"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Colômbia: A conspiração midiática contra a Paz

Por: El Cachaco

Com estupor e preocupação, li vários artigos da revista Semana deste
22 de setembro, como as confissões de Uribe; as sérias preocupações
nas Forças Militares sobre o foro e a justiça militar pelo que se
derive de um acordo de Paz; a coluna de José Obdulio; a detenção do
“louco Barrera”; as FARC com pele de ovelha; a paz Não Uribe; os
monstruosos crimes dos “decepa cabeças” em Montería. Esses são, entre
outros, os materiais que o leitor da classe média alta e baixa terão à
sua disposição neste fim de semana setembrino.

A maioria desses artigos têm o inocultável propósito de difamar o
processo de diálogo que Governo e Guerrilha iniciaram, encaminhado a
firmar um acordo de paz para que os colombianos alcancem o desejado
fim do conflito armado que por cerca de 50 anos tem tingido de sangue
irmão esse belo país.

Obviamente que o clássico argumento da liberdade de expressão e das
garantias democráticas será esgrimido de maneira imediata pelos
defensores do sistema. Muito mais ofensivo é quando se mente
deliberadamente com o propósito de manipular e semear uma ideia ou um
fato que nunca ocorreu. Isso pôs sobre o tapete o diretor do jornal El
Tiempo Roberto Pombo quando, num editorial, desmente o inefável José
Obdulio Gaviria, escudeiro do ex-presidente Uribe Vélez e homem de
fértil imaginação, ao extremo de inventar a existência de uma Frente
Guerrilheira que nunca existiu.

O mais grave na coluna jornalística uribista, perdão, “obdulista”, ao
tratar de desacreditar os porta-vozes mais importantes que têm hoje
governo e guerrilha, está onde afirma que o Alto Comissionado de Paz,
Sergio Jaramillo, e o Comandante Mauricio Jaramillo, chefe da
delegação das FARC, conversaram em Havana sobre um sequestro que José
Obdulio atribuiu olimpicamente às FARC e que resultou desmentido pela
vítima e pelas autoridades colombianas de que não existia nenhuma
frente guerrilheira chamada Adán Izquierdo e que os sequestradores
eram delinquentes comuns.

As mentiras uribistas de José Obdulio tinham, obviamente, o
desafortunado propósito de continuar a cadeia de desinformação que seu
chefe propaga diariamente, com a finalidade de abafar o soberano
escândalo que deixa a nu suas íntimas relações com o paramilitarismo e
com o obscuro e criminoso negócio do narcotráfico confessado por
vários capos colombianos extraditados para os Estados Unidos, como é o
caso de Diego Fernando Murillo [a] Don Berna; Salvatore Mancuso;
Rafael García Torres, ex-chefe do Departamento de Sistema do DAS e o
caso mais evidente e claro é o do General Mauricio Santoyo, Chefe de
Segurança de Uribe desde que este era governador de Antioquia.

É inaudito que o ex-presidente Uribe Vélez negue as relações de seu
pai Alberto Uribe Sierra com os chefes do Cartel de Medellín, Pablo
Escobar, o Clã Ochoa e Rodríguez Gacha. Como é possível que alguma
pessoa que tenha só dois dedos de frente possa conceber que Escobar
emprestasse seu helicóptero a um desconhecido, para transladar o
cadáver de uma pessoa morte em obscuras circunstâncias? Nisso ninguém
pode acreditar, máxime quando foram públicas e notórias as relações de
Uribe Vélez com Pablo Escobar.

Quantas falsidades nessa entrevista de Semana! Ou acaso Uribe não
recorda seus apoios eleitorais a favor de Pablo Escobar Gavíria em sua
campanha “Medellín sin Tugúrios” [Medellín sem Favelas] e na plantação
de milhares árvores em Medellín, tudo financiado pelo Chefe do Cartel
de Medellín, naquele momento aspirante à Câmara de Representantes?

No caso do assassinato do seu pai, se conhece que se produziu por
reclamações a don Alberto e a seu filho Santiago por parte de outros
setores do narcotráfico por muito dinheiro que estes se apropriaram. O
Secretariado das FARC tem negado oficialmente, desde há muitos anos,
que as FARC tenham participado no assassinato do pai do ex-presidente
colombiano.

