"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Timoleón Jiménez: “Outra Colômbia é possível e juntos podemos modelá-la” E-mail





Transcrição Stolpkin.net: Nota Stolpkin.net:  A seguinte transcrição, completa, é a declaração das FARC-EP, através do seu comandante-em-chefe Timoleón Jiménez, sobre o “anúncio oficial do início das negociações de paz com o Governo da Colômbia”.



Comandante Timoleón Jiménez:

As FARC-EP desejamos também tornar público o anúncio oficial do início das negociações de paz com o Governo da Colômbia.
De fato, na cidade de Havana, na Cuba revolucionária de Fidel e Che, na pátria socialista de José Martí, nossos delegados assinaram em 27 de agosto deste ano, o Acordo Geral convocada Para o Término do Conflito e a Construção uma Paz Estável e Duradoura.
Timoleón Jiménez
Com isto inicia-se novamente um processo de diálogo para a obtenção da paz em nossa pátria; uma aspiração nobre e legítima que a insurgência colombiana defende faz meio século. Anexamos o texto do citado acordo.
Consideramos um dever incontornável reconhecer a ajuda inestimável do Governo da República Bolivariana da Venezuela, liderado pelo senhor presidente Hugo Rafael Chávez Frias, que foi determinante para a conclusão deste acordo; bem como a imensurável atuação do Governo do Reino da Noruega, que desempenhou um papel fundamental ... (interrupção).
Sem a preocupação e gestão do governo liderado pelo comandante Raul Castro, esta tarefa longa não teria alcançado um ponto tão exitoso. A todos eles, os nossos agradecimentos formais e sinceros. Temos certeza de que toda a nossa América aplaude sua atuação generosa. Nós não temos nenhuma dúvida de que novas nações continuarão a se somar com a finalidade ajudar este novo esforço.
Passaram-se 10 anos desde quando Andrés Pastrana decidiu jogar no lixo seus objetivos de paz e decretar uma nova etapa no longo confronto civil colombiano. Colocava assim em prática a persistente ameaça de seu ministro da defesa, que nos advertia, começando o processo de Caguán, que teríamos dois anos para chegar a um termo sobre a nossa entrega. Sob pena de sofrermos um extermínio exemplar, por conta do ataque que o Estado preparava contra nós. É claro que foi tudo uma manobra oficial para ganhar tempo. Quanta morte e destruição; quanta dor e quantas lágrimas; quanto luto e desapropriações inúteis; quantas vidas e sorrisos ceifados para finalmente concluir que a saída não é a guerra, mas o diálogo civilizado. Pode ocorrer a mesma coisa, e toda a Colômbia deve colocar-se de pé para impedí-lo. Que não aconteça o mesmo desta vez, a nossa pátria não merece esta guerra que declararam contra ela. Mas, uma década atrás, recaiu sobre a Colômbia e seu povo uma terrível investida militar, paramilitar, judicial, econômica, política e social que agora parece reconhecer-se como vã; também caíram sobre nós como aves de rapina os propagandistas do regime, com seu discurso difamatório e venenoso. Que adjetivos dos mais vis não foram lançados sobre aqueles que tomaram uma posição política ao lado de nossa palavra; de que estigmas infamantes não fomos cobertos ao enfrentarmos a guerra e a violência desencadeada com frenesi pelo Poder; qual dos mais horríveis crimes deixaram de imputar sobre nós? Também esta humilhante deturpação da linguagem acabou sendo inútil.
Voltamos a uma mesa. Reconhecidos como adversários militares e políticos; convidados e protegidos pelos que nos perseguiram; acompanhados e apoiados pela Comunidade Internacional.
Definitivamente, tanta manifestação de ódio carece de sentido. Talvez para a satisfação daqueles a quem o Governo tem reiterado milhares de vezes, tanto nos bastidores quanto em suas múltiplas declarações públicas, a sua inabalável decisão de não permitir nada do que qualifica como concessões no campo de guerra. Em seu estranho parecer, qualquer possibilidade de cessar-fogo, trégua ou armistício, só contribui para a criação de incentivos perversos.
É claro para nós, então, que, apesar das manifestações oficiais de paz, os rebeldes chegamos a esta nova tentativa de reconciliação considerando não somente o ataque  militar desencadeado contra nós uma década atrás, mas sob o assédio e a tentativa de nos compelir abertamente a retirar nossas aspirações políticas e sociais em troca de uma miserável rendição e entrega. Apesar destes sinais, as FARC-EP mantém a aspiração sincera de que o regime não tentará repetir a mesma trama do passado. Pensamos simplesmente que estão em evidência as enormes dificuldades que se enfrentará neste esforço, pois a obtenção de uma paz justa e democrática justifica enfrentar os desafios mais difíceis.
Apesar deles, estamos otimistas. A história sempre foi moldada por forças sociais que apontam para o futuro. Estamos convencidos de que a realidade nacional vai impor a vontade das grandes maiorias, que acredita na necessidade da paz com justiça social.
