Não mintam mais sobre o conflito interno
Por: Joaquín
Gómez, Integrante do Secretariado Nacional das FARC-EP
Tem
sido prática histórica dos diferentes governos colombianos
tergiversar, mentir e silenciar sobre os fatos relacionados com a
ordem pública, quando os resultados não são favoráveis a suas
forças. Assim sempre foi, convencidos, como seguem hoje, de que o
desejo, a impotência e a mentira são armas suficientes para
destruir o adversário e ganhar guerras injustas, esquecendo que a
verdade, acima de tudo, é objetiva, obsessivamente teimosa
e fiel amiga do tempo, a que, graças a
ele, termina sempre reinando.
Entre
muitos, me referirei somente a 5 fatos:
Durante
os sangrentos combates de El Billar, em El Caguán, as cifras
oficiais sobre o número de fardados mortos foram criminosamente
adulteradas, divulgando um número menor de vítimas, buscando
minimizar o duro golpe recebido, quando estes fatos nas guerras
prolongadas favorecem de maneira alternativa a cada uma das partes
enfrentadas. Esta inveterada prática no Estado colombiano e seus
diferentes governos foi a causa de que 10 dos cadáveres dos
desventurados compatriotas mortos nos combates de El Billar ficaram
por fora do registro oficial do número de vítimas. As FARC, através
da Cruz Vermelha, enviamos a razão ao Exército, expressando nossa
disposição a propiciar as condições necessárias para o
levantamento destes cadáveres, dignos de sagrada sepultura. A
resposta que o Exército deu foi que isso era uma cilada das FARC,
que todo esse terreno estava minado. Os corpos destes infortunados
militares terminaram sendo festim das aves de rapina. Nos surge uma
pergunta: será que a Instituição militar comunicou aos familiares
a morte de seus parentes? Duvidamos. Será que figuram na lista dos
militares agora reclamados pelo Exército às FARC? É muito
possível.
A
26 de fevereiro de 2011, à 01:50h, unidades da coluna Teófilo
Forero do Bloco Sul das FARC assaltaram uma patrulha de
contraguerrilha do Exército em Riecito, jurisdição do município
de Puerto Rico [Caquetá], com um saldo de 10 militares mortos e a
recuperação de uma metralhadora. A ação durou 7 minutos. Absoluto
silêncio por parte do Ministério de Defesa! Será que comunicaram a
sorte destes infortunados militares a seus familiares?
Em
18 de outubro de 2011, unidades do Bloco Sul assaltaram uma patrulha
do Exército adscrita à Brigada 27, que cuidava do poço petroleiro
“Yurilla”, na vereda Nueva Arabia, jurisdição do município de
Puerto Caicedo [Putumayo], com o resultado de 8 militares mortos e 5
feridos. Recuperadas todas as armas de apoio: metralhadora, morteiro
de 60 mm e um lança granadas MGL de 40 milímetros. Próprios, sem
novidade! Hermetismo total de parte do Ministério de Defesa!
Comunicariam aos familiares destas vítimas os fatos e circunstâncias
do falecimento destes desgraçados militares?
No
dia 26 de fevereiro do ano em curso, em combate sustentado por
unidades do Bloco Sul com uma patrulha da Força de Tarefa Omega,
adscrita à Brigada 27, na vereda Aguas Negras do município de
Puerto Guzmán [Putumayo], houve 14 militares mortos e 3 feridos.
Recuperado abundante material de guerra, entre eles, uma metralhadora
calibre 2,23. Próprios, dois guerrilheiros mortos. O comunicado
oficial do Ministério de Defesa ao país foi de 4 militares mortos e
5 guerrilheiros. E [com] os outros militares mortos, que passou?
Nos
recentes fatos de 28 de abril do presente ano, em combate que se
prolongou por 7 horas entre unidades da Frente 15 e uma patrulha
mista conformada por Exército e Polícia, na vereda “La Libertad”
da inspeção da Unión Peneya, jurisdição do município de La
Montañita [Caquetá], houve 17 mortos e 12 feridos entre soldados e
policiais, mais um prisioneiro de guerra de nacionalidade francesa,
que vinha há mais de 11 anos atuando como jornalista e soldado.