No livro do ex-presidente Andrés Pastrana Arango, capítulo XV,
“Encontros com Fidel”, narra a transparente e ética atuação do
Presidente Cubano a respeito da Colômbia. Essa narração refuta
claramente a declaração dada a Semana por Uribe Vélez e nada leva a
crer que Fidel Castro, através de García Márquez, lhe enviou uma
mensagem em 1997 que, segundo Uribe, afirmava nos seguintes termos:
“Castro considerava que o único interesse das FARC era criar as
condições para um alto ao fogo que lhes permitisse aumentar em segredo
seu poderio militar”.

Resulta absolutamente difícil acreditar que Fidel enviasse semelhante
mensagem. É muito conhecida sua postura de governante que respeita os
problemas internos dos países com os quais Cuba mantém relações. É um
tema muito delicado e interno para que Fidel enviasse dita mensagem,
muito menos a um desconhecido e obscuro governador. Por outra parte, é
sabido o grande interesse de Fidel pela paz em Colômbia, por isso é
totalmente falsa e miserável a versão de Uribe.

A pergunta é: por que Uribe diz essa mentira? Segundo o ex-mandatário,
em inícios de 1997, recebeu essa mensagem, com tamanha informação e
sendo ele o mais crítico do processo de Paz que Pastrana iniciou em
1998 e aspirante presidencial, é curioso que não fizesse pública essa
opinião do líder cubano em sua campanha política. Por que o faz agora?

A resposta é simples, Uribe, conhecendo o prestígio e a enorme
personalidade e estatura moral e política do Chefe da Revolução
Cubana, trata, com isso, de cobrir com um manto obscuro a transparente
e limpa conduta de Cuba e pretende introduzir desconfiança nas FARC e,
com isso, torpedear o processo iniciado pelo governo de Juan Manuel
Santos.

O cinismo de Uribe e seus articulistas é tão descarado e carente de
ética que manipulam tudo. Agora, resulta que pretendem vincular ao
recém capturado narcoparamilitar “o louco Barrera” e aos paramilitares
dos Planos Orientais com as FARC. Tamanho embuste só pode ser
assimilado por aqueles que apostam na guerra ou por pessoas honestas
que, assaltadas em sua inocência pelas campanhas midiáticas, aceitam
como verdadeiro o que escrevem ou comentam na rádio e na televisão os
mercenários da comunicação social.

Para as FARC, o inimigo principal não é o exército colombiano, mas sim
os paramilitares cujo projeto político é fascista e é  orientado
ideologicamente pela extrema-direita oligárquica colombiana, enquanto
que o Exército eles estimam que atua equivocadamente por encargo de um
Estado ou governo a serviço da oligarquia. Essas opiniões foram
expressadas, em várias oportunidades, pelo comandante Manuel Marulanda
e por vários dirigentes mais das FARC.

Porém, deixa estar, a ditadura midiática tem que introduzir nos
artigos e notícias esse tipo de mensagem para confundir e manipular a
opinião pública nacional e estrangeira com o objetivo de desqualificar
a oposição política, neste caso, a guerrilha. Outros trabalhos
jornalísticos estão encaminhados a levantar a opinião de que as Forças
Militares ficariam sem seu foro militar, o qual é absolutamente falso.
Porém, o que não se pode aceitar, e nisso é correta a formulação na
qual se discorda da lei de Justiça e Paz que o presidente Álvaro Uribe
impôs através de seu Alto Comissionado de Paz, hoje fugitivo da
justiça, Luis Carlos Restrepo, com o propósito de só condenar com 6 a
8 anos de prisão aos narcoparamilitares, acordo que se havia tomado
nas conversações de Santa Fe de Ralito por expresso compromisso do
mandatário colombiano com seus aliados Salvatore Mancuso, Carlos e
Vicente Castaño, Ernesto Baez, entre outros.

É realmente preocupante que uma revista tão importante como Semana
publique artigos e entrevistas com um conteúdo tão alto de falsidades.
Em nada ajuda ao país e mirrado favor faz às intenções de paz de
Governo e Guerrilha.