Ao largo do processo devem ficar os signatários de fabulosos contratos derivados da guerra; os que encontram nos grandes pressupostos de Defesa um rápido caminho para o enriquecimento; os que agregam rapidamente suas propriedades e lucros com base na pilhagem contra os indefesos.
Contra a obsessiva e indolente posição de identificar a paz exclusivamente com a vitória; de alcançá-la mediante brutais operações militares e policiais de aniquilamento; de conquistá-la com base em devastadores bombardeios e fuzilamentos; de identificá-la com a consagração da impunidade para a arbitrariedade de seus agentes; de tê-la com milhares de capturas massivas, ataques, perseguições, desapropriações e todos os tipos de repressão contra o povo colombiano que reivindica seus direitos; de assimilá-la à aceleração da locomotiva da infâmia, é urgente enfrentar uma concepção distinta, justa, realista e construtiva.
Uma paz verdadeira baseada na reconciliação, no entendimento fraterno, nas transformações econômicas, políticas e sociais, necessárias para alcançar o ponto de equilíbrio aceitável para todos; na remoção definitiva dos motivos que alimentam o confronto armado. Sobre tais certezas, elaborou-se conjuntamente a parte introdutória do Acordo Geral.
Uma grande conquista nas discussões das reuniões exploratórias. Percebe-se ali, entre outros fatos, incontestáveis, que este processo de paz atende o clamor da população como um todo e, portanto, requer a participação, sem distinção, de todos; que devem-se respeitar os direitos humanos em todos confins do território nacional; que o desenvolvimento econômico com justiça social e harmonia com o meio ambiente é uma garantia de paz e progresso; que o desenvolvimento social com equidade e bem-estar, incluindo as maiorias, nos permitirá crescer como país; que a ampliação da democracia é condição para alcançar bases sólidas para a paz. No entanto, ainda se fazem ouvir  vozes oficiais que abertamente persistem na saída militar. Deixe-os. As FARC-EP assumimos, identificados com o povo da Colômbia, que a introdução desses axiomas no Acordo Geral constitui o marco teórico de princípios que deverão ser materializados nos acordos finais da agenda negociada.
Seis meses batalhando por estas verdades nos permitiu por fim conseguir do Governo Nacional sua inclusão.
Para nós é perfeitamente claro que a chave da paz não repousa no bolso do presidente da República, tampouco no comandante das FARC-EP; o verdadeiro e único depositário de tal chave é o povo deste país. É aos milhões de vítimas deste regime elitista e violento, aos afetados pelas suas políticas neoliberais de exploração, que sonham com uma verdadeira democracia em um país amigo, de desenvolvimento e de paz, que corresponde a responsabilidade de desempenhar o seu papel rumo a uma nova Colômbia. E para eles que estamos, as FARC, nos dirigindo com nossos corações nas mãos. Porque voltou a se abrir a porta da esperança; porque batem os sinos que chamam alto para a praça central, a saírem de suas aldeias, de suas antigas minas, de suas comunidades, de seus bairros pobres, de seus centros de trabalho, das fábricas que os consomem, de suas oficinas domésticas, de seu trabalho agônico diário, de seus centros de estudo, do confinamento da prisão, da sua busca incansável de emprego, de suas pequenas empresas, suas fábricas ameaçadas pela falência, de suas culturas ignoradas, de seu abrigo de desalojados, de seus esconderijos de ameaçados, de seus rincões de vítimas, de suas casas destruídas.
Trata-se de marchar para a paz, para a construção entre todos de um novo país; trata-se de fechar as portas aos senhores violentos; de lutar por profundas modificações da ordem vigente.
O espaço para a luta dos milhões de colombianos está aberta. É isso o que significa que a paz é uma questão de todos.
Temos que fazer desta oportunidade um novo grito pela independência.
Há pouco mais de dois séculos atrás, afirmou José Acevedo y Gómez, de uma sacada da capital: "Se deixeis esta oportunidade única e feliz escapar, amanhã sereis tratados como insurgentes. Eis as masmorras, as cadeias e algemas que vos esperam."
A situação de hoje é assombrosamente semelhante.
Ou os colombianos das montanhas, os secularmente humilhados e ofendidos, os oprimidos e explorados nos colocamos de pé em defesa do nosso território e suas riquezas, do nosso trabalho, das nossas liberdades, das famílias, vidas e culturas ameaçadas por completo, ou acabaremos com a marca do ferro quente nas costas, forçados pelas baionetas, lamentando sem consolo por termos feito pouco pela pátria e nossos filhos; ou vamos seguir sofrendo o prolongamento indefinido e lacerante do conflito e o impedimento do seu desfecho.
