Timoleón Jiménez: “Outra Colômbia é possível e juntos podemos modelá-la” E-mail
Transcrição Stolpkin.net: Nota Stolpkin.net:
A seguinte transcrição, completa, é a declaração das FARC-EP, através do seu
comandante-em-chefe Timoleón Jiménez, sobre o “anúncio oficial do início das
negociações de paz com o Governo da Colômbia”.
Video: http://youtu.be/Jh8ePSvli4s
Comandante Timoleón Jiménez:
As FARC-EP desejamos também tornar público o
anúncio oficial do início das negociações de paz com o Governo da Colômbia.
De fato, na cidade de Havana, na Cuba
revolucionária de Fidel e Che, na pátria socialista de José Martí, nossos
delegados assinaram em 27 de agosto deste ano, o Acordo Geral convocada Para o
Término do Conflito e a Construção uma Paz Estável e Duradoura.
Timoleón Jiménez
Com isto inicia-se novamente um processo de diálogo
para a obtenção da paz em nossa pátria; uma aspiração nobre e legítima que a
insurgência colombiana defende faz meio século. Anexamos o texto do citado
acordo.
Consideramos um dever incontornável reconhecer a
ajuda inestimável do Governo da República Bolivariana da Venezuela, liderado
pelo senhor presidente Hugo Rafael Chávez Frias, que foi determinante para a
conclusão deste acordo; bem como a imensurável atuação do Governo do Reino da
Noruega, que desempenhou um papel fundamental ... (interrupção).
Sem a preocupação e gestão do governo liderado pelo
comandante Raul Castro, esta tarefa longa não teria alcançado um ponto tão exitoso.
A todos eles, os nossos agradecimentos formais e sinceros. Temos certeza de que
toda a nossa América aplaude sua atuação generosa. Nós não temos nenhuma dúvida
de que novas nações continuarão a se somar com a finalidade ajudar este novo
esforço.
Passaram-se 10 anos desde quando Andrés Pastrana
decidiu jogar no lixo seus objetivos de paz e decretar uma nova etapa no longo
confronto civil colombiano. Colocava assim em prática a persistente ameaça de
seu ministro da defesa, que nos advertia, começando o processo de Caguán, que
teríamos dois anos para chegar a um termo sobre a nossa entrega. Sob pena de
sofrermos um extermínio exemplar, por conta do ataque que o Estado preparava
contra nós. É claro que foi tudo uma manobra oficial para ganhar tempo. Quanta
morte e destruição; quanta dor e quantas lágrimas; quanto luto e
desapropriações inúteis; quantas vidas e sorrisos ceifados para finalmente
concluir que a saída não é a guerra, mas o diálogo civilizado. Pode ocorrer a
mesma coisa, e toda a Colômbia deve colocar-se de pé para impedí-lo. Que não
aconteça o mesmo desta vez, a nossa pátria não merece esta guerra que
declararam contra ela. Mas, uma década atrás, recaiu sobre a Colômbia e seu
povo uma terrível investida militar, paramilitar, judicial, econômica, política
e social que agora parece reconhecer-se como vã; também caíram sobre nós como
aves de rapina os propagandistas do regime, com seu discurso difamatório e
venenoso. Que adjetivos dos mais vis não foram lançados sobre aqueles que
tomaram uma posição política ao lado de nossa palavra; de que estigmas
infamantes não fomos cobertos ao enfrentarmos a guerra e a violência
desencadeada com frenesi pelo Poder; qual dos mais horríveis crimes deixaram de
imputar sobre nós? Também esta humilhante deturpação da linguagem acabou sendo
inútil.
Voltamos a uma mesa. Reconhecidos como adversários
militares e políticos; convidados e protegidos pelos que nos perseguiram;
acompanhados e apoiados pela Comunidade Internacional.
Definitivamente, tanta manifestação de ódio carece
de sentido. Talvez para a satisfação daqueles a quem o Governo tem reiterado
milhares de vezes, tanto nos bastidores quanto em suas múltiplas declarações
públicas, a sua inabalável decisão de não permitir nada do que qualifica como
concessões no campo de guerra. Em seu estranho parecer, qualquer possibilidade
de cessar-fogo, trégua ou armistício, só contribui para a criação de incentivos
perversos.
É claro para nós, então, que, apesar das
manifestações oficiais de paz, os rebeldes chegamos a esta nova tentativa de
reconciliação considerando não somente o ataque militar desencadeado
contra nós uma década atrás, mas sob o assédio e a tentativa de nos compelir
abertamente a retirar nossas aspirações políticas e sociais em troca de uma
miserável rendição e entrega. Apesar destes sinais, as FARC-EP mantém a
aspiração sincera de que o regime não tentará repetir a mesma trama do passado.
Pensamos simplesmente que estão em evidência as enormes dificuldades que se
enfrentará neste esforço, pois a obtenção de uma paz justa e democrática
justifica enfrentar os desafios mais difíceis.
