças à contundência das Forças Armadas. E acrescentou outra manifestação que diz muito de seu compromisso com a reconciliação e a paz democrática: só se produzirá a possibilidade de diálogos quando se tenha a segurança de que estes se realizarão “sob nossas condições e nosso domínio”.

Tão disparatada interpretação da realidade põe de presente a concepção que inspira o discurso oficial. A via pacífica, democrática, dialogada, para solucionar o gravíssimo conflito que aflige a Colômbia tem sido a bandeira das FARC desde seu nascimento. Levantou-a o movimento agrário de Marquetalia ao conhecer-se em 1962 a projetada agressão oficial. A guerra, o esmagamento violento da organização popular e a oposição política têm sido o histórico mecanismo de dominação da oligarquia colombiana e seu amo imperialista.
A intolerância do regime se corresponde com os interesses hegemônicos do grande capital transnacional, expressados para nosso continente desde o chamado Consenso de Washington. Livre comércio, privatizações, flexibilização laboral, abertura total à inversão estrangeira direta, isto é, a mais pura ortodoxia neoliberal no campo da economia, requer para sua imposição a absoluta dominação ideológica e cultural no campo da política.
O extraordinário esforço de Santos por entregar em lotes o território nacional às corporações mineiras e agroindustriais, seu desprezo pelas condições de vida das comunidades e das condições laborais da mão de obra colombiana, seus reiterados privilégios ao grande capital em detrimento do meio ambiente e da produção nacional foram convertidos em dogmas sagrados. A ninguém se lhe permite colocá-los em dúvida ou discuti-los. Se trata nem mais nem menos que dos direitos do capital, muito mais importantes que os direitos da sociedade, os direitos humanos ou qualquer outra categoria de direitos.

Se até hoje, apesar dos sucessivos espaços conquistados pela luta popular para falar de paz nos últimos 30 anos de história, foi impossível chegar a um acordo de solução dialogada, foi precisamente pela negação das classes dominantes a admitir a mínima variante em seus projetos de dominação econômica e política. Isso volta a pôr-se de presente com o atual governo. O que o regime pretende à custa das FARC e dos direitos da imensa maioria de compatriotas é relegitimar ante o concerto mundial seu modelo terrorista de Estado. Apagar de uma canetada a horrível e longa noite de crimes e horror mediante a qual o grande capital e os terratenentes, representados nos poderes públicos, acumularam fortunas e propriedades para fomentar seus gigantescos projetos de enriquecimento. Por isso se escuda hipocritamente numa suposta intervenção da justiça internacional contra seus levantados.
Não são os guerrilheiros colombianos que devem responder pelas práticas atrozes e genocidas que o Estado colombiano, por mão de suas forças armadas oficiais e paramilitares, sob a orientação das agências de inteligência norte-americanas e do Pentágono, se encarregou de praticar de modo sistemático contra sua população durante muitas décadas.
Não vai ser à custa de acusações infamantes e gratuitas contra a luta popular que os gorilas e monstros que têm ensanguentado e semeado de tumbas a Colômbia vão salvar sua responsabilidade, como de modo cínico se consagra no chamado marco legal para a paz. A desfaçatez do Congresso que o expede se reforça com a vergonhosa reforma judicial recém aprovada nas instâncias do governo.
A retórica de Santos põe cada dia mais a nu seu verdadeiro conteúdo. O único acordo de paz que espera é um contrato de adesão, no qual uma guerrilha arrependida e chorosa se rende de joelhos ante o grande capital, agradecida de ter sido perdoada como o filho pródigo. Um ícone econômico, militar, ideológico, político e cultural para selar materialmente sua dominação de classe ante a sociedade inteira, o triunfo hegemônico do capitalismo selvagem.
Tão elitista e soberba é sua atitude oligárquica, que pretende centrar o debate em se o Comandante das FARC pode ser ou não congressista, como se se tratasse de que a luta do povo colombiano e a insurgência apontassem apenas para uma simples reinserção ao seu apodrecido regime político.
Agora, se tenta pôr o senhor Uribe a desempenhar o papel que em seu tempo jogara o senador Álvaro Gómez Hurtado, como uma espécie de símbolo da ultra direita ao qual havia que manejar com cuidado e contentamento, assim não se estivesse de acordo com ele em tudo.
O Partido Liberal compartilhava o poder com o filho de Laureano, tal e como faz Santos com seu apregoado rival hoje. O povo colombiano aprende da história, a oligarquia parece que não, e insiste em repeti-la estupidamente.
Mais claro não podemos falar. A solução política ao conflito colombiano é parte inseparável de nosso acervo ideológico e político, não é produto de nenhuma pressão militar. As FARC-EP somos povo colombiano em armas, seguimos combatendo e seguiremos combatendo até que desapareçam as causas que deram origem e seguem alimentando o conflito colombiano. Nossa vontade de paz se insere nesse critério elementar. O regime político, o manejo econômico e social do país requerem profundas reformas que devem nascer do debate aberto e democrático com todas as forças do país. Não entendemos por que, sim, Santos deseja tanto a paz se tem tanto temor a isso.
Agora fala de drones e outras loucuras, como se o que a Colômbia precisasse fosse de mais mortes e esbanjamentos. O que a nação colombiana está reclamando aos gritos em ruas e praças é que se abram as portas do diálogo e da reconciliação, que se lhe dê a real oportunidade e o direito a falar, a expor, a mobilizar-se e decidir acerca do futuro do país.
 
SECRETARIADO DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
Montanhas de Colômbia, 22 de junio de 2012