Nos últimos dias, alguma revista comentava como que uma dama da alta sociedade, renunciou com enorme raiva a sua participação como sócia em um clube exclusivo da capital, depois de ter visto dançando em um dos corredores um atrevido jovem que portava, ademais, um cigarro na mão. Uma "afronta intolerável", em sua opinião.
Que as pessoas da alta sociedade procedam deste modo dentro de seus clubes sociais, é um problema delas. Mas que não pretendam seguir agindo da mesma forma no país inteiro. Não pode ser descrita como agitação e confusão desnecessária  a participação global do povo colombiano nas discussões de paz. Menos ainda quando se trata daqueles que colocaram a maior cota de sangue e sofrimento neste conflito.
Chamamos assim a Colômbia inteira a pronunciar-se; a exigir sua participação ou assumi-la nas ruas e rodovias, como aprenderam a fazer por séculos. Ela também tem sua agenda.
Em nosso país se vê de tudo. Vampiros sedentos de sangue assediam hoje os quartéis para encher de conselhos os membros das Forças Armadas, a fim de conseguir que atravessem os esforços de paz e reconciliação. Assunto perigoso. Porém sairão também derrotadas. Ninguém como as guerrilhas para confiar na integridade e valor dos soldados e policiais da Colômbia. Combatemos diariamente em todo o território nacional. Eles causam nossas baixas e são por sua vez alcançados com o fogo de nossas armas. Sabem bem que a necessidade os impeliu a ganhar a vida; que alimentam suas famílias com o medo permanente da morte ou da invalidez; são colombianos do povo que amam a vida e sonham em prolongá-la; que sofrem ao verem seus filhos crescerem no medo de um panorama tão aziago de incerteza social e violência, que junto aos seus não podem querer esta guerra. Haverá em suas cúpulas elementos belicistas e ambiciosos, que se prestam aos mais sujos propósitos; gente como Rito Alejo del Río ou Santoyo, comprometidos até a medula pelas doutrinas imperialistas de Segurança Nacional que convertem os homens em parasitas. Mas também deve haver patriotas; militares honestos que se perguntam por que razão as Forças Armadas colombianas se encontram a serviço de poderosas multinacionais que saqueiam as riquezas do país; porque seu papel se reduz à intimidação, à contenção da população inconformada com as políticas antipatrióticas de governos corruptos; que se questionam pelo seu papel de garantes de uma ordem de coisas injusta; que se irritam ao ver como seus altos mandatários se submetem aos generais estrangeiros. A todos eles, estendemos nesta hora nossas mãos abertas a procura de reconciliação. Outra Colômbia é possível e entre todos podemos mudá-la.
Ter chegado a Havana foi fruto da resistência inflexível da insurgência colombiana. É, sobretudo, o triunfo do clamor nacional pela paz e a solução política. É o resultado de cada palavra de ordem pintada num muro; de cada ato de massas promovido em centenas de lugares; dessa mobilização campesina, indígena e de negritudes que confluiu em Barrancabermeja em agosto de 2011; das crescentes marchas em cada departamento e na capital do país; do protesto social; da luta contra as fumigações; das paralisações e greves contra o grande capital transnacional; de todos esses encontros de mulheres, de artistas, de estudantes e jovens; de Colombianos e Colombianas pela Paz; do Congresso dos Povos; da Minga indígena; da mobilização de múltiplos setores, do grito dolorido dos habitantes de Cauca e Putumayo, do Cesar, de Huila e Guajira, do Caquetá, os Santanderes e Arauca; de todos os rincões de nossa geografia pátria. Semelhante torrente já não poderá ser detida, estamos seguros que seguirá crescendo; que serão levados embora os planos imperialistas, os aviões caças, os tanques de guerra, os infernais desembarques, os batalhões de combate terrestre, os brutais esquadrões antimotin, as falsas suspeitas, as ameaças e os enquadramentos, o paramilitarismo, os pedantes jurisconsultos, a falsidade midiática, a politicagem rasteira; as políticas neoliberais.
Por nossa parte, chegamos à mesa de diálogos sem rancores nem arrogâncias, pleiteando que o Governo Nacional considere importantes os de baixo; que não julgue ingênuos seus desejos, que não acredite serem eles incapazes de empreenderem projetos e que reconheçam o seu direito de tomar parte nas principais decisões nacionais.
Com o apoio cerrado de enormes multidões, não pensamos em sair da mesa sem realmente ter tornado realidades essas bandeiras.

Juramos vencer e venceremos!!!

Viva a memória e o exemplo de Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas, Efraín Guzmán, Raúl Reyes, Ivan Rios, Jorge Briceño, Alfonso Cano, Marianita Páez, Lucero Palmera, e todos os guerreiros e guerreiras que deram seu sangue pela paz na Colômbia!!!

Viva a Colômbia!!!