"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 1 de junho de 2012

“Sou civil, sou jornalista, não estou armado!”: Roméo Langlois

“Estava ferido e as balas assoviavam a centímetros de mim. Então, disse ao sargento que estava ao meu lado: me abro do remendo”. Com minuciosos detalhes e adornado de uma linguagem coloquial, o jornalista francês Roméo Langlois narrou o dia depois de sua libertação os momentos prévios a ser capturado pela Frente 15 das FARC no 28 de abril próximo passado.

Depoimento.
 
“O capacete e o colete são elementos do Exército, que eu decido pôr em mim depois de pensar muito. Na noite anterior tive um momento místico. Num sonho, vi que meu trabalho terminaria numa batalha na qual eu corria perigo. Vi imagens, coisas muito claras, vi feridos, estive a ponto de suspender meu trabalho.

Então, ainda que eu nunca faça, acreditei que [colocar-me o colete e o capacete dos militares] era o melhor. Pensei em vestir algo branco, um pano sobre o capacete, porém depois pensei que um capacete branco, correndo pela selva, ia ser muito “bilhete” e finalmente o aceitei. Eu tinha muito claro que minha reportagem era acompanhar a uma unidade militar que fazia operações contra o narcotráfico, era como trabalhavam eles. Era acompanhá-los no helicóptero, baixar na zona, e voltar a subir.
 
Chegamos ao laboratório, se é que assim lhe podia chamar, porque era algo de um campesino, um hectare de coca, algo muito simples. O exército o queimou todo e ia bem até aí. Voltamos ao helicóptero e nos dirigimos para o segundo objetivo, a outro laboratório. Havia dois helicópteros, baixa o primeiro, que era no que eu estava, à zona que se havia escolhido para aterrissar.
 
Quando estamos em terreno, vejo que há uns homens que estavam agitados, se ouviam uns disparos, todo mundo ao chão, não era muito sério a princípio, não se sabia se eram três ou quatro rapazes disparando escondidos nuns matagais, ou se se tratava de um grupo da guerrilha, porém, no entanto, [os militares] decidem deter o operativo e buscam capturar aos terroristas, como lhes qualificam, que estavam disparando.
 
Chegamos a umas casas, os registram, revistam as pessoas, passa como uma hora em todo este processo, até esse momento eu estava tranquilo. Porém, então, começamos a escutar o som das balas, muito forte. Nesse momento, começam a disparar sobre nós e a ordem que dá o sargento do meu grupo era a de não responder ao fogo para que a guerrilha não pudesse saber onde estávamos.

Nesse momento, que já estava muito tenso o combate, o Exército quis retirar-me, porém eu já não podia ir-me. O capitão Gómez me encomenda com o sargento [José] Cortés, lhe ordena que me levasse ao fio e que, logo que pudesse, me subisse ao helicóptero. Fomos correndo uns 400 metros e chegamos onde havia outro grupo de militares, porém é aí onde se complica a coisa.

Eu vejo que a guerrilha começa a disparar de vários lados, e tentei cobrir-me numas ervas que havia. Nós esperávamos que chegasse o helicóptero e que a aviação começasse a disparar.

Passados os minutos, o combate era pior, as balas assoviavam a centímetros de onde estávamos, era algo tremendíssimo, uma coisa horrível que nunca quero voltar a viver. Nesse momento pensei na morte, na minha mãe, na família, aí senti muito medo. Comecei a sentir a necessidade de sair daí.

Nesses instantes se escutam gritos dos militares nos quais diziam que nos estão dividindo, e ordenavam que tínhamos que ficar juntos, porém eu já só pensava em ir-me. O sargento Cortés brincava, dizendo para mim: ‘Tranquilo, agora é que a coisa tá boa, tranquilo’, me repetia. Buscava relaxar-me, porém eu já não estava relaxado, queria ir embora.
Neste momento soa uma rajada e, de repente, vejo meu braço que está ensanguentado e entendo que estou ferido. Começo a mover os dedos, não me dói, estava como anestesiado pelo medo e quando estou fazendo isso vejo à minha direita e vejo que o sargento Cortés está ferido de morte.

Então, escuto a outro militar que me diz que pegue o fuzil e comece a disparar, eu lhe digo que não, que sou um civil e que não vou fazer isso. Ele entendeu isso, havia sido uma reação normal do momento. Eu, nesse momento, entendo que tenho que ir-me e penso, então, no que fazer.

Decidi tirar o capacete e o colete, fico meio nu para que, quando a guerrilha chegasse, não me confundissem. Decido deixar a câmara aí para que não a confundissem com uma arma e me levo as memórias.

Digo ao sargento que estava ao meu lado, me abro do parche. Eu não corri para a guerrilha, como se disse na imprensa, eu não podia correr porque me havia passado chumbo.

Fiquei esperando escondido nuns matagais mais ou menos a 20 metros dos soldados. Reviso novamente meu braço, vejo que tenho minhas memórias, porém nesse momento me dou conta de que já não tenho o crachá de imprensa, que havia caído quando tirei o colete, estava sem identificação e sem nada.

Aos cinco minutos, começo a ver a um grupo de cinco guerrilheiros que se acerca e que estavam disparando, não me veem ainda e, nesse momento, pensei que, se me veem aqui sentado, vão disparar sobre mim, não há tempo de pensar e digo: vou me levantar, e o fiz. Então, me pus diante deles, não queria gritar para não alterá-los e lhes digo: Sou civil, sou jornalista, não estou armado!

Apontam suas armas contra mim por uns segundos, me perguntam o que estava fazendo aí e volto a repetir o mesmo. Então, um deles diz: Não tem armas, não disparem nele. E foi assim como terminei em mãos da guerrilha.”

(tomado da Revista Semana da Colômbia)