Apesar deles, estamos otimistas. A história sempre
foi moldada por forças sociais que apontam para o futuro. Estamos convencidos
de que a realidade nacional vai impor a vontade das grandes maiorias, que
acredita na necessidade da paz com justiça social.
Ao largo do processo devem ficar os signatários de
fabulosos contratos derivados da guerra; os que encontram nos grandes
pressupostos de Defesa um rápido caminho para o enriquecimento; os que agregam
rapidamente suas propriedades e lucros com base na pilhagem contra os
indefesos.
Contra a obsessiva e indolente posição de
identificar a paz exclusivamente com a vitória; de alcançá-la mediante brutais
operações militares e policiais de aniquilamento; de conquistá-la com base em
devastadores bombardeios e fuzilamentos; de identificá-la com a consagração da
impunidade para a arbitrariedade de seus agentes; de tê-la com milhares de
capturas massivas, ataques, perseguições, desapropriações e todos os tipos de
repressão contra o povo colombiano que reivindica seus direitos; de assimilá-la
à aceleração da locomotiva da infâmia, é urgente enfrentar uma concepção
distinta, justa, realista e construtiva.
Uma paz verdadeira baseada na reconciliação, no
entendimento fraterno, nas transformações econômicas, políticas e sociais,
necessárias para alcançar o ponto de equilíbrio aceitável para todos; na
remoção definitiva dos motivos que alimentam o confronto armado. Sobre tais
certezas, elaborou-se conjuntamente a parte introdutória do Acordo Geral.
Uma grande conquista nas discussões das reuniões
exploratórias. Percebe-se ali, entre outros fatos, incontestáveis, que este
processo de paz atende o clamor da população como um todo e, portanto, requer a
participação, sem distinção, de todos; que devem-se respeitar os direitos
humanos em todos confins do território nacional; que o desenvolvimento
econômico com justiça social e harmonia com o meio ambiente é uma garantia de
paz e progresso; que o desenvolvimento social com equidade e bem-estar,
incluindo as maiorias, nos permitirá crescer como país; que a ampliação da
democracia é condição para alcançar bases sólidas para a paz. No entanto, ainda
se fazem ouvir vozes oficiais que abertamente persistem na saída militar.
Deixe-os. As FARC-EP assumimos, identificados com o povo da Colômbia, que a
introdução desses axiomas no Acordo Geral constitui o marco teórico de
princípios que deverão ser materializados nos acordos finais da agenda
negociada.
Seis meses batalhando por estas verdades nos
permitiu por fim conseguir do Governo Nacional sua inclusão.
Para nós é perfeitamente claro que a chave da paz
não repousa no bolso do presidente da República, tampouco no comandante das
FARC-EP; o verdadeiro e único depositário de tal chave é o povo deste país. É
aos milhões de vítimas deste regime elitista e violento, aos afetados pelas
suas políticas neoliberais de exploração, que sonham com uma verdadeira
democracia em um país amigo, de desenvolvimento e de paz, que corresponde a
responsabilidade de desempenhar o seu papel rumo a uma nova Colômbia. E para
eles que estamos, as FARC, nos dirigindo com nossos corações nas mãos. Porque
voltou a se abrir a porta da esperança; porque batem os sinos que chamam alto
para a praça central, a saírem de suas aldeias, de suas antigas minas, de suas
comunidades, de seus bairros pobres, de seus centros de trabalho, das fábricas
que os consomem, de suas oficinas domésticas, de seu trabalho agônico diário,
de seus centros de estudo, do confinamento da prisão, da sua busca incansável
de emprego, de suas pequenas empresas, suas fábricas ameaçadas pela falência,
de suas culturas ignoradas, de seu abrigo de desalojados, de seus esconderijos
de ameaçados, de seus rincões de vítimas, de suas casas destruídas.
Trata-se de marchar para a paz, para a construção
entre todos de um novo país; trata-se de fechar as portas aos senhores
violentos; de lutar por profundas modificações da ordem vigente.
O espaço para a luta dos milhões de colombianos
está aberta. É isso o que significa que a paz é uma questão de todos.
Temos que fazer desta oportunidade um novo grito
pela independência.
Há pouco mais de dois séculos atrás, afirmou José
Acevedo y Gómez, de uma sacada da capital: "Se deixeis esta oportunidade
única e feliz escapar, amanhã sereis tratados como insurgentes. Eis as
masmorras, as cadeias e algemas que vos esperam."
A situação de hoje é assombrosamente semelhante.
Ou os colombianos das montanhas, os secularmente
humilhados e ofendidos, os oprimidos e explorados nos colocamos de pé em defesa
do nosso território e suas riquezas, do nosso trabalho, das nossas liberdades,
das famílias, vidas e culturas ameaçadas por completo, ou acabaremos com a
marca do ferro quente nas costas, forçados pelas baionetas, lamentando sem
consolo por termos feito pouco pela pátria e nossos filhos; ou vamos seguir
sofrendo o prolongamento indefinido e lacerante do conflito e o impedimento do
seu desfecho.