Desde
o mesmo campo de combate, um militar comprometido nos enfrentamentos
comunicou ao general Navas, Comandante das Forças Militares, que as
vítimas oficiais eram 15, e este assim o declarou publicamente. Uma
repórter caquetenha, questionando a versão do comunicado oficial de
Pinzón afirmando que os mortos eram só 4, dizia: “Aqui mesmo onde
eu estou, há 6 cadáveres, e outros tantos vão ser transladados”.
No entanto, ante todo o país e contra todas as evidências, se impôs
a “verdade oficial”: o número de mortos que lhe convinha aceitar
ao governo Santos era somente 4 [um sargento, dois soldados
profissionais e um policial], e assim foi como subordinaram a
realidade às conveniências subjetivas do alto governo. Puro
Macondo! No dia seguinte, toda a mídia e todos os repórteres em
uníssono repetiam que os mortos haviam sido somente 4. Pobre Navas!
Pinzón o fez ficar ante o país como um sapato!
É
a forma como continuam galopando sobre o tempo e falsificando a
história com mentiras completas, meias verdades,
êxitos efêmeros e fracassos ocultos; semeando triunfalismos sobre
terras estéreis, para colher surpresas indesejáveis e decepções
previstas. Tecendo fios de teia de vitórias com multicoloridos fios
de mentiras.
Não
é que nós, com estas alusões, estejamos reclamando litros de
sangue. Tampouco estamos assumindo o papel de urubus,
nem nos vangloriando pelas ações em referência, porque sabemos por
experiência própria que a característica mais marcante de Belona é
a infidelidade. Ademais de ser conscientes que o povo humilde é o
que põe todas as vítimas deste conflito, chamem-se soldados ou
guerrilheiros, nesta esquisita guerra onde não haverá nem vencidos
nem vencedoras, senão uma só perdedora, a Colômbia.
Unicamente
estamos exigindo que ao país se diga toda a verdade, por crua e
descarnada que seja, sobre a magnitude que alcançou o conflito
interno que estamos vivendo; que não se manipulem as cifras, que não
se silenciem os fracassos, que não se tergiversem os fatos, nem se
chore de alegria pela morte do adversário; que não se adote uma
atitude maniqueísta como o fazem muitos, quando festejam a morte de
dezenas de guerrilheiros pelos bombardeios da Força Aérea, porém,
quando os mortos são da força pública, os qualificativos dessas
mesmas pessoas contras as FARC não se fazem esperar:
terroristas, assassinos, dementes, covardes... enfim; catalogam um
fato de bom ou mau, não pelo fato em si, mas sim pelo bando que o
tenha executado. Que desgraça, os vesgos sempre opinam enviesados!
Como não pensar que tanto os guerrilheiros como os soldados são
filhos da Colômbia; igualmente, têm pais, mães, irmãs, filhos e
sonhos; a morte de cada um deles em algo diminui a estatura humana de
todos nós.
Enquanto
se siga mentindo ao país sobre o conflito, a paz seguirá sendo
esquiva. Que se diga toda a verdade! Que não se minta ao povo! E
veremos como, bem breve, nos rumaremos para a solução política do
conflito social e armado que, por quase 5 décadas, fragiliza a
Colômbia.
Fazemos
um respeitoso chamado aos jornalistas honestos, de sã e honrada
consciência e julgamentos sensatos, “fabricantes e indutores de
opiniões”, a que reflitam e analisem a responsabilidade que lhes
assiste neste conflito; a que investiguem bem os fatos e não tomem
como única fonte as “verdades oficiais reveladas”; porque, na
maioria das vezes, são oficiais, porém não verdades; não sigam,
alguns de maneira consciente, fazendo o jogo de todos aqueles que têm
feito da guerra um negócio lucrativo; servindo-lhes de instrumentos
para aprofundar o conflito, distorcendo os fatos e cultivando ódios,
em troca de aplausos e vultosos salários e prebendas de parte dos
usufrutuários da injustiça social.
A
Juan Manuel Santos, se verdadeiramente quer passar à história como
um Presidente benfeitor do povo e não da oligárquica classe a que
pertence, que renuncie à demagogia e ao populismo e que não siga
usurpando a chave da paz, porque esta chave pertence não ao que
manda os filhos do povo morrerem na guerra, mas sim ao que pare os
filhos que morrem na guerra, que é o povo. Que não esqueça as
palavras de Abraham Lincoln: “Se pode enganar a todo o povo parte
do tempo, se pode enganar parte do povo todo o tempo, porém o que
não se pode é enganar a todo o povo por todo o tempo”.