Nos últimos dias, alguma revista comentava como que
uma dama da alta sociedade, renunciou com enorme raiva a sua participação como
sócia em um clube exclusivo da capital, depois de ter visto dançando em um dos
corredores um atrevido jovem que portava, ademais, um cigarro na mão. Uma
"afronta intolerável", em sua opinião.
Que as pessoas da alta sociedade procedam deste
modo dentro de seus clubes sociais, é um problema delas. Mas que não pretendam
seguir agindo da mesma forma no país inteiro. Não pode ser descrita como
agitação e confusão desnecessária a participação global do povo colombiano
nas discussões de paz. Menos ainda quando se trata daqueles que colocaram a
maior cota de sangue e sofrimento neste conflito.
Chamamos assim a Colômbia inteira a pronunciar-se;
a exigir sua participação ou assumi-la nas ruas e rodovias, como aprenderam a
fazer por séculos. Ela também tem sua agenda.
Em nosso país se vê de tudo. Vampiros sedentos de
sangue assediam hoje os quartéis para encher de conselhos os membros das Forças
Armadas, a fim de conseguir que atravessem os esforços de paz e reconciliação.
Assunto perigoso. Porém sairão também derrotadas. Ninguém como as guerrilhas
para confiar na integridade e valor dos soldados e policiais da Colômbia.
Combatemos diariamente em todo o território nacional. Eles causam nossas baixas
e são por sua vez alcançados com o fogo de nossas armas. Sabem bem que a
necessidade os impeliu a ganhar a vida; que alimentam suas famílias com o medo
permanente da morte ou da invalidez; são colombianos do povo que amam a vida e
sonham em prolongá-la; que sofrem ao verem seus filhos crescerem no medo de um
panorama tão aziago de incerteza social e violência, que junto aos seus não
podem querer esta guerra. Haverá em suas cúpulas elementos belicistas e
ambiciosos, que se prestam aos mais sujos propósitos; gente como Rito Alejo del
Río ou Santoyo, comprometidos até a medula pelas doutrinas imperialistas de
Segurança Nacional que convertem os homens em parasitas. Mas também deve haver
patriotas; militares honestos que se perguntam por que razão as Forças Armadas
colombianas se encontram a serviço de poderosas multinacionais que saqueiam as
riquezas do país; porque seu papel se reduz à intimidação, à contenção da
população inconformada com as políticas antipatrióticas de governos corruptos;
que se questionam pelo seu papel de garantes de uma ordem de coisas injusta;
que se irritam ao ver como seus altos mandatários se submetem aos generais
estrangeiros. A todos eles, estendemos nesta hora nossas mãos abertas a procura
de reconciliação. Outra Colômbia é possível e entre todos podemos mudá-la.
Ter chegado a Havana foi fruto da resistência
inflexível da insurgência colombiana. É, sobretudo, o triunfo do clamor
nacional pela paz e a solução política. É o resultado de cada palavra de ordem
pintada num muro; de cada ato de massas promovido em centenas de lugares; dessa
mobilização campesina, indígena e de negritudes que confluiu em Barrancabermeja
em agosto de 2011; das crescentes marchas em cada departamento e na capital do
país; do protesto social; da luta contra as fumigações; das paralisações e
greves contra o grande capital transnacional; de todos esses encontros de
mulheres, de artistas, de estudantes e jovens; de Colombianos e Colombianas
pela Paz; do Congresso dos Povos; da Minga indígena; da mobilização de
múltiplos setores, do grito dolorido dos habitantes de Cauca e Putumayo, do
Cesar, de Huila e Guajira, do Caquetá, os Santanderes e Arauca; de todos os
rincões de nossa geografia pátria. Semelhante torrente já não poderá ser
detida, estamos seguros que seguirá crescendo; que serão levados embora os
planos imperialistas, os aviões caças, os tanques de guerra, os infernais
desembarques, os batalhões de combate terrestre, os brutais esquadrões
antimotin, as falsas suspeitas, as ameaças e os enquadramentos, o
paramilitarismo, os pedantes jurisconsultos, a falsidade midiática, a
politicagem rasteira; as políticas neoliberais.
Por nossa parte, chegamos à mesa de diálogos sem
rancores nem arrogâncias, pleiteando que o Governo Nacional considere
importantes os de baixo; que não julgue ingênuos seus desejos, que não acredite
serem eles incapazes de empreenderem projetos e que reconheçam o seu direito de
tomar parte nas principais decisões nacionais.
Com o apoio cerrado de enormes multidões, não
pensamos em sair da mesa sem realmente ter tornado realidades essas bandeiras.
Juramos vencer e venceremos!!!
Viva a memória e o exemplo de Manuel Marulanda
Vélez, Jacobo Arenas, Efraín Guzmán, Raúl Reyes, Ivan Rios, Jorge Briceño,
Alfonso Cano, Marianita Páez, Lucero Palmera, e todos os guerreiros e guerreiras
que deram seu sangue pela paz na Colômbia!!!
Viva a Colômbia!!!